"E o SENHOR estava com José, e foi varão próspero [...].” Gênesis 39.2
José: Fé em meio às injustiças
José era o décimo primeiro filho de Jacó, e primeiro filho da mulher a qual seu pai mais amava: Raquel. Conhecendo o contexto da família em que José nasceu não é difícil compreender o porquê de o futuro maioral do Egito enfrentar tantas crises familiares. Além das crises internacionais, quando José era o maioral do Egito, ou antes, de chegar a ser uma autoridade respeitada na terra do rio Nilo, a crise doméstica do filho amado por Jacó revelava muito do seu caráter. Com José aprendemos que antes de Deus nos levar a enfrentar crises complexas, Ele nos instrui com as pequenas lutas familiares. No seio da família somos forjados para a luta e o encontro com a vida.
A irmã de Raquel, Leia, já havia dado seis filhos e uma filha para Jacó. A relação entre Raquel e Leia era muito difícil, pois enquanto a irmã mais velha havia dado sete filhos a Jacó, Raquel era estéril e, consequentemente, não havia dado nenhum filho para seu amado marido. Não dar à luz na época dos patriarcas era motivo de vergonha e de humilhação. Certamente, a partir de cada encontro entre Raquel e Leia a dor de não ser mãe desaguava na mente e coração da amada de Jacó. Embora o tempo seja outro, qualquer mulher sente a dor incomensurável de quando deseja ser mãe e não consegue. A dor de Raquel é a dor de muitas mulheres do século XXI!
O contexto de desentendimento e de dor entre Leia e Raquel alimentou o ódio dos filhos de Leia para com José, o filho de Raquel. O ódio regado dentro da própria casa quase foi finalizado com uma tragédia. Esta, porém, foi impedida pelo primogênito de Jacó, Rúben. Entretanto, a sua atitude de poupar José não foi suficiente para impedir seus irmãos de vendê-lo para uma caravana de compradores de escravos.
A marca da trajetória do filho amado de Jacó é que mesmo em meio a tanto desprezo e desconsideração, José não permitiu que o seu coração fosse devorado pelo ódio. Humanamente, seria justo José devolver na mesma moeda quando teve a primeira oportunidade de fazê-lo. Mas não o fez. Preferiu compreender que tudo o que ocorreu era o Deus de seus pais preparando o caminho para conservar a sua família num contexto de fome e miséria mundial.
A vida de José nos ensina que devemos guardar o nosso coração do ódio, da vingança e da ação maligna. Saber gerenciar as crises com o olhar e a sabedoria de Jesus é o nosso grande desafio hoje. Sob os cuidados e a orientação do mestre divino isso é possível! - Revista Ensinador Cristão nº68 - pg.39
Leitura Bíblica: Gênesis 37. 1 - 11
“José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus ramos correm sobre o muro.” Gênesis 49.22
Nos desígnios de Deus, a história de José ganha um sentido especial. Naturalmente, não cremos que essa história tenha algum caráter determinista, mas cremos que desde o seu nascimento (Gn 30.22-24) o dedo de Deus orientou os seus caminhos para que se cumprissem no tempo próprio esses desígnios. Portanto, a história de José é uma das mais belas histórias registradas na Bíblia Sagrada. É uma história salpicada pelo amor de um pai ancião, a rejeição de seus irmãos invejosos e a beleza dos seus sonhos que revelavam o futuro de sua família. Do capítulo 30, quando se inicia a sua história, não há informações sobre o desenvolvimento físico e mental de José até chegar aos 17 anos de idade. A partir do capítulo 37 até o capítulo 50, a história ganha em 13 capítulos um espaço especial no livro de Gênesis nos quais se revelam os desígnios de Deus na sua vida e na vida de sua família, a qual se proliferou e se tornou um grande povo. Alguns fatos, alguns bons e outros ruins, contribuíram para que os desígnios divinos se concretizassem na vida de José, o qual se tornou um instrumento de bênção para toda a sua família.
Nessa história, somos atraídos pela sabedoria de José extremamente útil nas várias circunstâncias de sua vida. José experimentou desde jovem adolescente a inveja dos seus irmãos porque gozava de regalias que os demais filhos não tinham. Era um modo errado de tratamento de Jacó, o pai, com os demais filhos. Por causa dessas regalias de José, seus irmãos o odiaram e o quiseram distante deles. Por isso, eles o prenderam e o jogaram num poço, mas passando um grupo ismaelita que negociava escravos, venderam o irmão, que foi conduzido como escravo e levado para o Egito. Naquela terra, vendido como escravo a um senhor egípcio, não perdeu sua fé em Deus. Na casa de Potifar, o seu senhor, José fez prosperar os negócios desse homem, mas foi alvo da sensualidade de sua mulher, que o tentou para um caso sexual. Não aceitando a oferta sensual da mulher de Potifar, foi injustamente acusado de assédio sexual e levado à prisão. Na prisão, sua fidelidade ao Deus do seu pai o fez um líder capaz de interpretar sonhos dos outros presos. Não demorou muito para que fosse descoberto como alguém especial para interpretar os sonhos de Faraó, vindo a conquistar sua confiança. Faraó, rei do Egito, ficou tão impressionado com José que o fez o grande e mais inteligente governador do Egito. José deixou uma lição de sabedoria ao saber conduzir-se nas mais difíceis situações amparado pela providência de Deus, mas, acima de tudo, de fidelidade a Deus. Nessa história, trataremos especialmente de aspectos da sua fidelidade a Deus em meio às crises por que passou.
ASPECTOS DA VIDA DE JOSÉ
Antes do nascimento de José, seus pais experimentaram algumas crises que eclodiram trazendo dissabores e tristezas para Jacó. A despeito de Jacó fazer parte do projeto de Deus, sua vida familiar, ainda que próspera, não foi das mais felizes, porque ele não soube administrar os assuntos familiares com sabedoria. Do capítulo 30 até o 37, alguns fatos foram marcantes para o velho Jacó com a perda de três pessoas importantes em sua vida: Débora, a ama de Rebeca (35.8); sua amada esposa Raquel, no parto de Benjamim (35.16-20), e seu pai Isaque, que morreu com 180 anos de idade e foi sepultado por seus filhos Esaú e Jacó junto à sepultura de Abraão na cova de Macpela (35.27-29). José acompanhou o nascimento de seu irmão Benjamim e teve uma vida de adolescente até aos 17 anos cheia de sonhos e ambições como é típico dessa idade.
Quem Era José
José não foi um personagem comum da história bíblica. Sua vida é o testemunho vibrante de um homem de enorme integridade que foi capaz de superar as maiores adversidades ao longo de sua vida dando exemplo de amor, inteligência e perdão. Sua história é uma inspiração, e não pode nunca ser esquecida. Ora, entendemos que a Bíblia é a revelação de Deus e sua vontade para a vida humana e, como disse o apóstolo Paulo aos Romanos 15.4: “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. A palavra dantes abrange todas as verdades inseridas nas histórias bíblicas. São verdades que ensinam no presente e são uma esperança para o futuro. Por isso, a vida de José é uma grande inspiração de fé e esperança.
Portanto, do seu nascimento até aos 17 anos (Gn 30.24 — 37.2), a sua família era constituída pelos filhos de Lia (ou Leia), pelos filhos das concubinas Zilpa e Bila, e, por último, por seu irmão Benjamim, filho de Raquel (Gn 30.22-24; 35.16-18). A partir dos 17 anos até os 30 anos, iniciou-se um segundo ciclo da sua vida (Gn 37.2-41.46).
José, Objeto de uma Crise de Família
Nesse segundo período de sua vida, o descontrole familiar por parte de Jacó privilegiou uns em detrimento de outros. Jacó não percebeu que sua atitude para com os filhos deu início a um antagonismo dos irmãos de José por causa dos seus privilégios para com o pai. O fruto desse antagonismo familiar para com José resultou em inveja, escravidão, prisão injusta e humilhação que estiveram presentes na sua vida.
A partir dos 30 anos de idade até a sua morte (Gn 41.46-50.26), em especial os oito últimos anos, foram marcados pelo cuidado de Deus à sua vida e houve muita prosperidade no sentido material, político, social e espiritual. Foi a recompensa pela sua fidelidade a Deus e a capacidade de administrar sua vida de modo inteligente, que fosse bom para si mesmo e para a glória de Deus. Foi nesse período que José deixou a maior lição de perdão aos seus irmãos, superando todos os ressentimentos e vivendo uma vida de paz e harmonia entre todos. Nesse tempo, o Senhor permitiu que visse o rosto de seu pai e ainda trouxesse toda a família para o Egito, perdoando-os, abençoando-os e protegendo-os. Fazendo um retrocesso para entender melhor a história de um vencedor de crises, vamos considerar alguns elementos vitais dessa história.
José, uma Bênção Transformada em Crise
É interessante perceber na Bíblia que as pessoas que Deus escolheu para manifestar a sua glória e fazer delas o direcionamento de sua vontade nunca foram perfeitas. Pelo contrário, sempre foram pessoas normais, com valores e defeitos, mas que, de algum modo, Deus viu nelas a capacidade de reconhecerem a sua soberania. Foi o caso do pai de José, o velho Jacó. Em termos de qualidade familiar, Jacó não soube administrar muito bem a seus filhos e a sua casa. Porém, há algo especial que Jacó passou para seus filhos: o seu temor a Deus.
Quando nasceu José, foi considerado como “o filho da sua velhice”, o primeiro de Raquel. Sua paixão por Raquel o fez trabalhar 14 anos para que ela fosse liberada e concedida em casamento com ele. Depois dos primeiros anos trabalhados por Raquel, o velho Labão, seu sogro, o enganou e lhe deu Leia (Lia), a irmã de Raquel, e com Lia (Leia) teve sete filhos. Mas sua paixão por Raquel o fez trabalhar outros sete anos na fazenda de seu sogro Labão, para ter a mão de Raquel em casamento.
Casando-se com Raquel, ficou decepcionado porque ela era estéril e não pôde lhe dar filhos imediatamente, mas ele não deixou de amá-la. A esterilidade era o maior estigma para a mulher naquela antiga cultura e, por isso, Raquel sentia-se humilhada, porque não ter filhos se constituía uma desgraça para ela e seu marido. Mas o Senhor interferiu no útero de Raquel e a capacitou para engravidar de José, para sua alegria e de Jacó. Portanto, a alegria desse filho de Raquel fez com que Jacó o amasse tanto que acabou criando uma situação incômoda dentro da família. Sua dedicação a José o tornou rejeitado pelos irmãos. Para aumentar ainda mais o ódio de seus filhos, o velho Jacó privilegiou José dando-lhe uma túnica de várias cores, enquanto os demais continuavam com suas roupas de linho branco áspero. Essa atitude negativa de Jacó provocou não somente inveja e ciúme dos irmãos de José, mas o desejo de se livrarem dele.
Dentro de uma família, todos devem ser amados por igual, independentemente das diferenças de temperamento que cada filho tenha. Jacó foi um mau exemplo de paternidade, porque não soube administrar com sabedoria os sentimentos de sua família.
José, o Alvo de uma Crise de Relações entre seus Irmãos
Duas razões principais podem ser percebidas no comportamento dos irmãos de José. O ódio cresceu em seus corações como uma planta venenosa porque eles não conseguiam admitir o tratamento que seu pai dava a José em detrimento dos demais irmãos.
Uma das razões do ódio de seus irmãos restava da denúncia que José fazia ao pai das más ações cometidas por seus irmãos quando estavam longe da vista do pai. Seus irmãos o viam como um traidor deles porque era o favorito de seu pai e porque a esposa favorita de seu pai era Raquel, sua mãe (Gn 37.3). É difícil entender por que uma família com vários conflitos e com pessoas cheias de ódio, inveja, falsidade e mau comportamento estaria nos desígnios de Deus para a formação de um grande povo. Mas Deus não pensa como nós e nem julga pelos mesmos critérios que nós humanos julgamos. A justiça de Deus é perfeita e seus desígnios estão acima da nossa capacidade de julgar.
A outra razão desse conflito familiar contra José estava no fato de ele ser um sonhador que sempre despontava como líder. Quando José aparecia, de repente, para ver como estavam os seus irmãos, eles diziam uns para os outros: “Lá vem o sonhador!” (Gn 37.19, ARA). No seu último sonho, ao contar para seus irmãos, o enredo do sonho irritou tanto a eles que resolveram entre si dar cabo da vida de José. Mas, ouvindo um dos irmãos mais velhos, decidiram não matá-lo, mas vendê-lo para mercadores de escravos. José contou o sonho aos irmãos, quem sabe por uma inocência de malícia, mas o sonho provocou ainda mais o ódio deles, porque entendiam que José se colocava sempre superior a eles (Gn 37.5-8). Quando José lhes contou o sonho dos feixes de grãos que, atados, estavam em torno do seu feixe, que era o principal, e se inclinavam perante ele, essa história foi o suficiente para que o odiassem ainda mais (v.8).
Certamente, nem eles, nem José, podiam imaginar que se tratava de uma visão futura que aconteceria dentro dos desígnios divinos, mas não sabiam como interpretar (Gn 42.6; 46.29,30). Sem poderem entender o futuro que lhes reservava, ao ouvirem o sonho de José, preferiam considerar que se tratava de uma ambição e presunção daquele adolescente. Na verdade, nos desígnios de Deus, era uma antevisão do tempo em que ele estaria no Egito como governador e que seu pai e seus irmãos teriam que se inclinar perante ele, o feixe maior (Gn 45.1-8) Nem o seu velho pai aceitou bem o sonho de José, pois o via como presunção da parte dele. Por causa dessa situação, José foi odiado e maltratado por seus irmãos, premeditando até mesmo matá-lo para se verem livres dele (Gn 37.17-20).
JOSÉ SUPERA A CRISE DE HUMILHAÇÃO
A Humilhação da Rejeição de seus Irmãos
Rúben, o filho primogênito de Jacó, não deixou que seus irmãos cometessem um assassinato com seu próprio irmão (Gn 37.21,22). Mesmo sabendo que o plano irrefletido de seus irmãos traria maldição sobre suas vidas, Rúben sugeriu que jogassem José numa cisterna velha sem água (Gn 37.24). Antes de o lançarem na cisterna, tiraram sua túnica de cores e a encharcaram de sangue de um cabrito morto para levarem ao pai a túnica rasgada e tingida de sangue e, assim, passarem a ideia de que José tivesse sido atacado por algum animal violento (Gn 37.31). Cheios de ódio contra José, depois de o terem lançado numa cisterna, viram uma caravana de ismaelitas de caminho para o Egito e o venderam para essa gente (Gn 37.28).
A Humilhação da sua Venda aos Ismaelitas
Os ismaelitas eram um povo descendente de Ismael, filho de Abraão e Agar, a escrava egípcia que servia a Sara, sua esposa do patriarca. Naturalmente, tanto Ismael quanto Isaque eram velhos e formaram suas famílias. Ismael cresceu e se desenvolveu no deserto, e Isaque, na terra de Canaã. Muitos anos se passaram e os seus filhos, sem perceberem suas origens abraâmicas, se encontram. Os ismaelitas que passavam por aquela região em que se encontravam os filhos de Jacó eram mercadores, tanto de joias quanto de escravos. Segundo a história bíblica, semelhante às 12 tribos de Israel, também havia uma promessa de Deus sobre os filhos de Ismael, que formariam doze tribos com a sua gente (Gn 17.20; 25.12- 16). Portanto, os ismaelitas, além de meio-irmáos dos filhos de Abraão, eram tribos que viviam no deserto e que negociavam com outros povos. Nesse encontro casual, os filhos de Jacó não perderam a oportunidade de negociar com aqueles mercadores a venda de seu irmão José. Eles o venderam como escravo aos ismaelitas, que lhes deram 20 moedas de prata (Gn 37.28).
A Humilhação da Mentira da Túnica Tingida de Sangue
A ideia de encharcarem a “túnica de cores” que José vestia para enganar o velho pai Jacó é típica de ações modernas de lideranças, não só no mundo dos homens, na vida política, mas até mesmo no seio da igreja. São ações mentirosas e falsas para esconder a verdade. Que Deus nos guarde dessas ações falsas!
Na história dos irmãos de José, a tentativa era de amenizar suas consciências e enganar a Jacó, o pai. Imaginaram ter se livrado de José sem o terem matado, e que essa ação os livraria de uma culpa de assassinato e amenizaria a culpa por terem vendido o próprio irmão. Ao apresentarem a túnica de cores cheia de sangue de cabrito com o intuito de enganar a seu pai Jacó, fizeram-no chorar por muitos dias de tristeza, pois imaginava ter perdido seu filho José para sempre. O velho Jacó não sabia das peripécias enganosas de seus filhos. O ciúme e a inveja de irmãos de José foram de uma crueldade sem precedentes, que encheram o coração do velho pai com grande tristeza (Gn 37.31- 35). Esse estado de coisas ruins foi experimentado por Jacó por causa de má administração familiar. Lamentavelmente, isso não teria acontecido se Jacó tivesse sido mais justo com os seus irmãos na formação do caráter deles. Toda esta situação foi fruto da passividade de Jacó no trato com seus filhos.
JOSÉ SUPERA A CRISE DE SUA ESCRAVATURA NO EGITO
Tão logo chegaram ao Egito, os ismaelitas conduziram José ao mercado de escravos. Seu corpo jovem, forte e bonito chamou a atenção de compradores. Não demorou a aparecer compradores. Surgiu um homem, eunuco de Faraó, capitão da guarda do Palácio de Faraó, e o comprou para servir na sua própria casa. A partir de então a história da vida de José ganha um sentido especial na presciência divina.
José Supera as Adversidades de sua Humilhação
O que é uma adversidade?
Significa “contrariedade, revés, infortúnio, aborrecimento, crise”.
José experimentou vários reveses que o fizeram sofrer, mas ele foi capaz de não perder o “bom senso” nem se deixou dominar por sentimentos de mágoa e ressentimento. Da terra de Canaã, José foi comprado pelos mercadores ismaelitas e levado ao Egito. No Egito, José foi conduzido ao mercado de escravos e, mais uma vez, foi vendido para um oficial da corte real de Faraó. O oficial, que se chamava Potifar, levou José para a sua casa. Ao perceber que o jovem escravo tinha características diferentes e superiores aos demais escravos, Potifar o colocou como mordomo sobre toda a sua casa, bem como sobre seus negócios. Mesmo sendo escravo, José era privilegiado pela sua inteligência e caráter, e continuou a acreditar nos seus sonhos, ainda que em circunstâncias que pareciam contradizê-los.
José, Elevando de Simples Escravo à Função de Mordomo
Potifar percebeu que José era um serviçal diferente. Tinha ideias e contribuía com seu senhor para fazer prosperar a sua fazenda. Porfiar percebeu, também, que José era um jovem com qualidades morais invejáveis. Por isso, não teve dúvidas em elevá-lo de simples escravo à função de mordomo, gerindo sobre todos os negócios da sua casa. Deus o honrou porque manteve sua fé no Deus de seu pai. Os negócios geridos por José na casa de Potifar prosperaram grandemente, e Deus era com ele.
Ele poderia, quem sabe, ter vivido uma crise de identidade e ser um homem triste e sem esperança, mas foi capaz de romper com essa adversidade mantendo-se fiel a Deus. José foi um exemplo de superação nas crises porque não perdeu o foco de Deus na sua vida.
Uma importante lição que aprendemos com essa situação vivida por José é que se antes ele podia exibir uma túnica de cores que lhe dava a imagem de superioridade, no Egito, nos seus primeiros anos, “a arrogância devia ceder ao caráter, a autoconfiança à dependência e confiança em Deus apenas , escreveu Lloyd John Ogilvie. A mão de Deus estava com ele em tudo que fazia. Os seus sonhos seriam concretizados no tempo de Deus, mas convinha que ele enfrentasse todas aquelas adversidades para reconhecer a soberania divina. Em seu serviço a Potifar, em sua fazenda, Jose manteve sua fé em Deus, e os traços de seu caráter se manifestaram em sua lealdade ao seu senhor e fidelidade ao seu Deus.
José Resistiu à Tentação Sexual da Mulher de Potifar
José estava sob a guarda de Deus. Os planos divinos não foram desfeitos na vida de José por causa daquela circunstância de sua escravatura. Pelo contrário, José sabia que os sonhos eram de Deus e não seriam frustrados. O Diabo é o inimigo dos servos de Deus e procura sempre criar embaraços para a efetivação da vontade divina. Tribulações provocadas e tentações que poderiam obstruir o plano de Deus surgem, e não foi diferente na vida de José.
O registro da história nesse episódio diz que “José era formoso de aparência e formoso à vista” (Gn 39.6). Fisicamente, era um jovem bonito, com porte atlético que chamava a atenção. A mulher de Potifar não tinha escrúpulos nem decência moral. Por isso, atraída pela beleza física de José, procurou seduzi-lo para um caso extraconjugal. Queria levá-lo para a cama de qualquer maneira. Ela tramou situações pelas quais pudesse atrair o jovem mordomo. Mas José, fiel a seus princípios de temor a Deus e de respeito próprio e pelo seu senhor, rejeitou a proposta dessa mulher. Ela armou ciladas para levar José para sua a cama, usando de artifícios ate pegá-lo a força e segurando pela roupa de José, mas ele foi forte o suficiente para escapar das suas mãos a ponto de ficar com parte das vestes rasgadas (Gn 39.12). Antes do ataque dessa mulher, José argumentou com ela que não podia praticar tal ato de traição ao seu senhor, que confiava nele. Ela se fez de vítima e acusou José de tentativa de sedução e estupro (Gn 39.14-18). Potifar ouviu a acusação mentirosa de sua mulher contra José e o mandou para a prisão, onde estavam os presos da casa real de Faraó. Ele venceu a tentação, mas teve que, mais uma vez, sofrer humilhação, indo para a prisão.
Temos dificuldades em entender os propósitos divinos quando Deus permite que passemos por situações embaraçosas para podermos chegar ao que Ele quer. Mesmo que mantenhamos conduta respeitável e sejamos fiéis aos princípios cristãos da Palavra de Deus, Ele espera que sejamos amadurecidos e moldados no crisol da experiência para chegarmos ao ponto ideal da vontade de Deus. Talvez José tivesse dificuldades para entender por que tinha de sofrer aquelas humilhações mesmo sendo fiel a Deus. Mas ele não se deixou vencer por essas circunstâncias, porque, no fundo do seu coração, sabia que havia algo maior para a sua vida.
JOSÉ SOUBE SE CONDUZIR COM SABEDORIA DENTRO DA PRISÃO
José Foi Abençoado por Deus dentro da Prisão
A tendência natural de todos nós quando sofremos injustiças é a perda do bom senso e o desejo de vingança em algumas circunstâncias. José, pelo contrário, não perdeu o bom senso quando injustamente foi para a prisão, porque tinha a consciência limpa e não havia perdido a fé em Deus que o ajudaria mais uma vez. Em vez de ficar na passividade, ele procurou reagir com atitude disciplinada de não se deixar dominar pela ira, pelo rancor, podendo alimentar ideias de vingança. José procurou agir com coerência, tomando o controle da situação em que estava. Era um preso igual aos outros, mas que podia fazer diferença caso se mantivesse equilibrado e confiante em Deus. Na verdade, ele se tornou uma vítima da injustiça, porque o seu senhor nem quis ouvir a verdadeira história que envolveu a mulher de Potifar. Por algum tempo, mesmo tendo conquistado a confiança do oficial responsável pelos presos, ele estava preso e esquecido.
No mundo em que vivemos, existem tantas histórias de injustiças de pessoas punidas por algo que não praticaram. No Novo Testamento, o apóstolo Pedro parecia estar se referindo a esse tipo de injustiça quando escreveu: “Porque é coisa agradável que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus” (1 Pd 2.19,20). Esta escritura revela a todos nós que Deus age, também, através das circunstâncias adversas para que o conheçamos e nos inteiramos de seu projeto para nós.
José sabia que havia um propósito maior para a sua vida. Ele sabia como Deus trabalha para um propósito, mesmo que não o compreendamos inicialmente. Deus disse ao profeta Isaías: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.8). Portanto, para José, os sonhos que tivera quando ainda estava na casa de seu pai náo eram meras figuras sem sentido, mas continham a revelação de que Deus faria com ele algo muito superior a qualquer circunstância adversa. Eram os sonhos que tivera ainda na casa do pai em Canaã. Ele sabia que, de algum modo, Deus cuidaria dele naquela adversidade dentro da prisão (Rm 2.4; SI 36.7; 119.76). Talvez ele pudesse declarar como Davi no Salmo 124.2-4: “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós; então, as águas teriam transbordado sobre nós, e a corrente teria passado sobre a nossa alma; então, as águas altivas teriam passado sobre a nossa alma”. Lá dentro da prisão, José, inteligentemente alcançou graça e simpatia com o carcereiro-mor, que viu nele qualidades de um homem reto, ético e autêntico, e não um bandido.
José Alcançou Graça perante o Capitão da Guarda
dentro da Prisão
Naquela prisão, José foi sustentado pela benignidade de Deus. Ele poderia ter sido afetado psicologicamente com a lembrança ruim de algumas experiências que teve quando foi tratado de modo injusto por seus irmãos. Lembrança da intenção dos seus irmãos de querer matá-lo e, não podendo concretizar o plano de assassinato, o venderam como escravo. Ele poderia, no interior daquela prisão, sentir-se só, abandonado, esquecido de todos. Mas, pelo contrário, José não se deixou vencer pelo negativismo; ele foi capaz de manter seu espírito pronto para superar mais uma vez aquela situação. Logo, o capitão da guarda da prisão agraciou-se tanto de José que o fez líder dentro da prisão.
Estavam presos naquela prisão dois funcionários especiais da cozinha da casa de Faraó, o copeiro-mor e o padeiro-mor, com os quais o rei havia se aborrecido e mandou prendê-los. José fez amizade com os dois presos da casa do rei e ganhou a confiança deles. Pela providência divina, aqueles dois presos da casa do rei tiveram sonhos e contaram a José, que os interpretou (Gn 40.5-13). Inteligentemente, José interpreta o sonho do copeiro-mor, afirmando-lhe que seria restaurado à sua posição para com o Faraó. Então, José pediu a esse copeiro-mor que, quando estivesse servindo ao rei o seu vinho, lembrasse dele perante o rei. Posteriormente, a interpretação se confirmou com o destino dos dois presos. O padeiro-mor foi enforcado, mas o copeiro-mor foi restaurado à sua posição. Contudo, diz o texto que “o copeiro-mor [...] não se lembrou de José; antes, se esqueceu dele” (Gn 40.23). Por algum tempo, José continuou preso, esperando apenas em Deus a interferência no momento certo. Dois anos se passaram desde que o copeiro do rei voltou ao seu serviço, até que o Faraó teve um sonho, e o copeiro lembrou-se de José (Gn 41.12-14).
JOSÉ REVELA SABEDORIA E HUMILDADE DIANTE DE FARAÓ
Por algum modo especial, a mão de Deus estava sobre José. Ficou dois anos esquecido no seu cubículo dentro da prisão, tendo oportunidade para pensar, refletir e comungar com Deus sobre todas as coisas na sua vida desde que saiu de casa aos 17 anos de idade. Sua experiência com Deus lhe propiciou a oportunidade de adquirir conhecimento e aguçar sua inteligência para usá-la no momento certo. Depois de dois anos desde que o copeiro do rei fora liberto e voltara à sua posição anterior, não havia se lembrado ainda de José. Então, Faraó teve sonhos que lhe tiraram o sono da noite. Querendo a interpretação dos sonhos e não a tendo pelos seus adivinhos e astrólogos, surge o copeiro, que, ao servir o vinho ao rei, lembrou-se de José. A partir de então, uma nova jornada na vida de José se inicia.
José Foi Lembrado perante Faraó
José tinha o coração íntegro. Embora as nuances daquele momento que vivia na prisão pareciam desmoronar sobre sua vida, mas ele não perdeu a esperança. A providência divina, que age no momento certo, propiciou-lhe a oportunidade da mudança de situação. Deus concedeu dois sonhos tão contundentes e significativos que desestabilizaram completamente o Rei.
Pela cultura egípcia, os sonhos eram supervalorizados e interpretados como presságios bons ou ruins às pessoas que tinham esses sonhos. Não conseguindo entender o que os seus sonhos representavam, Faraó ficou com o espírito angustiado em busca do entendimento desses sonhos. Convocou seus magos, adivinhos e astrólogos para que os interpretassem, mas nenhum deles conseguiu convencer o rei acerca do significado daqueles sonhos. Esses astrólogos e adivinhos viviam à mercê do palácio e, naquele momento, não conseguiam dar nenhuma interpretação que convencesse o rei das suas pretensas interpretações (Gn 41.8). Então, quando o copeiro do rei lhe servia o vinho, vendo a perturbação do seu coração, já havia se passado dois anos, quando se lembrou de José. Então o copeiro falou ao rei sobre o que acontecera com ele e o padeiro-mor, tendo-se cumprido fielmente a sua interpretação. O rei ficou pasmado com a exatidão do cumprimento dos sonhos do padeiro e do copeiro, e ordenou que trouxessem José à sua presença. O que podia parecer esquecimento e atraso no plano divino era, de fato, o momento exato da interferência divina para que José saísse do seu sofrimento. Os homens podem esquecer facilmente, mas Deus não nos esquece. Tudo quanto José havia passado era, na verdade, uma oportunidade de ser preparado para a grandeza. De experiências sombrias em grande parte da sua vida, José agora experimenta a mão de Deus o conduzindo para um lugar ao sol.
José Foi Conduzido à Presença de Faraó
Ninguém podia ir à presença do rei como um escravo, mal vestido e com imagem de maltrapilho (Gn 41.14). Ele foi preparado para entrar na presença do rei e, quando entra na sala do rei, mesmo estando com vestidos novos e nobres, José não entrou na sala do trono com arrogância, mas com humildade e temor a Deus. Ele sabia que fora Deus quem o fizera chegar à sala do trono. O rei disse da informação que teve a seu respeito como alguém que sabia interpretar sonhos. José, de imediato, respondeu ao rei: “Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó” (Gn 41.16). O rei contou o sonho para José ouvir. Depois de atentamente ter ouvido o rei, José mais uma vez falou: “Esta é a palavra que tenho dito a Faraó; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó” (Gn 41.28).
Esse episódio nos leva a refletir que o sofrimento, quando tratado de modo equilibrado, pode moldar uma vida e levá-la à grandeza. Sem dúvida, as lutas e cicatrizes da vida formam o fundamento para conquistas maiores quando sabemos administrar essas adversidades. Temos dificuldades em admitir que os sofrimentos podem nos ensinar a lidar com circunstâncias adversas. Cada episódio na vida de José, desde sua saída da casa de seu pai, está dentro dos desígnios de Deus. Agora, depois de tantas humilhações, José é abençoado pelo Senhor caindo na graça de Faraó.
José Ouviu e Interpretou os Sonhos de Faraó
Sem dúvida, o ponto crítico desse encontro de José com Faraó foi o seu sonho. José não podia imaginar que nesse dia, como qualquer outro dia na cela da sua prisão, repentinamente ele foi levado perante o rei. Foi o começo de algo maravilhoso preparado por Deus para a vida de José. Aquele dia especial foi precedido por um sonho perturbador que o rei tivera, mas Deus o conduziu àquele momento especial.
O rei contou os sonhos a José, e o Espírito de Deus abriu o seu entendimento para dar a interpretação. José declara ao Faraó que o Deus de seus pais, o seu Deus, daria a resposta de paz ao coração do rei (Gn 41.16). Com graça e revelação, a mente de José foi iluminada pelo Espírito Santo, e ele interpretou os sonhos afirmando que os dois sonhos se resumiam num só, pois dentro de pouco tempo o Egito passaria por uma grande escassez de alimentos. Para evitar a crise, o rei deveria prover os reservatórios e celeiros de alimentos para os tempos difíceis. José achou graça diante de Faraó, que ficou impressionado com a sua habilidade e facilidade argumentativa sob a égide do Espírito Santo, a ponto de falar com tanta clareza acerca dos sonhos. A graça de Deus foi uma demonstração da soberania divina sobre sua vida. O Faraó, imediatamente, entendeu que José tinha inteligência e habilidade administrativa para ser o seu governador sobre todo o Egito, estando abaixo apenas do próprio Faraó (Gn 41.33-57).
CONCLUSÃO
José foi exaltado em todo o Egito e ninguém era maior que ele. Como governador, José soube ser leal ao Faraó e administrar todo o Egito com muita lucidez e graça diante de Deus. Por isso, José é um testemunho de que Deus nunca nos esquece. Todas as dificuldades pelas quais passamos na vida, especialmente quando estamos dentro de um plano divino, são modos distintos de aprendermos a lidar com as várias situações. Antecipadamente, Deus preparou o espírito de José para as crises que enfrentaria quando lhe falou por meio de sonhos. José não se esqueceu de que Deus estava com ele, não só nas humilhações, mas também quando exaltado diante dos homens para que a glória de Deus fosse lembrada.
José: Fé em meio às injustiças
José era o décimo primeiro filho de Jacó, e primeiro filho da mulher a qual seu pai mais amava: Raquel. Conhecendo o contexto da família em que José nasceu não é difícil compreender o porquê de o futuro maioral do Egito enfrentar tantas crises familiares. Além das crises internacionais, quando José era o maioral do Egito, ou antes, de chegar a ser uma autoridade respeitada na terra do rio Nilo, a crise doméstica do filho amado por Jacó revelava muito do seu caráter. Com José aprendemos que antes de Deus nos levar a enfrentar crises complexas, Ele nos instrui com as pequenas lutas familiares. No seio da família somos forjados para a luta e o encontro com a vida.
A irmã de Raquel, Leia, já havia dado seis filhos e uma filha para Jacó. A relação entre Raquel e Leia era muito difícil, pois enquanto a irmã mais velha havia dado sete filhos a Jacó, Raquel era estéril e, consequentemente, não havia dado nenhum filho para seu amado marido. Não dar à luz na época dos patriarcas era motivo de vergonha e de humilhação. Certamente, a partir de cada encontro entre Raquel e Leia a dor de não ser mãe desaguava na mente e coração da amada de Jacó. Embora o tempo seja outro, qualquer mulher sente a dor incomensurável de quando deseja ser mãe e não consegue. A dor de Raquel é a dor de muitas mulheres do século XXI!
O contexto de desentendimento e de dor entre Leia e Raquel alimentou o ódio dos filhos de Leia para com José, o filho de Raquel. O ódio regado dentro da própria casa quase foi finalizado com uma tragédia. Esta, porém, foi impedida pelo primogênito de Jacó, Rúben. Entretanto, a sua atitude de poupar José não foi suficiente para impedir seus irmãos de vendê-lo para uma caravana de compradores de escravos.
A marca da trajetória do filho amado de Jacó é que mesmo em meio a tanto desprezo e desconsideração, José não permitiu que o seu coração fosse devorado pelo ódio. Humanamente, seria justo José devolver na mesma moeda quando teve a primeira oportunidade de fazê-lo. Mas não o fez. Preferiu compreender que tudo o que ocorreu era o Deus de seus pais preparando o caminho para conservar a sua família num contexto de fome e miséria mundial.
A vida de José nos ensina que devemos guardar o nosso coração do ódio, da vingança e da ação maligna. Saber gerenciar as crises com o olhar e a sabedoria de Jesus é o nosso grande desafio hoje. Sob os cuidados e a orientação do mestre divino isso é possível! - Revista Ensinador Cristão nº68 - pg.39
No enfrentamento de uma crise, a sabedoria divina é indispensável.
Leitura Bíblica: Gênesis 37. 1 - 11
“José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus ramos correm sobre o muro.” Gênesis 49.22
Nos desígnios de Deus, a história de José ganha um sentido especial. Naturalmente, não cremos que essa história tenha algum caráter determinista, mas cremos que desde o seu nascimento (Gn 30.22-24) o dedo de Deus orientou os seus caminhos para que se cumprissem no tempo próprio esses desígnios. Portanto, a história de José é uma das mais belas histórias registradas na Bíblia Sagrada. É uma história salpicada pelo amor de um pai ancião, a rejeição de seus irmãos invejosos e a beleza dos seus sonhos que revelavam o futuro de sua família. Do capítulo 30, quando se inicia a sua história, não há informações sobre o desenvolvimento físico e mental de José até chegar aos 17 anos de idade. A partir do capítulo 37 até o capítulo 50, a história ganha em 13 capítulos um espaço especial no livro de Gênesis nos quais se revelam os desígnios de Deus na sua vida e na vida de sua família, a qual se proliferou e se tornou um grande povo. Alguns fatos, alguns bons e outros ruins, contribuíram para que os desígnios divinos se concretizassem na vida de José, o qual se tornou um instrumento de bênção para toda a sua família.
Nessa história, somos atraídos pela sabedoria de José extremamente útil nas várias circunstâncias de sua vida. José experimentou desde jovem adolescente a inveja dos seus irmãos porque gozava de regalias que os demais filhos não tinham. Era um modo errado de tratamento de Jacó, o pai, com os demais filhos. Por causa dessas regalias de José, seus irmãos o odiaram e o quiseram distante deles. Por isso, eles o prenderam e o jogaram num poço, mas passando um grupo ismaelita que negociava escravos, venderam o irmão, que foi conduzido como escravo e levado para o Egito. Naquela terra, vendido como escravo a um senhor egípcio, não perdeu sua fé em Deus. Na casa de Potifar, o seu senhor, José fez prosperar os negócios desse homem, mas foi alvo da sensualidade de sua mulher, que o tentou para um caso sexual. Não aceitando a oferta sensual da mulher de Potifar, foi injustamente acusado de assédio sexual e levado à prisão. Na prisão, sua fidelidade ao Deus do seu pai o fez um líder capaz de interpretar sonhos dos outros presos. Não demorou muito para que fosse descoberto como alguém especial para interpretar os sonhos de Faraó, vindo a conquistar sua confiança. Faraó, rei do Egito, ficou tão impressionado com José que o fez o grande e mais inteligente governador do Egito. José deixou uma lição de sabedoria ao saber conduzir-se nas mais difíceis situações amparado pela providência de Deus, mas, acima de tudo, de fidelidade a Deus. Nessa história, trataremos especialmente de aspectos da sua fidelidade a Deus em meio às crises por que passou.
ASPECTOS DA VIDA DE JOSÉ
Antes do nascimento de José, seus pais experimentaram algumas crises que eclodiram trazendo dissabores e tristezas para Jacó. A despeito de Jacó fazer parte do projeto de Deus, sua vida familiar, ainda que próspera, não foi das mais felizes, porque ele não soube administrar os assuntos familiares com sabedoria. Do capítulo 30 até o 37, alguns fatos foram marcantes para o velho Jacó com a perda de três pessoas importantes em sua vida: Débora, a ama de Rebeca (35.8); sua amada esposa Raquel, no parto de Benjamim (35.16-20), e seu pai Isaque, que morreu com 180 anos de idade e foi sepultado por seus filhos Esaú e Jacó junto à sepultura de Abraão na cova de Macpela (35.27-29). José acompanhou o nascimento de seu irmão Benjamim e teve uma vida de adolescente até aos 17 anos cheia de sonhos e ambições como é típico dessa idade.
Quem Era José
José não foi um personagem comum da história bíblica. Sua vida é o testemunho vibrante de um homem de enorme integridade que foi capaz de superar as maiores adversidades ao longo de sua vida dando exemplo de amor, inteligência e perdão. Sua história é uma inspiração, e não pode nunca ser esquecida. Ora, entendemos que a Bíblia é a revelação de Deus e sua vontade para a vida humana e, como disse o apóstolo Paulo aos Romanos 15.4: “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. A palavra dantes abrange todas as verdades inseridas nas histórias bíblicas. São verdades que ensinam no presente e são uma esperança para o futuro. Por isso, a vida de José é uma grande inspiração de fé e esperança.
Portanto, do seu nascimento até aos 17 anos (Gn 30.24 — 37.2), a sua família era constituída pelos filhos de Lia (ou Leia), pelos filhos das concubinas Zilpa e Bila, e, por último, por seu irmão Benjamim, filho de Raquel (Gn 30.22-24; 35.16-18). A partir dos 17 anos até os 30 anos, iniciou-se um segundo ciclo da sua vida (Gn 37.2-41.46).
José, Objeto de uma Crise de Família
Nesse segundo período de sua vida, o descontrole familiar por parte de Jacó privilegiou uns em detrimento de outros. Jacó não percebeu que sua atitude para com os filhos deu início a um antagonismo dos irmãos de José por causa dos seus privilégios para com o pai. O fruto desse antagonismo familiar para com José resultou em inveja, escravidão, prisão injusta e humilhação que estiveram presentes na sua vida.
A partir dos 30 anos de idade até a sua morte (Gn 41.46-50.26), em especial os oito últimos anos, foram marcados pelo cuidado de Deus à sua vida e houve muita prosperidade no sentido material, político, social e espiritual. Foi a recompensa pela sua fidelidade a Deus e a capacidade de administrar sua vida de modo inteligente, que fosse bom para si mesmo e para a glória de Deus. Foi nesse período que José deixou a maior lição de perdão aos seus irmãos, superando todos os ressentimentos e vivendo uma vida de paz e harmonia entre todos. Nesse tempo, o Senhor permitiu que visse o rosto de seu pai e ainda trouxesse toda a família para o Egito, perdoando-os, abençoando-os e protegendo-os. Fazendo um retrocesso para entender melhor a história de um vencedor de crises, vamos considerar alguns elementos vitais dessa história.
José, uma Bênção Transformada em Crise
É interessante perceber na Bíblia que as pessoas que Deus escolheu para manifestar a sua glória e fazer delas o direcionamento de sua vontade nunca foram perfeitas. Pelo contrário, sempre foram pessoas normais, com valores e defeitos, mas que, de algum modo, Deus viu nelas a capacidade de reconhecerem a sua soberania. Foi o caso do pai de José, o velho Jacó. Em termos de qualidade familiar, Jacó não soube administrar muito bem a seus filhos e a sua casa. Porém, há algo especial que Jacó passou para seus filhos: o seu temor a Deus.
Quando nasceu José, foi considerado como “o filho da sua velhice”, o primeiro de Raquel. Sua paixão por Raquel o fez trabalhar 14 anos para que ela fosse liberada e concedida em casamento com ele. Depois dos primeiros anos trabalhados por Raquel, o velho Labão, seu sogro, o enganou e lhe deu Leia (Lia), a irmã de Raquel, e com Lia (Leia) teve sete filhos. Mas sua paixão por Raquel o fez trabalhar outros sete anos na fazenda de seu sogro Labão, para ter a mão de Raquel em casamento.
Casando-se com Raquel, ficou decepcionado porque ela era estéril e não pôde lhe dar filhos imediatamente, mas ele não deixou de amá-la. A esterilidade era o maior estigma para a mulher naquela antiga cultura e, por isso, Raquel sentia-se humilhada, porque não ter filhos se constituía uma desgraça para ela e seu marido. Mas o Senhor interferiu no útero de Raquel e a capacitou para engravidar de José, para sua alegria e de Jacó. Portanto, a alegria desse filho de Raquel fez com que Jacó o amasse tanto que acabou criando uma situação incômoda dentro da família. Sua dedicação a José o tornou rejeitado pelos irmãos. Para aumentar ainda mais o ódio de seus filhos, o velho Jacó privilegiou José dando-lhe uma túnica de várias cores, enquanto os demais continuavam com suas roupas de linho branco áspero. Essa atitude negativa de Jacó provocou não somente inveja e ciúme dos irmãos de José, mas o desejo de se livrarem dele.
Dentro de uma família, todos devem ser amados por igual, independentemente das diferenças de temperamento que cada filho tenha. Jacó foi um mau exemplo de paternidade, porque não soube administrar com sabedoria os sentimentos de sua família.
José, o Alvo de uma Crise de Relações entre seus Irmãos
Duas razões principais podem ser percebidas no comportamento dos irmãos de José. O ódio cresceu em seus corações como uma planta venenosa porque eles não conseguiam admitir o tratamento que seu pai dava a José em detrimento dos demais irmãos.
Uma das razões do ódio de seus irmãos restava da denúncia que José fazia ao pai das más ações cometidas por seus irmãos quando estavam longe da vista do pai. Seus irmãos o viam como um traidor deles porque era o favorito de seu pai e porque a esposa favorita de seu pai era Raquel, sua mãe (Gn 37.3). É difícil entender por que uma família com vários conflitos e com pessoas cheias de ódio, inveja, falsidade e mau comportamento estaria nos desígnios de Deus para a formação de um grande povo. Mas Deus não pensa como nós e nem julga pelos mesmos critérios que nós humanos julgamos. A justiça de Deus é perfeita e seus desígnios estão acima da nossa capacidade de julgar.
A outra razão desse conflito familiar contra José estava no fato de ele ser um sonhador que sempre despontava como líder. Quando José aparecia, de repente, para ver como estavam os seus irmãos, eles diziam uns para os outros: “Lá vem o sonhador!” (Gn 37.19, ARA). No seu último sonho, ao contar para seus irmãos, o enredo do sonho irritou tanto a eles que resolveram entre si dar cabo da vida de José. Mas, ouvindo um dos irmãos mais velhos, decidiram não matá-lo, mas vendê-lo para mercadores de escravos. José contou o sonho aos irmãos, quem sabe por uma inocência de malícia, mas o sonho provocou ainda mais o ódio deles, porque entendiam que José se colocava sempre superior a eles (Gn 37.5-8). Quando José lhes contou o sonho dos feixes de grãos que, atados, estavam em torno do seu feixe, que era o principal, e se inclinavam perante ele, essa história foi o suficiente para que o odiassem ainda mais (v.8).
Certamente, nem eles, nem José, podiam imaginar que se tratava de uma visão futura que aconteceria dentro dos desígnios divinos, mas não sabiam como interpretar (Gn 42.6; 46.29,30). Sem poderem entender o futuro que lhes reservava, ao ouvirem o sonho de José, preferiam considerar que se tratava de uma ambição e presunção daquele adolescente. Na verdade, nos desígnios de Deus, era uma antevisão do tempo em que ele estaria no Egito como governador e que seu pai e seus irmãos teriam que se inclinar perante ele, o feixe maior (Gn 45.1-8) Nem o seu velho pai aceitou bem o sonho de José, pois o via como presunção da parte dele. Por causa dessa situação, José foi odiado e maltratado por seus irmãos, premeditando até mesmo matá-lo para se verem livres dele (Gn 37.17-20).
JOSÉ SUPERA A CRISE DE HUMILHAÇÃO
A Humilhação da Rejeição de seus Irmãos
Rúben, o filho primogênito de Jacó, não deixou que seus irmãos cometessem um assassinato com seu próprio irmão (Gn 37.21,22). Mesmo sabendo que o plano irrefletido de seus irmãos traria maldição sobre suas vidas, Rúben sugeriu que jogassem José numa cisterna velha sem água (Gn 37.24). Antes de o lançarem na cisterna, tiraram sua túnica de cores e a encharcaram de sangue de um cabrito morto para levarem ao pai a túnica rasgada e tingida de sangue e, assim, passarem a ideia de que José tivesse sido atacado por algum animal violento (Gn 37.31). Cheios de ódio contra José, depois de o terem lançado numa cisterna, viram uma caravana de ismaelitas de caminho para o Egito e o venderam para essa gente (Gn 37.28).
A Humilhação da sua Venda aos Ismaelitas
Os ismaelitas eram um povo descendente de Ismael, filho de Abraão e Agar, a escrava egípcia que servia a Sara, sua esposa do patriarca. Naturalmente, tanto Ismael quanto Isaque eram velhos e formaram suas famílias. Ismael cresceu e se desenvolveu no deserto, e Isaque, na terra de Canaã. Muitos anos se passaram e os seus filhos, sem perceberem suas origens abraâmicas, se encontram. Os ismaelitas que passavam por aquela região em que se encontravam os filhos de Jacó eram mercadores, tanto de joias quanto de escravos. Segundo a história bíblica, semelhante às 12 tribos de Israel, também havia uma promessa de Deus sobre os filhos de Ismael, que formariam doze tribos com a sua gente (Gn 17.20; 25.12- 16). Portanto, os ismaelitas, além de meio-irmáos dos filhos de Abraão, eram tribos que viviam no deserto e que negociavam com outros povos. Nesse encontro casual, os filhos de Jacó não perderam a oportunidade de negociar com aqueles mercadores a venda de seu irmão José. Eles o venderam como escravo aos ismaelitas, que lhes deram 20 moedas de prata (Gn 37.28).
A Humilhação da Mentira da Túnica Tingida de Sangue
A ideia de encharcarem a “túnica de cores” que José vestia para enganar o velho pai Jacó é típica de ações modernas de lideranças, não só no mundo dos homens, na vida política, mas até mesmo no seio da igreja. São ações mentirosas e falsas para esconder a verdade. Que Deus nos guarde dessas ações falsas!
Na história dos irmãos de José, a tentativa era de amenizar suas consciências e enganar a Jacó, o pai. Imaginaram ter se livrado de José sem o terem matado, e que essa ação os livraria de uma culpa de assassinato e amenizaria a culpa por terem vendido o próprio irmão. Ao apresentarem a túnica de cores cheia de sangue de cabrito com o intuito de enganar a seu pai Jacó, fizeram-no chorar por muitos dias de tristeza, pois imaginava ter perdido seu filho José para sempre. O velho Jacó não sabia das peripécias enganosas de seus filhos. O ciúme e a inveja de irmãos de José foram de uma crueldade sem precedentes, que encheram o coração do velho pai com grande tristeza (Gn 37.31- 35). Esse estado de coisas ruins foi experimentado por Jacó por causa de má administração familiar. Lamentavelmente, isso não teria acontecido se Jacó tivesse sido mais justo com os seus irmãos na formação do caráter deles. Toda esta situação foi fruto da passividade de Jacó no trato com seus filhos.
JOSÉ SUPERA A CRISE DE SUA ESCRAVATURA NO EGITO
Tão logo chegaram ao Egito, os ismaelitas conduziram José ao mercado de escravos. Seu corpo jovem, forte e bonito chamou a atenção de compradores. Não demorou a aparecer compradores. Surgiu um homem, eunuco de Faraó, capitão da guarda do Palácio de Faraó, e o comprou para servir na sua própria casa. A partir de então a história da vida de José ganha um sentido especial na presciência divina.
José Supera as Adversidades de sua Humilhação
O que é uma adversidade?
Significa “contrariedade, revés, infortúnio, aborrecimento, crise”.
José experimentou vários reveses que o fizeram sofrer, mas ele foi capaz de não perder o “bom senso” nem se deixou dominar por sentimentos de mágoa e ressentimento. Da terra de Canaã, José foi comprado pelos mercadores ismaelitas e levado ao Egito. No Egito, José foi conduzido ao mercado de escravos e, mais uma vez, foi vendido para um oficial da corte real de Faraó. O oficial, que se chamava Potifar, levou José para a sua casa. Ao perceber que o jovem escravo tinha características diferentes e superiores aos demais escravos, Potifar o colocou como mordomo sobre toda a sua casa, bem como sobre seus negócios. Mesmo sendo escravo, José era privilegiado pela sua inteligência e caráter, e continuou a acreditar nos seus sonhos, ainda que em circunstâncias que pareciam contradizê-los.
José, Elevando de Simples Escravo à Função de Mordomo
Potifar percebeu que José era um serviçal diferente. Tinha ideias e contribuía com seu senhor para fazer prosperar a sua fazenda. Porfiar percebeu, também, que José era um jovem com qualidades morais invejáveis. Por isso, não teve dúvidas em elevá-lo de simples escravo à função de mordomo, gerindo sobre todos os negócios da sua casa. Deus o honrou porque manteve sua fé no Deus de seu pai. Os negócios geridos por José na casa de Potifar prosperaram grandemente, e Deus era com ele.
Ele poderia, quem sabe, ter vivido uma crise de identidade e ser um homem triste e sem esperança, mas foi capaz de romper com essa adversidade mantendo-se fiel a Deus. José foi um exemplo de superação nas crises porque não perdeu o foco de Deus na sua vida.
Uma importante lição que aprendemos com essa situação vivida por José é que se antes ele podia exibir uma túnica de cores que lhe dava a imagem de superioridade, no Egito, nos seus primeiros anos, “a arrogância devia ceder ao caráter, a autoconfiança à dependência e confiança em Deus apenas , escreveu Lloyd John Ogilvie. A mão de Deus estava com ele em tudo que fazia. Os seus sonhos seriam concretizados no tempo de Deus, mas convinha que ele enfrentasse todas aquelas adversidades para reconhecer a soberania divina. Em seu serviço a Potifar, em sua fazenda, Jose manteve sua fé em Deus, e os traços de seu caráter se manifestaram em sua lealdade ao seu senhor e fidelidade ao seu Deus.
José Resistiu à Tentação Sexual da Mulher de Potifar
José estava sob a guarda de Deus. Os planos divinos não foram desfeitos na vida de José por causa daquela circunstância de sua escravatura. Pelo contrário, José sabia que os sonhos eram de Deus e não seriam frustrados. O Diabo é o inimigo dos servos de Deus e procura sempre criar embaraços para a efetivação da vontade divina. Tribulações provocadas e tentações que poderiam obstruir o plano de Deus surgem, e não foi diferente na vida de José.
O registro da história nesse episódio diz que “José era formoso de aparência e formoso à vista” (Gn 39.6). Fisicamente, era um jovem bonito, com porte atlético que chamava a atenção. A mulher de Potifar não tinha escrúpulos nem decência moral. Por isso, atraída pela beleza física de José, procurou seduzi-lo para um caso extraconjugal. Queria levá-lo para a cama de qualquer maneira. Ela tramou situações pelas quais pudesse atrair o jovem mordomo. Mas José, fiel a seus princípios de temor a Deus e de respeito próprio e pelo seu senhor, rejeitou a proposta dessa mulher. Ela armou ciladas para levar José para sua a cama, usando de artifícios ate pegá-lo a força e segurando pela roupa de José, mas ele foi forte o suficiente para escapar das suas mãos a ponto de ficar com parte das vestes rasgadas (Gn 39.12). Antes do ataque dessa mulher, José argumentou com ela que não podia praticar tal ato de traição ao seu senhor, que confiava nele. Ela se fez de vítima e acusou José de tentativa de sedução e estupro (Gn 39.14-18). Potifar ouviu a acusação mentirosa de sua mulher contra José e o mandou para a prisão, onde estavam os presos da casa real de Faraó. Ele venceu a tentação, mas teve que, mais uma vez, sofrer humilhação, indo para a prisão.
Temos dificuldades em entender os propósitos divinos quando Deus permite que passemos por situações embaraçosas para podermos chegar ao que Ele quer. Mesmo que mantenhamos conduta respeitável e sejamos fiéis aos princípios cristãos da Palavra de Deus, Ele espera que sejamos amadurecidos e moldados no crisol da experiência para chegarmos ao ponto ideal da vontade de Deus. Talvez José tivesse dificuldades para entender por que tinha de sofrer aquelas humilhações mesmo sendo fiel a Deus. Mas ele não se deixou vencer por essas circunstâncias, porque, no fundo do seu coração, sabia que havia algo maior para a sua vida.
JOSÉ SOUBE SE CONDUZIR COM SABEDORIA DENTRO DA PRISÃO
José Foi Abençoado por Deus dentro da Prisão
A tendência natural de todos nós quando sofremos injustiças é a perda do bom senso e o desejo de vingança em algumas circunstâncias. José, pelo contrário, não perdeu o bom senso quando injustamente foi para a prisão, porque tinha a consciência limpa e não havia perdido a fé em Deus que o ajudaria mais uma vez. Em vez de ficar na passividade, ele procurou reagir com atitude disciplinada de não se deixar dominar pela ira, pelo rancor, podendo alimentar ideias de vingança. José procurou agir com coerência, tomando o controle da situação em que estava. Era um preso igual aos outros, mas que podia fazer diferença caso se mantivesse equilibrado e confiante em Deus. Na verdade, ele se tornou uma vítima da injustiça, porque o seu senhor nem quis ouvir a verdadeira história que envolveu a mulher de Potifar. Por algum tempo, mesmo tendo conquistado a confiança do oficial responsável pelos presos, ele estava preso e esquecido.
No mundo em que vivemos, existem tantas histórias de injustiças de pessoas punidas por algo que não praticaram. No Novo Testamento, o apóstolo Pedro parecia estar se referindo a esse tipo de injustiça quando escreveu: “Porque é coisa agradável que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus” (1 Pd 2.19,20). Esta escritura revela a todos nós que Deus age, também, através das circunstâncias adversas para que o conheçamos e nos inteiramos de seu projeto para nós.
José sabia que havia um propósito maior para a sua vida. Ele sabia como Deus trabalha para um propósito, mesmo que não o compreendamos inicialmente. Deus disse ao profeta Isaías: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.8). Portanto, para José, os sonhos que tivera quando ainda estava na casa de seu pai náo eram meras figuras sem sentido, mas continham a revelação de que Deus faria com ele algo muito superior a qualquer circunstância adversa. Eram os sonhos que tivera ainda na casa do pai em Canaã. Ele sabia que, de algum modo, Deus cuidaria dele naquela adversidade dentro da prisão (Rm 2.4; SI 36.7; 119.76). Talvez ele pudesse declarar como Davi no Salmo 124.2-4: “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós; então, as águas teriam transbordado sobre nós, e a corrente teria passado sobre a nossa alma; então, as águas altivas teriam passado sobre a nossa alma”. Lá dentro da prisão, José, inteligentemente alcançou graça e simpatia com o carcereiro-mor, que viu nele qualidades de um homem reto, ético e autêntico, e não um bandido.
José Alcançou Graça perante o Capitão da Guarda
dentro da Prisão
Naquela prisão, José foi sustentado pela benignidade de Deus. Ele poderia ter sido afetado psicologicamente com a lembrança ruim de algumas experiências que teve quando foi tratado de modo injusto por seus irmãos. Lembrança da intenção dos seus irmãos de querer matá-lo e, não podendo concretizar o plano de assassinato, o venderam como escravo. Ele poderia, no interior daquela prisão, sentir-se só, abandonado, esquecido de todos. Mas, pelo contrário, José não se deixou vencer pelo negativismo; ele foi capaz de manter seu espírito pronto para superar mais uma vez aquela situação. Logo, o capitão da guarda da prisão agraciou-se tanto de José que o fez líder dentro da prisão.
Estavam presos naquela prisão dois funcionários especiais da cozinha da casa de Faraó, o copeiro-mor e o padeiro-mor, com os quais o rei havia se aborrecido e mandou prendê-los. José fez amizade com os dois presos da casa do rei e ganhou a confiança deles. Pela providência divina, aqueles dois presos da casa do rei tiveram sonhos e contaram a José, que os interpretou (Gn 40.5-13). Inteligentemente, José interpreta o sonho do copeiro-mor, afirmando-lhe que seria restaurado à sua posição para com o Faraó. Então, José pediu a esse copeiro-mor que, quando estivesse servindo ao rei o seu vinho, lembrasse dele perante o rei. Posteriormente, a interpretação se confirmou com o destino dos dois presos. O padeiro-mor foi enforcado, mas o copeiro-mor foi restaurado à sua posição. Contudo, diz o texto que “o copeiro-mor [...] não se lembrou de José; antes, se esqueceu dele” (Gn 40.23). Por algum tempo, José continuou preso, esperando apenas em Deus a interferência no momento certo. Dois anos se passaram desde que o copeiro do rei voltou ao seu serviço, até que o Faraó teve um sonho, e o copeiro lembrou-se de José (Gn 41.12-14).
JOSÉ REVELA SABEDORIA E HUMILDADE DIANTE DE FARAÓ
Por algum modo especial, a mão de Deus estava sobre José. Ficou dois anos esquecido no seu cubículo dentro da prisão, tendo oportunidade para pensar, refletir e comungar com Deus sobre todas as coisas na sua vida desde que saiu de casa aos 17 anos de idade. Sua experiência com Deus lhe propiciou a oportunidade de adquirir conhecimento e aguçar sua inteligência para usá-la no momento certo. Depois de dois anos desde que o copeiro do rei fora liberto e voltara à sua posição anterior, não havia se lembrado ainda de José. Então, Faraó teve sonhos que lhe tiraram o sono da noite. Querendo a interpretação dos sonhos e não a tendo pelos seus adivinhos e astrólogos, surge o copeiro, que, ao servir o vinho ao rei, lembrou-se de José. A partir de então, uma nova jornada na vida de José se inicia.
José Foi Lembrado perante Faraó
José tinha o coração íntegro. Embora as nuances daquele momento que vivia na prisão pareciam desmoronar sobre sua vida, mas ele não perdeu a esperança. A providência divina, que age no momento certo, propiciou-lhe a oportunidade da mudança de situação. Deus concedeu dois sonhos tão contundentes e significativos que desestabilizaram completamente o Rei.
Pela cultura egípcia, os sonhos eram supervalorizados e interpretados como presságios bons ou ruins às pessoas que tinham esses sonhos. Não conseguindo entender o que os seus sonhos representavam, Faraó ficou com o espírito angustiado em busca do entendimento desses sonhos. Convocou seus magos, adivinhos e astrólogos para que os interpretassem, mas nenhum deles conseguiu convencer o rei acerca do significado daqueles sonhos. Esses astrólogos e adivinhos viviam à mercê do palácio e, naquele momento, não conseguiam dar nenhuma interpretação que convencesse o rei das suas pretensas interpretações (Gn 41.8). Então, quando o copeiro do rei lhe servia o vinho, vendo a perturbação do seu coração, já havia se passado dois anos, quando se lembrou de José. Então o copeiro falou ao rei sobre o que acontecera com ele e o padeiro-mor, tendo-se cumprido fielmente a sua interpretação. O rei ficou pasmado com a exatidão do cumprimento dos sonhos do padeiro e do copeiro, e ordenou que trouxessem José à sua presença. O que podia parecer esquecimento e atraso no plano divino era, de fato, o momento exato da interferência divina para que José saísse do seu sofrimento. Os homens podem esquecer facilmente, mas Deus não nos esquece. Tudo quanto José havia passado era, na verdade, uma oportunidade de ser preparado para a grandeza. De experiências sombrias em grande parte da sua vida, José agora experimenta a mão de Deus o conduzindo para um lugar ao sol.
José Foi Conduzido à Presença de Faraó
Ninguém podia ir à presença do rei como um escravo, mal vestido e com imagem de maltrapilho (Gn 41.14). Ele foi preparado para entrar na presença do rei e, quando entra na sala do rei, mesmo estando com vestidos novos e nobres, José não entrou na sala do trono com arrogância, mas com humildade e temor a Deus. Ele sabia que fora Deus quem o fizera chegar à sala do trono. O rei disse da informação que teve a seu respeito como alguém que sabia interpretar sonhos. José, de imediato, respondeu ao rei: “Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó” (Gn 41.16). O rei contou o sonho para José ouvir. Depois de atentamente ter ouvido o rei, José mais uma vez falou: “Esta é a palavra que tenho dito a Faraó; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó” (Gn 41.28).
Esse episódio nos leva a refletir que o sofrimento, quando tratado de modo equilibrado, pode moldar uma vida e levá-la à grandeza. Sem dúvida, as lutas e cicatrizes da vida formam o fundamento para conquistas maiores quando sabemos administrar essas adversidades. Temos dificuldades em admitir que os sofrimentos podem nos ensinar a lidar com circunstâncias adversas. Cada episódio na vida de José, desde sua saída da casa de seu pai, está dentro dos desígnios de Deus. Agora, depois de tantas humilhações, José é abençoado pelo Senhor caindo na graça de Faraó.
José Ouviu e Interpretou os Sonhos de Faraó
Sem dúvida, o ponto crítico desse encontro de José com Faraó foi o seu sonho. José não podia imaginar que nesse dia, como qualquer outro dia na cela da sua prisão, repentinamente ele foi levado perante o rei. Foi o começo de algo maravilhoso preparado por Deus para a vida de José. Aquele dia especial foi precedido por um sonho perturbador que o rei tivera, mas Deus o conduziu àquele momento especial.
O rei contou os sonhos a José, e o Espírito de Deus abriu o seu entendimento para dar a interpretação. José declara ao Faraó que o Deus de seus pais, o seu Deus, daria a resposta de paz ao coração do rei (Gn 41.16). Com graça e revelação, a mente de José foi iluminada pelo Espírito Santo, e ele interpretou os sonhos afirmando que os dois sonhos se resumiam num só, pois dentro de pouco tempo o Egito passaria por uma grande escassez de alimentos. Para evitar a crise, o rei deveria prover os reservatórios e celeiros de alimentos para os tempos difíceis. José achou graça diante de Faraó, que ficou impressionado com a sua habilidade e facilidade argumentativa sob a égide do Espírito Santo, a ponto de falar com tanta clareza acerca dos sonhos. A graça de Deus foi uma demonstração da soberania divina sobre sua vida. O Faraó, imediatamente, entendeu que José tinha inteligência e habilidade administrativa para ser o seu governador sobre todo o Egito, estando abaixo apenas do próprio Faraó (Gn 41.33-57).
CONCLUSÃO
José foi exaltado em todo o Egito e ninguém era maior que ele. Como governador, José soube ser leal ao Faraó e administrar todo o Egito com muita lucidez e graça diante de Deus. Por isso, José é um testemunho de que Deus nunca nos esquece. Todas as dificuldades pelas quais passamos na vida, especialmente quando estamos dentro de um plano divino, são modos distintos de aprendermos a lidar com as várias situações. Antecipadamente, Deus preparou o espírito de José para as crises que enfrentaria quando lhe falou por meio de sonhos. José não se esqueceu de que Deus estava com ele, não só nas humilhações, mas também quando exaltado diante dos homens para que a glória de Deus fosse lembrada.
As crises existenciais são superadas por uma
fé genuína em Deus
Para simbolizar o novo ofício de José, Faraó
lhe deu o anel que usava, no qual estava estampado o selo de autoridade,
vestiu-o de vestes de linho fino, e pôs um colar de ouro no seu pescoço.
Deu-lhe um carro, no qual desfilou publicamente com a proclamação de que ele
deveria ser honrado pela população. Em seguida, mudou-lhe o nome para
Zafenate-Paneia, que quer dizer 'abundância de vida ou o deus fala e vive'. Por
fim, José se casou com uma moça de família de alta posição da cidade sacerdotal
de Om. José foi lançado em estreito contato com o paganismo do Egito, mas não
foi vencido por ele.
[...] Quando se tornou o segundo governante
mais poderoso em posição no Egito. Ele sabia exatamente o que fazer. Durante
anos de colheitas abundantes, juntou todas as colheitas que iam além das
necessidades imediatas do povo e as armazenou em numerosas cidades do Egito.
Durante esse tempo, nasceram-lhe dois filhos. O primeiro foi chamado Manassés,
'que esquece', como testemunho de que Deus havia apagado dos pensamentos tristes
e íntimos de José os anos de trabalho e de toda a casa de seu pai. O segundo
filho foi chamado Efraim, 'dupla fertilidade', como testemunho das providências
misericordiosas de Deus na terra da sua aflição.
Quando chegaram os
sete anos de fome, o Egito estava preparado com uma grande provisão de
alimentos armazenada para a emergência. Mas a seca cruzou as fronteiras do
Egito e atingiu a Palestina e outros países vizinhos. Dentro do próprio Egito,
logo as pessoas sentiram fome e pediram comida. Sem demora, José as abasteceu
de provisões segundo um plano já em execução. As pessoas tiveram a permissão de
comprar os grãos armazenados e, assim, tiveram o suficiente para comer.
Habitantes de outros países ficaram sabendo da provisão que havia no Egito e foram
comprar alimentos" (Comentário Bíblico Beacon. 1.ed. Vol 1. Rio de
Janeiro: CPAD, 2005, pp. 114,115).
“Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus, que me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito” (Gn 45.7,8).
Fonte:
Lições Bíblicas - O Deus de toda provisão - Esperança e Sabedoria Divina para a Igreja em meio às crises - 4º.trim_2016 CPAD - Comentarista Elienai Cabral
Livro de Apoio - O Deus de toda provisão - Esperança e Sabedoria Divina para a Igreja em meio às crises - 4º.trim_2016 CPAD - Comentarista Elienai Cabral
Revista Ensinador Cristão-nº68
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia de Estudo Defesa da Fé
Dicionário Wycliffe
Sugestão de leitura:
Fonte:
Lições Bíblicas - O Deus de toda provisão - Esperança e Sabedoria Divina para a Igreja em meio às crises - 4º.trim_2016 CPAD - Comentarista Elienai Cabral
Livro de Apoio - O Deus de toda provisão - Esperança e Sabedoria Divina para a Igreja em meio às crises - 4º.trim_2016 CPAD - Comentarista Elienai Cabral
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