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domingo, 18 de novembro de 2018

O genuíno Culto Pentecostal

“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” 1Co 14.26

“Provisória e precariamente, podemos descrever adoração e louvor como um estado de consciência onde se reconhece simultaneamente a grandiosidade de Deus e a efemeridade da condição humana. Ou, busca insaciável por mais da pessoa de Deus, sem nenhum interesse alheio a esse fim. Ou por fim, desejo pessoal de dedicar o máximo de si a Deus e aos demais filhos que o Senhor amorosamente criou. Partindo destas ideias fica evidente que existem níveis e intensidades diferentes na adoração e louvor, não necessariamente uma hierarquia ou uma escala. Adoração não pode ser mecanizada. Celebrações como ‘tarde de adoração’, ‘noite dos adoradores’ podem ter um ótimo apelo midiático, mas não possuem garantias espirituais. É possível a realização de cultos com outros fins — políticos, econômicos, pessoais — que não a adoração. Nunca se deve associar a adoração e o louvor a uma sequência de protocolos a serem seguidos, como numa receita de bolo. A adoração e louvor, por vezes, estão relacionados na Bíblia a situações de fortes sentimentos, arrebatamentos, e muitas vezes surpreendentes (Dn 10.7-10; At 22.7). Ao falar a respeito do ‘perfeito louvor’, Jesus cita a pureza e simplicidade das crianças (Mt 21.16). Logo devemos entender que louvar a Deus, ainda que seja algo feito em um contexto coletivo, é uma atitude que devemos fazer livremente, por meio da gratidão, quebrantamento e humilhação” (BRAZIL, Thiago. Em Espírito e em Verdade: A Essência da Adoração Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2016, p.27).

O culto pentecostal genuíno tem a presença de Deus nos louvores, na oração, na manifestação dos dons e na pregação da Palavra.

“O que significa cultuar a Deus?”.


Leitura Bíblica: João 4.19-24; Efésios 5.15-21

INTRODUÇÃO

O Deus vivo e verdadeiro é adorado e louvado por suas obras, atributos e misericórdia, e a adoração, feita por aqueles que O amam e O temem, tem princípios que não podem ser desprezados. Cantar louvores, orar, contribuir e receber a Palavra são atitudes que fazem parte do culto cristão. Além disso, são elementos do culto a ordem e a racionalidade. Os pentecostais reúnem-se em nome de Jesus para celebrar o Senhor Deus, e nesse culto podemos ver curas, batismo com o Espírito Santo, salvação e libertação de pessoas. Veremos nesta lição como o culto ao Senhor é apresentado na Bíblia e como a nossa adoração deve se moldar dentro desses parâmetros.

I. AS REUNIÕES DO POVO DE DEUS EM ATOS

1. Reuniões com oração.

Os cultos genuinamente pentecostais são reuniões em que há a prática da oração. Atos 2 nos mostra que os discípulos de Jesus, no Dia de Pentecostes, não estavam festejando aquela data comemorativa. Eles estavam orando no cenáculo. Não existe problema algum em se comemorar uma data pátria ou festiva, como aniversários, casamentos, ou um feriado nacional. O próprio Deus instituiu datas de celebrações nacionais para os hebreus. Mas no caso da igreja em Jerusalém, quando foram cheios do Espírito Santo, foram achados em oração.

Orar é tão importante que o Senhor Jesus não apenas orava com frequência, mas nos ensinou também a orar. Ele orou até o momento em que entregou o espírito a Deus. E Deus não depende de nossas orações para agir em certas ocasiões, mas Ele espera que seu povo ore e faça da oração uma prática.

Reuniões pentecostais devem sempre primar, a exemplo de Atos 2, pela oração nos cultos. O agir de Deus é observado após períodos em que seu povo estava orando. Para o pentecostal, a oração deve fazer a diferença em todos os aspectos de sua vida.

2. Reuniões marcadas peto temor a Deus.

Uma característica do culto genuinamente pentecostal é a certeza de que estamos entrando na presença de Deus, e que a nossa adoração ao Eterno deve ser de forma respeitosa, com temor. Diante da santidade de Deus o ser humano deve chegar com quebrantamento, mas igualmente com confiança, lembrando-se de que não há mais separação entre nós e Deus. Entretanto, nem todas as pessoas têm a consciência de que indo para um culto, estão diante de Deus. Jesus garantiu que “[...] onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu [...]” (Mt 18.20), mas nem sempre essa presença é respeitada. O livro de Atos mostra pelo menos duas ocasiões em que a presença de Deus em uma reunião foi tida como de menor importância por crentes sem temor. Ananias e sua esposa, Safira, tentaram enganar os apóstolos na hora da oferta, e Lucas registra a consequência da falta de temor daquele crente (At 5.4,5).

3. Reuniões com exposição da Palavra.

Tão importante quanto a oração e o temor, no culto pentecostal, é a exposição da Palavra de Deus. Não pode ser compreensível um culto em que Deus se faça presente apenas nos momentos de oração e cânticos, e ausente no momento da pregação. Por isso, a exposição das verdades bíblicas deve ser levada a sério não apenas na escolha do texto a ser trabalhado, mas também na forma como a apresentação ocorre.

II. ORDEM E DECÊNCIA NO CULTO

1. Cultos e liturgia.

O culto pentecostal não é desprovido de uma liturgia. Esta palavra é oriunda da língua grega, teitourgeion, de onde vem a nossa palavra liturgia, e traz a ideia de um serviço ou dever público. Leitougeion também é traduzida como ministério. Ela aparece em Atos 13.1,2, quando nos é dito que na igreja de Antioquia havia doutores e profetas, e “servindo eles ao Senhor e jejuando”, o Espírito Santo ordenou que Saulo e Barnabé fossem separados para uma obra que Deus já lhes reservara. A palavra “servindo” (leitourgeion) indica que os discípulos serviam ao Senhor de forma pública, e no decorrer desse serviço ouviram o Espírito Santo. Não é errado ter uma liturgia, em que o culto vai ser seguido de etapas que nos conduzem a Deus na adoração, leitura da Palavra, oração, contribuição, testemunhos públicos e pregação da Palavra. O que não é certo é fazer com que a liturgia seja mais importante do que a orientação e o mover do Espírito de Deus no culto.

2. O uso do intelecto associado aos dons.

Paulo nos adverte que o nosso culto deve ser racional (Rm 12.1). Isso significa que devemos adorar a Deus com inteligência e sabedoria. Por meio da pregação bíblica Deus fala aos nossos corações; por meio dos dons espirituais a Igreja é edificada. Por meio da oração falamos com o Senhor, e em todos esses momentos o cristão não perde a sua capacidade de se comunicar, de entender, de refletir sobre o que é dito. Não podemos fazer do momento de culto um horário para manifestações particulares de espiritualidade. Ser cheio do Espírito não retira de nós o domínio próprio, pois este é justamente uma característica do fruto do Espírito registrado em Gálatas 5.

3. O espírito do profeta é sujeito ao profeta.

Para que haja ordem no culto, Paulo deixa claro: “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (1Co 14.31,32). A orientação bíblica é clara no que tange às manifestações de profecia no culto ao Senhor. Há grupos cristãos que, acreditando que o dom de profetizar é somente a pregação da Palavra de Deus, não apenas impedem que haja profecias genuínas na Igreja, como também ensinam que esse dom cessou. Mas o apóstolo Paulo fala usando o tempo no presente: “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”. Ele não diz que eram sujeitos e que depois do terceiro século de nossa era não seriam mais. O objetivo dessa orientação é claro: “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos” (1Co 14.33). Esse texto indica que aqueles que têm o dom de profetizar devem se sujeitar à decência e à ordem, e não atrapalhar o andamento do culto para profetizar. A mensagem profética trazida a um homem ou mulher de Deus não é desculpa para que o momento de culto se torne desregrado, ou com manifestações condenáveis na Palavra de Deus.

4. Adorando a Deus em espírito e em verdade.

João, em seu Evangelho, mostra um diálogo entre Jesus e uma mulher samaritana junto ao poço de Jacó. Jesus tratou com ela a respeito da salvação, e a mulher quis saber sobre o lugar onde se deveria adorar a Deus. Os samaritanos só aceitavam o Pentateuco, e rejeitavam os profetas e demais livros do Antigo Testamento, ao que Jesus lhe responde que eles adoravam o que não sabiam, e que a salvação vem dos judeus. Jesus completa a sentença deixando de focar o lugar da adoração para focar na forma como se adora e a quem Deus busca para o adorar (Jo 4.23). A adoração, que antes estava enquadrada em uma teologia que privilegiava os lugares, agora tem um caráter pessoal, em espírito; não uma ideia pálida de quem é Deus, e em verdade, pois Ele já se revelou em Jesus. A nossa adoração deve refletir esse princípio. Precisamos adorar a Deus de forma realmente espiritual, como novas criaturas, divorciados das regras que regiam nossa forma antiga de viver.

III. A MUSICALIDADE DENTRO DO CULTO CRISTÃO

1. Deus valoriza a música e a adoração.

A música faz parte do culto cristão. Deus deu sabedoria para que os homens criassem instrumentos musicais, e criou o homem com cordas vocais para que pudesse cantar. Esse mesmo Deus conclama que todos cantem louvores em sua presença (Sl 47.6-8). Deus pergunta a Jó onde ele estava quando, por ocasião da criação do mundo, “as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus se rejubilavam” (Jo 38.7). Mesmo no livro do Apocalipse é possível ver que no céu há adoração com música, onde os quatro animais e os vinte e quatro anciãos cantavam um novo cântico (Ap 5.8,9).

Jesus cantou um hino antes de ir ao Getsêmani (Mt 26.30), e a Igreja Primitiva adorava a Deus com música. Paulo fala aos efésios que eles deveriam ser cheios do Espírito “falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais” (Ef 5.19). Observe que a expressão “falando entre vós” aponta para além da adoração no culto, e avança para as esferas de relações pessoais. Adorar com uma música de qualidade, bíblica, sem cantores e músicos disputando quem toca melhor ou mais alto, com certeza agrada a Deus.

2. Salmos e hinos.

Os Salmos, ou saltério de Israel, são um conjunto de hinos que os hebreus cantavam em suas festas. Tais hinos representavam a forma como os filhos de Abraão percebiam a presença de Deus — ou a ausência dEle — em suas vidas. As emoções humanas — tão condenadas em certos meios evangélicos de nossos dias — são vistas de forma clara nos Salmos. Os hebreus não tinham nenhum problema em cantar seus momentos de alegria ou tristeza diante de Deus, e ensinar a outros por meio desses cânticos. Asafe fala que quando olhou para os ímpios, seus pés quase vacilaram (Sl 73.2,3). Os descendentes de Coré cantaram que “até o pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si e para sua prole, junto dos teus altares” (Sl 84.3). Davi, quando perseguido por Saul, cantou que Deus “derrama luz nas minhas trevas” (Sl 18.28 — ARA), e “a tua graça é melhor que a vida” (Sl 63.3 — ARA). A igreja cristã adotou o uso dos salmos em seus cultos, e nós podemos fazer o mesmo.

3. Cânticos espirituais.

Nos parece adequado crer que essa expressão, cânticos espirituais, se refira a hinos entoados em outras línguas por pessoas cheias do Espírito Santo. Independente da forma como se interprete essa expressão, é certo que somente pessoas cheias do Espírito podem trazer essa adoração em um culto, pois tais manifestações são fruto de vidas cheias do Espírito.

O ato de cantar salmos, hinos e cânticos espirituais é consequência de uma adoração que vem do coração, não forçada, mas voluntária, “cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5.19). Os crentes cheios do Espírito devem exteriorizar o que está realmente dentro de seus corações em louvores a Deus. E esse louvor deve ter ações de graças por tudo o que Jesus tem feito por nós.


CONCLUSÃO

O nosso culto deve ser prestado de forma ordeira, inteligente e debaixo da graça divina. Cada momento dele deve refletir nosso temor a Deus, nossa comunhão com Ele e com nossos irmãos e o respeito pelo uso dos dons espirituais e da Palavra que será ministrada.


A Pregação Pentecostal
“Que imagem lhe vem à mente quando ouve a frase pregação pentecostal? Eu ouço um som, como de um vento veemente e impetuoso, que enche todo o auditório. As palavras do pregador são divinamente inspiradas, fáceis de entender, poderosas no contexto. Têm o poder de atirar uma flecha que atinge em cheio o coração do pecador até que este se dobre em agonia, clamando pelo perdão divino. Isso é pregação pentecostal! Quais os elementos da pregação pentecostal? São distintos de outros tipos de pregação? Há diferença de estilo ou substância dos sermões entregues na igreja tradicional ou mesmo na igreja evangélica? Eu sustento que vai muito além dos fatos emocionais. Observo três distintivos que se relacionam com a pregação pentecostal: a unção, a estrutura do sermão e pregação por resultados. Antes, porém, de definirmos os estilos e a estrutura do sermão pentecostal, examinemos a introdução. Há três propósitos básicos para a introdução de um sermão: obter atenção, apresentar a proposição ou tema e criar interesse. Seja extremamente cuidadoso em seus comentários introdutórios. Tenha cuidado para evitar ser repetitivo. Evite improvisação — o resultado pode ser uma observação ofensiva que não foi devidamente considerada. Não leia o texto de diversas traduções diferentes — fica enfadonho. E não leve muito tempo para chegar ao corpo da mensagem” (MOEM, Ernest J. O Pastor Pentecostal: Um Mandato para o Século XXI. 2ª Edição. RJ: CPAD, 2009, pp.638,639).

Fonte: Lições Bíblicas Jovens - 4º Trimestre de 2018 - Título: O vento sopra onde quer – O ensino bíblico do Espírito Santo e sua operação na vida da Igreja – Comentarista: Alexandre Coelho

Aqui eu Aprendi!

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A Doutrina do Culto Levítico

“Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” Sl 24.1

A Doutrina do Culto Levítico

Todo livro da Bíblia tem uma teologia. O que isso quer dizer? Cada livro bíblico apresenta Deus e seu modo de agir sob certo aspecto específico à conjuntura em que parte da Escritura Sagrada foi escrita. Por exemplo, é notório que o Evangelho de João apresenta a pessoa de Jesus de maneira bem distinta dos demais Evangelhos. Logo, dizemos que a Cristologia do apóstolo João, sob certo ponto de vista, é diferente em objetivo da Cristologia dos outros Evangelhos. A isso chamamos Teologia Bíblica. A partir do estudo desta disciplina teológica é que se sistematiza as grandes doutrinas, organização esta, que denominamos Teologia Sistemática.

Como o Levítico apresenta Deus?

O livro de Levítico tem uma maneira peculiar de apresentar a Deus. Ali se encontra o estabelecimento do culto que perpassaria toda a história do povo judeu. A instituição do culto por meio de sacrifícios de animais, posição de mediação do ministério sacerdotal, o sentimento de reverência: tudo isso traduz símbolos à natureza de Deus.

Aspectos da natureza divina apresentados em Levítico

Podemos, por isso, e sob muitos outros aspectos, afirmar que o culto levítico apresenta traços da natureza divina que aparecem perfeitamente no livro de Gênesis. Por exemplo, (1) “tudo que existe foi criado por Deus”, ora, desde a exigência de primogênitos animais, dos primogênitos do povo figurados na tribo de Levi, de uma família específica para o exercício do ministério do sumo sacerdote, o tempo todo Deus está dizendo: “tudo é meu”; (2) os animais, os vegetais, ou seja, toda criatura inferior ao ser humano pertence a Deus; (3) o ser humano todo, a imagem e semelhança de Deus, é do Senhor, onde tal verdade está representada pela exigência divina à sacralidade da vida, no convite ao ser humano para ser um adorador a Deus, no serviço voluntário e amoroso das pessoas a Deus. O tempo todo o livro do Levítico, por intermédio do culto, está mostrando que Deus é quem governa tudo.

Aspectos que devem ser ressaltados hoje

É de suma importância esclarecer ao aluno que, como no Levítico, o nosso culto a Deus representa o que Ele é. Por Ele ser o absoluto, o Criador de tudo, rendemos-lhe um culto reverente. Mas num sentido, outrora inexistente no tempo do Levítico: por meio de Seu Filho, Deus nos justificou, regenerou e santificou de uma só vez. Ele nos vivificou enquanto éramos ainda pecadores (Ef 2.1). Revista Ensinador Cristão nº74

Tudo quanto existe pertence ao Senhor e ao Senhor deve ser consagrado, principalmente o nosso ser.

Leitura Bíblica - Levítico 9.1-14

Na lição de hoje estudaremos três princípios bíblicos expostos no capítulo 9 do livro de Levítico que todo israelita deveria observar:

1) tudo quanto existe foi criado por Deus;

2) sendo Ele o Criador de todas as coisas, somente Ele deve ser adorado; e

3) tudo quanto há deve ser consagrado ao Deus Único e Verdadeiro.

Embora o livro de Levítico tenha sido escrito na Antiga Aliança, num tempo e contexto social diferente do nosso, tais princípios também devem ser observados pela Igreja e crentes da atualidade. Que venhamos como filhos de Deus, alcançados pela graça, consagrar tudo a Ele e em especial todo o nosso ser.



Em cada livro da Bíblia Sagrada, há uma teologia implícita. Minha experiência pessoal é que, em alguns deles, só viremos a descobri-la por meio de uma leitura atenta, piedosa, reflexiva e clamante. A partir daí, ser-nos-á possível ouvir o que o Espírito Santo diz às igrejas. No Evangelho de João, a teologia é patente (Jo 20.31). No Levítico, é tácita; requer-se esforço concentrado para se alcançá-la.

Neste capítulo, consideraremos a teologia que subjaz ao terceiro livro do Pentateuco. Em suas celebrações e ordenanças, repousam princípios eternos aplicáveis tanto à congregação de Israel, no deserto, quanto à Igreja de Cristo, em sua militância rumo à Jerusalém celeste.

Logo de início, estabeleceremos um contraste entre a religião de Israel e a do Egito. Se a primeira tinha a Deus por Senhor, a segunda, desprezando-o também como Criador, adorava a criatura, como se a criação fosse, em si mesma, uma divindade.

I. ISRAEL VERSUS EGITO

Quando Israel desceu ao Egito, o Faraó ainda conservava algum resquício do monoteísmo adâmico e noético. Bastaram, porém, quatro séculos para que a religião egípcia viesse a degenerar-se num politeísmo bizarro, indecente, cruel e blasfemo. Se os primeiros reis egípcios mostravam temor a Deus, o Faraó do Êxodo ergue-se como o arqui-inimigo de Jeová.

Vejamos, pois, como ambos os povos viam o mundo, a partir de sua religião.

1. A excelência da teologia hebreia.

Os filhos de Israel professavam ousadamente a sua crença no Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Nesse credo simples e até despretensioso, demonstravam aos demais povos que o seu Deus, embora transcendente, era também imanente.

Se, por um lado, estava além da criação, por outro, não se confundia com nada criado. Mas, nem por isso, omitia-se em se revelar às suas criaturas morais: anjos e homens. Se perguntássemos a um hebreu do Antigo Testamento se Deus existe, responder-nos-ia ele que o Todo-Poderoso não se limita a existir; Jeová simplesmente; assim revelara se a Moisés: “Eu sou o que sou” (Êx 3.14).

Caso, porém, fizéssemos igual pergunta a um egípcio dessa mesma época, ouviríamos uma resposta desencontrada e teologicamente confusa: “Que deus?”. Para esse homem, até Faraó era uma divindade; um deusinho entre milhares de outros. E quanto ao “poderoso” Rá-Atum? Honrado como o criador dos céus, da terra e do ser humano, só mostrava a cara ao meio-dia. Às 13 horas, ei-lo a desaparecer até ser encoberto pela escuridão.

E Isis e Osíris? Filhos de Geb e Nut, ignorando as leis do incesto, casaram-se entre si. Apesar de suas relações tortuosas, saíram a cavilar a adoração dos egípcios. Como estes eram também incestuosos e moralmente enfermos, não tiveram qualquer problema ético em aceitá-los como padroeiros. Cada povo tem a divindade que merece. Desprezando o Deus Vivo e Verdadeiro, foram os egípcios plasmando deuses mortos e falsos; deuses que se conformavam às suas lascívias, iniquidades e pecados.

Se fôssemos apresentados a Set, ficaríamos ainda mais confusos. Adorado como o responsável pelo caos e pelas guerras, era representado, no panteão egípcio, como um porco-formigueiro. Já ideou um deus com tal aparência? Não imagine qualquer pericorese entre as divindades do Egito. Ciumentos e raivosos viviam às turras; brigavam muito. Em nada diferiam dos moradores do Olimpo: adulteravam, matavam, roubavam; eram piores do que os seres humanos. Como poderiam eles ordenar aos seus devotos: “Sede santos, porque nós, vossos deuses, somos santos?”.

2. A coerência da cosmologia hebreia.

Além de acreditarem na realidade de um Deus Único e Verdadeiro, os hebreus acreditavam também que esse mesmo Deus, no princípio da História Sagrada, criara os Céus, a Terra e o ser humano. De forma singela, o profeta Moisés narra a criação de tudo quanto existe:

No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz. Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia. (Gn 1.1-5)

A cosmologia hebreia pode ser condensada numa declaração teológica que se fez credo:

“Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3, ARA). Pode haver explicação mais lógica e coerente para o aparecimento de tudo quanto existe? Nem mesmo a teoria do Big Bang, embora tão decantada academicamente, reúne a explicação necessária para uma cosmologia que nos atenda aos reclamos mínimos da mente. Somente a Bíblia Sagrada pode dar-nos as respostas de que precisamos.

Voltemos à cosmologia egípcia. Antes de tudo, consideremos as fragilidades e limitações do deus egípcio que tudo criou; não tinha ele sequer o atributo da eternidade. Embora criador, fora criado a partir de águas inquietas e turbulentas. Saindo destas, transformou-se no sol do meio-dia. Em seguida, Rá-Atum gerou, conjugando-se à própria sombra, a deusa Tefnut, a umidade. Não demorou a chegar-lhe outro filho: Shu, o ar. Estes, por sua vez, tiveram seus próprios descendentes. Vieram Geb e Nut que, respectivamente, são a Terra e o Céu.

Para mim, a cosmologia egípcia não passa de uma parábola científica de qualidade duvidosa; inferior mesmo. Infelizmente, tal parábola mitologizou-se, gerou deuses e deusas, aqueles nefastos e estas despudoradas. A propósito, que família de bem receberia Hathor em casa? Mestra na prostituição que se deleitava em destruir lares.

3. A antropologia egípcia.

O hebreu via a si próprio como imagem e semelhança de Deus; não ignorava as palavras do Gênesis:

“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26, ARA).

Mais adiante, Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, narra a feitura de Adão:

“Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7, ARA).

Pode haver mais candura e simplicidade na descrição de nossa origem? Sem recursos mitológicos e sem o concurso de fantasias, o profeta descreve o aparecimento do homem sobre a Terra. Até hoje, não encontrei explicação melhor. Concentremo-nos, agora, na antropologia egípcia, que, na verdade, não passa de um trecho confuso de sua cosmologia.

Segundo a mitologia egípcia, o deus Rá-Atum também foi o responsável pela criação do ser humano. Iracundo e carregado de lascívia, ira, inveja e orgulho, plasmou ele, a partir de águas nada calmas, um ser que lhe refletisse o caráter: o homem já caído da graça. Vejo-me obrigado a repetir a pergunta: como um deus como Atum podia requerer de seus adoradores: “Sede santos, porque eu sou Santo?”. As fofocas de Heoliópolis, onde moravam os deuses do Egito, dizem que ele era um onanista viciado. Como orar a um deus, cuja folha corrida era tão extensa e vergonhosa?

II. A TERRA É DO SENHOR

O livro de Levítico reafirma, por meio de suas ações litúrgicas, as teologias do Gênesis e do Êxodo; mostra que Deus, sendo o Criador dos Céus e da Terra, tem de ser adorado por tudo quanto existe e por tudo o que temos.

1. Deus é o Criador dos Céus e da Terra.

Se o Gênesis mostra que Deus criou tudo quanto existe, o Levítico reivindica dos israelitas que consagrem tudo ao Senhor (Gn 1.1; Lv 1.1-17). Ao mesmo tempo, exorta-os didaticamente, por meio das ofertas e sacrifícios, a jamais oferecer honras a ídolo algum (Lv 19.4).

No panteão faraônico, a Terra era idealizada pelo deus Geb; um representante bem-apanhado do sexo masculino. E, para acompanhá-lo, ali estava a deusa Nut, responsável pelo bom andamento do céu. Diante dessa extravagante narrativa, o que esperar dos egípcios? Não é de admirar que eles adorassem o seu país, como se este fosse o centro do Universo e a morada de todos os deuses. Mas para eles, suas divindades, ao invés de se espalharem pelo Egito, concentravam-se relaxadamente em Heliópolis, onde reinava Rá Atum sobre todos.

Nesse processo idolátrico, residia um projeto de poder, que consistia em eternizar os Faraós sobre o governo do Egito. O mandatário egípcio, tendo à sua disposição toda uma academia de astrólogos, magos e bruxos, mitologizava habilmente a própria imagem. Esse marketing era tão poderoso que, com exceção dos “sábios”, todos imaginavam que o Faraó descendia diretamente de Osíris. A lógica política, que subjazia a essa propaganda oficial, era ardilosa, cruel e mentirosa. Sendo o rei um deus, a terra sobre a qual reinava também era uma divindade. Por que contrariar os deuses? A fim de esvaziar o panteão egípcio, Deus enviou às terras de Faraó dez formidáveis pragas. Nesse décuplo castigo, todas as divindades egípcias viram-se por terra. Nem o Nilo escapou. E, como derradeiro castigo, o Senhor puniu a própria casa de Faraó, matando-lhe o primogênito. Com a morte deste, caía o mito de Osíris.

Consideremos as dez pragas não apenas como açoite ao Egito, mas principalmente como preciosa lição aos filhos de Israel. Apesar de sua crença monoteísta, o seu contato prolongado com a religião egípcia levou-os a uma espécie de henoteísmo. E, agora, apesar de ainda crerem no Deus de Abraão, não deixavam de crer nos deuses de Faraó. Não foi sem razão que caíram em diversas apostasias durante a caminhada à Terra Prometida. É claro que, entre os hebreus saídos do Egito, havia um núcleo fiel, que jamais se deixou embair pela mitologia egípcia. A maior parte, todavia, acabou por cair no deserto.

Na verdade, não foi difícil tirar Israel do Egito. Difícil mesmo foi arrancar o Egito de Israel. O que esperar de um povo que estava disposto a trocar a sua liberdade por melões e pepinos? Essa mesma gente acabaria por barganhar o seu Deus por um mísero bezerro de ouro; reminiscência da idolatria egípcia.

O Egito, como as demais nações, não pertencia ao Faraó nem ao seu querido primogênito; o mundo todo pertence a Deus. Logo, nenhuma terra em particular pode ser idolatrada.

Se do Senhor é a Terra, como devemos proceder?

Hoje os pecados ligados à Terra são estranhos e muitos. Vão desde a posse criminosa de vastas e preciosas glebas, que poderiam nutrir milhões de famílias, até à ecolatria. Que o planeta deve ser preservado, ninguém discorda. Mas daí a adorar a criação em lugar do Criador é um absurdo. Nos dias de hoje, a Terra é adorada como a deusa Gaia. Ontem, uma divindade masculina; hoje, feminina. Até o planeta foi submetido ao processo pósmoderno de afeminação. Para evitar tais arroubos, o livro de Levítico mostra o nosso planeta, em seus sacrifícios e oferendas, como obra de Deus. Todo israelita é exortado a adorar somente ao Senhor.

2. Deus é o libertador de Israel.

O livro de Levítico patenteia aos filhos de Israel que Deus é o seu único libertador. Por esse motivo, nenhum israelita poderia comparecer diante do Senhor de mãos vazias (Êx 23.15).

A teologia de Levítico tinha uma lógica simples e perfeitamente compreensível: se toda a Terra é do Senhor, logo todos os seus moradores devem adorá-lo com os produtos de suas rendas. Nesse sentido, a religião do Antigo Testamento ia além da mera liturgia. Toda vez que um israelita oferecia um sacrifício a Jeová, quer pacífico, quer por sua iniquidade, ele confessava dramaticamente reconhecer o senhorio divino sobre tudo que existe.

O adorador agradecia também ao Senhor pelo Êxodo. Por esse motivo, a teologia de Levítico era essencialmente memorialista; o Libertador de Israel jamais poderá ser esquecido. Ele será lembrado em cada sacrifício, oferta e apresentação.

Por que não agimos assim também? Deveríamos apresentar nossos dízimos e ofertas ao Senhor de forma litúrgica e memorial. Em oração e profundas ações de graças, levemos as primícias de nosso lavor à sala do tesouro, conforme recomenda-nos o Senhor, por intermédio de seu profeta (Ml 3.10). Os princípios do terceiro livro do Pentateuco não foram sepultados no Antigo Testamento, mas revivem no espírito da Nova Aliança. Não quero dizer, com isso, que devamos judaizar-nos; isso seria apostatar da verdadeira fé. Mas que temos de reconhecer os benefícios recebidos do Senhor, não há dúvida.

Jesus Cristo, por intermédio de seu sangue, libertou-nos do pecado, do mundo e do próprio Diabo. Por que não honrá-lo com as primícias de nossas primícias?

3. Israel é o templo de Deus.

A teologia de Levítico tinha por objetivo, ainda, conscientizar Israel de sua vocação divina (Lv 20.26). Logo, toda a nação israelita era um templo de adoração ao Senhor. (Lv 10.3). O povo hebreu não era uma mera teocracia; era a congregação de Jeová. (Lv 9.23).

Tenho para mim que a maior teocracia atual é a Coreia do Norte. Suplanta até mesmo o país dos aiatolás. Pelo menos foi a impressão que tive ao assistir a um documento sobre esse hermético país do Extremo Oriente. Apesar de seu ateísmo militante, a religião, ali, é praticada radical e ostensivamente. Altares e nichos são encontrados em todos os lugares. Se formos a Pyongyang, teremos a impressão de que a cidade toda é um grande e suntuoso templo. Mas não pense você que, neste altar, há um santo católico, e, naquele, um budista, e, naquele outro, um hindu. O único deus encontradiço naquele perímetro silente e ameaçador é o grande líder e seus “onipresentes” antepassados. A mesma impressão teremos se visitarmos alguns países da América Latina. Haja vista o ocorrido na Venezuela. O falecido presidente Hugo Chaves foi de tal forma idolatrado, que chegaram inclusive a adaptar-lhe uma oração do “pai nosso”. Até o nosso país já correu semelhante risco. Se é para adorar a Deus, estamos aqui. Mas, se é para adorar o homem ou o demônio, que o Senhor nos guarde.

Se nos fosse possível voltar à cidade egípcia de Tebas, veríamos que, ali, nos dias de Moisés, era mais fácil topar com um deus do que com um homem. Aqui, estava Rá-Atum. Lá, Osíris. E, mais adiante, a deslavada Hathor. A capital do Egito mais parecia um santuário a céu aberto do que um centro urbano. Se estendêssemos a excursão até Heliópolis, seríamos tomados pela revolta que levou Paulo a enojar-se de Atenas. Mas, entre tantos deuses e deusinhos, não encontraríamos um único altar consagrado ao Deus Desconhecido.

Ora, se o Egito era um templo dedicado a deuses que, rigorosamente, nem deuses eram, por que a herança de Jacó, em Canaã, não poderia ser também um santuário consagrado ao Deus de Abraão e de Isaque? Essa era a proposta da teologia levítica. Mas, para que isso se fizesse realidade, alguns estágios eram imprescindíveis. Antes de tudo, o povo hebreu teria de assumir sua identidade como congregação de Jeová. Isso significa que os israelitas precisavam superar, com urgência, as diferenças tribais, as arestas culturais e dialetais e, principalmente, as barreiras políticas que, a essa altura, já eram bem visíveis. Sem comunhão, não pode haver povo de Deus.

A congregação de Jeová teria de ser tão unida que, aos olhos dos gentios, deveria parecer um único povo. Dessa forma, ao adentrarem a Terra Prometida, os israelitas não enfrentariam maiores dificuldades em transformá-la num templo a céu aberto.

Nalguns momentos de sua história, os israelitas estiveram perto de alcançar tal meta. Reis como Davi, Salomão (na primeira etapa de seu reinado), Josafá, Ezequias e Josias muito lutaram por esse ideal. Pelo que lemos no profeta Ezequiel, a comunhão plena e messiânica entre os hebreus somente virá a ocorrer com o estabelecimento do Reino Milenial, após a Grande Tribulação. Numa leitura mais atenta de Levítico, aprendemos que a intenção do autor sagrado era conduzir didática e profeticamente Israel a ser a congregação e a Casa do Senhor. Alcançado esse ideal, por que precisariam eles de uma edificação tão suntuosa como a de Salomão? Como os israelitas eram tardos em assimilar as lições divinas, acabariam por idolatrar até mesmo o primeiro Templo (Jr 7.4).

III. OS ANIMAIS E OS VEGETAIS SÃO DO SENHOR

A teologia do Levítico mostra a criação como serva do Criador. Por esse motivo, os animais e os vegetais, em Israel, não eram adorados, mas serviam para glorificar a Deus.

1. No Egito, os animais eram deuses.

Os egípcios não faziam distinção entre o Criador e a criação, nem estavam preocupados em distinguir os animais limpos dos impuros. Por isso, adoravam o boi, o crocodilo, o falcão e até o gato (Rm 1.25). Eis porque Deus, ao punir o Egito com as dez pragas, mostrou quão inúteis eram os deuses egípcios.

O panteão egípcio, diferentemente do grego, parecia mais um zoológico do que um depósito de deuses. Examinemos o caso de Thot. Patrono dos estudos, da escrita e dos cálculos, era representado por um homem com uma imensa cabeça de macaco. No Levítico, o babuíno nem mencionado é. Mas os egípcios veneravam-no como divindade.

2. Os animais e a adoração a Deus.

Ao contrário dos egípcios, os israelitas não se davam ao culto dos animais. Mas os apresentavam em sacrifício ao Senhor (Lv 1.2). Além disso, faziam distinção entre os animais limpos e impuros (Lv 11). O povo de Israel sabia que os animais não são deuses, e, sim, criaturas do Deus que as sustenta (Sl 104.14).

Quanto aos egípcios, tinham eles como deus o boi que, em sua mitologia, representava dois deuses: Osíris e Ptá. A primeira divindade era, às vezes, descrita como um morto-vivo; um amedrontador zumbi. Em Israel, de acordo com as recomendações levíticas, o gado vacum tinha apenas três finalidades: trabalho, alimentação e adoração ao Senhor.

Lembremo-nos do carneiro. Na mitologia faraônica, era o deus Knum, cuja função era moldar, qual oleiro, a aparência de deuses e dos homens. No sistema levítico, iria logo para o altar, quer para representar um sacrifício pacífico, quer para oficiar uma oferenda pelo pecado.

3. Os vegetais e a adoração a Deus.

O mesmo Deus que preconiza a preservação da natureza condena a sua idolatria; prática corriqueira entre os antigos cananeus (1 Rs 14.23). Já em Israel, os frutos da terra serviam para duas coisas: nutrir o povo e adorar a Deus; gratidão àquEle que “[faz] a terra dar a sua messe e, a árvore do campo, o seu fruto” (Lv 23.10; 26.4,5, ARA).

Que Deus nos guarde da idolatria. Às vezes, sem o percebermos, tornamo-nos tão idólatras quanto os egípcios do Faraó. Se retivermos o fruto da terra, e deixarmos o faminto perecer de fome, o que é isso senão avareza; abjeta idolatria (Cl 3.5)? A Terra é do Senhor. Logo, todas as suas novidades e produtos lhe pertencem. Então, que tudo seja-lhe apresentado em ações de graça.

IV. O SER É DO SENHOR

A teologia levítica realça a sacralidade da vida humana como imagem e semelhança de Deus. Em Israel, ao contrário das culturas cananeias, estava proibido o sacrifício humano, pois o verdadeiro sacrifício a Deus é um coração humilde e contrito (Is 57.15).

1. O ser humano é a imagem de Deus.

O livro de Levítico corrobora a teologia do Gênesis ao mostrar que o ser humano foi criado por Deus (Gn 1.26). Em suas páginas, há vários dispositivos, visando promovê-lo como a obra-prima das mãos divinas. Por essa razão, o crente israelita era exortado a zelar do corpo e da alma (Lv 14.8a; 15.13; 20.7). Só agradaremos a Deus se vivermos com a excelência que Ele requer de cada um de nós.

No Egito, a única vida sagrada era a do Faraó. Segundo alguns mitólogos, descendia ele de Osíris; de acordo com outros, do prepotente Rá-Atum. Por essa razão, como já dito, toda a medicina egípcia era voltada a cuidar tanto da vida quanto da morte desse soberano. Na verdade, a primeira ocupação dos médicos da corte egípcia era preparar o rei, a fim de que, na outra vida, pudesse ele reinar com igual ventura e felicidade. Haja vista o cuidado dispensado ao embalsamamento de um Faraó.

2. A vida humana é sagrada.

O crente israelita era exortado a ver a vida de todos os homens como sagrada. Por isso, não poderia, sob hipótese alguma, consagrar sua descendência aos ídolos (Lv 18.21). Todos os filhos de Israel tinham de ser consagrados ao Senhor; propriedade peculiar do Senhor. No início de sua história, os egípcios de fato davam-se à prática de sacrifícios humanos. Mas, com o tempo, foram abandonando tal hábito. Quando os filhos de Israel lá chegaram, por volta de 1900 a.C., já não se tinham notícias de semelhantes oferendas. Isso não significa, porém, que os reis egípcios fossem clementes ou benévolos com seus adversários. Se lhes fosse conveniente, até recém-nascidos lançavam ao Nilo.

3. O ser humano é servo e adorador de Deus.

Se os israelitas observassem a Lei de Moisés, não teriam dificuldades em viver a essência de sua teologia. No livro de Levítico, seriam conduzidos a uma vida de santidade, pureza e serviço ao Senhor. Mas, em consequência de suas muitas apostasias, não puderam alcançar o cerne teológico das celebrações e sacrifícios prescritos.

No tempo de Isaías, a situação espiritual da nação estava de tal forma degenerada, que Deus censurou-a energicamente:

Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa e um portento; de maneira que a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a prudência dos seus prudentes se esconderá. (Is 29.13, ARA).

Como os israelitas foram incapazes de viver a essência teológica da Lei de Moisés, o Senhor anunciou-lhes as consequências de sua rebelião e apostasia.

V. A ESCATOLOGIA LEVÍTICA

No capítulo 26 do livro de Levítico, estampa-se o futuro de Israel. A escatologia dessa passagem, apesar de seus rigores e disciplinas, é amorosa e redentora; não deixa os judeus sem esperança.

1. Um chamado à obediência.

Já de início, o Senhor exorta Israel a evitar dois graves pecados: a idolatria e a profanação do sábado. A primeira transgressão sempre acabava por levar à segunda. Ouçamos a advertência divina:

Não fareis para vós outros ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura nem coluna, nem poreis pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o SENHOR, vosso Deus. Guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o SENHOR. (Lv 26.1, ARA)

2. A promessa da obediência.

Se os israelitas se ativessem à Lei de Moisés seriam abençoados em todas as coisas, conforme lhes promete o Senhor:

Se andardes nos meus estatutos, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes, então, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua messe, e a árvore do campo, o seu fruto. A debulha se estenderá até à vindima, e a vindima, até à sementeira; comereis o vosso pão a fartar e habitareis seguros na vossa terra. Estabelecerei paz na terra; deitar-vos-eis, e não haverá quem vos espante; farei cessar os animais nocivos da terra, e pela vossa terra não passará espada. Perseguireis os vossos inimigos, e cairão à espada diante de vós. Cinco de vós perseguirão a cem, e cem dentre vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós. Para vós outros olharei, e vos farei fecundos, e vos multiplicarei, e confirmarei a minha aliança convosco.  Comereis o velho da colheita anterior e, para dar lugar ao novo, tirareis fora o velho.  Porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma não vos aborrecerá. Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo. Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para que não fôsseis seus escravos; quebrei os timões do vosso jugo e vos fiz andar eretos” (Lv 26.3-13, ARA).

3. O castigo pela desobediência.

Mas se Israel ignorasse os mandamentos divinos, seria castigo dentro e fora de seus termos.

Tornar-se-ia motivo de zombaria e escárnio perante os gentios:

Mas, se me não ouvirdes e não cumprirdes todos estes mandamentos; se rejeitardes os meus estatutos, e a vossa alma se aborrecer dos meus juízos, a ponto de não cumprir todos os meus mandamentos, e violardes a minha aliança, então, eu vos farei isto: porei sobre vós terror, a tísica e a febre ardente, que fazem desaparecer o lustre dos olhos e definhar a vida; e semeareis debalde a vossa semente, porque os vossos inimigos a comerão. Voltar-me-ei contra vós outros, e sereis feridos diante de vossos inimigos; os que vos aborrecerem assenhorear-se-ão de vós e fugireis, sem ninguém vos perseguir. Se ainda assim com isto não me ouvirdes, tornarei a castigar-vos sete vezes mais por causa dos vossos pecados. Quebrantarei a soberba da vossa força e vos farei que os céus sejam como ferro e a vossa terra, como bronze. Debalde se gastará a vossa força; a vossa terra não dará a sua messe, e as árvores da terra não darão o seu fruto. E, se andardes contrariamente para comigo e não me quiserdes ouvir, trarei sobre vós pragas sete vezes mais, segundo os vossos pecados. Porque enviarei para o meio de vós as feras do campo, as quais vos desfilharão, e acabarão com o vosso gado, e vos reduzirão a poucos; e os vossos caminhos se tornarão desertos. (Lv 26.14-22, ARA).

4. A escatologia da esperança.

No arrependimento nacional, o Deus de Abraão manifestar-se-á novamente aos filhos de Israel:

Mas, se confessarem a sua iniquidade e a iniquidade de seus pais, na infidelidade que cometeram contra mim, como também confessarem que andaram contrariamente para comigo, pelo que também fui contrário a eles e os fiz entrar na terra dos seus inimigos; se o seu coração incircunciso se humilhar, e tomarem eles por bem o castigo da sua iniquidade, então, me lembrarei da minha aliança com Jacó, e também da minha aliança com Isaque, e também da minha aliança com Abraão, e da terra me lembrarei. Mas a terra na sua assolação, deixada por eles, folgará nos seus sábados; e tomarão eles por bem o castigo da sua iniquidade, visto que rejeitaram os meus juízos e a sua alma se aborreceu dos meus estatutos. Mesmo assim, estando eles na terra dos seus inimigos, não os rejeitarei, nem me aborrecerei deles, para consumi-los e invalidar a minha aliança com eles, porque eu sou o SENHOR, seu Deus. Antes, por amor deles, me lembrarei da aliança com os seus antepassados, que tirei da terra do Egito à vista das nações, para lhes ser por Deus. Eu sou o SENHOR. (Lv 26.40-45, ARA).

CONCLUSÃO

A teologia de Levítico pode ser resumida numa única expressão: obediência e fé. Se o nosso culto não for acompanhado de fé e obediência, Deus jamais se agradará de nós. De nada adianta uma liturgia bonita e imponente; liturgia sem piedade é coisa inútil. Se o nosso culto, porém, vier acompanhado pelo amor, haverá, então, resgate de preciosas almas e promoção do Reino dos Céus na Terra. Que o Senhor nos ajude em nossa peregrinação. Aqui, quantas lutas e tribulações. Ali, junto a Deus, desancaremos de todos os nossos pesares.

Fonte:
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade


Somos o templo do Espírito Santo (1Co 6.19). E, como tais, somos intimados a andar em novidade de vida, consagrando tudo ao Senhor, a começar por nós mesmos (1Ts 5.23). Se não nos ofertarmos amorosa e incondicionalmente a Deus, e usarmos o nosso corpo para o pecado, como estaremos diante de Deus? Seremos réus diante dEle (1Co 6.18-20).

A essência da teologia do Levítico continua válida ainda hoje. O Deus que exortou Israel à santidade requer, de igual modo, a nossa santificação (Lv 19.2; 1Ts 4.3).


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sábado, 21 de julho de 2018

A função social dos Sacerdotes

“E [Jesus] ordenou-lhe que a ninguém o dissesse. Mas disse-lhe: Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés determinou, para que lhes sirva de testemunho” Lc 5.14


A função social dos sacerdotes

Na aula desta semana é importante introduzi-la comentando que à época da peregrinação do povo judeu no deserto não havia uma vida social e jurídica organizada, isto é, por exemplo, não havia médicos, sanitaristas e juízes. O sistema sacerdotal, indiretamente, serviria para atender essas necessidades.

Os principais desafios para o povo peregrino, do ponto de vista da saúde, era a lepra; do ponto de vista da organização social, era a família, a propriedade privada e a vida do indivíduo.

A lepra era uma doença incurável e transmissível. Além de uma doença temida, essa enfermidade também era estigmatizante e, por causa do acometimento à Miriã, irmã de Moisés, derivada de sua rebelião, a lepra passou também a ser vista como castigo divino.

Aqui, cabe uma nota de justificação do isolamento das pessoas. Devido à infeliz militância ideológica na hermenêutica bíblica, muitos tendem a fazer uma leitura social deste episódio colocando os líderes judeus como opressores e os leprosos como os oprimidos. Ora, isso é ignorar por completo o contexto antigo da narrativa bíblica. A lepra era uma doença terrível e incurável. Não havia médicos nem o mínimo de estrutura sanitária. Isolar o leproso era garantir, naquele contexto, a sobrevivência das demais pessoas.

É evidente que, ao longo da história, o isolamento promoveu uma quantidade enorme de excluídos sociais, o que neste caso, não se trata de uma leitura sob os óculos de qualquer ideologia, mas a constatação de uma realidade social demonstrada por meio da alegria radiante, por exemplo, que tomava conta de um leproso curado por Jesus. Quando o Senhor fazia isso, Ele não estava apenas curando essa pessoa, mas a libertando da exclusão social e a devolvendo ao convívio das pessoas amadas por ela.

Hoje, graças a Deus!, embora ainda temida, a lepra, atualmente conhecida como hanseníase, é encarada com maior naturalidade, diminuindo a discriminação e o isolamento social. Isso ocorre porque, diferente dos tempos bíblicos, a hanseníase tem cura medicamentosa. Por isso, muitos leprosários já foram desativados.

Além do caso da lepra, a família, a propriedade privada e a vida do indivíduo precisavam de proteção. Os sacerdotes também deveriam atuar para garantir tal proteção.

Reconstruir o contexto explicativo acima ajudará muito seus alunos a compreender o porquê da série de leis proibitivas no Levítico. Revista Bíblica Ensinador Cristão nº74

Leitura Bíblica em Classe - Levítico 13.1-6

Prezado professor(a), na lição deste domingo estudaremos as funções dos sacerdotes. Homens escolhidos e separados pelo Senhor para o serviço no Tabernáculo. Ser sacerdote era ser honrado pelo Senhor mediante uma nobre missão, pois servir a Deus é um grande privilégio. Mas além da honra e do privilégio, havia as responsabilidades e as muitas exigências. O sacerdócio exigia sacrifícios, pois a função mais importante era conduzir o povo segundo a Lei, em santidade e justiça. Essa era uma tarefa das mais difíceis, pois por diversas vezes os hebreus apostataram da fé. Contudo, os sacerdotes também exerciam outras funções, que exigia discernimento e muita sabedoria. Ele tinha que ter consciência do que era puro e impuro, certo ou errado, santo e profano, pois deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange a Palavra de Deus, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Na nova aliança, não é diferente, pois o Senhor continua a exigir de nós, sacerdotes seus, que tenhamos um padrão de santidade e justiça. No Sermão do Monte, o código de ética do Reino de Deus, Jesus nos adverte quanto a sermos “sal” e “luz” desse mundo (Mt 5.13,14).

As funções do sacerdote iam além da liturgia; sua principal obrigação era zelar pela santidade e pureza do povo de Deus.

Neste capítulo, mostraremos por que as ordenanças de Levítico fizeram de Israel o povo mais avançado na área médica, urbanística e jurídica de todo o Oriente Médio. Não exageraremos se considerarmos os hebreus, nesse mesmo período, mais adiantados do que os chineses, egípcios e babilônios. Quanto aos gregos e romanos, ainda lutavam por se firmarem como civilização.

Acredito que, sem as orientações levíticas, o Ocidente jamais teria alcançado o seu atual estágio de desenvolvimento. A razão é bastante simples. A Igreja Cristã, ao fazer uso da Bíblia Sagrada, jamais deixou de aplicar os princípios mosaicos ao seu dia a dia. Não quero dizer, com isso, que os teólogos patrísticos e medievais porfiaram em judaizar a sociedade na qual estavam inseridos. Mas, sabiamente, souberam como separar os mandamentos específicos a Israel daqueles que devem ser observados por todos os povos. E, dessa forma, lançaram os alicerces da Civilização Ocidental.

Acompanhemos, pois, o processo de santificação dos israelitas. Esse processo, aliás, não contemplava apenas a interioridade humana, mas também a sua exterioridade, porque esta deveria ser um reflexo perfeito daquela. Para que isso ocorresse, a Universidade Levítica fez-se indispensável.

I. A UNIVERSIDADE LEVÍTICA

Ao separar os levitas para servirem como sacerdotes e ministros do altar, Deus lançava, naquele instante, os alicerces de uma instituição que faria dos hebreus o povo mais civilizado do mundo. Vejamos em que consistia a epistemologia dessa entidade que, com muita justiça, poderia ser chamada de Universidade Levítica.

1. Teologia, a verdade sobre o único Deus.

Os sacerdotes levitas, por serem os grandes mestres e catedráticos de Israel, partiam de um pressuposto que faz toda a diferença no campo filosófico, científico e literário: Deus existe. Mas, ao contrário dos deístas atuais, acreditavam eles que Deus não se limitou a criar os Céus e a Terra, mas continua a preservá-los e a intervir em todos os seus negócios, pois Ele é o Senhor de todas as coisas (Gn 1.1).

A teologia levítica não se embasava em meras teorias ou simples assentimentos intelectuais; firmava-se em algo profundo e experimental: o temor de Deus. Como diria mais tarde o sábio rei de Israel, “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7, ARA).

Tendo esse texto de ouro como a pedra de esquina de sua epistemologia, os levitas avançaram nos mais diversos campos das ciências e saberes humanos.

Façamos uma pausa, a fim de explicar o que é a epistemologia. Essa palavra é formada por dois vocábulos gregos: episteme, conhecimento, ciência; e logos, estudo, ou discurso racional. A Epistemologia, portanto, é a reflexão em torno da natureza, estágios e abrangências do conhecimento produzido, adquirido e transmitido pelo homem.

2. Cosmologia, o Universo é de Deus.

Os sacerdotes do Senhor não se perdiam em teorias loucas e bizarras acerca do aparecimento dos Céus e da Terra. Eles sabiam que, no princípio, Deus criara tudo quanto existe. Se tudo quanto existe é criação divina, depreende-se logo que somente o Criador é quem deve ser adorado; não a criatura. Tal proposição é fundamental para se estabelecer uma epistemologia segura, eficaz e que conduza o ser humano ao progresso.

Quando os levitas oficiavam a Deus, apresentando-lhe alguma oferenda ou dom, sabiam estar reconsagrando-lhe algo que já lhe pertencia. Por isso, tratavam a Terra não como a deusa intocável dos gregos, nem como a mãe caprichosa dos ecologistas atuais; tratavam-na como criação divina. Tinham eles ciência suficiente para entender que a Terra fora criada por causa do homem, e não o homem por causa da Terra. Que esta, pois, seja o santuário do Senhor, pois do Senhor é a Terra (Sl 24.1).

3. Antropologia, o homem é a imagem de Deus.

Já imaginou se os levitas tivessem sido educados por Charles Darwin (1809-1882)? Como iriam eles tratar os filhos de Israel a partir de uma antropologia bizarra, fantasiosa e sem a mínima base científica? Mas, sabendo eles que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, jamais deixariam os hebreus embrenharem-se nas promiscuidades egípcias, cananeias e mesopotâmias. Todos eles porfiavam por serem reconhecidos como o povo escolhido do Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

Eis porque os sacerdotes do Senhor obrigavam-se a cuidar tanto da interioridade quanto da exterioridade dos hebreus. Eles estavam cientes de que Deus exigia de seu povo santidade, pureza e distinção. Todos deveriam ser santos, porque Santo é o Senhor. Diante de tal reivindicação, como devemos nós, hoje, proceder? Que o Espírito Santo nos ajude a ter uma vida irrepreensível perante Deus e diante dos homens.

Como seria bom se os médicos e os demais profissionais de saúde tivessem uma antropologia realmente bíblica. A partir dessa perspectiva, tratariam melhor seus pacientes, pois nestes veriam a imagem e a semelhança do Criador. E, assim, seriam banidos das universidades e dos hospitais experimentos cruéis e desumanos como aqueles realizados pelos alemães e japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

4. Direitos e deveres.

Os sacerdotes do Senhor, orientados pelos Dez Mandamentos e pelas demais ordenanças do Pentateuco, foram além dos mestres e juristas da antiguidade. Se Hamurabi, por exemplo, que viveu por volta do século XIX a.C., teve uma influência meramente local, o código levita fez-se universal; eterno. E, hoje, em não poucos tribunais, encontramos uma cópia dos Dez Mandamentos.

Se compararmos a Lei de Moisés à de Dracon ou à de Solon, ambos legisladores gregos do século VII a.D., constataremos que estes jamais lograram alcançar a excelência da legislação que Deus, por meio de Moisés, entregara aos levitas. Por isso, devem os sacerdotes ser vistos como os juristas, advogados, promotores e juízes de Israel. Além disso, lançaram a base jurídica da civilização ocidental.

5. Contrastes entre a Universidade Levítica e a Faraônica.

Antes de encerrarmos este tópico, faremos um pequeno contraste entre a academia egípcia, formada, em sua maior parte, por magos e astrólogos, e a hebreia, representada pelos levitas.

A egípcia, apesar de suas notáveis conquistas científicas, centrava-se em ciências ocultas e duvidosas (Êx 7.11). Quanto à hebreia, tinha à sua disposição não os conhecimentos escondidos e entretecidos nas profundezas de Satanás, mas o saber verdadeiro que o próprio Deus revelara a Moisés e ainda mostraria aos profetas que viriam depois do grande legislador.

Por essa razão, quem hoje se interessa pelas ciências egípcias dos magos e astrólogos de Faraó? No entanto, a Bíblia Sagrada é lida todos os dias do Ocidente ao Oriente como a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.

II. O INÍCIO DOS HOSPITAIS MODERNOS

Parece que os médicos egípcios existiam apenas em função dos faraós. Quanto ao povo, que se arrumasse com as suas doenças, moléstias e enfermidades. No que tange aos levitas, observamos que estes, apesar de não serem médicos profissionais, dedicavam-se desvelada e sagradamente aos cuidados preventivos da saúde hebreia. E, assim, vieram a lançar as bases dos modernos hospitais.

1. O hospital, a Casa do Bom Samaritano.

Na língua alemã, a palavra “hospital” tem um significado interessante e que, em sua essência, revela um pouco da filosofia pagã. O termo Krankenhaus significa, etimologicamente, casa do enfermo.

Se buscarmos a etimologia da palavra “hospital”, descobriremos não somente um novo significado linguístico, mas também uma renovada filosofia. O termo, proveniente do latim medieval, vem de hospes que, naquele período, significava “hospedeiro” ou “hospede”. A partir daí, nasceu o vocábulo “hospital”: local onde os viajantes eram bem recebidos e muito bem cuidados.

Com o tempo, devido à influência da Igreja Cristã, o hospital começou a ser visto não mais como uma simples hospedaria, mas como um lugar para se acolher os enfermos.

Em seus primórdios, o hospital não era uma casa de enfermo ou de enfermidade, mas um lugar onde o hóspede, se enfermo, podia receber cuidados médicos.

A parábola do Bom Samaritano é um quadro que ilustra muito bem a fundação dos hospitais como hoje os conhecemos. Nessa belíssima narrativa, observemos algo muito importante. Os desvelos ministrados pelo samaritano àquele pobre homem refletiam, de certa forma, as funções de um sacerdote levita. Se bem que tanto o sacerdote como o levita, nessa narrativa, embora até possuíssem alguma ciência médica, passaram de largo e ignoraram o seu paciente.

Segundo a história, o primeiro hospital moderno foi estabelecido, em 370 d.C., na cidade de Cesareia, como resultado de um benévolo édito imperial. Mais tarde, Basílio, o Grande (329-379), recomendou a criação de hospitais, tendo como referência um famoso e eficiente hospital de Roma. Não nos esqueçamos da Ordem dos Hospitalários que, apesar de sua forte vocação militar, não deixou de cuidar dos peregrinos que se dirigiam à Terra Santa.

Na história de Israel, as práticas clínicas dos levitas precederam a medicina. É o que podemos inferir do texto sagrado. A seguir, vejamos como os sacerdotes cuidavam da saúde dos hebreus, não propriamente curando-lhes as enfermidades, mas prevenindo-as. Esse cuidado torna-se mais visível em relação à lepra que, naquele tempo, além de ser uma doença incurável, era socialmente repulsiva.

2. Lepra, o símbolo do pecado.

Libertos de uma terra idólatra e insalubre, os israelitas corriam o risco de transmitir à próxima geração enfermidades como a lepra, a doença mais repelente da antiguidade (Dt 7.15). Por isso, Deus encarregou os sacerdotes de inspecionar clinicamente o seu povo. Nos tempos bíblicos, a lepra causava repulsa devido ao seu aspecto e contágio (Lv 13.2). Se Deus não a curasse, médico algum poderia fazê-lo. Haja vista o caso do general sírio Naamã (2 Rs 5.1-14). O Senhor Jesus, durante o seu ministério terreno, curou a diversos leprosos e ordenou a seus discípulos a que os purificasse (Mt 10.8; 11.5).

3. A inspeção clínica.

Em sua peregrinação à Terra Prometida, os israelitas não contavam com médicos e sanitaristas. Era um luxo restrito aos nobres egípcios (Gn 50.2). Portanto, sempre que alguém apresentava algum dos sintomas da lepra, deveria encaminhar-se ao sumo sacerdote para ser examinado (Lv 13.1-30). De acordo com o diagnóstico, o paciente era declarado limpo ou impuro. Se constatada a doença, o enfermo era imediatamente apartado da comunidade (Lv 13.46).

4. A limitação do sacerdote.

Os sacerdotes, por conseguinte, encontravam-se habilitados a diagnosticar, mas não a curar os leprosos; era uma função mais preventiva que curativa. O próprio Senhor Jesus reconheceu a perícia do sacerdote na diagnose da enfermidade (Lc 5.14).

Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus, louvado como o Médico dos médicos, admitiu a utilidade dos médicos humanos. Embora limitados e, às vezes, até inúteis diante de algumas situações, eles aí estão para aliviar-nos a dor (Mt 9.12). Pelo que deduzimos desta saudação tipicamente paulina, Lucas era um médico mui amado entre os cristãos primitivos (Cl 4.14).

III. O INÍCIO DA URBANIZAÇÃO MODERNA

Às vezes, pergunto-me por que uma cidade como o Rio de Janeiro, que já foi alcunhada de maravilhosa, possui tantas mazelas urbanísticas. Ao lado de condomínios, que vivem no luxo, há comunidades que tentam sobreviver do lixo e no lixo. Dessa forma, vemos proliferar doenças que, há mais de um século, já haviam sido debeladas. No Israel do Antigo Testamento, tal situação era inadmissível.

1. O urbanismo e o sanitarismo do sacerdócio levítico.

O urbanismo é a disciplina relacionada ao estudo, regulação, controle e planejamento da cidade. Nessa ciência, não se pode confundir urbanismo com ação urbanizadora. Se esta não promover a melhoria de vida da população não é urbanismo; é mera preocupação estética. A cidade, pois, antes de ser bonita, tem de ser saudável.

O urbanismo deve caminhar de mãos dadas com o sanitarismo. Modernamente, o sanitarismo, conhecido também como higienismo, é conhecido como a ciência que tem por objetivo promover a saúde pública. A menos que tenhamos uma população saudável, qualquer projeto urbanístico, por mais belo e aprazível, será inútil. Eis por que Deus recomendou aos sacerdotes que zelassem pela saúde de seu povo.

De acordo com as leis urbanas que encontramos no Levítico, a urbanização de Israel deveria começar de dentro para fora; do interior das casas ao centro da cidade. Se uma casa estava doente, todos os demais domicílios corriam perigo; a epidemia era eminente. Vejamos, pois, como agiam os sacerdotes na fiscalização urbana de Israel. Aliás, a sua função incluía, também, o sanitarismo.

2. A função urbanista e sanitarista dos sacerdotes.

Apesar de ser a terra que mana leite e mel, Canaã, por causa dos povos que a habitavam, tornara-se tão doentia e insustentável quanto o Egito (Lv 14.34). Até suas casas e vestes estavam sujeitas a uma espécie de lepra, fatal aos israelitas. Por isso, Deus instruiu os sacerdotes a atuarem também como sanitaristas e urbanistas.

3. A função sanitarista do sacerdote.

O sanitarista é um especialista em saúde pública; sua função é mais preventiva do que curativa. Sua obrigação é manter a cidade livre de focos de doenças e infecções. Por isso, os sacerdotes, em Israel, inspecionavam casas e roupas (Lv 14.34-57).

4. A lepra na casa.

A lepra numa casa é descrita como manchas esverdinhadas e avermelhadas que, via de regra, pareciam mais fundas que a parede (Lv 14.37). Sempre que isso ocorria, o proprietário deveria recorrer ao sacerdote que, após examiná-la, ordenava o seu despejo, para que a praga não se espalhasse, contaminando toda a propriedade (Lv 14.36).

Em seguida, a casa era interditada por sete dias (Lv 14.38). Caso a praga não cedesse, as pedras contaminadas eram retiradas e as paredes todas eram raspadas. Em último caso, o sacerdote tinha autoridade para ordenar a demolição do imóvel (Lv 14.45). Para que a lepra não contaminasse outras propriedades, todo o seu entulho era jogado fora do perímetro urbano.

6. A lepra nas vestes.

As vestes e objetos domésticos também estavam sujeitos à lepra. No caso destes, tratavam-se de mofos e fungos igualmente nocivos à saúde (Lv 13.47-50). De imediato, a roupa deveria ser levada ao sacerdote (Lv 13.51). Caso a praga se mostrasse persistente, a roupa deveria ser queimada, a fim de evitar a propagação de doenças (Lv 13.52).

Deus advertiu solenemente os israelitas a guardarem-se da praga da lepra, pois a doença abria a porta a outras enfermidades e moléstias (Dt 24.8). Era um dos mais fortes símbolos do pecado (Is 1.6).

IV. A ESTRUTURA JURÍDICA DE ISRAEL

No Israel dos sacerdotes e levitas, o direito estava sempre ao alcance dos pobres, porque a Lei de Deus havia sido proclamada a toda a nação, e não apenas a uma minoria privilegiada. Ali, pobres e ricos, pequenos e grandes, nobres e plebeus; todos, enfim, estavam sujeitos aos mandamentos divinos. Não havia minoria privilegiada, nem maioria ignorada; eram todos iguais diante da Lei de Deus.

1. A função judicial dos sacerdotes.

Judicialmente, o livro de Levítico apresenta várias disposições, a fim de proteger a família, a propriedade privada e, principalmente, a vida humana. Nesse sentido, o sacerdote atuava também no campo jurídico. No Israel do Antigo Testamento, não havia uma lei-maior para dirigir o país; uma espécie de constituição. Ali, toda a Palavra de Deus funcionava como a ordenança que não podia ser ignorada quer pelo rei, quer pelo plebeu. E, para zelar pelo fiel cumprimento dos estatutos divinos, os sacerdotes e demais levitas faziam-se presentes.

2. Proteção da família.

Com o objetivo de manter a pureza e a legitimidade no relacionamento familiar, o Senhor, por intermédio de Moisés, proíbe aos israelitas: o sacrifício infantil (Lv 20.2); o incesto, (Lv 18.6-9); o abuso sexual doméstico (Lv 18.10); a exposição das filhas à prostituição (Lv 19.29); o homossexualismo e a bestialidade (Lv 18.22,23). Os israelitas, como adoradores do Único e Verdadeiro Deus, eram obrigados a honrar seus pais e a preservar-lhes a autoridade (Lv 19.3; 20.9).

3. Proteção da propriedade privada.

A posse de uma propriedade, em Israel, era considerada algo sagrado; uma dádiva de Deus ao seu povo (Êx 3.7,8). Por esse motivo, os israelitas deveriam tratar suas casas e campos de maneira responsável e amorosa (Lv 19.9). As colheitas eram feitas de tal maneira, que os pobres jamais deixavam de ser contemplados (Lv 23.22).

Sendo, pois, a terra propriedade do Senhor, não poderia ser explorada de maneira irresponsável e contrária à natureza (Lv 25.3,4). Do texto sagrado, depreendemos que o sacerdote tinha por obrigação supervisionar o uso sustentável da terra.

A propriedade da terra não era considerada roubo, conforme diria o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865), mas uma herança pela qual valia a pena lutar (1 Rs 21.3). No Israel de Deus, os governantes não se digladiavam hoje pela esquerda, e, amanhã pela direita; punham-se todos no centro da vontade divina.

Ali, nas terras do Senhor, não havia lugar para o comunismo assassino e mentiroso, nem para o fascismo desumano e cruel, pois a Lei de Moisés supria todas as carências e lacunas sociais. E, quando do advento da injustiça, Jeová enviava os seus mensageiros que, corajosamente, clamavam contra a opressão, o roubo, o crime e a infidelidade doméstica.

4. Proteção da vida.

Também estava sob o encargo do sacerdote a inspeção das casas (Dt 22.8) e da criação de animais (Êx 21.36). A mulher grávida recebia proteção especial (Êx 21.22). Enfim, a vida na sociedade judaica era e é sagrada; um dom do Criador (Nm 16.22). Por isso, Deus determina no Sexto Mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13). Mencionemos ainda as cidades de refúgio que, administradas pelos levitas, serviam para acolher o que, sem o querer, matava alguém (Nm 35.10-15).

Oremos, para que o nosso país seja realmente justo e misericordioso. Não nos faltam leis, nem legisladores, nem juízes. Ei-los pelos tribunais; ei-los saindo das faculdades e academias. Todavia, falta-nos o temor do Senhor, sem o qual não pode haver princípio algum de sabedoria. É chegado o momento de rogarmos ao Senhor que nos cure a terra. Achamo-nos tão enfermos, hoje, quanto o Israel dos tempos de Isaías (Is 1.1-9). Neste momento, conscientizemo-nos de nossa responsabilidade como sal da terra e luz do mundo.

CONCLUSÃO

Conforme profetizou Malaquias, a aliança do Senhor com a tribo de Levi era firme e bem conhecida de todo o Israel. Nesse sentido, seus descendentes deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange à Lei de Moisés, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Infelizmente, os sacerdotes não souberam como guardar o concerto levítico.

Se o Senhor exigiu excelência e correção dos levitas, no Antigo Testamento, como devemos nós agir? Que o nosso culto seja marcado pelo amor e pela não conformação com este mundo.

Nós, obreiros de Cristo, temos de ser um padrão na sã doutrina, segundo recomenda o apóstolo: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência” (Tt 2.7, ARA). Ainda que não sejamos sacerdotes como os filhos de Levi, nossa responsabilidade, diante do povo de Deus, não é menor. Se o Senhor exigiu deles excelência, o que não exigirá de nós, seus despenseiros? Ou será que já não tememos ser reprovados no Tribunal de Cristo? Que o Senhor nos ajude.

Fonte:
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade

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