“Portanto, dai a cada um o que
deveis: quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; o
quem honra, honra” Rm 13.7
Ética Cristã e Política
Por que a política é vista por muitos com total
desconfiança? Por que há tantos desentendimentos políticos em nossos dias? Por
que muitos acham ser um erro o “crente” entrar na vida política militante?
Essas são algumas das perguntas que, certamente, boa parte de seus alunos
fazem. Longe de tentar respondê-las neste espaço, devido ao limite natural do
espaço, podemos pontuar algumas realidade.
1. Sem política há barbárie. Se olharmos para a
história, no lugar da política democrática, as coisas eram resolvidas por meio
do “corte de cabeças”. Isso mesmo! No lugar de disputar as questões políticas
no diálogo e debates, o grupo vencedor, ao tomar o poder, como demonstração de
exercê-lo, eliminava seus adversários com espetáculos públicos macabros. Esses
espetáculos perpassam a história até aos dias atuais, pois eles estão presentes
nos acontecimentos recentes: duas guerras mundiais; a revolução de Cuba, onde
os revolucionários eliminaram seus adversários; a ascensão de Pinochet, no
Chile, onde sua política eliminou seus oponentes políticos; guerras civis na
África; na Ásia. Nesse sentido, quando não se tem a prática política, sobra
desordem, convulsões sociais e barbáries.
2. A política é a arte do equilíbrio de forças. No
lugar de “cabeças rolarem”, ou de uma pessoa autodeclarar-se “o Estado sou eu”,
temos agora três poderes independentes entre si. No lugar das espadas, dos
canhões e das armas modernas, o debate. Uma democracia imperfeita, sim. Que não
ocorre em sua plenitude, certamente. Mas uma democracia. O que marca a
democracia moderna é o império das Leis, é a legitimação do Estado democrático
de direito. O poder hoje não se encontra nas mãos de uma única pessoa, ou de um
grupo único, mas na representação social por intermédio de instituições
democráticas — o poder Executivo, Legislativo e Judiciário. O processo da
Lava-jato em nosso país tem demonstrado isso com clareza.
3. A política partidária limita algumas virtudes. Certo
filósofo disse que um intelectual jamais pode entrar para a política
partidária, pois a natureza desta é a luta pelo poder. As virtudes que o
intelectual sério cultiva — “honestidade”, “sinceridade” e “busca pela verdade”
— terão de ser negociadas. Se um intelectual tem essa envergadura de
consciência, imagine o que Deus espera das pessoas que Ele as “vocaciona para o
ministério da Palavra” (Is 56.9-12 cf. 1Tm 3.1-7)?!
A política faz parte da vida em sociedade. Como o cristão
não vive isolado, ele deve ter consciência política, sendo sal e luz neste
mundo.
Leitura Bíblica - Romanos 13.1-7
Na lição de hoje estudaremos um tema que em geral divide
opiniões e que, erroneamente, se acredita que não deve ser discutido —
política. Saiba que quando se trata desse tema, em nossas classes, vão existir
dois tipos de alunos: aqueles que não querem ouvir nada a respeito do assunto e
que não gostam do tema e os que são muito bem informados quanto à vida política
e social do nosso país. Professar(a), em que grupo você está? Essa reflexão é
importante, pois vai influenciar diretamente no preparo da lição e na
metodologia que você vai utilizar para expor o conteúdo.
Por que atualmente estamos tão cansados da política? Mas,
independente do momento político em que o nosso país está atravessando, não é
possível viver em sociedade sem a política. É importante ressaltar que o que
temos visto atualmente é a chamada “politicagem”, o que é totalmente inverso à
política. Como cristãos precisamos fazer a diferença em nossa sociedade e, para
isso, precisamos estar bem informados a respeito do que aqueles que estão
exercendo um cargo político e que muitas vezes receberam o nosso voto estão
fazendo. Não podemos também nos esquecer que a Palavra de Deus nos exorta a
orarmos por aqueles que estão exercendo cargos políticos e autoridades
governamentais.
As Escrituras registram a liderança política
de grandes personagens bíblicos, entre eles, José como governador do Egito (At
7.10) e Ester como a rainha da Pérsia e da Média (Et 5.2). Contudo, apesar
desses exemplos, por muitas décadas a política foi satanizada no meio
evangélico. Como resultado, a Igreja permitiu com sua omissão, que o Poder
Público fosse exercido por ateus, ímpios e imorais. Pela inexistência de
consciência política, os evangélicos se resignavam em votar no candidato “menos
pior”. Esse comportamento desastroso contribuiu com a eleição, por exemplo, de
governos formados por “feministas radicais”, “defensores da imoralidade”,
“articuladores pró-aborto”, “manipuladores de dados” e “opositores da liberdade
religiosa”. Porém, diante do cerceamento de algumas liberdades, a Igreja passou
a despertar para a realidade política.
As mudanças e as transformações sociais
passam pelo processo político. Por que então não eleger candidatos que
reproduzam a moral e a ética cristã? Por que não apoiar políticos que rejeitam
as leis contrárias aos princípios cristãos? Para que isso seja possível, faz-se
necessário que a Igreja amadureça e desfrute de “consciência política”. A
Igreja deve ser educada e alertada sobre as questões debatidas em todas as
esferas dos poderes constituídos. Essa conscientização tem florescido em muitas
igrejas, e os evangélicos, antes marginalizados pelos políticos, começaram a
experimentar o poder do voto nas urnas.
Mercê dessa realidade, um movimento cada vez
maior acredita que é possível moralizar o poder público, substituindo os
políticos corruptos por políticos cristãos e conservadores. Em contrapartida,
para vencer suas batalhas, a Igreja não depende exclusivamente da força
política, embora não deva subestimá-la ou negligenciá-la. É a presença da
Igreja de Cristo na sociedade que detém a espada do juízo divino sobre os
cidadãos da terra. As advertências bíblicas sobre o papel do povo de Deus na
restauração da nação incluem clamor e consagração (2 Cr 7.14).
I. CONCEITO GERAL DE POLÍTICA
A conotação do termo política é muito
abrangente. Envolve as formas de governo e o Estado. A palavra é carregada de
significados e também está relacionada ao cidadão. Indica não apenas os
procedimentos de governar e organizar o Estado, mas também os direitos e
deveres do cidadão em participar, concordar ou discordar do governo.
Basicamente, são “gestos, decisões e movimentos dirigidos para o exercício do
poder” (BOMENY, 2014, p. 55).
1. Origem e Conceito de Política
A política nasceu na Grécia Antiga como a “ciência ou arte de governar”.
O surgimento da pólis (cidade-estado) constituída por um aglomerado de cidadãos
livres, que abrangia toda a vida pública e social, despertou a necessidade de
como deveria ser governada a pólis. O filósofo grego Platão é considerado o pai
da política. A obra intitulada República (380 a.C.), escrita por ele, foi a
primeira a tratar de forma de governo, dos papéis e da conduta do Estado.
2. As Formas de Governo
O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) dividiu a organização do
Estado em três formas: monarquia — poder centrado em uma pessoa; aristocracia —
poder centrado em um grupo; e democracia — poder centrado na maioria. Para
Aristóteles, um bom governo deve visar ao bem comum e ao interesse da
coletividade, e isso não depende do número de pessoas que exercem o poder ou se
elas possuem ou não capacidade adequada. Não obstante, o filósofo advertiu que
toda forma de governo pode ser corrompida: a monarquia pode degenerar em
tirania (interesse próprio); a aristocracia pode degenerar em oligarquia
(interesse de um grupo); e a democracia pode degenerar em demagogia (interesse
de uma ideologia). Nicolau Maquiavel (1469-1527), italiano famoso da época do
Renascimento, classificou as formas de governo em República e Monarquia. A
República classifica-se em “presidencial”, em que o presidente ocupa a função
de Chefe de Estado e Chefe de Governo, e a “parlamentar”, em que as funções são
divididas, ficando o presidente com a função de Chefe de Estado e o Conselho de
Ministros com a chefia de governo. O modelo brasileiro é República
Presidencial.
O Governo Brasileiro
A colonização do Brasil
ocorreu por meio das capitanias hereditárias, que consistia em doze porções de
terra às margens do nosso litoral. Esse sistema de governança não prosperou,
pois as medidas dos donatários eram independentes entre si e visavam apenas ao
lucro próprio. Nesse período, o Brasil era colônia de Portugal. Com a vinda de
D. João VI ao Brasil (1808), instalou-se no país o governo monárquico. Anos
mais tarde, D. João VI retornou a Portugal e deixou seu filho, D. Pedro, como
príncipe regente. Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro proclamou a independência,
adotando o nome de “Império do Brazil”, dando continuidade à monarquia. Décadas
depois, em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca e seus apoiadores assumiram o
poder, e a partir de então o Brasil tornou-se uma república. O novo governo
adotou o sistema presidencialista. Embora esse seja o nosso sistema
preponderante, houve um período de parlamentarismo (1961-1963). Ainda, em 1993
foi realizado um plebiscito para que a população escolhesse entre
“presidencialismo” ou “parlamentarismo”. Com 55,4% dos votos válidos, os
cidadãos brasileiros escolheram o presidencialismo. Nesse plebiscito também foi ratificada nossa posição a respeito da forma de
governo, a República (SILVA, 2005, p. 102).
3. O Estado e a Política
O Estado tem como função garantir, por meio de políticas públicas, as
condições necessárias para a vida digna de uma determinada sociedade. Nesse
contexto, a obrigação do Estado depende da forma de governo e das leis que
regulamentam os deveres e os direitos dos cidadãos e de seus governantes. Desse
modo, o exercício do poder político legítimo é uma atividade própria do Estado.
O Estado Brasileiro
No dia 5 de outubro de 1988
foi promulgada em nosso país a Constituição da República em vigor, a denominada
“constituição cidadã”. Nesse documento político-jurídico estão asseguradas
garantias aos cidadãos brasileiros. No artigo terceiro, o texto constitucional
apresenta seus objetivos, que são:
(I) “construir
uma sociedade livre, justa e solidária”,
(II) “garantir
o desenvolvimento nacional”. Nossa teoria está perfeita, porém, na prática, o
Brasil não observa a própria constituição. Por exemplo, o governo gastou mais
de 25 bilhões de reais na organização da Copa do Mundo (BRANDÃO, dez. 2014),
entretanto, o investimento com saneamento básico nesse mesmo período nem sequer
chegou à metade desse capital (BARBOSA, jul. 2016);
(III) “erradicar
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
Ao contrário desse preceito, conforme dados do Banco Mundial, o número de
pessoas vivendo na pobreza no Brasil deverá aumentar entre 2,5 milhões e 3,6
milhões até o fim de 2017 (WELLE, Fev. 2017). Em contrapartida, calcula-se que
o Brasil perverta cerca de R$ 200 bilhões com corrupção anualmente (LEOPOLDO,
Fev. 2017). Sem dúvida alguma, esse dinheiro ampararia as famílias carentes e
pobres de nossa pátria;
(IV) “promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação”. Apesar da clareza do texto constitucional, as últimas
legislaturas no âmbito federal, por razões ideológicas, incitaram em nosso país
uma intolerância aos que pensam de modo diferente. O objetivo do Estado é
promover “o bem de todos”; não obstante, os cristãos que se posicionam
contrários à prática do aborto, à legalização da maconha e jogos de azar ou ao
casamento homoafetivo são discriminados, por parcela de representantes do poder
público, como sendo “homofóbicos”, “fascistas”, “intolerantes” e outros termos
depreciativos. Essa conduta caracteriza o desvirtuamento da intenção
constitucional.
4. O Estado e a Bíblia
O Novo Testamento retrata o Estado como instrumento ordenado por Deus
(Rm 13.1). Os que resistem ao Estado resistem a Deus (Rm 13.2). O Estado é
servo do Altíssimo para aplicar a justiça (Rm 13.4). O Estado não é problema
para os que fazem o bem, apenas para os que fazem o mal (Rm 13.4). É licito
pagar tributos e impostos ao Estado (Rm 13.6,7). O Estado deve louvar aquele
que faz o bem (1 Pe 2.14), e o cristão deve orar pelas autoridades que
constituem o Estado (1 Tm 2.2).
Os deveres do cristão
É fato que o cristão também é
um cidadão e, portanto, sujeito aos deveres e direitos inerentes à sua
cidadania. Todavia, o Estado e a Igreja possuem papéis diferentes, e o cristão
possui responsabilidade para com ambos, segundo as palavras de Cristo: “Dai,
pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (Lc 20.25). O
apóstolo Paulo enfatiza a submissão e a cooperação dos crentes às autoridades
constituídas. As Escrituras declaram que toda autoridade humana é derivada da
autoridade de Deus e que ninguém deve rebelar-se contra quem Deus constituiu
(Rm 13.1,2). Porém, com respeito a essa afirmação paulina, para dirimir
dúvidas, convém esclarecer que os deveres do cristão para com o Estado não
implicam uma submissão absoluta, acrítica ou incondicional. Temos o dever de
respeitar e cumprir as leis, pagar impostos e tributos, honrar, amar e
interceder pelas autoridades. De outro lado, requer-se que o Estado não seja
totalitário, antibíblico, anarquista, imoral ou antiético. Quando as vontades
do Estado emanadas por suas leis e a vontade divina revelada nas Escrituras
entram em conflito, “mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).
O cristão deve exercer sua cidadania com temor e tremor, ciente de seus
direitos e deveres. Apesar disso, a verdade cristã não pode ser relativizada
para acomodar-se aos ditames de um Estado ateu ou anticristão.
II. A SEPARAÇÃO DO ESTADO E A IGREJA: UMA HERANÇA PROTESTANTE
O conceito de Estado laico é compreendido como a separação entre o
Estado e a Igreja. Significa que um não pode interferir nas atividades do outro
e vice-versa. Foi a partir da Reforma Protestante, deflagrada por Lutero em
1517, que se quebrou o monopólio exercido pelo catolicismo na Europa Ocidental
e se estabeleceram as bases para a “tolerância religiosa” e a separação da
Igreja do Estado.
1. A União entre a Igreja e o Estado
No ano 313, Constantino e Licínio, imperadores no Ocidente e do
Oriente respectivamente, promulgam o Édito de Milão. O decreto outorgou
liberdade e tolerância religiosa aos cristãos no Império Romano. O imperador
Teodósio, decretou, em 380 d.C. o Édito de Tessalônica, estabelecendo o cristianismo
como religião oficial do império. O Édito prometia vingança divina e castigo do
Estado aos que não aderissem à lei. A partir de então, a união entre a Igreja e
o Estado passou a ser indiscutível.
O desvirtuamento do papel da Igreja
Em 324, Constantino torna-se
o único imperador romano e deu início ao “Império Cristão” (COMBY, 2001, p.
71). O imperador adota o título de pontifex maximus — chefe da religião
tradicional. A igreja cristã une-se ao Estado. O imperador presta favores ao
clero e a igreja recorre ao imperador para resolver suas querelas. O concílio
de Niceia (325 d.C.), por exemplo, foi convocado e presidido pelo imperador
para tratar da controvérsia ariana. No final do IV século, o Império Romano foi
dividido em duas partes. Durante o V século, o império no Ocidente desapareceu.
O império no Oriente sobreviveu por dez séculos. Ao se desmoronar o Império
Romano, que era a unidade política, persistiu o Império religioso através de
toda a Idade Média. No período medieval, o poder político estatal estava
subordinado ao poder da igreja. O papa delegava ao imperador o ofício de ser o
“braço material da igreja”. No período de transição da Idade Média e Tempos
Modernos, a religião católica permaneceu com grande influência na vida
econômica, social e política do mundo civilizado. O Estado apoiava-se na igreja
em busca de legitimação, e assim, a igreja superava o poder do Estado (ARRUDA,
1982, p. 32).
2. A Separação entre a Igreja e o Estado
Ao fim da Idade Média, os ideais humanistas valorizavam os direitos
individuais do cidadão e isso despertou nos cristãos a necessidade de reformar
a igreja, especialmente o clero. Os abusos de Roma e a venda das indulgências
deflagraram a Reforma Protestante. O monge Martinho Lutero rompeu com o
catolicismo e gradualmente os conceitos de liberdade, tolerância religiosa e
separação entre igreja e Estado foram alçados ao status de direito fundamental
(CHEHOUD, 2012, p. 33).
O papel da independência dos
Estados Unidos
A influência da filosofia
iluminista, somada a fatores culturais e a política de repressão adotada pela
Inglaterra incitaram a Independência dos Estados Unidos. As “Leis Intoleráveis”
provocaram a convocação do Primeiro e Segundo Congresso Continental de
Filadélfia. George Washington foi nomeado comandante do Exército e Thomas
Jefferson, em 4 de julho de 1776, redigiu a Declaração da Independência. Em
1787, a primeira Constituição dos Estados Unidos foi promulgada. Adotou-se o
regime republicano presidencialista com a divisão e independência dos três
poderes, conforme a teoria iluminista de Montesquieu e Rousseau. Na primeira
das dez emendas da Constituição americana, há duas cláusulas sobre religião. A
primeira garante o livre exercício da religião, e a segunda, o princípio da
separação entre o Estado e as confissões religiosas. Pela primeira vez, a
liberdade de religião e o conceito de laicidade aparecem numa Constituição. A
Independência dos Estados Unidos deu início a um movimento revolucionário
global.
3. O Modelo de Estado Laico Brasileiro
A Constituição do Brasil outorga ao cidadão plena liberdade de
crença e garante o livre exercício dos cultos e liturgias, além da proteção aos
locais de adoração (Art. 5º). No artigo dezenove, está definida a separação
entre o Estado e a igreja, mas ressalva na forma da lei, a colaboração de
interesse público. Assim, a laicidade brasileira não é a de separação absoluta
entre o Estado e a igreja, e sim a de uma separação relativa. Desse modo, o
Estado brasileiro, embora laico, não é ateu.
O debate atual de laicidade
Muitos questionamentos têm
surgido a partir da prática nacional das tradições herdadas pelo grupo
majoritário do catolicismo cristão, tais como: a invocação do nome de Deus no
preâmbulo da Constituição Federal, a expressão “Deus seja louvado” nas cédulas
do Real, o calendário público e anual organizado com feriados e celebrações
essencialmente católico-cristãs (Sexta-Feira da Paixão, Páscoa, Corpus Christi,
Festas Juninas, Padroeira do Brasil, Natal e outras), o usos dos símbolos
religiosos, tais como o crucifixo, que ocupam diversos espaços da esfera
pública e as imagens de “santos” que emolduram o acesso principal de milhares
de municípios brasileiros. Por causa dessas questões, diversos projetos de cunho
ideológico tramitam no Congresso Nacional e provocam acaloradas discussões
entre adeptos de valores laicos e preceitos religiosos. Dentre os debates estão
à criminalização da homofobia, tributação das igrejas, descriminalização do
aborto, ensino religioso, ideologia de gênero, entre outros. O debate tem
gerado tensas relações entre valores religiosos, conceitos laicos, política e
direitos humanos.
Fundamentalismo laicista
Mercê desses questionamentos,
observa-se o surgimento do “fundamentalismo laicista”, que luta pela eliminação
de toda crença e de todos os valores religiosos, e especialmente combate a
influência do cristianismo na constituição do espaço público. Programas de ação
são elaborados para fazer triunfar a propagação de ideologias puramente laicas
e contrárias à cultura judaico-cristã. Este debate tem sido travado no âmbito
dos poderes constituídos com relevante embate na esfera legislativa e
judiciária.
Diante desse debate, não se pode ignorar a importância, a força e a
vitalidade da religião em nossa nação. A crescente secularização da sociedade
não pode negar a persistência e o avanço das concepções e necessidades
religiosas. O Estado laico não pode impor sua linguagem e nem impedir a prática
ou a manifestação dos valores do cidadão religioso. É fundamental o equilíbrio
e a mediação entre fé e as questões laicas, teológicas e éticas. Não se pode
simplesmente restringir a presença da religiosidade nos espaços públicos. Em
contrapartida, na opinião de muitos educadores, juristas e legisladores, por
sua natureza laica, afirmam que o Estado deve ignorar os assuntos de fé como
forma de proteger a liberdade de consciência, de crença e de culto.
III. COMO O CRISTÃO DEVE LIDAR COM A POLÍTICA
A Igreja de Cristo precisa tomar cuidado com a “politicagem” e
definir com cuidado e temor a Deus a sua atuação e mobilização política. Não
poucos crentes são contrários ao envolvimento ou a posição da Igreja em relação
à política. Acreditam que a Igreja não pode comprometer-se com o poder temporal
sob o risco dos escândalos. No entanto, o argumento dos escândalos não se
sustenta, pois infelizmente eles são inevitáveis (Mt 18.7). O que a Igreja
precisa é de equilíbrio e sabedoria para tratar essas questões e não ficar
alienada acerca daquilo que acontece na vida em sociedade na qual está inserida
e faz parte.
1. O Perigo da Politicagem
Os dicionários em geral conceituam politicagem como “política reles e
mesquinha de interesses pessoais”. O perigo dos atos politiqueiros envolvendo
os cristãos é colocar em descrédito o evangelho e a igreja. Assim, os políticos
contrários às convicções cristãs não podem receber o apoio e nem o voto da
igreja. No cristianismo primitivo, a Igreja em Corinto foi advertida a observar
este princípio: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que
sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as
trevas?” (2 Co 6.14).
Um mal a ser combatido
Infelizmente, nesse quesito, alguns segmentos
cristãos ludibriam e manipulam o rebanho do Senhor Jesus. Interessados em levar
vantagem pessoal não hesitam em apoiar candidatos políticos corruptos e
contrários à fé cristã. Vislumbram benefício econômico e “status” social. Sem
nenhum pudor, estão interessados em manter ou adquirir privilégios para si ou
para os seus e indispostos a sofrer retaliações por causa do evangelho. Não
satisfeitos em apoiar candidatos de conduta repreensível, soma-se a esse erro o
uso da mídia e do púlpito da igreja para angariar votos aos que praticam a
iniquidade. Como cidadãos, temos o direito de votar e pedir voto para quem
quisermos. Contudo, não podemos nos esquecer de que, como embaixadores de
Cristo, representamos os interesse do Reino de Deus na terra. Portanto, não
podemos permitir e nem promover apoio àqueles que afrontam o Reino de Deus.
2. Como Delimitar a Atuação da Igreja
Os princípios éticos devem ser estritamente observados. O púlpito da
igreja não pode ser transformado em “palanque eleitoreiro”. A igreja precisa de
conscientização política, contudo, não deve para tal propósito ocupar o espaço
da Palavra ou da adoração em suas reuniões. A conscientização deve ser
fundamentada em princípios cristãos. As propostas e as ideologias dos partidos
políticos devem ser conhecidas e analisadas sob a ótica cristã. A postura,
propostas e ideais do candidato precisam ser avaliados à luz das Escrituras
Sagradas (Is 5.20).
A missão da Igreja
Não se pode confundir a cruz de Cristo
com ideologias partidárias. A renovação política não pode ser substituída pela
transformação espiritual. A degeneração da sociedade não será resolvida ou
corrigida por uma série de leis que inibam a má conduta. Somente a propagação
do evangelho de Jesus Cristo pode deter o declínio e a ruína moral de nossa
sociedade. A igreja deve fazer oposição a qualquer lei que desrespeite a
mensagem do evangelho. Precisa se mobilizar para erradicar os políticos
corruptos nas esferas municipal, estadual, distrital e federal. Porém, a
batalha nas urnas será constante. Se usarmos apenas a ferramenta política, com
certeza venceremos umas batalhas e perderemos outras. Mas, se cumprirmos nosso
papel de sal da terra e luz do mundo, o poder do evangelho pode desarraigar
para sempre a iniquidade dos corações. Levantemos a bandeira da conscientização
política e da mobilização evangélica, contudo, sem esquecermos que a nossa luta
não é contra a carne e o sangue (Ef 6.12).
3. Ajustando o Foco da Igreja
O povo de Deus não pode limitar-se a fazer oposição e oferecer
resistência à iniquidade no poder temporal. Não pode depositar sua confiança e
esperança nas decisões políticas. As lideranças devem buscar e incentivar o
avivamento espiritual. O avivamento liderado por John Wesley (1703-1791) trouxe
mudanças sociais na Inglaterra. O mal a ser combatido é o pecado. Quando a
mensagem de arrependimento for pregada ao mundo, então vidas serão
transformadas. O Espírito Santo terá liberdade para convencer os ouvintes da
verdade, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Nossa nação sofrerá transformações
sociais e espirituais.
A ação do Espírito Santo
Essa ação do Espírito Santo acontece quando a
igreja se recusa a ser um mero clube de encontros e transforma-se em lugar de
adoração. Com a liberdade concedida ao Espírito, pecados são confessados e
abandonados. A velha natureza é substituída e ocorre radical transformação, e o
caráter passa ser revestido “do novo homem, que, segundo Deus, é criado em
verdadeira justiça e santidade” (Ef 4.24). Desse modo, quando a Igreja se
deixar guiar total e plenamente pelo Espírito, então poderemos ser o sal da terra
e a luz do mundo (Mt 5.13,14).
Quando certos
líderes cristãos deixarem de se preocupar com o crescimento numérico desprovido
de qualidade. Quando a disputa por audiência ou por poder for deixada de lado.
Quando os embates para conquistar igreja maior ou mais rica forem abandonados.
Quando o foco for ajustado ao cumprimento do Ide de Cristo (Mt 28.19). Quando o
foco for ajustado para a unidade do corpo de Cristo (Jo 17.21). Quando os
crentes começarem a viver para a glória de Deus (1 Co 10.31). Quando a
ortodoxia cristã for defendida e proclamada (Jd 3). Quando tudo isso e muito
mais acontecer por obra do Espírito, então será possível experimentar um
avivamento espiritual. Nossa nação sofrerá transformações sociais e
espirituais. E, acima de tudo, o nome do Senhor será glorificado “tendo o vosso
viver honesto entre os gentios, para que, naquilo em que falam mal de vós, como
de malfeitores, glorifiquem a Deus no Dia da visitação, pelas boas obras que em
vós observem” (1 Pe 2.12).
Consciência Cristã
“Se tivéssemos oportunidade de
perguntar a Dietrich Bonhoeffer o que é a consciência cristã, que resposta
obteríamos? Certamente responder-nos-ia que a consciência cristã é o exercício
pleno de nossa fé, num mundo que jaz no maligno. Por isso, ousou afirmar:
‘Jesus Cristo, e não o homem ou o Estado, é o nosso único Salvador’”. Para
conhecer mais leia As Novas Fronteiras da Ética Cristã, CPAD, p.217.
Fonte:
Livro de Apoio – Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Douglas Baptista
Lições Bíblicas 2º Trim.2018 - Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Comentarista: Douglas Baptista