Membros / Amigos

Conheça mais de nossas Postagens

Research - Digite uma palavra ou assunto e Pesquise aqui no Blog

Mostrando postagens com marcador Teologia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Teologia. Mostrar todas as postagens

domingo, 2 de setembro de 2018

Ofertas pacificas para um Deus de paz

“Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” Hb 13.15

Ofertas pacíficas para um Deus de paz

O objetivo das ofertas pacíficas no livro de Levítico era fazer com que o fiel apresentasse voluntariamente um ato de gratidão a Deus, aprofundando assim, a comunhão dele com o Criador. De maneira coletiva, esse ato significava a ratificação da comunhão da nação de Israel com Deus.

Rastreando algumas práticas atuais

Hoje, conhecemos comumente a expressão “culto de ação de graças” ou “fazer votos ao Senhor”. Esses atos têm como raiz bíblica a apresentação das ofertas pacíficas. Uns dos tipos dessas ofertas eram o de fazer um voto voluntário ou apresentar um ato de ação de graças.

Atos voluntários como esses, agradam a Deus. A ideia é expressar gratidão, alegria por muitos benefícios feitos pelo Criador. É a oportunidade de viver devocionalmente o aprofundamento de nossa fé em Cristo. Foi isso que aconteceu com Jacó, quando fez um voto ao Senhor na ocasião que fugia de seu irmão Esaú; com Ana, quando em meio a angústia fez um voto ao Senhor; nas expressões sinceras e belas de Davi em adoração a Deus e muitas bênçãos de livramentos de inimigos. Todas essas pessoas que se colocaram em compromisso com Deus tiveram seus anseios atendidos e, assim, uma experiência de fé que aprofundou a comunhão deles com o Criador.

Compromissos e experiências com Deus

Quem já teve a experiência de fazer votos ao Senhor e cumpri-los sabe que resposta de Deus para nós marca a nossa vida para sempre. Não há nada mais sublime e vivificador que as nossas experiências diretas com Deus. Seja por meio de um milagre via a cura de enfermidades, livramentos físicos; ou por meio de pequenas intervenções em fatos corriqueiros, enfim, viver tais experiências fortalece a nossa fé, faz com que tenhamos mais gratidão e demonstra o quanto nosso Deus é pessoal para nós.

O crente oferece sacrifícios pacíficos a Deus quando pratica e semeia a paz do Senhor Jesus Cristo no poder do Espírito Santo.

Leitura Bíblica - Levítico 7.11-21

Nesta lição, veremos que, das cinco ofertas prescritas no livro de Levítico, a mais excelente em voluntariedade era a pacífica, pois tinha como objetivo aprofundar a comunhão entre Israel e Deus. Ao aproximar-se do Senhor, com tal oferta, o crente do Antigo Testamento manifestava-lhe, em palavras e gestos, que o seu único almejo era agradecê-lo por todos os benefícios recebidos (Sl 103.1,2).

"Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios." Salmos 103:1,2


Veremos, neste capítulo, por que a graça e a paz, tidas como virtudes teologais, são imprescindíveis à vida cristã. Nas epístolas paulinas, vêm mencionadas conjuntamente: são irmãs gêmeas, inseparáveis. Se nos voltarmos às ofertas pacíficas do livro de Levítico, constataremos que elas constituíam o cerne da alma do ofertante. Por essa razão, os princípios coinológicos, ou seja, de comunhão, que acompanhavam tais sacrifícios, têm de ser aplicados com urgência escatológica ao mundo evangélico atual.

Embalada por tralhas, refugos e modismos, como a teologia da prosperidade e a confissão positiva, boa parte dos crentes, hoje, é mais doutrinada a pedir do que a agradecer.

Em suas orações, quer públicas, quer privadas, os tais crentes não demonstram a mínima referência a Deus. Tratam-no como se Ele não passasse de um lacaio ou de um mero garoto de recados. Já não veem Deus como Deus. Enxergam-no como o mordomo que, nas mansões e palacetes, inibe-se à espera do próximo capricho de um crente mundano e compromissado com as obras infrutuosas das trevas.

Nesse mundo estranho e bizarro, desprezam-se as ofertas de paz e os sacrifícios de louvor. Tais formas de adoração, tão comuns à Igreja Primitiva, rareiam-se hoje. Aliás, por que agradecer se é mais lucrativo exigir e determinar? Mas a Palavra de Deus exorta-nos à gratidão e ao reconhecimento. Ao bom e santo Senhor, deveríamos agradecer até mesmo pelas lutas e vicissitudes; sem estas, jamais teríamos qualquer experiência pessoal com Jesus Cristo.

A fim de compreendermos as ofertas de paz prescritas no Levítico, deternos-emos, inicialmente, em duas ciências teológicas que nem sempre são lembradas: a irenologia e a carislogia. Nesta era, de completa inversão de valores, até mesmo na Igreja de Cristo, é urgente um retorno à paz e à graça do Senhor Jesus.

I. IRENOLOGIA, UM ESTUDO URGENTE

Quando ainda jovem, li um livro, escrito por um general francês, acerca da ciência da guerra. Já nas páginas iniciais, descobri que o estudo das artes bélicas recebe um nome quase eufônico: polemologia. Acredito que tal nomenclatura aplica-se também aos confrontos ideológicos e doutrinários. Mas, ao por-me a escrever o presente capítulo, veio-me à mente uma pergunta: “Existe alguma ciência dedicada à pesquisa científica da paz?”. Pesquisei. E vim a descobrir duas páginas que tratam do assunto, uma em latim e outra em espanhol. A esse saber, um tanto peregrino, dá-se o nome de irenologia.

1. Irenologia, a definição de uma ciência ainda desconhecida.

A palavra irenologia é composta por dois vocábulos gregos: eirene, paz, e logos, estudo. Portanto, a irenologia é o estudo sistemático da paz conforme a concebem as diversas culturas, sociedades, religiões e saberes. Trata-se de uma disciplina acadêmica, que tem por objetivo investigar as condições, o ambiente e os envolvidos no esforço comum para se estabelecer, manter e promover a paz quer entre nações, quer entre grupos sociais ou mesmo entre indivíduos.

Os estudos irenológicos andam, paradoxalmente, de mãos dadas com os polemológicos. No estouro de um conflito, armado ou não, a primeira coisa a ser buscada é a paz. Nesse esforço, até mesmo um armistício é motivo de festejos e comemorações. Etimologicamente, o termo “armistício”, oriundo do latim armistitium, significa “cessação das armas”. Nessas ocasiões, como resultado dos movimentos diplomáticos, os lados envolvidos sentam-se a negociar uma paz definitiva; às vezes, nem provisoriamente se logra obtê-la. Naquele momento, os adversários igualam-se à mesa de negociações; todos querem acabar com o conflito; pelo menos é o que se espera.

Todavia, nem sempre a ausência de um conflito armado pode ser qualificada como paz. Há de fato ausência de guerra, mas não há presença de paz efetiva. Foi o que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. A União Soviética e os Estados Unidos, polarizando o mundo, viveram uma guerra fria de quatro décadas. Se nos voltarmos à Bíblia, porém, descobriremos que a paz é possível até mesmo em meio aos embates mais violentos.

2. Paz, uma definição sempre possível e esperada.

Tenho para mim que a paz é caracterizada por uma serenidade íntima inexplicável. Foi o que Paulo escreveu aos irmãos de Filipos sempre às voltas com os inimigos da cruz:

“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4.7, ARA).

Como explicar semelhante paz que amaina até o sol mais abrasador ou a tempestade mais bravia.

Em hebraico, a palavra paz vai além de um mero enfoque filosófico. O termo shalom, além de paz, evoca augúrios de saúde, prosperidade e autocontrole. Quando um judeu pergunta ao seu companheiro: “Como vai você?”. Em hebraico: Ma shlomha? Na verdade, indaga-lhe, antes de tudo: “Como vai a sua paz?”. Hoje, infelizmente, o poético e doce vocábulo foi reduzido a um trivial “oi” ou a um mero “olá”. É o que se observa no cotidiano israelense.

No grego, a palavra eirene, traduzida adequadamente para a língua portuguesa como paz, tem uma origem interessante, apesar da mitologia que a cerca.

Irene era filha de Zeus e de Têmis. Juntamente com suas irmãs Eunomia e Dice, achava-se responsável pelo bom andamento das coisas. Enfim, a boa e solícita Irene tinha por tarefa zelar pelas afeições cósmicas. Se ela viesse a falhar, Céus e Terra perderiam toda a harmonia, melodia e ritmo; a música universal seria impossível.

Quando nos voltamos à Bíblia Sagrada, constatamos que a verdadeira paz vai além dos mitos e transcende as academias mais lógicas. Em Isaías, descobrimos que a paz tem como príncipe o Filho de Deus. O profeta, ao alinhar os principais títulos de Jesus Cristo, poeticamente anuncia:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6, ARA).

Se a paz tem como príncipe o Senhor Jesus, como podemos defini-la? Antes de tudo, ela não é uma simples e expectada ausência de conflitos; ela é possível até mesmo em meio aos entreveros mais indescritíveis. Alguém, certa vez, pintou-a como um pássaro a cantar em plena tempestade. Enquanto tudo ruía à sua volta, a avezinha teimosamente canora trinava uma bela melodia ao Criador. Se na paz, não temos paz, como nos comportaremos num conflito? Foi o que o Senhor indagou ao seu profeta:

“Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que farás na floresta do Jordão?” (Jr 12.5, ARA).

Às vezes, surpreendo-me na mesma condição de Jeremias. Embora tudo à minha volta rescenda à paz, acho-me em guerra comigo mesmo. Mas, como superar os conflitos que nos assolam a interioridade? A resposta é simples e teologicamente comezinha: encher-se do Espírito Santo, o promotor da paz por excelência.

3. Jesus é o Príncipe da Paz.

Sim, o Senhor Jesus é o Príncipe da Paz. Que nobiliarquia pode ostentar semelhante título? Nenhum monarca terreno, ainda que traga a alcunha de pacífico, reúne as condições necessárias para efetivar a paz no coração humano. Uma paz, aliás, que só foi possível no Calvário, conforme escreve Paulo:

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.1,2, ARA).

Nessa passagem, observamos que a verdadeira paz é o resultado de um processo redentor que, tendo início antes da fundação do mundo, culminou na morte, ressurreição e glorificação de Jesus Cristo. Por intermédio de seu sacrifício vicário, Ele reconciliou-nos com Deus, tornando-nos propícios à sua justiça. No exato instante em que o aceitamos como Salvador e Senhor, justificou-nos Ele perante o Justíssimo Deus. E, desde então, passamos a ser vistos, pelo Juiz de toda a Terra, como se jamais tivéssemos cometido qualquer delito, transgressão ou pecado. O encerramento desse processo judicial, junto à corte celeste, trouxe-nos uma paz que o mundo não pode conhecer.

É por essa razão, primordial e essencialmente soteriológica, que o Senhor Jesus foi honrado com a elevada nobiliarquia de Príncipe da Paz. Não podemos atribuir-lhe semelhante título apenas em virtude das profecias que o mostram a pacificar as nações no Milênio. Ele é assim chamado, porquanto infunde, nos corações mais tormentosos e revoltos, a paz que excede todo o entendimento.

No ato de nossa conversão, recebemos a paz como resultado do processo de justificação perante o trono de Deus. Todavia, para mantermos a qualidade e a excelência dessa mesma paz, é imperativo cultivá-la, não como um mero adorno processual, mas como fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Se o fizermos, não teremos dificuldade alguma em oferecer a Deus o que o autor sagrado chama de sacrifícios de louvor. Era assim que o adorador do Antigo Testamento apresentava-se ante Jeová para apresentar-lhe ofertas e dons pacíficos. Nesse ato litúrgico, ele sabia que estava sendo contemplado pela graça divina que, tanto naquele tempo quanto agora, deve acompanhar todas as nossas devoções.

II. CARISLOGIA, UM ESTUDO GRACIOSO

Nos meus primeiros estudos teológicos, deliciei-me ao descobrir que a definição de graça era favor imerecido. A partir daquele dia, sempre que me era facultada a oportunidade de pregar, gostava de evocar aquela lição que, conquanto simples, é tão elevada e eficaz. Decorridas quatro décadas, ainda me delicio com o estudo da graça de Deus. Hoje, porém, constato que as implicações teológicas dessa virtude teologal são mais profundas do que eu supunha naquela época já distante e bela.

1. A graça não é uma deusa; é um dom de Deus.

Não sei por que Homero e Hesíodo apraziam-se em ornar a árvore genealógica do imoral Zeus com as mais elevadas virtudes morais. A graça, por exemplo, era tida em tão alta conta que, no Olimpo, aparecia como trigêmea. Sempre juntas, as três irmãs, talvez as filhas mais queridas de Zeus, eram as divindades responsáveis pelos banquetes, encontros, concórdias e riquezas.

Vistas assim, as Graças do Olimpo em nada diferiam das socialites que estrelam nas revistas, jornais e televisões. Sua reputação, segundo Homero, era nada recomendável; faziam parte da comitiva de Afrodite, a deusa da libido, cuja alcovitice era bem conhecida nas paragens olímpicas e nos recônditos gregos.

Nas Sagradas Escrituras, a graça jamais foi uma deusa. Quer no Antigo, quer em o Novo Testamento, ela aparece aqui, entre os apóstolos; ali, junto aos profetas e justos. E, mais além, ressurge com os peregrinos que subiam a adorar em Jerusalém. A graça é mais do que um atributo divino. Entre as perfeições, bondades e grandezas do Senhor, evidencia-se como a qualidade que lhe expressa o amor, até mesmo nos momentos de castigo, disciplina e provação. A graça não é uma deusa; é a mais sublime expressão do Deus amoroso e bom.

2. Graça, a virtude teológica por excelência.

Na língua hebraica, há uma palavra usada para sublimar a graça divina: chesed. Seus significados emprestariam beleza ao cântico mais simples e à poesia mais singela: bondade, favor, amorosa benignidade. À semelhança de sua congênere grega, pode ser resumida numa única expressão: obséquio imerecido. Trata-se de algo que recebemos sem o merecermos.

Em grego, a palavra “graça” provém do vocábulo kharis; sua etimologia lembra alegria e contentamento. O seu real significado, porém, vai além da semiologia clássica. Nessa lexicografia, ajuntemos estes piedosos sinônimos: bondade, amor incondicional, dom gratuito, generosidade e, também, favor inesperado.

O substantivo “carislogia” é formado por dois vocábulos gregos: kharis: graça; e logia, estudo. Esse termo, que não é um simples neologismo, significa etimologicamente “estudo da graça”. Por ser a maior expressão do amor de Deus, a graça merece um estudo mais atento e próprio.

De meus estudos bíblicos, sou levado a inferir que a graça é a síntese das três virtudes cardeais que recebemos no ato da conversão: fé, amor e esperança. Aliás, a graça salvadora nos é manifestada antes mesmo de conhecermos a Jesus. Mas é somente por meio da fé salvadora que começamos a experimentá-la interiormente. Quanto mais amamos a Deus e ao próximo, mais a graça, agora multiforme em seus feitos redentores, faz-se presente em nossa vida. Nessa militância por Jesus Cristo, ela é a esperança do arrebatamento; constrange-nos a ir além de nossos próprios limites.

Se, por acaso, vermo-nos cansados e já por esmorecer, ouviremos do Senhor aquele lenitivo que levou Paulo ao Terceiro Céu: “A minha graça te basta” (2 Co 12.9). Nessa declaração de Cristo, todas as nossas carências e necessidades, quer espirituais, quer emocionais, ou até mesmo físicas, são plenamente supridas; em glória são supridas (Fp 4.19). No enunciado ao apóstolo dos gentios, Jesus deixava-lhe bem claro que, em sua graça, temos as virtudes e provisões de que precisamos para alcançar a Jerusalém Celeste.

Quando o crente hebreu, por conseguinte, apresentava ao Senhor um sacrifício pacífico manifestava ali, diante do altar, por intermédio de gestos e ações dramáticas, a graça que lhe ia na alma. O ofertório era apenas a exteriorização daquilo que lhe inundava o coração: os favores imerecidos de Deus. E, se tantos favores recebia, por que não agradar a Deus com uma oferta de paz? Tal princípio não deve perder-se nas páginas do Levítico; tem de ser posto em prática em nosso atribulado dia a dia.

3. Graça e paz, a comunidade dos sacrifícios de louvores.

Em suas epístolas, Paulo saudava as igrejas com uma fórmula que, embora provinda do grego e do hebraico, expressava a plenitude do Evangelho: graça e paz (Rm 1.7; 1 Co 1.3; Ef. 1.2). Ao dirigir-se aos santos com uma expressão tão profunda e significativa, o apóstolo conscientizava-os de que eles se constituíam na comunidade de sacrifícios de louvores e paz por excelência: obra da graça. Mesmo sem a beleza da liturgia e do cerimonialismo levíticos, não deixavam eles de expressar toda a formosura da vida cristã.

O que é um sacrifício de louvor? Atentemos às palavras do autor da Epístola aos Hebreus:

Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15, ARA).

Nessa exortação, distinguimos a diferença entre o sacrifício de louvor do Antigo e o do Novo Testamento. O primeiro era gestual e dramático; o segundo é oral e marcado por amorosas proposições. Aquele dependia de um altar; este tem como altar o próprio adorador que, soteriologicamente, é o templo do Espírito Santo. Na Antiga Aliança, o crente dependia de um lugar específico para oferecer a sua oferenda ao Senhor. Já em a Nova Aliança, o discípulo de Jesus é instado a demonstrar o seu culto racional em todos os tempos e lugares; ele é o altar e o santuário.

O sacrifício de louvor manifesta-se por meio do fruto dos lábios. Louvando a Deus em todo o tempo, não nos desboquemos em murmurações, impropérios e palavras de calão. Em todo o tempo, demonstremos nossa gratidão ao Senhor. Até mesmo nas instâncias mais insuportáveis, curvemo-nos, qual Jó resignado, a adorar aquEle que faz com que todas as coisas concorram para o bem dos que o amam.

Mais adiante, voltaremos a falar da Igreja de Cristo como a sociedade de sacrifício de louvores. Agora, faremos uma pausa para ver como os hebreus apresentavam suas oferendas pacíficas a Jeová.

III. A EXCELÊNCIA DA OFERTA PACÍFICA

Os dois sacrifícios mais antigos da História Sagrada são o holocausto e a oferta pacífica. Ambas as oferendas eram tidas, às vezes, como um único sacrifício.

1. Oferta pacífica.

A voluntariedade da oferta pacífica fica bem evidente no livro de Levítico (Lv 7.12). A oferenda, para ser caracterizada como tal, deveria ser acompanhada de ações de graças; nenhuma petição era admitida. Naquele momento, o crente hebreu tinha como único desejo adorar e agradecer ao Senhor por todas as bênçãos, galardões e livramentos. Nos Salmos, as ofertas pacíficas manifestam-se em louvores ao Senhor por todas as suas benignidades (Sl 106,1). Leia atentamente os Salmos 118 e 136.

Nas Escrituras do Novo Testamento, somos instados a oferecer a Deus contínuas ações de graças (1Ts 5.18). Dessa forma, jamais perderemos a comunhão quer com Deus, quer com a Igreja de Cristo (Cl 3.15).

2. Tipos de ofertas pacíficas.

As ofertas pacíficas compreendiam três modalidades ou fases: ações de graças, voto e oferenda movida diante do altar.

a) Ações de graças. A fim de agradecer ao Senhor por um favor recebido, o crente hebreu oferecia-lhe bolos e coscorões ázimos amassados com azeite. Os bolos, feitos da flor de farinha, tinham de ser fritos (Lv 7.12-15). A carne, que acompanhava o sacrifício pacífico, devia ser consumida no mesmo dia (Lv 7.15).
Os produtos trazidos a Deus eram acompanhados de louvores (Hb 13.15). Tanto ontem quanto hoje, somos instados a louvar e a enaltecer continuamente o Senhor.

b) Voto. Nos momentos de angústia, os filhos de Israel faziam votos ao Senhor, prometendo-lhe ofertas pacíficas (Gn 28.20; 1 Sm 1.11). Nesse caso específico, o sacrifício poderia ser comido tanto no mesmo dia quanto no dia seguinte (Lv 7.15,16). No terceiro dia, nada dele podia ser ingerido. O voto, por ser uma ação voluntária, requeria igualmente uma atitude voluntária. Que o ofertante participasse das ofertas com alegria e regozijo.

c) Oferta movida. Na última etapa, o adorador entregava a oferta pacífica ao sacerdote que, seguindo o manual levítico, aspergia o sangue do sacrifício sobre o altar. Em seguida, queimava a gordura do animal (Lv 7.30). O peito era entregue a Arão e a seus filhos. Num último ato, o sacerdote movia a parte mais excelente da oferenda perante o altar: o peito e a coxa (Lv 7.31-35).

Objetivos das ofertas pacíficas.
Como já dissemos, eram dois os objetivos da oferta pacífica: aprofundar a comunhão entre Deus e o crente, e levar o ofertante a reconhecer que tudo quanto temos vem do Senhor, porque dEle é a terra e a sua plenitude (Sl 24.1).

IV. A OFERTA PACÍFICA NA HISTÓRIA SAGRADA

Neste tópico, veremos três exemplos de pessoas que fizeram voto ao Senhor, e foram plenamente atendidas: Jacó, Ana e Davi.

1. Jacó, filho de Isaque. Quando fugia de Esaú, seu irmão, Jacó fez um comovente voto ao Senhor. Depois de ter visto o céu aberto e os santos anjos subirem e descerem sobre uma escada que ligava a Terra ao Céu, prometeu ao Deus de seus pais: “Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR será o meu Deus” (Gn 28.20,21). A partir daí, o patriarca tornou-se um fiel e zeloso adorador (Gn 35.1-3).

Fazer votos ao Senhor não constitui pecado algum. Lembro-me de que, certa vez, minha mãe fez um voto a Deus em favor de meu irmãozinho, que se achava gravemente enfermo. Segundo os médicos, a broncopneumonia acabaria por matar o Eliseu; um bebê frágil, já moribundo. Mas, para a nossa surpresa, Jesus interveio eficazmente, trazendo-o de volta à casa.

Não podemos fazer do voto, porém, um aríete contra a vontade divina. Quer Deus nos atenda, quer não, Deus continua a ser Deus. Além disso, o voto não pode contemplar o costumeiro e o ordinário de nossas obrigações junto ao Reino de Deus; antes, deve compreender o incomum e o extraordinário. Num voto, não há por que incluir o dízimo, por que este já é uma parte obrigatória da mordomia cristã. Prometamos-lhe, então, uma generosa oferta missionária.

2. Ana, mãe de Samuel. Afligida por sua rival, por não dar filhos a Elcana, seu marido, a desolada Ana fez este voto ao Senhor: “Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” (1 Sm 1.11, ARA). Após haver desmamado a Samuel, entregou-o ao Senhor, cumprindo a ordenança quanto ao sacrifício pacífico (1 Sm 1.24-28).

O altruísmo de Ana caracteriza admiravelmente o sacrifício pacífico. Ela, que ainda não tinha filhos, rogava um ao Senhor, para, em seguida, santificá-lo ao serviço divino. Pode haver maior sacrifício que este? Em sua atitude, observamos uma forte convicção messiânico-soteriológica. Sem o saber, consagrava o seu primogênito à redenção de Israel. E, de acordo com a História Sagrada, o profeta Samuel impulsionou a libertação dos israelitas; julgou-os e ungiu-lhes os dois primeiros monarcas.

3. Davi, rei de Israel. Pelo que observamos nos Salmos, Davi foi o homem que, em todo o Israel, mais sacrifícios pacíficos apresentou ao Senhor (Sl 22.25; 56.12; 61.5,8). Aliás, os seus cânticos já são, em si mesmos, um sacrifício de louvor e paz ao Deus de Abraão.

Na biografia de Davi, encontramos não um rei, em primeiro plano, mas um homem apaixonado pelo Senhor. Tem-se a impressão de que ele andava de sacrifício em sacrifício e de voto em voto. Eis porque, ao pecar duplamente contra Deus, centuplicadamente viu-se no pó e na cinza. Para o homem segundo o coração de Jeová, mais valia um sacrifício de louvor do que mil pelo pecado.

V. A OFERTA PACÍFICA NA VIDA DIÁRIA

De que modo apresentaremos, hoje, nossos sacrifícios pacíficos ao Senhor? Há três maneiras: consagrando-nos; perseverando nos sacrifícios de louvores e adorando a Deus em todo o tempo.

1. Consagração incondicional. O melhor sacrifício que um crente pode oferecer ao Senhor é apresentar a si mesmo a Deus (Rm 12.1). Neste momento, nossa oferenda é, além de pacífica, amorosa e plena de serviços. A partir daí, começamos a experimentar as excelências da vontade divina. Paulo considerava-se uma libação ao Senhor Jesus (2 Tm 4.6).

Num momento tão difícil e escatológico quanto este, entreguemo-nos sem reservas a Cristo. Que homens e mulheres, moços e moças e meninos e meninas, desprezando os encantos do presente século, deleitem-se em servi-lo. Já é momento de nos depositarmos no altar divino; sacrifício pacífico.

2. Sacrifícios de louvores. Oferecemos um sacrifício de louvor a Deus, quando lhe cumprimos plenamente a vontade (Hb 13.15). Mas, para que a plenifiquemos em nosso dia a dia, é imprescindível apresentarmo-nos diante dEle com um espírito humilde e quebrantado (Sl 51.17). Ao nos conformarmos à sua vontade, entregamos-lhe a mais excelente das oferendas: nosso amor incondicional e provado.

Veja o Senhor Jesus. Até mesmo às vésperas de sua paixão louvou ao Pai; cantou um hino. Conquanto não lhe saibamos a letra, a melodia está em nossa alma. Isso é sacrifício de louvor; adorar a Deus ante o algoz.

3. Adoração contínua. Paulo e Silas, quando presos, cantavam e adoravam a Deus, ofertando-lhe um sacrifício que, além de pacífico, era profundamente redentor (At 16.25-31). Por isso, o apóstolo recomenda-nos a louvar continuamente a Deus (Ef 5.19; Cl 2.16).

Nesse momento, vejo-me a constrangido a perguntar-me: “Como está o meu louvor?”. Canto na bonança ou na tempestade também canto? Ajuda-me Senhor.

CONCLUSÃO

Adoramos a Deus com ofertas pacíficas, quando nos apresentamos diante dEle com o propósito de render-lhe graças por todas as bênçãos recebidas. Com tal atitude, honramos ao Senhor com um culto racional, agradável e vivo.

Neste capítulo, vimos que, das cinco ofertas prescritas no livro de Levítico, a mais excelente em voluntariedade era a pacífica, pois tinha como objetivo aprofundar a comunhão de Israel com o seu Deus. Ao aproximar-se de Jeová, com tal oferta, o crente do Antigo Testamento manifestava-lhe, em palavras e gestos, que o seu único almejo era agradecê-lo por todos os benefícios recebidos (Sl 103.1,2).

Que preciosa lição para os dias de hoje. Como agradecer ao Senhor Jesus Cristo por todos os benefícios que, diariamente, dEle recebemos?

Fonte:
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade
Aqui eu Aprendi!

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A Doutrina do Culto Levítico

“Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” Sl 24.1

A Doutrina do Culto Levítico

Todo livro da Bíblia tem uma teologia. O que isso quer dizer? Cada livro bíblico apresenta Deus e seu modo de agir sob certo aspecto específico à conjuntura em que parte da Escritura Sagrada foi escrita. Por exemplo, é notório que o Evangelho de João apresenta a pessoa de Jesus de maneira bem distinta dos demais Evangelhos. Logo, dizemos que a Cristologia do apóstolo João, sob certo ponto de vista, é diferente em objetivo da Cristologia dos outros Evangelhos. A isso chamamos Teologia Bíblica. A partir do estudo desta disciplina teológica é que se sistematiza as grandes doutrinas, organização esta, que denominamos Teologia Sistemática.

Como o Levítico apresenta Deus?

O livro de Levítico tem uma maneira peculiar de apresentar a Deus. Ali se encontra o estabelecimento do culto que perpassaria toda a história do povo judeu. A instituição do culto por meio de sacrifícios de animais, posição de mediação do ministério sacerdotal, o sentimento de reverência: tudo isso traduz símbolos à natureza de Deus.

Aspectos da natureza divina apresentados em Levítico

Podemos, por isso, e sob muitos outros aspectos, afirmar que o culto levítico apresenta traços da natureza divina que aparecem perfeitamente no livro de Gênesis. Por exemplo, (1) “tudo que existe foi criado por Deus”, ora, desde a exigência de primogênitos animais, dos primogênitos do povo figurados na tribo de Levi, de uma família específica para o exercício do ministério do sumo sacerdote, o tempo todo Deus está dizendo: “tudo é meu”; (2) os animais, os vegetais, ou seja, toda criatura inferior ao ser humano pertence a Deus; (3) o ser humano todo, a imagem e semelhança de Deus, é do Senhor, onde tal verdade está representada pela exigência divina à sacralidade da vida, no convite ao ser humano para ser um adorador a Deus, no serviço voluntário e amoroso das pessoas a Deus. O tempo todo o livro do Levítico, por intermédio do culto, está mostrando que Deus é quem governa tudo.

Aspectos que devem ser ressaltados hoje

É de suma importância esclarecer ao aluno que, como no Levítico, o nosso culto a Deus representa o que Ele é. Por Ele ser o absoluto, o Criador de tudo, rendemos-lhe um culto reverente. Mas num sentido, outrora inexistente no tempo do Levítico: por meio de Seu Filho, Deus nos justificou, regenerou e santificou de uma só vez. Ele nos vivificou enquanto éramos ainda pecadores (Ef 2.1). Revista Ensinador Cristão nº74

Tudo quanto existe pertence ao Senhor e ao Senhor deve ser consagrado, principalmente o nosso ser.

Leitura Bíblica - Levítico 9.1-14

Na lição de hoje estudaremos três princípios bíblicos expostos no capítulo 9 do livro de Levítico que todo israelita deveria observar:

1) tudo quanto existe foi criado por Deus;

2) sendo Ele o Criador de todas as coisas, somente Ele deve ser adorado; e

3) tudo quanto há deve ser consagrado ao Deus Único e Verdadeiro.

Embora o livro de Levítico tenha sido escrito na Antiga Aliança, num tempo e contexto social diferente do nosso, tais princípios também devem ser observados pela Igreja e crentes da atualidade. Que venhamos como filhos de Deus, alcançados pela graça, consagrar tudo a Ele e em especial todo o nosso ser.



Em cada livro da Bíblia Sagrada, há uma teologia implícita. Minha experiência pessoal é que, em alguns deles, só viremos a descobri-la por meio de uma leitura atenta, piedosa, reflexiva e clamante. A partir daí, ser-nos-á possível ouvir o que o Espírito Santo diz às igrejas. No Evangelho de João, a teologia é patente (Jo 20.31). No Levítico, é tácita; requer-se esforço concentrado para se alcançá-la.

Neste capítulo, consideraremos a teologia que subjaz ao terceiro livro do Pentateuco. Em suas celebrações e ordenanças, repousam princípios eternos aplicáveis tanto à congregação de Israel, no deserto, quanto à Igreja de Cristo, em sua militância rumo à Jerusalém celeste.

Logo de início, estabeleceremos um contraste entre a religião de Israel e a do Egito. Se a primeira tinha a Deus por Senhor, a segunda, desprezando-o também como Criador, adorava a criatura, como se a criação fosse, em si mesma, uma divindade.

I. ISRAEL VERSUS EGITO

Quando Israel desceu ao Egito, o Faraó ainda conservava algum resquício do monoteísmo adâmico e noético. Bastaram, porém, quatro séculos para que a religião egípcia viesse a degenerar-se num politeísmo bizarro, indecente, cruel e blasfemo. Se os primeiros reis egípcios mostravam temor a Deus, o Faraó do Êxodo ergue-se como o arqui-inimigo de Jeová.

Vejamos, pois, como ambos os povos viam o mundo, a partir de sua religião.

1. A excelência da teologia hebreia.

Os filhos de Israel professavam ousadamente a sua crença no Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Nesse credo simples e até despretensioso, demonstravam aos demais povos que o seu Deus, embora transcendente, era também imanente.

Se, por um lado, estava além da criação, por outro, não se confundia com nada criado. Mas, nem por isso, omitia-se em se revelar às suas criaturas morais: anjos e homens. Se perguntássemos a um hebreu do Antigo Testamento se Deus existe, responder-nos-ia ele que o Todo-Poderoso não se limita a existir; Jeová simplesmente; assim revelara se a Moisés: “Eu sou o que sou” (Êx 3.14).

Caso, porém, fizéssemos igual pergunta a um egípcio dessa mesma época, ouviríamos uma resposta desencontrada e teologicamente confusa: “Que deus?”. Para esse homem, até Faraó era uma divindade; um deusinho entre milhares de outros. E quanto ao “poderoso” Rá-Atum? Honrado como o criador dos céus, da terra e do ser humano, só mostrava a cara ao meio-dia. Às 13 horas, ei-lo a desaparecer até ser encoberto pela escuridão.

E Isis e Osíris? Filhos de Geb e Nut, ignorando as leis do incesto, casaram-se entre si. Apesar de suas relações tortuosas, saíram a cavilar a adoração dos egípcios. Como estes eram também incestuosos e moralmente enfermos, não tiveram qualquer problema ético em aceitá-los como padroeiros. Cada povo tem a divindade que merece. Desprezando o Deus Vivo e Verdadeiro, foram os egípcios plasmando deuses mortos e falsos; deuses que se conformavam às suas lascívias, iniquidades e pecados.

Se fôssemos apresentados a Set, ficaríamos ainda mais confusos. Adorado como o responsável pelo caos e pelas guerras, era representado, no panteão egípcio, como um porco-formigueiro. Já ideou um deus com tal aparência? Não imagine qualquer pericorese entre as divindades do Egito. Ciumentos e raivosos viviam às turras; brigavam muito. Em nada diferiam dos moradores do Olimpo: adulteravam, matavam, roubavam; eram piores do que os seres humanos. Como poderiam eles ordenar aos seus devotos: “Sede santos, porque nós, vossos deuses, somos santos?”.

2. A coerência da cosmologia hebreia.

Além de acreditarem na realidade de um Deus Único e Verdadeiro, os hebreus acreditavam também que esse mesmo Deus, no princípio da História Sagrada, criara os Céus, a Terra e o ser humano. De forma singela, o profeta Moisés narra a criação de tudo quanto existe:

No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz. Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia. (Gn 1.1-5)

A cosmologia hebreia pode ser condensada numa declaração teológica que se fez credo:

“Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3, ARA). Pode haver explicação mais lógica e coerente para o aparecimento de tudo quanto existe? Nem mesmo a teoria do Big Bang, embora tão decantada academicamente, reúne a explicação necessária para uma cosmologia que nos atenda aos reclamos mínimos da mente. Somente a Bíblia Sagrada pode dar-nos as respostas de que precisamos.

Voltemos à cosmologia egípcia. Antes de tudo, consideremos as fragilidades e limitações do deus egípcio que tudo criou; não tinha ele sequer o atributo da eternidade. Embora criador, fora criado a partir de águas inquietas e turbulentas. Saindo destas, transformou-se no sol do meio-dia. Em seguida, Rá-Atum gerou, conjugando-se à própria sombra, a deusa Tefnut, a umidade. Não demorou a chegar-lhe outro filho: Shu, o ar. Estes, por sua vez, tiveram seus próprios descendentes. Vieram Geb e Nut que, respectivamente, são a Terra e o Céu.

Para mim, a cosmologia egípcia não passa de uma parábola científica de qualidade duvidosa; inferior mesmo. Infelizmente, tal parábola mitologizou-se, gerou deuses e deusas, aqueles nefastos e estas despudoradas. A propósito, que família de bem receberia Hathor em casa? Mestra na prostituição que se deleitava em destruir lares.

3. A antropologia egípcia.

O hebreu via a si próprio como imagem e semelhança de Deus; não ignorava as palavras do Gênesis:

“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26, ARA).

Mais adiante, Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, narra a feitura de Adão:

“Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7, ARA).

Pode haver mais candura e simplicidade na descrição de nossa origem? Sem recursos mitológicos e sem o concurso de fantasias, o profeta descreve o aparecimento do homem sobre a Terra. Até hoje, não encontrei explicação melhor. Concentremo-nos, agora, na antropologia egípcia, que, na verdade, não passa de um trecho confuso de sua cosmologia.

Segundo a mitologia egípcia, o deus Rá-Atum também foi o responsável pela criação do ser humano. Iracundo e carregado de lascívia, ira, inveja e orgulho, plasmou ele, a partir de águas nada calmas, um ser que lhe refletisse o caráter: o homem já caído da graça. Vejo-me obrigado a repetir a pergunta: como um deus como Atum podia requerer de seus adoradores: “Sede santos, porque eu sou Santo?”. As fofocas de Heoliópolis, onde moravam os deuses do Egito, dizem que ele era um onanista viciado. Como orar a um deus, cuja folha corrida era tão extensa e vergonhosa?

II. A TERRA É DO SENHOR

O livro de Levítico reafirma, por meio de suas ações litúrgicas, as teologias do Gênesis e do Êxodo; mostra que Deus, sendo o Criador dos Céus e da Terra, tem de ser adorado por tudo quanto existe e por tudo o que temos.

1. Deus é o Criador dos Céus e da Terra.

Se o Gênesis mostra que Deus criou tudo quanto existe, o Levítico reivindica dos israelitas que consagrem tudo ao Senhor (Gn 1.1; Lv 1.1-17). Ao mesmo tempo, exorta-os didaticamente, por meio das ofertas e sacrifícios, a jamais oferecer honras a ídolo algum (Lv 19.4).

No panteão faraônico, a Terra era idealizada pelo deus Geb; um representante bem-apanhado do sexo masculino. E, para acompanhá-lo, ali estava a deusa Nut, responsável pelo bom andamento do céu. Diante dessa extravagante narrativa, o que esperar dos egípcios? Não é de admirar que eles adorassem o seu país, como se este fosse o centro do Universo e a morada de todos os deuses. Mas para eles, suas divindades, ao invés de se espalharem pelo Egito, concentravam-se relaxadamente em Heliópolis, onde reinava Rá Atum sobre todos.

Nesse processo idolátrico, residia um projeto de poder, que consistia em eternizar os Faraós sobre o governo do Egito. O mandatário egípcio, tendo à sua disposição toda uma academia de astrólogos, magos e bruxos, mitologizava habilmente a própria imagem. Esse marketing era tão poderoso que, com exceção dos “sábios”, todos imaginavam que o Faraó descendia diretamente de Osíris. A lógica política, que subjazia a essa propaganda oficial, era ardilosa, cruel e mentirosa. Sendo o rei um deus, a terra sobre a qual reinava também era uma divindade. Por que contrariar os deuses? A fim de esvaziar o panteão egípcio, Deus enviou às terras de Faraó dez formidáveis pragas. Nesse décuplo castigo, todas as divindades egípcias viram-se por terra. Nem o Nilo escapou. E, como derradeiro castigo, o Senhor puniu a própria casa de Faraó, matando-lhe o primogênito. Com a morte deste, caía o mito de Osíris.

Consideremos as dez pragas não apenas como açoite ao Egito, mas principalmente como preciosa lição aos filhos de Israel. Apesar de sua crença monoteísta, o seu contato prolongado com a religião egípcia levou-os a uma espécie de henoteísmo. E, agora, apesar de ainda crerem no Deus de Abraão, não deixavam de crer nos deuses de Faraó. Não foi sem razão que caíram em diversas apostasias durante a caminhada à Terra Prometida. É claro que, entre os hebreus saídos do Egito, havia um núcleo fiel, que jamais se deixou embair pela mitologia egípcia. A maior parte, todavia, acabou por cair no deserto.

Na verdade, não foi difícil tirar Israel do Egito. Difícil mesmo foi arrancar o Egito de Israel. O que esperar de um povo que estava disposto a trocar a sua liberdade por melões e pepinos? Essa mesma gente acabaria por barganhar o seu Deus por um mísero bezerro de ouro; reminiscência da idolatria egípcia.

O Egito, como as demais nações, não pertencia ao Faraó nem ao seu querido primogênito; o mundo todo pertence a Deus. Logo, nenhuma terra em particular pode ser idolatrada.

Se do Senhor é a Terra, como devemos proceder?

Hoje os pecados ligados à Terra são estranhos e muitos. Vão desde a posse criminosa de vastas e preciosas glebas, que poderiam nutrir milhões de famílias, até à ecolatria. Que o planeta deve ser preservado, ninguém discorda. Mas daí a adorar a criação em lugar do Criador é um absurdo. Nos dias de hoje, a Terra é adorada como a deusa Gaia. Ontem, uma divindade masculina; hoje, feminina. Até o planeta foi submetido ao processo pósmoderno de afeminação. Para evitar tais arroubos, o livro de Levítico mostra o nosso planeta, em seus sacrifícios e oferendas, como obra de Deus. Todo israelita é exortado a adorar somente ao Senhor.

2. Deus é o libertador de Israel.

O livro de Levítico patenteia aos filhos de Israel que Deus é o seu único libertador. Por esse motivo, nenhum israelita poderia comparecer diante do Senhor de mãos vazias (Êx 23.15).

A teologia de Levítico tinha uma lógica simples e perfeitamente compreensível: se toda a Terra é do Senhor, logo todos os seus moradores devem adorá-lo com os produtos de suas rendas. Nesse sentido, a religião do Antigo Testamento ia além da mera liturgia. Toda vez que um israelita oferecia um sacrifício a Jeová, quer pacífico, quer por sua iniquidade, ele confessava dramaticamente reconhecer o senhorio divino sobre tudo que existe.

O adorador agradecia também ao Senhor pelo Êxodo. Por esse motivo, a teologia de Levítico era essencialmente memorialista; o Libertador de Israel jamais poderá ser esquecido. Ele será lembrado em cada sacrifício, oferta e apresentação.

Por que não agimos assim também? Deveríamos apresentar nossos dízimos e ofertas ao Senhor de forma litúrgica e memorial. Em oração e profundas ações de graças, levemos as primícias de nosso lavor à sala do tesouro, conforme recomenda-nos o Senhor, por intermédio de seu profeta (Ml 3.10). Os princípios do terceiro livro do Pentateuco não foram sepultados no Antigo Testamento, mas revivem no espírito da Nova Aliança. Não quero dizer, com isso, que devamos judaizar-nos; isso seria apostatar da verdadeira fé. Mas que temos de reconhecer os benefícios recebidos do Senhor, não há dúvida.

Jesus Cristo, por intermédio de seu sangue, libertou-nos do pecado, do mundo e do próprio Diabo. Por que não honrá-lo com as primícias de nossas primícias?

3. Israel é o templo de Deus.

A teologia de Levítico tinha por objetivo, ainda, conscientizar Israel de sua vocação divina (Lv 20.26). Logo, toda a nação israelita era um templo de adoração ao Senhor. (Lv 10.3). O povo hebreu não era uma mera teocracia; era a congregação de Jeová. (Lv 9.23).

Tenho para mim que a maior teocracia atual é a Coreia do Norte. Suplanta até mesmo o país dos aiatolás. Pelo menos foi a impressão que tive ao assistir a um documento sobre esse hermético país do Extremo Oriente. Apesar de seu ateísmo militante, a religião, ali, é praticada radical e ostensivamente. Altares e nichos são encontrados em todos os lugares. Se formos a Pyongyang, teremos a impressão de que a cidade toda é um grande e suntuoso templo. Mas não pense você que, neste altar, há um santo católico, e, naquele, um budista, e, naquele outro, um hindu. O único deus encontradiço naquele perímetro silente e ameaçador é o grande líder e seus “onipresentes” antepassados. A mesma impressão teremos se visitarmos alguns países da América Latina. Haja vista o ocorrido na Venezuela. O falecido presidente Hugo Chaves foi de tal forma idolatrado, que chegaram inclusive a adaptar-lhe uma oração do “pai nosso”. Até o nosso país já correu semelhante risco. Se é para adorar a Deus, estamos aqui. Mas, se é para adorar o homem ou o demônio, que o Senhor nos guarde.

Se nos fosse possível voltar à cidade egípcia de Tebas, veríamos que, ali, nos dias de Moisés, era mais fácil topar com um deus do que com um homem. Aqui, estava Rá-Atum. Lá, Osíris. E, mais adiante, a deslavada Hathor. A capital do Egito mais parecia um santuário a céu aberto do que um centro urbano. Se estendêssemos a excursão até Heliópolis, seríamos tomados pela revolta que levou Paulo a enojar-se de Atenas. Mas, entre tantos deuses e deusinhos, não encontraríamos um único altar consagrado ao Deus Desconhecido.

Ora, se o Egito era um templo dedicado a deuses que, rigorosamente, nem deuses eram, por que a herança de Jacó, em Canaã, não poderia ser também um santuário consagrado ao Deus de Abraão e de Isaque? Essa era a proposta da teologia levítica. Mas, para que isso se fizesse realidade, alguns estágios eram imprescindíveis. Antes de tudo, o povo hebreu teria de assumir sua identidade como congregação de Jeová. Isso significa que os israelitas precisavam superar, com urgência, as diferenças tribais, as arestas culturais e dialetais e, principalmente, as barreiras políticas que, a essa altura, já eram bem visíveis. Sem comunhão, não pode haver povo de Deus.

A congregação de Jeová teria de ser tão unida que, aos olhos dos gentios, deveria parecer um único povo. Dessa forma, ao adentrarem a Terra Prometida, os israelitas não enfrentariam maiores dificuldades em transformá-la num templo a céu aberto.

Nalguns momentos de sua história, os israelitas estiveram perto de alcançar tal meta. Reis como Davi, Salomão (na primeira etapa de seu reinado), Josafá, Ezequias e Josias muito lutaram por esse ideal. Pelo que lemos no profeta Ezequiel, a comunhão plena e messiânica entre os hebreus somente virá a ocorrer com o estabelecimento do Reino Milenial, após a Grande Tribulação. Numa leitura mais atenta de Levítico, aprendemos que a intenção do autor sagrado era conduzir didática e profeticamente Israel a ser a congregação e a Casa do Senhor. Alcançado esse ideal, por que precisariam eles de uma edificação tão suntuosa como a de Salomão? Como os israelitas eram tardos em assimilar as lições divinas, acabariam por idolatrar até mesmo o primeiro Templo (Jr 7.4).

III. OS ANIMAIS E OS VEGETAIS SÃO DO SENHOR

A teologia do Levítico mostra a criação como serva do Criador. Por esse motivo, os animais e os vegetais, em Israel, não eram adorados, mas serviam para glorificar a Deus.

1. No Egito, os animais eram deuses.

Os egípcios não faziam distinção entre o Criador e a criação, nem estavam preocupados em distinguir os animais limpos dos impuros. Por isso, adoravam o boi, o crocodilo, o falcão e até o gato (Rm 1.25). Eis porque Deus, ao punir o Egito com as dez pragas, mostrou quão inúteis eram os deuses egípcios.

O panteão egípcio, diferentemente do grego, parecia mais um zoológico do que um depósito de deuses. Examinemos o caso de Thot. Patrono dos estudos, da escrita e dos cálculos, era representado por um homem com uma imensa cabeça de macaco. No Levítico, o babuíno nem mencionado é. Mas os egípcios veneravam-no como divindade.

2. Os animais e a adoração a Deus.

Ao contrário dos egípcios, os israelitas não se davam ao culto dos animais. Mas os apresentavam em sacrifício ao Senhor (Lv 1.2). Além disso, faziam distinção entre os animais limpos e impuros (Lv 11). O povo de Israel sabia que os animais não são deuses, e, sim, criaturas do Deus que as sustenta (Sl 104.14).

Quanto aos egípcios, tinham eles como deus o boi que, em sua mitologia, representava dois deuses: Osíris e Ptá. A primeira divindade era, às vezes, descrita como um morto-vivo; um amedrontador zumbi. Em Israel, de acordo com as recomendações levíticas, o gado vacum tinha apenas três finalidades: trabalho, alimentação e adoração ao Senhor.

Lembremo-nos do carneiro. Na mitologia faraônica, era o deus Knum, cuja função era moldar, qual oleiro, a aparência de deuses e dos homens. No sistema levítico, iria logo para o altar, quer para representar um sacrifício pacífico, quer para oficiar uma oferenda pelo pecado.

3. Os vegetais e a adoração a Deus.

O mesmo Deus que preconiza a preservação da natureza condena a sua idolatria; prática corriqueira entre os antigos cananeus (1 Rs 14.23). Já em Israel, os frutos da terra serviam para duas coisas: nutrir o povo e adorar a Deus; gratidão àquEle que “[faz] a terra dar a sua messe e, a árvore do campo, o seu fruto” (Lv 23.10; 26.4,5, ARA).

Que Deus nos guarde da idolatria. Às vezes, sem o percebermos, tornamo-nos tão idólatras quanto os egípcios do Faraó. Se retivermos o fruto da terra, e deixarmos o faminto perecer de fome, o que é isso senão avareza; abjeta idolatria (Cl 3.5)? A Terra é do Senhor. Logo, todas as suas novidades e produtos lhe pertencem. Então, que tudo seja-lhe apresentado em ações de graça.

IV. O SER É DO SENHOR

A teologia levítica realça a sacralidade da vida humana como imagem e semelhança de Deus. Em Israel, ao contrário das culturas cananeias, estava proibido o sacrifício humano, pois o verdadeiro sacrifício a Deus é um coração humilde e contrito (Is 57.15).

1. O ser humano é a imagem de Deus.

O livro de Levítico corrobora a teologia do Gênesis ao mostrar que o ser humano foi criado por Deus (Gn 1.26). Em suas páginas, há vários dispositivos, visando promovê-lo como a obra-prima das mãos divinas. Por essa razão, o crente israelita era exortado a zelar do corpo e da alma (Lv 14.8a; 15.13; 20.7). Só agradaremos a Deus se vivermos com a excelência que Ele requer de cada um de nós.

No Egito, a única vida sagrada era a do Faraó. Segundo alguns mitólogos, descendia ele de Osíris; de acordo com outros, do prepotente Rá-Atum. Por essa razão, como já dito, toda a medicina egípcia era voltada a cuidar tanto da vida quanto da morte desse soberano. Na verdade, a primeira ocupação dos médicos da corte egípcia era preparar o rei, a fim de que, na outra vida, pudesse ele reinar com igual ventura e felicidade. Haja vista o cuidado dispensado ao embalsamamento de um Faraó.

2. A vida humana é sagrada.

O crente israelita era exortado a ver a vida de todos os homens como sagrada. Por isso, não poderia, sob hipótese alguma, consagrar sua descendência aos ídolos (Lv 18.21). Todos os filhos de Israel tinham de ser consagrados ao Senhor; propriedade peculiar do Senhor. No início de sua história, os egípcios de fato davam-se à prática de sacrifícios humanos. Mas, com o tempo, foram abandonando tal hábito. Quando os filhos de Israel lá chegaram, por volta de 1900 a.C., já não se tinham notícias de semelhantes oferendas. Isso não significa, porém, que os reis egípcios fossem clementes ou benévolos com seus adversários. Se lhes fosse conveniente, até recém-nascidos lançavam ao Nilo.

3. O ser humano é servo e adorador de Deus.

Se os israelitas observassem a Lei de Moisés, não teriam dificuldades em viver a essência de sua teologia. No livro de Levítico, seriam conduzidos a uma vida de santidade, pureza e serviço ao Senhor. Mas, em consequência de suas muitas apostasias, não puderam alcançar o cerne teológico das celebrações e sacrifícios prescritos.

No tempo de Isaías, a situação espiritual da nação estava de tal forma degenerada, que Deus censurou-a energicamente:

Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa e um portento; de maneira que a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a prudência dos seus prudentes se esconderá. (Is 29.13, ARA).

Como os israelitas foram incapazes de viver a essência teológica da Lei de Moisés, o Senhor anunciou-lhes as consequências de sua rebelião e apostasia.

V. A ESCATOLOGIA LEVÍTICA

No capítulo 26 do livro de Levítico, estampa-se o futuro de Israel. A escatologia dessa passagem, apesar de seus rigores e disciplinas, é amorosa e redentora; não deixa os judeus sem esperança.

1. Um chamado à obediência.

Já de início, o Senhor exorta Israel a evitar dois graves pecados: a idolatria e a profanação do sábado. A primeira transgressão sempre acabava por levar à segunda. Ouçamos a advertência divina:

Não fareis para vós outros ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura nem coluna, nem poreis pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o SENHOR, vosso Deus. Guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o SENHOR. (Lv 26.1, ARA)

2. A promessa da obediência.

Se os israelitas se ativessem à Lei de Moisés seriam abençoados em todas as coisas, conforme lhes promete o Senhor:

Se andardes nos meus estatutos, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes, então, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua messe, e a árvore do campo, o seu fruto. A debulha se estenderá até à vindima, e a vindima, até à sementeira; comereis o vosso pão a fartar e habitareis seguros na vossa terra. Estabelecerei paz na terra; deitar-vos-eis, e não haverá quem vos espante; farei cessar os animais nocivos da terra, e pela vossa terra não passará espada. Perseguireis os vossos inimigos, e cairão à espada diante de vós. Cinco de vós perseguirão a cem, e cem dentre vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós. Para vós outros olharei, e vos farei fecundos, e vos multiplicarei, e confirmarei a minha aliança convosco.  Comereis o velho da colheita anterior e, para dar lugar ao novo, tirareis fora o velho.  Porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma não vos aborrecerá. Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo. Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para que não fôsseis seus escravos; quebrei os timões do vosso jugo e vos fiz andar eretos” (Lv 26.3-13, ARA).

3. O castigo pela desobediência.

Mas se Israel ignorasse os mandamentos divinos, seria castigo dentro e fora de seus termos.

Tornar-se-ia motivo de zombaria e escárnio perante os gentios:

Mas, se me não ouvirdes e não cumprirdes todos estes mandamentos; se rejeitardes os meus estatutos, e a vossa alma se aborrecer dos meus juízos, a ponto de não cumprir todos os meus mandamentos, e violardes a minha aliança, então, eu vos farei isto: porei sobre vós terror, a tísica e a febre ardente, que fazem desaparecer o lustre dos olhos e definhar a vida; e semeareis debalde a vossa semente, porque os vossos inimigos a comerão. Voltar-me-ei contra vós outros, e sereis feridos diante de vossos inimigos; os que vos aborrecerem assenhorear-se-ão de vós e fugireis, sem ninguém vos perseguir. Se ainda assim com isto não me ouvirdes, tornarei a castigar-vos sete vezes mais por causa dos vossos pecados. Quebrantarei a soberba da vossa força e vos farei que os céus sejam como ferro e a vossa terra, como bronze. Debalde se gastará a vossa força; a vossa terra não dará a sua messe, e as árvores da terra não darão o seu fruto. E, se andardes contrariamente para comigo e não me quiserdes ouvir, trarei sobre vós pragas sete vezes mais, segundo os vossos pecados. Porque enviarei para o meio de vós as feras do campo, as quais vos desfilharão, e acabarão com o vosso gado, e vos reduzirão a poucos; e os vossos caminhos se tornarão desertos. (Lv 26.14-22, ARA).

4. A escatologia da esperança.

No arrependimento nacional, o Deus de Abraão manifestar-se-á novamente aos filhos de Israel:

Mas, se confessarem a sua iniquidade e a iniquidade de seus pais, na infidelidade que cometeram contra mim, como também confessarem que andaram contrariamente para comigo, pelo que também fui contrário a eles e os fiz entrar na terra dos seus inimigos; se o seu coração incircunciso se humilhar, e tomarem eles por bem o castigo da sua iniquidade, então, me lembrarei da minha aliança com Jacó, e também da minha aliança com Isaque, e também da minha aliança com Abraão, e da terra me lembrarei. Mas a terra na sua assolação, deixada por eles, folgará nos seus sábados; e tomarão eles por bem o castigo da sua iniquidade, visto que rejeitaram os meus juízos e a sua alma se aborreceu dos meus estatutos. Mesmo assim, estando eles na terra dos seus inimigos, não os rejeitarei, nem me aborrecerei deles, para consumi-los e invalidar a minha aliança com eles, porque eu sou o SENHOR, seu Deus. Antes, por amor deles, me lembrarei da aliança com os seus antepassados, que tirei da terra do Egito à vista das nações, para lhes ser por Deus. Eu sou o SENHOR. (Lv 26.40-45, ARA).

CONCLUSÃO

A teologia de Levítico pode ser resumida numa única expressão: obediência e fé. Se o nosso culto não for acompanhado de fé e obediência, Deus jamais se agradará de nós. De nada adianta uma liturgia bonita e imponente; liturgia sem piedade é coisa inútil. Se o nosso culto, porém, vier acompanhado pelo amor, haverá, então, resgate de preciosas almas e promoção do Reino dos Céus na Terra. Que o Senhor nos ajude em nossa peregrinação. Aqui, quantas lutas e tribulações. Ali, junto a Deus, desancaremos de todos os nossos pesares.

Fonte:
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade


Somos o templo do Espírito Santo (1Co 6.19). E, como tais, somos intimados a andar em novidade de vida, consagrando tudo ao Senhor, a começar por nós mesmos (1Ts 5.23). Se não nos ofertarmos amorosa e incondicionalmente a Deus, e usarmos o nosso corpo para o pecado, como estaremos diante de Deus? Seremos réus diante dEle (1Co 6.18-20).

A essência da teologia do Levítico continua válida ainda hoje. O Deus que exortou Israel à santidade requer, de igual modo, a nossa santificação (Lv 19.2; 1Ts 4.3).


Leia também:
Aqui eu Aprendi!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...