“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os seus lábios, me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim [...]” Is 29.13
R. N. Champlin apresenta em
sua clássica obra Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia uma definição
que nos parece bastante útil para compreender o que seria legalismo. Segundo
esse autor:
Esta expressão, como usada
pelos teólogos cristãos, não tem nada contra a dignidade da lei. Muito pelo
contrário, fala de abusos dos propósitos da lei. Significa a crença de que a
lei (ou diversas provisões da mesma) deve ser observada para obter a salvação.
Secundariamente, o termo significa que a vida cristã deve ser governada pela
observação da lei. É claro que muitos judeus convertidos ao
cristianismo, que aceitaram o ensino de que Jesus era o Messias, ainda
continuaram observando a lei pelas duas razões sugeridas, sendo que o judaísmo
nunca promoveu um conceito de justificação pela fé. Legalismo, então, é o uso
da lei como uma base de soteriologia e como o guia da vida espiritual, no
lugar da justificação pela fé e a lei do Espírito como o guia da
espiritualidade (Rm 8:2). (CHAMPLIN, 2013, vol.3 p.763 ed.Hagnos)
Deve-se, então, esclarecer
inicialmente que o significado que o termo adquire dentro do campo discursivo
da Teologia é completamente diferente de sua acepção, por exemplo, no domínio
do direito. Legalismo na perspectiva teológica reporta-se a uma concepção de
realidade – com repercussões muito abrangentes, desde o campo da ética até a
Soteriologia.
A adoração nasce de um coração que ama a Deus e não de uma relação jurídica (legal) com o Criador.
Texto Bíblico: Atos dos Apóstolos 5. 1-6; 8-10
INTRODUÇÃO
O que é legalismo? Pode-se definir legalismo
como sendo a postura religiosa que privilegia o cumprimento de regras e normas
como caminho para a obtenção de bênçãos divina, inclusive a salvação. Dentre os
perigos de uma religiosidade legalista está a ilusão de tornar-se uma pessoa
melhor, isto é, alguém superior aos outros pelo simples fato de obedecer
rigidamente um determinado conjunto de ordenamentos religiosos. É a respeito
dos riscos e consequências de uma fé genuína tornar-se legalista que
discutiremos na aula de hoje, partindo de alguns exemplos bíblicos.
1. Da institucionalização ao legalismo.
Como
estudamos na última aula, com o enorme crescimento do povo de Israel e com o
início de sua jornada de retorno à Canaã, a adoração e o louvor dos judeus
tiveram que passar por um processo de organização para melhor desenvolvimento
(Êx 19.3-6). Todavia, rapidamente propagou-se a prática legalista, ou seja, ao
invés do povo cumprir as ordenanças divinas por amor e obediência ao Senhor,
parte do povo passou a executar os mandamentos de maneira mecânica e vazia de
intencionalidade ou, pior ainda, por puro interesse (Nm 14.1-37). Nem toda
institucionalização causa legalismo, mas todo legalismo é destruidor em
qualquer tipo de relacionamento, especialmente entre os adoradores e Deus.
2. O legalismo como causa da tragédia na
família de Eli.
Um dos primeiros exemplos bíblicos de como o legalismo
pode destruir uma família inteira é o caso da família de Eli (1Sm 2-4). Os
filhos de Eli não respeitavam as ofertas e espaços sagrados em Israel (1Sm
2.12-17,22-25), eram homens de Belial (1Sm 2.12). Diante desta situação Deus
usa tanto um profeta anônimo (1Sm 2.27-36), como o adolescente Samuel (1Sm
3.15-18) para declarar aos ouvidos do próprio Eli a indignação de Deus com a
situação, todavia, nada mudou. O momento mais patente do legalismo da casa de
Eli foi quando seus filhos transportaram a arca da aliança do Senhor para o
meio do campo de batalhas com a intenção de vencerem uma guerra contra os
filisteus (4.3-5). Houve uma comoção geral entre os guerreiros, isto,
entretanto era pura ilusão. Deus não era a arca, muito menos estava preso
dentro dela! Acreditar que venceriam a guerra simplesmente por terem trazido o
objeto sagrado era puro legalismo; o resultado não podia ser outro: derrota,
extermínio do povo, morte da família sacerdotal e rapto da arca (4.11-22).
3. A denúncia do
legalismo nos discursos dos profetas.
O Antigo Testamento está repleto de
discursos denunciando esta prática de uma religiosidade de fachada. Logo no
primeiro capítulo de sua profecia, Isaías denuncia a hipocrisia religiosa
daquele povo (Is 1.11-23) e apesar deles cumprirem várias ações cerimoniais,
nenhuma delas era agradável ao Senhor. Já em Ezequiel 8.1-18, Deus revela ao
profeta, através de uma visão cheia de símbolos, a espiritualidade decadente
travestida de piedade daquela geração. Em Amós 5.21-23, o profeta, que há pouco
denominou ironicamente a classe opressora de “vacas de Basã”, declara que o
simples cumprimento de cerimônias religiosas não isentava o povo de Deus de sua
responsabilidade social com os pobres e oprimidos. Religião que declara servir
a Deus, mas é incapaz de servir ao próximo, é puro legalismo.
Se sua fé tem se reduzido a mera observância de regras, de tal forma que sua relação com Deus já abandonou um caráter filial, por meio de seu amor integral e desinteressado ao Pai, e tem se tornado algo legal — onde você exige dEle as recompensas de sua suposta obediência — você tornou-se legalista.
1. O legalismo como herança do farisaísmo na
Igreja Primitiva.
O cristianismo, apesar de ter rapidamente atingido o
mundo gentio, especialmente através de Paulo, teve em seu surgimento forte
adesão de judeus. Uma das mais tradicionais seitas judaicas daquele momento
histórico eram os fariseus (literalmente, “separados”). A característica
marcante deste grupo era a rigidez com que eles cumpriam a Lei (Mt 23.23),
chegavam até a exceder-se no cumprimento de alguns pontos dela (Lc 18.12).
Quando esse conjunto de pessoas ingressou no cristianismo, trouxe junto suas
tradições legalistas, dentre as quais estava a circuncisão para os cristãos
não-judeus, assim como o cumprimento de todo o restante da Lei. É claro que o
conjunto de exigências deste grupo de novos convertidos colidia diretamente com
o discurso da graça, do amor e da misericórdia, proposto e vivenciado por Jesus
e os seus discípulos (Mt 9.13).
2. A rejeição do legalismo entre os primeiros
cristãos.
Não houve negociação entre os líderes da Igreja Primitiva. O
legalismo deveria ser radicalmente rejeitado. Os apóstolos ratificaram que a
salvação é obra exclusiva da morte vicária de Jesus e que por isso nenhum fardo
deveria ser posto sobre os irmãos gentios. O Cristianismo já nasceu com a
pretensão de acolher toda a humanidade; deste modo não era simplesmente mais
uma seita judaica e por isso não necessitava submeter-se às tradições culturais
daquele povo. Paulo, em vários momentos de seu ministério, denunciou a
inutilidade do legalismo dos judaizantes — judeus convertidos ao cristianismo
que exigiam dos gentios o cumprimento de práticas culturais e cerimoniais do
judaísmo para garantir-lhes a salvação (Gl 2.14-17; Fp 3.1-3; Cl 2.16-23; Tt
1.10-16).
3. As distorções teológicas do legalismo.
O
legalismo, no intuito de desenvolver uma piedade comprometida, cria sérios
problemas doutrinários. Por exemplo, se alguém condiciona a salvação a algo
além do sacrifício de Jesus — rituais (Mt 15.1-9), obediência a normas humanas
(Gl 5.1-6), boas obras (Ef 2.8-10) — essa pessoa está usurpando a centralidade
de Cristo na obra salvífica. O legalista, arrogantemente, entende-se como
alguém apto para julgar a espiritualidade dos outros (Tg 4.12). Não devemos ser
juízes de ninguém (Lc 6.37), só há um Juiz (Is 33.22; Jr 11.20), nossa missão é
ser suporte para os mais fracos (Rm 14.1-23). O legalismo transforma a ética
cristã, encarnação histórica do amor (Mt 7.12), em um conjunto vazio de
cumprimento de regras que para nada serve (Mc 7.7-9).
1. Retornando a centralidade de Cristo em
nossa fé.
Não existem amuletos mágicos (sal, copo com água, arca da
aliança) ou rituais de invocação da divindade (sete vigílias, sete salmos, sete
hinos de sangue) no Cristianismo. O centro de nossa fé é Cristo Jesus (Cl
1.27). O legalismo somente será superado quando, sem medo algum, voltarmos a
pregar e viver a mais simples verdade do Evangelho: a morte e ressurreição de
Cristo é a garantia da nossa salvação (Rm 8.31-39). Se for salvo, vivo para Ele
(Fp 1.21); se congrego numa Igreja é para aperfeiçoamento do “corpo” dEle (do
qual eu faço parte — Ef 4.12,13); se pratico boas ações é para que o nome dEle
seja glorificado (1Pe 2.11,12). Não devemos ter medo de supostas maldições ou
“retaliações divinas”, Cristo não é Baal — um deus melindroso — Ele nos ama e
tudo que Ele faz é para abençoar-nos (Ef 1.3-10).
2. Amando mais as pessoas que a religião.
Cristianismo
não é religião — cheia de protocolos e cerimônias — antes é relacionamento
puro, direto e genuíno com Deus. Se em alguma circunstância da vida você
estiver diante de um suposto dilema entre salvar a vida de alguém ou cumprir
uma regra religiosa, não pense duas vezes, salve a vida desta pessoa.
Porque
alguém deve fazer isso?
1) Por que em seu lugar Cristo faria o mesmo, na
verdade Ele já fez (Jo 5.1-15; 8.1-11);
2) Porque o cerne do cristianismo não é
cumprir regras, mas amar a Deus, amando a si mesmo e as pessoas ao nosso redor;
3) Algumas religiões fazem guerra e matam pessoas, Jesus veio para dar a sua
vida e ninguém foi capaz de convencê-lo do contrário (Jo 10.17,18).
3. Vivenciando a liberdade proporcionada pelo
Espírito de Deus.
A Bíblia é clara: onde está o Espírito do Senhor, aí há
liberdade (2 Co 3.17). Somos livres do pecado, livres para adorar a Deus e para
ter uma vida santa, e servir de exemplo ao mundo daquilo que Deus pode fazer na
vida de um ser humano.
Adoração não produz ódio. Alguém por ignorância pode não gostar de nossa fé ou até mesmo de nós, todavia, nosso louvor a Deus nunca pode ser fonte de discriminação ou maldade.
CONCLUSÃO
O legalismo é uma antiga doença que tenta
atacar o povo de Deus. Desde o Antigo Testamento até nossos dias a sedução de
fazer da fé um aglomerado de proibições, prescrições e juízos é algo tanto real
quanto perigoso. Por isso, devemos cada vez mais nos empenharmos para
desenvolver um relacionamento vivo, íntimo e pessoal com Deus, livre o
suficiente para expressarmos a sinceridade de nossos corações.
Adoração não é reprodução mecânica de palavras ou ações.
SUBSÍDIO
“[...] Judeus cristãos eram chamados
‘judaizantes’, porque eles criam que todo aquele que recebesse o evangelho
deveria se converter ao judaísmo e guardar a lei de Moisés, particularmente a
circuncisão. O ensino dos judaizantes cria divisão na Igreja. Eles entram num
espírito de exclusivismo judaico e pronunciam que os crentes gentios
incircuncisos não são salvos, e que a fé em Cristo não é o bastante para a
salvação. Estes agitadores dogmaticamente insistem que a circuncisão deve ser
acrescentada à fé no Salvador. [...] O esforço para judaizar a Igreja cria
acalorado debate e tem o potencial de dividir a Igreja em duas facções, uma com
sede em Jerusalém e outra, em Antioquia. A integridade do evangelho e a unidade
da Igreja estão em jogo. A palavra traduzida por ‘não pequena discussão’ (stasis)
significa literalmente ‘insurreição, facção, discórdia’, ao passo que a palavra
traduzida por ‘contenda’ (zetesis) quer dizer ‘disputa, discussão’. Estas duas
palavras descrevem uma situação dominada por conflito que é provocada por
raiva, desunião e discussão” (ARRINGTON, F. L; STRONSTAD, R. Comentário
Bíblico Pentecostal. 4ª Edição. RJ: CPAD, 2006, p.709).
Fonte:
Revista Lições Bíblicas Jovens 4º Trim/2016 - Em Espírito e em Verdade - A essência da Adoração Cristã - CPAD - Comentarista Thiago Brazil
Bíblia Defesa da Fé
Bíblia de Estudo Pentecostal
Fonte:
Revista Lições Bíblicas Jovens 4º Trim/2016 - Em Espírito e em Verdade - A essência da Adoração Cristã - CPAD - Comentarista Thiago Brazil
Bíblia Defesa da Fé
Bíblia de Estudo Pentecostal
Que em tudo o que fizermos, (tudo mesmo) façamos para Glória de Deus!
Tenhamos cuidado com os escândalos, com as heresias e com os abusos de liberdade. Lembremos sempre: Em tudo Cristo seja Engrandecido.
Em meio a um mundo tão corrompido, que o Espírito Santo nos ajude!
Aqui eu Aprendi!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será postado assim que o autor der a aprovação.
Respeitando a liberdade de expressão e a valorização de quem expressa o seu pensamento, todas as participações no espaço reservado aos comentários deverão conter a identificação do autor do comentário.
Não serão liberados comentários, mesmo identificados, que contenham palavrões, calunias, digitações ofensivas e pejorativas, com falsidade ideológica e os que agridam a privacidade familiar.
Comentários anônimos:
Embora haja a aceitação de digitação do comentário anônimo, isso não significa que será publicado.
O administrador do blog prioriza os comentários identificados.
Os comentários anônimos passarão por criteriosa analise e, poderão ou não serem publicados.
Comentários suspeitos e/ou "spam" serão excluídos automaticamente.
Obrigado!
" Aqui eu Aprendi! "