“Com a sabedoria se edifica a casa, e com a inteligência ela se firma” Pv 24.3
Havia muitas profecias falando sobre o nascimento do Salvador Jesus, e muitos esperavam por isso. O dia chegou e, num canto desprezado do mundo, uma família humana o recepcionou com todo amor e carinho. Os pais eram de ascendência real, porém pobres; tinham nobreza de caráter e uma grande fé em Deus. O início da vida familiar foi bastante difícil, com muitas perseguições e ameaças, mas Deus estava no controle. A família cresceu em torno de uma carpintaria em Nazaré.
Texto Bíblico: João 7 2-5, 8-10. Lucas 2 1-40. Mateus 2 1-21. Marcos 6.3.
Ensinar os filhos no caminho do Senhor, como fizeram José e Maria, é o passaporte para a felicidade da família, ainda que haja problemas no percurso.
“E aconteceu que,
estando eles ali [em Belém] (...) deu à luz a seu filho primogênito, e
envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para
eles na estalagem” (Lc 2.6,7).
Quando Jesus
estava chegando a este mundo, somente seus pais o aguardavam alegremente! Os
homens, em geral, não o receberam bem. Não havia lugar para Ele e seus pais na
estalagem em Belém. Somente o Céu fez uma recepção à altura: uma estrela
brilhou intensamente, e milhões de anjos cantaram com júbilo... Na Terra,
porém, era noite. O vento era frio. O lugar era pobre e sem nenhum conforto.
Era uma estrebaria de animais. O cheiro não era bom. Naquele ambiente, sua mãe
entrou em trabalho de parto. Não havia enfermeiras ali, nem médicos, nem
parteiras. Apenas seu marido. O berço era um tabuleiro onde os animais comiam.
Um cocho. Que recepção para o Rei dos reis! Jesus poderia ter voltado ao Céu
naquela mesma hora; mas, por amor, decidiu ficar. O Redentor nasceu e
permaneceria na Terra, ao lado de seus pais.
Os pais de Jesus
eram pessoas extraordinárias. Aceitaram ser a família do Salvador, entregando
suas vidas e futuro à vontade do Altíssimo. Isso foi muito nobre, mas também
perigoso. Maria poderia ter sido apedrejada sob a acusação de adultério. José,
seu noivo na época, só não desistiu do casamento por causa de uma revelação
divina. Ele a aceitou pela fé.
Pouco tempo após
Jesus nascer, a família quase foi assassinada. Diante disso, tiveram que fugir
para outro país. A vida deles nunca foi fácil. Quando voltaram para Israel,
anos depois, foram morar numa cidadezinha nas montanhas chamada Nazaré. A
família montou uma microempresa: uma carpintaria. Trabalho pesado e mal
remunerado. Eles eram pobres. Algum tempo se passou e, ao que tudo indica,
Maria ficou viúva... sem marido, porém não sem esperança, pois ela sempre se
lembrava das promessas do anjo Gabriel sobre seu filho primogênito (Lc 2.19). O
Redentor era o maior projeto da sua vida, era a coisa mais importante.
A vida do Salvador
em família se desenvolveu normalmente até os seus trinta anos, quando ainda
trabalhava como carpinteiro. A partir desse momento, recebeu a ordem do Pai
para se manifestar ao mundo. Então, Ele começou a ensinar: "Eu sou a luz
do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo
8.12), “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por
mim" (Jo M.6), “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que
esteja morto, viverá” (Jo 11.25). Os seus irmãos, a princípio, não o aceitaram.
A certa altura dos acontecimentos, acharam estar louco. Maria, porém, sempre
esteve presente durante o ministério do Messias, a fim de servi-lo, como outras
mulheres, e também para sofrer. Um profeta havia dito à Maria sobre Jesus: “uma
espada traspassará também a tua própria alma” (Lc 2.35). Esta profecia se
cumpriu no Calvário. Ali, ao pé da cruz, ela viu Jesus morrer como um bandido.
A dor na alma daquela mulher era aguda demais, assim como a perfuração de uma
espada. O Senhor Jesus, com a responsabilidade social de um primogênito,
sentindo a angústia de sua mãe, que não o abandonou, estabeleceu um novo
vínculo familiar para Maria. Ele deu à sua mãe um novo filho, João, que
cuidaria dela. O Senhor, assim, esteve com sua família do início até o fim,
como todo bom filho faz. José, Maria e seus filhos Tiago, José, Judas e Simão
(Mc 6.3; Mt 13.55), além das filhas, foram um presente do Eterno para Jesus.
A família do Filho
de Deus era bem humana. As vezes errava, julgava mal, perdia a paciência,
falava o que não devia, mas, no fim da história, soube reconhecer seus
equívocos e compreender que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos
a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo
1.14).
Lucas é o único a
narrar com detalhes a pré-história individual e familiar do Redentor, pois,
como todo bom historiador, ele reputava por fundamental a compreensão dessa
narrativa para entender como a pessoa será. Dessa forma, vislumbra-se, por óbvio,
que a teoria psicológica do Behaviorismo não acertou ao dizer que “o homem é um
produto do meio”. O homem é o resultado de inúmeras interações
biopsicossociais. Daí, a importância de conhecer sua pré-história individual e
familiar. Quando se observa um meio social onde há muita violência e
criminalidade, percebe-se a maioria das pessoas enveredando não pelo mau
caminho, mas procurando construir um mundo melhor e mais justo. Assim, não só o
meio em que se vive, mas também os antecedentes históricos da família e a
estrutura psicológica do indivíduo também determinarão como será esse novo ser
humano (isso, claro, do ponto de vista científico). Por causa dessa ideia,
Lucas informou inicialmente, com muitas minúcias, o que aconteceu antes de o
Nazareno nascer (e, ao longo do livro, lançou luzes sobre como era aquele
ambiente), para entendermos melhor sua família, sua vida e seu ministério.
1. Uma
família nobre
Nobreza é uma
qualidade transcendente à genética, e não se resume em ter ascendentes
detentores do poder político e social. Nobreza expressa, sobretudo, grandeza de
caráter. Essa era a situação de José e Maria. Além de fazerem parte de uma
árvore genealógica real, apresentada por Mateus e Lucas, também tinham um
caráter acima da média. Assim, eram da linhagem dos reis de Israel (sendo
descendentes diretos tanto de Abraão quanto do rei Davi) e, por isso, repousava
sobre essa família toda sorte de promessas e direitos. Além disso, eram pessoas
da mais fina estirpe. Encarnaram a ideia de a vida só valer a pena ser vivida
se for para ser agradável aos olhos do Altíssimo. Essa diretriz era, inclusive,
seguida por Isabel e Zacarias, familiares distantes, os quais eram “justos
perante Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos
do Senhor" (Lc 1.6). Tal afirmação apresenta-se muito forte, pois
demonstra grande dignidade por parte desse casal tão querido pela família do
Redentor. Não é de estranhar, portanto, a glória do Senhor manifestada no
encontro de Maria, ainda grávida, e sua prima Isabel numa visita. É como diz o
adágio popular: “aves da mesma plumagem voam juntas”.
Zacarias e Isabel,
assim, representavam um alto padrão de moralidade e espiritualidade, fazendo
coro com o casal José e Maria, pois tinham, como dito, nobreza de caráter.
Interessante como era bonita a relação entre as primas Maria e Isabel, como se
vê na visita que a jovem Maria foi fazer à anciã Isabel (Lc 1.39-45). Uma
diferença tão grande de idade, porém uma enorme proximidade no caráter e na obediência.
Isabel era um referencial de fé, experiente em Deus, e Maria era bastante
jovem, entretanto elas estavam juntas, em comunhão. Isabel, humilde, indagou:
“E de onde me provém isso a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?” (Lc
1.43). Elas eram muito nobres! No que diz respeito a José,
sua nobreza pode ser atestada isoladamente por querer deixar Maria em segredo,
para não a “prejudicar”. Ele poderia, por outro lado, ter exigido o castigo da
jovem, mas preferiu aceitar calado ante a aparente traição. O Eterno, porém,
falou com ele, e tudo foi resolvido.
2. Uma
família corajosa
Uma das
características dos grandes homens e mulheres de Deus, na Bíblia, sempre foi a
coragem. Em via de regra, esses ícones da fé não se acovardaram no dia da
angústia (Pv 24.10); antes, retiraram a força necessária das fraquezas, a fim
de realizar proezas em nome do Senhor. Eles não agiram com coragem somente
quando tudo estava sob controle, mas, sobretudo (e é aí onde a verdadeira
coragem aparece), quando tudo parecia dar errado, ou quando todos davam as
costas. José e Maria, seguindo esse modelo, demonstraram muita firmeza de
espírito em todos os embates que enfrentaram.
Nunca deixaram de
fazer o que era certo por medo dos poderosos. Eles tinham uma missão e não a
abandonariam sob nenhum pretexto. Esse sentimento de destemor integrava, com
muita veemência, os valores dos pais humanos do Nazareno. Por exemplo, José foi
fazer o recenseamento da família em sua terra natal nos últimos dias da
gravidez de Maria (Lc 2.1-4). Ele poderia ter fugido de sua responsabilidade,
por causa do estágio gestacional dela, mas não o fez. José foi cumprir sua
obrigação com sua casa. Isso é coragem e fé. A vida do simples e despretensioso
carpinteiro, de uma hora para a outra, entrou em ebulição. Mesmo assim, ele
permaneceu inabalável juntamente com Maria (Mt 2.19-21), e percorreu todos os
lugares que eram necessários, pela direção do Senhor. Neles nunca houve receio
em fazer a vontade do Altíssimo.
3. Uma
família de pais obedientes
Pais obedientes
geram, em regra, pelo bom padrão de conduta, filhos obedientes, e pais
desobedientes, também pela mesma regra, geram filhos desobedientes. Dessa
forma, eles têm uma extraordinária capacidade de influência sobre sua prole,
indo muito além das palavras: o exemplo. Havia um filósofo antigo que dizia:
“Existem pessoas que pensam que o exemplo é a melhor forma de ensino; estão
enganadas: é a única”. Não é à toa os filhos frequentemente seguirem a
profissão de seus pais, como aconteceu com Tiago e João (eram pescadores, como
seu pai Zebedeu) e com Jesus (carpinteiro, como seu pai), por exemplo.
José e Maria
sempre foram muito obedientes ao Senhor, e isso, certamente, foi importante
para Jesus “aprender a obediência” (Hb 5.8). Eles não tinham suas vidas por preciosas.
Qual o legado de um pobre carpinteiro e de uma simples camponesa que moravam
num canto empoeirado do mundo, subjugado pela nação mais poderosa da época,
para a humanidade? Resposta: a obediência. Ela gera benefícios inigualáveis,
tanto para si, como para a família. Os filhos de José e Maria puderam
experimentar isso, “quando aprenderam a obediência”. Eles, no fim de tudo,
transformaram-se em grandes expoentes da fé cristã. Seus pais foram obedientes
ao Todo-Poderoso, e eles o seriam também. Pais que andam com os filhos no
caminho do Senhor recolherão frutos abençoados no futuro, pois os filhos nunca
se desviarão (Pv 22.6).
1. Pobre
O Eterno escolheu
um homem pobre para exercer o papel de chefe da família de Jesus, e não um
super-homem. Tratava-se de alguém normal e que não se destacava por sua
intelectualidade. Aliás, esse homem nunca escreveu um livro. O negócio dele era
cortar árvores para transformá-las em móveis. Era, ao que tudo indica, de uma
simplicidade marcante, uma pessoa do povo, um carpinteiro, porém um homem cheio
de Deus e, por isso, o Senhor o colocou perto de uma mulher "cheia de
graça” que seria “bendita entre as mulheres”.
Em um mundo
rústico, de pessoas simples e com uma economia estrangulada por altos impostos,
não é fácil enriquecer honestamente. Este era o perfil da sociedade de Nazaré,
onde José e Maria moravam — uma pequena cidade encravada numa montanha, cuja
reputação não era das melhores no cenário nacional (Jo 1.46). E foi ali que a
família de Cristo viveu por longos anos.
A vida da família
do carpinteiro José não era fácil e, pela quantidade de filhos, a situação
financeira deveria ser complicada. Tudo leva a crer que eles não eram ricos
materialmente. Isso pode ser ratificado por alguns episódios bíblicos, conforme
se vê:
a) José e Maria, no oitavo dia do nascimento de Jesus, conforme a lei,
foram apresentar o Senhor no templo, quando levaram para sacrificar um par de
rolas — oferta dos casais pobres (Lc 2.21-24);
b) quando adulto, o Salvador diz
não ter um lugar onde reclinar a cabeça (Mt 8.20);
c) os discípulos de Cristo,
todos judeus, colheram espigas dos campos alheios, prerrogativa dos
estrangeiros ou pobres (Lv 19.9,10; Mt 12.1);
d) antes de entrar em Jerusalém,
Jesus pediu emprestado um jumentinho (Lc 19.29-35); e
e) por fim, a última
Páscoa foi celebrada em um cenáculo de outra pessoa (Lc 22.7-13). Todos esses
episódios corroboram o fato de que a família do Salvador era pobre (2 Co 8.9).
2.
Solidária
Solidariedade não
é somente ofertar o sobressalente, mas é, especialmente, a capacidade de
multiplicar as coisas através da divisão, em amor, como Cristo frequentemente
fazia. Os dois milagres da multiplicação dos pães e peixes, por exemplo, foram
gerados com base no princípio da solidariedade. Ao dividir o que tinha nas
mãos, houve a multiplicação! O Senhor poderia ter transformado pedras em pães e
relva em peixes, e o povo sairia alimentado fisicamente do mesmo jeito... e que
milagre seria! Entretanto, nisso não haveria ensinamento moral. Jesus não
perdeu a chance de oferecer, além dos ensinos proferidos naquele dia, uma tão
valiosa lição. Ele cria as coisas com um fim nobre, sempre, por intermédio de
canais que glorifiquem o seu nome.
A vida de José foi
marcada pela solidariedade. A primeira vez deu-se quando receberam os presentes
dos magos, notadamente o ouro, que deve ter fornecido condições para a família
do Messias se manter no Egito pelos anos que por lá palmilhou. Afinal, uma
antiga profecia dizia: "Do Egito chamei a meu filho” (Os 11.1).
O primeiro milagre
do Salvador ocorreu em um casamento, quando Maria intercedeu ao Senhor por um
problema dos outros — a falta de vinho (Jo 2.1-11). Muitos milagres de Jesus
foram realizados em solidariedade aos mais pobres, tais como as restaurações da
visão do mendigo Bartimeu, da saúde da mulher do fluxo de sangue (que perdera
tudo), a cura de um mendigo, que era cego de nascença (Jo 9), dentre outros.
Assim, a família do Messias era familiarizada com atitudes solidárias, o que
ensinou aos seus irmãos a se compadecerem dos mais pobres. Existe um provérbio
português que diz: "ninguém é tão pobre, que não possa dar, nem tão rico,
que não possa receber”.
Tiago, filho de
José e Maria, foi um dos que disseram ao apóstolo Paulo para lembrar-se dos
pobres (Gl 2.10,11) e também, em sua epístola, denunciou aqueles que desonravam
os pobres (Tg 2.5,6) e não ajudavam aos necessitados (Tg 2.15,16). É preciso
citar, igualmente, a determinação do Messias para João acolher Maria em sua
própria casa (Jo 19.26,27). O filho primogênito tinha o dever moral de deixar
sua mãe amparada. Jesus era Deus. Todavia, mesmo na hora da morte, continuou
sendo um bom filho, um filho solidário!
3.
Trabalhadora
O trabalho era
considerado algo inútil para os gregos antigos, devendo ser realizado somente
pelos pobres e ignorantes. No livro “A República”, Platão defende que o
trabalho manual não deveria ser valorizado, inclusive os trabalhadores não
integravam nenhuma classe de cidadania, pois “não lhes sobrava tempo para a
contemplação teórica da verdade e para a práxis política”. Ele, inclusive,
acreditava no ideal humano se concretizar na pessoa do cidadão filósofo,
liberto das responsabilidades da sobrevivência, podendo ser considerado, por
isso, um formador de opinião da classe dominante.
A família de
Cristo, longe de ser da elite da sociedade, era acostumada aos trabalhos
braçais (aliás, nada mais manual que um trabalho de carpinteiro). As tarefas
desenvolvidas pelo Filho do Altíssimo e sua família na carpintaria de José (Mt
13.55,56; Mc 6.3), portanto, poderiam escandalizar os filósofos gregos. Essa
semente de que o trabalho dignifica o homem foi lançada no seio da família do
Messias de maneira tão intensa que Tiago, filho de José e Maria, ao escrever
sua epístola, censurou os empresários que diminuíram os salários dos
trabalhadores (Tg 5.4). Está escrito: “(...) trabalhe, fazendo com as mãos o
que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade” (Ef
4.28). O Altíssimo sabia da pobreza de José e Maria. Isso, entretanto, era
importante para que Jesus vivesse intensamente sua humanidade.
1. Pais
cheios de fé
A fé foi o grande
diferencial de homens simples que se deixaram ser usados por Deus no Antigo
Testamento (Hb 11). Os heróis da fé, na Bíblia, sempre tiveram seus momentos de
medo. Apesar disso, animados pelo Senhor, seguiram em frente: Abraão (Gn 15.1),
Jacó (Gn 32.7,29,30), Moisés (Ex 2.14, 15), Josué (Js 1.1-9), dentre muitos
outros. No Novo Testamento, porém, a situação foi ainda mais complicada, pois
houve, segundo se presume, quatrocentos anos de silêncio profético. A última
profecia do Cânon Sagrado dizia sobre a vinda do “Sol da Justiça”, mas, antes
disso, “Elias” deveria aparecer (Ml 4.2,5). Por isso, a fé foi fundamental para
a realização do projeto maior do Altíssimo, pois o Eterno estava “em silêncio”
há muito tempo! E para piorar as circunstâncias, as estruturas da religião
judaica estavam profundamente apodrecidas. Os sacerdotes estavam vivendo apenas
de ritualismos e de tradições vãs. João Batista (o “Elias” esperado) veio para
denunciar esses desvios e anunciar a chegada do Messias, mas não obteve o êxito
em corrigir as condutas espirituais de seus conterrâneos. Por outro lado,
existia uma profunda deturpação da situação social, jurídica e política da
nação. Israel estava subjugada pelos romanos, os quais exigiam do povo o
pagamento de uma pesada carga tributária, que empobrecia ainda mais o povo.
Assim, para
enfrentar todos esses inimigos, era preciso muita fé. Os inimigos, para a
família do Salvador, estavam, dessa forma, dentro e fora da nação. Diante
disso, o Onipotente treinou o casal José e Maria logo nos primeiros momentos da
vida familiar. Afinal de contas, a fé move montanhas, como disse Jesus (Mt
17.20). É interessante como Deus enviou Gabriel para falar com Maria e nada
falou, pelo menos a princípio, para José (não seria mais fácil e mais lógico se
Gabriel tivesse falado logo com o casal!?). Deus, porém, tem o seu caminho na
tormenta e na tempestade (Na 1.3b). O Senhor estava amadurecendo a fé, a
confiança e a intimidade da nova família. Todos os passos tomados por José e
Maria foram baseados na fé, como Abraão. Deus disse a José, por exemplo, para
ir ao Egito, mas não explicou para qual cidade e nem o que ele e Maria deveriam
fazer por lá. Depois, o Senhor falou para ele voltar e, mais uma vez, o casal
agiu pela fé. Maria, mesmo sem entender a maior parte dos acontecimentos,
ficava calada, em oração, guardando no coração as coisas incompreensíveis que
se passavam (Lc 2.19). Isso que é fé! E saber que aquilo que Deus diz é
verdade, mesmo sem conhecer os caminhos a percorrer.
O medo pode
arruinar todos os sonhos, destronar todos os ideais, apequenar a alma. A fé,
por outro lado, é o antídoto contra o medo. José e Maria, pela fé, seguiram até
o fim. Ambos enfrentavam o medo e o venceram. Este é o mais frequente desafio
do cristão. Se o superar, nada o deterá. José e Maria, por isso, são exemplos
de fé para toda a cristandade.
R.N. Champlin
acredita que José morreu antes de o Nazareno completar trinta anos,
principalmente pelo fato de a Bíblia não o mencionar em nenhum momento do
ministério do Senhor, bem como pela circunstância de o Messias haver
determinado que João cuidasse de sua mãe Maria, “o que teria sido desnecessário
se José estivesse vivo”.
2. Filhos
incrédulos e zombadores
Por que os justos
sofrem?
Se Deus é bom e Todo-poderoso, por que existe o sofrimento no mundo?
São perguntas que têm inquietado parte da humanidade há milênios. Filósofos e
teólogos têm se digladiado sobre esse tema. O certo é que o Altíssimo nunca nos
garantiu um caminho tranquilo, porém sempre nos assegurou uma chegada segura.
Os irmãos de Jesus estavam em “pé de guerra” contra Ele, pois zombavam e
criticavam acidamente do Senhor (Jo 7.1-8). Isto tornou o clima familiar muito
desagradável. Certamente, Maria sofria bastante com aquela situação. Como pode
uma tempestade dessas se abater sobre uma família tão abençoada? Em Marcos
3.21, é visto a família do Messias considerando-o como louco e saindo para
prendê-lo. Eles não acreditavam que os milagres extraordinários e as pregações
arrebatadoras de grandes multidões de Cristo fosse obra divina. É muito triste
quando isso acontece em uma família que serve a Deus. São, no entanto,
episódios que, vez por outra, acontecem. E é fato que ninguém gosta de
tempestade. Primeiro, porque ela é uma disfunção da natureza. Depois, porque a
tempestade traz consigo ventos fortes, trovões, relâmpagos e chuva, neve ou
granizo... e o pior, surge inesperadamente. (Os "meteorologistas” devem
estar sempre atentos). Após sua passagem, revela-se o rastro do caos. Tudo fora
do lugar.
Deus, porém, usa a
tempestade para dar ensinamentos aos homens, e nenhuma pessoa está imune a ela.
Na verdade, não há ninguém que nunca tenha enfrentado uma tempestade na
família. A tempestade é democrática, atinge a todos. Por isso, é importante
fazer uma pequena abordagem sobre este fenômeno.
Existe a
tempestade formada por uma só "célula”, a mais simples, dando origem a um
acontecimento isolado. Esta é de curta duração e com pouca intensidade, pois
envolve apenas, digamos, um “problema”. Há, porém, tempestades complexas,
formadas por “várias células”, estabelecendo uma "supercélula” de
tempestade, como o Furacão Katrina que, durante nove dias, em 2005, destruiu
parte dos EUA. Neste caso, como se viu, o “problema” demorou mais tempo para
acabar, e sua força era bem maior.
Na vida dos
cristãos, igualmente, as tempestades podem durar menos ou mais tempo e, também,
podem se dar por um distúrbio ou por vários. Vai depender da nossa necessidade
de aprendizado. De um jeito ou de outro, Deus caminhará com o seu servo em meio
à tempestade, como um pai faz com seu filho, segurando-o pela mão, a fim de que
a criança não seja arrastada pelos fortes ventos. Nesses períodos de
turbulência, há um aumento de intimidade entre o filho e o pai, deixando marcas
indeléveis na criança, por toda a vida: marcas de amor. Certamente, Maria
desfrutou de muita intimidade com Deus nos momentos de tempestades. Com
sabedoria e humildade, ela contornou os obstáculos, como faz um rio, e assim
atingiu os objetivos traçados pelo Eterno.
3. Família
que vence a dúvida e o medo
Está escrito: “No
amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.” (1 Jo 4.18
ARA). O medo é um sentimento estagnante, apavorante, auto-mutilante. Ele pode
até surgir pequeno; entretanto, como possui um enorme potencial de crescimento,
é possível se tornar maior que o próprio homem, ser autodestrutivo, além de
mais relevante que o amor e a fé. O medo, dessa forma, acaba tornando-se um
impedimento para o crescimento espiritual. O Senhor Jesus foi referido na
Bíblia como o Cordeiro de Deus por sua mansidão e como o Leão da Tribo de Judá
por sua coragem. Ele não era medroso. Cristo enfrentou os maiores obstáculos
com uma confiança inabalável e se fiou no caráter do Pai, aceitando “correr os
riscos” de andar no caminho apertado de Deus (Mt 7.13,14).
A família do
Nazareno, logo após sua morte, lançou fora toda a dúvida e medo, que eram
obstáculos para seguir o Cristo. Seus irmãos e sua mãe ficaram em Jerusalém,
esperando o cumprimento da promessa do Salvador (At 1.14). Poucos dias depois,
o Espírito Santo revestiu de poder os crentes da Igreja Primitiva, no dia de
pentecostes, e tudo indica que, dentre eles, estavam os membros da família de
Jesus. A partir daí, quando os cristãos eram ameaçados, pediam coragem para
fazer a obra do Altíssimo (At 4.29-31). As palavras medo e dúvida, portanto,
não estavam mais em seus vocabulários.
A família de Jesus
não precisava ter mais medo de nada, nem de ninguém. Seus familiares
levantaram-se corajosamente para continuar a missão do Verbo Encarnado, que deu
a vida pelos seus irmãos.
Em 1 Co 9.5, há a
informação dos irmãos do Senhor atingindo uma posição de liderança na igreja em
Jerusalém. Em Gl 1.18-19, é relatada a visita de Paulo a Jerusalém, onde, além
de Pedro, encontrou Tiago, o irmão do Senhor. Em 1 Co 15.7, está registrada a
aparição do Redentor, depois de ressuscitado, a Tiago.
Segundo R.N. Champlin,
esse Tiago, irmão do Salvador, era conhecido como “o justo”, em face de sua
“estrita aderência à santidade cerimonial judaica e de sua austera maneira de
viver”. Ele teria sido o primeiro pastor da Igreja em Jerusalém, local onde
teria sofrido o martírio por apedrejamento, por ordem do sumo sacerdote Anano,
durante um tempo de ausência de autoridade civil, logo após a morte do
procurador Festo, no ano 61 d.C.
Em relação a
Judas, irmão de Jesus, o referido Champlin atesta que ele veio a tornar-se apóstolo,
existindo ainda a tradição de sua geração ter continuado servindo a Deus, ao
ponto de seus netos haverem sido ameaçados de morte pelo imperador Domiciano,
ante ao íntimo relacionamento do avô com o Senhor Jesus. Entretanto, depois de
o tirano observar que eles eram muito simples, pobres e rústicos, incapazes,
portanto, de fazer uma revolta, deixou-os em paz.
Essa é a grande
característica de uma família segundo o coração de Deus: no fim da estrada,
todos terminam bem e felizes. No caminho, aparecem muitos erros, decepções,
frustrações e momentos de tensões; todavia, como a família ama a Deus, todas as
coisas cooperam juntamente para a sua felicidade e bem (Rm 8.28). Maria ficou
amparada na casa de João, e os irmãos do Messias, que foram mencionados nos
evangelhos (nada é dito acerca de suas irmãs), foram feitos líderes
eclesiásticos e, pelo menos dois deles (Tiago e Judas) escreveram cartas do
Novo Testamento. O fim das coisas é melhor que o começo delas (Ec 7.8). Aquilo
que começou mal em família, pode melhorar e se tornar excelente com Deus. Este
é o retrato da família do Redentor.
Seus parentes
mudaram de vida, nasceram de novo e foram muito úteis ao Reino de Deus.
A família de
Cristo foi muita complexa, como a de todos nós, pois também era formada por
seres humanos falíveis! Eles até chegaram a duvidar e a temer. Apesar disso, ao
final de tudo, compreenderam o magnífico projeto do Altíssimo. Não é assim, por
acaso, que acontece cotidianamente? Membros de famílias cristãs infelizmente se
perdem ao longo da caminhada, mas depois, assim como o filho pródigo, retornam
ao lar paternal! É preciso orar e esperar. Deus está no controle!
"Os versículos 3 a 8 contêm o diálogo entre Jesus e seus irmãos. Eles falam pela primeira vez nos versículos 3 e 4, onde exortam Jesus a ir a Jerusalém para a Festa dos Tabernáculos - ocasião apropriada para Ele ir publicamente com suas declarações messiânicas, as quais, julgam, devem ser divulgadas de maneira ousada: 'Para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes'. Implícito está a noçãode que esta é a maneira de angariar seguidores - fazer sinais. Eles concluem no versículo 4 com a exortação de Ele se manifestar ao mundo.
O modo como os irmãos de Jesus falam claramente os coloca na categoria dos incrédulos. Jesus se distingue ainda mais dos seus irmãos. Seus irmãos foram vistos pela última vez em João 2. 12. Jesus não confiava neles, e também não confia agora. Nestes pequenos parágrafos, estes irmãos desempenham papel importante e tornam-se antagonistas de Jesus, aparecendo duas vezes (vv. 3,10). Eles estão com o mundo (que o odeia) em seu pecado e incapacidade de conhecer as coisas espirituais. Mais tarde, em João 20.17, Jesus envia uma mensagem a seus irmãos acerca de ir para o Pai, muito provavelmente a fim de encorajá-los a crer" (Comentário Bíblico Pentecostal. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, pp. 528,529).
Fonte:
Lições Bíblicas CPAD - 2ºtrim.2016 Eu e minha casa - Orientações da Palavra de Deus para a Família do Século XXI - Comentarista Reynaldo Odilo
Livro de Apoio - Eu e minha casa - Orientações da Palavra de Deus para a Família do Século XXI - Comentarista Reynaldo Odilo
Dicionário Bíblico Wycliffe - CPAD
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia Defesa da Fé
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