“De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem” Ec 12.13
Como investigadora da conduta ideal, a ética
propõe questões que avaliam os passos do homem apreciadas do ponto de vista do
bem e do mal.
Sendo assim, seu estudo foge do âmbito
estritamente humano e passa a ser motivo de aferição fundamentada na Palavra de
Deus, a Bíblia Sagrada que não muda ao sabor das circunstâncias.
Ética é uma questão pessoal ou coletiva?
Quais as implicações decorrentes do comportamento antiético para a igreja
local, para a comunidade onde ela está inserida e para a comunidade cristã como
um todo? É possível ser ético sem afastar-se do convívio com não crentes?
Isolar-se seria uma solução? A não observação dos preceitos éticos é a mesma
coisa que pecar?
Se fosse possível reduzir o conceito de
ética, a máxima poderia ser: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens
vos façam, fazei-lho também vós...” (Mateus 7.12).
O cristão, como sal da terra e luz do mundo, não só deve ser diferente, mas seu comportamento como cristão deve ser um referencial para a sociedade.
Leitura Bíblica: Romanos 14.22,23; 1 Coríntios
10.1-12,23,31,32.
Introdução
Entender
o que é certo e o que é errado, num mundo em que estão invertidos os valores
morais gravados por Deus na consciência do ser humano e ao mesmo tempo exarados
no Livro do Senhor, não é tarefa fácil. Graças a Deus, temos o maior e melhor
referencial ético que o mundo já conheceu: a Palavra de Deus. Ela é lâmpada e
luz divinas, tanto para nosso ser interior como para nosso viver exterior.
I. CONCEITUAÇÃO E
DEFINIÇÕES
1.
Ética como ciência secular. A Ética é um aspecto da filosofia. A Filosofia
está segmentada em seis sistemas tradicionais: Política, Lógica, Gnosiologia,
Estética, Metafísica e Ética que é o objeto de estudo.
Para
compreendermos melhor o sentido de Ética, vejamos, de forma sintética, em que
se constituem os outros aspectos aos quais ela está agregada no contexto
filosófico.
Dentre
suas muitas acepções, filosofia é o saber a respeito das coisas, a direção ou
orientação para o mundo e para a vida e, finalmente, consiste em especulações
acerca da forma ideal de vida. Em suma, é a história das ideias. Tudo isto sob
a ética humana. Precisamos aferir o pensamento humano com os ditames da Palavra
de Deus que são terminantes, peremptórias, finais. O homem, seja ele quem for,
é criatura, mas Deus é o Criador (Os 11.9; Nm 23.19; Rm 1.25; Jó 38.4).
Todos
os campos de pensamento e de atividades têm suas respectivas filosofias. Há uma
filosofia da biologia, da educação, da religião, da sociologia, da medicina, da
história, da ciência etc. Consideremos entretanto, os seis sistemas acima
mencionados que foram sistematizados por três antigos pensadores: Sócrates,
Platão e Aristóteles.
a) Política — Este vocábulo vem do grego polis e significa “cidade”. A
política procura determinar a conduta ideal do Estado, pelo que seria uma ética
social. Ela procura definir quais são o caráter, a natureza e os alvos do
governo. Trata-se do estudo do governo ideal.
b) Lógica — É um sistema que aborda os
princípios do raciocínio, suas capacidades, seus erros e suas maneiras exatas
de expressão. Trata-se de uma ciência normativa, que investiga os princípios do
raciocínio válido e das inferências corretas quer seja partindo da lógica
dedutiva quer seja da indutiva.
c) Gnosiologia — É a disciplina que estuda o
conhecimento em sua natureza, origem, limites, possibilidades, métodos, objetos
e objetivos.
d) Estética — É empregada para designar a
filosofia das belas-artes: a música, a escultura e a pintura. Esse sistema
procura definir qual seja o propósito ou ideal orientador das artes,
apresentando descrições da atividade que apontam para certos alvos.
e) Metafísica — Refere-se a considerações e
especulações concernentes a entidades, agências e causas não materiais. Aborda
assuntos como Deus, a alma, o livre arbítrio, o destino, a liberdade, a
imortalidade, o problema do mal etc.
f) Ética — É a investigação no campo da
conduta ideal, bem como sobre as regras e teorias que a governam. A ética, o
homem distanciado de Deus por sua incredulidade e seus pecados, a estuda,
entende e até se propõe a observá-la, mas não consegue, por estar subjugado
pelo seu eu, pelos vícios, pelo mundo, pelo pecado (Rm 2.15-19). Já os servos
de Deus, pelo Espírito Santo que neles habita, triunfam sobre o pecado (Rm 8.2).
Existem
inúmeros argumentos e considerações acerca deste tema, que será tratado aqui do
ponto de vista da ética bíblica a qual expõe Deus como fundamento e alvo da
conduta ideal.
2.
Origem da palavra. Ética vem do grego, ethos, que significa “costume”, “disposição”,
“hábito”. No latim, vem de mos(mores), com o sentido de vontade, costume, uso,
regra.
3.
Definição. Ética é, na prática, a conduta ideal e reta esperada de cada
indivíduo. Na teoria, é o estudo dos deveres do indivíduo, isolado ou em grupo,
visando a exata conceituação do que é certo e do que é errado. Reiterando,
Ética Cristã é o conjunto de regras de conduta, para o cristão, tendo por
fundamento a Palavra de Deus. Para nós, crentes em Jesus, o certo e o errado
devem ter como base a Bíblia Sagrada, a nossa “regra de fé e prática”.
O
termo ética, ethos, aparece várias vezes no Novo Testamento, significando conduta,
comportamento, porte e compostura (habituais).
A
ética cristã deve ser fundamentada no conhecimento de Deus como revelado na
Bíblia, principalmente nos ensinos de Cristo, de modo que “...ele morreu por
todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por
eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5.15; Ef 2.10).
II. VISÃO GERAL DA
ÉTICA SECULAR E DA ÉTICA CRISTÃ
1.
Antinomismo. (ausência de normas)
Esse ensino errôneo é humanista e secular. Tudo depende das
pessoas, e das circunstâncias. O filósofo incrédulo e existencialista Jean Paul
Sartre, um dos seus promotores, afirma que o homem é plenamente livre. Num dos
seus textos, ele escreve: “Eu sou minha liberdade; eu sou minha própria lei”.
a) Posicionamento cristão. Esta
teoria não serve para o cristão. Nela, o homem se faz seu próprio deus. A
Bíblia diz: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os
caminhos da morte” (Pv 14.12). “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a
Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem” (Ec
12.13). O antinomismo é relativista, isto é, cada um age como quiser. É o que
ocorria com o povo de Israel quando estava desviado, sem líder e sem pastor (Jz
17.6 e 21.25).
2.
Generalismo.
Essa falsa doutrina prega que devem haver normas gerais de
conduta, mas não universais. A conduta de alguém para ser chamada de certa ou
errada depende de seus resultados. É o que ensinava, no século XV, o descrente,
político e filósofo italiano Nicolau Maquiavel: “Os fins justificam os meios”.
a) Posicionamento cristão. O
generalismo não se coaduna com a ética cristã, pois, para o crente em Jesus,
não são os fins, nem os meios, que indicam se uma conduta ou ação é certa ou
errada. A Palavra de Deus é que é a regra absoluta que define se um ato é certo
ou errado. Ela tem aplicação universal. O dever de todo homem é temer a Deus e
guardar seus mandamentos (Ec 12.13). A Palavra de Deus não muda de acordo com
as circunstâncias, os meios ou os resultados. Deus vela para a cumprir (Jr
1.12b; Mc 13.31).
Há
outras modalidades, formas e expressões da ética secularista, como o
situacionismo, o absolutismo e o hierarquismo, mas nada disso se coaduna ou se
enquadra na ética bíblica, tanto a declarativa, como a tipológica e a
ilustrativa. Estamos mencionando estas formas aqui porque o mundo fala muito
nelas, mas não as cumpre.
O
cristão ortodoxo na sua fé, e fiel ao seu Senhor, terá sempre no manancial da
Palavra de Deus tudo o que carece sobre a ética, na sua expressão prática em
forma de conduta, compostura, costumes, usos, hábitos e práticas diuturnas da
nossa vida para agradar a Deus e dar bom testemunho dEle diante dos homens.
CONCLUSÃO
As
abordagens éticas humanas são todas contraditórias. Como seus autores, humanos
e falhos. Uma, como vimos, procura suprir as deficiências das outras. As
abordagens éticas conflitam entre si, deixando um rastro de dúvida e confusão
em sua aplicação. Por isso, devemos ficar com a Palavra de Deus, que não
confunde o crente, nem pode ser deixada de lado ao sabor dos meios, dos fins ou
das situações. A Palavra de Deus satisfaz plenamente.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Princípios morais, que são os
mais abrangentes e importantes conceitos éticos, não se aplicam a algumas
atividades, mas a todas.
São, portanto, princípios sem
exceção, que não cedem a qualquer tipo de conveniência. ‘Que é o que o Senhor
pede de ti... senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes
humildemente com o teu Deus?’ (Mq 6.8). Nunca estamos dispensados de agir em
justiça e amor.
Observe esses dois princípios
neste contexto. Ambos se referem a pessoas, à maneira justa de tratá-las, e
interesse em seu bem (bem mais elevado, e não apenas alegria ou sucesso na
vida). ‘O Senhor faz... justiça a todos os oprimidos’ (Sl 103.6) e devemos
fazê-lo também. Leis justas, governo justo, economia justa, preços justos,
salários justos, relações equânimes entre marido e mulher fiéis um ao outro,
relação pacífica equânime também entre as nações deste mundo. Devem ser esses os
nossos conceitos, pois procedem de Deus (Is 9.2-7; 11.1-5). A justiça é um
princípio distributivo que trata igualmente as pessoas” (Ética: As Decisões Morais à Luz da Bíblia. CPAD, pág.60).
“A relevância do sal e da luz
pode ser notada pelos efeitos que exercem. Se o sal for insípido, perderá
totalmente o seu valor. Se a luz estiver apagada ou escondida, nenhum benefício
trará ao ambiente. Partindo desse pressuposto, há três aspectos em que se
espera a valorização da relevância cristã.
O primeiro é pelo exemplo.
Atitudes falam mais alto do que mil palavras. Quando o nosso comportamento não
condiz com o que falamos, de nada adianta eloquência e verbosidade, porque o
que fica é a marca do que fazemos. As palavras vão ao vento, mas os traços do
nosso exemplo, bom ou ruim, permanecem. A falta de lisura e nitidez em nossas
ações leva-nos à perda da credibilidade naquilo que propomos e à consequente
ausência de relevância do ponto de vista da fé. Foi o testemunho de Eliseu que
permitiu à sunamita identificá-lo como homem de Deus.
Nossos atos podem ser positivos
ou negativos e sempre terão influência para o bem ou para o mal. Quanto mais a
nossa vida é exposta ao público, os rastros de nossas ações terão número cada
vez mais considerável de seguidores, que, em muitos casos, não questionarão o
que fazemos, mas simplesmente copiarão o nosso modelo tal é a força do exemplo”
(A Transparência da Vida Cristã. CPAD,
pp.51,52).
VOCABULÁRIO
Absolutista: Dominador,
tirânica, despótica.
Circunstância: Situação,
estado ou condição de coisa(s) ou pessoa(s), em determinado momento.
Coadunar: Juntar,
incorporar, reunir; conformar, combinar.
Estética: Tradicionalmente,
estudo racional do belo, quer quanto à possibilidade da sua conceituação, quer
quanto à diversidade de emoções e sentimentos que ele suscita no homem.
Gnosiologia: Conhecimento,
sabedoria.
Induzir: Causar, inspirar,
incutir; inferir, incitar, sugerir, persuadir.
Lógica: Conjunto de
estudos que visam a determinar os processos intelectuais que são condição geral
do conhecimento verdadeiro.
Metafísica: Filosofia, ou
parte da filosofia, cujo objetivo é a investigação da realidade última das
coisas. Seu ramo de estudo é a essência do ser. É o estudo do ser enquanto ser.
A Metafísica é também conhecida como Filosofia Primeira.
Radicalista: Doutrina ou
comportamento dos que visam a combater pela raiz as anomalias sociais mediante
a implantação de reformas absolutas.
Subjetivista: Tendência a
reduzir toda a existência à existência do pensamento em geral; idealismo
subjetivo.
Fonte: Ética Cristã - Confrontando as questões morais - Elinaldo Renovato de Lima - Lições Bíblicas CPAD_3º Trim.2002
Bibliografia:
COUTO, G. A Transparência da Vida Cristã. CPAD.
CABRAL, E. A Síndrome do Canto do Galo: Consciência Cristã. Um Desafio à Ética dos Tempos Modernos.
HOLMES, A. F. Ética: As Decisões Morais à Luz da Bíblia. CPAD.
PALMER, M. D. (ed.) Panorama do Pensamento Cristão. CPAD.
Fonte: Ética Cristã - Confrontando as questões morais - Elinaldo Renovato de Lima - Lições Bíblicas CPAD_3º Trim.2002
Bibliografia:
COUTO, G. A Transparência da Vida Cristã. CPAD.
CABRAL, E. A Síndrome do Canto do Galo: Consciência Cristã. Um Desafio à Ética dos Tempos Modernos.
HOLMES, A. F. Ética: As Decisões Morais à Luz da Bíblia. CPAD.
PALMER, M. D. (ed.) Panorama do Pensamento Cristão. CPAD.
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