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domingo, 5 de junho de 2016

A Ética Cristã e os Dez Mandamentos

Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” Mt 5.17,18

“Assim, todas as normas cerimoniais, morais ou cívicas da lei mosaica, apesar do seu caráter local e transitório, não cabendo à igreja observá-las na realidade cultural contemporânea, foram embasadas nos princípios de caráter explicitamente moral e espiritual que aparecem na mesma lei, cuja universalidade está clara nas Escrituras. São válidas para ‘todas as pessoas, em todas as épocas e em todos os lugares’. São esses princípios que o Senhor reitera no Sermão do Monte e declara de maneira contundente a sua importância como marco distintivo do Reino de Deus. São referenciais permanentes e imutáveis que se aplicam em qualquer cultura e expressam não só o padrão de santidade exigido por Deus, mas também o tipo de reação que se espera do crente diante das diferentes circunstâncias da vida” (A Transparência da Vida Cristã. CPAD, p.71).

Jesus não cancelou os dez mandamentos. Em sua doutrina, Ele deu-lhes um caráter notadamente espiritual e abrangente, valorizando mais o interior do homem, sem desmerecer seu exterior.

Se o estudo da ética está subordinado à apreciação da conduta humana, ele é, acima de tudo, uma observação do exercício da vida diária, da prática do que é justo e reto movido pela obediência às Escrituras. Não pense que os dez mandamentos foram abolidos com a chegada do Evangelho. Ao contrário, a ética cristã está baseada no Decálogo, coroada pelo amor e graça de Deus. Jesus é a expressão máxima de inauguração deste novo procedimento ao lançar o foco de atenção para o interior do homem, buscando nele o que poderia haver de mais precioso, um coração puro. Quando isto não era possível, Ele mesmo operava o milagre da regeneração cumprindo a razão única de sua manifestação em carne: “Eu vim para que tenham vida...”.

INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Decálogo: Os Dez Mandamentos revelados por Deus, por meio de Moisés. Os primeiros cinco dizem respeito aos deveres do homem para com o Senhor; os outros cinco, do homem para com o semelhante.

Jesus declarou enfaticamente no Sermão do Monte que não veio descumprir a lei e, sim, cumpri-la, e o fez, de forma plena em relação ao que o povo de Israel praticava na antiga aliança. Assim, podemos ver que a ética cristã tem por base o decálogo, no que concerne a seu aspecto espiritual e moral, e posta em prática através do amor e da graça de Deus. A ética procedente dos dez mandamentos tem seu apogeu na ética cristã, no ensino e na vida de Cristo, como nos mostram os Evangelhos.

I. JESUS VALORIZOU OS DEZ MANDAMENTOS

1. Uma questão fundamental. Um jovem judeu aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: “Bom Mestre, que farei para conseguir a vida eterna?” (Mt 19.16). A pergunta do rapaz reflete o desejo consciente ou inconsciente de todas as pessoas. O jovem pensava que podia fazer por si mesmo alguma coisa, alguma boa obra, para assim, ser salvo. E entendia que a salvação dependia de seu esforço pessoal.

2. A resposta inquietadora de Jesus. Deixando de lado o lisonjeiro tratamento do jovem, Jesus lhe respondeu: “Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mt 19.17). Jesus sabia que estava diante de um moço educado sob as regras éticas do judaísmo, em que a prática de atos exteriores era mais importante do que o ser e o sentir espiritual; o formal era mais valioso do que o real; o exterior era mais valioso do que o interior.

3. A guarda dos mandamentos. Indagado pelo jovem sobre quais mandamentos para se entrar na vida, Jesus disse: “Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19.18,19). O moço disse que cumpria tudo desde a sua mocidade. Jesus, conhecendo seu coração, lhe ordenou que vendesse o que tinha para dar aos pobres. Diante desse mandato, o jovem saiu triste e decepcionado. O moço não era um tão terrível pecador, mas não estava disposto a abrir mão da sua fortuna para cumprir o “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus começou por Êxodo 20.13 e terminou com Levítico 19.18. À luz da ética cristã, o que importa não é só o não fazer, mas o praticar o que é justo e reto, movido pelo amor e de acordo com a vontade de Deus.

4. O cumprimento da lei. No Sermão da Montanha, Jesus foi categórico, ao afirmar que não veio para revogar a lei, mas para cumpri-la (Mt 5.17-19). Com tal expressão, Jesus quis mostrar que, não obstante ter Ele instaurado uma nova aliança, o essencial do decálogo não estava ab-rogado. Tão somente, Ele trouxe uma nova maneira de cumprir a Lei, valorizando o interior, muito mais do que o exterior. Tal entendimento é fundamental para a consistência e solidez da ética cristã.

II. UM NOVO SENTIDO PARA O DECÁLOGO

1. “Não matarás” (Êx 20.13).
a) No Antigo Testamento. O sexto mandamento da Lei de Moisés proibia tirar a vida de uma pessoa. Em Mateus 5.21, Jesus disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo”. O matar em Êxodo 20.13 refere-se, no original, a matar de modo premeditado, deliberado e doloso.

b) Na ética de Cristo. “Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu do Sinédrio! e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno” (Mt 5.21,22). Na ética de Cristo, a prevenção é mais importante que a correção. Ele condena, não apenas o ato de matar, mas as causas que levaram ao crime: a ira, a cólera e a agressão verbal, entre outras. No Antigo Testamento, só era condenado quem matasse. No Novo, é condenado quem se encoleriza ou maltrata seu irmão. A reconciliação é o remédio para a ira (vv.22-26).

2. “Não adulterarás” (Êx 20.14; Dt 5.18). O sétimo mandamento visava valorizar e proteger a família e o casamento, livrando-o dos males funestos e destruidores da infidelidade conjugal, bem como defender a pureza sexual.

a) No Antigo Testamento. “Ouviste o que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério” (Mt 5.27). O adultério só era realmente condenado se ocorresse a conjunção carnal.

b) Na ética de Cristo. “Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mt 5.28). A exigência agora é muito maior, porque parte dos motivos, e não apenas do ato. Cristo não apenas condena o ato, mas os pensamentos impuros, as fantasias sexuais, envolvendo uma pessoa que não é o cônjuge do transgressor. É condenado o “adultério mental”. O décimo mandamento abrange esse pecado (Êx 20.17 e Dt 5.21).

3. O divórcio (Dt 24.1). O homem podia desquitar-se ou divorciar-se de sua esposa por motivos os mais diversos, mesmo que não houvesse infidelidade.

a) No Antigo Testamento. “Também foi dito: qualquer que deixar sua mulher, que lhe dê carta de desquite” (Mt 5.31). O marido podia repudiar sua mulher, caso não achasse “graça em seus olhos”, ou por “achar nela coisa feia”, e a mandava embora de casa.

b) Na ética de Cristo. “Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério” (Mt 5.32). Na vigência da Lei, o homem podia deixar sua mulher “por qualquer motivo” (Mt 19.3); a partir de Cristo, só a infidelidade (em suas diversas formas) justifica a separação, caso não haja perdão do cônjuge ofendido. Em nossos tempos, tal caso piora em relação à mulher como transgressora, como se o homem não fosse igualmente transgressor.

4. Não tomar o nome do Senhor em vão (Êx 20.7 e Lv 19.12). Era o terceiro mandamento, que proibia o homem jurar falsamente em nome do Senhor.

a) No Antigo Testamento. “Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor” (Mt 5.33).

b) Na ética de Cristo. “Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus, nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei, nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna” (Mt 5.34-37). Com Cristo, a integridade no falar é mais importante do que fazer juramentos formais.

5. Olho por olho, e dente por dente (Êx 21.24). A “pena de Talião” funcionava no Antigo Testamento.

a) No Antigo Testamento. “Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente” (Mt 5.38).

b) Ética de Cristo. “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Mt 5.39-41). A conduta cristã é, no Novo Testamento, mais exigente do que era no Antigo. Dar a outra face a quem lhe bater, mesmo no sentido figurado, não é comportamento comum ou fácil de praticar, mesmo pelo mais santo dos crentes. Só com a graça de Deus e o poder do Espírito Santo é possível cumprir esse preceito ético. Isso ocorre com frequência em tempos de perseguição à Igreja. Numa época como a atual em que há um endeusamento dos direitos humanos, um crente precisa ter um acurado discernimento espiritual se vier a perseguição.

6. O amor ao próximo. A Lei mandava amar o próximo (Lv 19.18b).
Mas os religiosos acrescentavam à Lei: “Aborrecerás o teu inimigo”; algo que Deus nunca ordenou.

a) No Antigo Testamento. “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo” (Mt 5.43). O “próximo” eram só os judeus, suas famílias e suas autoridades; o “inimigo”, os gentios.

b) Na ética de Cristo. “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.44,45). Esta visão engrandece o conceito do amor, sendo também um verdadeiro teste para o cristão em todos os tempos. O Mestre não admite o sentimento do ódio, nem mesmo a um inimigo. Deus ama a todos (Jo 3.16); devemos fazê-lo também para sermos seus filhos. (ver 1 Pe 2.23).

CONCLUSÃO
Nesta lição, vemos que os princípios espirituais e morais do Decálogo integram-se às leis do reino de Cristo, expostas no Sermão do Monte. Os antigos cumpriam os mandamentos e estatutos, em Israel, de modo formal e frio; se, para os homicidas havia condenação, os que odiavam ficavam impunes. Contudo, Jesus deu aos mandamentos um sentido muito mais elevado, aprofundando e ampliando o seu entendimento, tornando-os instrumentos da justiça, bondade e amor de Deus.



VOCABULÁRIO
Ab-rogar: Pôr em desuso; anular, suprimir, revogar, derrogar.
Categórico: Claro, explícito, positivo.
Escabelo: Banco pequeno para descanso dos pés.
Funesto: Que fere mortalmente; fatal, mortal; danoso, nocivo, ruinoso.
Incisivo: Decisivo, pronto, direto, sem rodeios.
Lisonjeiro: lisonjear servilmente, adulador, bajulador.
Revogar: Tornar nulo, sem efeito; anular, invalidar.
Sinédrio: Supremo tribunal dos judeus, formado por sacerdotes, anciãos e escribas — julgava os atos criminosos e administrativos, referentes às tribos ou a cidades, até a destruição de Jerusalém em 70 d.C. Ocupava-se, também, da religião prática: o cuidado com o Templo e a investigação dos direitos dos mestres religiosos.

Fonte:
Ética Cristã - Confrontando as questões morais - Elinaldo Renovato de Lima - Lições Bíblicas CPAD_3º Trim.2002
Bibliografia:
COUTO, G. A Transparência da Vida Cristã. CPAD.
HOLMES, A. F. Ética: As Decisões Morais à Luz da Bíblia. CPAD.
PALMER, M. D. (ed.) Panorama do Pensamento Cristão. CPAD. 


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Um comentário:

  1. E por que o quarto mandamento da "lei de Deus" que foi escrito pelo próprio dedo de Deus, deixou de ser cumprido....Constantino, que era pagão portando, idólatra (adorava a ídolos) , introduziu dentro do cristianismo a adoração de imagens. E isso, depois que o Novo Testamento já tinha sido completado e que todos os apóstolos já tinham morrido, no dia 7 de março de 321 AD, Constantino o Grande promulgou a primeira lei civil acerca do domingo, ordenando que todas as pessoas do império romano, exceto os fazendeiros, deveriam descansar no domingo.
    Foi o primeiro Decreto Dominical. De 07/03/321, e dizia o seguinte:
    “Devem os magistrado e as pessoas residentes nas cidades repousar, e todas as oficinas serem fechadas no venerável dia do Sol… ”

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