“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam” 1Co 10.23
Corrupção,
degradação dos valores interiores, relativização da vida humana. As questões
são muitas. Os desafios, tensos. Não poucos cristãos se veem na encruzilhada da
ética. Por exemplo, diante de uma gravidez, quando se recebe um diagnóstico
assustador acerca do bebê, é possível continuar a crer na sacralidade da vida?
Ou diante do sonho da maternidade é possível continuar ético e bíblico para não
manipular diversos embriões (sabendo que na fertilização in vitro a
maioria dos embriões se perde) em nome desse sonho? A resposta para essas e
outras perguntas dependerá da convicção ética que a pessoa tem segundo as
Sagradas Escrituras.
Neste trimestre, o
tema da Ética é o objeto do nosso estudo. Como introdução ao assunto, é
importante o prezado professor, a prezada professora, procurar dominar os
conceitos de “ética” e de “moral”, distinguindo-os com clareza. Aqui, podemos
iniciar esse trabalho com o auxílio do filósofo cristão norte-americano, Arthur
Holmes, que descreve a ética da seguinte forma: “a ética trata do bem (isso é,
dos valores e virtudes que devemos cultivar) e do direito (isso é, de quais
devem ser as nossas obrigações morais). Ela avalia pontos de vista alternativos
do que é o bem e o direito; explora caminhos para alcançarmos o conhecimento moral
de que necessitamos; indaga por que devemos agir com correção e, a partir daí,
conduz a problemas morais práticos, que estimulam a assim pensarmos
prioritariamente” (Ética: As decisões morais à luz da Bíblia, CPAD, p.10).
A partir dessa descrição podemos perceber que a questão da moral,
diferentemente da “ética”, se atém à prática das ações do bem viver. Nesse
sentido, a ética aponta para as práticas virtuosas, ou seja, ela fundamenta a
moral.
No caso da Ética
Cristã, seu objeto de reflexão susta-se de acordo com os princípios morais
desenvolvidos ao longo das Escrituras. A lei moral que promana da Bíblia é
refletida hoje em nossa sociedade; ou seja, os princípios morais postos nas
Escrituras, e manifestos por meio da cultura judaico-cristã, estão claramente
presentes em nossa cultura ocidental.
Já que é impossível
esgotarmos todos esses princípios neste espaço, sugerimos que aprofunde os
estudos das seguintes seções bíblicas: O Decálogo, a Mensagem dos Profetas, a
Mensagem dos Evangelhos, o Sermão do Monte, os aspectos éticos das Epístolas
Paulinas e Gerais. Bom trimestre! - Revista Ensinador Cristão nº73
As Escrituras Sagradas ensinam o que convêm à virtude do bem-viver cristão em sociedade.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - 1 Coríntios 10.1-13
Caro professor, prezada professora, mais um trimestre chegou. Para se ter uma abrangência do conteúdo que desenvolveremos nestes três meses é importante conhecer as ideologias que predominam o século XXI. Por isso, procure pesquisar os seguintes temas:
1) Relativismo;
2) Materialismo;
3) Pós-Modernismo.
Entender esses assuntos permitirá que você tenha um arcabouço seguro para compreender a atualidade do tema deste trimestre: Valores Cristãos — Enfrentando as questões morais de nosso tempo.
Estudar ética é muito importante para o aperfeiçoamento dos nossos relacionamentos e conduta na sociedade. Entretanto, neste trimestre, veremos que a Ética Cristã difere da secular. Enquanto esta se fundamenta em valores materialistas e relativistas, aquela tem como eixo a Palavra de Deus, a revelação divina imutável. Assim, como vivemos em uma época onde os conceitos pós-modernos relativizam as doutrinas cristãs, é relevante identificarmos os principais fundamentos da Ética Cristã a fim de aperfeiçoar nossa vida de comunhão com Deus e testemunho cristão à sociedade (Mt 5.13,14).
Historicamente, o conceito de ética surgiu na Grécia antiga, período que coincide com o século IV a.C. Na prática, a ética sempre fez parte do dia a dia da humanidade. Quando os códigos ainda não estavam escritos e positivados, a própria consciência estabelecia a ética a ser observada (Rm 2.14,15). As Sagradas Escrituras contêm os fundamentos da ética para a sociedade humana. No Antigo Testamento, Deus revelou instruções éticas específicas. Nos Evangelhos, encontramos os ensinamentos éticos de Jesus. Nas epístolas neotestamentárias, o tema está amplamente registrado.
I. O CONCEITO DE ÉTICA CRISTÃ
O filósofo e educador Cortella (1954-) apresenta uma definição para ética que em muito se assemelha com os textos bíblicos:
Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: 1. quero? 2. devo? e 3. posso? Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve. (CORTELLA, 2014)
De fato, de maneira simples e genérica, a ética cristã está relacionada às respostas de tais questões. O apóstolo Paulo, de certo modo, ensina a prática da ética, sob esses aspectos: o que quero, devo e posso. Ele afirma que tudo é lícito, mas que nem tudo convêm e nem tudo edifica, portanto, o cristão não pode e nem deve se deixar dominar por aquilo que foge da ética cristã (1 Co 6.12).
1. Definição Geral
A palavra “ética” possui origem no vocábulo grego ethos, que literalmente significa “costumes” ou “hábitos”. No latim, é usado o termo correspondente mos (moral) com o sentido de “normas” ou “regras”. Assim, “ética e moral referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros” (CHAUÍ, 1995, p. 340). Como esses termos, “ética” e “moral”, são muito próximos, eles são muitas vezes confundidos e usados como sinônimos. No entanto, para fins didáticos e acadêmicos, é possível defini-los separadamente.
2. Ética e Moral
A ética enquanto ciência pode ser entendida como a parte da filosofia que investiga os fundamentos da moral adotados por uma cultura. Foram os filósofos gregos que começaram a estudar esses fundamentos para então “identificar” uma pessoa como sendo boa ou má e também um ato como sendo bom ou mau. A partir desses fundamentos, alguém pode ser classificado como “ético” ou “antiético”.
Pode-se afirmar, por exemplo, que a ética de Platão (427-347 a.C.) era “transcendente” e “deontológica”. Essa teoria acredita que a noção do correto é algo moralmente bom em si mesmo. Nesse caso, a fundamentação do certo e do errado está ligada ao bem-estar da alma, um estado inerente ao ser humano e procedente de um mundo superior. Aqui o homem obedece ao dever, independentemente das consequências que a obediência pode resultar para si ou para os outros (PALLISTER, 2005, p. 20).
Em contrapartida, com Aristóteles (384-322 a.C.) surgiu a ética “imanente” e “teleológica” ou “utilitária”. Essa teoria argumenta que o correto só pode ser definido a partir das consequências que um ato ou uma ação possa produzir. Aqui a fundamentação do certo e o errado procedem do mundo dos homens e depende apenas da utilidade e do bem-estar que as ações do indivíduo podem resultar para si ou para os outros.
A moral, por sua vez, refere-se ao comportamento das pessoas e às reações dos indivíduos que compõem uma sociedade em relação às regras estabelecidas pela ética. Como observado, essas regras podem ser diferentes de uma cultura para outra e ainda podem ser modificadas de acordo com as transformações vividas pelos grupos sociais. Tudo depende da fonte de autoridade que lhes serve de fundamento para os padrões de conduta.
Quando se analisa as teorias éticas acima discutidas, percebe-se que na “deontológica” é o princípio da ação moral que é bom ou mau independentemente do seu resultado. Já na teoria “teleológica”, o princípio moral é substituído pela previsão racional das vantagens e desvantagens que determinada ação pode produzir. No primeiro caso, os atos morais, mesmo corretos, podem prejudicar a si e ao outro. No segundo caso, a moral se relativiza, busca não se prejudicar evitando o sofrimento, e assim pode servir para legitimar a máxima que diz “os fins justificam os meios”.
3. Ética Cristã
A ética cristã tem como objetivo indicar a conduta ideal para a retidão do comportamento humano. O fundamento moral da ética cristã são as Escrituras Sagradas. Portanto, a ética cristã não se modifica e nem se relativiza. Desse modo, a ética cristã não pode ser desassociada da moral e dos bons costumes preconizados nas doutrinas bíblicas.
Sob esta concepção, os pais da Igreja adotaram a ética “transcendente” e “deontológica”. Isso significa que a vida ética cristã procede de um Deus transcendente e pessoal que concede ao ser humano a capacidade de viver a verdadeira moral. Agostinho de Hipona, na obra Cidade de Deus (escrita entre 413-426 d.C.), reconhece que a graça de Deus é indispensável para transformar o caráter humano e fazê-lo viver de acordo com os padrões morais divinamente estabelecidos. Para Agostinho, a educação, a meditação, os códigos e as leis, por si mesmas, não conseguem levar o homem a agir de modo ético.
Na perspectiva de Agostinho, a ética cristã só poderia ser vivida quando o cristão experimentasse a verdadeira regeneração. O mero esforço humano servia unicamente para disfarçar a natureza caída. A eventual virtude demonstrada por alguém era algo temporário, falso e aparente. Somente a genuína regeneração faria o homem verdadeiramente virtuoso. Tomás de Aquino discordou e propôs algumas modificações nessa visão agostiniana. Aquino considerava que as leis humanas não somente inibiam a prática do mal, mas também podiam moldar pessoas de boa índole. O ensino de Aquino não deixou de “ser transcendente e deontológico”, contudo, permitiu flexibilizar a ética.
Com o advento da Reforma Protestante (1517), os reformadores restauraram a ética de Agostinho, defenderam a revelação bíblica como única infalível e inerrante regra de fé e conduta (Sola Scriptura) e a estenderam a todos os homens. Assim, a ética protestante reafirma a doutrina bíblica de que todos serão julgados à luz do conhecimento que tiveram de Deus. E, de acordo com o apóstolo Paulo, quando esse conhecimento for parcial, os homens serão julgados pela lei escrita em seus corações (Rm 2.14-16).
4. Princípios da Ética Cristã
A principal fundamentação para a ética cristã encontra-se na revelação divina. Desse modo, os princípios adotados pela ética cristã são bíblicos, e, portanto, imutáveis. Em consequência, os princípios bíblicos têm aplicação hoje, assim como o tiveram antigamente. Aquilo que a revelação bíblica considera como pecado, permanece sendo pecado. A lei divina não pode ser revogada e ajustada aos interesses humanos. Esses princípios são universais e por isso não se admite uma ética cristã diferente de uma cultura para outra cultura. Os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mutações. A verdade bíblica não pode ser relativizada ou flexibilizada para atender o egoísmo e o hedonismo da raça humana. O texto bíblico permanece inalterado e imexível. Por isso, os valores cristãos são permanentes, pois a fonte de autoridade é permanente. Quanto a esta realidade, Cristo afirmou: “o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mt 24.35).
II. FUNDAMENTOS DA ÉTICA CRISTÃ
Como já afirmamos no tópico anterior, a ética cristã tem como principal fundamento o texto inspirado das Sagradas Escrituras. É verdade que não se pode desprezar a tradição da Igreja, as leis civis e criminais, as variadas literaturas e nem tampouco os bons costumes adotados pela sociedade; entretanto, para o cristão, toda e qualquer prática e conduta precisa passar pelo crivo e pelo aval da Palavra de Deus (Hb 4.12). Nesse sentido, a Bíblia Sagrada foi reafirmada na Reforma Protestante como sendo o principal fundamento da fé cristã. Lutero e outros reformadores combateram “a elevação católica da tradição a um status igual ou até mesmo superior das Escrituras” (COMFORT, 1998, p. 68).
Tendo a inspiração divina como pressuposto, a Bíblia Sagrada difere de outros livros pela sua inerrância e infalibilidade. Esses conceitos teológicos apontam que as Escrituras não contêm erro algum, que seus ensinos são fidedignos e confiáveis, e, por isso, não podem falhar. Por conseguinte, aquele que crê na inspiração das Escrituras também deve crer que a Bíblia é inerrante e infalível.
1. O Decálogo
A partir do século V, a Igreja Católica começou a ensinar os fiéis a prática do confessionário. Com o propósito de julgar as confissões, os sacerdotes católicos eram orientados a proferir penitências por meio de “manuais penitenciais ou confessionais”. As penas eram elaboradas conforme os sete pecados capitais: soberba, inveja, cobiça, ira, preguiça, avareza, gula e luxúria. No século XV, o teólogo francês Jean de Gerson (1363-1429) discordou dessa forma de tratar os pecados e voltou-se para os DezMandamentos, que chamou de “a rocha da Ética Cristã” (KEENA, 1999, p.13).
No século seguinte, por ocasião da Reforma Protestante, os Dez Mandamentos passaram a ser a principal base de instrução moral e ética para a Igreja protestante. O uso do Decálogo era uma resposta à teologia católica e uma rejeição à supremacia, por mais de dez séculos, dos sete pecados capitais. A justificativa era de que o Decálogo constava das Escrituras e não de um compêndio de penitências. Enquanto os sete pecados capitais tratavam prioritariamente das ações ofensivas à vida humana, os Dez Mandamentos expressavam a vontade divina, primariamente por meio da nossa relação com Deus e depois com os nossos irmãos.
Os Dez Mandamentos ou “dez palavras” estão revelados em Êxodo 20.1-17 e Deuteronômio 5.6-21. O Decálogo contém prescrições e proibições com três claras expressões positivas:
a) A relação do homem com Deus — “Eu sou o Senhor teu Deus” (Êx 20.2);
b) A relação do homem na adoração — “Lembra-te do sábado” (Êx 20.8); e
c) A relação do homem com o próximo — “Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12).
As outras sete declarações negativas estão diretamente subordinadas a essas três esferas da vontade de Deus. Em vista disso, os Dez Mandamentos são preceitos éticos que fazem parte da lei moral de Deus e devem ser obedecidos.
Os quatro primeiros Mandamentos tratam da relação do homem e sua adoração para com Deus: o Senhor requer culto exclusivo, condena a idolatria, alerta sobre omal-uso do seu nome e lembra que tem direito ao tempo do homem (Êx 20.1-11). Os seis últimos referem-se à relação para com o próximo: o Senhor exige honra aos genitores, zela pela integridade da vida, repudia o adultério, proíbe o furto, amentira e a cobiça (Êx 20.12-17). Essas ordenanças se caracterizam como atos morais que o homem pode escolher praticar ou recusar. Por isso, o cumprimento do Decálogo pode ser resumido na prática do amor. Esse foi o ensino do legislador e Moisés (Dt 4.6-8) e de Paulo, o apóstolo dos gentios (Rm 13.10; 1 Tm 1.5). O próprio Cristo enfatizou essa verdade e ratificou que o amor a Deus e ao próximo é a expressão máxima dos Dez Mandamentos (Mt 22.37-39). Como o Decálogo faz parte da lei moral de Deus e está baseado na natureza divina, os Dez Mandamentos permanecem válidos para todos os cristãos desempenhando a função de “rocha da Ética Cristã”.
2. Os Evangelhos e Atos
Os Evangelhos são mais do que simples biografias de Jesus, e o livro de Atos mais do que simples história da Igreja. A narrativa desses livros serve a um propósito teológico: o de apresentar os ensinos de Jesus, diretamente ou por meio dos apóstolos, como parte da “boa vontade de Deus para com os homens” (Lc. 2.14). Isto posto, o evangelho refere-se às boas novas de Cristo (Mt 9.35). A mensagem registrada pelos evangelistas contém apelo ao arrependimento, renúncia ao pecado, oferta de perdão, esperança de salvação e santidade de vida (Mt 3.2, Lc 1.77, 9.62). Os seguidores de Cristo são convocados a viver as doutrinas do evangelho e adotaram a ética e a moral do Reino de Deus (Mt 16.24; Mc 10.42-45). Por meio do evangelho, o homem pode compartilhar a natureza moral de Deus (Mt 5.48). O genuíno evangelho produz mudanças no caráter do cristão (Tt 2.11-14), e quem pauta sua vida pelo evangelho recebe o dom do Espírito Santo (At 2.38,39).
3. O Sermão do Monte
Reconhecidamente, o Sermão do Monte reúne princípios do mais alto idealismo moral e “tem sido entendido como a aplicação maior da ética de amor ao próximo e da Lei Áurea que ele contém” (HENRY, 2007, p. 548).
No Sermão são reveladas a ética e a moral do Reino de Deus em questões como: a ira, adultério, divórcio, juramento, vingança e o amor. Cristo ensina que quando uma pessoa não consegue controlar a sua ira, ela pode perder o controle e matar alguém (Mt 5.21,22). O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento salienta que “o assassinato começa com a raiva; a pessoa tem de lidar com a raiva a fim de evitar o assassinato” (2003, p. 45). Essa proposição adverte que o pecado da ira precede o pecado de assassinato, que é a violação do sexto mandamento do Decálogo (Êx 20.13).
Após abordar a questão da ira, Cristo passa a ensinar acerca da violação de outro mandamento do Decálogo — o adultério (Êx 20.14). O Senhor apresenta uma moral muita acima daquela convencionada entre os judeus. Para os rabinos o adultério só era caracterizado por meio do ato sexual. Para Cristo, o adultério está no pensamento, na intenção do coração que enche os olhos de luxúria (Mt 5.27,28). O Senhor também ensina sobre a santidade e indissolubilidade do casamento (Mt 5.31,32). Quanto à prática de juramentos permitidos na lei mosaica (Mt 5.3337), Cristo aponta para uma nova conduta:
As Escrituras Sagradas ensinam o que convêm à virtude do bem-viver cristão em sociedade.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - 1 Coríntios 10.1-13
Caro professor, prezada professora, mais um trimestre chegou. Para se ter uma abrangência do conteúdo que desenvolveremos nestes três meses é importante conhecer as ideologias que predominam o século XXI. Por isso, procure pesquisar os seguintes temas:
1) Relativismo;
2) Materialismo;
3) Pós-Modernismo.
Entender esses assuntos permitirá que você tenha um arcabouço seguro para compreender a atualidade do tema deste trimestre: Valores Cristãos — Enfrentando as questões morais de nosso tempo.
Estudar ética é muito importante para o aperfeiçoamento dos nossos relacionamentos e conduta na sociedade. Entretanto, neste trimestre, veremos que a Ética Cristã difere da secular. Enquanto esta se fundamenta em valores materialistas e relativistas, aquela tem como eixo a Palavra de Deus, a revelação divina imutável. Assim, como vivemos em uma época onde os conceitos pós-modernos relativizam as doutrinas cristãs, é relevante identificarmos os principais fundamentos da Ética Cristã a fim de aperfeiçoar nossa vida de comunhão com Deus e testemunho cristão à sociedade (Mt 5.13,14).
Historicamente, o conceito de ética surgiu na Grécia antiga, período que coincide com o século IV a.C. Na prática, a ética sempre fez parte do dia a dia da humanidade. Quando os códigos ainda não estavam escritos e positivados, a própria consciência estabelecia a ética a ser observada (Rm 2.14,15). As Sagradas Escrituras contêm os fundamentos da ética para a sociedade humana. No Antigo Testamento, Deus revelou instruções éticas específicas. Nos Evangelhos, encontramos os ensinamentos éticos de Jesus. Nas epístolas neotestamentárias, o tema está amplamente registrado.
I. O CONCEITO DE ÉTICA CRISTÃ
O filósofo e educador Cortella (1954-) apresenta uma definição para ética que em muito se assemelha com os textos bíblicos:
Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: 1. quero? 2. devo? e 3. posso? Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve. (CORTELLA, 2014)
De fato, de maneira simples e genérica, a ética cristã está relacionada às respostas de tais questões. O apóstolo Paulo, de certo modo, ensina a prática da ética, sob esses aspectos: o que quero, devo e posso. Ele afirma que tudo é lícito, mas que nem tudo convêm e nem tudo edifica, portanto, o cristão não pode e nem deve se deixar dominar por aquilo que foge da ética cristã (1 Co 6.12).
1. Definição Geral
A palavra “ética” possui origem no vocábulo grego ethos, que literalmente significa “costumes” ou “hábitos”. No latim, é usado o termo correspondente mos (moral) com o sentido de “normas” ou “regras”. Assim, “ética e moral referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros” (CHAUÍ, 1995, p. 340). Como esses termos, “ética” e “moral”, são muito próximos, eles são muitas vezes confundidos e usados como sinônimos. No entanto, para fins didáticos e acadêmicos, é possível defini-los separadamente.
2. Ética e Moral
A ética enquanto ciência pode ser entendida como a parte da filosofia que investiga os fundamentos da moral adotados por uma cultura. Foram os filósofos gregos que começaram a estudar esses fundamentos para então “identificar” uma pessoa como sendo boa ou má e também um ato como sendo bom ou mau. A partir desses fundamentos, alguém pode ser classificado como “ético” ou “antiético”.
Pode-se afirmar, por exemplo, que a ética de Platão (427-347 a.C.) era “transcendente” e “deontológica”. Essa teoria acredita que a noção do correto é algo moralmente bom em si mesmo. Nesse caso, a fundamentação do certo e do errado está ligada ao bem-estar da alma, um estado inerente ao ser humano e procedente de um mundo superior. Aqui o homem obedece ao dever, independentemente das consequências que a obediência pode resultar para si ou para os outros (PALLISTER, 2005, p. 20).
Em contrapartida, com Aristóteles (384-322 a.C.) surgiu a ética “imanente” e “teleológica” ou “utilitária”. Essa teoria argumenta que o correto só pode ser definido a partir das consequências que um ato ou uma ação possa produzir. Aqui a fundamentação do certo e o errado procedem do mundo dos homens e depende apenas da utilidade e do bem-estar que as ações do indivíduo podem resultar para si ou para os outros.
A moral, por sua vez, refere-se ao comportamento das pessoas e às reações dos indivíduos que compõem uma sociedade em relação às regras estabelecidas pela ética. Como observado, essas regras podem ser diferentes de uma cultura para outra e ainda podem ser modificadas de acordo com as transformações vividas pelos grupos sociais. Tudo depende da fonte de autoridade que lhes serve de fundamento para os padrões de conduta.
Quando se analisa as teorias éticas acima discutidas, percebe-se que na “deontológica” é o princípio da ação moral que é bom ou mau independentemente do seu resultado. Já na teoria “teleológica”, o princípio moral é substituído pela previsão racional das vantagens e desvantagens que determinada ação pode produzir. No primeiro caso, os atos morais, mesmo corretos, podem prejudicar a si e ao outro. No segundo caso, a moral se relativiza, busca não se prejudicar evitando o sofrimento, e assim pode servir para legitimar a máxima que diz “os fins justificam os meios”.
3. Ética Cristã
A ética cristã tem como objetivo indicar a conduta ideal para a retidão do comportamento humano. O fundamento moral da ética cristã são as Escrituras Sagradas. Portanto, a ética cristã não se modifica e nem se relativiza. Desse modo, a ética cristã não pode ser desassociada da moral e dos bons costumes preconizados nas doutrinas bíblicas.
Sob esta concepção, os pais da Igreja adotaram a ética “transcendente” e “deontológica”. Isso significa que a vida ética cristã procede de um Deus transcendente e pessoal que concede ao ser humano a capacidade de viver a verdadeira moral. Agostinho de Hipona, na obra Cidade de Deus (escrita entre 413-426 d.C.), reconhece que a graça de Deus é indispensável para transformar o caráter humano e fazê-lo viver de acordo com os padrões morais divinamente estabelecidos. Para Agostinho, a educação, a meditação, os códigos e as leis, por si mesmas, não conseguem levar o homem a agir de modo ético.
Na perspectiva de Agostinho, a ética cristã só poderia ser vivida quando o cristão experimentasse a verdadeira regeneração. O mero esforço humano servia unicamente para disfarçar a natureza caída. A eventual virtude demonstrada por alguém era algo temporário, falso e aparente. Somente a genuína regeneração faria o homem verdadeiramente virtuoso. Tomás de Aquino discordou e propôs algumas modificações nessa visão agostiniana. Aquino considerava que as leis humanas não somente inibiam a prática do mal, mas também podiam moldar pessoas de boa índole. O ensino de Aquino não deixou de “ser transcendente e deontológico”, contudo, permitiu flexibilizar a ética.
Com o advento da Reforma Protestante (1517), os reformadores restauraram a ética de Agostinho, defenderam a revelação bíblica como única infalível e inerrante regra de fé e conduta (Sola Scriptura) e a estenderam a todos os homens. Assim, a ética protestante reafirma a doutrina bíblica de que todos serão julgados à luz do conhecimento que tiveram de Deus. E, de acordo com o apóstolo Paulo, quando esse conhecimento for parcial, os homens serão julgados pela lei escrita em seus corações (Rm 2.14-16).
4. Princípios da Ética Cristã
A principal fundamentação para a ética cristã encontra-se na revelação divina. Desse modo, os princípios adotados pela ética cristã são bíblicos, e, portanto, imutáveis. Em consequência, os princípios bíblicos têm aplicação hoje, assim como o tiveram antigamente. Aquilo que a revelação bíblica considera como pecado, permanece sendo pecado. A lei divina não pode ser revogada e ajustada aos interesses humanos. Esses princípios são universais e por isso não se admite uma ética cristã diferente de uma cultura para outra cultura. Os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mutações. A verdade bíblica não pode ser relativizada ou flexibilizada para atender o egoísmo e o hedonismo da raça humana. O texto bíblico permanece inalterado e imexível. Por isso, os valores cristãos são permanentes, pois a fonte de autoridade é permanente. Quanto a esta realidade, Cristo afirmou: “o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mt 24.35).
II. FUNDAMENTOS DA ÉTICA CRISTÃ
Como já afirmamos no tópico anterior, a ética cristã tem como principal fundamento o texto inspirado das Sagradas Escrituras. É verdade que não se pode desprezar a tradição da Igreja, as leis civis e criminais, as variadas literaturas e nem tampouco os bons costumes adotados pela sociedade; entretanto, para o cristão, toda e qualquer prática e conduta precisa passar pelo crivo e pelo aval da Palavra de Deus (Hb 4.12). Nesse sentido, a Bíblia Sagrada foi reafirmada na Reforma Protestante como sendo o principal fundamento da fé cristã. Lutero e outros reformadores combateram “a elevação católica da tradição a um status igual ou até mesmo superior das Escrituras” (COMFORT, 1998, p. 68).
Tendo a inspiração divina como pressuposto, a Bíblia Sagrada difere de outros livros pela sua inerrância e infalibilidade. Esses conceitos teológicos apontam que as Escrituras não contêm erro algum, que seus ensinos são fidedignos e confiáveis, e, por isso, não podem falhar. Por conseguinte, aquele que crê na inspiração das Escrituras também deve crer que a Bíblia é inerrante e infalível.
1. O Decálogo
A partir do século V, a Igreja Católica começou a ensinar os fiéis a prática do confessionário. Com o propósito de julgar as confissões, os sacerdotes católicos eram orientados a proferir penitências por meio de “manuais penitenciais ou confessionais”. As penas eram elaboradas conforme os sete pecados capitais: soberba, inveja, cobiça, ira, preguiça, avareza, gula e luxúria. No século XV, o teólogo francês Jean de Gerson (1363-1429) discordou dessa forma de tratar os pecados e voltou-se para os DezMandamentos, que chamou de “a rocha da Ética Cristã” (KEENA, 1999, p.13).
No século seguinte, por ocasião da Reforma Protestante, os Dez Mandamentos passaram a ser a principal base de instrução moral e ética para a Igreja protestante. O uso do Decálogo era uma resposta à teologia católica e uma rejeição à supremacia, por mais de dez séculos, dos sete pecados capitais. A justificativa era de que o Decálogo constava das Escrituras e não de um compêndio de penitências. Enquanto os sete pecados capitais tratavam prioritariamente das ações ofensivas à vida humana, os Dez Mandamentos expressavam a vontade divina, primariamente por meio da nossa relação com Deus e depois com os nossos irmãos.
Os Dez Mandamentos ou “dez palavras” estão revelados em Êxodo 20.1-17 e Deuteronômio 5.6-21. O Decálogo contém prescrições e proibições com três claras expressões positivas:
a) A relação do homem com Deus — “Eu sou o Senhor teu Deus” (Êx 20.2);
b) A relação do homem na adoração — “Lembra-te do sábado” (Êx 20.8); e
c) A relação do homem com o próximo — “Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12).
As outras sete declarações negativas estão diretamente subordinadas a essas três esferas da vontade de Deus. Em vista disso, os Dez Mandamentos são preceitos éticos que fazem parte da lei moral de Deus e devem ser obedecidos.
Os quatro primeiros Mandamentos tratam da relação do homem e sua adoração para com Deus: o Senhor requer culto exclusivo, condena a idolatria, alerta sobre omal-uso do seu nome e lembra que tem direito ao tempo do homem (Êx 20.1-11). Os seis últimos referem-se à relação para com o próximo: o Senhor exige honra aos genitores, zela pela integridade da vida, repudia o adultério, proíbe o furto, amentira e a cobiça (Êx 20.12-17). Essas ordenanças se caracterizam como atos morais que o homem pode escolher praticar ou recusar. Por isso, o cumprimento do Decálogo pode ser resumido na prática do amor. Esse foi o ensino do legislador e Moisés (Dt 4.6-8) e de Paulo, o apóstolo dos gentios (Rm 13.10; 1 Tm 1.5). O próprio Cristo enfatizou essa verdade e ratificou que o amor a Deus e ao próximo é a expressão máxima dos Dez Mandamentos (Mt 22.37-39). Como o Decálogo faz parte da lei moral de Deus e está baseado na natureza divina, os Dez Mandamentos permanecem válidos para todos os cristãos desempenhando a função de “rocha da Ética Cristã”.
2. Os Evangelhos e Atos
Os Evangelhos são mais do que simples biografias de Jesus, e o livro de Atos mais do que simples história da Igreja. A narrativa desses livros serve a um propósito teológico: o de apresentar os ensinos de Jesus, diretamente ou por meio dos apóstolos, como parte da “boa vontade de Deus para com os homens” (Lc. 2.14). Isto posto, o evangelho refere-se às boas novas de Cristo (Mt 9.35). A mensagem registrada pelos evangelistas contém apelo ao arrependimento, renúncia ao pecado, oferta de perdão, esperança de salvação e santidade de vida (Mt 3.2, Lc 1.77, 9.62). Os seguidores de Cristo são convocados a viver as doutrinas do evangelho e adotaram a ética e a moral do Reino de Deus (Mt 16.24; Mc 10.42-45). Por meio do evangelho, o homem pode compartilhar a natureza moral de Deus (Mt 5.48). O genuíno evangelho produz mudanças no caráter do cristão (Tt 2.11-14), e quem pauta sua vida pelo evangelho recebe o dom do Espírito Santo (At 2.38,39).
3. O Sermão do Monte
Reconhecidamente, o Sermão do Monte reúne princípios do mais alto idealismo moral e “tem sido entendido como a aplicação maior da ética de amor ao próximo e da Lei Áurea que ele contém” (HENRY, 2007, p. 548).
No Sermão são reveladas a ética e a moral do Reino de Deus em questões como: a ira, adultério, divórcio, juramento, vingança e o amor. Cristo ensina que quando uma pessoa não consegue controlar a sua ira, ela pode perder o controle e matar alguém (Mt 5.21,22). O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento salienta que “o assassinato começa com a raiva; a pessoa tem de lidar com a raiva a fim de evitar o assassinato” (2003, p. 45). Essa proposição adverte que o pecado da ira precede o pecado de assassinato, que é a violação do sexto mandamento do Decálogo (Êx 20.13).
Após abordar a questão da ira, Cristo passa a ensinar acerca da violação de outro mandamento do Decálogo — o adultério (Êx 20.14). O Senhor apresenta uma moral muita acima daquela convencionada entre os judeus. Para os rabinos o adultério só era caracterizado por meio do ato sexual. Para Cristo, o adultério está no pensamento, na intenção do coração que enche os olhos de luxúria (Mt 5.27,28). O Senhor também ensina sobre a santidade e indissolubilidade do casamento (Mt 5.31,32). Quanto à prática de juramentos permitidos na lei mosaica (Mt 5.3337), Cristo aponta para uma nova conduta:
No comentário sobre a antiga lei Jesus faz um ajuste
importante. [...] O emprego do advérbio holos (“de maneira nenhuma”, Mt 5.34)
indica que Jesus esperava que esta atividade cessasse completamente. Os
juramentos que aludem indiretamente a Deus, pela referência a céu, terra e até
a própria pessoa, eram proibidos [...] A pessoa honesta não tem necessidade de
fazer juramento; um simples sim ou não é suficiente. (STRONSTAD, 2003, p. 46)
Em relação ao sentimento de vingança, Cristo ensina não revidar as ofensas sofridas (Mt 5.38-41). Ao contrário, Ele nos ensina a ser caridosos e beneficentes (Mt 5.42). No que diz respeito ao amor — o resumo da lei e dos profetas — em especial o “amor ao próximo”, a moral e a ética cristã requerem do cristão o dever de amar seus inimigos: falando bem deles, fazendo o bem a eles e orando por eles (Mt 5.44). Quem não o fizer é considerado hipócrita e indigno de receber galardão (Mt 5.46-48).
O sermão também aborda questões como a esmola, a oração e os jejuns. Aqui, somos advertidos contra a hipocrisia e o sentimento de vanglória. A esmola, a oração e o jejum devem ser praticados a partir de um coração sincero, e não para sermos aplaudidos ou reconhecidos pelos homens (Mt 6.1,5,16). Na sequência, Cristo trata do problema do pré-julgamento — uma advertência contra a mania precipitada, arrogante e orgulhosa em julgar os outros (Mt 7.1,2). Cristo ainda trata do livre-arbítrio e apresenta ao homem dois caminhos: o largo e o estreito (Mt 7.13,14). Ato contínuo, o Senhor faz um grande alerta contra os falsos profetas e ensina que o ministério de alguém deve ser provado pelos seus frutos (Mt 7.15-23). Por fim, o Senhor adverte sobre a necessidade de o cristão ouvir e praticar as palavras proferidas no sermão (Mt 5.24-35). Ressalta-se então que o sermão chama os homens para uma vida ética de perfeição em Cristo (Mt 5.48) e os concita a priorizar o Reino de Deus e sua justiça (Mt 6.33).
III. FOMOS CHAMADOS A VIVER ETICAMENTE
As Escrituras alertam sobre o perigo de não vivermos de modo ético. Os israelitas no deserto foram abençoados e sustentados pelo maná (Êx 16.4) e pela água potável (Êx 17.6) que Deus lhes concedia de modo sobrenatural, mas a maior parte deles foi reprovada por não viver a lei moral outorgada por Deus (1 Co 10.5). Somente dois israelitas daquela geração, Josué e Calebe, puderam herdar a Terra Prometida (Nm 14.30). No capítulo 10, versículos 1 a 10, da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, o apóstolo seleciona cinco pecados cometidos pelos israelitas que ficaram registrados, em forma de negação, para nossa advertência: “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4a).
1. Não Cobicemos as Coisas Más
Paulo adverte a Igreja a não incorrer no pecado da cobiça uma vez que as experiências dos israelitas no deserto “foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1 Co 10.6). No deserto, os israelitas cobiçavam prazeres proibidos e sentiam saudades do Egito. A multidão que saiu do Egito era composta por uma “mistura de gente” que aproveitou a ocasião para fugir de Faraó. Essa gente deu início à murmuração que contaminou os israelitas e gerou um descontentamento generalizado (Nm 11.4-6).
Ainda hoje, pseudocristãos cobiçam os prazeres do mundo. Muitos desses são negativamente influenciados pela “mistura” do joio na Igreja (Mt 13.25). Por isso, o apóstolo dos gentios ensina que “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). A convivência com o joio pode corromper e incitar a rebelião. Os que se contaminam passam a rejeitar o maná celeste que é Cristo (Jo 6.35,48,51) e decidem viver sob o jugo do hedonismo (excessiva busca pelo prazer) e sob a escravidão do pecado, isso porque se negam em observar a lei moral do Decálogo que diz: “Não cobiçarás” (Êx 20.17).
2. Não vos Torneis Idólatras
O apóstolo também alertou a Igreja acerca do perigo da idolatria (1 Co 10.7). Enquanto Moisés recebia a Lei permanecendo afastado do povo por 40 dias e 40 noites (Êx 24.18; 31.18), os israelitas se corrompiam adorando um bezerro fundido (Êx 32.4). Longe de seu líder, Israel falhou vergonhosamente. Arão, o vice-líder, cedeu às pressões do povo e ordenou que trouxessem contribuição para promover a idolatria e foi prontamente atendido (Êx 32.1-4). Chegou ao ridículo de erigir um altar e se tornou sacerdote de um falso culto (Êx 32.5,6). Infelizmente, em nossos dias essas cenas se repetem. Muitos são hipócritas e fora das vistas da liderança vivem em pecado. Outros são falsos líderes que ensinam o erro e promovem falsa espiritualidade estando fadados ao juízo (Mt 23.15; Rm 1.32). Constatamos estarrecido como os falsos profetas conseguem atrair dinheiro para os seus falsos cultos. A idolatria tem sido sustentada por “ofertas de amor” e “ofertas de sacrifício” pelo povo alienado e mal instruído. O Dicionário Wycliffe define idolatria como:
Uma transliteração da palavra gr. eidololatria, cujo significado entendemos ser “a adoração a ídolos; a adoração a imagens como divinas e sagradas” [...] Com base nesse termo foi formada a palavra eidolon, “imagem”, que veio a significar especificamente uma imagem de um deus como um objeto de adoração, ou um símbolo material do sobrenatural como tal objeto. O segundo termo é latreia, significando “culto ou adoração aos deuses”. Idolatria, então, é prestar honras divinas a qualquer produto de fabricação humana, ou atribuir poderes divinos a operações puramente naturais. (PFEIFFER, 2008, p. 944)
Observa-se nesse conceito que a idolatria consiste em adorar, venerar ou prestar culto a algo ou alguém em lugar de Deus. É importante ressaltar que o ato de idolatria não consiste apenas na adoração de uma imagem, mas também “a qualquer produto de fabricação humana”. Assim sendo, atualmente, falsos cristãos e falsos líderes desprovidos de temor adoram o dinheiro e os bens materiais, e os utilizam para promover o falso culto atraindo sobre si à ira divina (Êx 32.35). O mal da idolatria desvirtua a moral cristã e mantém o povo afastado do verdadeiro culto (Jo 4.23).
2. Não nos Prostituamos
O terceiro pecado relacionado por Paulo adverte a Igreja a respeito da maldição provocada pela imoralidade sexual (1 Co 10.8). A história tem início quando Israel deteve-se em Sitim, uma região nas campinas de Moabe (Nm 22.1-30). A presença dos israelitas aterrorizou a Balaque, rei dos moabitas. Balaque então contratou o profeta pagão Balaão para amaldiçoar a Israel. Como Balaão foi divinamente impedido de amaldiçoar o povo da promessa (Nm 23.8), ensinou a Balaque como fazer para moralmente corromper os israelitas (Nm 31.16). Essa conduta ficou conhecida nas Escrituras de maneira negativa e pejorativamente como “doutrina de Balaão” (2 Pe 2.15; Jd 1.11; Ap 2.14). A motivação em corromper Israel era fazê-los pecar e assim causar a queda da nação. Lamentavelmente, os israelitas foram presa fácil. As mulheres moabitas convidaram o povo para participar de seu culto a Baal-Peor. A prática cultual dos moabitas era tomada por glutonarias, orgias sexuais, fornicação e adultério, o que levou os israelitas a prostituírem-se com as filhas dos moabitas.
Não demorou muito e a ira de Deus se acendeu contra os pecadores. Moisés foi instruído a enforcar a luz do dia e publicamente todos os chefes do povo que se envolveram com a orgia e o culto a Baal-Peor. Em seguida, os juízes foram orientados a matar cada um os seus homens que se juntaram a Baal-Peor. Enquanto Israel chorava essas mortes, uma praga assolava todo o povo. Em meio à ira divina, um rebelde príncipe israelita apresentou no arraial uma princesa midianita que ele trouxera consigo o que vendo o sacerdote Fineias indignado os atravessou a ambos com uma lança e a praga cessou (Nm 25.1-15). Ciente do grande mal e das graves consequências da imoralidade sexual, Paulo exorta a Igreja a vigiar constantemente. Ao analisar esse assunto o Comentário do Novo Testamento — Aplicação Pessoal, afirma que a intenção paulina era mostrar que “Deus não teria complacência para com aqueles que afirmassem pertencer a Ele, mas que ainda participassem de cultos pagãos e da imoralidade sexual” (2009, v. 2, p. 148). Aliás, a imoralidade encabeça a lista de Paulo das obras da carne: “adultério, fornicação, impureza e lascívia” (Gl 5.19). Nesse quesito, o apóstolo ordena ao cristão viver eticamente e conservar o corpo irrepreensível (1 Co 6.18; 1 Ts 5.23).
3. Não Tentemos ao Senhor
Neste ponto, o apóstolo previne a Igreja quanto ao perigo da maldição em se provocar a Deus (1 Co 10.9). Os israelitas tentaram o Senhor com suas rebeldias, queixas, incredulidade e irreverência. Paulo lembra o protesto dos israelitas contra Deus por terem sido conduzidos para o deserto: “E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil” (Nm 21.5). Esse questionamento foi extremamente ofensivo aos olhos do Senhor. Ele os tirara do Egito com mão forte e poderosa, e estava provendo-lhes todo o sustento. Mas o povo demonstrava ingratidão e falta de confiança. Eles estavam testando e colocando à prova a paciência do Todo-Poderoso. “Tentar o Senhor é experimentar até que ponto se pode abusar da paciência de Deus antes de incorrer em seu julgamento” (Dt 6.16) (STRONSTAD, 2008, p. 995).
Como resultado de “tentarem ao Senhor”, o juízo divino foi instantâneo sobre o povo. O Senhor mandou serpentes ardentes e a natureza incurável das picadas matou muita gente em Israel (Nm 21.6). Ao reconhecerem o pecado, os queixosos suplicaram a Moisés que intercedesse diante de Deus (Nm 21.7). O arrependimento cessou a praga e possibilitou a cura para os que iam sendo picados (Nm 21.8,9). O apóstolo trouxe esse fato à memória da Igreja em Corinto, pois alguns dos irmãos também estavam “tentando ao Senhor” com os seus recorrentes pecados e afrontas à santidade do Altíssimo. Por conseguinte, os que de forma proposital rebelam-se contra a vontade do Senhor, ignoram a ética cristã e violam a lei moral de Deus, ficam sujeitos à ira divina (Rm 2.8,9).
4. Não Murmureis
Por fim, o apóstolo alerta acerca do pecado da murmuração (1 Co 10.10). Infelizmente, esse fato aconteceu várias vezes na peregrinação dos israelitas. É possível que na citação paulina esteja incluída a murmuração ocorrida em Cades quando o povo se recusou entrar na Terra Prometida recebendo o castigo por meio de uma praga (Nm 14.2,36,37). Mas o incidente na contradição de Coré parece servir melhor ao propósito do apóstolo. A rebelião liderada por Coré era uma murmuração não apenas contra Moisés e Arão, mas também contra o próprio Deus (Nm 16.1-35). Coré e duzentos e cinquenta aliados questionaram a escolha divina de confiar à liderança do povo e o ministério a Moisés e Arão. Diante dessa murmuração, eles foram submetidos a um teste de santidade. No dia seguinte, Arão, Coré e os 250 revoltosos ofereceram incenso em seus incensários. Coré trouxe o povo todo para assistir ao ritual e colocá-los contra Moisés e Arão. Todavia, enquanto o cerimonial acontecia, a terra se abriu e engoliu as tendas, os bens e as famílias dos líderes da rebelião. E, enquanto o povo corria com medo de ser tragado pela terra, “saiu fogo do Senhor, e consumiu os duzentos e cinquenta homens que ofereciam o incenso”.
Apesar de o juízo divino ter aberto a terra e enviado fogo contra os murmuradores rebelados, o coração do povo era extremamente obstinado. No dia seguinte, tornaram a afrontar Moisés e Arão e lançaram sobre eles a culpa pela morte de Coré, Datã, Abirão e suas famílias, bem como dos 250 príncipes que ofereciam incenso (Nm 16.41,42). Diante dessa teimosia e insensatez, Deus enviou uma praga que consumiu quatorze mil e setecentos israelitas (Nm 16.49). Lamentavelmente, a murmuração foi frequente e permanece em nossos dias: “murmurar contra Deus, ou contra os líderes que Ele designou, resulta no castigo divino [...] Esse era outro problema que a Igreja de Corinto estava enfrentando” (RIBAS, 2009, v. 2, p. 148). O significado aqui se refere à falta de ética que provoca maledicência, inveja e calúnias contra o próximo, e ainda provoca a ira de Deus.
No epílogo dessas advertências, Paulo reitera que as experiências de Israel servem de exemplo para os cristãos não cometerem os mesmos erros, pois “estão escritas para aviso nosso” (1 Co 10.11). O apóstolo ainda admoesta os cristãos que cuidam estar em pé que tomem muito cuidado para não cair (1 Co 10.12). Ao encerrar essas admoestações, Paulo apresenta uma palavra de esperança. Ele afirma que as tentações são comuns a todos, mas que não devemos desanimar, pois não estamos sozinhos em nossas fraquezas. Deus não nos deixará ser tentados além de nossa capacidade de resistir. A fidelidade do Senhor provê a cada um o meio de escape (1 Co 10.13). Portanto, devemos entregar nosso caminho ao Senhor e depositar nEle toda a nossa confiança (Sl 37.5).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
1. “Atenção para a tradição da Igreja de Cristo!
Além das Sagradas Escrituras, a Igreja de Cristo tem uma tradição riquíssima em decisões de questões éticas, como aborda muito bem o pastor Claudionor de Andrade: ‘Se, por um lado, não podemos escravizar-nos à tradição, por outro, não devemos desprezá-la. Sem o legado dos que nos precederam, jamais teríamos conseguido estruturar nosso edifício teológico, moral e ético. Logo, é-nos permitido eleger a tradição eclesiástica como o segundo fundamento da Ética Cristã. [...] A tradição, quando bem utilizada, assessora a Igreja nos dilemas teológicos, morais e éticos. O apóstolo Paulo reconhece-lhe a importância: ‘Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes’ (2Ts 3.6). O que não podemos fazer é colocá-la de pé de igualdade com a Bíblia. A Didaqué é um dos tratados mais antigos e tradicionais da Igreja Cristã. Produzida ainda nos dias apostólicos, ajudou os primeiros cristãos a posicionarem-se espiritual e eticamente. A Doutrina dos Doze Apóstolos, como também é conhecida, realçava-se por amorosas admoestações, conforme podemos observar: ‘Há dois caminhos: um da vida e outro da morte. A diferença entre ambos é grande. O caminho da vida é, pois, o seguinte: primeiro amarás a Deus que te fez: depois teu próximo como a ti mesmo. E tudo o que não queres que seja feito a ti, não o faças a outro’. Mais adiante, prossegue o autor anônimo, citando as práticas que conduzem o ser humano à perdição: ‘Mortes, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatrias, práticas mágicas, rapinagens, falsos testemunhos, hipocrisias, ambiguidades, fraude, orgulho, maldade, arrogância, cobiça, má conversa, ciúme, insolência, extravagância, jactância, vaidade e ausência do temor de Deus” (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017, pp.17,18).
2. Ética
“Historiador e estadista, Churchill não ignorava a influência da Bíblia Sagrada na formação das grandes nações. Sabia que, sem ela, a Civilização Ocidental seria inviável. Por isso, foi tão categórico ao analisar as conquistas espirituais e morais da Inglaterra: ‘O estandarte da ética cristã [a Bíblia] é, ainda, o nosso mais importante guia’”. Para conhecer mais, leia As Novas Fronteiras da Ética Cristã, CPAD, p.9.
A Bíblia Sagrada é o fundamento para o viver ético-moral dos cristãos. É a única regra infalível de fé e de conduta para a Igreja (2Tm 3.16). Portanto, em tempos de ataques ideológicos contra a cultura judaico-cristã, a Igreja não deve furtar-se de ser o “sal da terra” e a “luz do mundo” em pleno século XXI (Mt 5.13,14).
Fonte:
Livro de Apoio – Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Douglas Baptista
Lições Bíblicas 2º Trim.2018 - Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Comentarista: Douglas Baptista
Em relação ao sentimento de vingança, Cristo ensina não revidar as ofensas sofridas (Mt 5.38-41). Ao contrário, Ele nos ensina a ser caridosos e beneficentes (Mt 5.42). No que diz respeito ao amor — o resumo da lei e dos profetas — em especial o “amor ao próximo”, a moral e a ética cristã requerem do cristão o dever de amar seus inimigos: falando bem deles, fazendo o bem a eles e orando por eles (Mt 5.44). Quem não o fizer é considerado hipócrita e indigno de receber galardão (Mt 5.46-48).
O sermão também aborda questões como a esmola, a oração e os jejuns. Aqui, somos advertidos contra a hipocrisia e o sentimento de vanglória. A esmola, a oração e o jejum devem ser praticados a partir de um coração sincero, e não para sermos aplaudidos ou reconhecidos pelos homens (Mt 6.1,5,16). Na sequência, Cristo trata do problema do pré-julgamento — uma advertência contra a mania precipitada, arrogante e orgulhosa em julgar os outros (Mt 7.1,2). Cristo ainda trata do livre-arbítrio e apresenta ao homem dois caminhos: o largo e o estreito (Mt 7.13,14). Ato contínuo, o Senhor faz um grande alerta contra os falsos profetas e ensina que o ministério de alguém deve ser provado pelos seus frutos (Mt 7.15-23). Por fim, o Senhor adverte sobre a necessidade de o cristão ouvir e praticar as palavras proferidas no sermão (Mt 5.24-35). Ressalta-se então que o sermão chama os homens para uma vida ética de perfeição em Cristo (Mt 5.48) e os concita a priorizar o Reino de Deus e sua justiça (Mt 6.33).
III. FOMOS CHAMADOS A VIVER ETICAMENTE
As Escrituras alertam sobre o perigo de não vivermos de modo ético. Os israelitas no deserto foram abençoados e sustentados pelo maná (Êx 16.4) e pela água potável (Êx 17.6) que Deus lhes concedia de modo sobrenatural, mas a maior parte deles foi reprovada por não viver a lei moral outorgada por Deus (1 Co 10.5). Somente dois israelitas daquela geração, Josué e Calebe, puderam herdar a Terra Prometida (Nm 14.30). No capítulo 10, versículos 1 a 10, da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, o apóstolo seleciona cinco pecados cometidos pelos israelitas que ficaram registrados, em forma de negação, para nossa advertência: “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4a).
1. Não Cobicemos as Coisas Más
Paulo adverte a Igreja a não incorrer no pecado da cobiça uma vez que as experiências dos israelitas no deserto “foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1 Co 10.6). No deserto, os israelitas cobiçavam prazeres proibidos e sentiam saudades do Egito. A multidão que saiu do Egito era composta por uma “mistura de gente” que aproveitou a ocasião para fugir de Faraó. Essa gente deu início à murmuração que contaminou os israelitas e gerou um descontentamento generalizado (Nm 11.4-6).
Ainda hoje, pseudocristãos cobiçam os prazeres do mundo. Muitos desses são negativamente influenciados pela “mistura” do joio na Igreja (Mt 13.25). Por isso, o apóstolo dos gentios ensina que “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). A convivência com o joio pode corromper e incitar a rebelião. Os que se contaminam passam a rejeitar o maná celeste que é Cristo (Jo 6.35,48,51) e decidem viver sob o jugo do hedonismo (excessiva busca pelo prazer) e sob a escravidão do pecado, isso porque se negam em observar a lei moral do Decálogo que diz: “Não cobiçarás” (Êx 20.17).
2. Não vos Torneis Idólatras
O apóstolo também alertou a Igreja acerca do perigo da idolatria (1 Co 10.7). Enquanto Moisés recebia a Lei permanecendo afastado do povo por 40 dias e 40 noites (Êx 24.18; 31.18), os israelitas se corrompiam adorando um bezerro fundido (Êx 32.4). Longe de seu líder, Israel falhou vergonhosamente. Arão, o vice-líder, cedeu às pressões do povo e ordenou que trouxessem contribuição para promover a idolatria e foi prontamente atendido (Êx 32.1-4). Chegou ao ridículo de erigir um altar e se tornou sacerdote de um falso culto (Êx 32.5,6). Infelizmente, em nossos dias essas cenas se repetem. Muitos são hipócritas e fora das vistas da liderança vivem em pecado. Outros são falsos líderes que ensinam o erro e promovem falsa espiritualidade estando fadados ao juízo (Mt 23.15; Rm 1.32). Constatamos estarrecido como os falsos profetas conseguem atrair dinheiro para os seus falsos cultos. A idolatria tem sido sustentada por “ofertas de amor” e “ofertas de sacrifício” pelo povo alienado e mal instruído. O Dicionário Wycliffe define idolatria como:
Uma transliteração da palavra gr. eidololatria, cujo significado entendemos ser “a adoração a ídolos; a adoração a imagens como divinas e sagradas” [...] Com base nesse termo foi formada a palavra eidolon, “imagem”, que veio a significar especificamente uma imagem de um deus como um objeto de adoração, ou um símbolo material do sobrenatural como tal objeto. O segundo termo é latreia, significando “culto ou adoração aos deuses”. Idolatria, então, é prestar honras divinas a qualquer produto de fabricação humana, ou atribuir poderes divinos a operações puramente naturais. (PFEIFFER, 2008, p. 944)
Observa-se nesse conceito que a idolatria consiste em adorar, venerar ou prestar culto a algo ou alguém em lugar de Deus. É importante ressaltar que o ato de idolatria não consiste apenas na adoração de uma imagem, mas também “a qualquer produto de fabricação humana”. Assim sendo, atualmente, falsos cristãos e falsos líderes desprovidos de temor adoram o dinheiro e os bens materiais, e os utilizam para promover o falso culto atraindo sobre si à ira divina (Êx 32.35). O mal da idolatria desvirtua a moral cristã e mantém o povo afastado do verdadeiro culto (Jo 4.23).
2. Não nos Prostituamos
O terceiro pecado relacionado por Paulo adverte a Igreja a respeito da maldição provocada pela imoralidade sexual (1 Co 10.8). A história tem início quando Israel deteve-se em Sitim, uma região nas campinas de Moabe (Nm 22.1-30). A presença dos israelitas aterrorizou a Balaque, rei dos moabitas. Balaque então contratou o profeta pagão Balaão para amaldiçoar a Israel. Como Balaão foi divinamente impedido de amaldiçoar o povo da promessa (Nm 23.8), ensinou a Balaque como fazer para moralmente corromper os israelitas (Nm 31.16). Essa conduta ficou conhecida nas Escrituras de maneira negativa e pejorativamente como “doutrina de Balaão” (2 Pe 2.15; Jd 1.11; Ap 2.14). A motivação em corromper Israel era fazê-los pecar e assim causar a queda da nação. Lamentavelmente, os israelitas foram presa fácil. As mulheres moabitas convidaram o povo para participar de seu culto a Baal-Peor. A prática cultual dos moabitas era tomada por glutonarias, orgias sexuais, fornicação e adultério, o que levou os israelitas a prostituírem-se com as filhas dos moabitas.
Não demorou muito e a ira de Deus se acendeu contra os pecadores. Moisés foi instruído a enforcar a luz do dia e publicamente todos os chefes do povo que se envolveram com a orgia e o culto a Baal-Peor. Em seguida, os juízes foram orientados a matar cada um os seus homens que se juntaram a Baal-Peor. Enquanto Israel chorava essas mortes, uma praga assolava todo o povo. Em meio à ira divina, um rebelde príncipe israelita apresentou no arraial uma princesa midianita que ele trouxera consigo o que vendo o sacerdote Fineias indignado os atravessou a ambos com uma lança e a praga cessou (Nm 25.1-15). Ciente do grande mal e das graves consequências da imoralidade sexual, Paulo exorta a Igreja a vigiar constantemente. Ao analisar esse assunto o Comentário do Novo Testamento — Aplicação Pessoal, afirma que a intenção paulina era mostrar que “Deus não teria complacência para com aqueles que afirmassem pertencer a Ele, mas que ainda participassem de cultos pagãos e da imoralidade sexual” (2009, v. 2, p. 148). Aliás, a imoralidade encabeça a lista de Paulo das obras da carne: “adultério, fornicação, impureza e lascívia” (Gl 5.19). Nesse quesito, o apóstolo ordena ao cristão viver eticamente e conservar o corpo irrepreensível (1 Co 6.18; 1 Ts 5.23).
3. Não Tentemos ao Senhor
Neste ponto, o apóstolo previne a Igreja quanto ao perigo da maldição em se provocar a Deus (1 Co 10.9). Os israelitas tentaram o Senhor com suas rebeldias, queixas, incredulidade e irreverência. Paulo lembra o protesto dos israelitas contra Deus por terem sido conduzidos para o deserto: “E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil” (Nm 21.5). Esse questionamento foi extremamente ofensivo aos olhos do Senhor. Ele os tirara do Egito com mão forte e poderosa, e estava provendo-lhes todo o sustento. Mas o povo demonstrava ingratidão e falta de confiança. Eles estavam testando e colocando à prova a paciência do Todo-Poderoso. “Tentar o Senhor é experimentar até que ponto se pode abusar da paciência de Deus antes de incorrer em seu julgamento” (Dt 6.16) (STRONSTAD, 2008, p. 995).
Como resultado de “tentarem ao Senhor”, o juízo divino foi instantâneo sobre o povo. O Senhor mandou serpentes ardentes e a natureza incurável das picadas matou muita gente em Israel (Nm 21.6). Ao reconhecerem o pecado, os queixosos suplicaram a Moisés que intercedesse diante de Deus (Nm 21.7). O arrependimento cessou a praga e possibilitou a cura para os que iam sendo picados (Nm 21.8,9). O apóstolo trouxe esse fato à memória da Igreja em Corinto, pois alguns dos irmãos também estavam “tentando ao Senhor” com os seus recorrentes pecados e afrontas à santidade do Altíssimo. Por conseguinte, os que de forma proposital rebelam-se contra a vontade do Senhor, ignoram a ética cristã e violam a lei moral de Deus, ficam sujeitos à ira divina (Rm 2.8,9).
4. Não Murmureis
Por fim, o apóstolo alerta acerca do pecado da murmuração (1 Co 10.10). Infelizmente, esse fato aconteceu várias vezes na peregrinação dos israelitas. É possível que na citação paulina esteja incluída a murmuração ocorrida em Cades quando o povo se recusou entrar na Terra Prometida recebendo o castigo por meio de uma praga (Nm 14.2,36,37). Mas o incidente na contradição de Coré parece servir melhor ao propósito do apóstolo. A rebelião liderada por Coré era uma murmuração não apenas contra Moisés e Arão, mas também contra o próprio Deus (Nm 16.1-35). Coré e duzentos e cinquenta aliados questionaram a escolha divina de confiar à liderança do povo e o ministério a Moisés e Arão. Diante dessa murmuração, eles foram submetidos a um teste de santidade. No dia seguinte, Arão, Coré e os 250 revoltosos ofereceram incenso em seus incensários. Coré trouxe o povo todo para assistir ao ritual e colocá-los contra Moisés e Arão. Todavia, enquanto o cerimonial acontecia, a terra se abriu e engoliu as tendas, os bens e as famílias dos líderes da rebelião. E, enquanto o povo corria com medo de ser tragado pela terra, “saiu fogo do Senhor, e consumiu os duzentos e cinquenta homens que ofereciam o incenso”.
Apesar de o juízo divino ter aberto a terra e enviado fogo contra os murmuradores rebelados, o coração do povo era extremamente obstinado. No dia seguinte, tornaram a afrontar Moisés e Arão e lançaram sobre eles a culpa pela morte de Coré, Datã, Abirão e suas famílias, bem como dos 250 príncipes que ofereciam incenso (Nm 16.41,42). Diante dessa teimosia e insensatez, Deus enviou uma praga que consumiu quatorze mil e setecentos israelitas (Nm 16.49). Lamentavelmente, a murmuração foi frequente e permanece em nossos dias: “murmurar contra Deus, ou contra os líderes que Ele designou, resulta no castigo divino [...] Esse era outro problema que a Igreja de Corinto estava enfrentando” (RIBAS, 2009, v. 2, p. 148). O significado aqui se refere à falta de ética que provoca maledicência, inveja e calúnias contra o próximo, e ainda provoca a ira de Deus.
No epílogo dessas advertências, Paulo reitera que as experiências de Israel servem de exemplo para os cristãos não cometerem os mesmos erros, pois “estão escritas para aviso nosso” (1 Co 10.11). O apóstolo ainda admoesta os cristãos que cuidam estar em pé que tomem muito cuidado para não cair (1 Co 10.12). Ao encerrar essas admoestações, Paulo apresenta uma palavra de esperança. Ele afirma que as tentações são comuns a todos, mas que não devemos desanimar, pois não estamos sozinhos em nossas fraquezas. Deus não nos deixará ser tentados além de nossa capacidade de resistir. A fidelidade do Senhor provê a cada um o meio de escape (1 Co 10.13). Portanto, devemos entregar nosso caminho ao Senhor e depositar nEle toda a nossa confiança (Sl 37.5).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
1. “Atenção para a tradição da Igreja de Cristo!
Além das Sagradas Escrituras, a Igreja de Cristo tem uma tradição riquíssima em decisões de questões éticas, como aborda muito bem o pastor Claudionor de Andrade: ‘Se, por um lado, não podemos escravizar-nos à tradição, por outro, não devemos desprezá-la. Sem o legado dos que nos precederam, jamais teríamos conseguido estruturar nosso edifício teológico, moral e ético. Logo, é-nos permitido eleger a tradição eclesiástica como o segundo fundamento da Ética Cristã. [...] A tradição, quando bem utilizada, assessora a Igreja nos dilemas teológicos, morais e éticos. O apóstolo Paulo reconhece-lhe a importância: ‘Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes’ (2Ts 3.6). O que não podemos fazer é colocá-la de pé de igualdade com a Bíblia. A Didaqué é um dos tratados mais antigos e tradicionais da Igreja Cristã. Produzida ainda nos dias apostólicos, ajudou os primeiros cristãos a posicionarem-se espiritual e eticamente. A Doutrina dos Doze Apóstolos, como também é conhecida, realçava-se por amorosas admoestações, conforme podemos observar: ‘Há dois caminhos: um da vida e outro da morte. A diferença entre ambos é grande. O caminho da vida é, pois, o seguinte: primeiro amarás a Deus que te fez: depois teu próximo como a ti mesmo. E tudo o que não queres que seja feito a ti, não o faças a outro’. Mais adiante, prossegue o autor anônimo, citando as práticas que conduzem o ser humano à perdição: ‘Mortes, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatrias, práticas mágicas, rapinagens, falsos testemunhos, hipocrisias, ambiguidades, fraude, orgulho, maldade, arrogância, cobiça, má conversa, ciúme, insolência, extravagância, jactância, vaidade e ausência do temor de Deus” (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017, pp.17,18).
2. Ética
“Historiador e estadista, Churchill não ignorava a influência da Bíblia Sagrada na formação das grandes nações. Sabia que, sem ela, a Civilização Ocidental seria inviável. Por isso, foi tão categórico ao analisar as conquistas espirituais e morais da Inglaterra: ‘O estandarte da ética cristã [a Bíblia] é, ainda, o nosso mais importante guia’”. Para conhecer mais, leia As Novas Fronteiras da Ética Cristã, CPAD, p.9.
A Bíblia Sagrada é o fundamento para o viver ético-moral dos cristãos. É a única regra infalível de fé e de conduta para a Igreja (2Tm 3.16). Portanto, em tempos de ataques ideológicos contra a cultura judaico-cristã, a Igreja não deve furtar-se de ser o “sal da terra” e a “luz do mundo” em pleno século XXI (Mt 5.13,14).
Fonte:
Livro de Apoio – Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Douglas Baptista
Lições Bíblicas 2º Trim.2018 - Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Comentarista: Douglas Baptista
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