“Portanto,
nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas,
deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com
paciência, a carreira que nos está proposta” Hb 12.1
Professor(a), pela graça do
Senhor Jesus Cristo, chegamos ao final de mais um trimestre. Estudamos a
Epístola aos Hebreus, uma carta que revela a superioridade de Cristo, do seu
ministério e da Nova Aliança. Ela foi escrita em um tempo e em um contexto bem
diferente do nosso, mas seu conteúdo é atual e nos ajuda a enfrentarmos os
“tempos trabalhosos” pelos quais estamos passando. Nesta última lição
estudaremos os dois últimos capítulos, esses nos exortam a correr a maratona da
fé sem recuar ou olhar para trás, pois em breve o nosso Salvador virá.
Texto Bíblico - Hebreus 12.1-8; 13.15-18
ESBOÇO DA LIÇÃO
1. Introdução
Texto Bíblico: Hebreus
12.1-8; 13.15-18
2. I. A Corrida
Proposta
• 1. O exemplo dos
antigos.
• 2. O exemplo de
Jesus.
• 3. O exemplo da
Igreja.
3. II. Corredores Bem
Treinados
• 1. Respeitam
limites.
• 2. Mantêm a mente
limpa.
• 3. Valorizem as
coisas espirituais.
4. III. As
Responsabilidades da Nova Aliança
• 1. Valorizar a
liderança.
• 2. Valorizar a
doutrina.
• 3. Valorizar a
adoração.
5. Conclusão
Assim como um atleta, o cristão corre a grande maratona da fé.
Os dois capítulos finais da Carta aos Hebreus constituem-se como um dos mais fortes apelos exortativos de toda a epístola. A exortação, que começa no capítulo 12, é que cada um corra a “maratona da fé” que está proposta. A palavra grega agon traduzida como “carreira” tem o sentido de luta, conflito, esforço e corrida. No capítulo 11 o autor havia falado das promessas de Deus como o alvo a ser alcançado, agora ele coloca o cristão dentro da maratona da fé, correndo rumo a essa meta. Como toda corrida, é preciso fazer os preparativos necessários. E isso tem uma razão de ser — toda corrida, especialmente a maratona, demanda algum tipo de esforço e sofrimento. O sofrimento aparece como algo intrínseco da corrida, já que ela exige uma vida disciplinada. Todavia, nada disso deve servir de desmotivação, já que estamos numa pista onde outros, bem antes de nós, também já trilharam.
Comentário de Hebreus 12.1-29 e 13.1-25
Os dois capítulos finais da Carta aos Hebreus constituem-se como um dos mais fortes apelos exortativos de toda a epístola. A exortação, que começa no capítulo 12, é que cada um corra a “maratona da fé” que está proposta. A palavra grega agon traduzida como “carreira” tem o sentido de luta, conflito, esforço e corrida. No capítulo 11 o autor havia falado das promessas de Deus como o alvo a ser alcançado, agora ele coloca o cristão dentro da maratona da fé, correndo rumo a essa meta. Como toda corrida, é preciso fazer os preparativos necessários. E isso tem uma razão de ser — toda corrida, especialmente a maratona, demanda algum tipo de esforço e sofrimento. O sofrimento aparece como algo intrínseco da corrida, já que ela exige uma vida disciplinada. Todavia, nada disso deve servir de desmotivação, já que estamos numa pista onde outros, bem antes de nós, também já trilharam.
Comentário de Hebreus 12.1-29 e 13.1-25
O capítulo 12 de Hebreus continua com o tom exortativo
característico do autor. Neil R. Lightfoot observa que o capítulo 11 não está
isolado dessa seção. Ele destaca que o autor
"combinando fervor e o
discernimento religiosos, trata-se de uma brilhante exortação colocada em meio
a duas grandes seções apelatórias (10.19-39 e cap. 12) com respeito ao
empreendimento cristão. Este capítulo então começa ou continua um desafio aos
leitores para que perseverem na fé até o fim”.1
“Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão
grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto
nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta" (v.
1).
Tendo discorrido sobre a odisseia dos heróis da fé, o autor
introduz um elemento de conclusão de sua longa dissertação sobre o valor da fé
na vida do crente. Estamos cercados de todos os lados pelo testemunho daqueles
que ousaram acreditar nas promessas de Deus e viver à altura delas. Ele exorta
seus leitores a deixar todo embaraço. A palavra grega usada aqui para
“embaraço” é onkos, que significa peso, massa, e só aparece aqui no
Novo Testamento. Philip E. Hughes destaca que esse termo é usado em relação a
um atleta que se despirá para a ação, tanto pela remoção do peso supérfluo —
mediante rigoroso treinamento — como pela remoção de todas as suas roupas.2 Muitas coisas à nossa volta não são pecados,
mas podem tornar-se um peso do qual precisamos nos livrar.
"olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual,
pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e
assentou-se à destra do trono de Deus" (v. 2).
O autor encoraja seus leitores a olharem para Jesus, e não
para as circunstâncias ao redor. Ele é o autor e consumador da nossa fé. O
termo grego teleiotés, traduzido aqui como consumador, tem o sentido
de “aquilo que é conduzido até o fim”. A ideia é do alvo que foi alcançado. O
autor destaca que, a favor da igreja, Cristo trocou a alegria pelo desprezo.
Ele suportou a cruz. A palavra "cruz” traduz o termo grego stauros, traduzido como cruz e madeiro.3 A palavra
grega kekathiken, traduzido "sentar”, está no perfeito. Esse tempo
verbal mostra uma ação feita no passado, mas cujos efeitos continuam no
presente. Nesse aspecto, o autor destaca que Cristo, tendo concluído a obra da
redenção, assentou-se à destra de Deus e ainda continua lá assentado (Ef 1.20).
E mais: no Reino espiritual, nós também estamos assentados com Ele acima de
todo principado, potestades, poder, domínios e qualquer nome que se possa
referir não só no presente século, mas também no vindouro (Ef 2.6).
"Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições
dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em
vossos ânimos" (v. 3).
Os crentes hebreus estavam desfalecendo. Deveriam, portanto,
tomar como exemplo Jesus Cristo, que, mesmo sendo inocente, suportou a afronta
dos pecadores.
“Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o
pecado" (v. 4).
Jesus Cristo não apenas suportou o escárnio, o desprezo e a
oposição dos pecadores; muito mais do que isso: Ele derramou seu sangue pela
humanidade. Era verdade que os cristãos hebreus haviam passado por certas
provas e sofrimentos, mas não ao ponto de derramar sangue. Não havia, portanto,
razão para recuar. Donald Hegner destaca que
"como indica o
contexto, não a batalha do crente que evita o pecado (cf. o v. 1), mas a luta
para vencer a apostasia. Pode referir-se também ao pecado dos inimigos de Deus
que perseguem o povo do Senhor, tanto quanto pode relacionar-se ao pecado
potencial da apostasia que aflige os leitores. É contra a apostasia que estes
devem lutar”.4
“E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco
como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies
quando, por ele, fores repreendido" (v. 5).
Citando Provérbios 3.11, o autor mostra que a prova da fé
cristã, longe de sinalizar um abandono de Deus, é uma clara demonstração do seu
amor. Aqui, o autor vê o sofrimento que vem como consequência da oposição desse
mundo hostil como algo positivo que vai acrescer maturidade à vida do crente. É
evidente que o autor não se refere aqui ao sofrimento que foi provocado pelo
próprio crente em virtude de seu pecado ou desobediência, nem tampouco naquele
que é claramente visto como uma ação de Satanás. Aqui, tem-se em vista o
sofrimento de quem vive de forma justa e piedosa e, por causa disso, entra em
rota de colisão com o mundo, a carne e o diabo.
“Pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que
recebe por filho” (v. 6).
Longe de apresentar Deus como um ser sádico, que tem prazer
em ver o sofrimento dos outros, o autor continua com sua citação do Antigo Testamento,
onde mostra que, muitas vezes, o sofrimento exerce um papel disciplinador na
formação do caráter e identidade do crente. Se sofremos, e Deus se faz presente
nesse sofrimento, então o sofrimento é para nosso próprio bem.
“É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos;
pois qual é o filho a quem o pai não corrija?” (v. 7).
O apóstolo Paulo lembrou que, quando não nos disciplinamos,
Deus, então, exerce o seu papel de Pai quando nos disciplina (1 Co 11.31,32). O
autor mostra que, se alguma coisa extraordinária estivesse acontecendo entre os
hebreus, eles deveriam ver isso não de forma negativa, mas como um agir de Deus
para o bem deles. Nem sempre é fácil ver Deus na adversidade. Como Gideão,
dizemos: "O Senhor nos desamparou" (Jz 6.13).
“Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos
participantes, sois, então, bastardos e não filhos" (v. 8).
O filho legítimo necessitava de disciplina e devia ser
disciplinado para que tivesse seu caráter bem formado. Todavia, no mundo
antigo, o filho ilegítimo não recebia tratamento igual. A palavra grega nothos, “ilegítimo”, não indica apenas
“que o pai não está
suficientemente interessado neles para lhes infligir o castigo apropriado a
seus filhos legítimos, mas, também, deve ser entendida no sentido legal de que
um filho ilegítimo não desfruta dos direitos de herança e do direito de
participação no culto familiar".5
“Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos
corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos
espíritos, para vivermos?" (v. 9).
Nesse versículo, a palavra “pais” traduz o grego “paideutes”, de onde se origina a palavra “paideia” e a portuguesa
pedagogia. A lógica do autor é bastante simples e prática: se nossos pais
terrenos possuem o direito de educar-nos, às vezes tendo que corrigir
comportamentos errados, da mesma forma Deus não pode fazer o mesmo conosco? Se
respeitamos nossos pais, que nos disciplinam, e não os abandonamos de forma
alguma, então por que vamos desistir da fé quando alguma situação adversa surge
na nossa caminhada espiritual? O contraste é feito entre “pais segundo a
carne”, que tem o sentido de “pais terrenos”, com "Pai dos
espíritos", que tem o sentido de “Pai celeste” ou “Pai espiritual".
“Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos
corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos
participantes da sua santidade” (v. 10).
Visando um bem maior, nossos pais nos corrigiam conforme
melhor lhes parecia. Às vezes, as suas intenções eram boas, mas a forma como
faziam poderia não ser adequada. Por outro lado, Deus, como nosso Pai,
corrige-nos visando um bem maior e da forma correta. O alvo da correção ou
prova espiritual é a nossa participação na santidade de Deus. Não podemos
servir a Deus de qualquer forma, visto ser Ele um Deus santo; precisamos nos
manter separados daquilo que ofende a sua santidade.
“E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de
gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos
exercitados por ela" (v. 11).
Nenhuma criança (e adulto também) gosta de ser repreendido ou
corrigido. A repreensão mostra-se desconfortável principalmente no momento em
que é feita. Todavia, o autor mostra que o Pai celeste sabe que ela é
necessária e, por isso, corrige-nos segundo melhor lhe parece. Há muitas
famílias e até mesmo igrejas destroçadas por omissão e descaso na aplicação da
disciplina bíblica. Se praticarmos a disciplina, ou, como diz o autor, nela nos
exercitarmos, seremos cristãos bem formados espiritualmente.
"Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os
joelhos desconjuntados” (v. 12).
Como faz com frequência, o autor fundamenta suas exortações
com passagens da Bíblia. Aqui, ele recorre a Isaías 35.3 da tradução dos LXX. Há muitas semelhanças entre o que
Isaías diz para o antigo Israel com aquilo que o autor vem falando para seus
leitores hebreus. A linguagem figurada mostra que é preciso vencer o cansaço e
a fadiga que surge na caminhada.
“E fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que
manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado” (v. 13).
A metáfora é a de um atleta em plena corrida que poderia
“desviar-se” da rota que lhe foi traçada. O termo "desviar" usado
pelo autor ocorre outras quatro vezes no texto grego (ektrapé) e, em todas as vezes, são de uso paulino. Duas dessas
ocorrências paulinas mantêm o mesmo sentido que o autor demonstra aqui. Em 1
Timóteo 1.6, é usado para referir-se àqueles que se haviam desviado da sã
doutrina para seguir as fábulas. Em 1 Timóteo 5.15, o apóstolo usa em
referência às viúvas que se haviam desviado seguindo a Satanás. O perigo de
perder o rumo existe, e é por isso que é preciso vigilância e cuidado.
“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém
verá o Senhor" (v. 14).
O autor volta à santidade sobre a qual já se havia referido
em Hebreus 12.10. O termo "santidade” traduz o grego hagiasmós, que, nesse contexto, tem um sentido mais relacional do que
cerimonial. Aqui, o autor usa "santidade” para referir-se ao
relacionamento do crente com Deus. Não se trata de uma forma de prática
legalista, mas, sim, da intimidade do cristão com o Senhor.
“Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de
que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se
contaminem" (v. 15).
O autor mantém seu tom exortativo. Aqui, ele exige cuidado e
supervisão (gr. episkopeo) de seus ouvintes para não se privarem da graça
de Deus. Os expositores Wilfrid Haubeck e Heinrich Von Siebenthal destacam que
a expressão “hysteron apo charitos (privar da graça de Deus) tem o sentido de "ficar para
trás / não chegar ao destino (na competição) e, assim, perder a graça”.6 O expositor George Wesley Buchanan observa
que, aqui, o autor tenha ainda em mente a metáfora da corrida atlética e adapta
à corrida cristã. Buchanan destaca que o autor tem em mente alguma coisa que
pode conduzir à idolatria e à apostasia.7 Para Richard Taylor, essas palavras do autor de Hebreus
também realçam o aspecto metafórico por ele descrito, só que em referência aos
aspectos da vida cristã, e não propriamente às pessoas.
“Como as mãos são uma metáfora de serviço, e joelhos são uma
figura de atitude (quer corajosa ou ansiosa), assim os pés são uma figura do
caminhar cristão diário. Se este caminhar é cambaleante e tortuoso, nossa
fraqueza se tornará pior, e nossa influência sobre os outros será prejudicada.
Deus deseja a cura; mas nem as nossas próprias almas nem a nossa influência
serão curadas a não ser que estejamos dispostos a corrigir o que está errado em
nossas vidas. O arrependimento é o pré-requisito para a cura da alma".8
"E ninguém seja devasso, ou profano como Esaú, que por
uma simples refeição vendeu o seu direito de primogenitura” (v. 16).
A palavra “devasso" usada aqui traduz o termo grego pornôs, da mesma raiz de pornográfico, prostituição e imoralidade.
No Antigo Testamento, é bastante comum esse vocábulo ser usado em relação à
idolatria como uma forma de prostituição. Aqui, o contexto sugere o uso desse
sentido, pois, ao vender o seu direito de primogenitura, Esaú agiu com uma
mentalidade materialista e avarenta. Ele valorizou mais o seu desejo que as
bênçãos espirituais. Paulo afirma que a avareza é uma forma de idolatria (Cl
3.5). Por outro lado, o termo “profano”, do grego bébelos, está
relacionado à falta de religiosidade de Esaú, que o fez perder a sua bênção.
“Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a
bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com
lágrimas o buscou” (v. 17).
O autor usa o exemplo de Esaú como uma metáfora de como devem
ser tratadas as coisas espirituais.
Esaú serve para exemplificar que há casos em que o arrependimento pode ser
tardio.9 O expositor Richard Taylor comenta que
“Esaú pode ter alcançado
arrependimento para a salvação eterna, mas não readquiriu seu direito de
primogenitura (...). Persistir em vender santidade, que é o nosso direito de
primogenitura, pelo prato de lentilhas que este mundo oferece vai finalmente
selar nossa condenação. Há esperança para o relapso, mas não há esperança para
o apóstata absoluto, e não haverá uma 'segunda chance’ após a morte”10.
No caso de Esaú, foi a bênção da primogenitura; no caso dos
Hebreus, era a promessa da salvação.
“Porque não chegastes ao monte palpável, aceso em fogo, e à
escuridão, e às trevas, e à tempestade" (v. 18).
Aqui, o autor usa os textos da Septuaginta de Deuteronômio
4.11; 5.22-25 e Êxodo 19.12-19. Os eventos do Sinai, onde houve manifestações
físicas da presença divina, servem para mostrar como o povo da Antiga Aliança comportou-se
diante dessas manifestações. Adam Clarke destaca que o propósito do escritor
era "demonstrar que a dispensação da lei gera terror; que era terrível e
exclusiva; que pertencia somente ao povo judeu".11 Por outro lado, Bruce vê aqui uma advertência
dada pelo autor de Hebreus àqueles que começaram, mas estavam voltando atrás.
Aqueles que são fiéis não devem temer nada.12
“E ao sonido da trombeta, e à voz das palavras, a qual, os
que a ouviram pediram que se lhes não falasse mais” (v. 19).
Êxodo 19 mostra a sequência de eventos quando Deus
revelou-se. A santidade de Deus é demonstrada aos israelitas de uma forma
imponente em Êxodo 20.18-21. C. S. Keener destaca que, naquela ocasião. Deus
quis provocar no povo o temor a fim de que eles parassem de pecar.13
"Porque não podiam suportar o que se lhes mandava: Se
até um animal tocar o monte, será apedrejado” (v. 20).
Deus é
tremendamente santo e, aqui, os parâmetros sobre a sua santidade atingiam até
os animais (Nm 17.3).
“E tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo
assombrado e tremendo” (v. 21).
Diante da manifestação da glória de Deus, até mesmo Moisés
ficou assustado. No livro de Deuteronômio, ele diz: "Porque temi por causa
da ira e do furor com que o Senhor tanto estava irado contra vós, para vos
destruir; porém, ainda por esta vez, o Senhor me ouviu" (Dt 9.19). Donald
Guthrie destaca que:
"Não há nenhum registro
específico no Antigo Testamento de que Moisés tenha dito: Sinto-me aterrado e
trêmulo na ocasião da outorga da lei, mas a ocorrência da tremedeira não é
difícil de se imaginar nessas circunstâncias. A declaração mais próxima é
Deuteronômio 9.19, que registra que Moisés relembra o temor que sentira. Além
disso, há referência ao seu temor diante da sarça ardente (Êx 3.6), fato este
que Estêvão nota em Atos 7.32. Este terror da parte de Moisés termina
abruptamente o comentário do escritor sobre a velha ordem. Seu interesse
centraliza-se na nova ordem”.14
“Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém
celestial, e aos muitos milhares de anjos" (v. 22).
O cenário muda do monte Sinai para o monte Sião; da Jerusalém
terrena para a Jerusalém celestial; das figuras humanas para as figuras
angélicas. Aqui, os anjos aparecem não como seres a serem adorados, mas como
adoradores de Deus juntamente com os remidos.
“Á universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão
inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos
aperfeiçoados" (v. 23).
Esse versículo é mais bem traduzido na Bíblia de Jerusalém:
“com a igreja toda, na qual todos são ‘primogênitos’ e cidadãos do céu.” A
expressão "espíritos dos justos aperfeiçoados” é uma referência a todos os
crentes que completaram suas carreiras, que chegaram ao alvo desejado. É o
mesmo termo grego que o autor usou em Hebreus 5.9.
"E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue
da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (v. 24).
O relato de Gênesis 4.10 mostra que o sangue de Abel clama
justiça. Na tradição rabínica, ele continuava clamando contra Caim. Esse
conceito do “sangue que clama” também é lembrado por Jesus: “para que sobre vós
caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de
Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes
entre o santuário e o altar” (Mt 23.35). Aqui, o contraste é entre o sangue do
justo Abel, assassinado injustamente, e o sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus
imaculado e Mediador de um novo pacto, que foi entregue e morto por todos os
homens. F. F. Bruce destaca que
"O sangue de Abel clamou a Deus desde a terra, ele está
protestando contra o seu assassinato e reivindicando vingança; mas o sangue de
Cristo traz uma mensagem de limpeza, perdão e paz com Deus para todos os que
depositam sua fé nele".15
"Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se não
escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós,
se nos desviarmos daquele que é dos céus" (v. 25).
Com Êxodo 20.19 em mente, o autor volta ao seu característico
tom exortativo. Se a quebra da Lei, que foi outorgada na terra, no Sinai,
trouxe consequências para os desobedientes, muito mais responsabilidade tem
aqueles que são advertidos e que participam de uma aliança superior, que vem
diretamente do céu.
“A voz do qual moveu, então, a terra, mas, agora, anunciou,
dizendo: Ainda uma vez comoverei, não só a terra, senão também o céu” (v.
26).
Esse versículo remete a Êxodo 19.18 e Salmos 68.8. No
passado, na outorga da Lei, a voz de Deus foi ouvida como um estrondo. Na Nova
Aliança, essa voz será ouvida no futuro, cumprindo a profecia de Ageu 2.6: “Porque
assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, e farei tremer
os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca”. O autor de Hebreus usa esse texto
como uma referência aos eventos escatológicos finais.
“E esta palavra: Ainda uma vez, mostra a mudança das coisas
móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam" (v. 27).
A velha ordem dará lugar a uma nova ordem. A ideia aqui é que
tudo o que existe será “sacudido” e só as coisas que são inabaláveis
permanecerão. Donald
Hegner sublinha que:
“As palavras ainda uma vez,
extraídas da citação, explicam-se como referência ao julgamento escatológico
(diferentemente do abalamento’ ou ‘sacudidela’ anterior); este abalar envolve
purificação das coisas criadas (lit., como de coisas feitas’) para que (ou a
fim de que’) só as (coisas) inabaláveis permaneçam, e mais nada. Mas as coisas
que são abaláveis de fato serão abaladas; e isto é o que faz que a perspectiva
do julgamento escatológico seja uma coisa terrível, (cf. v. 29)”.16
"Pelo que, tendo recebido um Reino que não pode ser
abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com
reverência e piedade” (v. 28).
Aqui, o contraste é feito entre o mutável e o imutável; entre
o que é abalável e o inabalável. A natureza do reino espiritual do qual todos
os crentes fazem parte não sofre desgastes pelo tempo nem tampouco poderá ser
substituído. Como participantes desse reino, a atitude do adorador é de um
coração reverente e cheio de temor.
“Porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (v. 29).
Aqui, o autor tem em mente Deuteronômio 4.24, que fala de um
"Deus zeloso”. Diante de um Deus tão grande e de uma revelação tão
completa, o crente não pode agir com indiferença.17
A conclusão da carta aos Hebreus no capítulo 13 segue o
modelo das demais cartas neotestamentárias. Tendo terminado a sua longa
exposição teológica, o autor conclui sua redação com alguns conselhos e
recomendações práticas. Na verdade, essa conclusão apresenta-se como uma forma
de "complemento”, onde algumas exortações já feitas no corpo da carta são
trazidas à tona, porém de uma forma menos complexa. Muito da identidade do autor
é revelada aqui. Um homem humilde, piedoso, compromissado e cheio de amor por
seus irmãos aos quais ele queria ver com animo, fé e esperança em tempos de
apostasia.
“Permaneça o amor fraternal" (v. 1).
O verbo grego usado aqui, menô, está no
presente imperativo. O presente contínuo indica uma ação habitual ou contínua.
O autor começa a conclusão de sua carta com uma ordem ou mandamento. O sentido
é: “continuem permanecendo no amor fraternal’’.
“Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns,
não o sabendo, hospedaram anjos” (v. 2).
O autor lembra seus leitores de serem hospitaleiros. Essa
palavra (philonexenia) é também usada por Paulo em Romanos 12.13. Visto os
constantes deslocamentos e as precárias acomodações existentes, a hospitalidade
era algo extremamente necessário. Aqui, ela surge como uma demonstração de
amor, comunhão e uma troca de bênçãos recíprocas. Como hospedeiro, Abraão
acolheu a anjos (Gn 18.1-8).
“Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles,
e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo" (v. 3).
É possível que, nessa passagem, o autor esteja se referindo
aos cristãos encarcerados por causa de sua fé. No primeiro século, os presos,
em alguns casos, não possuíam nem mesmo direito à alimentação. Eles dependiam
de terceiros para prover-lhes o necessário.
“Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula;
porém aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os
julgará" (v. 4).
A visão sobre a relação sexual entre os gregos e romanos era
muito diferente daquela que existia entre os hebreus. No mundo greco-romano, a
prática sexual não possuía os limites que a cultura judaica estabelecia. A
pederastia, relação sexual entre uma pessoa mais velha e uma mais jovem, era
uma prática que tinha amparo legal. Foi dito que Nero, o impiedoso imperador
romano, era o homem de toda mulher e a mulher de todo homem. Sabendo que a
prática sexual era vista de forma distorcida nos seus dias, o autor exorta os
seus leitores a manterem a pureza sexual. A forma estabelecida por Deus era a
prática do sexo dentro da esfera matrimonial.
“Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que
tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei" (v.
5).
Aqui, a exortação do autor direciona-se contra a avareza. A
palavra grega aphilargyros, usada no versículo como "avareza",
tem o sentido de “sem amor ao dinheiro”. Esse mesmo termo grego é usado em 1
Timóteo 3.3. Possuir dinheiro não é pecado, mas amar o dinheiro é. O conselho
do autor é buscar o contentamento. Aqui, ele lembra as promessas de Deus a
Josué, onde o Senhor mostra seu cuidado com o grande comandante de Israel (Js
1.5).
“E, assim, com confiança, ousemos dizer: O Senhor é o meu
ajudador, e não temerei o que me possa fazer o homem" (v. 6).
Tendo em mente o Salmo 118.6, o autor lembra os seus leitores
da fidelidade de Deus. Esse versículo é bem significativo quando o contemplamos
dentro da exortação que o autor vem fazendo. Numa época de perseguição,
espólio, sofrimento e até mesmo morte, o crente necessita descansar nas
promessas de Deus.
“Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra
de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de
viver" (v. 7).
A palavra "pastores” traduz o vocábulo grego hégeomai, que aparece 20 vezes no Novo Testamento. O autor de hebreus
utiliza esse termo seis vezes, sendo três delas neste capítulo.18 Na maioria das vezes, esse termo é aplicar a
um "líder”. Dessa forma, Paulo exorta aos Tessalonicenses (1 Ts 5.13);
Estevão usa essa palavra para referir-se a José como “governador" do Egito
(At 7.10); em Hebreus 13.17, o autor usa essa palavra para exortar seus
leitores a serem obedientes a seus pastores. O sentido aqui, portanto, é o de
submissão, e não o de subserviência, dos liderados frente a seus líderes ou
pastores.
“Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e
eternamente" (v. 8).
O expositor bíblico Donald Hegner expôs com precisão esse
versículo:
“A ênfase maior desse versículo é que Jesus Cristo, por causa
de sua obra do passado e do presente, é infinitamente capaz de satisfazer todas
as necessidades de todos os cristãos. Isto se torna aparente não só a partir do
contexto, mas também pela estrutura do próprio versículo que diz, literalmente:
‘Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e até as eras.’ Sua obra de ontem, a obra
sacrificial e expiatória como sumo sacerdote, foi exposta pelo autor de Hebreus
com profundidade. É a própria base do cristianismo. Hoje a obra de Cristo
prossegue, na intercessão que ele faz por nós, à mão direita do Pai (7.25; cf.
4.14-16)”.19
“Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e
estranhas, porque bom é que o coração se fortifique com graça e não com
manjares, que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram" (v.
9).
Durante sua exposição sobre a doutrina do sacerdócio, o autor
havia deixado bem claro que a Antiga Aliança, com todo o cerimonialismo levítico,
havia sido substituída por uma Nova Aliança e um novo sacerdócio. Dentro da
velha ordem, havia leis minuciosas sobre o que era considerado limpo e imundo
(Dt 4.3-20). Ao acharem que essas regras tornavam Israel melhor do que os
outros povos, eles acabaram desenvolvendo uma atitude legalista em relação às
mesmas. Para o autor, essas práticas não foram capazes de justificar ninguém
diante de Deus. O que importava, portanto, não era a observância meticulosa
dessas leis, mas, sim, um coração limpo e cheio da graça de Deus.
“Temos um altar de que não têm direito de comer os que servem
ao tabernáculo” (v. 10).
Usando uma linguagem metafórica, o autor usa a cruz como
sendo o altar do cristão. Os judeus que insistiam em cultuar a Deus valendo-se
do antigo cerimonial levítico estavam excluídos da verdadeira adoração cristã.
Era uma coisa ou outra. Quem insistisse em participar do velho sistema estava
excluído do novo.
“Porque os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado,
trazido pelo sumo sacerdote para o Santuário, são queimados fora do
arraial” (v. 11).
Levítico 9.11 e Números 9.13 descrevem os vários rituais de
sacrifícios que eram realizados fora do acampamento. O expositor C. S. Keener
observa acertadamente que a referência, nesse versículo, é ao dia da expiação,
quando o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos com o sangue do sacrifício
(Lv 16.27). Jesus cumpriu esse sacrifício no altar celestial.20
“E, por isso, também Jesus, para santificar o povo pelo seu
próprio sangue, padeceu fora da porta” (v. 12).
Nessa passagem, o autor estabelece um paralelo entre os
sacrifícios realizados no dia da expiação e o sacrifício de Jesus. Naquela
ocasião, os corpos dos animais sacrificados eram queimados fora do acampamento.
O relato em João 19.20 demonstra o fato de Jesus ter sido crucificado fora da
cidade. O sumo sacerdote entrava no santuário com o sangue de animais para
fazer o ritual da purificação; Jesus, todavia, com seu próprio sangue, entrou
no Santo dos Santos para santificar o povo.
“Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu
vitupério" (v. 13).
Esse versículo dá sequência à argumentação do autor no verso
anterior. Aqui, o convite é para os crentes deixarem o velho sistema e
abraçarem o novo. Seguir a Jesus significa tomar a sua cruz e levar o seu
vitupério. O termo grego oneidismos (vitupério) ocorre cinco vezes no Novo
Testamento e significa "insulto”, "opróbrio". Esse termo já
havia sido usado pelo autor de Hebreus no capítulo 11.26 para referir-se à
"desonra" (NVI) que Moisés sofreu por ter abandonado as glórias do
Egito. Seguir a Cristo é recompensador, mas quem o segue de verdade não terá os
aplausos do mundo.
"Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a
futura" (v. 14).
A cultura judaica antiga alimentava a esperança numa
Jerusalém vindoura, que não podia ser encontrada aqui na terra. Para o autor de
Hebreus, essa Jerusalém já existe e é para lá que os cristãos devem ansiar ir.
Aqui, o contexto sugere que o autor tem consciência da luta dos cristãos
primitivos e não quer vê-los alimentando expectativas com o velho sistema,
simbolizado aqui pela Jerusalém terrena.
“Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de
louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (v. 15).
Seguindo o texto de Oseias 14.3 da Septuaginta, o autor entra
na dinâmica do culto cristão. O sacrifício do cristão é feito através da
adoração e louvor que ele presta a Deus. Cristo ofereceu-se a si mesmo a Deus,
e o cristão, por meio de Cristo, deve render sacrifícios espirituais. Uma
tradição judaica afirmava que todos os sacrifícios mosaicos teriam um fim,
exceto a gratidão, e todas as orações encerrariam, exceto a de ações de graças.21
“E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque,
com tais sacrifícios, Deus se agrada" (v. 16).
Aqui, há um paralelo entre Atos 4.32-33, onde é descrito como
vivia a comunidade primitiva. A exortação é para que os crentes não
negligenciem práticas que são saudáveis e necessárias na vida cristã. As
palavras “beneficência" e "comunhão" traduzem os termos gregos eupoiia e koinonia, respectivamente, que, neste contexto,
significam "prática do bem” e "mútua cooperação”.
"Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles;
porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas; para que
o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria
útil" (v. 17).
Mais uma vez, como já havia feito (v. 7), o autor chama a
atenção para a relação líder-liderado. Aqui, o contexto sugere que o termo egoumenois (pastor) tem o sentido de alguém que supervisiona ou
pastoreia uma comunidade. Eles devem ser objeto de respeito, amor e
consideração devido à obra que realizam (1 Ts 5.13). O trabalho pastoral
transcende em muito o aspecto material ou físico. Aqui, o autor diz que o
supervisor ou pastor tem a missão de “vigiar”, “estar alerta e vigilante” pela
congregação, porque, segundo o autor de Hebreus, ele está consciente que
prestará contas sobre a mesma. Tendo sobre seus ombros tão grande
responsabilidade, seria um fardo a mais suportar a indiferença de seus
liderados.
“Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência,
como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente" (v. 18).
Embora não saibamos quem escreveu esta carta, suas palavras
revelam o caráter de um homem de Deus. Com humildade, ele pede oração a seus
leitores, mostrando que a sua obra foi feita com a consciência de quem quer
agradar a Deus, e não a si mesmo.
“E rogo-vos, com instância, que assim o façais para que eu
mais depressa vos seja restituído"(v. 19).
Nesse versículo, alguns argumentam que o autor revela estar
encarcerado, mas F. F. Bruce, tendo em vista o versículo 23, discorda dessa
opinião. O fato é que o autor acredita fortemente no poder da oração e pede
todo o empenho da comunidade em favor dele.
“Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou
a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande Pastor das
ovelhas" (v. 20).
Esse versículo é mais bem compreendido dentro da tipologia do
Êxodo:
“Todavia, se lembrou dos dias da antiguidade, de Moisés e do
seu povo, dizendo: Onde está aquele que os fez subir do mar com os pastores do
seu rebanho? Onde está aquele que pôs no meio deles o seu Espírito Santo?"
(Is 63.11). A imagem é aquela de Moisés como o pastor do povo de Deus na
travessia do mar (Sl 77.20). Aqui, a metáfora, como observa Bruce, é que Jesus,
o grande Pastor, assim como Moisés, foi trazido não do mar, mas do domínio da
morte.22
“Vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua
vontade, operando em vós o que perante ele é agradável por Cristo Jesus, ao
qual seja glória para todo o sempre. Amém!” (v. 21).
Aqui, o autor expressa o seu desejo de ver seus leitores
sendo capacitados e aperfeiçoados no servir a Deus. O Senhor é a fonte dessa
graça que habilita os crentes a realizarem sua vontade.
“Rogo-vos, porém, irmãos, que suporteis a palavra desta exortação;
porque abreviadamente vos escrevi" (v. 22).
O autor tem consciência de que foi incisivo em muitos pontos
de sua argumentação e que fora duro em muitos deles. Todavia, isso não era
tudo. Ele poderia ter dito muito mais, porém o que fora apresentado era
suficiente. Agora, ele rogava-os que essa palavra de exortação deveria ser
acolhida.
“Sabei que já está solto o irmão Timóteo, com o qual (se vier
depressa) vos verei" (v. 23).
Aqui, é dada uma informação sobre Timóteo que não aparece nos
demais escritos neotestamentários — a libertação de Timóteo da prisão. Essa era
uma boa notícia para todos os crentes, já que Timóteo, um discípulo de Paulo,
era querido por toda a igreja.
“Saudai todos os vossos chefes e todos os santos. Os da
Itália vos saúdam” (v. 24).
Mais uma vez, como já havia feito, o autor demonstra um
carinho e um respeito muito grande pelos supervisores da obra de Deus. Ele
recomenda saudações a todos, juntamente com todos os crentes.
“A graça seja com todos vós. Amém!” (v. 25).
O autor termina sua carta como o faz os demais escritores do
Novo Testamento: recomendando a todos a graça de Deus. Uma carta que começou
com a graça, agora termina também com a graça. Amém.
Notas
1 LIGHTFOOT, Neil R. Hebreus - comentário
vida cristã. Editora Vida Cristã.
2 FRITZ, Rienecker. Chave Linguística do Novo
Testamento. Vida Nova.
3 Stauros, tanto no Antigo com o no Novo Testamento,
recebe vários significados quando é traduzida. O seu significado, portanto, não
pode ser dado isolado do seu contexto (para um estudo exaustivo sobre essa palavra,
veja: GONÇALVES, José. Defendendo o Verdadeiro Evangelho. CPAD, Rio de Janeiro,
2009).
4 HEGNER, Donald. Hebreus - comentário
bíblico contemporâneo. Editora Vida.
5 RIENECKER, Fritz. Chave Linguística do Novo
Testamento. Vida Nova.
6 HAUBECK, Wilfrid e SIEBENTHAL, Heinrich
Von. Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego. Hagnus.
7 BUCHANAN, George Wesley. To The Hebrews -
The Anchor Bible. Doubleday & Company, INC.
Garden City, Nova York, EUA, 1972.
8 TAYLOR, Richard. Hebreus - comentário
bíblico Beacon. CPAD, Rio de Janeiro.
9 A mesma palavra arrependimento usada aqui, metanoia,
também é usada em Hebreus 6.4-6.
10 TAYLOR, Richard. Hebreus - comentário
bíblico Beacon. CPAD, Rio de Janeiro.
11 CLARKE, Adam. Hebreus - comentário de la
Santa Biblia - Novo Testamento, Tomo III. Casa Nazarena de Publicaciones.
12 BRUCE, F. F. La Epistola a los Hebreos. Libros
Desafio.
13 KEENER, C. S. Comentário al Contexto
Cultural dei Nuevo Testamento. Mundo Hispano.
14 GUTRHIE, Donald. Hebreus - introdução e
comentário. Editora Vida Nova.
15 BRUCE, F. F. La Epistola a los Hebreos. Libros
Desafio.
16 HEGNER, Donald. Hebreos - novo comentário
contemporâneo. Editora Vida.
17 KEENER, C. S. Comentário al Contexto
Cultural del Nuevo Testamento. Mundo Hispano.
18 FRIBERG, Timothy e FRIBERG, Barbara. Analytical Concordance of the
Greek New Testament, vol. 1, lexical focus. Baker Book House, Grand Rapids,
Michigan, EUA.
19 HEGNER, Donald. Hebreus - novo comentário
bíblico contemporâneo. Editora Vida.
20 KEENER, C. S. Hebreos - comentário al
contexto cultural de la Biblia. Mundo Hispano.
21 RIENECKER, Fritz. Chave Linguística do
Novo Testamento Grego. Vida Nova.
22 BRUCE, F. F. La Epistola a los Hebreos. Libros Desafio.
22 BRUCE, F. F. La Epistola a los Hebreos. Libros Desafio.
Fonte:
Livro de Apoio – A Supremacia de Cristo - Fé, Esperança e Ânimo na Carta aos Hebreus - José Gonçalves
Lições Bíblicas 1º Trim.2018 - A supremacia de Cristo - Fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus - Comentarista: José Gonçalves
Livro de Apoio – A Supremacia de Cristo - Fé, Esperança e Ânimo na Carta aos Hebreus - José Gonçalves
Lições Bíblicas 1º Trim.2018 - A supremacia de Cristo - Fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus - Comentarista: José Gonçalves
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