"Ora, a fé é o firme fundamento das
coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem." Hb 11.1
O autor acabara de fazer sua longa exposição sobre a supremacia de Cristo, seu sacerdócio e a superioridade da Nova Aliança em relação à Antiga. Essa exposição começou no capítulo primeiro e se estendeu por quase todo o capítulo dez. Aqui, ele faz um apanhado histórico sobre a jornada de fé dos homens e das mulheres de Deus no Antigo Pacto e como isso deveria ser tomado como exemplo para os cristãos do Novo Concerto. Essa fé, diferentemente do conceito de justificação dado por Paulo, aparece aqui com o sentido de ousadia, perseverança e confiança nas promessas de Deus. A fé demonstrada por eles em diferentes momentos da história, e em diferentes situações, foi o que garantiu as suas inserções na galeria dos heróis bíblicos. Essa mesma fé, que garantiu que eles sempre avançassem e nunca recuassem, devemos imitar.
Texto Bíblico - Hebreus 11.1-8, 22- 26,30 - 34
ESBOÇO DA LIÇÃO
1. Introdução
O autor acabara de fazer sua longa exposição sobre a supremacia de Cristo, seu sacerdócio e a superioridade da Nova Aliança em relação à Antiga. Essa exposição começou no capítulo primeiro e se estendeu por quase todo o capítulo dez. Aqui, ele faz um apanhado histórico sobre a jornada de fé dos homens e das mulheres de Deus no Antigo Pacto e como isso deveria ser tomado como exemplo para os cristãos do Novo Concerto. Essa fé, diferentemente do conceito de justificação dado por Paulo, aparece aqui com o sentido de ousadia, perseverança e confiança nas promessas de Deus. A fé demonstrada por eles em diferentes momentos da história, e em diferentes situações, foi o que garantiu as suas inserções na galeria dos heróis bíblicos. Essa mesma fé, que garantiu que eles sempre avançassem e nunca recuassem, devemos imitar.
Texto Bíblico - Hebreus 11.1-8, 22- 26,30 - 34
ESBOÇO DA LIÇÃO
1. Introdução
• Texto Bíblico: Hebreus 11.1-8,22-26,30-34
2. l. A Fé que gera confiança em Deus
• 1. O sacrifício de Abel.
• 2. O testemunho de Enoque.
• 3. A confiança de Noé.
3. II. A Fé que faz ver o invisível
• 1. A obediência de Abraão.
• 2. A fidelidade de José.
• 3. A determinação de Moisés.
4. III. A Fé que dá poder para avançar
• 1. A ousadia de Josué.
• 2. A coragem de Raabe.
• 3. O heroísmo de Gideão.
5. Conclusão
O capítulo 11 de hebreus é um dos mais conhecidos e mais ricos sobre o tema da fé. Segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal, editada pela CPAD, "o capítulo 11 demonstra a natureza do único tipo de fé aceita por Deus e que triunfará na pior das situações. É uma fé que crê nas realidades espirituais (v.1), que leva à justiça (v.4), que busca a Deus (v.6), que crê na sua bondade (v.6), que tem confiança na sua palavra (vv.7,11), que obedece aos seus mandamentos (v.8), que vive segundo as promessas de Deus (w. 13,29), que rejeita o espírito deste presente mundo mau (v.13), que busca um lar celestial (vv.14-16; cf.13.13,14), que abençoa a geração seguinte (v.21), que recusa os prazeres do pecado (v.25), que suporta a perseguição (v.27), que pratica poderosos atos de justiça (vv.33-35), que sofre por amor a Deus (vv. 25,35-38) e que não volta àquela pátria donde haviam saído, i.e., o mundo" (p.1916).
Com base nesse comentário, podemos destacar algumas características da fé que o autor aos Hebreus se refere no capítulo 11: a fé nos faz crê nas realidades espirituais (v.1); A fé nos leva à justiça (v.4); a fé nos leva crê na bondade de Deus (v.6); a fé nos leva a ter confiança na Palavra de Deus (vv.7,11); a fé nos leva a obedecer os mandamentos divinos (v.8); a fé nos leva viver segundo as promessas divinas (w.13,29); a fé nos leva a rejeitar o espírito do mundo (v.13); a fé nos levar a buscar um lar celestial (v. vv.14-16; cf.13.13,14); a fé nos leva a abençoar a nossa geração seguinte (v.21); a fé nos leva a recusar os prazeres do pecado (v.25); a fé nos leva a suportar a perseguição (v.27); a fé nos leva a sofrer por amor a Deus (v.25,35-38). Revista Ensinador Cristão nº72
A fé é a confiança irrestrita nas promessas de Deus.
Comentário de Hebreus 11.1 -40
A leitura do capítulo 11 de Hebreus deve ser feita à luz do que foi dito no capítulo 10. Ali, o autor completou o seu longo argumento sobre o sacerdócio de Cristo (Hb 10.18) e, parenteticamente, como de costume, usou um tom exortativo para alertar seus leitores sobre o perigo de voltar atrás. O capítulo 11 traz a galeria dos heróis da fé, como uma forma de exemplificar como viveram e agiram os grandes homens e mulheres de Deus do passado. O objetivo é que seus exemplos sejam seguidos pelos cristãos hebreus que davam sinais de desesperança e falta de fé.
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem" (v. 1).
Mais do que um conceito, o autor faz aqui uma afirmação sobre a fé que é oposta àquela que estava sendo demonstrada por seus leitores. Os Hebreus davam sinal de fraqueza espiritual justamente porque estava faltando-lhes a fé. O substantivo grego pistis, traduzido aqui como "fé”, ocorre 243 vezes no Novo Testamento; 30 vezes somente em Hebreus, sendo que, somente no capítulo 11, há o registro dessa palavra 24 vezes.1 A palavra grega hypostasis, traduzida aqui como "fundamento", tem, no texto grego, o sentido de certeza, garantia, segurança2 Nesse sentido, era usada como atestação ou garantia de uma propriedade. Para o autor, a fé era como ter em mãos um documento que atestava a posse de determinado objeto. E mais: a fé é a convicção das coisas que não se viam. O termo grego elenkos, traduzido aqui como "prova”, mantém o sentido de "evidência”.3
“Porque, por ela, os antigos alcançaram testemunho” (v. 2).
Nesse versículo, a construção en tauté gar emartyrethesan presbyteroi ("pois nela, isto é, na fé, os antigos obtiveram testemunho"). Aqui, é o próprio Deus quem dá testemunho dos feitos que a fé realizou na vida dos antigos.
“Pela fé, entendemos que os mundos, pela palavra de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente" (v. 3).
Aqui, a fé é usada no sentido instrumental. É por meio da fé que temos a percepção das coisas espirituais. Mediante a fé, sabemos que o universo foi criado pela palavra de Deus. Os expositores veem aqui um contraste entre a percepção mental e sensitiva, quando o autor usa o termo grego noeo (aquilo que está relacionado ao conhecimento intelectual). A fé vai além do conhecimento sensorial e empírico para acreditar que o mundo visível não tenha existido a partir das coisas que são visíveis.4
“Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e, por ela, depois de morto, ainda fala" (v. 4).
Abel abre a galeria dos heróis da fé. O texto de Gênesis 4.2-16 silencia sobre o que teria distinguido o sacrifício de Abel daquele oferecido por Caim. Todavia, o autor de Hebreus diz que a oferta (gr. propheró) de Abel foi melhor (gr. pleion). Donald Hegner observa que “a entrega sem reservas à realidade de Deus e ao caráter absoluto das vindicações de Deus sobre nós — fez uma diferença decisiva. De certa forma, Caim retraiu-se em relação a Deus, quer na própria oferta, quer em seu coração”.5
"Peia fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o trasladara, visto como, antes da sua trasladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus” (v. 5).
A palavra grega metatithemi, usada três vezes em Hebreus e outras três vezes no Novo Testamento, significa "mudar”, “transpor", "transferir”, "remover” e “trasladar”.6 Na interpretação do autor, Enoque, tendo obtido o testemunho de haver agradado a Deus, foi trasladado ao céu e não passou pela morte.
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam" (v. 6).
De forma parentética, como costumeiramente vinha fazendo, o autor aproveita o espaço para fazer uma exortação sobre a necessidade de se exercer a fé na caminhada cristã. Aqueles que creem precisam saber que Deus existe e está pronto a premiar aqueles que o buscam, não os que desistem pelo caminho. Quem não tem fé não segue avante.
"Pela fé, Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu, e, para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé” (v. 7).
Nessa passagem, o autor tem em mente o relato de Gênesis 6.8,9, 13-22; 7.1. Aqui, o particípio aoristo krematistheis (avisar, advertir, instruir) antecede a ação do verbo principal. Primeiramente, o Senhor avisou a Noé sobre o Dilúvio que viria, e, a partir daí, Noé começou a trabalhar no projeto da Arca. Não havia nada além da palavra de Deus, nenhuma prova material ou física, para Noé saber que aquilo que lhe fora dito iria cumprir-se. Noé, porém, ousou crer naquilo que o Senhor dissera a ele. O texto destaca que a iniciativa para livrar Noé e sua família teve início em Deus.
“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia” (v. 8).
Agora, o autor entra no universo dos patriarcas. O particípio presente kaloumenos (gr. kaléô, chamar) tem o sentido temporal aqui. Quando Deus chamou a Abraão, este não vacilou, mas obedeceu sem fazer perguntas. À semelhança de Noé, Abraão não tinha nenhuma prova, além da palavra de Deus, que, de fato, chegaria a essa terra que a ele foi prometida. Ele não sabia onde era essa terra, muito menos seu caminho.
O texto diz que o patriarca saiu “sem saber para onde ia”. Somente a palavra de Deus serviu-lhe de bússola e guia naquela longa jornada.
“Pela fé, habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa" (v. 9).
A fé fez Abraão sair do seu mundo conhecido, e a mesma fé fê-lo chegar ao mundo até então desconhecido para ele. A fé leva-nos a fazer coisas incríveis. Todavia, essa terra ainda não era dele, mas apenas uma promessa. Na verdade, Abraão morava nas promessas de Deus e vivia em Canaã. Ali, ele não passava de um estrangeiro. A fé dizia que essa terra, embora não lhe pertencesse fisicamente, era dele por herança divina. A fé era o único documento que ele tinha de propriedade daquela terra.
“Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus” (v. 10).
Abraão descansava na fé, mesmo habitando em tendas. O autor põe em relevo a fé de Abraão, que, mesmo sabendo que aquela terra era sua pela promessa de Deus, continuou morando em tendas. E assim o fazia porque sabia que era um nômade e que a sua verdadeira morada era a celeste. A fé tirava seus olhos da terra e colocava-os no céu. Quando a fé não está presente, facilmente miramos para baixo ou para os lados, mas nunca para cima.
“Pela fé, também a mesma Sara recebeu a virtude de conceber e deu à luz já fora da idade; porquanto teve por fiel aquele que lho tinha prometido” (v. 11).
O autor sagrado põe Sara na lista da fé, embora o relato de Gênesis 18.12 mostre Sara rindo quando recebeu a promessa de gerar um filho. Ela sabia que já havia passado da idade de tê-lo. Querendo retirar essa aparente dificuldade do texto, alguns comentaristas entendem que o sujeito da frase é Abraão, e não Sara. Dessa forma, o autor estaria se referindo primeiramente ao patriarca, e não a sua esposa, Sara. A Nova Versão Internacional traduziu desta forma: “Pela fé Abraão — e também a própria Sara, apesar de estéril e avançada em idade — recebeu poder para gerar um filho”. Fritz Laubach destaca que o autor, com seus olhos espirituais,
"tem capacidade para constatar fé no lugar em que outras pessoas não notam nada. Além disso, temos de considerar ainda outro aspecto: as dificuldades do texto se dissolvem quando entendemos o matrimônio de Abraão com Sara no sentido original conforme a criação, como a união total de duas pessoas segundo corpo, alma e espírito. O que é afirmado sobre Sara vale de modo idêntico para Abraão. Na fé, Abraão e Sara obtiveram a força para gerar descendência, apesar de que isso era humanamente impossível (cf. Rm 4.18-21). Sua fé se atém exclusivamente à promessa e à fidelidade de Deus, não às possibilidades imanentes”.7
“Pelo que também de um, e esse já amortecido, descenderam tantos, em multidão, como as estrelas do céu, e como a areia inumerável que está na praia do mar" (v. 12).
A palavra "amortecido" traduz o grego “nekrów” e tem o sentido de “considerado como morto”. Paulo usa essa palavra em Colossenses 3.5 no sentido de mortificação da natureza adâmica. Abraão, mesmo amortecido pela idade avançada, foi, pela fé, capaz de gerar descendência. Essa descendência não era apenas física, mas, sobretudo, espiritual (Gl. 3.7-9).
"Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe, e crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra" (v. 13).
Um fato descrito aqui pelo autor e que vai contra a crença popular é que quem tem promessas morre! Abraão, por exemplo, viu o nascimento de Isaque, mas não viu a promessa da posse da terra de Canaã concretizada. As pessoas as quais o autor acabou de referir-se morreram na fé, sem, contudo, obterem a plenitude das promessas. Deve ser sublinhado que o texto está falando de promessas não apenas no sentido físico, mas, sobretudo, espiritual.
"Porque os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria” (v. 14).
Aqui, o autor demonstra que não estava se referindo apenas às promessas materiais no versículo 13. Ao aceitar serem peregrinos e estrangeiros em terra alheia, os patriarcas comportaram-se como quem de fato acredita em outra pátria, a Canaã celestial.
“E se, na verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de tornar” (v. 15)
O expositor Richard Taylor traduziu esse versículo assim: “E se eles realmente tivessem lembrado daquela (terra) de onde tinham saído, eles teriam tido continuamente a oportunidade de voltar”.8
“Mas, agora, desejam uma melhor, isto é, a celestial. Pelo que também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade” (v. 16).
Abraão teve a oportunidade de voltar atrás, mas não voltou. O contraste com a geração do êxodo a qual se refere o autor fica evidente. Os israelitas que peregrinaram no deserto tentaram voltar para o Egito por inúmeras vezes. O autor mostra que, da mesma forma que os patriarcas agiram, indo sempre para frente em direção às promessas de Deus, os seus leitores deveriam fazer o mesmo. Eles deveriam também ansiar a pátria melhor, a Canaã celeste, e nunca pensar em voltar atrás.
"Pela fé, ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado, sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito" (v. 17).
O verbo grego prosphero, “oferecer”, é um dos termos preferidos do autor de hebreus, ocorrendo 20 vezes no texto. O seu sentido é o de "sacrificar”, “oferecer sacrifícios”. A palavra "testou” (ARA) em vez de “tentou (ARC) traduz melhor o termo grego peirasmos. Aqui, o seu sentido é determinado pelo contexto, que é claramente de uma prova. A fé de Abraão é demonstrada no fato de que o cumprimento das promessas de Deus feitas a ele dependia de um Isaque vivo, e não morto. Muitas vezes, é preciso matar, mesmo simbolicamente, o "Isaque” para que as promessas de Deus sejam cumpridas. Isaque não era filho único de Abraão (havia também Ismael). Todavia, a palavra monogenes, traduzida aqui como “unigênito", quer dizer “único do gênero". Isaque era o filho da promessa, Ismael não.
“Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar” (v. 18).
Todas as promessas de Deus a Abraão estavam em Isaque: “Em Isaque será chamada a tua descendência [...]". A fé de Abraão acreditava que Deus era poderoso para ressuscitar uma promessa, mesmo que esta tivesse morrido.
"E daí também, em figura, ele o recobrou” (v. 19).
Abraão não chegou a sacrificar Isaque, mas, figuradamente, isso aconteceu! Na mente de Abraão, quando Deus pediu Isaque, ele considerou a possibilidade de perdê-lo, mesmo que momentaneamente. Abraão acreditava que, de alguma forma, as promessas de Deus relativas a Isaque seriam cumpridas, mesmo que o Senhor tivesse que o ressuscitar dentre os mortos.
“Pela fé, Isaque abençoou Jacó e Esaú, no tocante às coisas futuras" (v. 20),
O autor tem o olhar sempre no horizonte quando descreve a fé. Aqui, Isaque — e não Abraão — é o personagem principal. A fé conduziu-o a abençoar seus filhos, Jacó e Esaú, com relação a coisas que só o tempo poderia comprovar sua veracidade. Como abençoou, assim aconteceu. A fé não é míope; ela enxerga longe.
“Pela fé, Jacó, próximo da morte, abençoou cada um dos filhos de José e adorou encostado à ponta do seu bordão" (v. 21).
O autor sublinha o fato de Jacó estar para morrer quando abençoou os filhos de José. Mesmo acamado, o velho patriarca, em adoração a Deus, proferia uma benção profética. Sem dúvidas, muitas profecias modernas não se cumprem porque são dadas por quem não adora.
“Pela fé, José, próximo da morte, fez menção da saída dos filhos de Israel e deu ordem acerca de seus ossos" (v. 22).
José não é conhecido apenas por sua fidelidade, mas também por sua fé. Pela fé, ele faz menção do êxodo quando deu instruções sobre os seus ossos. O que José viu pela fé foi cumprido à risca (Êx 13.19; Js 24.32). A fé enxerga longe e costuma honrar aquele que a exercita.
“Pela fé, Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais, porque viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei" (v. 23).
Uma análise simples do relato de Êxodo não permite enxergar mais do que o cuidado de pais zelosos pelo filho que tinham gerado (Êx 2.2). O autor usa a palavra asteios, traduzido aqui como “formoso”, para justificar esse instinto de proteção materno e paterno. Essa mesma construção grega é usada por Estevão em Atos 7.20, onde significa “agradável a Deus”. F. F. Bruce destaca que “formoso" “significa algo mais que sua condição de beleza. Havia algo na aparência do menino que indicava que não era um menino comum, senão alguém destinado por Deus para fazer grandes coisas".9
"Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó" (v. 24).
A Bíblia não identifica quem era essa princesa que era filha de Faraó. Muitas conjecturas são levantadas, mas não há certeza em nenhuma delas.10 O fato relevante aqui é apontado para a fé de Moisés, que escolheu sofrer como um peregrino do que viver na luxuosa vida dos faraós. A fé tirou-o do palácio para colocá-lo no deserto. Todavia, essa mesma fé não o deixou lá. Ela levou Moisés para o centro da vontade de Deus, que era livrar o seu povo da escravidão do Egito.
“Escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado" (v. 25).
O autor sublinha o fato da escolha feita por Moisés. Nesse texto, o termo helomenos tem o sentido de “tendo escolhido”. Esse mesmo vocábulo é usado por Paulo para retratar seu dilema de escolher entre partir para estar com Cristo na eternidade ou ficar na igreja (Fp 1.22). O autor quer sublinhar o dilema que Moisés tinha diante de si — duas opções, mas ele teria somente uma para escolher. Aparentemente, a mais vantajosa seria aquela que o faria permanecer no palácio em vez da outra, que o expulsava de lá. A fé fez Moisés escolher a que contemplava a eternidade.
"Tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa" (v. 26).
Nessa passagem, o contraste é entre "riquezas" e "vitupério". Moisés fez uma escolha entre viver "honrado” ou "desonrado”. Viver no palácio era viver no luxo, no glamour. Em contrapartida, ficar do lado dos cativos era ser exposto ao desprezo. Mas a fé não vê o que é imediato; ela vê o longe. Aqui, Moisés não viu os luxuosos palácios faraônicos, mas, sim, o rude monte Calvário.
“Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível”(v. 27).
Viver pela fé envolve desafios. Muitas vezes, significa remar contra a correnteza. Outras vezes, significa conquistar muitos inimigos. No entanto, nada disso abalou Moisés — ele lançou-se nos braços da fé porque conseguia ver o que ninguém via. Ele via a Cristo.
"Pela fé, celebrou a Páscoa e a aspersão do sangue, para que o destruidor dos primogênitos lhes não tocasse" (v. 28).
O ritual da Páscoa está registrado em Êxodo 12. A Páscoa apontava para Cristo. O cordeiro deveria ser sem defeito (Êx 12.5); o sangue deveria ser posto do lado de fora, nas umbreiras, para proteger quem estivesse dentro, só há segurança para quem está na Igreja, em Cristo (Êx 12.7). A Páscoa deveria ser realizada com pães ázimos, isto é, sem fermento (Êx 12.8), pois o fermento incha! A vida cristã não pode ter inchaços. Fazia parte do ritual da Páscoa a presença de ervas amargas (Êx 12.8). A vida cristã não é só prosperidade, mas também adversidades. Em muitos momentos da vida, para manter-se o testemunho cristão, é necessário comer ervas amargas. O cordeiro deveria ser comido assado (Êx 12.9-10). A vida do cristão não pode ser “cozinhada”, nem tampouco “crua”, mas queimada com fogo (Mt 3.11; At 2.3). Nada da Páscoa podia ser usado para outros fins (Êx 12.10). A vida do crente é consagrada a Cristo e não deve ser usada para fins profanos.
“Pela fé, passaram o mar Vermelho, como por terra seca; o que intentando os egípcios, se afogaram” (v. 29).
A fé cria desertos dentro d´água. Às vezes, constrói pontes onde não há nenhuma (Mt 14.29).
"Pela fé, caíram os muros de Jericó, sendo rodeados durante sete dias” (v. 30).
Aqui, o autor põe em destaque a fé de Josué. Os capítulos 1 a 7 do livro de Josué revelam essa grande façanha conquistada pela fé. Primeiramente, vemos que os homens passam, mas Deus continua o mesmo (Js 1.1,2); conquistas futuras são determinadas por decisões tomadas no passado (Js 1.2-7); mais importante do que manusear uma espada é o manuseio da Palavra (Js 1.7-9); conflitos e guerras não são para amadores, mas para pessoas treinadas, habilitadas (Js 1.14); nenhuma fortaleza é conquistada sem antes ser conhecida (Js 2.1); se Deus estiver atrás, não importa quem está na frente (Js 3.1-3); antes da bênção, deve vir a consagração (Js 3.5, 15,16); devemos levar sobre os ombros somente "pedras” de gratidão (Js 5.5-7); se não cortarmos a própria carne, não há livramento completo (Js 5.1 -9); devemos manter nossos olhos no céu, mas sem esquecer que temos nossa missão aqui na terra (Js 5.11-12); quando Deus está no comando, ganha-se até no "grito” (Js 6.1-6); devemos aprender que não há explicação para o inexplicável (Js 6.14-16); quem se cobre com o manto do pecado ficará descoberto depois (Js 6.17; 7.21).
“Pela fé, Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias” (v. 31).
A fé transformou Raabe, a meretriz, em uma filha de Deus. E mais: de Raabe, vem a linhagem do Messias. Ela casou-se com Salmom e deu à luz Boaz, bisavô de Davi. Dessa forma, Raabe tornou-se da linhagem de Jesus.
“E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel, e dos profetas" (v. 32).
O autor coloca outros homens do Antigo Testamento na galeria da fé: Gideão, que, com seus 300 homens, derrotou os midianitas; Baraque, que, juntamente com Débora, deu grande livramento a Israel; Sansão, que, com sua força extraordinária, proveu grandes livramentos a seu povo; Jefté, que, mesmo tendo feito um voto precipitado, transformou-se num hábil guerreiro; Davi, o estrategista militar por excelência e o homem segundo o coração de Deus; Samuel, o último dos juízes e um profeta respeitado entre seu povo. Por fim, o autor cita os profetas nessa galeria que fizeram coisas estrondosas por meio da fé.
“Os quais, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões" (v. 33).
Aqui, o autor não é específico em sua citação. A vitória sobre reinos pode ser a conquista da terra de Canaã sob a liderança de Josué ou as muitas vitórias de Davi. A prática da justiça é muito comum nos profetas que exigiam dos reis uma maior atenção ao desamparado. Alguém observou que 60% das profecias do Antigo Testamento estão relacionadas com a justiça social. Eles também alcançaram as promessas.
“Apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos" (v. 34).
A citação sobre o fogo é, provavelmente, extraída de Daniel 3.1-30. A referência à espada não é tão especifica. Pode ser uma referência ao profeta Elias, que escapou da espada de Jezabel (1 Rs 19.2-8), ou ao profeta Jeremias (Jr 36,19,26). As vitórias nas batalhas não são fáceis de precisar. Há muitos eventos no Antigo Testamento que podem ser identificados dentro da descrição do autor.
“As mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição" (v. 35).
A referência à ressurreição é perfeitamente identificada com a viúva de Sarepta (1 Rs 17.17-24) e a Sunamita (2 Rs 4.25-37). Outros foram torturados por sua fé.
“E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões" (v. 36).
Bruce vê aqui uma referência ao profeta Jeremias (Jr 20.2; 20.7; 37.15). O homem que viu a promessa da chegada da Nova Aliança (Jr 31) deve servir de exemplo àqueles que agora viviam esse novo pacto.
“Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados” (v. 37).
As citações são genéricas, mas é possível identificar aqui o apedrejamento de Zacarias (2 Cr 24.20,22; Mt 23.35). C. S. Keener entende que o autor está aludindo aqui a tradição na qual se afirma que o profeta Isaías fora cerrado ao meio.11 É possível associar os vestidos de pelo de cabra ao profeta Elias. O expositor Richard Taylor observou que
"a fé em tempos prósperos logo desaparece diante do assalto violento das tempestades que abalam a alma. Se a fé é relevante somente para ser feliz e próspera neste mundo, ela não passa de uma muleta débil e inútil de um mundanismo egoísta. A verdadeira fé cristã, por outro lado, encontra seu maior triunfo, não nos feitos visíveis, mas numa confiança e equilíbrio interior quando não existem circunstâncias encorajadoras. A fé mais brilhante é uma fé que é brilhante quando o certo é derrotado e o errado está no trono, quando a vida parece completamente irracional".12
"(homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra” (v. 38).
Esses heróis, dos quais o mundo não era merecedor, que deveriam ser honrados, reconhecidos, viveram como errantes no mundo. Todavia, aceitaram viver uma vida à margem da sociedade do que perder as promessas de Deus.
“E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa" (v. 39).
A promessa não alcançada aqui é a mesma que os crentes judeus deveriam aguardar. Os crentes da Antiga Aliança morreram por ela, e os da Nova devem fazer o mesmo.
"Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados" (v. 40).
Eles viveram na fé, porém na sombra das promessas. Os crentes da Nova Aliança vivem já a realidade dessa promessa com a morte, ressurreição, glorificação de Cristo e o consequente derramamento do Espírito Santo. O termo grego teleioô, traduzido aqui como aperfeiçoar, tem o sentido de alcançar o alvo ou objetivo. Para o autor, só existe um povo de Deus ou igreja, constituída pelos santos da Antiga e Nova aliança. Quando todo o povo de Deus estiver junto, então o alvo foi alcançado. Adam Clarke comenta: "Posto que o evangelho é a última dispensação, os fiéis das dispensações anteriores não podem ser concluídos (aperfeiçoados), mesmo na glória, senão até que a igreja chegue aos céus dos céus”.13
A confiança em Deus nos dá poder para avançar e vencer os obstáculos.
Notas
1 Na carta aos Hebreus, ao contrário do que afirmam muitos mestres modernos, a fé não aparece como uma lei a ser aprendida ou dominada. Antes, a fé é vista na esfera relacional entre Deus e os homens que ousaram acreditar nEle e em sua Palavra, e, dessa forma, obtiveram a concretização das suas promessas.
2 RIENECKER, Fritz. Chave Linguística do Novo Testamento. Editora Vida Nova, São Paulo.
3 Uma tradução livre mostra que a fé é a certeza, a garantia das coisas que estamos esperando e a evidência, a prova concreta que teremos aquilo que não estamos vendo.
4 ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento. Vida Nova.
5 HEGNER, Donald. Hebreus - novo comentário bíblico contemporâneo. Editora Vida.
6 RIENECKER, Fritz. Chave Linguística do Novo Testamento. Editora Vida Nova, São Paulo.
7 LAUBACH, Fritz. Hebreus - comentário bíblico esperança. Editora Esperança.
8 TAYLOR, Richard. Hebreus - comentário bíblico Beacon. CPAD, Rio de Janeiro.
9 BRUCE. F. F. La Epistola a los Hebreos. Libros Desafio. Grand Rapids, Michigan, EUA.
10 F. F. Bruce destaca que "não temos nenhum meio de identificar esta princesa. Uma tradição encontrada no livro dos Jubileus 47.5 e em Josefo (Antiguidades II. 224ss, a chama de Tharmuth ou Thermuthis (uma filha de Ramsés II, cerca de 1290-1225 a.C. Outra atestada por Arabanus (Eusébio, Preparação IX 27) chama-a Merris (de Meri, uma filha de Ramsés II e sua esposa hitita, que, sem dúvida, com toda probabilidade, era mais jovem que o mesmo Moisés). Alguns escritores de épocas mais recentes têm julgado, com a ideia improvável, de que poderia ser Hatshepsut (Cerca de 1500 a.C), princesa e rainha regente da décima oitava Dinastia, filha de Tutmosis I (assim J. Feather, "A Princesa que resgatou Moisés: quem era ela?" ExT xliii (1931-32), pp. 423ss., C. Marston, A Disse a Verdade, [Londres, 1934], pp. L 79s.). É provável que seu pai foi um rei primitivo da décima nona Dinastia (cerca de 1300 a.C.); mais que isso não podermos dizer” (BRUCE, F. F. La Epistola a los Hebreos. Libros Desafio).
11 KEENER, C. S. Comentário dei Contexto Cultural de la Biblia. Editora Mundo Hispano.
12 TAYLOR, Richard. Comentário Bilbico Beacon. CPAD.
13 CLARKE, Adam. Hebreos - Comentário de la Santa Biblia. Tomo 111. Casa Nazarena de Publicaciones, Lenexa, Kansas, EUA.
Fonte:
Livro de Apoio – A Supremacia de Cristo - Fé, Esperança e Ânimo na Carta aos Hebreus - José Gonçalves
Lições Bíblicas 1º Trim.2018 - A supremacia de Cristo - Fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus - Comentarista: José Gonçalves
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