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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Paciência: Evitando as Dissenções

Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação [...]” Rm 12.12

Vivemos certamente um dos períodos mais ansiosos de nossa história. Tudo é mais rápido, “pra ontem”. A vida urbana explodiu demograficamente. Uma alta taxa de concentração dos habitantes numa mesma região da cidade. O resultado: ônibus lotados, engarrafamentos quilométricos, explosão de violência. Num país como o Brasil, onde o resultado dos índices educacionais é pífio, juntando a falência das políticas públicas, um Estado que não funciona na entrega dos serviços básicos necessários à sociedade (Saúde, Educação e Segurança), o que vemos se reproduzir é o caos social no país. Esse caos é refletido, além das grandes desgraças acerca da pobreza e da violência, principalmente nas periferias, nas filas do banco, do supermercado, do trânsito. A impressão: as pessoas não têm paciência.

Como os crentes da igreja local fazem parte desta sociedade, por isso acabam sendo um extrato dela, eles acabam reproduzindo esse espírito impaciente nos locais de encontros e de relacionamentos: família, igreja, círculo de amigos mais chegados. Ou seja, a falta de paciência também é um fenômeno entre os cristãos. Por isso, a Palavra de Deus, e principalmente o Novo Testamento, tem textos contundentes em relação à paciência na vida do crente. Um desses ensinos mais notórios é o que o apóstolo Paulo escreve aos romanos: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência” (Rm 5.3,4). Ora, a tribulação produz paciência, pois no tempo em que estamos nela, somos ensinados a esperar, ser mais lógico, perceber que o tempo não acontece segundo as nossas escolhas. Por isso, depois que passamos pelo momento de espera, e nos tornamos pacientes, então ganhamos experiência. Esta reflete na maturidade da vida em que aprendemos a esperar, aguardar, perceber as implicações práticas do ponto de vista negativo ou positivo da realidade que está a diante de nós. Enfim, aprendemos a viver segundo o ensino do Evangelho de Jesus (Mt 6.25-34).

Ora, a Palavra de Deus nos ensina a sermos longânimes. Ainda que estejamos sob uma intensa pressão, não nos entregaremos aos excessos de ira. O seguidor de Jesus é equilibrado, pois compreende que Deus suportou com toda a paciência quando éramos vasos de ira, pecadores, rebelados contra Ele por intermédio do pecado original. Mas fomos alcançados por Ele mediante a graça! (Revista Ensinador Cristão nº.69)

A paciência, como fruto do Espírito, é um antídoto contra a ansiedade e as dissensões.

Qual o significado de Dissenções?
- Falta de entendimento ou divergência de opiniões entre duas ou mais pessoas. condição de disputa, desavença.

Leitura Bíblica: Tiago 5.7-11

A paciência não é transferida de uma pessoa para outra. Ela é produzida em nós pelo Espírito Santo à medida que lhe permitimos que a imagem de Cristo seja formada em nós.

INTRODUÇÃO
A impaciência é uma das características da vida moderna. As pessoas, a cada dia, estão mais ansiosas, o que contribui para o aumento das dissensões. Basta ler os noticiários para vermos casos de brigas e confusões. Muitos desses casos acabam em tragédia e famílias destruídas. Por isso, podemos de imediato perceber a relevância da lição de hoje para os nossos dias. Estudaremos a respeito da paciência, como fruto do Espírito, e as dissensões, como obra da carne.

Paciência versus Dissensões

A palavra paciência no grego é makrothumía. Ela é uma palavra composta: a primeira parte é makro, que refere-se a algo grande e longo; a segunda parte é o thumos, que significa ânimo, disposição, índole e natureza. Então, podemos dizer que makrothumía fala de se ter paciência com as pessoas, ou seja, nunca perder o ânimo, ainda que as pessoas não sejam agradáveis conosco.

O Pastor Antônio Gilberto, na obra O caráter Cristo, precisamente define essa palavra assim:
O vocábulo grego original traduzido por “paciência” (na versão portuguesa, usamos em Gálatas 5.22, longanimidade) é makrothumía (vem de makros, que significa "longo", e thumia "temperamento", "natureza" e "índole"). A palavra original, pois, combina nas ideias de muita paciência e de um temperamento bem equilibrado, controlado por Deus. Em outras palavras, a pessoa em quem o Espírito Santo estiver produzindo o fruto da paciência aprende a esperar no Senhor sem perder a esperança, não admitindo derrotas e nem deixando se dominar pela ira. (GILBERTO, 2007, p.115 e 116).

Vale ressaltar que a paciência não está apenas relacionada com as pessoas, mas também com o tempo e certos acontecimentos em nossa vida. Quantos não perdem a paciência quando sofrem derrotas, quando não conseguem conquistar aquilo que pensavam que iriam alcançar em determinado tempo, todavia, o cristão que tem em sua vida a virtude do fruto do Espírito Santo chamada paciência jamais desiste ou perde a fé, ainda que tudo não lhe seja favorável.

David Lim falou da longanimidade da seguinte maneira:
A palavra grega makrotbumía refere-se à paciência que temos com nosso próximo. Ser longânimo é tolerar a má conduta dos outros contra nós, sem nunca buscar vingança. Dentro em breve, os cristãos em Roma passariam por perseguições. Sob tensão e sofrimento, os cristãos podem vir a ter menos paciência uns com os outros, de modo que Paulo conclama: “Sede pacientes na tribulação” (Rm 12.12). Ao ensinar sobre os dons, Paulo inicia tratando da paciência com as pessoas e termina com paciência nas circunstâncias (ICo 13, 4, 7).
Para nós, que formamos a Igreja, leva tempo para amadurecermos através de todas as diferenças que provêm das nossas culturas, níveis educacionais e personalidades. Por isso, Paulo nos conclama a ser completamente humildes e mansos, “com longanimidade”. (Ef 4.19) (LIM, 1996, p. 490)

Entendemos que a paciência como virtude do fruto do Espírito faz com que o crente não se exaspere, nem seja impaciente, mas saiba como controlar-se diante de qualquer situação desagradável, sem ceder à cólera ou a ira. Para essa virtude do fruto podemos dizer que se trata de um autocontrole, que não se descontrola para agir bruscamente, que não age buscando vingança, quando for injuriado, mas pela fé vai suportando tudo.

Quando a paciência está na vida do crente ele não desiste, não reclama, não faz murmúrios, mas segue até completar sua carreira, Paulo disse que combateu o bom combate até o fim, depois guardou a fé, ou seja, em meio às lutas, perseguição e falsidade foi por meio da paciência que ele suportou tudo, para ganhar a sua coroa (2Tm 4.7,8).

Barclay diz que a makrothumía pode ser entendida como o espírito que não reconhece derrota. O que caracterizava fortemente os romanos era esse espírito, ainda que perdessem batalhas, não desistiam. A paciência ajuda o cristão a não desistir, ainda que perca uma ou duas vezes.


As Diversas Características da Paciência

O cristão que produz pelo espírito santo a virtude da paciência sabe como tratar as pessoas, ainda que elas sejam cheias de defeitos e falhas, mesmo assim, ele espera que um dia elas mudem, por isso não desiste. Com paciência o cristão sabe sempre perdoar, pois não se deixa dominar pela ira (Pv 19.11). Ele trata as pessoas com humildade, pois seu alvo é vê-las bem, não se põe como dono da situação nem como superior a ninguém (Ec 7.8).

Temos visto que a falta de paciência tem sido a causa para muitas brigas e contendas em algumas igrejas; pessoas que poderiam ser aproveitadas em certas atividades são execradas, tudo porque falta essa virtude maravilhosa. Salomão disse que aquele que tem o espírito longânimo sabe muito bem apaziguar a luta (Pv 15.18). Pela paciência é que se consegue manter as boas amizades, preservar a unidade no lar e na igreja, pois até o homem mais irado pode ser vencido por aquele que sabe ser paciente.

“Pela longanimidade se persuade o príncipe, e a língua branda quebranta os ossos” (Pv 25.15).

Sem paciência não se pode tratar ninguém, sem paciência não podemos salvar os que estão longe do Senhor. Pedro diz que a paciência deve ser acrescentada em nossa vida (2Pe 1.6). Um cristão que não sabe ser paciente com as pessoas não as ajudará, especialmente aqueles que se irritam com qualquer coisa. Quem tem a paciência é considerado sábio e prudente (Pv 14. 29).

Alguém pode perguntar: Pastor, mas qual é o resultado ou a bênção em ser paciente? Essa resposta pode ser encontrada na Palavra de Deus. Note que a igreja de Éfeso foi louvada pelo Senhor por causa de sua paciência (Ap 2.3). Sempre haverá bênçãos de Deus para os que são pacientes e que suportam a provação, como, exemplo, a história de Jó mencionada no livro de Tiago (Tg 5.11).

Em momento algum a Bíblia faz elogios a quem não tem paciência, que age sem pensar e que não tem controle sobre seus impulsos, porque agindo precipitadamente, sem controle, uma pessoa pode destruir a própria felicidade e a de outros a sua volta. Salomão disse que é melhor o homem longânimo do que o grande herói de guerra, pois, às vezes, o herói pode conquistar ou dominar uma cidade, mas não consegue dominar o seu espírito (Pv 16.32). Quem não tem controle de si mesmo, não está preparado para controlar os outros.

Deus, o Maior Exemplo de Longanimidade

Em diversas passagens do Antigo Testamento é declarado que Deus é paciente e longânimo (Ex 34.6; Ne 9.17; SI 103.8).

Uma prova clara da paciência de Deus para com o homem pode ser vista no episódio envolvendo o profeta Jonas (Jn 4.2).

Jonas não tinha compaixão pelos outros, ele estava voltado para a sua mensagem, aguardando seu cumprimento, ele preferia ter o seu próprio conforto a ver as almas serem salvas da ira de Deus. Para melhorar o assunto, podemos dizer que Jonas tinha em sua vida certo grau de compaixão, só que era mal direcionada, não sabia fazer bom uso dela, por isso teve que aprender com o Senhor.

Jonas tinha que entender que: Quanto à pessoa de Deus, Ele é um Pai bondoso, misericordioso, paciente e grande em benignidade.
Ele tanto castiga como manifesta o seu grande amor, quando há verdadeiro arrependimento.

Deus manifestou o seu poder sobrenatural, Ele fez a planta crescer rapidamente para proteger do sol o profeta, mas o “vento oriental”, que é conhecido naquela região pelo seu calor ardente, consumiu a planta.

A lição que Deus ensina para Jonas por meio desse ato é que se ele não fez nada para a sua existência, e declarava uma raiva por causa da sua perda, justificando assim a sua ira, como é que Deus não poderia manifestar compaixão para com o povo da cidade de Nínive?

Deus tem paciência com os pecadores, é isso que aprendemos nesse acontecimento envolvendo Jonas. Caso Ele não fosse paciente, o pecador não teria qualquer oportunidade de salvação, mas Deus oferece a chance para que todos os pecadores se arrependam (Jl 2.13). Por vezes, a paciência divina é mal interpretada, como se não tivesse olhando para os pecadores, mas Deus procede assim oportunizando a todos sua salvação (Nm 14.18).

O homem nunca deve abusar da paciência divina, pois Deus deixa a corda solta por um certo tempo, até que a medida dos pecados encha, mas logo virá com o castigo para os que abusaram de sua longanimidade, foi isso que aconteceu com os habitantes de Canaã, por muito tempo tiveram a oportunidade de se voltarem para Deus, mas diante de sua paciente se entregaram dissolutamente ao pecado.

O teólogo Cari B. Gibbs, falando sobre a destruição e da paciência que Deus teve para com eles diz:
Canaã constituía a encruzilhada do mundo antigo, sendo um local ideal de onde poderia influir e doutrinar o mundo inteiro. Sabemos, de fato, que os ideais religiosos dos cananeus vigoraram por muitas gerações até os dias do apóstolo Paulo, 1.445 anos depois. Na Grécia do primeiro século da era cristã ainda havia povos que cultuavam deuses que possuíam as mesmas características atribuídas às divindades cananeias. Assim, dada a potencial influencia moral e espiritual que possuíam, era preferível a destruição de alguns milhares deles na época de Josué, do que impedir a salvação de milhões de almas nos séculos posteriores. (GIBBS, s/d, p.20)

Entendemos que se Deus, na sua paciência continuasse a tolerar os pecados dos cananeus, o mundo seria contaminado ainda mais por meio dos seus ensinos e práticas pecaminosas, mas fica claro que Deus teve paciência para com eles por séculos e séculos, dando-lhes chances de arrependimento, mas eles não quiseram.

A paciência de Deus não pode ser vista ou entendida como apatia, Pedro escreve que a longanimidade divina era uma chance que estava sendo dada aos pecadores para que todos se arrependessem e procurassem servir a Deus em santidade (2Pe 3.15). Paulo escreveu que foi devido a paciência divina que foi salvo (1Tm 1.12.16).
Nos dois exemplos acima, no qual em um se tem um mundo que está totalmente no pecado há muito tempo, no outro percebemos um homem que persegue os crentes e blasfema a fé que os cristãos pregavam, caso Deus fosse um ser sem paciência de imediato poderia desfalcar todos os pecadores de uma só vez, mas sua paciência é uma oportunidade que Ele dá para que os pecadores possam buscar a salvação.

No Comentário Bíblico de Michael Green, falando sobre a paciência divina, ele comenta:
[...] Os falsos mestres reaparecem na mira de Pedro por um momento. Na sua impaciência, atribuíram a demora na volta de Cristo ao descuido dEle, e asseveram que esta trará decepções. Pedro reitera que é devido à longanimidade e que conduz à salvação. A diferença nas atitudes é determinada pela única palavra do nosso Senhor. Os falsos mestres tinham negado o Senhor que os comprara. Naturalmente, portanto, estavam ansiosos por lançarem descréditos sobre sua volta.
Os cristãos genuínos procuravam crescer no conhecimento do seu Senhor. Naturalmente, portanto, zelosamente antecipavam a sua volta. (GREEN, 2006, p. 138)

Teologicamente, podemos dizer que quando a Bíblia faz menção da paciência de Deus, ela não está sendo descrita como um tipo de sentimento no qual o Ser Divino se compraz em ver alguém sofrer para depois lhe abençoar, mas conforme Pedro escreveu, essa paciência é um convite ao pecador para que ele abandone seus pecados, pelos quais sempre ataca a santidade divina, e se volte para Deus enquanto Ele ainda está sendo longânimo, paciente (Rm 2.4; 2 Pe 3.9).

Deus é paciente e longânimo, Ele espera o tempo necessário para que o homem se arrependa, mas quando este passa a abusar dessa paciência, sendo pertinaz no pecado, Deus permite que o homem haja como quiser, no entanto, ele jamais merecerá a salvação divina (Rm 9.22).

O Cristão e a Paciência

O que deve assinalar fortemente a vida do crente é a paciência, sempre suportando a todos em amor (Ef 4.2; Cl 3.12; 2Co 6.6; lCo 13.14). Existe crente que diz assim: “Não suporto ouvir esse irmão falar”; outros dizem: “Não gosto desse irmão nem um pouco, ele é muito chato, por mim esse pastor já teria ido embora daqui há tempo”. Pergunto: Um crente que tem a virtude da paciência em sua vida, que está cheio do amor de Cristo agirá assim?
Creio que não, pois é consciente de que assim como Deus teve paciência com a sua vida de pecado, dando-lhe oportunidade para mudar, assim Ele irá proceder para com as pessoas ao seu redor.

Quando a paciência está na vida do crente, ele sabe suportar e esperar com alegria, na certeza de que no tempo certo Deus lhe ouvirá e trará a solução para todo problema. A paciência deve estar presente também na vida do pastor, ele precisa de paciência para apascentar o rebanho de Cristo. Um pastor que tem essa maravilhosa virtude jamais deixará de acreditar nas pessoas, dará tempo ao tempo para que certas coisas se resolvam e investirá nas pessoas.

A paciência é um aspecto que Paulo incentivou o jovem Timóteo buscar (1Tm 6.11; 2Tm 3.10), caso o obreiro não tenha a paciência, viverá frustrado, decepcionado, e mudando constantemente de igreja, pois o que não falta no meio das ovelhas é bode. Tratando desse assunto, o pastor Antônio Gilberto fala da importância desse aspecto na vida dos obreiros:
A paciência, como fruto do Espírito, é algo muito valioso na vida e no trabalho de um ministro do evangelho. A paciência é necessária na preparação, na oração, no estudo bíblico, no treinamento e no desenvolvimento do crente. E necessária para os líderes, para que ajudem outros crentes. Isso foi o que Paulo ensinou a Timóteo, no tocante à necessidade de servir com paciência. (GILBERTO, 1984, p. 126)

Os crentes são incentivados a proceder em tudo com paciência, e nunca agir como o povo sem Deus, que por qualquer coisa cria confusão, baderna, motins e causa escândalos ao Reino de Deus. O escritor aos hebreus falou da importância dos salvos em Cristo não serem negligentes, mas procurarem proceder com fé e paciência, como aqueles que herdaram a promessa (Hb 6.12).

Precisamos entender que o ato de esperar com paciência, é uma virtude do fruto do Espírito, tendo essa virtude o cristão não fica ansioso nem triste, em cada situação de sua vida se alegra por saber que está debaixo da vontade de Deus, certo de que no momento exato ELE agirá. Paulo sabia muito bem da importância da paciência na vida do crente, por isso orava para que todos o tivessem (Cl 1.11).

O homem é um ser que não gosta de esperar, quer que as coisas aconteçam de modo rápido. Alguns querem ganhar dinheiro fácil, outros querem subir no ministério de elevador, outros saltam os degraus da escada, tudo porque não querem enfrentar os dissabores de sua caminhada, mas quando a virtude do fruto do Espírito, a paciência, está em sua vida, cristão sabe esperar o agir de Deus, assim como faz o lavrador (Tg 5.7-10).


Zenão de Cítio
A Paciência na Visão Estoica

Ouvimos comumente que as pessoas estão vivendo muito estressadas, que a pressa da vida moderna tem tornado enfastiante o comportamento dos seres humanos, de modo que as reações têm sido as mais diversas: briga no trânsito, depressão, agressão física e verbal, falta de controle emocional e assassinatos. Mas qual é realmente a causa para tanto desequilíbrio? Quem de fato está no controle das coisas?

Para os seguidores do estoicismo frente a tudo o que se contempla hoje, a melhor coisa a ser feita é exercer um controle mental, isso quer dizer que devemos aceitar as coisas como elas são, isto é, em relação àquilo que não podemos mudar. Por exemplo, por mais que sejamos inteligentes, capazes e bem racionais, não podemos evitar a chuva, o envelhecimento, as doenças, a morte, pois essas coisas fazem parte da vida.

As pessoas que buscaram encontrar um controle mental procuraram se firmar na filosofia estoica, a qual teve diversos representantes, Zenão de Cítio (334-262 a.C.) foi um dos primeiros deles. A palavra estoico vem de stoa, uma colunata pintada em Atenas onde esses filósofos costumavam se encontrar, esse pórtico era em diversos níveis.

Os estoicos desenvolviam seus argumentos filosóficos em variadas ideias sobre a realidade, ética, verdade, lógica e moral, contudo ficaram mais conhecidos por causa do pensamento que expressavam sobre o controle mental. Eles diziam que o homem só deveria se preocupar com aquilo que pode mudar, por isso, a tranquilidade de espírito era o ponto de convergência deles.

Para o estoicismo tudo depende da nossa atitude em relação ao que nos acontece, ainda que a situação seja a mais desagradável, angustiante e triste, quem está no controle de tudo somos nós. Nós podemos escolher nossas reações diante das situações controversas da vida, se será boa ou má.

O estoicismo via as emoções não como situações climáticas, que podem mudar a qualquer momento e involuntariamente, pelo contrário, eles diziam que as nossas respostas diante de determinada situação dependem da nossa própria escolha.

Se alguma coisa desse errado, se alguém fosse enganado, diziam que era uma escolha do homem ficar triste ou zangado.

Para um estoico ser dominado pelas emoções era prejudicar o lado racional, pois ela obscurece a mentalidade humana, e não permite que o homem perceba o que é certo, sendo assim é preferível que elas sejam debeladas do nosso ser.

Não era mera teoria que marca a filosofia estoica, mas o praticismo.

Epíteto (55-135), que foi um dos últimos estoicos, tinha sido escravo, sofreu muito durante toda sua vida e teve seu corpo ferido, por isso mancava. Ele passou fome, sede e desprezo, mas por meio dessa experiência dizia que a mente pode permanecer livre enquanto o corpo é escravizado. Os sofrimentos vividos na prática levaram esse estoico a lidar com a dor e o sofrimento.

Não demorou muito para que a filosofia estoica ganhasse seguidores no mundo, generais, médicos e pessoas enfermas, todos começaram a querer adotar essa filosofia de vida, como no caso do general James B. Stockdale. Quando Stockdale se encontrava nas batalhas, frentes as lutas que combatia, manteve-se impassível, não se importando com a dor ou alegria, segundo ele, como não poderia mudar a situação o melhor era não se deixar dominar por ela. E nesse particular que se diz que nossos pensamentos dependem de nós.


Sêneca - Busto em
Cordoba, Espanha
A filosofia estoica atingiu muitos romanos de classe, dentre eles citamos Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), Lúcio Aneu Sêneca (1 a.C.- 65 d.C.). Esses dois diziam que o envelhecimento era coisa normal da vida, por isso não procuraram mudar nada, mas afirmavam que deveríamos fazer do nosso tempo o melhor tempo.

Cícero, advogado, político e filósofo, dizia que a velhice não poderia ser evitada, mas ela não precisaria ser temida, pois na velhice, ainda que as forças físicas não sejam tantas, as pessoas de idade avançada poderiam ganhar mais trabalhando menos, isso por causa da experiência alcançada ao longo da vida. Uma pessoa de idade avançada tem capacidade de apresentar um trabalho com mais resultados. Na velhice, quando os prazeres físicos se esvaem, os idosos têm mais tempo para ficar ao lado das pessoas.

Para fecharmos o conceito de filosofia estoica vamos falar mais um de seus defensores: Sêneca. Enquanto alguns viviam dizendo que a vida era curta demais, para esse filósofo, dramaturgo e empresário, a questão não era simplesmente o tempo da vida, mas, sim, o quanto usamos desse tempo de modo ruim. Não fique aborrecido com a vida, dizia ele, antes aproveite o tempo que você tem para viver, pois tudo depende de sua atitude de como encara as coisas.

A questão não é viver cem anos, afirmava Sêneca, pois muitos alcançaram essa longevidade e nada fizeram, o mais importante era fazer as escolhas certas. Muitos gastam o tempo da vida correndo freneticamente em busca de dinheiro, fama, poder, bebida, prazer e jogos, não tendo mais tempo para fazer outras coisas belas da vida.

Por causa de escolhas e coisas ruins feitas na juventude, para muitos a velhice será cansativa e marcada de lembranças tristes. Não podemos transformar nossa vida como um barco que foi lançado ao mar, que é carregado pelas ondas e atacado pelos ventos. Para que a viagem se torne agradável aos tripulantes é imprescindível que o capitão do navio tenha o controle do barco.

Aqueles que são carregados pelas decisões dos outros, que não têm controle de suas emoções, que têm suas vidas conduzidas por ideologias e acontecimentos, e não vivem suas próprias experiências valiosas, jamais terão um viver glorioso. Muitas pessoas, na terceira idade, temem ter lembranças do passado, pois o que construíram não valeu a pena, e uma vida bela é aquela que nos faz feliz com as memórias do passado.

Não podemos negar que a filosofia estoica é importante, mas ela se esquece de que o homem não tem poder em si mesmo para produzir a verdadeira paciência nem uma mente pura para exercer controle sobre toda situação. O profeta Jeremias disse que enganoso é o coração mais do que todas as coisas (Jr 17.9).

O pecado afetou o homem, agora ele vive sem Deus e não pode por si mesmo produzir controle sobre tudo, por isso precisa buscar a ajuda do alto. Paulo fala que para o homem ter uma vida equilibrada, precisa ter sua mente transformada para poder experimentar a perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12.2).
Tendo a mente de Cristo o homem poderá pensar no que é bom, agradável, puro (1Co 2.16).

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Fp 4.8)

As pessoas que temem a velhice devem fazer como ensinou Salomão: lembrar-se sempre de Deus na juventude, procedendo da maneira certa, para que ao olhar o passado não sintam desgosto e descontentamento (Ec 12.1), mas, pelo contrário, “Na velhice ainda darão frutos: serão viçosos e florescentes” (SI 92.14).


As Dissensões e seus Males

Do grego a palavra dissenção é dichostasia, segundo o Dicionário Vine. Literalmente, quer dizer à parte (formado de dicbe, à parte, separadamente, e stasis, posição; a raiz di- indicando divisão, é encontrada em muitas palavras em vários idiomas), é usada em Romanos 16.17, onde os crentes são ordenados a marcar aqueles que causam “divisão” e a se afastar deles; e em Gálatas 5.20, onde “dissensões” são referidas como “obras da carne”. Alguns manuscritos têm este substantivo em 1Co 3.3. (VINE; UNGER, WHITEJR., 2002, p.571)

No Dicionário do Grego do Novo Testamento, Carlos Rusconi faz uma definição bem simples da palavra dissensão, dicbostatéo, separar, discordar, causar dissenso. Essa palavra não sendo tão comum no Novo Testamento, pois aparece apenas em Gálatas 5.20 e Romanos 16.17, é suficiente para mostrar que essa obra da carne sempre procura criar discrepância e dissidência, seu alvo prioritário é causar intranquilidade, contrariedade, e até oposição com o passado frente ao novo.

A dissensão sempre cria inimizades e divisão, ela rompe de vez com a comunhão, quer seja no convívio social, na família, na política e na igreja, e provoca grande destruição. Os que vivem dominados pela dissensão sempre estão separados, isolados, não partilham o verdadeiro amor de Cristo, e trabalham incansavelmente para que a comunidade de salvos seja prejudicada.

Percebemos quando a dichostasia está presente na igreja por causa do isolamento e da separação, por vezes até existe um encontro pessoal, mas não há uma unidade de espírito, existe diálogo, mas não saudável, há interesses, mas não pelo Reino. Em muitas igrejas existem grupos, famílias que de praxe já são conhecidas como os separados, aqueles que têm opiniões sempre contrárias em tudo, buscando estorvar o trabalho do Senhor.

Jamais podemos pensar que um cristão não pode ter pensamento diferente de outro, opiniões diferentes, mas tais pensamentos e opiniões podem ser desenvolvidos para atrapalhar a unidade do corpo de Cristo, a Igreja. No Comentário Beacon, volume 9, o autor tratando sobre dissensões, diz:
De estreita relação estão as dissensões (20, dichostasuai), cuja tradução melhor é “divisões”. A rivalidade, motivada por egoísmo, só pode resultar em divisões que destroem a unidade da igreja. Aqui, Paulo não está falando de diferenças fundamentadas em crenças sinceras; ele está preocupado com divisões ocasionadas por motivos errados, cuja procedência é determinada à carne pecaminosa. Diferenças honestas não são incompatíveis com comunhão harmoniosa, porque parte vital da liberdade e do amor é o respeito pelas opiniões dos outros, mesmo quando estas conflitam com a nossa. Entretanto, convém que todo crente examine constantemente o coração para que preconceito não seja confundido com princípio e teimosia com dedicação. (BEACON, 2006, p.72)

Os cristãos podem ter opiniões diferentes, uma igreja, em seus ensinos teológicos pode ter interpretações diferentes, mas os verdadeiros crentes jamais têm opiniões pautadas na obra da carne, buscando dividir o Corpo de Cristo, caso isso esteja acontecendo, é preciso que o crente se arrependa e se volte para Deus com sinceridade.

Entendemos que as divisões que campeiam nos partidos, classes, muitas delas são oriundas de ideologias baseadas e fundamentadas em interesses particulares. Barclay diz que na divisão de classes; na realidade, são ideologias baseadas em nada menos do que a necessidade de lutas entre as classes (BARCLAY, 1988, p.54).

Na atualidade, fala-se muito sobre a consciência ideológica como sendo um conjunto de ideias que dissimulam a realidade, pois mostra não como as coisas são em sua essência, mas, apenas, expõem as coisas de modo parcial em relação ao que é de verdade, buscando assim ocultar ou dissimular na realidade o domínio de uma classe social sobre a outra. Esse termo foi criado pelo filósofo Francês Destutt de Tracy (1754-1836), afirmando ser a ciência das ideias, compreendendo o estudo da origem e do desenvolvimento das ideias.

Pelo uso constante desse termo por meio do filósofo Karl Max, essa expressão passou a ser usada frequentemente tanto na filosofia como também na ciência, mas devemos levar em consideração o seu uso feito por Max. Ele usava esse termo num contexto totalmente diferente, buscando expressar as diferenças existentes em leituras diferenciadas dos estudiosos de algum tipo de assunto.

Hoje, a maneira como se usa o termo ideologia é no sentido de reprimir as classes, são explicações que visam evitar um conflito aberto entre aqueles que oprimem e os que são oprimidos.
A ideologia se apresenta também como um tipo de consciência parcial da realidade seus conceitos e preconceitos firmam-se na busca pela dominação.

Marilena Chauí diz que a ideologia tem os seguintes traços:
a) Anterioridade.
A ideologia predetermina o pensamento e a ação, desprezando a história e a pratica na qual cada pessoa se insere, vive e produz. Nesse sentido a ideologia busca um modo de aplicar, sentir e agir de cada indivíduo, prescrevendo de antemão o estilo de vida de cada ser vivente.
b) Generalização.
Nesse aspecto, a ideologia apresenta o bem de alguns como se fosse o bem de todos; com isso a ideologia busca colocar na mente de cada pessoa um tipo de consenso coletivo, uma aceitação geral de valores, ocultando os interesses sociais que nascem da divisão das classes.
C) Lacuna.
Quando há omissões e silêncio, monta-se uma lógica para ocultar e não para revelar, para falsear, sendo assim as “verdades” criadas devem parecer verdades válidas para todos.

Sabemos que nem todos concordam com o posicionamento de Chauí. O filósofo húngaro, Gyorgy Lukács (1885-1971), afirma que a ideologia não tem um caráter dissimulador de lutas de classes, pois não seria um fenômeno apenas das sociedades divididas em classe. Para o pensador italiano Antonio Gramsci (1891-1937), a ideologia é o cimento que garante a coesão social.
No pensamento de Gramsci, por meio de uma ideologia vinda da educação, religião e mídia, a preponderância, supremacia de um povo sobre outro, ou de uma cidade sobre outra, só seria possível por meio da ideologia hegemônica.

Para que a classe operária pudesse se sobrepor, ela teria que ter uma consciência revolucionária, desse modo estaria capaz de atuar como revolucionadora. Os operários teriam que atuar seguindo uma ideologia, a qual deveria ser arquitetada e montada por intelectuais que falassem a mesma linguagem da classe, e que estes deveriam estar presentes nos sindicatos, escolas, instituições de renomes, associações, etc.

Uma coisa é certa, sendo verdade ou não o conceito de ideologia, sabemos que existem grupos e classes que estão dominadas por ideias que visam destruir a família, os bons costumes e os valores. Os cristãos não podem operar com esse tipo de sentimento, mas devem unir-se para que o trabalho do Senhor sempre esteja de pé, pois, como falou Jesus, a casa dividida não fica de pé (Mt 12.25).

Não precisamos ir longe para ver o quanto as dissensões estão presentes no nosso dia a dia; observe que boa parte da política partidária busca vantagens nas crises da política nacional.

Tristemente podemos dizer que a dichostasía está presente nos partidos políticos, nos relacionamentos pessoais, onde uns são valorizados, outros não, na questão racial, em que a cor, e não o caráter, é o que é valorizado, posto que o próprio Deus se manifestou terminantemente contra isso (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.15; Tg 2.1,9).

Portanto, queridos irmãos, devemos cultivar o fruto do Espírito para não cedermos às dissensões, causando divisão ao Corpo de Cristo, destruindo a beleza de sua união. Reavaliemos nossos pensamentos e ideias, nossas teologias, para vermos se não estamos causando mais prejuízos do que bem, pois o que na verdade edifica é o amor e não meras opiniões ou ciências vazias.

Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica. (1Co 8.1)

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

A ‘paciência’
(makrothumia) é seguramente o fruto que torna o homem semelhante a Deus. Como ocorre em outros termos, esta é característica de Deus; e do homem, segundo Deus quer que ele seja. Como Deus é paciente com os homens, então eles são pacientes nEle, tanto quanto em relação a seus semelhantes; pois as circunstâncias e os acontecimentos estão nas mãos de Deus.

Esta virtude bíblica vital não deve ser confundida com mera disposição tranquila, que permanece impassível diante de toda e qualquer perturbação. Tal modo de vida é mais uma característica nativa da personalidade do que uma qualidade do espírito.

Longanimidade é exatamente o que a palavra sugere: ânimo longo, firmeza de ânimo, constância de ânimo, alguém que permanece animado por muito tempo sem se deixar abater. Sua essência primária é a perseverança (Desistir? Nunca!), suportando as pessoas e as circunstâncias.

Como Deus é longânimo para conosco (cf. 1Tm 1.12-16), assim devemos ser longânimos para com nossos semelhantes (Ef 4.2), nunca admitindo a derrota por mais que os homens sejam irracionais e difíceis (cf. 1Ts 5.4). É este tipo de paciência que reflete verdadeiramente o amor cristão (agape cf. 1Co 13.4). Tal amor paciente não é nossa realização. É o trabalho de Deus no coração dos homens, pois é o fruto do Espírito” (Comentário Bíblico Beacon — Gálatas a Filemom. RJ: CPAD, 2006, p.75).

Maturidade cristã.
A paciência é uma característica da maturidade e do crescimento espiritual.

O crente que não ora, não jejua e não medita na Palavra de Deus não pode alcançar a maturidade cristã. Sem disciplina, o crente permanece imaturo (Ef 4.14).

Infelizmente, muitos estão sofrendo de “raquitismo espiritual”. Estes, além de não experimentarem um desenvolvimento espirital saudável, estão sempre envolvidos em confusão, pois são impacientes. O crente maduro permanece firme diante das perseguições e aflições.

Tomemos como exemplo os profetas do Antigo Testamento, pois alguns deles sofreram terríveis perseguições por causa do nome do Senhor. Jeremias muito sofreu, mas permaneceu firme, não perdendo sua esperança e crendo nas misericórdias de Deus (Lm 3.21,26).

A paciência como fruto do Espírito nos ajuda em nossa espiritualidade enquanto aguardamos a volta de Cristo.

Que venhamos crescer em graça e sabedoria, buscando desenvolver o fruto do Espírito e deixando de lado toda discussão e partidarismo, pois em breve o Senhor Jesus voltará.

Fonte:
Livro de Apoio 1º trim 2017 - As Obras da Carne e o Fruto do Espírito - CPAD - Osiel Gomes
Revista Bíblica As Obras da Carne e os Frutos do Espírito - Como o crente pode vencer a verdadeira batalha espiritual travada diariamente - 1º sem_2017 - CPAD - Comentarista Osiel Gomes
Bíblia Defesa da Fé
Bíblia de Estudo Pentecostal
Dicionário Wycliffe

Sugestão de leitura:
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