“A
fé”, disseram os primeiros luteranos, “é algo perturbador”.
A
Martinho Lutero dá-se o crédito, sob a orientação de Deus, de ter redescoberto
a doutrina bíblica da justificação pela fé. A ênfase de Lutero na fé como a
única forma de alcançar a paz do coração e a libertação do pecado deu uma nova
injeção de vida à Igreja que estava em decadência e promoveu a Reforma.
Grande
parte disso não passa de história. Não se trata de uma questão de opinião, mas
de um simples fato. Qualquer pessoa pode verificá-lo.
No entanto, algo
aconteceu à doutrina de justificação pela fé como ensinada por Lutero. O que
aconteceu não é tão fácil de ser descoberto. Não é questão de um simples fato,
uma simples afirmativa ou negativa, uma explicação óbvia. É mais difícil de
compreender do que isto, e muito mais difícil de se chegar a uma conclusão; mas
o que aconteceu é tão sério e tão importante que mudou ou está em via de mudar
toda a perspectiva evangélica.
Se persistir, poderá muito bem virar o
Cristianismo às avessas e substituir por completo a fé dos nossos pais. E a
revolução espiritual como um todo parecerá tão gradativa e tão inocente que
dificilmente será percebida.
Qualquer pessoa que combatê-la será acusada de
lutar com lanças contra os moinhos de vento, como Dom Quixote. A fé que Paulo e
Lutero tinham foi algo revolucionário. Causou uma reviravolta na vida do
indivíduo e o transformou em uma pessoa completamente diferente.
Agarrou-se
à vida e a trouxe para a obediência a Cristo. Pegou sua cruz e veio após Jesus
sem intenção de recuar. Despediu-se de seus velhos amigos tão certo quanto
Elias quando entrou no carro de fogo e partiu em um redemoinho. Havia uma
finalidade nisso.
Trancou-se no coração de um homem como uma armadilha;
aprisionou-o e, daquele momento em diante, tornou-o um servo feliz e amoroso de
seu Senhor. Converteu a terra em um deserto e desvelou o céu diante da alma
fiel. Tornou a alinhar todas as ações da vida e as ajustou de acordo com a
vontade de Deus.
Colocou aquele que a possuía em um pináculo de verdade, de
cuja posição ele observava tudo que aparecia em seu campo de experiência. Fez
do homem um ser pequeno, de Deus, um ser grande, e de Cristo, um ser
inexplicavelmente precioso. Todas estas coisas e outras aconteceram a um homem
quando este recebeu a fé que justifica.
Veio a revolução, calmamente, e, sem
dúvida, a palavra “fé” foi compreendida por outra perspectiva. Aos poucos, todo
o significado da palavra mudou do que tinha sido para o que é neste momento. E
a mudança foi tão insidiosa que dificilmente uma voz se levantou para advertir
contra ela. No entanto, as trágicas consequências estão à nossa volta.
A fé
agora não significa outra coisa senão uma passiva submissão moral à Palavra de
Deus e à cruz de Jesus. Para exercitá-la, temos apenas de nos colocar de
joelhos e concordar balançando a cabeça com os ensinamentos de cunho pessoal de
um obreiro sobre a salvação da nossa alma.
O efeito geral é bem parecido com
aquele que as pessoas sentem após se consultarem com um bom e sábio médico. Elas
saem de tal consulta se sentindo extremamente bem e, ao mesmo tempo, com um
sorriso um pouco tímido para pensar em quantos temores tinham com relação à sua
saúde quando, na verdade, não havia nada errado com elas.
Precisavam apenas de
um descanso. Uma fé como esta não perturba as pessoas. Ela as conforta. Não
desloca a junta de sua coxa para que fiquem mancas; ao contrário, ela as ensina
a praticar exercícios naturais e melhora sua postura. A face de seu ego é
lavada, e sua autoconfiança, não se permite abater.
Tudo
isso elas conseguem, mas não recebem um novo nome como Jacó nem caminham
mancando para a luz eterna. “Nasceu-lhe o sol, quando ele atravessava Peniel”
(Gn 32.31).
Este era Jacó – ou melhor, Israel, pois o sol, sentindo-se envergonhado,
não brilhou muito sobre ele. Contudo, gostava de descansar sobre a cabeça do
homem a quem Deus transformara. Esta geração de cristãos precisa ouvir
novamente a doutrina da virtude perturbadora da fé.
É preciso dizer às pessoas
que a religião cristã não é algo com que se pode brincar. A fé em Cristo
prevalecerá ou não haverá nada para fazer com o homem. Ela não se entregará à
experimentação. Seu poder não pode alcançar homem algum que esteja planejando
um caminho alternativo no caso de as coisas ficarem difíceis para ele.
O único
homem que pode ter certeza de que tem a verdadeira fé bíblica é aquele que se
coloca em uma posição em que não há como recuar. Sua fé resultou em um
compromisso eterno e irrevogável e, por mais forte que seja a tentação, ele
sempre responderá: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida
eterna” (Jo 6.68).
Fonte: Extraído do clássico
Verdadeiras Profecias. Para uma alma em busca de Deus - Série Riquezas de
Cristo – A. W. Tozer - editora dos clássicos
Leia mais sobre A.W. Tozer - Biografia
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