“A
fé”, disseram os primeiros luteranos, “é algo perturbador”.

Grande
parte disso não passa de história. Não se trata de uma questão de opinião, mas
de um simples fato. Qualquer pessoa pode verificá-lo.
No entanto, algo
aconteceu à doutrina de justificação pela fé como ensinada por Lutero. O que
aconteceu não é tão fácil de ser descoberto. Não é questão de um simples fato,
uma simples afirmativa ou negativa, uma explicação óbvia. É mais difícil de
compreender do que isto, e muito mais difícil de se chegar a uma conclusão; mas
o que aconteceu é tão sério e tão importante que mudou ou está em via de mudar
toda a perspectiva evangélica.
Se persistir, poderá muito bem virar o
Cristianismo às avessas e substituir por completo a fé dos nossos pais. E a
revolução espiritual como um todo parecerá tão gradativa e tão inocente que
dificilmente será percebida.
Qualquer pessoa que combatê-la será acusada de
lutar com lanças contra os moinhos de vento, como Dom Quixote. A fé que Paulo e
Lutero tinham foi algo revolucionário. Causou uma reviravolta na vida do
indivíduo e o transformou em uma pessoa completamente diferente.
Agarrou-se
à vida e a trouxe para a obediência a Cristo. Pegou sua cruz e veio após Jesus
sem intenção de recuar. Despediu-se de seus velhos amigos tão certo quanto
Elias quando entrou no carro de fogo e partiu em um redemoinho. Havia uma
finalidade nisso.
Trancou-se no coração de um homem como uma armadilha;
aprisionou-o e, daquele momento em diante, tornou-o um servo feliz e amoroso de
seu Senhor. Converteu a terra em um deserto e desvelou o céu diante da alma
fiel. Tornou a alinhar todas as ações da vida e as ajustou de acordo com a
vontade de Deus.
Colocou aquele que a possuía em um pináculo de verdade, de
cuja posição ele observava tudo que aparecia em seu campo de experiência. Fez
do homem um ser pequeno, de Deus, um ser grande, e de Cristo, um ser
inexplicavelmente precioso. Todas estas coisas e outras aconteceram a um homem
quando este recebeu a fé que justifica.
Veio a revolução, calmamente, e, sem
dúvida, a palavra “fé” foi compreendida por outra perspectiva. Aos poucos, todo
o significado da palavra mudou do que tinha sido para o que é neste momento. E
a mudança foi tão insidiosa que dificilmente uma voz se levantou para advertir
contra ela. No entanto, as trágicas consequências estão à nossa volta.
A fé
agora não significa outra coisa senão uma passiva submissão moral à Palavra de
Deus e à cruz de Jesus. Para exercitá-la, temos apenas de nos colocar de
joelhos e concordar balançando a cabeça com os ensinamentos de cunho pessoal de
um obreiro sobre a salvação da nossa alma.
O efeito geral é bem parecido com
aquele que as pessoas sentem após se consultarem com um bom e sábio médico. Elas
saem de tal consulta se sentindo extremamente bem e, ao mesmo tempo, com um
sorriso um pouco tímido para pensar em quantos temores tinham com relação à sua
saúde quando, na verdade, não havia nada errado com elas.
Precisavam apenas de
um descanso. Uma fé como esta não perturba as pessoas. Ela as conforta. Não
desloca a junta de sua coxa para que fiquem mancas; ao contrário, ela as ensina
a praticar exercícios naturais e melhora sua postura. A face de seu ego é
lavada, e sua autoconfiança, não se permite abater.
Tudo
isso elas conseguem, mas não recebem um novo nome como Jacó nem caminham
mancando para a luz eterna. “Nasceu-lhe o sol, quando ele atravessava Peniel”
(Gn 32.31).
Este era Jacó – ou melhor, Israel, pois o sol, sentindo-se envergonhado,
não brilhou muito sobre ele. Contudo, gostava de descansar sobre a cabeça do
homem a quem Deus transformara. Esta geração de cristãos precisa ouvir
novamente a doutrina da virtude perturbadora da fé.
É preciso dizer às pessoas
que a religião cristã não é algo com que se pode brincar. A fé em Cristo
prevalecerá ou não haverá nada para fazer com o homem. Ela não se entregará à
experimentação. Seu poder não pode alcançar homem algum que esteja planejando
um caminho alternativo no caso de as coisas ficarem difíceis para ele.
O único
homem que pode ter certeza de que tem a verdadeira fé bíblica é aquele que se
coloca em uma posição em que não há como recuar. Sua fé resultou em um
compromisso eterno e irrevogável e, por mais forte que seja a tentação, ele
sempre responderá: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida
eterna” (Jo 6.68).
Fonte: Extraído do clássico
Verdadeiras Profecias. Para uma alma em busca de Deus - Série Riquezas de
Cristo – A. W. Tozer - editora dos clássicos
Leia mais sobre A.W. Tozer - Biografia
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