“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei” Tito 1.5
A
organização de uma igreja local
Segundo os estudiosos, a epístola do apóstolo Paulo a Tito foi
escrita aproximadamente no ano de 64 d.C., e provavelmente, foi redigida na Macedônia,
uma província que fazia fronteira com a Grécia. Por certo, a carta foi escrita
no tempo em que Paulo estava sob a custódia dos soldados romanos.
Nesta epístola, podemos dizer que há pelo menos quatro assuntos
principais ensinado pelo apóstolo Paulo:
(1) O ensino sobre o caráter e as
qualificações espirituais necessárias a todos os que são separados para o
ministério na igreja — isto é, “homens piedosos”, “de caráter cristão
comprovado” e “bem sucedidos na direção da sua família” (1.5-9);
(2) estímulo a
Tito para ensinar a “sã doutrina”, repreender e silenciar os falsos mestres
(1.10—2.1);
(3) descrição de Paulo para Tito do devido papel dos anciões
(2.1,2), das mulheres idosas (2.3,4), das mulheres jovens (2.4,5), dos homens
jovens (2.6-8) e dos servos (2.9,10) na comunidade cristã em Creta;
(4) por
último, o apóstolo enfatiza que as boas obras e uma vida de santidade a Deus
são o devido fruto da fé genuína (1.16; 2.7,14).
Mediante essa lista de requisitos, notamos o quanto é importante
que, em primeiro lugar, quem se sente vocacionado para um chamado ministerial,
acima de tudo, seja reconhecido pela Igreja de Cristo. O ministério na vida de
uma pessoa não é algo oculto, ou de conhecimento apenas para quem o deseja, mas
é manifesto, reconhecido pela comunidade local a quem ele serve. O ministério
de Deus na vida de um vocacionado também não é confirmado por uma só pessoa,
mas confirmado e aprovado pela Igreja de Cristo reunida naquela comunidade
local. O ministério vocacional de um escolhido por Deus, que ama o Senhor acima
de todas as coisas, tem de ser reconhecido pelo Corpo de Cristo, a igreja
local.
Mas é preciso a igreja local saber discernir "quem é" de "quem não
é" vocacionado para o ministério. Para isso, o nosso Deus manifestou a sua
vontade nas Escrituras por intermédio do apóstolo Paulo sobre as
características de como deve ser uma pessoa vocacionada para o santo ministério.
A Igreja de Cristo não pode se furtar dessa responsabilidade, pois segundo a
herança da tradição da Reforma Protestante: não há um sacerdote como
representante de Deus para o povo; muito pelo contrário, em Cristo, todos somos
sacerdotes, a nação santa e o povo adquirido para propagar o Evangelho. Revista Ensinador Cristão
A igreja local deve subordinar-se à orientação de Deus, através de sua Palavra, que é o “Manual de Administração Eclesiástica” por excelência.
“Tito, como 1 e 2 Timóteo, é uma carta pessoal de Paulo a um
dos seus auxiliares mais jovens. É chamada de ‘epístola pastoral’ porque trata
de assuntos relacionados com ordem e o ministério na igreja. Tito, um gentio
convertido (Gl 2.3), tornou-se íntimo companheiro de Paulo no ministério
apostólico. Embora não mencionado nominalmente em Atos (por ser, talvez, irmão
de Lucas), o grande relacionamento entre Tito e o apóstolo Paulo vê-se:
(1) nas
treze referências a Tito nas epístolas de Paulo,
(2) no fato de ele ser um dos
convertidos e fruto do ministério de Paulo (Tito 1.4; como Timóteo), e um cooperador
de confiança (2Co 8.23),
(3) pela sua missão de representante de Paulo em pelo
menos uma missão importante a Corinto durante a terceira viagem missionária do
apóstolo (2Co 2.12,13; 7.6-15; 8.6,16-24), e
(4) pelo seu trabalho como
cooperador de Paulo em Creta (1.5)”
(Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD, 1995, pp.1886-87).
A epístola de Paulo a Tito demonstra com vigor as qualificações honestas para quem se pretende pastor.
Vamos
estudar sobre a terceira carta pastoral de Paulo, destinada a Tito. Se Timóteo
foi encarregado de transmitir ensinamentos, exortações e mensagens a uma igreja
que sofria os ataques dos falsos mestres, Tito teve missão semelhante, porém
com uma incumbência a mais, que foi a de estabelecer presbíteros, “em cada
cidade”, pondo “em ordem” coisas que deveriam ser bem organizadas e
estabelecidas. Paulo demonstra, na carta a Tito, que não era apenas pregador,
ensinador e “doutor dos gentios”, mas, também, um administrador eclesiástico de
larga visão ministerial.
Ele sabia avaliar as necessidades da obra do
Senhor. E orientou Tito para que selecionasse obreiros cristãos, que podiam ser
separados ou consagrados a presbíteros, como líderes que ficariam encarregados
da direção de novas igrejas, “de cidade em cidade” (Tt 1.5). Dessa designação é
que as igrejas em geral entendem que o cargo ou função de presbítero deve ser
local, sendo suscetível de reconhecimento ministerial por parte de outras
igrejas. Chama a atenção, mais uma vez, nas cartas pastorais, o cuidado de
Paulo quanto às qualificações a serem exigidas para o exercício das funções
ministeriais, em especial, no caso dos presbíteros.
São funções ministeriais idênticas às que constam
de 1 Timóteo 3.1-7, em que Paulo fala a Timóteo para que observe tais
requisitos, na administração eclesiástica da igreja em Éfeso. Esse detalhe
mostra que as três epístolas pastorais formam de fato uma unidade de pensamento
e de finalidade, pois têm a mesma autoria. Nessas cartas, as orientações são
aplicáveis à administração eclesiástica, nas igrejas locais, em todos os tempos
e lugares. Por não serem observadas, nos dias presentes, em muitos ministérios
é que têm ocorrido sérios problemas organizacionais e de relacionamento entre
obreiros.
A lista de qualificações, constantes de Tito 1.6-8,
corrobora o extraordinário discernimento que Paulo teve, como nenhum outro
apóstolo, com relação aos requisitos para ser um presbítero, um bispo ou um
pastor. A organização eclesiástica deve começar com a organização ministerial.
E esta se faz com obreiros primeiramente chamados por Deus de forma convincente
(2Tm 2.15). A observância das qualificações bíblicas para o ministério evita a
“consagração” de obreiros oportunistas ou aventureiros, que se servem da igreja
em lugar de servirem à igreja. Em segundo lugar, com o preparo desses obreiros
para assumir as grandes responsabilidades da Igreja, através das igrejas
locais. O século XXI apresenta desafios muito maiores para o exercício pastoral
do que em qualquer outra época da História.
Na introdução da carta a Tito, vemos que, a exemplo
do que disse acerca de Timóteo, Paulo também teceu comentário sincero e
reconhecedor do valor do destinatário, como obreiro fiel, fruto do seu abnegado
ministério de evangelização e missões: “a Tito, meu verdadeiro filho, segundo a
fé comum: graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus
Cristo, nosso Salvador” (Tt 1.4). Tito era amigo de longa data. De origem
grega, foi companheiro de Paulo, ao lado de Barnabé, desde que começou de fato
seu trabalho, após ter o apoio dos líderes da Igreja, em Jerusalém (G1 2.1-9).
I - ORGANIZAÇÃO DA IGREJA E
ESCOLHA DOS OBREIROS
1. Resultado de uma Viagem
Missionária
“Em sua carta a Tito, Paulo mostra que é um
verdadeiro pastor e líder, chamado por Deus (1Co 1.1; G11.1), e tem cuidado
das igrejas que fundou em suas viagens missionárias. E diz para seu discípulo:
‘Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas
que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te
mandei’ (Tt 1.5). De acordo com o entendimento da época, a igreja local deveria
ter à frente um obreiro experiente e de mais idade. Que fosse um ancião, Um
jovem obreiro pode ter muito conhecimento bíblico e até muita unção de Deus.
Mas a experiência só se consegue com o tempo, com o passar dos anos (Jó
32.7)”.1 O texto indica que Paulo estivera em Creta, em uma de suas viagens
missionárias, em companhia de Tito, cumprindo a sua tarefa de pastor e bispo,
ou supervisor da obra de evangelização, em ocasião diferente da viagem em que
sofreu terrível naufrágio e foi salvo pela bondade de Deus (ver At 27.8).
Em sua visita à famosa ilha, Paulo percebeu a
necessidade de deixar ali, como obreiro supervisor, o seu discípulo amado,
Tito, que sempre lhe fora fiel e disponível para ajudar na obra. Sabedor de que
um pastor ou missionário não pode fazer tudo nem atender a todas as igrejas por
ele fundadas, Paulo escolheu Tito para prosseguir o trabalho por ele iniciado.
Ao que tudo indica, a viagem a Creta deve ter ocorrido após a sua saída da
prisão, no primeiro encarceramento, que durou dois anos (At 28.30), e sua
última prisão, que resultou em sua morte. A carta a Tito, portanto, deve ter
sido escrita antes de 1 Timóteo.
Com a incumbência confiada por Paulo, Tito
tornou-se uma espécie de supervisor missionário, com autoridade delegada para
visitar, acompanhar e avaliar todos os trabalhos abertos, nas diversas cidades
da ilha. Uma providência ministerial de grande valor, pois muitos trabalhos
missionários são abertos, em lugares diversos no mundo, e não são avaliados por
uma supervisão efetiva.
2. Colocando em Ordem as
Atividades na Igreja
As necessidades de organização das igrejas, na
época de Paulo e de Tito, eram bem prementes. A obra do Senhor estava
crescendo, e certamente distorções, dificuldades e transtornos eram observados
pelos supervisores da obra. Mas aquelas atividades eram idênticas às que são
observadas hoje nas igrejas locais. Estas podem ser resumidas, pela ordem de
importância e prioridade, nas seguintes ações:
1) Evangelização e discipulado
Essas atividades não são “modernas”, mas sempre
foram desenvolvidas, desde os primórdios das igrejas locais. Por meio da
mensagem do evangelho, as pessoas aceitavam a Cristo como seu Salvador, mas
precisavam de ensino apropriado à sua condição de novos convertidos para se
tornarem discípulos de Jesus. Paulo dava muito valor ao discipulado. Ele ficou
um ano e meio em Corinto, “ensinando entre eles a palavra de Deus” (At 18.11).
Em outra viagem, passou “sucessivamente pela província da Galácia e da Frigia, confirmando
a todos os discípulos” (At 18.23). Tito tinha a missão de reforçar as
atividades de evangelização, discipulado e integração dos irmãos nas igrejas
por onde ele passava, com autoridade delegada pelo apóstolo supervisor.
2) Adoração a Deus
Depois da conversão, vem a adoração. Logo em seus
primeiros passos, o novo discípulo precisa ser ensinado e levado à adoração
sincera a Deus. Naturalmente, na época de Paulo, não havia hinários cristãos à
disposição dos crentes. Eles louvavam a Deus, certamente, utilizando o
saltério, ou os cânticos dos salmos que, em sua maioria, são adequados para
louvar a Deus, em todos os tempos, e em todos os lugares, pelo mundo afora. Mas
Paulo era um adorador por excelência. E incentivava o cântico e o louvor nas igrejas por onde passava
ou para quem enviava suas epístolas: “falando entre vós com salmos, e hinos, e
cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef
5.19). Na organização e funcionamento das igrejas, em Creta, não poderia ser
diferente. Tito teria que lembrar aos irmãos o valor da adoração a Deus.
3) Ensino e educação cristã
Estabelecer igrejas significa não apenas inaugurar
um edifício, ou mesmo dar início a uma comunidade cristã, num determinado
local. Significa reunir pessoas que se tornam cristãs, congregá-las num local,
ainda que sem melhores estruturas físicas, para ministrar-lhes o ensino da
Palavra de Deus. Paulo enviou Tito a Creta para ensinar as igrejas locais e os
líderes que haveria de estabelecer, dando destaque ao ensino da Palavra de
Deus. Sem ensino fundamentado na Palavra de Deus, nenhuma igreja pode
sustentar-se firme na Rocha dos Séculos.
4) Integração entre os irmãos
Uma das características da igreja em seus
primórdios era a união e a comunhão entre os crentes. “Todos os que criam
estavam juntos e tinham tudo em comum” (At 2.44). Não havia apenas reunião
entre os primeiros cristãos, mas havia união e comunhão, em torno dos que se
integravam uns com os outros. Certamente, Tito deve ter ensinado aos irmãos de
Creta a importância da comunhão com Deus, com Cristo, com o Espírito Santo e
com os irmãos.
5) Assistência social ou ajuda
mútua
Os cristãos, em seus primórdios, levavam a comunhão
(koinonia) tão a sério que chegaram a tomar atitudes radicais em relação às
necessidades. “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os
que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora
vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos” (At 4.34). Tito, representando
Paulo, deve ter orientado os crentes de Creta a respeito desse importante
objetivo da igreja local.
6) Organização e administração
patrimonial
Nos primeiros séculos do cristianismo, a Igreja
nasceu de forma bem simples e desprovida de estrutura física para a acolhida
dos irmãos. A princípio, reuniam-se no cenáculo (At 1.13); depois, no alpendre
de Salomão (At 5.12); com o passar dos anos, os cristãos reuniam-se no Templo e
nas casas de suas famílias (At 5.42; 20.20). Em Creta, provavelmente, a
organização das igrejas teve início nas casas, nos lares cristãos.
3. Qualificações dos Bispos ou
Presbíteros
Em sua carta a Tito, Paulo indica as qualificações
para o presbitério (ou episcopado) idênticas às que constam em 1 Timóteo 3.1-7. Em seguida, mostra que “o bispo”, o mesmo que
presbítero no texto (Tt 1.5) deve ser pessoa íntegra, irrepreensível, “como
despenseiro da casa de Deus” (Tt 1.7a). Outras qualidades morais são requeridas
para quem deseja o presbitério ou o episcopado (1Tm 3.1), como humildade, “não
soberbo”; mansidão, “não iracundo”; sobriedade em relação ao uso do vinho,
evitando exceder-se nesse aspecto, para que não perca seu equilíbrio e cause
escândalo à igreja do Senhor. Exige-se, também, que o presbítero, ou bispo,
seja pessoa educada, equilibrada emocionalmente e não seja “espancador” de
ninguém (Tt 1.7).
No mesmo trecho da carta, Paulo determina que o
presbítero ou bispo não seja “nem cobiçoso de torpe ganância”. Ou seja: não
seja amante e cobiçoso de dinheiro.
Completando a lista virtuosa de qualificações
ministeriais, Paulo diz que o presbítero, bispo ou pastor deve ser obreiro
“dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante” (Tt
1.8). Para ter essas qualificações, é necessário que o líder seja acolhedor,
não irascível, não neurastênico, não mal educado, que não sabe receber ou
tratar as pessoas. Deve ser benigno, possuidor de equilíbrio emocional
(moderado), tenha uma vida justa, seja santo em toda a maneira de viver (1Pe
1.15), viva em santificação (Hb 12.14) e demonstre equilíbrio em tudo, na
prática do fruto da temperança. Leia também O Ministério Pastoral
II - O OBREIRO DEVE PROTEGER O
POVO DE DEUS
1. Crentes Problemáticos
Após discriminar as qualificações necessárias ao
presbítero, Paulo ressalta o respeito que deve ter à doutrina e a capacidade e
autoridade ministerial para argumentar contra os contradizentes (Tt 1.9,10).
Na igreja de Creta, uma ilha tão pequena,2 de
apenas 250 quilômetros de extensão por 11 a 56 de largura, a comunidade cristã
não deveria ter mais que algumas dezenas ou poucas centenas de cristãos. Mas,
no meio deles, surgiram os “complicados” e “contradizentes”, “faladores”. Tipos
não raros em igrejas nos tempos presentes. Mas o apóstolo indicou a maneira de
tratá-los.
2. Como Tratar os Desordenados
Aos contradizentes e desordenados, desobedientes ao
ensino da Palavra de Deus, Paulo demonstra não ter nenhuma contemplação com os
mesmos, pois são perigosos, não só para a igreja local, mas para as famílias
cristãs, e devem ser detidos, tapando lhes a boca, ou seja, com argumentação,
admoestação e repreensão à altura: “aos quais convém tapar a boca; homens que
transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância” (Tt
1.11). O fato de tais falsos crentes terem espaço para transtornar “casas
inteiras” se devia à realidade das igrejas cristãs em seus primórdios. Elas
funcionavam, em grande parte, nas residências dos convertidos (Rm 16.5; 1 Co
16.19; Cl 4.15).
Além de faladores ou murmuradores, os falsos
crentes ensinavam coisas inconvenientes, visando obter algum proveito pessoal;
eram gananciosos. Os obreiros que lideram, presbíteros, bispos ou pastores,
precisam ter autoridade espiritual, moral e pastoral para afastar os fiéis em
Cristo do assédio dessa gente a serviço do Diabo. Além de desordenados, eles
são “faladores” ou murmuradores. Certo pastor chamava esse tipo de crente de
“línguas de gravata”.3
Há quem queira fazer-se de “bonzinho” e “cheio de
amor” no trato com os contradizentes e inimigos da liderança. Mas a Bíblia,
manual da Igreja por excelência, mostra que, mesmo com amor, deve haver firmeza
e determinação, no trato com os desordeiros. Paulo manda que se deve tapar a
boca dos tais; devem ser admoestados, ou advertidos, censurados, repreendidos.
Completando a exortação acerca dos desordeiros, Paulo recorre à palavra de um
profeta cretense a respeito deles e diz que os tais devem ser repreendidos
“severamente”: “Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre
mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro.
Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé” (Tt 1.12,13).
3. Não Dar Ouvidos a Ensinos
Falsos
Não era fácil a missão de Tito. Ele, na condição de
“missionário supervisor”, estabelecendo igrejas “de cidade em cidade”, ainda
tinha que ministrar a palavra de edificação e advertência contra os falsos
cristãos; deveria repreendê-los de modo veemente, “não dando ouvidos às fábulas
judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade” (Tt 1.14).
Isso mostra que os falsos mestres e os falsos cristãos eram homens que queriam
manter os novos convertidos sujeitos ao judaísmo e comportavam-se como se
fossem formuladores de doutrinas com seus mandamentos espúrios.
III - A PERCEPÇÃO DA PUREZA
PARA OS PUROS E PARA OS IMPUROS
1. Tudo É Puro para os Puros
Nesta seção da carta a Tito, Paulo faz declaração
que tem sido mal entendida por muitos que leem a epístola. Ele diz que “todas
as coisas são puras para os puros” (Tt 1.15a). Separamos o versículo para
melhor entendimento. Já ouvimos alguém, de má fé e péssima intenção, querer
interpretar esse versículo ensinando que, se a pessoa é pura, pode fazer o que
bem quiser, pois “tudo é puro” para ela. Mas a Bíblia explica a si mesma. Para
o puro, ou santo, todas as coisas são puras, porque são “santos em toda a
maneira de viver” (1Pe 1.5); buscam “a santificação, sem a qual ninguém verá o
Senhor” (Hb 12.14); são santificados em tudo e todo “espírito, alma e corpo”
são “conservados plenamente irrepreensíveis para a vinda do Senhor” (1Ts
5.23).
2. Nada É Puro para os
Contaminados
“[...] mas nada é puro para os contaminados e
infiéis; antes, o seu entendimento e consciência estão contaminados” (Tt 1.15).
No contexto da carta e no fundo histórico de sua época, decerto Paulo tinha em
mente os ensinos falsos dos gnósticos, que apregoavam muitos ensinos sobre
alimentos, vida íntima, sexualidade e outros temas, os quais consideravam
coisas impuras. Para eles, tudo o que fosse material era reprovável, “impuro”.
De fato, para os “contaminados e infiéis”, que viviam cheios de malícia,
maldade e torpeza, em seus corações corrompidos, tudo o que eles pensavam e
praticavam eram de má natureza.
Eles apregoavam que para o crente ser puro deveria
abster-se de relações sexuais. Tal generalização contrariava a Palavra de Deus,
no que respeita ao sexo conjugal, pois é mandamento de Deus que, através do
sexo, o esposo se faça “uma só carne” com sua esposa (Gn 2.24; Mt 19.6). Muitos defendiam o vegetarianismo pleno,
como os “veganos”, ou “frugívoros”, que não se apropriam de nada de origem
animal, para não se contaminarem. Tais dietas podem ser saudáveis, mas não
podem ser exigidas como mandamento bíblico de forma alguma (ver Lv 11). Mas o
motivo pelo qual “nada é puro para os contaminados” é porque “confessam que
conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes,
e reprovados para toda boa obra” (Tt 1.16). Ou seja: são hipócritas e
maliciosos. Dizem uma coisa e fazem outra.
CONCLUSÃO
Uma igreja local, pequena, média ou grande, é um
universo humano, pleno de grande variedade de circunstâncias e realidades que
envolvem os mais diferentes tipos de pessoas. Nela, há o “joio”, ou falsos
crentes, e “o trigo”, os crentes fiéis, sinceros e santos, cujos nomes estão
inscritos no “livro da vida do Cordeiro”. E na igreja local que se desenvolvem
ministérios, dons e talentos, a serviço do Reino de Deus, ou contrários a ele.
E na igreja local que a Igreja Universal, “coluna e firmeza da verdade” (1Tm
3.15), se torna visível. Sua administração requer a observância de preceitos e
diretrizes, emanadas da Palavra de Deus, o maior e melhor “Manual de
Administração Eclesiástica”. Por isso, Paulo escreveu três cartas pastorais,
visando ao estabelecimento, à organização e ao crescimento sadio da Igreja do
Senhor Jesus.
Notas
1 Elinaldo Renovato DE LIMA. Dons espirituais e ministeriais, p. 130.
2 Russel Norman CHAMPLIN. O Novo Testamento interpretado versículo por
versículo. Vol.5, p. 417.
3 Eles não precisavam usar
gravatas. A língua seria tão grande que cumpria esse papel.
Fonte:
A Igreja e o seu Testemunho - As ordenanças de Cristo nas Cartas Pastorais
As Ordenanças de Cristo nas Cartas Pastorais - Elinaldo Renovato de Lima (livro de Apoio)
Revista Ensinador Cristão - CPAD - nº63
Dicionário Bíblico Wycliffe CPAD
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia Defesa da Fé
Leia também:
Aqui eu Aprendi!
grato
ResponderExcluirMuito bom esses esclarecimento, sobre a funcionalidade ministerial a Luz da Palavra de Deus!
ResponderExcluirTrabalho Excelente! Parabéns, para o grupo de abnegados que doaram seu tempo a aplicação deste breve compêndio escriturístico, para embasar as responsabilidades eclesiásticas do ministério de cada obreiro.
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