• Qual é
o propósito da morte na vida cristã?
• Que acontece ao corpo e à alma quando morremos?
• Quando receberemos o corpo ressurreto?
• Como ele será?
• Que acontece ao corpo e à alma quando morremos?
• Quando receberemos o corpo ressurreto?
• Como ele será?
1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA
A. Morte: Por que os cristãos morrem?
Nosso estudo da aplicação da redenção deve incluir
uma consideração da morte e da questão de como os cristãos devem ver a própria
morte e a morte dos outros. Devemos também perguntar sobre o que nos acontece
entre o tempo que morremos e o tempo em que Cristo vai retornar para nos dar
corpos ressurretos.
1. A morte não é uma punição para os cristãos.
Paulo diz-nos claramente que “agora, já não há
condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Todas as penalidades
dos nossos pecados já foram pagas. Assim, muito embora saibamos que os cristãos
morrem, não devemos considerar a morte dos cristãos uma punição de Deus ou de
alguma forma um resultado da penalidade devida a nós por causa dos nossos
pecados. É verdade que a penalidade pelo pecado é a morte, mas essa penalidade
não mais se aplica a nós — nem em termos de morte física nem em termos de morte
espiritual ou separação de Deus. Tudo isso foi pago por Cristo. Portanto, deve
haver outra razão que não a punição de nossos pecados para a morte que os
cristãos enfrentam.
2. A morte é o resultado final da vida no mundo
decaído.
Em sua grande sabedoria, Deus decidiu que não nos
aplicaria os benefícios da obra redentora de Cristo de uma só vez. Antes ele
escolheu aplicar os benefícios da salvação de modo gradual em nossa existência.
Semelhantemente, ele resolveu não remover todo o mal do mundo de imediato, mas
esperar até o juízo final e o estabelecimento do novo céu e da nova terra. Em
resumo, ainda vivemos em um mundo decaído e nossa experiência de salvação é
ainda incompleta.
O último aspecto do mundo decaído a ser removido
será a morte. Paulo diz: “Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus,
o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder. Pois é
necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de
seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (lCo 15.24-26).
Quando Cristo retornar, então se cumprirá a palavra
que está escrita: “A morte foi destruída pela vitória”. “Onde está, á morte, a
sua vitória? Onde está, á morte, o seu aguilhão?” (lCo 15.54,55). Mas até
aquele tempo a morte vai permanecer uma realidade mesmo na vida dos cristãos.
Embora a morte não nos venha como penalidade pelos
nossos pecados individuais (porque isso foi pago por Cristo), ela vem como
resultado de vivermos no mundo decaído, onde os efeitos do pecado não foram
ainda removidos. Ligados à experiência da morte estão outros resultados da
queda que prejudicam nosso corpo físico e assinalam a presença da morte no
mundo — tanto os cristãos como os não-cristãos experimentam o envelhecimento,
as doenças, os prejuízos, os desastres naturais (como as enchentes, tempestades
violentas e terremotos). Embora Deus muitas vezes responda às orações para
libertar cristãos (e também não-cristãos) de alguns desses efeitos da queda por
certo tempo (indicando assim a natureza do seu Reino que se aproxima), os
cristãos acabam experimentando todas essas coisas em alguma medida, e, até que
Cristo retorne, todos nós ficaremos velhos e morreremos. O “último inimigo”
ainda não foi destruído. E Deus resolveu permitir que experimentássemos a morte
antes de ganharmos todos os benefícios da salvação que foi conquistada para
nós.
3. Deus usa a experiência da morte para completar
nossa santificação.
Durante toda a nossa jornada na vida cristã,
sabemos que nunca temos de pagar qualquer penalidade pelo pecado, pois tudo foi
pago por Cristo (Rm 8.1). Portanto, quando realmente experimentamos dor e
sofrimento nesta vida, não devemos nunca pensar que é porque Deus nos esteja
punindo (para o nosso mal) . As vezes o sofrimento é simplesmente resultado da
vida no mundo pecaminoso e decaído e às vezes é porque Deus nos está
disciplinando (para o nosso bem), mas em todo o caso Paulo nos assegura:
“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos
que foram chamados de acordo com o seu propósito” (Rm 8.28).
O propósito positivo de Deus nos disciplinar está
claramente afirmado em Hebreus 12 , onde lemos: “pois o Senhor disciplina a
quem ama [...] Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da
sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas
sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles
que por ela foram exercitados”(Hb 12.6,10,11). Nem toda disciplina serve para
nos corrigir quando cometemos pecados; Deus pode permiti-la para o nosso
fortalecimento, a fim de que possamos ganhar mais capacidade de confiar nele e
de resistir ao pecado no desafiador caminho da obediência. Vemos isso
claramente na vida de Jesus, que, mesmo sendo sem pecado, todavia “aprendeu a
obedecer por meio daquilo que sofreu” (Hb 5.8). Ele foi aperfeiçoado “mediante
o sofrimento” (Hb 2.10). Portanto, devemos ver toda fadiga e sofrimento que nos
acontece na vida como algo que Deus nos traz para o nosso bem, para o
fortalecimento de nossa confiança nele, para nossa obediência a ele e, em
última instância, para aumentar nossa capacidade de glorificá-lo.
O entendimento de que a morte não é de modo algum a
punição pelo pecado, mas simplesmente algo que Deus nos faz passar a fim de
tornar-nos mais parecidos com Cristo, deve servir de grande encorajamento para
nós. Esse entendimento deve retirar de nós todo o temor da morte que assalta a
mente dos crentes (cf.Hb 2.15). Todavia, embora Deus venha a nos fazer um bem
por meio do processo da morte, devemos ainda lembrar que a morte não é natural,
não é uma coisa boa e, no mundo criado por Deus, ela é algo que não deveria
existir. Ela é uma inimiga — algo que Cristo finalmente vai destruir (1Co
15.26).
4. Nossa obediência a Deus é mais importante que
preservar a vida.
Se Deus usa a experiência da morte para aprofundar
a confiança nele e para fortalecer nossa obediência a ele, então é importante
que nos lembremos de que o alvo de preservar a vida neste mundo a qualquer
custo não é o alvo maior para o cristão: a obediência a Deus e a fidelidade a
ele em todas as circunstâncias são coisas muito mais importantes. Essa é a
razão pela qual Paulo pôde dizer:
“Estou pronto não apenas para ser amarrado, mas
também para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13; cf. 25.11).
Ele disse aos presbíteros de Éfeso: “Todavia, não me importo, nem considero a
minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a
corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar
do evangelho da graça de Deus” (At 20.24). Quando Paulo estava em prisão, não
sabendo se morreria ali ou se sairia vivo, ainda pôde dizer: “Aguardo
ansiosamente e espero que em nada serei envergonhado. Ao contrário, com toda a
determinação de sempre, também agora Cristo serei engrandecido em meu corpo,
quer pela vida, quer pela morte” (Fp 1.20).
A persuasão de que podemos honrar ao Senhor mesmo
na morte e de que a fidelidade a ele é muito mais importante que preservar
nossa vida deu coragem e motivação aos mártires no decorrer de toda a história
da igreja. Quando confrontados com a escolha entre preservar a própria vida e
pecar ou abrir mão da própria vida e ser fiel, escolhiam abrir mão da própria
vida: “diante da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Mesmo em tempos
em que há pouca perseguição e pouca coisa semelhante ao martírio, seria bom
fixarmos essa verdade em nossa mente de uma vez por todas, pois, se desejarmos
abrir mão até mesmo de nossa vida por fidelidade a Deus, veremos que é muito
mais fácil abrir mão de qualquer outra coisa por causa de Cristo.
B. O que devemos pensar sobre nossa morte e a morte
dos outros?
1. Nossa própria morte.
O NT nos encoraja a ver a própria morte não com
temor, mas com alegria pela perspectiva de partir e estar com Cristo. Paulo
diz: “Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com
o Senhor” (2Co 5.8). Quando está na prisão, não sabendo se seria executado ou
se seria solto, ele pode dizer: “porque para mim o viver é Cristo e o morrer é
lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não
sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com
Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.21-23).
Também lemos as palavras de João no Apocalipse:
“Então ouvi uma voz dos céus dizendo: ‘Escreva: Felizes os mortos que morrem no
Senhor de agora em diante'. Diz o Espírito: ‘Sim, eles descansarão das suas
fadigas, pois as suas obras os seguirão” (Ap 14.13).
Os crentes, portanto, não precisam ter medo de
morrer, porque a Escritura nos assegura de que nem mesmo a morte “será capaz de
nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39;
cf. Sl 23.4). De fato, Jesus morreu para libertar “aqueles que durante toda a
vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (Hb 2.15). Esse versículo nos
lembra de que, quando falamos de maneira clara sobre nossa ausência de temor da
morte, isso proporciona um forte testemunho para pessoas idosas que tentam
evitar falar sobre a morte e que não possuem nenhuma resposta para ela.
2. A morte de parentes e amigos cristãos.
Embora aguardemos o tempo de nossa própria morte
com a expectativa alegre de estar na presença de Cristo, nossa atitude será um
tanto diferente quando experimentarmos a morte de amigos crentes e parentes.
Nesses casos, experimentaremos a tristeza genuína — mas mesclada com alegria
porque eles foram estar com o Senhor.
Não é errado expressar a tristeza real pela perda
da comunhão com os nossos amados que morrem e também tristeza pelo sofrimento e
angústia que eles possam ter experimentado antes de morrer. Às vezes os
cristãos pensam que mostram falta de fé se lamentam profundamente por um irmão
na fé que morreu. Mas a Escritura não dá apoio a essa idéia, porque, quando
Estêvão foi apedrejado, lemos: “Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e
fizeram por ele grande lamentação” (At 8.2). Certamente não houve nenhuma falta
de fé por parte de ninguém pelo fato de Estêvão estar no céu experimentando
grande alegria na presença do Senhor. Todavia, a tristeza daqueles homens
piedosos mostrou o genuíno pesar que sentiram com a perda da comunhão de quem
amavam, e não foi errado expressá-la — foi correto! Mesmo Jesus, diante da
tumba de Lázaro, “chorou” (Jo 11.35), experimentando tristeza pelo fato de
Lázaro ter morrido e por suas irmãs e outras pessoas estarem experimentando
tristeza, bem como também, sem dúvida, pelo fato de que havia morte no mundo,
pois, em última instância, a morte é antinatural e não deveria estar no mundo
criado por Deus.
Não obstante, a tristeza que sentimos pela morte de
nossos queridos está claramente misturada com esperança e alegria. Paulo não
diz aos tessalonicenses que eles não deveriam de forma alguma sentir aflição
por causa dos seus amados que haviam morrido, mas ele escreve:
“Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes
quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm
esperança” (lTs 4.13). Eles não deviam se entristecer do mesmo modo, com o
mesmo desespero amargo, como acontece com os descrentes. Mas certamente eles se
entristeceriam. Ele lhes assegura que Cristo “morreu por nós para que, quer
estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele” (lTs 5.10) e, desse
modo, ele os encoraja dizendo que os que morrem vão estar com o Senhor. Essa é
a razão por que a Escritura pode dizer: “Felizes os mortos que morrem no Senhor
[...] eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão” (Ap
14.13). De fato, a Escritura mesmo nos diz: “O SENHOR vê com pesar a morte de
seus fiéis” (S1 116.15).
Portanto, embora tenhamos genuína tristeza quando
amigos e parentes cristãos morrem, podemos dizer com a Escritura: “‘Onde está,
á morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?' [...] Mas graças a
Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (lCo
15.55,57). Ainda que choremos, nosso choro deve ser misturado com adoração a
Deus e ações de graças pela vida dos queridos que morreram.
3. A morte dos descrentes.
Quando os descrentes morrem, a dor que sentimos não
está misturada com a alegria da segurança de que eles foram estar com o Senhor
para sempre. Essa dor, especialmente em relação àqueles com quem estivemos
bastante ligados, é muito profunda e real. Paulo, ao pensar a respeito de
alguns de seus irmãos judeus que haviam rejeitado Cristo, disse: “Digo a
verdade em Cristo, não minto; minha consciência o confirma no Espírito Santo:
tenho grande tristeza e constante angústia em meu coração. Pois eu até
desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de
minha raça” (Rm 9.1-3).
Deve ser dito ainda que muitas vezes não temos
certeza absoluta de que uma pessoa persistiu ate a morte em sua rejeição a
Cristo. O conhecimento da morte iminente que uma pessoa tem vai com freqüência
produzir uma sondagem genuína do coração por parte da pessoa que está à morte,
e às vezes as palavras da Escritura ou palavras de testemunho cristão que foram
ouvidas muito tempo atrás serão lembradas, podendo levar ao arrependimento e fé
genuínos. Certamente não temos qualquer certeza de que isso aconteceu a menos
que haja uma evidência explícita disso, mas também é salutar perceber que em
muitos casos temos um conhecimento provável, mas não absoluto de que aqueles a
quem conhecemos como descrentes persistiram em sua incredulidade até a morte.
Em alguns casos simplesmente não sabemos.
Não obstante, após a morte de um não-cristão
certamente seria errado fornecer qualquer indicação a outros de que pensamos
que tal pessoa foi para o céu. Isso seria simplesmente fornecer uma informação
errônea e uma segurança falsa e diminuiria a urgência da necessidade dos que
ainda estão vivos de confiar em Cristo. É muito melhor, em tais ocasiões, à
medida que Deus proporciona oportunidade, gastar tempo para refletir sobre nossa
vida e nosso destino e ainda partilhar o evangelho com outras. De fato, as
ocasiões em que somos capazes de falar como amigos aos amados de um descrente
que morreu são muitas vezes as oportunidades que o Senhor abre para falarmos a
respeito do evangelho com os que ainda estão vivos.
C. O que acontece quando as pessoas morrem?
1. A alma dos crentes vai imediatamente para a
presença de Deus.
A morte é a cessação temporária da vida corporal e
a separação entre a alma e o corpo. Uma vez que o crente morre, embora o seu
corpo físico permaneça na terra sepultado, no momento da morte sua alma (ou
espírito) vai imediatamente para a presença de Deus com regozijo. Quando Paulo
reflete sobre a morte, ele diz: “Temos, pois, confiança e preferimos estar
ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8). Estar ausente do corpo é
estar em casa com o Senhor. Ele também diz que o seu desejo é “partir e estar
com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23). Jesus disse ao ladrão que estava à
sua direita: “Hoje você estará comigo no paraíso” (Lc 2 3.43). O autor de
Hebreus diz que, quando os cristãos comparecem para adorar juntos, eles vêm não
somente à presença de Deus no céu, mas também à presença dos “espíritos dos
justos aperfeiçoados” (Hb 12.23). Contudo, como veremos em mais detalhes a
seguir, Deus não vai deixar o corpo para sempre na sepultura, pois, quando
Cristo retornar, a alma dos crentes será reunida ao corpo, o corpo será
ressuscitado dentre os mortos e os crentes viverão com Cristo eternamente.
O fato de que a alma dos crentes vai imediatamente
para a presença de Deus significa que não há nada semelhante a purgatório.
No ensino da Igreja Católica Romana, o purgatório é
o lugar para onde a alma dos crentes vai a fim de ser purificada do pecado, até
que esteja pronta para ser admitida no céu. De acordo com esse pensamento os
sofrimentos do purgatório são dados por Deus em substituição à punição dos
pecados que os crentes deveriam ter recebido nesta vida, mas não receberam.
Mas essa doutrina não é ensinada na Escritura, e é
de fato contrária aos versículos citados anteriormente. A Igreja Católica Romana
retirou o apoio para essa doutrina não das páginas das Escrituras canônicas que
os protestantes aceitaram desde a Reforma, mas nos escritos apócrifos. Antes de
tudo, deve ser dito que essa literatura não é igual à Escritura em autoridade e
não deve ser tomada como fonte de doutrina cheia de autoridade. Além disso, os
textos dos quais essa doutrina é derivada contradizem afirmações claras do NT
e, assim, se opõem ao ensino da Escritura. Por exemplo, o texto primário usado
nesse sentido , 2Macabeus 12.42-45, contradiz as afirmações claras da Escritura
citadas anteriormente a respeito de partir para estar com Cristo. O texto diz o
seguinte: [Depois, tendo organizado uma coleta individual, Judas Macabeus, o
líder das forças judaicas] enviou a Jerusalém cerca de duas mil dracmas de
prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim
absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição. De fato, se
ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria
supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma belíssima
recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e
piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício
expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu
pecado.
Aqui fica claro que tanto a oração pelos mortos
como fazer uma oferta a Deus para libertar os mortos de seus pecados são
práticas aprovadas. Mas isso contradiz o ensino explícito do NT de que somente
Cristo fez expiação por nós. Essa passagem em 2Macabeus é difícil de enquadrar
mesmo com o ensino católico romano, porque ele ensina que orações e sacrifícios
deviam ser oferecidos pelos soldados que haviam morrido no pecado mortal da
idolatria (que não pode ser perdoado, segundo o ensino de Roma) para
possibilitar que eles viessem a ser libertos de seu sofrimento.
Outras passagens às vezes usadas para dar suporte à
doutrina do purgatório são Mateus 12.32 e 1 Coríntios 3.15. Em Mateus 12.32,
Jesus diz: “Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será
perdoado, mas quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem nesta
era nem na que há de vir”. Ludwig Ott comenta que essa frase “deixa aberta a
possibilidade de que pecados são perdoados não somente neste mundo, mas no
mundo por vir” . Contudo, isso simplesmente é um erro de raciocínio, pois dizer
que alguma coisa não acontecerá na era por vir não implica que possa acontecer
na era por vir! O que é necessário para provar a doutrina do purgatório não é
uma afirmação negativa como essa, mas uma afirmação positiva que diga que
pessoas sofrem com o propósito de ser continuamente aperfeiçoadas até morrerem.
Mas a Escritura não diz isso em lugar algum.
Em 1 Coríntios 3.15 Paulo diz que, no dia do
julgamento, a obra que uma pessoa fez será julgada e testada pelo fogo, e então
conclui: “Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo,
será salvo como alguém que escapa através do fogo”. Mas isso não é o mesmo que
falar de uma pessoa sendo queimada ou sofrendo punição, mas simplesmente de sua
obra sendo testada pelo fogo — o que é bom será igual ao ouro, prata e pedras
preciosas, que vão durar para sempre (v. 12). Além disso, o próprio Ott admite
que esse fato ocorre não durante esta era, mas durante o dia do “julgamento
geral”, o que indica que dificilmente esse texto pode ser usado como argumento
convincente para o purgatório.
Um problema ainda mais sério com essa doutrina é
que ela ensina que devemos acrescentar alguma coisa à obra redentora de Cristo
e que a sua obra redentora por nós não foi suficiente para pagar a penalidade
de todos os nossos pecados. Mas isso é certamente contrário ao ensino da
Escritura. Além disso, em sentido pastoral, a doutrina do purgatório rouba dos
crentes o grande conforto que lhes deveria pertencer por saber que os que
morreram foram imediatamente para a presença do Senhor e por saber que eles
também, quando morrerem, partirão e estarão “com Cristo, o que é muito melhor”
(Fp 1.23).
b. A Bíblia não ensina a doutrina do “sono da
alma”.
O fato de que a alma dos crentes vai imediatamente
para a presença de Deus também significa que a doutrina do sono da alma é
incorreta. Essa doutrina ensina que, quando morrem, os crentes entram no estado
de existência inconsciente, e a próxima coisa de que terão consciência será
quando Cristo retornar e os ressuscitar para a vida eterna. Essa doutrina nunca
encontrou grande aceitação na igreja.
O suporte para esse pensamento tem sido geralmente
encontrado no fato de que a Escritura diversas vezes fala do estado dos mortos
como de um sono ou de “adormecer” (Mt 9.24; 27.52; Jo 11.11; At 7.60; 13.36;
lCo 15.6,18,20,51; lTs 4.13; 5. l0). Além disso, certas passagens parecem
ensinar que os mortos não possuem existência consciente (v. Sl 6.5; 115.17 [mas
repare no v. 18!]; Ec 9.10; Is 38.19) . Porém, quando a Escritura apresenta a
morte como sono, trata-se simplesmente de uma expressão metafórica usada para
indicar que a morte é somente temporária para os cristãos, exatamente como o
sono é temporário. Isso é claramente visto, por exemplo, quando Jesus fala com
seus discípulos a respeito da morte de Lázaro. Ele diz: “Nosso amigo Lázaro
adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo” (Jo 11.11). Então João explica:
“Jesus tinha falado de sua [de Lázaro] morte, mas os seus discípulos pensaram
que ele estava falando simplesmente do sono. Então lhes disse claramente:
‘Lázaro morreu”'(Jo 11.13,14). As outras passagens que falam a respeito de
pessoas dormindo quando morrem devem ser também interpretadas como simplesmente
uma expressão metafórica para ensinar que a morte é temporária.
Com respeito às passagens que indicam que os mortos
não louvam a Deus ou que há uma cessação de atividade consciente quando as
pessoas morrem, devem ser todas entendidas da perspectiva da vida neste mundo.
De nossa perspectiva, parece que, uma vez que as pessoas morrem, elas não se dedicam
nunca mais a essas atividades... Mas o salmo 115 apresenta uma perspectiva
plenamente bíblica desse ponto de vista. Ele diz: “Os mortos não louvam o
SENHOR, tampouco nenhum dos que descem ao silêncio”(v. 17). Todavia, ele
prossegue no próximo versículo com um contraste, demonstrando que os que crêem
em Deus bendirão o Senhor para sempre: “ Mas nós bendiremos O SENHOR, desde
agora e para sempre! Aleluia!” (v. 18).
Em última análise, as passagens citadas
demonstrando que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus e
desfruta comunhão com ele ali (2Co 5.8; Fp 1.23; Lc 23.43; Hb 12.23) indicam,
todas elas, que há para o crente existência consciente e comunhão com Deus
imediatamente após a morte. Jesus não disse: “Hoje você não terá mais
consciência de qualquer coisa que está por acontecer”, e sim: “Hoje você estará
comigo no paraíso” (Lc 23.43). Certamente a concepção de paraíso entendida
naquela época não era a de existência inconsciente, mas de grande bênção e
alegria na presença de Deus. Paulo não diz: “Desejo partir e ficar inconsciente
por um longo período de tempo”, mas antes “desejo partir e estar com Cristo”
(Fp 1.23). Ele certamente sabia que Cristo não estava inconsciente, o Salvador
adormecido, mas o Salvador que estava vivo e reinando no céu. Estar com Cristo
significava desfrutar a bênção da comunhão da sua presença, e essa é a razão
por que partir e estar com Cristo era “muito melhor” (Fp 1.23). Assim, ele diz:
“Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o
Senhor” (2Co 5.8).
Finalmente, o fato de que a alma dos crentes vai
imediatamente para a presença de Deus significa que nós não devemos orar pelos
mortos. Embora a oração pelos mortos seja ensinada em 2Macabeus 12.42-45 (v.
anteriormente), em lugar algum da Escritura isso é ensinado. Além disso, não há
indicação alguma de que essa tenha sido a prática dos cristãos no tempo do NT,
nem deveria ter sido. Uma vez que os crentes morrem, entram na presença de Deus
e ficam no estado de alegria perfeita com ele. Que bom não ter de orar por eles
nunca mais! A recompensa celeste final será baseada em atos praticados nesta
vida, como a Escritura repetidamente testifica (1Co 3.12-15; 2Co 5.10; ect.) .
Ademais, a alma dos descrentes que morrem vai para o lugar de punição e de
eterna separação da presença de Deus. Não seria bom orar por eles também, visto
que o destino final deles é estabelecido por seus pecados e por sua rebelião
[Em outros dois usos do NT, a palavra paraíso significa ”céu”. Em 2Coríntios
12.4 é o lugar ao qual Paulo foi arrebatado em sua revelação do céu, e em
Apocalipse 2.7 é o lugar onde encontramos a árvore da vida.] contra Deus nesta
vida. Orar pelos mortos, portanto, é simplesmente orar por algo que Deus nos
disse que já foi decidido. Além disso, ensinar que devemos orar pelos mortos ou
incentivar outros a fazer isso seria encorajar a falsa esperança de que o
destino das pessoas pode ser mudado após a morte delas, algo que a Escritura
não nos orienta a fazer em lugar algum.
2. A alma dos descrentes vai imediatamente para a
punição eterna.
A Escritura nunca nos encoraja a pensar que as
pessoas terão outra oportunidade de confiar em Cristo após a morte. De fato,
trata-se exatamente do contrário. A parábola de Jesus a respeito do rico e de
Lázaro não dá esperança alguma de que as pessoas possam passar do inferno para
o céu após terem morrido. Embora o rico no inferno tivesse gritado: “Pai
Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na
água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo”,
Abraão lhe respondeu: “entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os
que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não
conseguem”(Lc 16.24-26).
O livro de Hebreus associa a morte com a
conseqüência do julgamento em uma seqüência imediata: “Da mesma forma, como o
homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo” (Hb
9.27). Além disso, a Escritura nunca apresenta o juízo final como dependente de
qualquer coisa feita após a nossa morte, mas dependendo somente do que
aconteceu nesta vida (Mt 25.31-46; Rm 2.5-10; cf. 2Co 5. 10) . Alguns
argumentam a favor de outra oportunidade para se crer no evangelho com base na
pregação de Cristo aos espíritos em prisão em 1 Pedro 3.18-20 e na pregação do
evangelho “a mortos” em 1 Pedro 4.6 , mas essas são interpretações inadequadas
dos versículos em questão e, numa análise mais precisa, não dão apoio a tal
pensamento.
Devemos também perceber que a idéia de que haverá
outra oportunidade de aceitar Cristo após a morte é baseada na suposição de que
cada pessoa merece uma oportunidade para aceitar Cristo e que a punição eterna
vem aos que conscientemente decidem rejeitá-lo. Mas certamente essa idéia não
tem o apoio da Escritura; todos nós somos pecadores por natureza e escolha, e
realmente ninguém merece nenhuma graça de Deus nem nenhuma oportunidade de
ouvir o evangelho de Cristo — que vêm ao homem somente por causa do favor
imerecido de Deus. A condenação vem não somente por causa da rejeição
deliberada de Cristo, mas também por causa dos pecados que todos cometemos e da
rebelião contra Deus que esses pecados representam (v. Jo 3.18)
Embora os descrentes passem para o estado de
punição eterna imediatamente após a morte, o corpo deles não será ressuscitado
até o dia do juízo. Naquele dia, o corpo de cada um será ressuscitado e reunido
à alma, e comparecerão perante o trono de Deus para o juízo final que vai ser
pronunciado sobre eles, incluindo o corpo (v. Mt 25.31-46; Jo 5.28,29; At
24.15; Ap 20.12,1 5). Isso nos conduz à consideração da ressurreição do corpo
do crente, que é o passo final de sua redenção.
D. Glorificação
Como foi mencionado anteriormente, Deus não deixará
nosso corpo morto na sepultura para sempre. Quando Cristo nos redimiu, ele não
redimiu apenas nosso espírito (ou alma) — ele nos redimiu como pessoas
completas, e isso inclui a redenção de nosso corpo. Portanto, a aplicação da
obra redentora de Cristo a nós não será completa até que nosso corpo seja
inteiramente liberto dos efeitos da queda e trazido ao estado de perfeição para
o qual Deus o criou. De fato, a redenção de nosso corpo ocorrerá somente quando
Cristo retornar e ressuscitá-lo dentre os mortos. Mas, no tempo presente, Paulo
diz que esperamos pela “redenção do nosso corpo” e então acrescenta: “Pois
nessa esperança fomos salvos” (Rm 8.23,24). O estágio da aplicação da redenção
em que receberemos por fim o corpo ressuscitado é chamado de glorificação.
Referindo-se àquele dia futuro, Paulo diz que participaremos da glória de
Cristo (cf. Rm 8.17) . Além disso, quando Paulo traça os passos na aplicação da
redenção, o último que menciona é a glorificação: “E aos que predestinou,
também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também
glorificou” (Rm 8.30).
Podemos definir glorificação da seguinte maneira: A
glorificação é o passo final na aplicação da redenção. Ela acontecerá quando
Cristo retornar e ressuscitar dentre os mortos os corpos de todos os crentes de
todas as épocas que morreram e reuni-los às respectivas almas, e mudar os
corpos de todos os crentes que permanecerem vivos, dando assim a todos os
crentes ao mesmo tempo um corpo ressuscitado perfeito igual ao seu.
1. Razão bíblica apresentada para a glorificação.
A passagem mais importante do NT para a
glorificação ou ressurreição do corpo é lCoríntios 15.12-58. Paulo diz : [...]
em Cristo todos serão vivificados . Mas cada um por sua vez: Cristo, o
primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem (v. 22,23). Paulo
discute a natureza da ressurreição do corpo em alguns detalhes nos versículos
35-50, e a seguir conclui a passagem dizendo que nem todos os cristãos
morrerão, mas alguns que permanecerem vivos quando Cristo retornar simplesmente
terão seu corpo instantaneamente transformado em um novo corpo ressurreto, que
nunca irá envelhecer, enfraquecer ou morrer: “Eis que eu lhes digo um mistério:
Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e
fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos
ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (lCo 15.51,52).
Posteriormente Paulo explica em lTessalonicenses
que a alma dos que morreram e foram estar com Cristo voltará e se unirá ao
corpo naquele dia, pois Cristo a trará consigo :”Se cremos que Jesus morreu e
ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que
nele dormiram” (lTs 4.14). Mas aqui Paulo não somente afirma que Deus trará
mediante Jesus os que morreram; ele também afirma que “os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro” (lTs 4.16). Assim, esses crentes que morreram com
Cristo também ressuscitarão para se encontrar com ele (Paulo diz no v. 17 que
“nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o
encontro com o Senhor nos ares”). Isso somente faz sentido se diz respeito à
alma dos crentes que partiram para a presença de Cristo e que retornam com ele,
e se é o corpo deles que é ressuscitado dentre os mortos para ser reunido à sua
alma e, então, ascender para estar com ele.
2. Com que se assemelhará o corpo ressurreto?
Se Cristo vai ressuscitar o nosso corpo dentre os
mortos quando retornar e se nosso corpo será igual ao seu corpo ressurreto (1
Co 15.20,23,49; Fp 3.21), então a que se assemelhará nosso corpo?
Usando o exemplo de lançar a semente no solo e
então aguardá-la crescer e se tornar algo muito mais maravilhoso, Paulo passa a
explicar em detalhes com o que nosso corpo será parecido: “Assim será a ressurreição
dos mortos. O corpo que é semeado é perecível e ressuscita imperecível; é
semeado em desonra e ressuscita em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita
em poder; é semeado um corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. [...]
Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos também a imagem do homem
celestial” (lCo 15.42-44,49).
Paulo primeiro afirma que nosso corpo ressuscitado
será “imperecível”. Isso significa que ele não se desgastará nem envelhecerá,
nem mesmo estará sujeito a qualquer espécie de doença ou enfermidade. Ele será
completamente sadio e forte para sempre. Além disso, já que o processo gradual
de envelhecimento é parte do processo pelo qual nosso corpo está agora sujeito
à pericibilidade, é apropriado pensar que nosso corpo ressuscitado não
apresentará qualquer sinal de envelhecimento, antes terá as características da
juventude mas ao mesmo tempo de masculinidade ou feminilidade madura para
sempre. Não haverá qualquer evidência de doença ou dano, pois todos se tornarão
perfeitos. Nosso corpo ressuscitado evidenciará o cumprimento da sabedoria
perfeita de Deus em nos criar como seres humanos que são a coroa da sua criação
e os portadores apropriados de sua imagem e semelhança. No corpo ressuscitado
claramente veremos a humanidade como Deus pretendeu que fosse.
Paulo também diz que nosso corpo será ressuscitado
“em glória”. Quando esse termo é contrastado com “desonra”, como é aqui, há uma
insinuação da beleza ou da atração que nosso corpo exercerá. Ele não mais será
”desonrável” ou desprovido de atração, mas parecerá “glorioso” em sua beleza.
Ele pode até possuir um fulgor radiante em si mesmo (v. Dn 12.3; Mt 13.43).
Nosso corpo também será ressuscitado “em poder”
(lCo 15.43). Isso contrasta com a “fraqueza” que vemos em nosso corpo agora.
Nosso corpo ressurreto não será somente livre das doenças e do envelhecimento,
também receberá plenitude de força e poder — não um poder infinito como o de
Deus, naturalmente, e provavelmente nada que se assemelhe a um poder
“super-humano” no sentido dos super-heróis da moderna literatura de ficção para
crianças, por exemplo; mas ele terá mesmo assim a força e o poder humanos de
maneira completa e plena, a força que Deus pretendeu que os seres humanos
tivessem em seu corpo quando originariamente os criou. Portanto, ele terá força
suficiente para fazer tudo o que desejarmos e que estiver de conformidade com a
vontade de Deus.
Por último, Paulo diz que o corpo ressuscitado é um
“corpo espiritual” (lCo 15.44). Nas cartas paulinas, a palavra “espiritual”
(gr., pneumatikos) nunca significa “não-físico”, e sim “consistente com o
caráter e a atividade do Espírito Santo” (v.,p.ex.,Rm 1.11; 7.14; lCo 2.13,15;
3.1; 14.37; Gl 6.1 [“vocês, que são espirituais”]; Ef 5.19). Por isso, a
expressão “corpo material” (encontrada em algumas traduções) é inadequada, pois
em contraste com “corpo espiritual”. 0 fato de o sinal dos cravos permanece nas
mãos de Jesus é um caso especial para nos fazer lembrar do preço que foi pago
por nossa redenção, não deve ser entendido que quaisquer marcas ou lesões permanecerão
em nós, daria a entender que “corpo espiritual” é um corpo não-físico,
imaterial. Em vez de “corpo material”, a tradução melhor seria “corpo natural”.
A seguinte paráfrase é esclarecedora: “É semeado um corpo natural [isto é,
sujeito às características e aos desejos desta era, dominado por sua vontade
pecaminosa] e ressuscita um corpo espiritual [isto é, integralmente sujeito à
vontade do Espírito Santo e suscetível à orientação dele] ”. Não se trata de um
corpo “não-físico”, mas de um corpo físico ressuscitado e elevado ao grau de
perfeição que originariamente Deus pretendeu que tivéssemos. Os exemplos
repetidos em que Jesus demonstrou aos discípulos que ele tinha um corpo físico
que era capaz de ser tocado, que possuía carne e OSSOS (Lc 24.39) e que poderia
comer mostram que o corpo de Jesus, que é modelo para o nosso, era claramente
um corpo físico que havia se tornado perfeito.
Para concluir, quando Cristo retornar, ele nos dará
novos corpos para que sejam iguais ao seu corpo ressurreto: “... sabemos que,
quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é”
(lJo 3.2; essa afirmação é verdadeira não somente no sentido ético, mas também
em termos de nosso corpo físico; cf. 1Co 15.49; tb. Rm 8.29). Tal segurança proporciona
a afirmação clara de que a criação física de Deus é boa. Viveremos nos corpos
que terão todas as qualidades excelentes que Deus criou para que as tivéssemos
e, assim, para sempre seremos prova viva da sabedoria de Deus em fazer tudo na
criação material, desde o princípio, “muito bom” (Gn 1.31). Viveremos como
crentes ressuscitados no novo corpo, e ele será adequado para a nossa habitação
nos “novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2Pe 3.13).
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Por Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática, Editora Vida Nova.
Via: Monergismo
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