“O que oprime ao pobre insulta àquele que o
criou, mas o que se compadece do necessitado honra-o” Pv 14.31
“As Escrituras condenam aqueles que manipulam
a economia para satisfazer os próprios propósitos pecaminosos, tanto acumulando
somente para si, como por outras formas de maldade, como cobiça, indolência e
engano (Pv 3.27-28; 11.26; Tg 5.1-6). A justiça econômica condena aqueles que
aumentam seus créditos, tirando vantagem dos que lhes devem; por outro lado, os
que contraem dívida devem reembolsá-la (Êx 22.14; 2Rs 4.1-7; Sl 37.21; Pv
22.7). O princípio subjacente é que a propriedade privada é um dom de Deus para
ser usado com o propósito de estabelecer a justiça social e cuidar do pobre e
do necessitado. O ladrão arrependido é orientado a não mais roubar, mas sim
trabalhar com as mãos e assim ganhar o sustento e ‘para que tenha o que
repartir com o que tiver necessidade’ (Ef 4.28, ênfase acrescentada). Poucos
temas nas Escrituras se evidenciam de forma tão direta e clara do que as ordens
de Deus para que nos preocupemos com os menos afortunados. ‘Aprendei a fazer o
bem’, Deus brada, ‘praticai o que é reto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao
órfão; tratai da causa das viúvas’ (Is 1.17). Através do mesmo profeta, Deus
anuncia que o verdadeiro jejum não é um ritual religioso vazio (Is 58.7). Jesus
aprofunda nosso sentimento de responsabilidade, falando que ao ajudarmos o
faminto, o desnudo, o doente e o encarcerado, estamos, na verdade, servindo-o
(Mt 25.31-46)” (COLSON, C.; PEARCEY. E Agora, Como Viveremos? 2ª
Edição. RJ: CPAD, 2000, pp.454,455).
Diante da desigualdade e da marginalização
social, a ação solidária da Igreja testifica a relevância da fé cristã diante
dos homens e dá credibilidade à pregação do evangelho.
A ação solidária e caridosa é uma das
maneiras mais eficazes de demonstração da autenticidade e relevância da fé
cristã. Apesar disso, há quem entenda que não é papel dos discípulos de Jesus
combater a pobreza e as desigualdades sociais, por acreditar que somos salvos
pela graça. Realmente, as obras não servem para a salvação (pois pela graça
somos salvos), porém elas testificam a nova vida em Cristo. As obras de justiça
e misericórdia exteriorizam a graça divina e revelam o amor depositado em
nossos corações. Afinal, quem foi agraciado com as Boas-Novas, passa a ser um
agente de boas obras. Por esse motivo, Tiago escreveu que a fé, sem as obras, é
morta em si mesma (Tg 2.17).
TEXTO BÍBLICO - Tiago 5.1-6
INTRODUÇÃO
A desigualdade social e a pobreza são
problemas sociais presentes em praticamente todos os países do mundo, mas
principalmente nas nações em desenvolvimento do Sul Global, incluindo o Brasil.
Aqui, milhares de famílias vivem em condição de miséria, cuja renda é
insuficiente para suprir as necessidades básicas. Não há como viver indiferente
a esta realidade calamitosa!
Diante disso, a presente lição demonstrará a
importância da participação cristã nas obras sociais, como expressão de amor e
misericórdia, e como os princípios bíblicos podem contribuir para a formação de
uma sociedade livre, justa e produtiva.
I. A ASCENÇÃO ECONÔMICA E O CUIDADO COM O
POBRE
1. A pobreza nas Escrituras.
Nas Escrituras, o pobre é retratado como a
pessoa necessitada, desamparada ou que se encontra em situação de miséria (Sl
37.25; 72.13; Lc 16.20; 1Tm 5.5). A pobreza é um fenômeno complexo e vários
fatores econômicos e sociais podem contribuir para que alguém chegue a esta
condição, tais como: desastres naturais, dívidas, falta de emprego, política
econômica inadequada e até mesmo a preguiça (Pv 19.15). Em todos os casos não é
suficiente olhar para o pobre simplesmente a partir da situação social ou
econômica imediata. Biblicamente, devemos compreender que vivemos em um mundo caído,
e a pobreza, assim como a doença e a morte, resulta da rebelião do homem contra
o Criador.
2. O pobre e o amor ao próximo.
Enfaticamente, a Palavra destaca a
importância do cuidado ao pobre, assim como denuncia a discriminação e a
desonra contra as pessoas carentes (Tg 2.1-6). Tal se deve ao mandamento de
amar o próximo como a nós mesmos (Mt 22.39) e do imperativo de demonstrarmos o
resplendor das virtudes cristãs para a glória de Deus (Mt 5.16). Contudo, não
encontramos nas Escrituras respaldo para a Teologia da Libertação, que
centraliza na pobreza a ênfase do evangelho, e interpreta as Escrituras com
base no sofrimento do oprimido. A teologia bíblica irradia graça para todos,
sem distinção de classe social (Tt 2.11).
Igualmente, ainda que sejamos advertidos para
não ajuntarmos tesouros na terra (Mt 6.19), e acerca dos perigos do amor ao
dinheiro (1Tm 6.7-10), não se pressupõe que os ricos tenham conquistado sua
riqueza por meio desonesto. Tanto o rico quanto o pobre carecem da graça de
Deus, e devem igualmente ser tratados com equidade (Êx 23.3,6).
3. Ascensão econômica e desigualdade social.
Mesmo quando há ascensão econômica e melhores
condições de vida, a desigualdade social e os grupos em situação abaixo da
linha da pobreza persistem em existir. Isso porque, em razão dos efeitos do
pecado, a Bíblia declara que “sempre haverá pobres na terra” (Mc 14.7).
Todavia, longe de indicar uma postura de conformismo e indiferença, e servir
como desculpa contra a ação social, tal afirmação deveria nos conduzir ao
cuidado permanente dos necessitados, enquanto eles existirem (Rm 15.25,26; Gl
2.10; 1Jo 3.17). Somos apenas mordomos de Deus nesta terra; aquilo que
possuímos, na verdade, pertence a Ele!
“A evidência da graça divina é vista na
pregação e no alívio das necessidades materiais dos pobres” (Comentário Bíblico
Pentecostal).
II. JUSTIÇA SOCIAL E PROFETISMO
1. Justiça social e igualdade.
Fazer justiça é um aspecto vital do nosso
viver diário. Justiça, no sentido ora empregado, não tem qualquer acepção
ideológica ou político-partidária. Em termos bíblicos, a justiça social parte
do pressuposto de que todas as pessoas devem ser tratadas com igual respeito e
dignidade, possuindo os mesmos direitos e deveres na sociedade. Considerando
que o homem foi criado à imagem de Deus (Gn 1.26), a injustiça (Sl 92.15) e a
acepção de pessoas (Rm 2.11) são rejeitadas por Ele. Desde o Antigo Testamento,
aliás, vemos o Senhor instruindo a nação de Israel para cuidar dos pobres e
vulneráveis (Mq 6.8; Zc 7.9); por isso a Lei estabelecia uma série de disposições
contra a opressão aos menos favorecidos (Êx 22.25; 23.6; 30.15; Lv 19.10).
A prática da justiça na sociedade é uma prova
da justificação que recebemos em Cristo. É certo que as obras são incapazes de
salvar o homem caído e que as obras de misericórdia e justiça testificam a
salvação alcançada pela graça. Tiago retratou fielmente essa verdade ao dizer
que a fé, sem as obras, é morta em si mesma (Tg 2.17). Do crente, portanto, se
espera a prática da justiça!
O espírito cristão de amor mútuo e caridade
comum é uma marca do cristianismo ao longo da história.
2. Profetizando contra as injustiças.
A função profética sobrepuja a tarefa de
transmitir mensagens de bênçãos da parte de Deus. Ela envolve também a denúncia
do erro e a exortação contra as injustiças. Em outras palavras, o profetismo
bíblico é abrangente, pois compreende, além do aspecto eminentemente religioso,
as esferas econômicas e políticas. Profetas como Isaías, Jeremias, Miqueias e
Zacarias falaram ousadamente contra a corrupção, exploração e as injustiças do
seu tempo. Em um contexto difícil, Amós condenou o desprezo e a opressão dos
poderosos em relação aos pobres, que eram pisados (Am 5.11) e vendidos ao preço
de sandálias. Contra essa situação desumana e degradante, o profeta alçou a sua
voz em defesa das pessoas carentes (Am 4.1,2).
3. Voz profética da Igreja.
A dimensão política do ministério profético
permanece válida ainda hoje. Os cristãos são chamados a testemunhar
publicamente acerca da justiça divina, ao tempo em que denunciam todo tipo de
injustiça. A voz profética dos cristãos deve consolar e edificar, mas também
precisa exortar (1Co 14.3), apontando tanto os desvios morais quanto sociais, a
partir das verdades bíblicas.
Pense!
A Palavra de Deus condena aqueles que
manipulam a economia para satisfazer os próprios interesses egoístas. Ela
também condena qualquer forma de maldade, como a cobiça, a indolência e o
engano.
Ponto Importante
Profetas como Miqueias, Isaías e Jeremias
falaram ousadamente contra a corrupção, exploração e as injustiças do seu
tempo.
III. A POLÍTICA ECONÔMICA E A DESIGUALDADE
SOCIAL NO BRASIL
1. Desigualdade social no Brasil.
O país em que vivemos é marcado pela
desigualdade social. Enquanto existe enorme concentração de renda entre as
pessoas mais ricas, milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, em
condições de miséria. É papel da política econômica de uma nação avaliar os
fatores que provocam as distorções sociais, e criar leis e mecanismos que
possibilitem uma sociedade mais produtiva e justa. A economia, portanto, é um
elemento importante para a vida das pessoas e das instituições públicas. Por
essa razão, considerando que os princípios que norteiam a economia são vitais
para o desenvolvimento sustentável da comunidade, adotar uma visão econômica
coerente e que considere adequadamente a natureza humana (especialmente o seu
estado decaído) é essencial para a redução da pobreza.
2. Economia na perspectiva cristã.
Embora a Bíblia não seja um livro de
economia, ela contém relatos e princípios que nos fazem compreender a relação
entre pobreza, riqueza, trabalho, desigualdade social e muitos outros temas da
área econômica. Enquanto visão de mundo, o cristianismo considera todos os
aspectos da vida humana, inclusive a dimensão econômica. Nesse sentido,
encontramos nas Escrituras e na história da tradição cristã orientações
suficientes para que a sociedade possa ser livre, próspera e justa.
Vejamos algumas dessas diretrizes: incentivo
ao trabalho e repreensão à preguiça (Pv 6.6-11), limitação da função do governo
(1Pe 2.13,14); condenação àqueles que manipulam a economia (Tg 5.1-6); proteção
da propriedade privada (Êx 20.15); ênfase na liberdade responsável (1Co 6.12;
8.9) e valorização do espírito comunitário de ajuda ao próximo, dentre outros.
3. Assistência e desenvolvimento.
Mesmo no ambiente coletivo, a assistência às
pessoas carentes é uma atitude vital de solidariedade. Embora o governo civil
deva promover o bem, o que inclui programas de assistência social para atender
às necessidades básicas dos cidadãos, não é recomendável criar uma cultura de
assistencialismo que perpetue a condição da pobreza. É necessário focar no desenvolvimento,
para que pessoas e famílias adquiram independência econômica e ganhem o pão do
suor do próprio rosto (Gn 3.19).
“A fé deve nos mover em prol de boas ações,
não para sermos salvos, mas para demonstrarmos que somos salvos, que nossa fé
não é estática, e que Deus pode usar nossas ações para apresentar a fé pura e
imaculada” (Silas Daniel).
CONCLUSÃO
Como percebemos nesta lição, o trabalho
solidário da Igreja testifica a relevância da fé cristã diante dos homens, ao
mesmo tempo em que dá credibilidade à pregação do Evangelho. Não podemos nos
esquecer, porém de que Igreja, no sentido aqui empregado, não se resume à
congregação local. Individual ou coletivamente, cristãos regenerados são
capazes de desenvolver obras sociais que expressem o amor e a misericórdia
divina, a partir da igreja local.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD - Jovens - 4º Trimestre de 2017
Título: Seguidores de Cristo — Testemunhando numa Sociedade em ruínas - Comentarista: Valmir Nascimento
Aqui eu Aprendi!
Muito boa esta mensagem meu amigo pastor Ismael.
ResponderExcluirO Senhor Jesus nos ensina a não sermos indiferentes ao necessitado, e o que observo é que os que menos têm são os que mais ajudam. E é nas pequenas igrejas que tenho visto campanhas de doação de um quilo de alimentos por seus membros, formando assim cestas básicas para doação tanto para os próprios membros, que dentre eles necessitam, quanto para os de fora. Vejo ações como estas como um grande incentivo aos membros do corpo de Cristo a continuarem individualmente a ver seu próximo sempre com mais amor, nunca fechando os olhos aos necessitados.
Paz do Senhor e grande abraço!
Paz do Senhor Neiva, estimada amiga e irmã em Cristo.
ExcluirQue o SENHOR nosso Deus abençoe a cada uma dessas 'Casas de Oração' que estão, mesmo diante de dificuldades, sempre estendendo as mãos para compartilhar/ajudar o próximo.
Que nossas Igrejas continuem sempre com este trabalho maravilhoso, abençoado e tão gratificante.
Deus abençoe
abraço fraterno
Pastor Ismael