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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A Escritura Sagrada

Necessitamos ter convicção sobre qual fundamento estamos crendo. Nossa fonte de conhecimento é a Palavra de Deus. Através dela o Senhor se dá a conhecer de um modo especial. Ela é o nosso objeto de estudo para conhecermos verdadeiramente quem é o nosso Deus, e qual a Sua vontade para todo ser humano. Para isso é necessário sabermos o que é a Bíblia. É indispensável termos convicção do que estaremos aprendendo. Provavelmente você ouvirá argumentos do tipo “ah! papel aceita qualquer coisa!”, ou, “porquê a Bíblia é sua única regra de fé?” O apóstolo Pedro nos ordena “santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3:15). Começaremos a nossa jornada de estudo analisando primeiramente o que é a Bíblia.

Lorraine Boettner nos adverte, dizendo que “a resposta que dermos à pergunta ‘o que é Cristianismo'? dependerá amplamente do conceito que sustentarmos da Escritura”. [1] Se aceitarmos que a Bíblia é um mero livro de religião, sem inspiração divina, insuficiente, cheio de erros, e impossível de ser entendido, então, ele não nos servirá para nada, a nossa fé será vazia de significado tornando o nosso Cristianismo uma religião confusa! Estaremos baseando a nossa convicção a respeito da Bíblia sobre cinco declarações que caracterizam a Bíblia como sendo a Palavra de Deus .
1. A Bíblia é nossa única fonte e regra de fé e prática. 
2. A Bíblia é plenamente inspirada pelo Espírito Santo. 
3. A Bíblia é clara em suas declarações sobre salvação e santificação 
4. A Bíblia é inerrante em todas as suas afirmações. 
5. A Bíblia é suficiente para nos ensinar tudo em matéria de fé.
1. A Bíblia é nossa única fonte e regra de fé e prática
Somente a Escritura Sagrada é autoridade absoluta. 
Somente a Escritura Sagrada define minhas convicções doutrinárias. 
Somente na Escritura Sagrada encontro a verdadeira sabedoria. 
Somente a Escritura Sagrada rege as minhas decisões. 
Somente a Escritura Sagrada molda o meu comportamento. 
Somente a Escritura Sagrada determina os meus relacionamentos. 
Mas porque a Bíblia tem toda esta autoridade? A resposta é simples: ela é a Palavra inspirada por Deus.
2. A Bíblia é plenamente inspirada pelo Espírito Santo
Cremos que a Escritura Sagrada é plenamente inspirada. [2] Isto significa que o Espírito Santo exerceu soberanamente uma influência suficiente e completa estendendo-se a todas as partes das Escrituras, conferindo-lhes uma revelação autorizada de Deus, de modo que as revelações vieram a nós por intermédio da mente e da vontade de homens, todavia, elas são no sentido estrito, a Palavra de Deus. Esta influência do Espírito Santo que envolveu os escritores sacros, estendeu-se não somente aos seus pensamentos gerais, mas também a todas as palavras que eles usaram, de modo que os pensamentos que Deus desejou revelar-nos foram conduzidos com infalível exatidão. Não foram inspirados apenas os seus pensamentos, mas cada palavra original que os autores usaram.

Esta inspiração se estende não somente ao texto, mas afetou organicamente o seu autor, no momento do registro da revelação. Os escritores foram os instrumentos de Deus no sentido que aquilo que eles disseram, foi de fato o que Deus disse. No ato da inspiração o Espírito não anulou o escritor, mas agiu em, com e através de sua personalidade. O Espírito de Deus não inspirou os autores como se fossem máquinas, anulando a sua liberdade, responsabilidade e capacidades mentais, mas escreveu através deles (2 Pe 1:16-21). Cada autor viveu numa situação social específica, num contexto histórico real, escrevendo com preocupações particulares, para destinatários e propósitos definidos. Mesmo havendo na Bíblia a diversidade literária, lingüística, e estilo próprio de cada autor, isto não anula que ela tenha fonte numa única mente, que o Espírito Santo é o seu autor primário (2 Pe 1:19-21; Rm 11:33-36). O Dr. A.A. Hodge descreve como a inspiração ocorreu sobre os autores.
Os escritores de todos os livros eram homens, e o processo de composição que lhes deu origem era, caracteristicamente, processo humano. As características pessoais do modo de pensar e sentir dos escritores operaram espontaneamente na sua atividade literária e imprimiram caráter distinto em seus escritos, de um modo em tudo semelhante ao efeito que o caráter de quaisquer outros escritores produz nas suas obras. Escreveram impelidos por impulsos humanos, em ocasiões especiais e com fins determinados. Cada um deles enxerga o seu assunto do seu ponto de vista individual. Recolhe o seu material de todas as fontes que lhe são acessíveis – da experiência e observações pessoais, de antigos documentos e de testemunho contemporâneo. Arranja seu material com referência ao fim especial que tem em vista; e de princípios e fatos tira inferências segundo o seu próprio modo, mais ou menos lógico, de pensar. Suas emoções e imaginações exercitam-se espontaneamente e manifestam-se como co-fator nas suas composições. As limitações de seu conhecimento pessoal e de seu estado mental em geral, e os defeitos de seus hábitos de pensar e de seu estilo são tão óbvios em seus escritos como o são outras quaisquer de suas características pessoais. Usam a linguagem e os modismos próprios da sua nação e classe social. [3]
3. A Bíblia é clara em suas declarações sobre a salvação e santificação
A essência da revelação bíblica é acessível ao homem independentemente do seu nível cultural (Sl 19:7; Sl 119:130). Não é requisito necessário ser formado em teologia para se interpretar a Bíblia! Nem mesmo receber uma ordenação oficial para isto. Todos devem ter livre acesso à sua interpretação. Todavia, isto não significa que cada um é livre para interpreta-la do modo que lhe seja mais conveniente. Livre acesso à interpretação das Escrituras significa que qualquer pessoa pode verificar, usando responsavelmente as regras corretas da hermenêutica, o real significado de uma passagem bíblica.

Quando a Escritura fala que o homem natural “não pode entende-las, porque se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14b), ela não está negando uma capacidade do não convertido de entender os assuntos naturais e éticos de que a Bíblia fala. Por exemplo, a Palavra de Deus é a revelação da vontade de Deus, mas ela contém a história da raça humana, a narração de culturas de povos antigos, a descrição geográfica de lugares específicos e muitos outros assuntos. Mas, mesmo quando trata de assuntos éticos, o não convertido é capaz de entender. Usemos de exemplo os “dez mandamentos” (Ex 20:1-17). Será que por mais ímpia que seja a pessoa ela pode alegar incapacidade de entender a lei de Deus? Se a Palavra de Deus fosse absolutamente obscura, então Deus não poderia condenar os pecadores que ouvem a sua Palavra, pois eles poderiam alegar que nada entendem! Elas têm em si mesmas uma fonte de iluminação que garante a inteligibilidade da sua mensagem. [4]

Não se nega que as Escrituras contenham muitas coisas de difícil entendimento. É verdade que elas requerem estudo cuidadoso. Todos os homens precisam da direção do Espírito Santo para o correto entendimento e obtenção da verdadeira fé. Afirma-se, porém, que em todas as coisas necessárias à salvação, elas são suficientemente claras para serem compreendidas mesmo pelos iletrados. [5]

Toda verdade necessária para a nossa salvação e vida espiritual é ensinada tanto explícita como implicitamente na Escritura. [6] Tudo o que é necessário para 'a salvação e uma vida de obediência é inteligível para qualquer pessoa, desde que iluminada pelo Espírito Santo (1Ts 2:13; 1Pe 1:22-25).

4. A Bíblia é inerrante em todas as suas afirmações
Por ter sido escrita por homens sujeitos a erros, alguns incrédulos (e até alguns pastores) afirmam que a Escritura Sagrada também contém erros. Todavia, estas pessoas ao negarem a inerrância das Escrituras estão fazendo da mente humana um padrão de verdade mais elevado do que a própria Palavra de Deus. O que encontramos na Bíblia são “aparentes contradições”, ou afirmações incompreendidas, que podem ser coerentemente harmonizadas com uma interpretação cuidadosa (Hb 6:18; Jo 17:17). Um antigo teólogo chamado Francis Turrentin observou que “os escritores sacros foram movidos e inspirados pelo Espírito Santo, envolvendo tanto os pensamentos, como a linguagem, e que eles foram preservados livres de todo erro, fazendo com que os seus escritos sejam inteiramente autênticos e divino.” [7]

Se a Bíblia contêm algum erro histórico, geográfico, científico, como podemos ter certeza de que não terá erros morais (Sl 12:6)? Deus mentiu, ou errou em alguma de suas informações? Seria a pergunta mais sensata a se fazer. Deus soberanamente não poderia livrar os seus agentes escritores de errarem? Como poderíamos aceitar a autoridade da Bíblia, que alega ser a verdade, ensinar a verdade, inspirada por um Deus verdadeiro, e que ama a verdade, se sua Palavra estivesse cheia de erros (Nm 23:19; 2 Sm 7:28; Jo 17:17; Tt 1:2; Hb 6:18)? No mínimo, ela seria algo não confiável, e perderia toda a sua autoridade, pois não poderíamos chamá-la de Palavra de Deus! Mas a Escritura autentica a si mesma como inerrante (Js 23:14; Sl 12:6; Pv 30:5; Jo 14:35).

5. A Bíblia é suficiente para nos ensinar tudo em matéria de fé.
Os 39 artigos de Fé da Religião Anglicana exprime este tema de forma mui precisa ao declarar que “as Escrituras Sagradas contêm todas as coisas necessárias para a salvação; de modo que tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma que seja crido como artigo de Fé ou julgado como exigido ou necessário para a salvação.” [8]

Na Bíblia o homem encontra tudo o que precisa saber e tudo o que necessita fazer a fim de que venha a ser salvo, viva de modo agradável a Deus, servindo e adorando-O aceitavelmente (2 Tm 3:16-17; 1 Jo 4:1; Ap 22:18). [9]

A Bíblia é completa em seus 66 livros. Mesmo se os arqueólogos encontrassem uma outra epístola do apóstolo Paulo não a aceitaríamos como parte da Palavra de Deus. O número de livros que o nosso Senhor intentou dar-nos é somente este, nada mais acrescentaremos (Ap 22:18-19). O que os autores escreveram, movidos pelo Espírito Santo, é inspirado, todavia, não significa que os outros dos seus escritos também sejam inspirados. Por exemplo, Paulo escreveu 13 dos 27 livros do Novo Testamento, mas durante toda a sua vida, após a conversão, certamente que escreveu muito mais do que apenas estas epístolas, mas isto, não significa que a inspiração estava inerente à sua pessoa de tal modo, que sempre escrevia inspirado. Mas, é bom lembrarmos que tudo o que nos foi deixado (os 66 livros), somente foi preservado por causa de sua inspiração.

Não podemos acrescentar nada à Bíblia (Dt 4:2; 12:32; Pv 30:5-6; Ap 22:18-19). Deus quer que descubramos o que crer ou fazer segundo a sua vontade somente na Escritura Sagrada (Dt 29:29; Rm 12:1-21). Não existe nenhuma revelação moderna que deva ser equiparada à autoridade da Palavra de Deus. Somente a Bíblia é a nossa única fonte e regra de fé e prática e não novas profecias (Sl 119).

6. A Bíblia “Católica” é diferente da Bíblia “Protestante”?
A resposta é um “sim” e um “não”. Sim, pois há de fato pelo menos duas diferenças que podem ser claramente observadas. A primeira diferença é quanto à sua tradução que difere tanto das versões evangélicas, como entre as católicas. Por quê existem tantas Bíblias diferentes? Seria mais correto perguntarmos “porquê existem tantas traduções diferentes?” Não existem Bíblias diferentes, como se algumas fossem mais completas do que outras, [10] ou algumas falassem coisas que contradizem as demais! O que ocorre é que as Sociedades Bíblicas, que se dedicam à tradução deste tão precioso livro, adotam filosofias de tradução diversificadas.

A segunda diferença é que as “Bíblias Católicas” possuem 7 livros a mais (Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc) e alguns acréscimos nos livros de Ester e Daniel. [11] Até a Reforma do século XVI o conjunto de livros da Bíblia era aceito como sendo de apenas 66 livros. Os protestantes começaram a declarar Sola Scriptura (somente a Escritura) como única regra de Fé, e apegando-se ao número de livros do Antigo Testamento hebraico (39 livros) e do Novo Testamento grego (27 livros). Em reação a isto, a Igreja Católica Romana tomou a seguinte decisão em seu Concílio de Trento (1545-1563) na 4ª sessão de 08/04/1546 no Decreto Concernente às Escrituras Canônicas lemos:
Se alguém não receber como sagradas e canônicos os livros do Antigo e do Novo Testamento, inteiros e em todas as suas partes, como se contém na velha edição Vulgata, e conscientemente os condenar, seja anátema. [12]
Esta decisão da Igreja Católica Romana implicou que ao adotar a Vulgata Latina como texto padrão oficial, ela endossou todos os livros apócrifos que esta tradução continha. A Vulgata Latina é uma tradução latina da Bíblia feita em 382-383 d.C. a partir da Septuaginta [13] e não do texto hebraico original. O seu tradutor foi Sofrônio Eusébio Jerônimo (340-420 d.C.) que desde aquela época questionava o acréscimo na nova tradução de livros que não faziam parte do texto hebraico. Em outras palavras a Vulgata Latina é uma tradução de outra tradução.

A nossa convicção como herdeiros da Reforma encontra-se expressa na Confissão de Fé de Westminster da seguinte forma:
Os livros comumente chamados apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; e, portanto, não são de nenhuma autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados nem utilizados senão como escritos humanos. [14]
Certamente aprenderemos muito, mas, em tudo examinando o que a Escrituras diz ? O pastor presbiteriano rev. Henry B. Smith escreveu um poema que poderíamos usar para resumir o que falamos até aqui a respeito da Escritura Sagrada:


Aprendamos sempre com a Bíblia na mão
O que nos foi entregue, nada aceitando senão
O que nos foi ensinado, nada amando senão
O que nos foi prescrito, nada odiando senão
O que nos foi proibido, nada fazendo senão
O que nos foi ordenado na Bíblia do Cristão. [15]


NOTAS:
[1] Lorraine Boettner, Studies in Theology (Philadelphia, The Presbyterian and Reformed Publ. Co., 1967), p. 9
[2] Lorraine Boettner, Studies in Theology , p. 11
[3] A.A. Hodge, Esboços de Teologia (São Paulo, PES, 2001), p. 90.
[4] Paulo Anglada, Sola Scriptura A Doutrina Reformada das Escrituras (São Paulo, Editora Os Puritanos, 1998), p. 86.
[5] Charles Hodge, Teologia Sistemática (São Paulo, Ed. Hagnos, 2001), p. 137.
[6] John MacArthur, Jr., Sola Scriptura (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2000), p. 210.
[7] citado por W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology (Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1980), vol. 1, p. 72
[8] 39 Artigos de Fé da Religião Anglicana, artigo VI sobre As Escrituras Sagradas citado no Apêndice de Wayne Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo, Ed. Vida Nova, 2002), p. 999
[9] Paulo Anglada, Sola Scriptura A Doutrina Reformada das Escrituras, p. 74
[10] Aqui me refiro entre os 66 livros conforme encontrados nas traduções adotadas pelos evangélicos.
[11] Catecismo da Igreja Católica , Parte I, cap. II, art. 3. iv, p. 43.
[12] Herminsten M.P. da Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras Uma Perspectiva Reformada (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 1998), p. 70.
[13] A Septuaginta (LXX) é a tradução do Antigo Testamento feita entre 200 a 150 a.C., por uma equipe de 70 judeus. Embora a tradução foi realizada à partir do texto hebraico, foram acrescentadas vários outros livros religiosos, escritos em grego, que circulavam entre judeus. Norman Geisler & William Nix, Introdução Bíblica (São Paulo, Ed. Vida, 1997), pp. 196 e 213.
[14] Confissão de Fé de Westminster, cap. I, seção 3.
[15] Citado em Bruce Bickel, ed., Sola Scriptura , p. 210.     

Texto: por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Fonte: Monergismo  

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