“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” Rm 5.12
Em sua clássica obra “Conhecendo as Doutrinas da Bíblia”, o teólogo pentecostal Myer Pearlman destaca quatro pontos fundamentais que marcam a história espiritual do homem. Veja o esquema abaixo:
Segundo Myer Pearlman, a Tentação, desde o
início, destaca ao ser humano que o caminho de obediência a Deus não é fácil.
Isso quer dizer que o ser humano terá escolhas a fazer nos termos de
Deuteronômio 30.15: “Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, a morte e
o mal”. A Tentação está prevista na perspectiva da impossibilidade de conter a
ansiedade de entrar em contato com o que foi proibido. Por isso, ela é sutil,
pois, pela sua sutileza, a natureza humana será envolvida em seus desejos e
vontades: nisto consiste a tentação.
Ao dizer “sim!” para a tentação e colocá-la em prática, se estabelece no ser humano o estado de Pecado. Em seguida, a culpa toma conta da sua consciência, ao ponto de o ser humano viver num estado de cauterização em sua consciência, de modo que ele não mais atende aos apelos do Espírito Santo: nisto consiste o estado da culpa.
Uma vez praticado o pecado, por intermédio da tentação, e estabelecido o sentimento de culpa, instala-se, na realidade humana, o Juízo.
No Éden, o Juízo se deu sobre a serpente (de formosa e honrada, a um animal degradado e maldito), sobre a mulher (multiplicação das dores de parto) e sobre o homem (comer com o suor do rosto), constituindo, porém, o maior de todos os juízos: a morte física e a morte eterna.
Entretanto, a história da humanidade não seria para sempre condenada à terrível realidade de viver para sempre longe de Deus. O Pai, por intermédio do Seu Filho, proveria um escape para redimir a vida do ser humano: “Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos” (Rm 5.17-19). Revista Ensinador Cristão - nº64-pg.38
Ao dizer “sim!” para a tentação e colocá-la em prática, se estabelece no ser humano o estado de Pecado. Em seguida, a culpa toma conta da sua consciência, ao ponto de o ser humano viver num estado de cauterização em sua consciência, de modo que ele não mais atende aos apelos do Espírito Santo: nisto consiste o estado da culpa.
Uma vez praticado o pecado, por intermédio da tentação, e estabelecido o sentimento de culpa, instala-se, na realidade humana, o Juízo.
No Éden, o Juízo se deu sobre a serpente (de formosa e honrada, a um animal degradado e maldito), sobre a mulher (multiplicação das dores de parto) e sobre o homem (comer com o suor do rosto), constituindo, porém, o maior de todos os juízos: a morte física e a morte eterna.
Entretanto, a história da humanidade não seria para sempre condenada à terrível realidade de viver para sempre longe de Deus. O Pai, por intermédio do Seu Filho, proveria um escape para redimir a vida do ser humano: “Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos” (Rm 5.17-19). Revista Ensinador Cristão - nº64-pg.38
O pecado de Adão trouxe-nos a morte, mas a morte de Jesus Cristo garante-nos a vida eterna e plena comunhão com Deus.
INTRODUÇÃO
O filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço é uma lastimável charge da queda do homem. Trabalhando o roteiro de Arthur C.Clark, o diretor Stanley Kubrick dá início à sua perambulação, focalizando uma sociedade ainda distante do homo sapiens. Mais símios que humanos, suas caricaturas lutam por sobreviver ao ambiente. Faltando-lhes víveres, sobram-lhes instintos. Por uma fonte d’água, matam e morrem.
A história do bizarro ajuntamento começa a mudar, quando um hominídeo defronta-se com um estranho monólito. Após tocar a pedra finamente polida, apodera-se ele de uma tíbia que, até então, servira-lhe de arma, e arremessa-a para o alto. No instante seguinte, o cenário muda bruscamente. Agora, aparece um ônibus espacial da extinta PAN AMAM, conduzindo o Dr. Heywood R. Floyd até uma base que orbita a terra. Como trilha sonora, Strauss e Wagner.
Quando do lançamento do filme, em 1968, pensava-se que, decorridos 33 anos, o homem não mais seria o lobo do homem. Para Stanley Kubrick, nosso maior adversário seria o Hal 9000, um computador narcisista e com muita gana de poder.
Enfim, 2001. No espaço, nenhuma odisseia. Na terra, a maior tragédia dos tempos pós-modernos. O ataque de 11 de setembro mostra a selvageria do homem. Osso algum é lançado ao espaço. Milhares de corpos, porém, misturaram-se aos escombros das Torres Gêmeas. Na história humana, evolução alguma. Apesar do avanço tecnológico, continuamos a involuir. Logo, não caímos para o alto; precipitamo-nos no abismo que sempre chama outro abismo: o pecado. Nossa queda foi real e para baixo.
I. O QUE É A QUEDA
Na visão de Stanley Kubrick, a aurora da humanidade era nada racional e selvagem A evolução da raça, porém, arrancou-nos à barbárie, lançando-nos a caminho de Júpiter. A narrativa mosaica caminha em sentido contrário. O homem não evoluiu, mas perigosamente involui à morte eterna. E, deste processo, só Cristo pode libertar-nos. É o que nos ensina a doutrina da queda humana.
1. A teologia da queda.
É a doutrina, segundo a qual o homem, por haver desobedecido a Deus, comendo do fruto proibido, foi expulso do Éden, estando, a partir dai, sujeito à morte espiritual, física e eterna.
Cristo, todavia, trouxe morte à morte pela sua morte. Logo, crendo em Jesus, como seu Salvador, o homem é restaurado espiritualmente, vendo-se livre da morte eterna. Quanto à morte física, acalenta-nos a esperança da ressurreição.
2. O fundamento da teologia da queda.
O principal fundamento da teologia da queda encontra-se na Bíblia Sagrada. Através de uma narrativa e de muitas proposições diretas e indiretas, a Palavra de Deus mostra por que a criatura, após haver se rebelado contra o Criador, começa a involuir até quase depravar-se totalmente.
Utopicamente, o homem, buscando fugir à tragédia do Éden, olha para o futuro, como se este fosse acessar-lhe o paraíso perdido: uma sociedade amorosa, justa e solidária. Mas o que se vê pela frente é distópico. Por essa razão, a historiografia traça a trajetória humana prosaica e poeticamente, como ressalta Aristóteles (384-322 a.C.): “O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido”.
De um modo geral, todas as ciências, quer as humanas, quer as exatas, evidenciam os efeitos da Queda. A medicina, por exemplo, tudo faz por alongar-nos a vida, mas os próprios médicos acabam por sucumbir à morte.
3. Objetivos da teologia da queda.
Em linhas gerais, estes são os objetivos da Teologia da Queda:
1) mostrar a culpabilidade humana diante da santidade divina,
2) justificar o juízo de Deus sobre o homem pecador;
3) provar que a depravação humana, apesar de suas consequências, não foi total nem é irreversível;
4) esperançar os descendentes de Adão sobre a eficácia da redenção cristã;
5) destacar que Jesus Cristo, como a semente da mulher, é suficiente para desfazer as obras de Satanás;
6) evidenciar ao crente a necessidade e a possibilidade de se ter uma vida santa diante de Deus e dos homens; e:
7) levar a Igreja a proclamar a redenção adâmica através do Evangelho de Cristo.
II. A POSSIBILIDADE DA QUEDA
Ao criar-nos, dotou-nos o Criador com o livre-arbítrio. Sem este instituto, jamais seriamos o que somos. Se por um lado, Deus não nos fez pecaminosos; por outro, não nos equipou com o dom da impecabilidade. Portanto, fomos criados tanto quedáveis, quanto ascendíveis, mas redimíveis sempre.
1. O dom da impecabilidade.
Jesus Cristo foi o único ser humano impecável, pois a sua humanidade era tão perfeita quanto a sua divindade Por isso mesmo, apresentou-se como o nosso fiel e suficiente sumo sacerdote (Hb 4.15). Nele, a impecabilidade não era um dom; era um atributo, algo inerente à sua natureza. Verdadeiro Deus, era e é natural e essencialmente santo.
Os anjos também não foram criados com o dom da impecabilidade. Eles só vieram a adquiri-lo após terem sido provados quando da rebelião de Satanás (Ez 28.15). Os que se mantiveram fiéis ao Senhor tornaram-se impecáveis. E, desde então, são conhecidos como santos e eleitos (Jó 5.1; Lc 9.26; 1Tm 5.21). Por conseguinte, já não há qualquer possibilidade de os anjos virem a pecar. O seu livre-arbítrio, agora, leva-os tão somente a glorificar e a servir ao Criador.
Como seriamos se, ao criar-nos, nos tivesse Deus dotado com a impecabilidade? Em primeiro lugar, não seriamos; meramente existiríamos. A criatura racional, seja angélica, seja terrena, tem de passar necessariamente pela etapa do livre-arbítrio; caso contrário, jamais alcançará a plenitude do ser.
O filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço é uma lastimável charge da queda do homem. Trabalhando o roteiro de Arthur C.Clark, o diretor Stanley Kubrick dá início à sua perambulação, focalizando uma sociedade ainda distante do homo sapiens. Mais símios que humanos, suas caricaturas lutam por sobreviver ao ambiente. Faltando-lhes víveres, sobram-lhes instintos. Por uma fonte d’água, matam e morrem.
A história do bizarro ajuntamento começa a mudar, quando um hominídeo defronta-se com um estranho monólito. Após tocar a pedra finamente polida, apodera-se ele de uma tíbia que, até então, servira-lhe de arma, e arremessa-a para o alto. No instante seguinte, o cenário muda bruscamente. Agora, aparece um ônibus espacial da extinta PAN AMAM, conduzindo o Dr. Heywood R. Floyd até uma base que orbita a terra. Como trilha sonora, Strauss e Wagner.
Quando do lançamento do filme, em 1968, pensava-se que, decorridos 33 anos, o homem não mais seria o lobo do homem. Para Stanley Kubrick, nosso maior adversário seria o Hal 9000, um computador narcisista e com muita gana de poder.
Enfim, 2001. No espaço, nenhuma odisseia. Na terra, a maior tragédia dos tempos pós-modernos. O ataque de 11 de setembro mostra a selvageria do homem. Osso algum é lançado ao espaço. Milhares de corpos, porém, misturaram-se aos escombros das Torres Gêmeas. Na história humana, evolução alguma. Apesar do avanço tecnológico, continuamos a involuir. Logo, não caímos para o alto; precipitamo-nos no abismo que sempre chama outro abismo: o pecado. Nossa queda foi real e para baixo.
I. O QUE É A QUEDA
Na visão de Stanley Kubrick, a aurora da humanidade era nada racional e selvagem A evolução da raça, porém, arrancou-nos à barbárie, lançando-nos a caminho de Júpiter. A narrativa mosaica caminha em sentido contrário. O homem não evoluiu, mas perigosamente involui à morte eterna. E, deste processo, só Cristo pode libertar-nos. É o que nos ensina a doutrina da queda humana.
1. A teologia da queda.
É a doutrina, segundo a qual o homem, por haver desobedecido a Deus, comendo do fruto proibido, foi expulso do Éden, estando, a partir dai, sujeito à morte espiritual, física e eterna.
Cristo, todavia, trouxe morte à morte pela sua morte. Logo, crendo em Jesus, como seu Salvador, o homem é restaurado espiritualmente, vendo-se livre da morte eterna. Quanto à morte física, acalenta-nos a esperança da ressurreição.
2. O fundamento da teologia da queda.
O principal fundamento da teologia da queda encontra-se na Bíblia Sagrada. Através de uma narrativa e de muitas proposições diretas e indiretas, a Palavra de Deus mostra por que a criatura, após haver se rebelado contra o Criador, começa a involuir até quase depravar-se totalmente.
Utopicamente, o homem, buscando fugir à tragédia do Éden, olha para o futuro, como se este fosse acessar-lhe o paraíso perdido: uma sociedade amorosa, justa e solidária. Mas o que se vê pela frente é distópico. Por essa razão, a historiografia traça a trajetória humana prosaica e poeticamente, como ressalta Aristóteles (384-322 a.C.): “O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido”.
De um modo geral, todas as ciências, quer as humanas, quer as exatas, evidenciam os efeitos da Queda. A medicina, por exemplo, tudo faz por alongar-nos a vida, mas os próprios médicos acabam por sucumbir à morte.
3. Objetivos da teologia da queda.
Em linhas gerais, estes são os objetivos da Teologia da Queda:
1) mostrar a culpabilidade humana diante da santidade divina,
2) justificar o juízo de Deus sobre o homem pecador;
3) provar que a depravação humana, apesar de suas consequências, não foi total nem é irreversível;
4) esperançar os descendentes de Adão sobre a eficácia da redenção cristã;
5) destacar que Jesus Cristo, como a semente da mulher, é suficiente para desfazer as obras de Satanás;
6) evidenciar ao crente a necessidade e a possibilidade de se ter uma vida santa diante de Deus e dos homens; e:
7) levar a Igreja a proclamar a redenção adâmica através do Evangelho de Cristo.
II. A POSSIBILIDADE DA QUEDA
Ao criar-nos, dotou-nos o Criador com o livre-arbítrio. Sem este instituto, jamais seriamos o que somos. Se por um lado, Deus não nos fez pecaminosos; por outro, não nos equipou com o dom da impecabilidade. Portanto, fomos criados tanto quedáveis, quanto ascendíveis, mas redimíveis sempre.
1. O dom da impecabilidade.
Jesus Cristo foi o único ser humano impecável, pois a sua humanidade era tão perfeita quanto a sua divindade Por isso mesmo, apresentou-se como o nosso fiel e suficiente sumo sacerdote (Hb 4.15). Nele, a impecabilidade não era um dom; era um atributo, algo inerente à sua natureza. Verdadeiro Deus, era e é natural e essencialmente santo.
Os anjos também não foram criados com o dom da impecabilidade. Eles só vieram a adquiri-lo após terem sido provados quando da rebelião de Satanás (Ez 28.15). Os que se mantiveram fiéis ao Senhor tornaram-se impecáveis. E, desde então, são conhecidos como santos e eleitos (Jó 5.1; Lc 9.26; 1Tm 5.21). Por conseguinte, já não há qualquer possibilidade de os anjos virem a pecar. O seu livre-arbítrio, agora, leva-os tão somente a glorificar e a servir ao Criador.
Como seriamos se, ao criar-nos, nos tivesse Deus dotado com a impecabilidade? Em primeiro lugar, não seriamos; meramente existiríamos. A criatura racional, seja angélica, seja terrena, tem de passar necessariamente pela etapa do livre-arbítrio; caso contrário, jamais alcançará a plenitude do ser.
Portanto, a
provação é-nos imprescindível à plenitude como seres racionais e livres (Tg 1.12).
Que, neste caso, não paire qualquer dúvida: a provação é necessária, não o
pecado. Este jamais nos será indispensável; aquela, sim (Tg 1.12).
2. A natureza pecaminosa.
Se Deus, ao criar o homem, não o dotou com a impecabilidade, tampouco fê-lo pecaminoso. Afinal, estamos falando do Deus único, verdadeiro e santo (Lv 20.7). Ele não criou o mal, nem pelo mal pode ser tentado (Tg 1.13). Sendo quem é, concedeu-nos o livre-arbítrio, através do qual, nós, à semelhança dos santos anjos, poderíamos ter alcançado, também, a condição de seres impecáveis.
O ser humano também não foi criado moralmente neutro, nem infantilizado. Adão veio a existir de forma santa, plena e racional; porém, não impecável. Aprovação viria, como de fato veio. Logo, o homem caiu não por causa de sua pecaminosidade, mas em virtude de sua pecabilidade O mesmo pode-se dizer dos anjos. Eis o que profetiza Ezequiel acerca do querubim pecador: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15).
Portanto, o homem foi criado perfeito. O uso indevido de sua liberdade, porém, levou-o à imperfeição. Defrontamo-nos, aqui, com um aparente paradoxo. O livre-arbítrio tirou-lhe a perfeição? Todavia, sem um arbítrio totalmente livre, seriamos inviáveis e imperfeitos. Logo, a liberdade era imprescindível a Adão, porquanto fora ele criado perfeito, mas não bom. Somente Deus é bom; a Santíssima Trindade não pode ser melhor do que é.
Sábio em todos os seus caminhos, dotou-nos Deus com o livre-arbítrio. Por isso, requer-nos ânimo pronto e voluntário para adorá-lo (Rm 12.1).
3. A pecabilidade.
Se o homem não foi criado com o dom da impecabilidade, e se o seu estado, ao vir à existência, não era pecaminoso, como explicar a Queda? Só pode haver uma explicação. Deus o criou pecável. Ou seja; com a possibilidade de pecar. A esse respeito, o Senhor foi-lhe bastante claro: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17).
Então, Deus o criou imperfeito? De forma alguma, pois tudo quanto o Senhor fez, perfeitamente o fez. Assim, considera o sábio a obra divina; “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o principio até ao fim” (Ec 3.11).
Novamente, defrontamo-nos com o paradoxo da perfeição divina. Na verdade, Deus fez o homem perfeito. E, nessa perfeição, encontrava-se a pecabilidade. Sem esta, não haveria livre-arbítrio. E, sem o livre-arbítrio, a perfeição seria impossível. Conclui-se, pois, que a perfeição humana requeria a possibilidade de pecar e de não pecar. Nesse ponto, há que se ressaltar uma importante premissa. A perfeição exigia a possibilidade, mas não a necessidade de pecar. Tanto os anjos, quanto os homens, poderiam aperfeiçoar-se constantemente, sem a experiência do pecado. Haja vista os anjos eleitos e santos. Estes, ao não seguirem a Satanás, passaram da fase da pecabilidade para a da impecabilidade. E o mesmo, acredito, poderia ter ocorrido com a família adâmica. Nossa comunhão com Deus seria tão profunda e tão plena, que a árvore da ciência do bem e do mal tornar-se-ia, com o tempo, desnecessária. Assim como os anjos já não carecem de provação, pois obedecem a Deus perfeitamente e perfeitamente o adoram, de igual modo dar-se-ia conosco (Mt 6.10; Hb 1.6).
O que aconteceria, porém, se toda a humanidade tivesse vencido o pecado, com a exceção de uma única pessoa? Deus, amando-nos como nos ama, enviaria o seu Unigênito, para que morresse por essa pessoa única, pois Ele não nos ama apenas coletiva e historicamente, mas individual e biograficamente nos ama com amor eterno.
Na vida do crente, por conseguinte, o pecado não é uma necessidade, mas uma perigosa e, às vezes, fatal possibilidade. Eis o que escreve João: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1). O teólogo divino não diz “quando alguém pecar”, como se o pecado fosse uma necessidade em nossa vida. Mas, sabiamente, adverte: “Se alguém pecar”. Dessa forma, mostra ele que o pecado é apenas uma possibilidade na carreira do cristão. Depreende-se, pois, que o discípulo de Cristo deve lutar não propriamente contra o pecado, mas com suas imperfeições. Que o pecado não é uma necessidade em nossa vida, reafirma mais adiante João: ‘Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu” (1Jo 3.6).
Se por um lado, o pecado não é uma necessidade, mas uma mera possibilidade; por outro, a santidade é tanto uma necessidade, quanto uma real possibilidade em nossa jornada para o céu. Por isso, professamos: “Cremos na necessidade e na possibilidade de vivermos uma vida santa e irrepreensível diante de Deus e perante os homens”. Portanto, recomenda o autor da Epístola aos Hebreus: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). E possível ser santo? Não somente possível, como necessário. A graça divina leva-nos à santidade.
III. O AGENTE DA TENTAÇÃO
Ambrose Bierce (1842-1913), ao dicionarizar o inimigo, satirizou; “Diabo: o autor de todos os nossos infortúnios e proprietário de todas as coisas boas deste mundo”. Que Satanás existe e que se acha ao nosso derredor, buscando a quem possa tragar, todos sabemos. Todavia, ele não é o autor de todos os nossos infortúnios. Boa parte de nossos males e desventuras é consequência de nossas decisões e escolhas. Nem por isso, deixa ele de ser o agente da tentação.
1. O primeiro pecado.
Cabe, aqui, uma intrigante pergunta: Quem primeiro foi criado, o pecado ou o pecador? Nem um, nem outro. Ora, se todas as coisas foram criadas por Deus, como Ele poderia ter criado o pecado ou pecador? Tudo o que Deus faz, perfeitamente o faz. Logo, o pecado nasceu do arbítrio livre e desimpedido que a criatura moral recebeu do Criador. Dai, inferimos: a santidade divina é eterna, - o pecado, não. Ele surgiu no tempo e no tempo desaparecerá. Descreve o profeta Ezequiel o surgimento do primeiro pecado: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15). Enquanto não havia orgulho no coração do querubim, não existia nem pecado, nem pecador no Universo. O amor divino era tudo em todos. Os anjos eram tão puros e amorosos que, a cada ato do Criador, regozijavam-se (Jó 38.7). Mas, vindo o orgulho, o pecado também chegou, revelando o pecador. A soberba é a mãe de todas as transgressões (Pv 16.18).
2. O primeiro pecador.
O querubim ungido é o primeiro pecador. E, posto que imortal e irredimível, jamais perderá essa condição. Todavia, a apostasia poderia ter sido inaugurada por um serafim. Ou, por Miguel. Ou, talvez, por Gabriel. Ou, quem sabe, por um anjo de nenhuma patente. Naqueles inícios, os seres angélicos eram todos pecáveis. Nenhum deles havia sido agraciado, ainda, com o dom da impecabilidade. Se o pecado não tivesse sido originado no céu, poderia ter surgido na terra? Acredito que sim. Levemos em consideração a revelação de Ezequiel. O profeta, ao historiar a rebelião contra o Senhor, não se refere apenas a Satanás; faz uma reverência clara a Etbaal II, rei de Tiro. E, pela dicção da profecia, este era tão deletério e nocivo quanto aquele.
3. O primeiro tentador.
Assim Jesus qualifica o adversário: “Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Satanás poderia contentar-se em ser mais elevado que os demais anjos. Todavia, mentindo a si, presumiu-se maior que Deus. Desde então, vem semeando suas inverdades tanto nos corações dos mexeriqueiros, como na alma filosófica e no espírito teológico. Mente grosseira e finamente. Homicida, levou Caim a assassinar Abel (1Jo 3.12).
E, a partir dai, não mais parou de matar. Inventa guerras, engendra revoluções, incita levantes. Inspira genocídios e extinções.
4. O primeiro impenitente.
A doutrina da depravação total cabe perfeitamente ao Diabo, e não ao ser humano. A semelhança dos demais anjos, era superior a nós (SI 8.3-6). Ele criado já imortal; o homem, imortalizável. Houvesse Adão obedecido ao Senhor, ainda estaria vivo. Se por um lado, a morte é algo indesejável; por outro, é apresentada, em Cristo, como a nossa redenção eterna. Se a recebemos por salário, podemos herdá-la como o maior dos ganhos (Rm 6.23; Fp 1.21).
Desde que se corrompera, Satanás não mais deu guarida à verdade (Jo 8.44). Quando mente, ou mata, faz o que lhe é próprio; é da sua natureza a inverdade e o homicídio. Portanto, ele é irredimível. Jamais voltará à congregação dos santos. O seu lugar é no lago de fogo (Ap 20.10).
IV. A INTRODUÇÃO DO PECADO NO MUNDO
Historicamente, Adão foi o terceiro a rebelar-se contra o Senhor. Em primeiro lugar, apostataram Satanás e seus anjos. Depois, a mulher. E, só então, o homem. Não obstante, foi Adão o grande responsável pela introdução do pecado no mundo. Por que o juízo maior recaiu sobre ele? Apontemos as razões.
1. Adão era o governador do mundo.
Deus confiou o governo do mundo a Adão, a fim de que ele não apenas o governasse e lhe descobrisse as ciências e culturas, mas principalmente para que viesse a teologizá-lo (Gn 1.26). Cabia-lhe, pois, trazer à terra o Reino do Céu. Ele o faria, repassando à esposa e aos filhos, o conhecimento e as ordenanças, que lhe transmitira o Senhor. Mas, por não orientar devidamente a mulher, esta fragilizou-se ante a dialética do adversário. Sua missão cientifica progredia; a teológica começou a retroceder.
2. Adão era o guarda do Éden.
No Éden, competia a Adão cultivar e guardar o paraíso (Gn 2.15). Que ele o haja aculturado, não nos resta dúvida; o trabalho não lhe era contra a índole. Todavia, falhou em custodiar o jardim. Ele sabia perfeitamente que existia um adversário, e que este já havia turbado as regiões celestes. E, já expulso de lá, buscava agora, por aqui, ampliar seus estragos e apostasias.
Adão não ignorava o perigo que o rondava, mas o subestimou. Se nos mantivermos vigilantes, não cairemos na mesma cilada.
3. Adão conhecia a natureza do adversário.
Ao nomear os animais, Adão passou a conhecer profundamente a biologia terrestre (Gn 2.19,20). Sabia que o leão era o rei das alimárias todas. Admirava a força do boi e a mansidão do cordeiro. De igual modo, não ignorava a astúcia e o fingimento da serpente. Bom zoólogo, bem que poderia ter alertado Eva quanto àquele admirável réptil.
Pelo jeito, nenhuma advertência fez à mulher. Deixou-a à mercê da víbora. Que esta falou, não há o que se duvidar. Se não aceitarmos o fato, negaremos também o episódio da jumenta de Balão. Satanás sabia que não podia derrubar o esperto e precavido Adão. Por isso, instrumentalizou a serpente. E, tendo já enlaçado Eva, usou-a para seduzir Adão que, voluntariamente, pecou contra o Senhor (1Tm 2.14).
4. Adão introduziu o pecado no mundo.
Eva pecou antes de Adão, e Satanás, por seu turno, pecara muito antes de Eva. Todavia, o pecado entrou no mundo não através da mulher, nem por intermédio do Diabo. O grande responsável pela introdução da apostasia no mundo foi Adão. E o que esclarece Paulo: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12).
A serpente e a mulher não deixaram de ser penalizadas. Entretanto, ao homem coube a responsabilidade maior pela tragédia no Éden. Deus o condena a morrer, mas não o condena à morte eterna, nem à segunda morte. Ali mesmo, em meio ao juízo, o Senhor anuncia a redenção da humanidade.
CONCLUSÃO
Estamos no Século XXI. Não houve odisseia alguma no espaço. Aliás, nem à Lua fomos mais. Isso não significa que o homem tenha sufocado o desejo de aninhar-se nas estrelas. Naves serão lançadas ao espaço, deixarão este sistema solar e perder-se-ão no desconhecido. O ser humano, porém, jamais melhorará a sua índole, a menos que receba a Cristo como o seu único e suficiente salvador.
Apesar de seus voos cada vez mais ousados, a queda do homem não foi para o alto. Moral e eticamente, nunca estivemos tão baixo. Não precisamos de uma inteligência artificial para infelicitar-nos; nossa razão, enferma pelo pecado, é mais que suficiente para jogar-nos no inferno. Só o Senhor Jesus pode resgatar-nos dessa queda fatal. Somente ele reverte os efeitos do pecado.
PARA REFLETIR
A respeito do livro de Gênesis:
A Queda foi um fato histórico e real?
Sim. Podemos ter tal certeza porque a Bíblia nos garante.
A serpente realmente falou?
Sim. Não se trata de uma parábola, mas de um fato histórico.
Que juízo recaiu sobre o homem e sobre a mulher?
Sobre a mulher: ela teria a sua dor na hora do parto multiplicada. Também teria que se sujeitar ao governo do homem.
Sobre o homem: O trabalho de Adão seria misturado com a dor.
Ambos sofreriam a morte física e foram expulsos do paraíso.
Por que Adão foi responsabilizado por Deus como o principal responsável pela Queda da humanidade?
Porque ele havia recebido a ordem diretamente de Deus.
Deus foi surpreendido pelo pecado do homem? Explique.
Deus não foi apanhado de surpresa pela queda de Adão, pois o Cordeiro, em sua presciência, já havia sido morto desde a fundação do mundo (Ap 13.8). Nossos primeiros pais, de fato, pecaram, mas foram prontamente redimidos pelo sangue de Cristo, pois Jesus morreu por toda a humanidade (Jo 1.29).
2. A natureza pecaminosa.
Se Deus, ao criar o homem, não o dotou com a impecabilidade, tampouco fê-lo pecaminoso. Afinal, estamos falando do Deus único, verdadeiro e santo (Lv 20.7). Ele não criou o mal, nem pelo mal pode ser tentado (Tg 1.13). Sendo quem é, concedeu-nos o livre-arbítrio, através do qual, nós, à semelhança dos santos anjos, poderíamos ter alcançado, também, a condição de seres impecáveis.
O ser humano também não foi criado moralmente neutro, nem infantilizado. Adão veio a existir de forma santa, plena e racional; porém, não impecável. Aprovação viria, como de fato veio. Logo, o homem caiu não por causa de sua pecaminosidade, mas em virtude de sua pecabilidade O mesmo pode-se dizer dos anjos. Eis o que profetiza Ezequiel acerca do querubim pecador: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15).
Portanto, o homem foi criado perfeito. O uso indevido de sua liberdade, porém, levou-o à imperfeição. Defrontamo-nos, aqui, com um aparente paradoxo. O livre-arbítrio tirou-lhe a perfeição? Todavia, sem um arbítrio totalmente livre, seriamos inviáveis e imperfeitos. Logo, a liberdade era imprescindível a Adão, porquanto fora ele criado perfeito, mas não bom. Somente Deus é bom; a Santíssima Trindade não pode ser melhor do que é.
Sábio em todos os seus caminhos, dotou-nos Deus com o livre-arbítrio. Por isso, requer-nos ânimo pronto e voluntário para adorá-lo (Rm 12.1).
3. A pecabilidade.
Se o homem não foi criado com o dom da impecabilidade, e se o seu estado, ao vir à existência, não era pecaminoso, como explicar a Queda? Só pode haver uma explicação. Deus o criou pecável. Ou seja; com a possibilidade de pecar. A esse respeito, o Senhor foi-lhe bastante claro: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17).
Então, Deus o criou imperfeito? De forma alguma, pois tudo quanto o Senhor fez, perfeitamente o fez. Assim, considera o sábio a obra divina; “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o principio até ao fim” (Ec 3.11).
Novamente, defrontamo-nos com o paradoxo da perfeição divina. Na verdade, Deus fez o homem perfeito. E, nessa perfeição, encontrava-se a pecabilidade. Sem esta, não haveria livre-arbítrio. E, sem o livre-arbítrio, a perfeição seria impossível. Conclui-se, pois, que a perfeição humana requeria a possibilidade de pecar e de não pecar. Nesse ponto, há que se ressaltar uma importante premissa. A perfeição exigia a possibilidade, mas não a necessidade de pecar. Tanto os anjos, quanto os homens, poderiam aperfeiçoar-se constantemente, sem a experiência do pecado. Haja vista os anjos eleitos e santos. Estes, ao não seguirem a Satanás, passaram da fase da pecabilidade para a da impecabilidade. E o mesmo, acredito, poderia ter ocorrido com a família adâmica. Nossa comunhão com Deus seria tão profunda e tão plena, que a árvore da ciência do bem e do mal tornar-se-ia, com o tempo, desnecessária. Assim como os anjos já não carecem de provação, pois obedecem a Deus perfeitamente e perfeitamente o adoram, de igual modo dar-se-ia conosco (Mt 6.10; Hb 1.6).
O que aconteceria, porém, se toda a humanidade tivesse vencido o pecado, com a exceção de uma única pessoa? Deus, amando-nos como nos ama, enviaria o seu Unigênito, para que morresse por essa pessoa única, pois Ele não nos ama apenas coletiva e historicamente, mas individual e biograficamente nos ama com amor eterno.
Na vida do crente, por conseguinte, o pecado não é uma necessidade, mas uma perigosa e, às vezes, fatal possibilidade. Eis o que escreve João: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1). O teólogo divino não diz “quando alguém pecar”, como se o pecado fosse uma necessidade em nossa vida. Mas, sabiamente, adverte: “Se alguém pecar”. Dessa forma, mostra ele que o pecado é apenas uma possibilidade na carreira do cristão. Depreende-se, pois, que o discípulo de Cristo deve lutar não propriamente contra o pecado, mas com suas imperfeições. Que o pecado não é uma necessidade em nossa vida, reafirma mais adiante João: ‘Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu” (1Jo 3.6).
Se por um lado, o pecado não é uma necessidade, mas uma mera possibilidade; por outro, a santidade é tanto uma necessidade, quanto uma real possibilidade em nossa jornada para o céu. Por isso, professamos: “Cremos na necessidade e na possibilidade de vivermos uma vida santa e irrepreensível diante de Deus e perante os homens”. Portanto, recomenda o autor da Epístola aos Hebreus: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). E possível ser santo? Não somente possível, como necessário. A graça divina leva-nos à santidade.
III. O AGENTE DA TENTAÇÃO
Ambrose Bierce (1842-1913), ao dicionarizar o inimigo, satirizou; “Diabo: o autor de todos os nossos infortúnios e proprietário de todas as coisas boas deste mundo”. Que Satanás existe e que se acha ao nosso derredor, buscando a quem possa tragar, todos sabemos. Todavia, ele não é o autor de todos os nossos infortúnios. Boa parte de nossos males e desventuras é consequência de nossas decisões e escolhas. Nem por isso, deixa ele de ser o agente da tentação.
1. O primeiro pecado.
Cabe, aqui, uma intrigante pergunta: Quem primeiro foi criado, o pecado ou o pecador? Nem um, nem outro. Ora, se todas as coisas foram criadas por Deus, como Ele poderia ter criado o pecado ou pecador? Tudo o que Deus faz, perfeitamente o faz. Logo, o pecado nasceu do arbítrio livre e desimpedido que a criatura moral recebeu do Criador. Dai, inferimos: a santidade divina é eterna, - o pecado, não. Ele surgiu no tempo e no tempo desaparecerá. Descreve o profeta Ezequiel o surgimento do primeiro pecado: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15). Enquanto não havia orgulho no coração do querubim, não existia nem pecado, nem pecador no Universo. O amor divino era tudo em todos. Os anjos eram tão puros e amorosos que, a cada ato do Criador, regozijavam-se (Jó 38.7). Mas, vindo o orgulho, o pecado também chegou, revelando o pecador. A soberba é a mãe de todas as transgressões (Pv 16.18).
2. O primeiro pecador.
O querubim ungido é o primeiro pecador. E, posto que imortal e irredimível, jamais perderá essa condição. Todavia, a apostasia poderia ter sido inaugurada por um serafim. Ou, por Miguel. Ou, talvez, por Gabriel. Ou, quem sabe, por um anjo de nenhuma patente. Naqueles inícios, os seres angélicos eram todos pecáveis. Nenhum deles havia sido agraciado, ainda, com o dom da impecabilidade. Se o pecado não tivesse sido originado no céu, poderia ter surgido na terra? Acredito que sim. Levemos em consideração a revelação de Ezequiel. O profeta, ao historiar a rebelião contra o Senhor, não se refere apenas a Satanás; faz uma reverência clara a Etbaal II, rei de Tiro. E, pela dicção da profecia, este era tão deletério e nocivo quanto aquele.
3. O primeiro tentador.
Assim Jesus qualifica o adversário: “Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Satanás poderia contentar-se em ser mais elevado que os demais anjos. Todavia, mentindo a si, presumiu-se maior que Deus. Desde então, vem semeando suas inverdades tanto nos corações dos mexeriqueiros, como na alma filosófica e no espírito teológico. Mente grosseira e finamente. Homicida, levou Caim a assassinar Abel (1Jo 3.12).
E, a partir dai, não mais parou de matar. Inventa guerras, engendra revoluções, incita levantes. Inspira genocídios e extinções.
4. O primeiro impenitente.
A doutrina da depravação total cabe perfeitamente ao Diabo, e não ao ser humano. A semelhança dos demais anjos, era superior a nós (SI 8.3-6). Ele criado já imortal; o homem, imortalizável. Houvesse Adão obedecido ao Senhor, ainda estaria vivo. Se por um lado, a morte é algo indesejável; por outro, é apresentada, em Cristo, como a nossa redenção eterna. Se a recebemos por salário, podemos herdá-la como o maior dos ganhos (Rm 6.23; Fp 1.21).
Desde que se corrompera, Satanás não mais deu guarida à verdade (Jo 8.44). Quando mente, ou mata, faz o que lhe é próprio; é da sua natureza a inverdade e o homicídio. Portanto, ele é irredimível. Jamais voltará à congregação dos santos. O seu lugar é no lago de fogo (Ap 20.10).
IV. A INTRODUÇÃO DO PECADO NO MUNDO
Historicamente, Adão foi o terceiro a rebelar-se contra o Senhor. Em primeiro lugar, apostataram Satanás e seus anjos. Depois, a mulher. E, só então, o homem. Não obstante, foi Adão o grande responsável pela introdução do pecado no mundo. Por que o juízo maior recaiu sobre ele? Apontemos as razões.
1. Adão era o governador do mundo.
Deus confiou o governo do mundo a Adão, a fim de que ele não apenas o governasse e lhe descobrisse as ciências e culturas, mas principalmente para que viesse a teologizá-lo (Gn 1.26). Cabia-lhe, pois, trazer à terra o Reino do Céu. Ele o faria, repassando à esposa e aos filhos, o conhecimento e as ordenanças, que lhe transmitira o Senhor. Mas, por não orientar devidamente a mulher, esta fragilizou-se ante a dialética do adversário. Sua missão cientifica progredia; a teológica começou a retroceder.
2. Adão era o guarda do Éden.
No Éden, competia a Adão cultivar e guardar o paraíso (Gn 2.15). Que ele o haja aculturado, não nos resta dúvida; o trabalho não lhe era contra a índole. Todavia, falhou em custodiar o jardim. Ele sabia perfeitamente que existia um adversário, e que este já havia turbado as regiões celestes. E, já expulso de lá, buscava agora, por aqui, ampliar seus estragos e apostasias.
Adão não ignorava o perigo que o rondava, mas o subestimou. Se nos mantivermos vigilantes, não cairemos na mesma cilada.
3. Adão conhecia a natureza do adversário.
Ao nomear os animais, Adão passou a conhecer profundamente a biologia terrestre (Gn 2.19,20). Sabia que o leão era o rei das alimárias todas. Admirava a força do boi e a mansidão do cordeiro. De igual modo, não ignorava a astúcia e o fingimento da serpente. Bom zoólogo, bem que poderia ter alertado Eva quanto àquele admirável réptil.
Pelo jeito, nenhuma advertência fez à mulher. Deixou-a à mercê da víbora. Que esta falou, não há o que se duvidar. Se não aceitarmos o fato, negaremos também o episódio da jumenta de Balão. Satanás sabia que não podia derrubar o esperto e precavido Adão. Por isso, instrumentalizou a serpente. E, tendo já enlaçado Eva, usou-a para seduzir Adão que, voluntariamente, pecou contra o Senhor (1Tm 2.14).
4. Adão introduziu o pecado no mundo.
Eva pecou antes de Adão, e Satanás, por seu turno, pecara muito antes de Eva. Todavia, o pecado entrou no mundo não através da mulher, nem por intermédio do Diabo. O grande responsável pela introdução da apostasia no mundo foi Adão. E o que esclarece Paulo: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12).
A serpente e a mulher não deixaram de ser penalizadas. Entretanto, ao homem coube a responsabilidade maior pela tragédia no Éden. Deus o condena a morrer, mas não o condena à morte eterna, nem à segunda morte. Ali mesmo, em meio ao juízo, o Senhor anuncia a redenção da humanidade.
CONCLUSÃO
Estamos no Século XXI. Não houve odisseia alguma no espaço. Aliás, nem à Lua fomos mais. Isso não significa que o homem tenha sufocado o desejo de aninhar-se nas estrelas. Naves serão lançadas ao espaço, deixarão este sistema solar e perder-se-ão no desconhecido. O ser humano, porém, jamais melhorará a sua índole, a menos que receba a Cristo como o seu único e suficiente salvador.
Apesar de seus voos cada vez mais ousados, a queda do homem não foi para o alto. Moral e eticamente, nunca estivemos tão baixo. Não precisamos de uma inteligência artificial para infelicitar-nos; nossa razão, enferma pelo pecado, é mais que suficiente para jogar-nos no inferno. Só o Senhor Jesus pode resgatar-nos dessa queda fatal. Somente ele reverte os efeitos do pecado.
PARA REFLETIR
A respeito do livro de Gênesis:
A Queda foi um fato histórico e real?
Sim. Podemos ter tal certeza porque a Bíblia nos garante.
A serpente realmente falou?
Sim. Não se trata de uma parábola, mas de um fato histórico.
Que juízo recaiu sobre o homem e sobre a mulher?
Sobre a mulher: ela teria a sua dor na hora do parto multiplicada. Também teria que se sujeitar ao governo do homem.
Sobre o homem: O trabalho de Adão seria misturado com a dor.
Ambos sofreriam a morte física e foram expulsos do paraíso.
Por que Adão foi responsabilizado por Deus como o principal responsável pela Queda da humanidade?
Porque ele havia recebido a ordem diretamente de Deus.
Deus foi surpreendido pelo pecado do homem? Explique.
Deus não foi apanhado de surpresa pela queda de Adão, pois o Cordeiro, em sua presciência, já havia sido morto desde a fundação do mundo (Ap 13.8). Nossos primeiros pais, de fato, pecaram, mas foram prontamente redimidos pelo sangue de Cristo, pois Jesus morreu por toda a humanidade (Jo 1.29).
Fonte:
O começo de todas as coisas - Estudos sobre o Livro de Gênesis - 4ºtrim.2015
O começo de todas as coisas - Estudos sobre o Livro de Gênesis - Claudionor de Andrade (Livro de Apoio)
Richards, lawrence. Guia do Leitor da Bíblia: Uma Análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10º ed.
Revista Ensinador Cristão - CPAD - nº64
Dicionário Bíblico Wycliffe CPAD
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia Defesa da Fé
Aqui eu Aprendi!
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