“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” Jo 14.6
O Senhor e Salvador Jesus Cristo
Jesus de Nazaré é a pessoa mais importante que
existiu no mundo. Ele veio em forma de uma criança, cresceu na graça e no
conhecimento, diante de Deus e dos homens. Jesus iniciou o seu ministério com
doze discípulos, pregando o Reino de Deus por toda a Antiga Palestina. É
impossível alguém ficar indiferente em relação ao seu ministério. Se os nossos
alunos o conhecerem como descrevem as Escrituras, “rios de águas vivas fluirão
do seu interior”.
Jesus chamado “Cristo”
Jesus (que quer dizer “o salvador”) é o
“Messias” de Israel, isto é, o ungido de Deus Pai para redimir o povo de Israel
e o “Cristo” para redimir o mundo: “Saiba, pois, com certeza, toda a casa de
Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”
(At 2.36). Jesus Cristo é o evento anunciado por João Batista: “Eis o Cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Nele, a condenação eterna é
apagada, as prisões psicológicas e emocionais são abertas. Nossa natureza
humana pecaminosa, egoísta e perversa é completamente transformada.
O “Logos”
O Evangelho afirma que só há verdadeira vida
por intermédio do verbo vivo de Deus: Jesus Cristo, a vida eterna que pulsa de
Deus para nós. É vida verdadeira que dá conta de todas as interrogações,
questionamentos e dúvidas humanas. Mas o mundo não compreendeu o significado
dessa vida, desse verbo e desse sentido último (Jo 1.5).
Para descrever esse evento extraordinário o
apóstolo João usou um termo bem peculiar em o Novo Testamento, Logos, que
quer dizer “verbo” ou “palavra”. O apóstolo escreveu assim o primeiro versículo
no seu Evangelho: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus” (Jo 1.1). Esse versículo descreve Jesus como o início de todas
as coisas e o significado último da vida: “Todas as coisas foram feitas por
ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele, estava a vida e a vida era a
luz dos homens” (Jo 1.3,4). Segundo o Evangelho, só há verdadeira vida por
intermédio do verbo vivo de Deus: Jesus Cristo, a vida que pulsa de Deus para
nós. Só ele quem pode doar vida verdadeira. Só Ele quem dá conta de todas as
interrogações, questionamentos e dúvidas humanas. Mas o mundo não compreendeu o
significado dessa vida, desse verbo e desse sentido último (Jo 1.5). Mas para
nós, os que cremos, o servo Jesus é Senhor e Cristo. Sejamos servos disponíveis
no serviço, olhando sempre para o autor e consumador da nossa fé.
Cremos no Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, plenamente Deus, plenamente Homem e o único Salvador do mundo.
Prezado professor, nesta lição estudaremos a
respeito do Homem mais importante que já viveu nesta terra, Jesus Cristo, o
Filho Unigênito de Deus. O seu nascimento foi e é um marco na história da
humanidade. Depois da sua vinda ao mundo a História passou a ser dividida em
antes de Cristo e depois dEle. É importante lembrar que quando Jesus veio ao
mundo, a Palestina estava debaixo do jugo romano. César Augusto era o imperador
e os imperadores romanos eram visto por todos como um deus. Porém, o Rei dos
reis veio habitar entre nós. Ele nasceu em um lugar simples, em um estábulo.
Seu berço não foi de ouro, mas foi uma simples manjedoura. Ele abriu mão de
toda a sua glória para vir ao mundo salvar todos os perdidos e revelar-se aos
piedosos e às minorias.
Leitura Bíblica para aula: João 1.1-14
Leitura Bíblica Diária
Jo 3.16-18 - Jesus é o Filho Unigênito de Deus
Rm 1.3,4 - Jesus é o verdadeiro Deus e o
verdadeiro homem
Is 7.14; Mt 1.20,23 - Jesus foi concebido pelo
Espírito Santo e nasceu da virgem Maria
Hb 10.12 - A morte de Jesus foi expiatória
Rm 8.34 - Jesus ressuscitou dentre os mortos e
intercede por nós
At 1.9 - Jesus subiu aos céus
Cremos que Jesus é o Filho Unigênito de Deus, plenamente Deus e plenamente homem.
O tema sobre a verdadeira identidade de Jesus de Nazaré é algo palpitante e ao mesmo tempo oportuno. São milhões de seres humanos que ainda não conhecem o verdadeiro Jesus dos evangelhos. Muitas pesquisas criteriosas foram realizadas sobre a vida e a obra de Jesus ao longo dos séculos; no entanto, Ele continua sendo a personagem mais controvertida e mais importante da História. Jesus é tema de filmes, músicas, livros, poesias, pinturas e teatros como ninguém. Sua história está traduzida em 2.935 línguas. Ele revelou seu poder sobre o reino das trevas, sobre Satanás e sobre o inferno (Mc 5.7-13); sobre as enfermidades e sobre a morte (Mt 10.8); sobre o pecado e sobre a natureza (Jo 8.46; Mt 8.26, 27). Seus discípulos chegaram a perguntar: “Que homem é este?” (Mt 8.27). O próprio Jesus perguntou certa vez: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” (Mt 16.13). A resposta certa depende da revelação divina “porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está no céu” (Mt 16.17); “E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo Santo” (1 Co 12.3).
O tema sobre a verdadeira identidade de Jesus de Nazaré é algo palpitante e ao mesmo tempo oportuno. São milhões de seres humanos que ainda não conhecem o verdadeiro Jesus dos evangelhos. Muitas pesquisas criteriosas foram realizadas sobre a vida e a obra de Jesus ao longo dos séculos; no entanto, Ele continua sendo a personagem mais controvertida e mais importante da História. Jesus é tema de filmes, músicas, livros, poesias, pinturas e teatros como ninguém. Sua história está traduzida em 2.935 línguas. Ele revelou seu poder sobre o reino das trevas, sobre Satanás e sobre o inferno (Mc 5.7-13); sobre as enfermidades e sobre a morte (Mt 10.8); sobre o pecado e sobre a natureza (Jo 8.46; Mt 8.26, 27). Seus discípulos chegaram a perguntar: “Que homem é este?” (Mt 8.27). O próprio Jesus perguntou certa vez: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” (Mt 16.13). A resposta certa depende da revelação divina “porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está no céu” (Mt 16.17); “E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo Santo” (1 Co 12.3).
Desde os primeiros séculos do cristianismo,
houve tentativa de resposta para essa pergunta, mas, sem a revelação divina,
ninguém é capaz de acertar. Os grandes heresiarcas do passado fracassaram como
os gnósticos: Simão de Samaria, Saturnino, Basisides, Cerinto, Marcião e
Valentino, entre outros; os monarquianistas: dinâmicos como Teódoto de
Bizâncio, “o Curtido”, e Paulo de Samosata; modalistas, Noeto, Práxeas e
Sabélio; Ário, Apolinário, os monofisitas Eutique e Jacó Baradeus. Os
discípulos deles ainda estão por aí. O Espírito Santo já havia falado de
antemão por meio do ministério do apóstolo Paulo a respeito dos pregadores de
um Jesus estranho aos evangelhos (2 Co 11.4).
O JESUS
DAS ESCRITURAS
A sua divindade
A Bíblia afirma textualmente e com todas as
letras que Jesus é o verdadeiro Deus, o mesmo Deus Javé de Israel:
O Filho é
chamado “Deus Forte” (Is 9.6); Javé, “Justiça Nossa” ou “O SENHOR, Justiça
Nossa” (Jr 23.6); “e o Verbo era Deus” (Jo 1.1); “Tomé respondeu, e disse-lhe:
Senhor meu, e Deus meu! ” (Jo 20.28); “e dos quais é Cristo, segundo a carne, o
qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém” (Rm 9.5); “Que, sendo em
forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” (Fp 2.6); “enriquecidos
da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus Cristo”
(Cl 2.2); “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl
2.9); “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do
grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13); “Mas, do Filho diz: Ó Deus,
o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro de
teu reino” (Hb 1.8); “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que
conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador
Jesus Cristo” (2 Pe 1.1); “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu
entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro
estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida
eterna” (1 Jo 5.20); “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os
mesmos que transpassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele.
Sim. Amém. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e
que era, e que há de vir, o Todo-poderoso” (Ap 1.7, 8).
As Escrituras mostram diversas vezes o Senhor
Jesus ao lado do Pai, revelando assim a sua divindade:
“Graça e
paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Rm 1.7); “todavia, para nós
há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor,
Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1 Co 8.6);
“Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que
diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão” (1 Tm 6.13);
“Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os
vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino” (2 Tm 4.1).
O Senhor Jesus possui os mesmos nomes e títulos
divinos, como Javé dos Exércitos e Criador. Jesus é o mesmo Deus Javé dos
Exércitos. “Quem é esse Rei da Glória? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da
Glória” (Sl 24.10). Este salmo transcende um marco nacional. É um salmo
profético que fala sobre o retorno de Cristo à sua glória, na sua ascensão. É o
cântico dos anjos e a festa de recepção do Filho de Deus, pois Ele voltou
vitorioso ao céu. O Novo Testamento chama Jesus de “o Senhor da Glória” (1 Co 2.8).
As “portas” e “entradas eternas” (Sl 24.7) se referem às portas do céu que se
abriram para receber o Rei dos reis, e isso se cumpriu em Atos 1.9-11. Isaías
6.3 diz que a terra está cheia da glória de Javé dos Exércitos; entretanto, o Novo Testamento diz que esse Javé é Jesus. Compare Isaías 6.3, 10 com João 12.40,41. O v. 40 é uma citação de Isaías 6.10, e o v. 41, de Isaías 6.3. Assim, a Bíblia ensina que Jesus é o Deus-Javé dos Exércitos.
6.3 diz que a terra está cheia da glória de Javé dos Exércitos; entretanto, o Novo Testamento diz que esse Javé é Jesus. Compare Isaías 6.3, 10 com João 12.40,41. O v. 40 é uma citação de Isaías 6.10, e o v. 41, de Isaías 6.3. Assim, a Bíblia ensina que Jesus é o Deus-Javé dos Exércitos.
Jesus é o mesmo Javé. Jesus é chamado de Javé
Justiça Nossa (Jr 23.5, 6). Os profetas Isaías e Malaquias profetizaram que
João Batista seria aquele que viria ante a face de Javé (Is 40.3; Ml 3.1).
Estas palavras foram citadas por Zacarias por ocasião do nascimento de João: “E
tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a face
do Senhor, a preparar os seus caminhos” (Lc 1.76). Veja que o nome “Senhor”
está no lugar de Javé, entretanto João Batista foi o precursor de Jesus (Lc
3.28). O profeta Ezequiel chama o Messias de Javé, Deus de Israel: “E disse-me
o SENHOR: Esta porta estará fechada, não se abrirá; ninguém entrará por ela,
porque o SENHOR Deus de Israel entrou por ela: por isso estará fechada” (Ez
44.2). Esta profecia começou a se cumprir quando Jesus entrou em Jerusalém.
Montado num jumento, Ele caminhou no sentido do monte das Oliveiras ao centro
da cidade, e passou pela Porta Oriental (Ne 3.29), atualmente a Porta Dourada,
a única que dá acesso direto ao pátio do templo (Mc 11.11). Esta porta, que
fica no lado oriental de Jerusalém, foi lacrada no ano de 1542 por ordem do
sultão Suleiman II, o Magnífico, e permanece fechada até hoje. Quem é este Javé
Deus de Israel que entrou por esta porta? É Jesus, o profeta de Nazaré.
A Bíblia revela também a divindade de Jesus e a
sua igualdade com o Pai nos seus atributos incomunicáveis. Jesus é eterno; Ele
existe desde a eternidade “e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os
dias da eternidade” (Mq 5.2); “Pai da Eternidade” (Is 9.6); “Jesus Cristo é o
mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hb 13.8). Ele mesmo declarou ser onipotente:
“É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18); “Eu sou o Alfa e o
Ômega, o Princípio e o Fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o
Todo-poderoso” (Ap 1.8). A Bíblia mostra que Jesus está “acima de todo o
principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia,
não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1.21). Jesus mesmo afirmou ser
onipresente: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou
eu no meio deles” (Mt 18.20) e mais: “Eis que estou convosco todos os dias, até
a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28.20). Ele é onisciente, pois sabe todas
as coisas: “Agora, conhecemos que sabes tudo e não precisas de que alguém te
interrogue. Por isso, cremos que saíste de Deus” (Jo 16.30); “Senhor, tu sabes
tudo” (Jo 21.17); em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e
da ciência” (Cl 2.2, 3). Jesus é o Criador do céu e da terra: “Todas as coisas
foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3); “porque
nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16). Além disso, Jesus
transcende a criação; isso significa que ele é um ser à parte da criação, não
participa dela: “E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem
por ele” (Cl 1.17).
A sua humanidade
“Porque há um só Deus, e um só mediador entre
Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Tm 2.5). Jesus Cristo é o eterno e
verdadeiro Deus e ao mesmo tempo o verdadeiro homem. Tornou-se homem para
suprir a necessidade humana. O termo Emanuel é traduzido pelo próprio escritor
sagrado por “DEUS CONOSCO” (Mt 1.23). Isso mostra que Deus assumiu a forma
humana e como homem viveu entre nós: “E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e
de verdade” (Jo 1.14); “E todo o espírito que confessa que Jesus não veio em
carne não é de Deus...” (1 Jo 4.3). O ensino da humanidade de Cristo, no
entanto, não neutraliza a sua divindade, pois Ele possui duas naturezas – a
humana e a divina –, o que está claramente expresso no seu nome Emanuel.
Jesus foi revestido do corpo humano porque o
pecado entrou no mundo por um homem e pela justiça de Deus tinha de ser vencido
por um homem (Rm 5.12,18,19). Jesus se fez carne, fez-se homem sujeito ao
pecado, embora nunca houvesse pecado (Hb 4.15), e venceu o pecado como homem
(Rm 8.3). A Bíblia mostra que todo o gênero humano está condenado; que o homem
está perdido e debaixo da maldição do pecado (Sl 14.2, 3; Rm 3.23). Todos são
devedores, e por isso ninguém pode pagar a dívida do outro. A Bíblia diz que somente
Deus pode salvar (Is 43.11). Então, esse mesmo Deus tornou-se homem,
trazendo-nos o perdão de nossos pecados e cumprindo ele mesmo a lei que
promulgara (At 4.12; 1 Tm 3.16; Cl 2.14). Quando Jesus estava na terra, não se
apegou às prerrogativas da divindade para vencer o diabo, mas aniquilou a Si
mesmo, fazendo-se semelhante aos homens (Fp 2.5-8).
Os evangelhos revelam atributos característicos
do ser humano em Jesus, como por exemplo:
• Ele nasceu de uma mulher, embora gerado pela
ação sobrenatural do Espírito Santo. Seu nascimento, contudo, ou seja, o parto
pelo qual ele veio ao mundo, foi normal e comum como o de qualquer ser humano
(Lc 2.6-7);
• Ele cresceu em estatura e em sabedoria (Lc
2.52);
• Ele sentiu sono, fome, sede e cansaço (Mt
8.24; Jo 19.28; 4.6);
• Ele sofreu, chorou e sentiu angústia (Hb
13.12; Lc 19.41; Mt 26.37);
• Ele teve mãe humana, além de irmãos e irmãs
(Mt 12.47; 13.55, 56).
• Ele morreu, embora ressuscitasse ao terceiro
dia, passando pelo ardor da morte (1 Co 15.3-4);
• Ele deu provas materiais de ter um corpo
humano (1 Jo 1.1; Lc 24.39-41);
• Ele foi feito semelhante aos homens, mas sem
pecado (Hb 2.17; 4.15).
Assim como é pecado negar a humanidade de
Cristo (1 Jo 4.2, 3; 2 Jo 7), da mesma forma é pecado negar a sua divindade (Rm
10.9), pois Jesus é tanto humano como divino (Rm 1.3, 4; 9.5). Como homem,
sentia as dores do ser humano (Hb 5.18); e, como Deus, hoje supre a necessidade
da humanidade (Hb 2.17, 18).
O Filho de Deus
O conceito de Pai-Filho, na divindade, não deve
ser confundido com o processo de reprodução humana nem com o relacionamento
pai-filho numa família natural. Os muçulmanos consideram ofensa chamar Jesus de
“Filho de Deus”, pois analisam essa relação no plano humano. Eles creem que
pregamos que Deus teve relações sexuais com Maria, pois assim interpretam o
nosso conceito de “Filho de Deus”. Diz a religião islâmica: “Originador dos
céus e da terra! Como poderia ter prole, quando nunca teve esposa, e foi Ele
que criou tudo o que existe, e é Onisciente?” (Alcorão, 6.101). Nenhum cristão
no mundo pensa dessa forma; essa caricatura é invenção deles. Jesus é chamado
de Filho de Deus no Novo Testamento porque Ele é Deus e veio de Deus. Jesus
mesmo disse: “Eu saí e vim de Deus” (Jo 8.42); “Saí do Pai e vim ao mundo;
outra vez, deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo 16.28).
Concepção e nascimento virginal
O Senhor Jesus foi concebido por obra e graça
do Espírito Santo no ventre da virgem Maria: “[...] lhe apareceu um anjo do
Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher,
porque o que nela está gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20); “E, respondendo o
anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te
cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será
chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). A palavra profética anunciava isso desde o
profeta Isaías: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem
conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14).
O substantivo hebraico para “virgem” usado
nesta passagem é ‘almâ. Isto tem dado espaço para intermináveis controvérsias,
principalmente por eruditos judeus e por teólogos “cristãos” modernistas, na
tentativa de neutralizar a doutrina do nascimento virginal de Jesus. Alguns
afirmam que a palavra mais apropriada para “virgem” seria betûlâ, querendo com
isso dissociar Mateus 1.23 de Isaías 7.14.
A palavra betûlâ
aparece 51 vezes no Antigo Testamento hebraico e é traduzida 44 vezes por parthenos
na Septuaginta. Ela pode se aplicar a uma mulher casada (Jl 1.8), o que não
ocorre com o substantivo ‘almâ, que
só se aplica à mulher solteira. W. E. Vine, com base em Joel 1.8, diz que betûlâ nos textos aramaicos tardios era
aplicada a uma mulher casada. Isso, portanto, traria muita confusão: “parece
que a eleição da palavra ‘almâ foi deliberada. Parece que é a única palavra
hebraica disponível que indicaria com clareza que aquela a que ele designa não
estava casada” (VINE, vol. 4, 1989, p. 248).
O substantivo ‘almâ aparece
nove vezes no Antigo Testamento hebraico (Gn 24.43; Êx 2.8; 1 Cr 15.20; Sl 46
(título, pois a palavra hebraica ‘alamôth é plural de ‘almâ); 68.25; Pv 30.19; Ct 1.3;
6.8; Is 7.14). Em dois lugares, a Septuaginta traduziu esse termo pelo vocábulo
grego parthenos,
que significa “virgem” (Gn 24.43; Is 7.14). A mesma Rebeca que é chamada
“virgem [betûlâ,
em hebraico] a quem varão não havia conhecido”, no v.16 desse mesmo capítulo
ela é chamada de ‘almâ.
A Septuaginta foi traduzida por 72 judeus em Alexandria antes do nascimento de
Jesus.
Com o surgimento do cristianismo, os cristãos
pregavam que a concepção e o nascimento virginal de Jesus eram o cumprimento de
uma profecia do Antigo Testamento. Assim começaram as disputas com os judeus:
“Contra a Igreja os judeus sustentavam que Isaías 7.14 não fala de uma ‘virgem’
(parthenos), mas de uma ‘mulher jovem’ (neanis). Os cristãos respondiam
acertadamente que a tradução parthenos provém de tradutores judeus” (BENTZEN,
1968, p. 92).
Talvez seja essa uma das razões pelas quais as
autoridades judaicas resolveram revisar a Septuaginta. As versões gregas do
Antigo Testamento, que vieram após o cristianismo, substituíram parthenos por
neanis, “jovem”. Áquila era judeu e discípulo do rabino Akiva (morto em 132
d.C.). A outra versão é a de Teodócio, ou Teodocião, apóstata do cristianismo,
que voltou ao judaísmo (final do segundo século d.C.); e finalmente a de
Símaco, que era ebionita (seita judaica que negava a divindade de Cristo),
preparada em 170 d.C. (FISCHER, 2013, pp. 105, 106). Até hoje os israelenses,
em Israel, usam ‘almâ para designar “senhorita”.
Gerard Van Groningen, em sua obra Revelação
messiânica no Velho Testamento, apresenta a seguinte conclusão: “Um
exame dos materiais disponíveis a estudiosos e peritos, como indicado acima,
leva-nos à
segura conclusão de que, com base no uso do termo tanto em hebraico quanto em ugarítico, o termo ‘almâ deve ser traduzido por ‘virgem’. A Septuaginta dá pleno apoio a isto, e o testemunho do Novo Testamento (Mt 1.23) dá a palavra final. Isaías disse e pretendeu dizer virgem” (GRONINGEN, 1995, p. 484).
segura conclusão de que, com base no uso do termo tanto em hebraico quanto em ugarítico, o termo ‘almâ deve ser traduzido por ‘virgem’. A Septuaginta dá pleno apoio a isto, e o testemunho do Novo Testamento (Mt 1.23) dá a palavra final. Isaías disse e pretendeu dizer virgem” (GRONINGEN, 1995, p. 484).
Os gnósticos e demais heresias e heresiarcas
O monarquianismo foi um movimento que surgiu
depois da metade do segundo século em torno do monoteísmo cristão. Os
monarquianistas se dividiam em dois grupos: os dinâmicos, que ensinavam ser
Cristo Filho de Deus, mas por adoção; e os modalistas, que ensinavam ser Cristo
apenas uma forma temporária da manifestação do único Deus. Tertuliano chamou de
monarquianistas, do grego monarchia, “governo exercido por um único soberano”.
Eram os opositores da doutrina do Logos os alogoi, aqueles que rejeitavam o
Evangelho de João.
Teódoto de Bizâncio, “o curtidor”, discípulo
dos alogoi, aceitava o evangelho de João com certa ressalva, e foi o primeiro
monarquianista dinâmico de importância. Chegou a Roma em 190, mas foi
excomungado em 198. Ele ensinava ser Jesus um homem e nada mais, que nasceu de
uma virgem e teve uma vida santa, pois o Espírito Santo sobre ele desceu por
ocasião do seu batismo no rio Jordão. Alguns dos discípulos de Teódoto
rejeitavam qualquer direito divino em Jesus, mas outros afirmavam que Jesus
teria se tornado divino, em certo sentido, por ocasião da sua ressurreição.
O mais famoso monarquianista dinâmico foi Paulo
de Samosata, bispo de Antioquia entre 260 e 272. Ele dizia que o Logos e o
Espírito Santo eram qualidade divinas, e não Pessoas; e mais: “o poder do Logos
habitara em Jesus como num vaso, como nós habitamos nossas casas. A unidade que
Jesus tinha com Deus era da vontade e do amor; não de natureza” (TILLICH, 2004,
p. 82). Paulo de Samosata foi considerado herege por negar a natureza divina de
Cristo e terminou excomugado em 269, depois de suas ideias serem examinadas por
três sínodos.
Os monarquianistas modalistas não negavam a
divindade do Filho nem a do Espírito Santo, mas, sim, a distinção destas
Pessoas, o que é diametralmente oposto aos ensinos do Novo Testamento, que
ensina a unidade composta de Deus em três Pessoas distintas. Os modalistas
pregavam a unidade absoluta de Deus, coisa que nem mesmo o Antigo Testamento
ensina, e para apoiar tal ensino mutilaram os textos neotestamentários. Seus principais
representantes foram Noeto, Práxeas e Sabélio (ver capítulo anterior). Hipólito
de Roma (170-236) rebateu essas crenças em sua obra Refutação de todas as heresias.
O Concílio de Niceia
Os credos anteriores ao século 4 tiveram
caráter local e estavam relacionados ao batismo na preparação catequética, cuja
autoridade procedia da igreja local de onde o documento se originava; são os
chamados credos sinodais. O embrião do Credo dos Apóstolos vem do final do
século II; contudo, não se tornou universal antes do Concílio de Niceia.
O Credo Niceno é a primeira fórmula
publicada por um concílio ecumênico e a primeira a possuir status de valor
universal em sentido legal. O documento é resultado da chamada controvérsia
ariana que começou no ano 318 em Alexandria, no Egito. O confronto girava em
torno da consubstancialidade do Filho com o Pai. Ário (256-336), um presbítero
do distrito de Baucale, em Alexandria, Egito, desencadeou a maior controvérsia
do cristianismo a ponto de até a política dos imperadores ter sido envolvida na
questão.
A ideia dominante de Ário era norteada pelo
princípio monoteísta esboçado pelo monarquianismo dinâmico. Existe um só Deus
não-gerado, dizia, um único Ser não-originado, sem nenhum começo de existência.
O Filho tivera começo e teria sido criado do nada antes de o Pai haver criado o
mundo. Assim, Ário se negava a reconhecer a deidade do Filho e a sua
consubstancialidade com o Pai, reduzindo-o à condição de mera criatura. A
palavra de ordem e o refrão cantado por ele e seus partidários era: “Houve
tempo em que o Filho não existia”. É o mesmo ensino das atuais testemunhas de
Jeová.
Ário foi cortado da comunhão da Igreja por
Alexandre, bispo de Alexandria, e isso provocou o protesto de seus partidários.
Ário se apegava a algumas passagens bíblicas que julgava favorecer sua
interpretação, como (Pv 8.22 – LXX; Jo 14.28; 17.3; At 2.36; Cl 1.15; Hb 3.2).
Ele pouco se ocupou do Espírito Santo, mas dizia que era também criatura. Em
Contra os arianos, Atanásio refutou os argumentos arianistas depois do Concílio
de Niceia, comentando cada passagem bíblica citada aqui.
Da lavra de Ário é a obra Thalia, “Banquete”,
exposição de sua doutrina escrita em versos e talvez em prosa, da qual alguns
fragmentos foram preservados nas obras de Atanásio. Ário escreveu ainda uma
carta destinada a Eusébio de Nicomédia, na qual afirma: “Somos perseguidos
porque dizemos que o Filho tem um começo, enquanto Deus é sem começo”; e outra
a Alexandre, bispo de Alexandria. Posteriormente ele enviou uma confissão de fé
ao Imperador Constantino. Entre seus partidários, citamos Eusébio de Nicomédia,
e principalmente Astério, o Sofista, que esteve ao lado de Ário desde o início
da controvérsia e escreveu a obra Syntagmation, uma exposição resumida da
doutrina ariana, da qual alguns fragmentos foram preservados por Atanásio em
Contra os arianos I.5, 3; 11, 1.
A fonte da teologia de Ário não é muito clara.
Ele não reivindicou originalidade para suas ideias. Mas sabe-se que Luciano,
falecido em 312 numa perseguição imperial, fundou uma escola catequética em
Antioquia e foi discípulo de Paulo de Samosata. Eusébio de Nicomédia é descrito
como discípulo de Luciano. Segundo J. N. D. Kelly, Ário e Eusébio de Nicomédia
eram “lucianistas” (KELLY, 2009, p. 174). Luciano era monarquianista dinâmico e
esteve fora da comunhão da Igreja por três bispos sucessivos porque adotava a
teologia de Paulo de Samosata. Os principais líderes do arianismo foram todos
discípulos de Luciano. Assim, o pensamento teológico de Ário provavelmente
teria vindo de Paulo de Samosata por meio de Luciano.
Essa controvérsia chamou a atenção do povo e
também ganhou conotação política, considerada hoje a maior controvérsia da
história da Igreja Cristã. O imperador Constantino considerava que uma igreja
dividida era uma ameaça, pois esperava ser o cristianismo “o cimento do
império”. Ele enviou mensageiros liderados por Ósio, bispo de Córdoba e seu
conselheiro espiritual, com o propósito de uma conciliação, mas não houve resultado.
Ósio explicou ao imperador a profundidade do problema, e assim Constantino
convocou um concílio na cidade de Niceia, na Bitínia, região que é citada no
Novo Testamento (At 16.7; 1 Pe 1.1), na Ásia Menor, hoje Isnik, Turquia. A
reunião começou em 19 de junho de 325, com a participação de 318 bispos
provenientes do Oriente e do Ocidente.
Entre os participantes do Concílio, estava
presente um pequeno grupo de arianistas convictos, liderados por Eusébio de
Nicomédia, pois Ário não era bispo e não tinha direito de participar das
deliberações. De outro lado, estava presente um pequeno grupo, liderado por
Alexandre, bispo de Alexandria, acompanhado do diácono Atanásio, vindo a
tornar-se, posteriormente, notável pela vigorosa defesa da ortodoxia cristã. O
concílio contava ainda com uns três bispos patripassianistas e, fora essas
minorias, a maior parte era formada por bispos procedentes do Ocidente, de fala
latina, sem interesse no que eles chamavam de especulações teológicas, pois se
davam por satisfeitos com a formulação trinitária de Tertuliano.
As fontes primárias são de testemunhas
oculares: alguns fragmentos de Eustáquio de Antioquia, alguns capítulos das
obras de Atanásio e a famosa carta de Eusébio de Cesareia (KELLY, 2012, p.
255). Eusébio de Nicomédia expôs na assembleia a doutrina ariana, pois tinha
convicção absoluta de que, após sua apresentação, todo o concílio o apoiaria,
aceitando como correto o pensamento de Ário; porém, grande foi a sua decepção
quando o plenário se manifestou com indignação ao ouvir a ideia arianista de
considerar o Filho de Deus como criatura. Alguns chegaram a arrebatar e rasgar
o seu discurso em pedaços em meio a gritos de “Blasfêmia! Mentira! Heresia!”.
Eusébio de Cesareia, autor da proposta de formular um credo, sugeriu o Credo de
Cesareia, alegando ter recebido o texto de seus predecessores. Era um credo
local usado para o discipulado dos candidatos ao batismo.
A esse credo, com a aprovação do imperador e
talvez por sua sugestão, acrescentaram-se as palavras ousía e homooúsios,
“substância” “consubstancial”, aplicadas a Cristo. Assim o Credo de
Cesareia foi modificado, tornando-se o conhecido Credo de Niceno, depois de
ampliado em 381 no I Concílio de Constantinopla.
Credo de Cesareia
Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador
de todas as coisas visíveis e invisíveis; Em um só Senhor Jesus Cristo, Verbo
de Deus, Deus de Deus, Luz de Luz, Vida de Vida, Filho Unigênito, Primogênito
de toda a criação, por quem foram feitas todas as coisas; o qual foi feito
carne para nossa salvação e viveu entre os homens, e sofreu, e ressuscitou ao
terceiro dia, e subiu ao Pai e novamente virá em glória para julgar os vivos e
os mortos.
Cremos também em um só Espírito Santo.
Cremos também em um só Espírito Santo.
Credo de Niceia
Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador
de todas as coisas visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo [Filho de Deus,
o Unigênito do Pai, que é da substância do Pai], Deus de Deus, Luz de Luz
[verdadeiro Deus de verdadeiro Deus], gerado, não feito [consubstancial com o
Pai], por meio de quem todas as coisas vieram a existir, as coisas que estão no
céu e as coisas que estão na terra, que por nós homens e por nossa salvação
[desceu e
foi feito carne, e se fez homem], sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, e virá para julgar os vivos e os mortos.
E [cremos] também no Espírito Santo.
foi feito carne, e se fez homem], sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, e virá para julgar os vivos e os mortos.
E [cremos] também no Espírito Santo.
Mas aqueles que dizem: “Houve um tempo quando
ele não era”; e “Ele não era antes de ter nascido”; e “Ele foi feito do que não
existe”, ou “Ele é de outra substância” ou “essência”, ou “O Filho de Deus é
criado”, ou “mutável”, ou “alternável” – eles são condenados pela Igreja cristã
e apostólica”.
As
expressões em itálico entre colchetes [ ] foram acrescidas ao Credo.
O credo aprovado em Niceia era decisivamente
antiarianista. Só havia duas opções, assinar o documento ou ir para o exílio.
Somente dois bispos não assinaram: Segundo de Ptolemaida e Teonas de Marmarica.
Até Eusébio da Nicomédia, arianista, assinou o credo elaborado nesse concílio,
alegando ter subscrito o texto com o termo homoioúsios “de substância
semelhante”, e não homooúsios,9 “da mesma substância”.
O propósito fundamental dos autores do texto do
Credo Niceno foi rechaçar definitivamente a heresia arianista. Isso é evidente
no uso do termo “da substância do Pai”, em grego, ousías tou patrós, ou seja,
da mesma essência, do mesmo tipo do Pai, que é uma clara resposta ao pensamento
central de Ário; e também no emprego da frase: “consubstancial com o Pai”, em
grego, homooúsion tō patrí, que significa “da mesma substância com o Pai”,
qualificando a unidade de essência do Pai e do Filho. Outra evidência
inconfundível é o anátema da última cláusula. A inserção desses termos no Credo
somada à inclusão do anátema foram um golpe mortal contra os arianistas, mas as
controvérsias não terminaram aí.
O período pós-Niceia
O documento aprovado em Niceia tornou-se ponto
de partida ao invés de ponto de chegada. A controvérsia prosseguiu por três
razões principais: a inclusão do termo homooúsios no texto, a indefinição sobre
a identidade do Espírito Santo (assunto do capítulo seguinte) e a volta do
arianismo.
Em Niceia ficou dito que o Filho é homooúsios,
do grego, significando “da mesma essência, substância”, consubstancial com o Pai. Os opositores da fé
nicena faziam duras críticas: uns acusavam o Credo de sabelianismo; outros,
alegavam que o termo não é bíblico, pois não aparece nas Escrituras. Eusébio de
Cesareia não esconde a sua decepção pela inclusão de homooúsios no documento na
sua longa carta enviada aos seus subordinados da região de Cesareia que se
aproveitaram do vasto significado do termo, querendo convencê-los de que não se
tratava da consubstancialidade.
Muitos movimentos controvertidos surgiram nos
60 anos que se seguiram ao Concílio de Niceia, como os anomoeanos, os homoeanos
e os homoiousianos, entre outros. Os anomianos, do grego anómoios, “diferente”,
eram os arianos radicais, pois diziam que “o Filho é diferente do Pai em todos
os aspectos”. Os homoeanos, do grego hómoios, “similar”, diziam que o
relacionamento entre o Pai e o Filho era de similaridade. Seus expoentes eram
arianos convictos.
Outro grupo expressivo eram os homoiousianos,
do grego homoioúsios, “de substância semelhante”, pois diziam que o Filho era
de substância semelhante ao Pai. Eram um meio-termo entre Ário e a Declaração
de Niceia. Em 358, liderado por Basílio de Ancira, um sínodo reunido nessa
cidade aprovou a primeira fórmula homoiousiana. O texto afirma que o Filho está
muito próximo do Pai, e não entre as criaturas, mas não é da mesma substância,
mas sim são duas substâncias, ousíai. Em Niceia ficou dito que o Filho é
homooúsios, “da mesma essência, substância”, consubstancial com o Pai. A letra
“i” no termo homoioúsios fazia a grande diferença. Em homooúsios, o Filho é
consubstancial com o Pai; no entanto, em homoioúsios o Filho é de substância
semelhante ao Pai.
I Concílio de Constantinopla
O imperador Teodósio I tomou posse em 379 e no
ano seguinte estabeleceu só a confissão nicena. Em novembro do ano 380, o
imperador substituiu o patriarca ariano de Constantinopla, Demófilo, por
Gregório de Nazianzo. Mas nenhum imperador ou bispo poderia sozinho, por autoridade
própria, estabelecer normas de fé que tivessem validade para toda a Igreja. Era
necessário um concílio universal, ou seja, ecumênico. A defesa da fé nicena
apresentada por Atanásio e pelos pais capadócios foi estudada no capítulo
anterior. O pensamento desses teólogos foi considerado no Concílio de
Constantinopla, realizado a pedido do imperador Teodósio I com a participação
de 150 bispos, entre eles Gregório de Nazianzo, Gregório de Nissa e Cirilo de
Jerusalém. Esse é considerado pelo Concílio de Calcedônia, 451, o segundo
grande concílio ecumênico da Igreja.
Credo de Niceia
Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador
de todas as coisas visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus,
o Unigênito do Pai, que é da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz,
verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, consubstancial com o
Pai, por meio de quem todas as coisas vieram a existir, as coisas que estão no
céu e as coisas que estão na terra, que por nós homens e por nossa salvação
desceu e foi feito carne, e se fez homem, sofreu, e ressuscitou ao terceiro
dia, subiu aos céus, e virá para julgar os vivos e os mortos.
E [cremos] também no Espírito Santo. Mas
aqueles que dizem: “Houve um tempo quando ele não era”; e “Ele não era antes de
ter nascido”; e “Ele foi feito do que não existe”, ou “Ele é de outra
substância” ou “essência”, ou “O Filho de Deus é criado”, ou “mutável”, ou
“alternável” – eles são condenados pela Igreja cristã e apostólica”.
Credo Niceno-Constantinopolitano
Cremos em um só Deus, Pai Todo-Poderoso,
Criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho
Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos, luz de luz,
verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, da mesma substância do
Pai, por meio do qual todas as coisas vieram a ser; o qual, por nós, os homens
e pela nossa salvação desceu dos céus e se encarnou do Espírito Santo e da
Virgem Maria e se fez homem e foi por nós crucificado sob Pôncio Pilatos e
padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e
subiu aos céus e está sentado à direita do Pai e virá de novo, com glória a
julgar vivos e mortos; e o seu reino não terá fim.
E no Espírito Santo, o Senhor e Doador da vida,
que procede do Pai e do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e
glorificado, que falou por meio dos profetas.
E em uma só Igreja santa, cristã e apostólica.
Confessamos um só batismo para perdão dos
pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro. Amém.
Esse documento é o reconhecimento da fórmula
teológica aprovada em Niceia em 325, com algumas modificações, acréscimos e
cortes. A comissão revisora retirou o termo homooúsios, que trouxe mais
problema do que solução, sem, contudo, eliminar a consubstancialidade do Filho
com o Pai. Procurou seguir uma linguagem próxima da Bíblia. Introduziu no texto
parte do Credo dos Apóstolos. Definiu a identidade e a obra do Espírito Santo
com Deus igual ao Pai e ao Filho, além de informações eclesiológicas e dos
anátemas do Credo Niceno, que foram cortados do texto. Os debates teológicos
que sacudiam a Igreja precisavam de um fim. De fato, o Concílio pôs fim a quase
meio século de domínio político e teológico ariano no Ocidente. A causa ariana
estava agora irremediavelmente perdida.
O Credo Niceno-Constantinopolitano é um dos
mais importantes da igreja cristã. De todos os credos ecumênicos, esse é
apresentado como universalmente aceito. O Credo dos Apóstolos é puramente
ocidental; no entanto, o Constantinopolitano foi admitido como obrigatório no
Oriente e no Ocidente a partir de 451 até a atualidade.
O Concílio de Calcedônia
Um monge de Constantinopla chamado Êutico ou
Eutique expôs a doutrina monofisita e foi condenado numa reunião do Sínodo
Permanente de Constantinopla em 448. “Em termos históricos, ele é considerado
fundador de uma forma extremada e praticamente docética de monofisismo,
ensinando que a humanidade do Senhor havia sido totalmente absorvida por sua
divindade” (KELLY, 2009, p. 250). O termo “monofisismo” vem de duas palavras
gregas: monos, “único”, e physis, “natureza”. É a doutrina que defende uma
única natureza de Cristo, só a divina ou a divina e a humana amalgamada. Esse
era o pensamento radical ensinado pela escola alexandrina. Mas Roma e Antioquia
discordavam dessa ideia.
A questão no momento girava em torno das duas
naturezas de Cristo. Hilário de Poitiers (316-367) escreveu: “Em virtude das
duas naturezas unidas em Um, é um sujeito que tem duas naturezas, de tal sorte
que de nada carece em nenhuma das duas. Ao nascer como Homem, não deixa de ser
Deus e, porque continua a existir como Deus, não deixa de ser Homem” (Tratado
sobre a Santíssima Trindade, 9.3). Mais adiante, ele declara: “No Senhor Jesus
Cristo, deve considerar uma Pessoa que tem duas naturezas” (Tratado sobre a
Santíssima Trindade, 9.14). Esse pensamento Tertuliano havia precocemente
ensinado com mais de 200 anos de antecedência, no ano 213 para ser mais
preciso: “Nós vemos claramente o duplo estado, que não nos confunde, mas é
unido em uma Pessoa, Jesus, Deus e homem” (Contra Práxeas, XXVII). Assim, é
correto afirmar que a ideia contida no Tomo de Leão, o Bispo de Roma, Leão I,
nada tinha de original e foi decisiva para a realização do Concílio de
Calcedônia, hoje um bairro de Istambul, Turquia, chamado Kadikoy.
Videmus duplicem statum, non confusum se
coniunctum in una persona, Deum et hominem Iesum (Adversus Praxean, XXVII).
As reuniões da Calcedônia se iniciaram em 8 de
outubro de 451, com mais de 500 representantes, e Roma foi representada por
legados. A maioria era contra a elaboração de um novo credo e se dava por
satisfeita em reafirmar a fé nicena. Mas os comissários imperiais sabiam que,
para que o concílio tivesse resultados, era necessário elaborar uma fórmula
assinada por todos. Ficou definido o seguinte: o Credo Niceno é solenemente
aceito como padrão de ortodoxia, ao seu lado o Credo
Niceno-Constantinopolitano, o reconhecimento de duas cartas de Cirilo e o Tomo
de Leão e por fim a confissão formal, conhecido como o Credo de Calcedônia.
Assim ficou definida de uma vez para sempre a doutrina das duas naturezas de
Cristo, plenamente humana e perfeitamente divina, e ambas as naturezas
permanecem intactas.
Credo de Calcedônia
Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente
unânimes, ensinamos que se deve confessar que nosso Senhor Jesus Cristo é o
mesmo e único Filho, perfeito quanto à divindade e perfeito quanto à
humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma
racional e de corpo consubstancial ao Pai, segundo a divindade, e
consubstancial a nós, segundo a humanidade; em todas as coisas semelhante a
nós, exceto no pecado, gerado, segundo a divindade, antes dos séculos pelo Pai
e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria,
a portadora de Deus [Theotókos]. Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor,
Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e
imutáveis, inseparáveis e indivisíveis. A distinção de naturezas de modo algum
é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza
permanecem intactas, concorrendo para formar uma só Pessoa e subsistência; não
dividido ou separado em duas Pessoas, mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus
Verbo, Jesus Cristo Senhor, conforme os profetas outrora a seu respeito
testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo ensinou-nos e o credo dos pais
transmitiu-nos.
O pensamento de Roma saiu vencedor, e o Oriente
ficou desapontado com a decisão. Os delegados de Alexandria não assinaram a
declaração final. A reação oriental contra a Calcedônia contribuiu para a
divisão entre Oriente e Ocidente. Jacó Baradeus e seus seguidores rejeitaram a
decisão desse Concílio. A igreja nacional da Síria é conhecida como jacobita.
Ainda hoje o monofisismo é mantido nas igrejas cóptica, armênia, abissínia e
jacobitas.
“Unigênito
Monogenes é usado cinco vezes, todas nos
escritos do apóstolo João, acerca de Jesus como o Filho de Deus; em Hebreus
11.17 é traduzido por ‘unigênito’, sobre a relação de Isaque com Abraão.
Com referência a Jesus, a frase ‘o Unigênito do
Pai’ (Jo 1.14), indica que, como o Filho de Deus, Ele era o representante
exclusivo do Ser e caráter daquele que o enviou. No original, o artigo definido
está omitido tanto antes de ‘Unigênito’ quanto antes de ‘Pai’, e sua ausência
em cada caso serve para enfatizar as características referidas nos termos
usados. O objetivo do apóstolo João é demonstrar que tipo de glória ele e seus
companheiros apóstolos tinham visto. Sabemos que ele não está fazendo somente
uma comparação com as relações terrenas, pela indicação da preposição para, que
significa ‘de, proveniente de’. A glória era de uma relação única e a palavra
‘Unigênito’ não implica um começo de Sua filiação. Sugere, de fato, a relação,
mas esta deve ser distinguida da geração conforme é aplicada aos homens.
Podemos apenas entender corretamente o termo
‘unigênito’ quando usados para se referir ao Filho, no sentido de relação não
originada. A geração não é um evento no tempo, embora distante, mas um fato independente
do tempo. O Cristo não se tornou, mas necessariamente é o Filho. Ele, uma
Pessoa, possui todos os atributos da deidade pura. Isto torna necessário a
eternidade, o ser absoluto; sobre este aspecto Ele não é ‘depois’ do Pai'” (Dicionário
Vine: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do
Novo Testamento. 14ª Edição. RJ: CPAD, 2011, p.1045).
“A deidade de Cristo inclui sua coexistência no
tempo e na eternidade, com o Pai e o Espírito Santo. Conforme indica o prólogo
de João, o Verbo é eternamente preexistente. O uso do termo ‘Verbo’ (no
grego, Logos) é significativo, visto que Jesus Cristo é a principal
expressão da vontade divina. Ele não é somente o único Mediador entre Deus e a
humanidade (1Tm 2.5), mas foi também o Mediador na criação. Deus, falando,
trouxe o Universo à existência, através do Filho, a Palavra Viva. Porquanto,
‘sem ele nada do que foi feito [na criação] se fez’ (Jo 1.3). Colossenses 1.15
diz que Cristo é a ‘imagem do Deus invisível’. E a passagem de Hebreus 1.1,2
também proclama a grande verdade: Cristo é a mais completa e melhor revelação
de Deus à humanidade. Desde o começo, o Verbo foi a própria expressão de Deus,
e continua a demonstrá-lo. E então, ‘vindo a plenitude dos tempos’ (Gl 4.4), o
‘Verbo se fez carne e habitou entre nós...’ (Jo 1.14).
Antes de
manifestar-se à humanidade dessa nova maneira, o Verbo esteve eternamente em
existência como aquEle que revela a Deus. É bem provável que as teofanias do
Antigo Testamento fossem, na realidade, ‘cristofanias’, visto que em seu estado
preexistente, os encontros com várias pessoas, pode revelar a vontade de Deus,
estaria de pleno acordo com seu ofício de Revelador” (MENZIES, William; HORTON,
Stanley M. Doutrinas Bíblica: Os fundamentos da nossa fé. 10ª Edição.
RJ: CPAD, 2010, p.50).
“Jesus Cristo não somente era pleno Deus, como
pleno ser humano. Ele não era em parte Deus e em parte homem. Antes, era cem
por cento Deus, e, ao mesmo tempo, cem por cento homem. Em outras palavras, Ele
exibia um conjunto pleno tanto de qualidades divinas quanto de qualidades
humanas, numa mesma Pessoa, de tal modo que essas qualidades não interferiram
uma com a outra. Ele há de retornar como ‘esse mesmo Jesus’ (At 1.11).
Numerosas passagens ensinam claramente que Jesus de Nazaré tinha um corpo
verdadeiramente humano e uma alma racional. Eram características de seres
humanos não-caídos (isto é, Adão e Eva), que nEle podiam ser encontradas. Ele
foi, verdadeiramente, o Segundo Adão (1Co 15.45,47). As narrativas dos
evangelhos aceitam automaticamente a humanidade de Cristo. Ele é descrito como
um bebê, na manjedoura, e sujeito às leis humanas do crescimento. Ele aprendeu,
sentia fome, sentia sede e se cansava (Mc 2.15; Jo 4.6). Ele também sofreu
ansiedade e desapontamentos (Mc 9.19); sofreu dor física e mental, e sucumbiu
diante da morte (Mc 14.33,37). Na epístola aos Hebreus há grande cuidado em se
mostrar sua plena identificação com a humanidade (2.9,17; 4.15; 5.7,8 e 12.2).
A verdade, pois, é que na pessoa única do
Senhor Jesus Cristo habitam uma natureza plenamente divina e outra plenamente
humana, sem se confundirem. Ele é, verdadeiramente, pleno Deus e pleno ser
humano, Céu e Terra juntos na mais admirável de todas as pessoas” (MENZIES,
William; HORTON, Stanley M. Doutrinas Bíblica: Os fundamentos da
nossa fé. 10ª Edição. RJ: CPAD, 2010, p.51).
CONCLUSÃO
O Senhor Jesus Cristo é a mais controvertida de
todas as personagens da História porque é o único que é o verdadeiro Deus e o
verdadeiro homem, e a sua verdadeira identidade só é possível pela revelação
(Mt 16.17; 1Co 12.3). Isso revela a sua divindade.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD Adultos - 3º Trimestre de 2017 - Título: A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Livro de Apoio - Comentarista: Esequias Soares
Revista Adultos 3º Trim.2017 - A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Comentarista: Esequias Soares
Revista Adultos 3º Trim.2017 - A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Comentarista: Esequias Soares
9 O termo grego
homooúsios, “consubstancial”, significa ser da mesma substância, da mesma
essência. Trata-se de um adjetivo composto por homós, “igual, comum, idêntico,
o mesmo”, e ousía, “ser, realidade, essência, substância”. Homooúsios aparece
com frequência nos escritos de Atanásio e dos pais capadócios para se referir à
mesma essência ou substância da deidade das três Pessoas da Trindade.
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