“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” 1Co 3.16
A identidade do Espírito Santo
A concepção milagrosa de Jesus de Nazaré é uma
demonstração maravilhosa da divindade do Espírito Santo: “Descerá sobre ti o
Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que
também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35).
Conforme afirma o Credo Niceno-Constantinopolitano, o “Espírito Santo é
Senhor, doador da vida, procedente do Pai. O qual com o Pai e o Filho
juntamente é adorado e glorificado, o qual falou pelos profetas”. Logo, não se
trata de uma energia, ou emanação de alguma força ativa, mas de uma pessoa
divina que age de maneira maravilhosa na vida do ser humano: “E, quando ele
vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo: do pecado, porque
não creem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; e
do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16.8-11). O
Espírito Santo é uma pessoa que confronta o ser humano a fim de convencê-lo a
crer em Jesus; que atua no sentido de gerar nele uma disposição para a retidão,
integridade e santidade; e traz a consciência de que todas as pessoas prestarão
contas a Deus de todos os atos que praticaram no mundo.
O Espírito promove santidade
Não por acaso a expressão “Espírito Santo”
consta nas Escrituras. Ora, a palavra “santo” significa “puro”, “limpo”. Tudo o
que é santo significa que foi separado por Deus para fazer a Sua vontade, pois
se torna propriedade exclusiva de Deus. Nesse sentido, o Espírito é chamado
“Santo” porque Ele é mencionado também nas Escrituras como o Espírito de Deus,
o Espírito do Senhor, o Espírito de santificação (Rm 1.4) para direcionar e
guiar a nossa vida. Assim, pelo Espírito Santo, somos conduzidos a vivermos uma
vida de santidade e pureza. Nele não há mentira, pois revela a verdade sobre
Jesus (Jo 16.14) e sobre nós mesmos (Sl 51.16). Não podemos mentir ao Santo
Espírito, Ele conhece tudo em nossa vida e discerne o desejo do nosso coração
(At 5.1-6). Ele é Santo e Verdadeiro!
Atuação do Espírito em nossa consciência
Quão imensuráveis são
as maldades humanas?! Sem o auxílio divino, é impossível que a pessoa retroceda
em suas maldades. Mas o Espírito Santo não descansa em trabalhar em nossa
consciência, procurando que ela não se cauterize, isto é, fique indiferente aos
seus apelos (1Tm 4.1-3). O Santo Espírito age para nos purificar e, assim,
experimentarmos o maravilhoso perdão de Deus, fruto do seu amor por nós. Revista Ensinador Cristão nº71
Cremos que o Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, Senhor e Vivificador, que convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo, regenera o pecador, e que falou por meio dos profetas.
Leitura Bíblica: João 14.15 - 18,26
As Escrituras Sagradas revelam a identidade do
Espírito Santo, sua deidade absoluta e sua personalidade, sua
consubstancialidade com o Pai e o Filho como Terceira Pessoa da Trindade e suas
obras no contexto histórico-salvífico. Todos esses dados da revelação só foram
definidos depois do Concílio de Niceia. A formulação da doutrina pneumatológica
aconteceu tardiamente na história da Igreja, na segunda metade do século IV. A
presente lição pretende explicar e mostrar como tudo isso aconteceu a partir da
Bíblia.
Cremos que o Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
“O Antigo Testamento manifestou
claramente o Pai e, obscuramente, o Filho. O Novo manifestou o Filho e,
obscuramente, indicou a divindade do Espírito Santo. Hoje, o Espírito habita
entre nós e se dá mais claramente a conhecer” (Gregório de Nazianzo). Embora o
Credo Niceno termine com as seguintes palavras: “Cremos também em um só
Espírito Santo”, não há informações sobre a identidade do Espírito Santo.
Segundo Gregório de Nazianzo, a revelação das três Pessoas da Trindade foi
gradual. Uma vez definida a cristologia em Niceia, faltava agora definir a
doutrina da terceira Pessoa da Trindade. Esse tema só foi concluído depois da
segunda metade do século IV.
Segundo Stanley M. Horton, a doutrina do
Espírito Santo nunca havia recebido um tratamento justo nos tratados de
teologia antes do Avivamento da Rua Azusa: “Os antigos compêndios de teologia
sistemática, em sua maioria, não possuem nenhum capítulo sobre pneumatologia”
(HORTON, 2001, p. 9). Eruditos, durante e depois do Avivamento da Rua Azusa,
empreenderam vários estudos sobre o Espírito Santo, sobre o batismo no Espírito
Santo, sobre a glossolalia e sobre os dons do Espírito Santo. Obtiveram avanços
significativos. A erudição não anula o fervor espiritual da fé cristã
pentecostal.
É o Senhor Jesus o centro da mensagem pregada
pelas Assembleias de Deus. Ainda há entre os evangélicos quem diga que a ênfase
é o Espírito Santo acima de Jesus. O Pr. George Wood, presidente da Convenção
Americana das Assembleias de Deus, numa entrevista à revista Christianity
Today, edição de 29 de junho de 2015, fala em quatro grandes erros a respeito
das Assembleias de Deus: 1) a crença no Cânon aberto, 2) a ênfase do Espírito
Santo acima de Jesus, 3) a prática espiritual elitista e 4) a teologia da
prosperidade. Ele rebate cada ponto explicando a fé assembleiana.
O
ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS SAGRADAS
Sua
divindade
O Espírito Santo é chamado de Senhor nas
Escrituras Sagradas: “Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está Espírito do
Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3.17 – ARA). Os nomes Deus e Espírito Santo
aparecem alternadamente na Bíblia: “Porque encheu Satanás o teu coração, para
que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? ...
Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5.3, 4). Veja que Deus e o Espírito
Santo aqui são uma mesma divindade. Primeiro o apóstolo Pedro diz que Ananias
mentiu ao Espírito Santo, e depois o mesmo Espírito é chamado de Deus. O
apóstolo Paulo também emprega esse tipo de linguagem: “Não sabeis vós que sois
o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16). Isso vem
desde o Antigo Testamento: “O Espírito do SENHOR falou por mim, e a sua palavra
esteve em minha boca. Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou”
(2 Sm 23.2, 3). Da mesma forma o Espírito Santo é chamado de “Javé” ou “SENHOR”
nas nossas versões de Almeida. Compare ainda Juízes 15.14; 16.20 e Números
12.6; 2 Pedro 1.21.
Jesus prometeu dar aos seus discípulos “outro
Consolador” (Jo 14.16). A palavra “outro” aqui corresponde ao original grego
allos, que significa “outro”, mas da mesma natureza, da mesma espécie e da
mesma qualidade.
Segundo A. T. Robertson, “outro da mesma classe
(allon, não héteron)” (ROBERTSON, vol. 5, 1990, p. 279). O termo grego para “Consolador”
é paráklētos, que significa “ajudador”, “alguém chamado para auxiliar”, um
“advogado”. Essa mesma palavra aparece em 1 João 2.1 com este significado:
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis: e, se alguém
pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”. Em outras
palavras, Jesus dizia aos seus discípulos que estava voltando para o Pai, mas
que continuaria cuidando da Igreja, pelo seu Espírito Santo, seu Paraklētos, um
como ele, que teria o mesmo poder para preservar o seu povo.
São inúmeras as obras de Deus efetuadas pelo
Espírito Santo. Ele gerou a Jesus Cristo (Lc 1.35), dá a vida eterna (Gl 6.8) e
guia o seu povo (Is 63.14; Rm 8.14; Gl 5.18), pois é o Senhor da igreja (At
20.28) e o santificador dos fiéis (1 Pe 1.2). O Espírito habita nos crentes (Jo
14.17), é autor do novo nascimento (Jo 3.5, 6), dá a vida (Ez 37.14; Rm 8.11),
regenera (Tt 3.5) e distribui os dons espirituais (1 Co 12.7-11).
A divindade do Espírito Santo é revelada na
Bíblia, por meio de seus atributos divinos, como acontece com o Senhor Jesus
Cristo. Ele é onipotente (Rm 15.19) e fonte de poder e milagres (Mt 12.28; At
2.4; 1 Co 12.9-11). A onipresença é outro atributo incomunicável de Deus
presente na terceira Pessoa da Trindade, o que mostra ser ele onipresente (Sl
139.7-10). Por ser onisciente, Ele conhece todas as coisas, até as profundezas
de Deus (1 Co 2.10, 11), o coração do homem (Ez 11.5; Rm 8.26, 27; 1 Co 12.10;
At 5.3-9) e o futuro (Lc 2.26; Jo 16.13; At 20.23; 1 Tm 4.1; 1 Pe 1.11). Possui
também o atributo da eternidade, pois é chamado de “Espírito eterno” (Hb 9.14).
A palavra asseidade advém do latim aseitatis, que vem de dois termos – a se
significa “por si” ou “autocausado”, ou seja, diz respeito à existência por si
mesmo e serve para designar o atributo divino segundo o qual Deus existe por si
próprio. Assim como o Pai e o Filho, o Espírito Santo é autoexistente, ou seja,
não depende de nada fora de si para existir. Ele sempre existiu. É o Criador do
homem e do mundo (Jó 26.13; 33.4; Sl 104.30) e, também, o Salvador (Ef 1.13;
4.30; Tt 3.4, 5).
A Palavra de Deus apresenta, de igual modo,
seus atributos comunicáveis, como a santidade, pois o Espírito Santo é santo
(Rm 15.16; 1 Jo 2.20). Essa santidade do Espírito é única e real, absoluta e
perfeita; não se trata, pois, de uma santidade cerimonial, mas de algo inerente
à sua natureza. Ele é a verdade (1 Jo 5.6), é sábio (Is 11.2; Jo 14.26; Ef
1.17), bom (Ne 9.20; Sl 143.10) e verdadeiro (Jo 14.17; 15.26; 16.13; 1 Jo
5.6).
Sua
personalidade
A personalidade do Espírito Santo está presente
em toda a Bíblia de maneira abundante e inconfundível e tem sido crença da
Igreja desde o princípio. Há nele elementos constitutivos da personalidade,
como o intelecto; ele penetra todas as coisas (1 Co 2.10, 11) e é inteligente
(Rm 8.27). Ele tem emoção, sensibilidade (Rm 15.30; Ef 4.30) e vontade (At
16.6-11; 1 Co 12.11). As três faculdades – intelecto, emoção e vontade –
caracterizam a personalidade.
Os substantivos gregos apresentam três gêneros:
masculino, feminino e neutro. O termo grego pneuma, usado amplamente no Novo
Testamento para “espírito”, é substantivo neutro. O pronome demonstrativo na
frase: “aquele Espírito da verdade” (Jo 15.26; 16.13) e o pessoal, em “Ele me
glorificará” (Jo 16.14) estão no masculino. Isso revela a personalidade do
Espírito Santo.
Outra prova da personalidade do Espírito Santo
é que ele reage a certos atos praticados pelo homem. Pedro obedeceu ao Espírito
Santo (At 10.19, 21); Ananias mentiu ao Espírito Santo (At 5.3); Estêvão disse
que os judeus sempre resistiram ao Espírito Santo (At 7.51); o apóstolo Paulo
nos recomenda não entristecer o Espírito Santo (Ef 4.30); os fariseus
blasfemaram contra o Espírito Santo (Mt 12.29-31); os cristãos são batizados em
seu nome (Mt 28.19).
A Bíblia revela os atributos pessoais do
Espírito Santo.
Ele ensina (Jo 14.26), fala (Ap 2.7, 11, 17), guia (Rm 8.14; Gl
5.18), clama (Gl 4.6), convence (Jo 16.7, 8), testifica (Jo 15.26; Rm 8.16),
escolhe obreiros (At 13.2; 20.28), julga (At 15.28), advoga (Jo 14.16; At
5.32), envia missionários (At 13.2-4), convida (Ap 22.17), intercede (Rm 8.26),
impede (At 16.6, 7), se entristece (Ef 4.30) e contende (Gn 6.3).
O Espírito é do Pai
(1 Co 2.12; 3.16) e do Filho (At 16.7; Gl 4.6).
Filioque é um termo latino que
significa literalmente “e do filho”, usado em teologia para indicar a dupla
processão do Espírito Santo, do Pai e do Filho (Jo 15.26; 20.22). A divindade
possui uma só essência ou substância indivisível, e Pai, Filho e Espírito Santo
são três hipóstases, ou seja, “forma de existir”. Usa-se comumente na teologia
o termo “Pessoa” por falta de uma palavra mais precisa na linguagem humana para
descrever cada uma dessas identidades conscientes. Quando se fala a respeito do
Espírito Santo como terceira Pessoa da Trindade, isso não significa terceiro
numa hierarquia, mas porque aparece em terceiro lugar na fórmula batismal:
“batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). As três
hipóstases ou Pessoas são iguais em poder, glória e majestade, e não há entre
elas primeiro e último.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“O divino Consolador tem pleno poder sobre
todas as coisas. Ele tem poder próprio. É dEle que flui a vida, em suas
dimensões e sentidos bem como o poder de Deus (Sl 104.30; Ef 3.16). Isso é uma
evidência da deidade do Espírito Santo. Ele tem autoridade e poder inerentes,
como vemos em toda a Bíblia, máxime em o Novo Testamento.
Em 1 Coríntios 2.4, na única referência (no
original) em que aparece o termo traduzido por ‘demonstração do Espírito
Santo’, designa-se literalmente uma demonstração operacional, prática e
imediata na mente e na vida dos ouvintes do evangelho de Cristo. E isso ocorre
pela poderosa ação persuasiva e convincente do Espírito, cujo efeitos
transformadores foram visíveis e incontestáveis na vida dos ouvintes de então,
confirmando o evangelho pregado pelo apóstolo Paulo (1Co 2.4,5)” (GILBERTO,
Antonio. Teologia Sistemática Pentecostal. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2008,
p.175).
HISTÓRIA
DA DOUTRINA PNEUMATOLÓGICA
Período Pré-niceno
O capítulo 3, sobre a Santíssima Trindade,
explica por que o tema pneumatológico foi deixado de lado antes do Concílio de
Niceia. A discussão era centrada em Jesus e a sua identidade, e a doutrina
sobre o Espírito Santo raramente entrava nos debates. São escassas as
informações a respeito da identidade e das obras do Espírito Santo nos
primeiros pais da Igreja.
As discussões no final do segundo século e no
século seguinte giravam em torno da identidade do Logos, e isso envolvia o
Espírito Santo como a terceira Pessoa da Trindade. O tema dos grupos
adocionistas e modalistas era sobre Deus e o monoteísmo, e nesses debates o
Espírito Santo estava presente, mas sem aprofundamento acerca de sua natureza.
A cristologia ocupou praticamente os debates dos séculos 3 e 4 e quase não
sobrou espaço para a pneumatologia. Não houve discussão a respeito do Espírito
Santo em Niceia.
Orígenes, como visto no capítulo anterior,
defendia uma Trindade influenciada pelo neoplatonismo: “O Filho é coeterno com
o Pai, mas seu poder de ser é pouco inferior ao do Pai. É a mais alta das
realidades geradas, mas menor do que o Pai. O mesmo se diz do Espírito Santo
que age nas almas dos santos” (TILLICH, 2004, pp. 76, 77). No seu comentário
sobre o evangelho de João 1.3, ele afirma que o Espírito Santo é criatura do
Logos. Não há muita coisa sobre o Espírito Santo nos séculos 2 e 3, e de tudo o
que existe, há problemas e, em Orígenes em especial, mais erros do que acertos.
Depois de
Niceia
As controvérsias arianas continuaram. Ário
negava a eternidade do Logos, defendia sua existência antes da encarnação, como
as atuais testemunhas de Jeová, mas negava que ele fosse eterno com o Pai,
insistia na tese de que o Verbo havia sido criado como primeira criatura de
Deus. A palavra de ordem dos arianistas era: “Houve tempo em que o Filho não
existia”. Ário considerava também o Espírito Santo como criatura, embora esse
tema estivesse fora das discussões na época e o os debates se concentrassem no
Filho. Alexandre, bispo de Alexandria, se limitava a manter a antiga afirmação
de que o Espírito Santo inspirou os profetas e apóstolos. Eusébio de Cesareia
emprega a exegese de Orígenes, colocando o Espírito Santo em terceira
categoria, como “um terceiro poder” e como uma das coisas que vieram à
existência por meio do Verbo, na interpretação origeneana sobre João 1.3
(Preparatio Evangelica, 11.21).
Não existia consenso sobre o Espírito Santo no
Oriente nas primeiras décadas depois do Concílio de Niceia. Havia diversas
interpretações. Uns diziam que as Escrituras Sagradas eram vagas sobre o
assunto e por isso preferiam não se pronunciar; outros achavam que Ele era
criatura; outros diziam que era um anjo; e outros, que era um espírito
intercessor entre o Senhor Jesus e os anjos. Havia até triteístas entre eles.
Cirilo de Jerusalém apresenta alguns lampejos
em favor da ortodoxia. Ele escreveu no ano 348 o seguinte: “O Espírito Santo é
um e o mesmo; vivente e subsistente e que sempre está presente com o Pai e o
Filho” (Catequese XVII.5). Cirilo diz ainda que o “Espírito Santo que é honrado
com o Pai e o Filho e que no momento do santo batismo é simultaneamente
incluído na Trindade Santa” (Catequese XVI.4).
Na carta enviada a Serapião, bispo de Tmuis,
cidade do Baixo Egito, Atanásio expõe o seu pensamento a respeito do Espírito
Santo, afirmando que Ele partilha da mesma substância do Pai e do Filho: “O
Espírito Santo é um, as criaturas são muitas e os anjos muitos. Que semelhança
há entre o Espírito e as criaturas? Está claro, portanto, que o Espírito não é
uma das muitas criaturas, nem tão pouco é um anjo. Mas porque ele é um, e ainda
mais por que ele pertence ao Verbo que é um, ele pertence a Deus que é um, e um
consubstancial com ele [homooúsion]” (Carta a Serapião I.27.3).
Aqui Atanásio está dando uma resposta aos
tropicianos. Ele refuta os arianos, os tropicianos e os pneumatomacianos. É
claro e direto ao afirmar que o Espírito Santo é consubstancial com o Pai e com
o Filho. “Em 362, entretanto, por ocasião do Concílio de Alexandria, Atanásio
conseguiu aceitação para a proposição de que o Espírito não é uma criatura, mas
pertence à substância do Pai e do Filho, sendo inseparável dela” (KELLY, 2009,
p. 195).
Os pais
capadócios
Basílio de Cesareia, nos primeiros anos de sua
pesquisa, era amigo e aliado de Eustáquio de Sebaste, líder dos
pneumatomacianos. Contudo, depois de um exame mais preciso sobre o assunto, ele
se encontrou com Eustáquio em Sebaste no ano de 372 e depois voltou a se
encontrar com ele no ano seguinte, mas Eustáquio não concordou com a ideia de
Basílio. Essa ruptura aconteceu em 373. Basílio a essa altura defendia a
ortodoxia nicena e passou a combater os pneumatomacianos. Ele emprega cerca de
460 passagens bíblicas, sem contar as repetições, em seus escritos. O seu
epistolário conta com 366 epístolas. Quem examinou todos os seus escritos
afirma que “em lugar algum o Espírito Santo é chamado Deus, nem Sua
consubstancialidade é afirmada explicitamente” (KELLY, 2009, pp. 196, 197).
Mas, segundo Timothy P. McConnell, em sua obra Illumination in Basil of
Caesarea’s Doctrines of the Holy Spirit (2004), Basílio dispensa a filosofia e
evita termos filosóficos na teologia, preferindo a linguagem próxima da Bíblia.
Basílio defende a divindade do Espírito Santo sem o uso desses termos:
“Glorificamos o Espírito com o Pai e o Filho porque cremos que Ele não é
estranho à natureza divina” (Epístola 159.2); “Quanto às criaturas, recebem de
outrem a santificação, mas para o Espírito a santidade é integrante de sua
natureza. Por conseguinte, ele não é santificado, mas santificador... são
comuns os nomes dados ao Pai, e ao Filho e ao Espírito, que recebe tais
denominações em vista da intimidade entre eles, por natureza” (Tratado sobre o
Espírito Santo, 19.48).
O pensamento de Basílio se resume em três
pontos: “a) o testemunho das Escrituras acerca da grandeza e da dignidade do
Espírito, e do poder e da imensidão de Sua operação; b) sua associação com o
Pai e com o Filho em tudo o que Eles realizam, especialmente na obra de
santificação e glorificação; c) seu relacionamento pessoal tanto com o Pai
quanto com o Filho” (KELLY, 2009, p. 197). A obra Tratado sobre o Espírito
Santo foi o último dos seus escritos e apresenta os desenvolvimentos
doutrinários mais avançados que abriram o caminho para as definições do
Concílio de Constantinopla em 381.
Gregório de Nissa escreveu Sobre a Trindade,
continuação da obra Contra Eunômio, da autoria de seu irmão, e Sobre não três
Deuses, refutação ao heresiarca Ablábio, que defendia o triteísmo considerando
o Pai, o Filho e o Espírito Santo como três Deuses. Ele defendia a unicidade de
natureza partilhada pelas três Pessoas da Trindade e usava Salmos 33.6 com um
dos fundamentos bíblicos: “Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus; e todo
o exército deles, pelo espírito da sua boca”.
Gregório de Nazianzo combateu os mesmos
opositores de seus companheiros Basílio de Cesareia e Gregório de Nissa:
Eunômio e os pneumatomacianos. Ele escreveu com elegância e clareza sobre a
Trindade e, especialmente, sobre o Espírito Santo por meio de epístolas, poemas
e sermões, sendo as Orações ou Discursos Teológicos cincos sermões, numerados
de 27 a 31. Ele foi o mais ousado dos três capadócios. Diz abertamente em alto
e bom som que o Espírito Santo é Deus e consubstancial: “Então o quê? O
Espírito é Deus? Sim, de fato é Deus. Então ele é consubstancial? Sim, é
verdade, pois ele é Deus” (Discurso 31.10). Ele afirma no quinto Discurso
Teológico: “Se houve tempo em que Deus não existia, então houve um tempo em que
o Filho não existia. Se houve um tempo no qual o Filho não existia, então houve
um tempo no qual o Espírito não existia. Se um existiu desde o começo, logo os
três também existiram” (Discurso 31.4).
Foram os pais capadócios que definiram de uma
vez para sempre a doutrina da Trindade aceita e ensinada pelos principais ramos
do cristianismo. Eles completaram a tarefa de Atanásio. A partir deles, ficou
esclarecida a verdadeira identidade do Espírito Santo; no entanto, a processão
ainda está em aberto. Em Gregório de Nazianzo encontra-se sua extraordinária
contribuição para a vitória final da fé nicena. Ele organizou os dados da
revelação divina, registrados nas Escrituras, e afirmou categoricamente que o
Espírito Santo é Deus. O Concílio de Constantinopla, 381, descreveu o Espírito
como Deus e como “o Senhor e provedor da vida, que procede do Pai e é adorado e
glorificado com o Pai e com o Filho”.
Está claro nas Escrituras que ele é o Senhor e
provedor da vida: “O Senhor é o Espírito” (2 Co 3.17); “Porque a lei do
Espírito de vida” (Rm 8.2); “O Espírito é o que vivifica” (Jo 6.63); “e o
Espírito vivifica” (2 Co 3.6); que ele procede do Pai (Jo 15.26); “o Espírito
que provém de Deus” (1 Co 2.12); e que falou pelos profetas (2 Pe 1.21).
O que parece crucial nessa declaração é o fato
de o Espírito Santo ser adorado com o Pai e com o Filho. A frase “adorado e
glorificado com o Pai e com o Filho” vem de Atanásio ao afirmar que o Espírito
Santo: “está unido ao Filho, como está unido ao Pai, ele que é glorificado com
o Pai e o Filho é chamado Deus com o Verbo, e realizando o que o Pai faz
mediante o Filho” (Carta a Serapião I.25.2). E Basílio de Cesareia diz: “... e
constrói as igrejas que confessam a sã doutrina em que o Filho é reconhecido
ser da mesma substância do Pai, e o Espírito Santo é considerado e adorado com
a mesma igualdade de honra” (Epístola, 90.2). Há uma única passagem nas
Escrituras que fala diretamente sobre a adoração do Espírito Santo: “Porque a
circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em
Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3.3). O verbo “servir” aqui é latreuo, e
em o sentido de prestar, culto, adorar, serviço sagrado. A construção grega
aqui ficou ambígua e Agostinho de Hipona afirma que as gerações de cristãos
antes dele adoravam o Espírito Santo com base nessa passagem paulina:
O Espírito Santo não é criatura. Ele, ao qual
todos os santos prestam culto, no dizer do apóstolo: Os verdadeiros
circuncidados somos nós, que servimos ao Espírito de Deus (Fl 3,3). E em grego
estão designados pelo termolatreuontes. Em muitos exemplares de mesmo nos
latinos assim se lê: Que servimos ao Espírito de Deus; assim se encontra também
na maioria ou quase em todos os códices gregos. Em algumas cópias latinas,
porém, o texto não é: Servimos ao Espírito de Deus, mas: Servimos a Deus, no
Espírito (A Trindade, Livro I, 13).
A cláusula grega para “somos nós, que servimos
a Deus no Espírito”, em grego, hoi pneumati theou latreuontes, é ambígua porque
a terminação –ti, no substantivo pneuma, “espírito”, significa tanto “no Espírito”
como também “ao Espírito”, ou ainda “pelo Espírito” e também “com o Espírito”.
A ausência de uma preposição em pneumati deixa o assunto em aberto naquilo que
a gramática grega chama de caso dativo, caso locativo ou caso instrumental. Se
é dativo, a frase significa “nós que adoramos/servimos/prestamos culto ao
Espírito de Deus”. A. T. Robertson reconhece essa possibilidade: “Caso
instrumental, ainda o caso dativo como o objeto de latreuō também tem bom
sentido (adorando ao Espírito de Deus)” (ROBERTSON, tomo 4, 1989, p. 600).
Há absoluta igualdade dentro da Trindade e
nenhuma das três Pessoas está sujeita à outra, como se houvesse uma hierarquia
divina. Existe, sim, uma distinção de serviço, e o Espírito Santo representa os
interesses do Pai e do Filho na vida da Igreja na terra (Jo 16.13, 14). O
Espírito Santo dá prosseguimento ao plano de salvação idealizado pelo Deus Pai
e executado pelo Deus Filho. As três Pessoas estão presentes, atuando cada uma
na sua esfera de atuação, em perfeita harmonia e perfeita unidade.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“O Espírito Santo é Deus
O Espírito Santo não é simplesmente uma
influência benéfica ou um poder impessoal. É uma pessoa, assim como Deus e
Jesus o são.
O Espírito Santo é chamado Deus e Senhor — (At
5.3,4; 2Co 3.18).
Quando Isaías viu a glória de Deus escreveu:
‘Ouvi a voz do Senhor, ... vai e diz a este povo’ (Is 6.8,9). O apóstolo Paulo
citou essa mesma palavra e disse: ‘Bem falou o Espírito Santo a nossos pais
pelo profeta Isaías dizendo: Vai a este povo’ (cf. At 28.25,26). Com isso,
Paulo identificou o Espírito Santo com Deus” (BERGSTÉN, Eurico. Introdução
à Teologia Sistemática. 1ª Edição. RJ: CPAD, 1999, p.97).
“É difícil sugerir que um dos títulos ou
propósitos do Espírito Santo seja mais importante que outro. Tudo o que o
Espírito Santo faz é vital para o Reino de Deus. Há, no entanto, um propósito,
uma função essencial do Espírito Santo, sem a qual tudo que se tem dito a
respeito dEle até agora não passa de palavras vazias: o Espírito Santo é o
penhor que garante a nossa futura herança em Cristo: ‘Em quem [Cristo] também
vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da
promessa; o qual é o senhor da nossa herança, para redenção da possessão de
Deus, para louvor da sua glória’ (Ef 1.13,14)” (HORTON, Stanley. Teologia
Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. 1ª Edição. RJ: CPAD, 1996,
p.401).
CONCLUSÃO
A frase que se refere ao Espírito Santo como
“terceira Pessoa da Trindade” se deve ao fato de seu nome aparecer depois do
Pai e do Filho na fórmula batismal. Não se trata, pois, de hierarquia
intratrinitariana, porque o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus que
subsiste em três Pessoas distintas.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD Adultos - 3º Trimestre de 2017 - Título: A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Livro de Apoio - Comentarista: Esequias Soares
Revista Adultos 3º Trim.2017 - A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Comentarista: Esequias Soares
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