A Trindade é a união de três Pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – em uma só Divindade, sendo iguais, eternas e da mesma substância, embora distintas, sendo Deus cada uma dessas Pessoas. Essa doutrina é um mistério porque vai além da razão, mas não contra a razão, como disse acertadamente Norman Geisler: “É conhecida apenas pela revelação divina, portanto não é assunto da teologia natural, mas da revelação” (GEISLER, 2001, p. 834). A Bíblia declara textualmente que existe um só Deus verdadeiro e, ao mesmo tempo, afirma com a mesma clareza e de maneira direta que Jesus é Deus, mostrando nele todos os títulos divinos, com seus atributos, funções e obras de Deus. E, com o Espírito Santo não é diferente; a Bíblia revela a sua divindade plena. Houve no passado quem defendesse o triteísmo, mas a Igreja nunca reconheceu tal ensino; antes, refutou e combateu essa ideia. O mistério consiste também no fato de o Deus dos cristãos revelado nas Escrituras ser trino e uno sem comprometer o monoteísmo judaico-cristão.
AS DECLARAÇÕES ESCRITURÍSTICAS
A Trindade é uma doutrina com sólidos fundamentos bíblicos e, mesmo sem conhecer essa terminologia, os cristãos do período apostólico reconheciam essa verdade. Essa doutrina está implícita no Antigo Testamento, pois há declarações que indicam claramente a pluralidade na unidade de Deus (Gn 1.26; 3.22; 11.6, 7; Is 6.8). Apesar da ênfase da doutrina monoteísta como o shemá: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4) reafirmada pelo Senhor Jesus (Mc 12.29), o Antigo Testamento mostra que a unidade de Deus não é absoluta. O Novo Testamento revela que essa pluralidade se restringe ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo (Mt 28.19; 1 Co 12.4-6; 2 Co 13.13; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2).
Há ainda várias passagens tripartidas no Novo Testamento que revelam a Trindade (Lc 24.49; Rm 1.1-4; 5.1-5; 14.17, 18; 15.16, 30; 1 Co 6.11; 2 Co 1.20, 21; Gl 3.11-14; Ef 1.17; 2.18-22; 3.3-7, 14-17; 1 Ts 5.18). Além das declarações bíblicas apresentadas aqui, há outras evidências contundentes que fundamentam essa doutrina. Cada uma dessas Pessoas é chamada individualmente de Deus e Senhor. O Deus do cristianismo é um (Gl 3.20), mas as Escrituras ensinam também que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. A Bíblia aplica o nome “Deus” ao Pai sozinho (Fp 2.11), da mesma forma ao Filho (Jo 1.1) e ao Espírito Santo (At 5.3, 4); e, na maioria das vezes, com referência à Trindade (Dt 6.4). Isso também ocorre com o Tetragrama (as quatro consoantes do nome divino YHWH), que se aplica ao Pai sozinho (Sl 110.1), ao Filho (Is 40.3; Mt 3.3) e ao Espírito Santo (Ez 8.1,3). No entanto, aplica-se também à Trindade (Sl 83.18). Salta à vista de qualquer leitor da Bíblia a divindade plena e absoluta de cada uma dessas Pessoas. Foi assim que o Espírito revelou a unidade na Trindade.
As palavras de Jesus sobre a sua própria identidade e as suas ações revelam a sua deidade absoluta. O mesmo pode ser dito sobre as obras e as declarações a respeito do Espírito Santo. O Deus revelado nos evangelhos é trino e uno. A maneira como essa verdade é revelada em Mateus, Marcos, Lucas e João era perfeitamente compreendida pela geração apostólica. Por essa razão, não havia questionamento sobre a triunidade de Deus. Quando o Senhor Jesus apaziguou a tempestade, seus discípulos questionaram: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.41). Eles sabiam que somente Deus possui esse poder (Sl 65.7; 89.9).
O ensino do Senhor Jesus e de seus apóstolos expressava a fé em um só Deus, mas ao mesmo tempo eles ensinavam a deidade absoluta do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A Bíblia revela a triunidade de Deus sem necessitar de definições teológicas, e o destinatário imediato de cada texto bíblico compreendia com clareza meridiana a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.
Não havia ainda necessidade na época de uma confissão de fé elaborada, pois essa linguagem era suficiente para a compreensão dos primeiros cristãos. Até mesmo os opositores da fé cristã, às vezes, entendiam esse discurso. Jesus disse certa vez: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). Os judeus incrédulos entenderam essa mensagem e por essa razão procuraram matar a Jesus, porque “dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18). Esse modo de pensar dos apóstolos era compreensível aos primeiros cristãos e não havia necessidade de explicações adicionais. Não há evidência no Novo Testamento de alguém questionando essa verdade.
A expansão do cristianismo no vasto império romano era geográfica e intelectual (Rm 15.19; Cl 1.6). A pregação do evangelho passou a se defrontar com as diversas tradições gregas e romanas (At 16.21; 17.18-22). Mas a maneira de pensar desses movimentos culturais e intelectuais exigia formulações teológicas precisas e racionais na comunicação da verdade cristã, somando-se a isso o surgimento de seitas e heresias como ebionitas, gnósticos, monarquianistas e arianistas, entre outros. E a simples repetição de passagens bíblicas já não era mais suficiente. Isso exigia da liderança da Igreja definições teológicas racionais.
OS APOLOGISTAS
No que diz respeito à Trindade, os pais da Igreja nos séculos 2 e 3 não tinham uma ideia clara sobre a doutrina, exceto Tertuliano. O conceito trinitariano de Orígenes mostrou-se insatisfatório. Havia muitos conceitos diversificados sobre o Logos,3 e a doutrina do Espírito Santo nem sequer entrou nos debates antes de Niceia.
Os primeiros pais da Igreja que antecederam o Concílio de Niceia sabiam pelos escritos do Novo Testamento e pela experiência das igrejas, a maioria fundada pelos apóstolos ou por alguém vinculado a eles ou mesmo seus sucessores, que os primeiros cristãos cultuavam a Jesus e reconheciam o senhorio de Cristo e do Espírito Santo. Suas explicações não eram muito claras, pois os primeiros escritores cristãos após o período apostólico não tinham uma compreensão mais avançada sobre a essência divina.
Os apologistas e os escritores do século II não discutem a Trindade em seus escritos, embora a fórmula Pai, Filho e Espírito Santo, de forma vaga e imprecisa, apareça com frequência. Justino, o Mártir (100-165), diz que o ministro de culto “louva e glorifica ao Pai do universo através do nome de seu Filho e do Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças” (I Apologia 65.3). Atenágoras de Atenas, numa apologia em favor dos cristãos acusados de ateísmo, dirigida ao imperador Marco Aurélio em 177, apresenta as primeiras articulações teológicas da Trindade: “Quem não se surpreenderá ao ouvir chamar de ateus indivíduos que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e um Espírito Santo, que mostram seu poder na unidade e sua distinção na ordem?” (Petição em Favor dos Cristãos, I.10).
Irineu de Lião, falecido no ano 202, foi discípulo de Policarpo de Ismirna, por sua vez discípulo do apóstolo João. A regula fidei, “regra de fé”, o credo usado na Igreja de Lião (uma cidade na atual França) no tempo de Irineu, diz o seguinte: “Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para a nossa salvação; e no Espírito Santo” (Contra as heresias, livro I 10.1). Mais adiante, ele declara: “Sua Palavra e sua Sabedoria, seu Filho e seu Espírito, estão sempre junto dele... Sua Sabedoria, isto é, o Espírito, estava com ele antes que o mundo fosse feito” (Contra as heresias, livro IV 20.1, 3). Irineu diz ainda em outra obra: “Sem o Espírito Santo é impossível ver o Verbo de Deus e sem o Filho ninguém pode aproximar-se do Pai, porque o Filho é o conhecimento do Pai e o conhecimento do Filho se obtém por meio do Espírito Santo. Mas o Filho, segundo a vontade do Pai, ministra e dispensa o Espírito a quem quer, conforme, como o Pai quer” (Demonstración de la Predicación Apostólica, 7).
Justino, o Mártir, e Irineu de Lião evitam afirmar de maneira explícita que o Espírito Santo é Deus, mas reconhecem a sua divindade, como se vê nos exemplos citados. Nenhum deles escreveu sobre o Espírito Santo, mas este é mencionado com frequência ao lado do Pai e do Filho. Nessas construções trinitárias, o Espírito Santo aparece no mesmo nível do Pai e do Filho e com qualificações divinas plenas, sem, contudo, afirmar de maneira direta que ele é Deus. O que é comum a todos os pais da Igreja, nesse período, é a crença na triunidade de Deus. Todos eles defendiam uma fé trinitariana, ainda que o conceito desse trinitarianismo não seja satisfatório.
TERTULIANO DE CARTAGO
Tertuliano de Cartago, uma cidade do norte da África (155-224), advogado romano de formação intelectual estoica convertido ao cristianismo, tornou-se conhecido como o “Pai do cristianismo latino”. Ele refutou os monarquianistas modalistas, um grupo que não negava a divindade do Filho nem a do Espírito Santo, mas, sim, a distinção destas Pessoas, de modo diametralmente contrário ao ensino das igrejas desde os dias apostólicos. Seus principais representantes foram Noeto, Práxeas e Sabélio.
Noeto era natural de Esmirna e ensinava que “Cristo era o próprio Pai, e o próprio Pai nasceu, sofreu e morreu”. Cipriano (200-258 d.C.), bispo de Cartago, chamou a heresia de Noeto, num tom jocoso, de “patripassionismo” (Epístola 73), do latim Pater, “Pai”, e passus, de patrior, “sofrer”.
Práxeas foi discípulo de Noeto, e a sua doutrina reacendeu no norte da África em 213, através de um dos discípulos de Práxeas, quando Tertuliano começou a sua refutação em Contra Práxeas, texto contendo capítulos. Tertuliano polemizou com esses monarquianistas, dizendo: “Práxeas fez duas obras do diabo em Roma: expulsou a profecia e introduziu a heresia; afugentou o Paracleto e crucificou o Pai” (Contra Práxeas, I). O bispo Sabélio foi o principal expoente do modalismo; ele ensinava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo não eram três Pessoas distintas, mas apenas três aspectos do Deus único. Nos tempos do Antigo Testamento, o Pai se manifestou como Legislador. Nos tempos do Novo Testamento, este Pai era o mesmo Filho encarnado e também fazia o papel de Espírito Santo como inspirador dos profetas.
Foi no combate ao sabelianismo que Tertuliano trouxe uma formulação trinitária melhor e mais compreensível. É dele o termo “Trindade”, trinitas em latim. Ele “foi responsável pela criação de 509 novos substantivos, 284 novos adjetivos e 161 verbos na língua latina” (McGRATH, 2005, p. 375). Sua explicação sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo em uma só divindade preserva o monoteísmo sem comprometer a deidade absoluta das três Pessoas da Trindade. É a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.
Todos são de um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto o mistério da dispensação que distribui a unidade numa Trindade, colocando em sua ordem os três, Pai, Filho e Espírito Santo; três contudo, não em essência, mas em grau; não em substância, mas em forma, não em poder, mas em aparência, pois eles são de uma só substância e de uma só essência e de um poder só, já que é de um só Deus que esses graus e formas e aspectos são reconhecidos com o nome de Pai, Filho e Espírito Santo (Contra Práxeas, II – Grifo é nosso).
Tres autem non statu sed gradu, nec substantia sed forma, nec potestate sed specie, unius autem substabtiae et unius status et unius potestatis, quia unus Deus ex quo et gradus isti et formae et species in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti deputantur (Adversus Praxean, II).
Tertuliano apresenta aqui uma breve interpretação da natureza divina conforme revelada nas Escrituras e no testemunho das igrejas desde a era apostólica. É a primeira fórmula, trinitária que atravessou os séculos. O que ele escreveu aqui vale ainda hoje, apesar das diversas pontas soltas que precisaram ser amarradas posteriormente, mas a sua estrutura da Trindade na unidade e da unidade na Trindade é mantida em Orígenes, Atanásio, nos pais capadócios, em Hilário de Poitiers e em Agostinho de Hipona, entre outros.
O termo mostra o esforço de Tertuliano para provar que a tríplice manifestação revelada na história salvífica é compatível com a unidade substancial de Deus. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são da mesma substância, mas essa essência divina é uma só; a diferença está nas formas, graus e aspectos. Ele emprega o termo latino, unus, ou o seu derivado, unicus, para o verdadeiro Deus do cristianismo. Faz isso na tentativa de afastar a ideia de triteísmo, acusação feita por seus opositores monarquianistas. Ele usa ainda outra palavra, unitas, derivado do verbo unire, que “significa a unidade interna e orgânica da natureza divina...
Unitas, portanto, é o abstrato do termo unus, ou seja, ‘um por natureza’, ‘uniforme’, ‘unificado’, sem necessidade de ser reduzido à unidade aritmética” (MORESCHINI, 2008, pp. 205, 206). Assim, a unidade na Trindade e a Trindade na unidade são uma defesa do monoteísmo judaico-cristão. Essa primeira formulação trinitária foi muito útil, e as igrejas do Ocidente se valeram dela por muito tempo sem alteração do texto, apesar de suas limitações. É inegável a contribuição de Tertuliano para a época, mas muitas perguntas que ficaram sem respostas foram solucionadas no Oriente a partir de Atanásio e dos pais capadócios.
Tertuliano escreveu em latim. A substância, substantia em latim, significa em si “substância, ser, realidade de uma coisa, essência”. Isso quer dizer “coisa subjacente, material ou espiritual, de coisas, aquilo que existe” (MULLER, 1993, p. 290). O seu equivalente grego é hipóstase ou ousía.
Hipóstase é a “forma de existir”; o termo vem de duas palavras gregas: hypo, “sob”, e istathai, “ficar”. E ousía significa “essência, ser”. A essência é a “qualidade do ser, o qual faz o ser precisamente o que ele é. Exemplo: a essência de Pedro, Paulo e João é sua humanidade; a essência de Deus é deidade ou divindade” (MULLER, 1993, pp. 105, 106). Mas a palavra latina usada para “essência” nessa declaração de Tertuliano é status, “condição, qualidade”. Todos esses termos filosóficos aparecem nas controvérsias cristológicas, trinitárias e pneumatológicas, e a grande dificuldade de compreensão está na falta de precisão na definição dessas palavras. O que Tertuliano chama aqui de “graus, formas e aspectos”, ele passa a chamar de persona, “Pessoa”, ou personae, no plural, mais adiante (Contra Práxeas, XII), ao mostrar a unidade na Trindade no relato da Criação (Gn 1.26, 3.22).
Tertuliano foi o primeiro a usar o termo “Pessoa” para os membros da Trindade. Uma substância e três Pessoas. O vocábulo “Pessoa” é inadequado para aplicar às três identidades distintas da Trindade. Os pais capadócios evitaram usar esse termo para identificar o Pai, o Filho e o Espírito Santo na Trindade. Em vez de falar em três Pessoas da Trindade, eles as identificavam como três hipóstases.
ORÍGENES
Orígenes é o principal representante no Oriente, antes de Niceia. Por que não dizer que ele foi o fundador da teologia oriental? Orígenes nasceu em 185, em Alexandria, Egito, e morreu em Tiro, onde foi torturado até a morte em 254, por causa de sua fé em Jesus. Alexandria já era um grande centro cultural mesmo antes do surgimento da Igreja. O cristianismo prosperou nessa cidade, que veio a ser um dos importantes centros cristãos da Antiguidade. A escola de Alexandria foi fortemente influenciada pelo neoplatonismo, escola filosófica fundada por Amônio Saccas (175-242), de quem Orígenes foi discípulo.
Orígenes foi um grande defensor da fé cristã, mas o seu pensamento teológico, sobretudo sobre a Trindade, apresenta forte afinidade com a filosofia neoplatônica defendida por Plotino, principal expoente do neoplatonismo, discípulo de Saccas e colega de classe de Orígenes. O próprio Orígenes admite essa influência quando afirma que a ideia da existência de um Pai e de um Filho de Deus era comum também a muitos pagãos, sendo que o Espírito Santo é exclusividade dos cristãos (Tratado sobre os Princípios, livro I 3.1). O que Tertuliano veio chamar de personae da Trindade, Orígenes chamava de hipóstase. Esse termo foi consagrado posteriormente pelos pais capadócios para identificar o Pai, o Filho e o Espírito Santo individualmente. Como Tertuliano, Orígenes também discordava dos modalistas no fato de confundir as três Pessoas da Trindade.
O que é mais grave no trinitarianismo de Orígenes é a ideia da condição de inferioridade do Filho em relação ao Pai. Ele afirma que “o Filho e o Espírito Santo também são divinos” (Patrologia grega 2.3.20), mas diz em outro lugar que essa divindade é “secundária” (Contra Celso 5.39) e considera o Espírito Santo criatura do Logos: “o mais honorável de todos os seres trazidos à existência pela Palavra, o principal em ordem de importância, dentre todos os seres que tiveram origem no Pai por meio de Cristo” (In Johan 2.10.75 apud KELLY, 2009, p. 95). Segundo os críticos de Orígenes, ele ensinava que “o poder do Pai é maior do que o do Filho e do Espírito Santo, e o poder do Filho é maior do que o do Espírito Santo”. Isto está numa carta endereçada a Mena, patriarca de Constantinopla (536-552). Essa informação aparece numa epístola de Jerônimo a Avito. Orígenes exerceu grande influência no Oriente por mais de 100 anos. Observe-se que o historiador da Igreja, Eusébio de Cesareia foi influenciado pelo pensamento de Orígenes. Ele mesmo fundou uma escola teológica nessa cidade de Cesareia e permaneceu lá durante 20 anos. Eusébio assimilou também essa doutrina subordinacionista de Orígenes, pois escreveu: “Como os oráculos dos hebreus classificam o Espírito Santo em terceiro lugar depois do Pai e do Logos” (Preparatio Evangelica, XI.21.1).
ATANÁSIO
É comum ouvir representantes das seitas antitrinitarianas dizerem que a doutrina da Trindade é de origem pagã e foi imposta por um imperador pagão no Concílio de Niceia em 325. Esses argumentos das organizações contrárias à fé trinitária são falsos. O Concílio de Niceia não tratou da Trindade; a controvérsia foi em torno da identidade Jesus de Nazaré.
Os credos anteriores ao século IV eram de caráter local e estavam relacionados ao batismo na preparação catequética; sua autoridade procedia da igreja local de onde o documento se originou. São os chamados credos sinodais. O Credo Niceno é a primeira fórmula publicada por um concílio ecumênico e a primeira a possuir status de valor universal em sentido legal.
O documento é resultado da chamada controvérsia ariana, que começou no ano 318 em Alexandria, no Egito. O confronto girava em torno da identidade do Senhor Jesus Cristo e a questão era sobre a sua deidade e igualdade com o Pai.
O documento aprovado em Niceia tornou-se ponto de partida, ao invés de ponto de chegada. A controvérsia prosseguiu por duas razões principais: a volta do arianismo e a indefinição sobre a identidade do Espírito Santo. O Concílio de Constantinopla em 381 reconheceu e ampliou o texto da fórmula teológica aprovada em Niceia em 325. O tema do Concílio de Niceia será analisado no capítulo seguinte.
Atanásio (300-373) foi um dos principais defensores da fé nicena nos anos que se seguiram ao Concílio de Niceia. Ele polemizou com os arianos em defesa da divindade do Filho; sua discussão era cristológica em sua obra Contra os arianos; e ele refutou também os tropicianos4 e os pneumatomacianos,5 em defesa da divindade do Espírito Santo, em Epístolas a Serapião sobre o Espírito Santo. A cristologia de Atanásio estava enraizada no homoousianismo, termo grego derivado de homooúsios, que significa ser da “mesma substância”, da “mesma essência”, usado no Credo Niceno ao declarar que o Filho “é consubstancial com o Pai” ou “da mesma substância do Pai”, homooúsion tō patrí, em grego. Na época de Atanásio, o pensamento neoplatônico e origenista estava bem sedimentado no Oriente, de modo que essas ideias aparecem na teologia atanasiana, mas o seu conceito de Trindade era nos termos de consubstancialidade e sem o subordinacionismo de Orígenes (Epístola a Serapião, livro I 14.4, 28.1).
Atanásio foi claro e direto ao afirmar que o Espírito Santo é consubstancial com o Pai e com o Filho. Cirilo de Jerusalém (315-386), contemporâneo de Atanásio, refutava as heresias de sua geração em favor da Trindade (Catequese, XVI.3).
OS PAIS CAPADÓCIOS
A Capadócia aparece no Novo Testamento (1Pe 1.1). Os pais capadócios deram continuidade à defesa da ortodoxia nicena. Eles, como Atanásio, escreveram em grego. São eles Basílio de Cesareia, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo. Eles contribuíram de maneira especial na formulação definitiva da Trindade. E precisaram definir os termos flutuantes ousía e hipóstases na linguagem trinitária. Empregavam o mesmo termo “hipóstase” empregado por Orígenes para designar as Pessoas da Trindade. Em vez de usar “substância divina única”, falavam em “uma ousía em três hipóstases”. A essência da doutrina deles “é que a única Divindade existe simultaneamente em três modos de ser ou hipóstases” (KELLY, 2009, p. 199). Como Atanásio, eles defendiam o homooúsios do Filho e do Espírito Santo. Neles está o clímax do desenvolvimento da doutrina da Trindade.
Basílio de Cesareia (330-379), cidade da Capadócia, hoje na Turquia, combateu os antigos arianos, os neoarianos, os semiarianos e os pneumatomacianos. Escreveu no ano 373 uma refutação aos argumentos do maior expoente do arianismo radical, o arianista anomoeano de nome Eunômio: Contra Eunômio; escreveu também Sobre o Espírito Santo, uma defesa a doxologia: “Glória seja ao Pai, com o Filho, juntamente com o Espírito Santo”. Como Atanásio, Basílio também colocava o Espírito Santo no mesmo nível do Pai e do Filho na fórmula batismal de Mateus 28.19. Evitando termos filosóficos, procurava usar uma linguagem próxima da linguagem bíblica. Ele não emprega o termo homooúsios, mas defende a Trindade em outras palavras: “Como o Pai é um e um é o Filho, assim também é um o Espírito Santo” (Tratado sobre o Espírito Santo, 18.45).
Gregório de Nissa (335-394) era o irmão mais moço de Basílio. Ele escreveu Sobre a Trindade, continuação da obra Contra Eunômio, de autoria de seu irmão. Gregório de Nissa refutou a doutrina triteísta do heresiarca Ablábio na obra Sobre Não Três Deuses. Ablábio considerava o Pai, o Filho e o Espírito Santo três Deuses. Gregório de Nissa, como os seus companheiros, defendia a ideia de “que a unidade da ousía, ou Divindade, procede da unidade da ação divina desvendada na revelação” (KELLY, 2009, p. 201). Do rico epistolário de Basílio, contendo 366 epístolas, na de número 189, Gregório de Nissa, seu irmão, escreve: “Uma atividade individual do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em nenhum aspecto diferente para qualquer que seja a Pessoa, somos obrigados a inferir uma unidade de natureza a partir da identidade de atividade; pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo cooperam na santificação, na vivificação, na consolação, e assim por diante”.
Gregório de Nazianzo (329-389) combateu os mesmos opositores de seus companheiros Basílio e seu irmão Gregório de Nissa: Eunômio e os pneumatomacianos. Escreveu com elegância e clareza sobre a Trindade e, especialmente, sobre o Espírito Santo, por meio de epístolas, poemas e sermões. As Orações Teológicas ou Discursos Teológicos são numerados de 27 a 31, que correspondem respectivamente da primeira à quinta Oração. Para ele, a divindade existe indivisa em Pessoas divididas (Discurso 31.14). Gregório de Nazianzo dizia que o Pai se distingue por não ter sido gerado, agennēsía, “ingênito, não-gerado”; o Filho, por ter sido gerado, e o Espírito Santo por ser enviado, procedente (Discursos, 31.8). Ele defende a doutrina da Trindade com muita propriedade e vigor e ao mesmo tempo responde aos sabelianistas e aos triteístas (Discurso 31.9).
Gregório de Nazianzo defendia a ideia de que as Escrituras aplicavam todos os títulos e atributos pertencentes a Deus Filho e ao Espírito Santo. E não somente isso, mas também chamou a atenção para o fato de que a palavra “santo” aplicada ao Espírito não era resultado de nenhuma fonte externa, mas era algo próprio de sua natureza. Segundo Paul Tillich, foi Gregório de Nazianzo quem criou a fórmula definitiva da doutrina da Trindade (TILLICH, 2004, p. 92). Mas esses teólogos capadócios deixaram ainda uma ponta solta, a questão da filioque, a dupla processão do Espírito Santo.
AGOSTINHO DE HIPONA
Agostinho (354-432) é reconhecido como um dos maiores gênios teológicos de todos os tempos. Hipona era uma cidade do norte da África. J. D. N. Kelly disse que Agostinho “deu à tradição ocidental sua expressão madura final” (KELLY, 2009, p. 205). Ele escreveu entre 399 e 419 De Trinitate, “Sobre a Trindade”, obra contendo 15 capítulos produzidos em 16 anos, 209 sobre o tema no qual meditou a vida inteira. Agostinho respondia às indagações sobre o assunto que as pessoas lhes traziam. No livro I, capítulo 7, de A Trindade, citando alguns exemplos, ele explica o significado das palavras de Jesus: “o Pai é maior do que eu” (Jo 14.28), e no capítulo seguinte, ele esclarece as palavras do apóstolo Paulo sobre a sujeição do Filho ao Pai (1 Co 15.28).
O bispo de Hipona resgata a fórmula básica de Tertuliano sobre a unidade na Trindade e a Trindade na unidade. Nos livros I-IV, ele defende a sua consubstancialidade com base nas Escrituras. A doutrina das relações das Pessoas da Trindade, umas das características peculiaridade de Agostinho aparece nos livros V-VIII. Em seguida, nos livros IX-XIV, ele argumenta que se pode conhecer algo da natureza divina pela compreensão da verdade e pelo conhecimento do sumo bem pelo amor à justiça. O livro XV é a conclusão de seu pensamento.
Agostinho preserva a consubstancialidade do Filho e do Espírito Santo com o Pai e a unidade nas três hipóstases: “O Pai, o Filho e o Espírito Santo perfazem uma unidade divina pela inseparável igualdade de uma única e mesma substância” (Trindade, livro I 4.7). A expressão grega usual nos pais capadócios é mían ousían, treis hypostáseis,6 “uma ousía, três hipóstases”, mas Agostinho não via diferença entre ousía e hipóstase. Assim preferia o uso de uma substância, três Pessoas, mesmo reconhecendo a limitação da linguagem humana para descrever a revelação (Trindade, livro V 9.10b).
Na doutrina de Agostinho o subordinacionismo fica descartado e a unidade da santíssima Trindade em três Pessoas distintas é mantida: “Não são, portanto, três deuses, mas um só Deus, embora o Pai tenha gerado o Filho, e assim, o Filho não é o que é o Pai. O Filho foi gerado pelo Pai, e assim, o Pai não é o que o Filho é. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho, mas somente o Espírito do Pai e do Filho e pertence à unidade da Trindade” (Trindade, livro I 4.7b). Isso foi estruturado em forma de credo posteriormente, no chamado Credo de Atanásio. Esse credo é agostiniano “de ponta a ponta” (KELLY, 2009, p. 206). Isso se evidencia ainda mais em sua obra (A Doutrina Cristã, I.5).
O trinitatismo de Agostinho apresenta algumas dificuldades como tem acontecido também nos demais pais da Igreja que escreveram antes dele. Alguns desses pontos são comentados por um intelectual russo da igreja Ortodoxa, que analisa também as principais ideias trinitárias e pneumatológicas da patrística. Seu nome é Sergui Bulgákov.7 Ele analisa também o trinitariasmo de Agostinho. O Oriente e o Ocidente sempre tiveram as suas diferenças: “A teologia do Ocidente, no século IV, segue seu próprio caminho, paralelo ao Oriente, ainda que independente deste. Por outro lado, suas relações, a causa de uns conhecimentos linguísticos insuficientes e de razões históricas gerais, foram remotas. Por essa razão não é de estranhar que seus caminhos divirjam justamente a partir do século IV” (BULGÁKOV, 2014, p. 85).
As críticas a Agostinho são várias, entre elas o fato de o bispo de Hipona não proceder a partir da Trindade das hipóstases como os capadócios, senão da unidade da ousía, ou essência. Paul Tillich diz que Agostinho “interessou-se muito mais pela unidade de Deus do que pelas diferentes hipostáseis, pelas três personae, em Deus. Ele é um desses responsáveis pela inclinação contemporânea para aplicar o termo persona a Deus, em vez de aplicá-lo individualmente ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo” (TILLICH, 2004, p. 129). Bulgákov afirma que “a unidade da Santíssima Trindade nas três hipóstases está garantida justamente por essa unidade de substância” (2014, p. 85).
A outra crítica é ao fato de Agostinho considerar a Trindade como o amor; trata-se de uma análise que ele faz entre a Trindade e a vida pessoal humana: “Estão as três realidades (amans, quod amatur et amor), ‘aquele que ama, o que é amado e amor’” (Trindade, livro VIII 10.14). Bulgákov diz que essa ideia original de Agostinho é completamente estranha à teologia oriental: “Esta imagem trinitária do amor, aplicada à Santíssima Trindade, a complica mais introduzindo nela o elemento mente, pois em Agostinho a Trindade é análoga à memória, inteligência e vontade” (2014, p. 88). Ele “emprega o conceito da Trindade para descrever Deus analogicamente como Pessoa. Sendo Pessoa, portanto, unidade, todos os atos de Deus para fora (ad extra) são sempre atos da Trindade toda, até mesmo a encarnação” (TILLICH, 2004, p. 129). Essa talvez seja a contribuição mais original de Agostinho.
Sobre o sujeito das teofanias registradas no Antigo Testamento, segundo Agostinho, elas podem ser atribuídas às vezes ao Pai, ora ao Filho e também ao Espírito Santo, ou ainda aos três (Trindade, livro II caps. 14-34). Bulgákov (2014) argumenta que teólogos orientais como Gregório de Nazianzo se negam a aceitar nessas teofanias hipóstases separadas, mas como manifestações do único Deus que está na santíssima Trindade.
Agostinho diz que as diferenças não estão em seu ser, mas nas relações que se expressam nos nomes de cada Pessoa. Bulgákov apresenta nas suas observações a questão da filioque, a qual Agostinho parece ser favorável. O termo vem do latim e significa “e do Filho”, com respeito à processão do Espírito Santo. As igrejas orientais sustentam que esse termo, que aparece no Credo Niceno-Constantinopolitano e no Credo de Atanásio, não é autêntico, mas uma glosa inserida posteriormente no texto que resultou no primeiro Cisma da Igreja, ruptura do Oriente com o Ocidente em 1054.
O CREDO DE ATANÁSIO OU ATANASIANO
O Credo de Atanásio contém 44 artigos de fé, e a sua data é cerca do ano 500. É também conhecido como Quicunque, “quem quer que seja, todo aquele”, expressão latina com a qual o Cedo começa: Quincunque vult salvus esse, “Todo aquele que quer ser salvo”. Os antigos manuscritos e fragmentos que vão do século 7 ao 9, dos quais Kelly enumera 14 (KELLY, 1964, p. 16), apresentam títulos variados e entre eles: Fides sancti Athanasii episcopi Alexandriae, “A fé do santo Atanásio bispo de Alexandria”. O texto foi redigido por um autor anônimo no sul da França por volta do ano 500. O nome de Atanásio está vinculado à obra porque ela expressa o pensamento que Atanásio manifestou durante a sua vida em defesa da fé nicena. Citamos aqui apenas os seis primeiros artigos.
1 Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo, deve professar a fé cristã.8
2 A qual é preciso que cada um guarde perfeita e inviolada ou terá com certeza de perecer para sempre.
3 A fé cristã é esta: que adoremos um Deus em trindade, e trindade em unidade.
4 Não confundimos as Pessoas, nem separamos a substância.
5 Pois existe uma única Pessoa do Pai, outra do Filho, e outra do Espírito Santo.
6 Mas a deidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é toda uma só: glória é igual e a majestade é coeterna.
Os credos ecumênicos são trinitários na sua forma, estrutura e conteúdo, mas o Credo de Atanásio emprega o termo Trindade de maneira direta: “que adoremos um Deus em Trindade, e Trindade em unidade (artigo 3); “nessa Trindade, não existe primeiro nem último” (artigo 25); “tanto a unidade na Trindade como a Trindade na unidade deve ser adorada” (artigo 27); “quem quiser ser salvo, deve pensar assim a respeito da Trindade” (artigo 28).
Esse Credo é o mais longo de todos os credos ecumênicos. A estrutura do texto está dividida em cinco partes: a) introdução (artigos 1, 2); b) definição e exposição da doutrina da Trindade (artigos 3-27); c) afirmação de que todo aquele que quiser ser salvo precisa aceitar a visão de um Deus trino e uno conforme definição do Credo (artigos 28, 29); d) fala sobre a encarnação do Verbo, enfatizando particularmente o ensino da Igreja sobre Jesus como perfeitamente divino e perfeitamente humano (artigos 30-37); e) reafirmação do ensino dos credos anteriores, como o Credo dos Apóstolos e o Credo Niceno-Constantinopolitano dos apóstolos. Em resumo, retoma a linguagem do Credo Niceno-Constantinopolitano sobre a esperança cristã (artigos 30-43) e finaliza reafirmando a introdução: “Esta é a fé universal: a menos que um homem creia fiel e firmemente, não pode ser salvo” (artigo 44).
Os artigos 3-6 parecem uma contradição quando falam em não confundir as Pessoas e ao mesmo tempo defendem essa ideia, concluindo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem uma mesma deidade. Isso é uma resposta aos sabelianistas, que confundem as Pessoas, e aos arianistas, que separam as Pessoas. Na atualidade, a resposta se dirige aos movimentos Voz da Verdade e Tabernáculo da Fé, entre outros, que também confundem as Pessoas; e também às testemunhas de Jeová, que separam a substância.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Arianismo
Heresia fermentada por um presbítero do 4º século chamado Ário. Negando a divindade de Cristo, ensinava ele ser Jesus o mais elevado dos seres criados. Todavia, não era Deus. Por este motivo, seria impropriedade referir-se a Cristo como se fora um ente divino.
Para fundamentar seus devaneios doutrinários, buscava desautorizar o Evangelho de João por ser o propósito desta Escritura, justamente, mostrar que Jesus Cristo era, de fato, o Filho de Deus. Os ensinos de Ário foram condenados no Concílio de Niceia em 325” (ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 8ª Edição. RJ: CPAD, 1999, p.52).
“Concílio de Niceia e de Constantinopla
Primeiro concílio ecumênico da história. Convocado pelo imperador Constantino, em 325, teve como objetivo solucionar os problemas que dividiam a cristandade. Problemas esses causados pelo arianismo. Buscando reafirmar a unidade da Igreja, os participantes do concílio redigiram uma confissão teológica, confirmando a ortodoxia doutrinária do Cristianismo.
Em 381, reuniram-se em Constantinopla 150 bispos, a pedido do imperador Teodócio I, com o objetivo de confirmar a unidade da igreja no Oriente. Terminado os trabalhos, aquele segmento da cristandade livrava-se de mais de meio século de domínio ariano” (ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 8ª Edição. RJ: CPAD, 1999, pp.88,89).
"Trindade
[Do grego trias; do latim trinitatem, grupo de três pessoas] Doutrina segundo a qual a Divindade, embora uma em sua essência, subsiste nas Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. As Três Pessoas são iguais nas substâncias e nos atributos absolutos, metafísicos e morais.
Apesar de o termo não se encontrar nas Sagradas Escrituras, as evidências que atestam a doutrina são, tanto no Antigo, como no Novo Testamento, incontestáveis.
A palavra Trindade foi usada pela primeira vez, em sua forma grega, por Teófilo; e , em sua forma latina, por Tertuliano.
O Credo Atanasiano assim se expressa acerca da doutrina da Santíssima Trindade: ‘Adoramos um Deus em trindade, e a trindade em unidade, sem confundir as pessoas, sem separar a substância’” (ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 8ª Edição. RJ: CPAD, 1999, p.279).
Cremos em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, está claro que a doutrina da Trindade é bíblica e está presente desde o Gênesis até o Apocalipse.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD Adultos - 3º Trimestre de 2017 - Título: A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Livro de Apoio - Comentarista: Esequias Soares
Revista Adultos 3º Trim.2017 - A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Comentarista: Esequias Soares
3 O termo grego logos é, em si mesmo, de cunho filosófico e se traduz de diversas maneiras como “palavra, razão, pensamento, expressão”. Heráclito (540-475 a.C.), um dos filósofos pré-socráticos, dizia que o Logos era “um princípio divino que governava o universo e impedia que o mundo, em constante mutação, se tornasse o caos”. O apóstolo João mostra aos gregos que o Logos é Deus e é pessoal, aparecendo em nossas versões da Bíblia como o “Verbo” (Jo 1.1), o Senhor Jesus Cristo (Jo 1.14).
4 Os tropicianos eram uma seita do Egito; o nome vem de tropos, “figura”.
Atanásio assim o denominou por causa da exegese figurada deles. Eles diziam ser o Espírito Santo um anjo e uma criatura.
5 Os pneumatomacianos surgiram depois dos tropicianos. O termo pneumatomachoi, de pneuma, “espírito”, e machomai, “falar mal, contra”, eram os “opositores do Espírito”. O nome foi dado por Atanásio ao grupo religioso liderado por Eustáquio de Sebaste (300-380), que não aceitava a divindade do Espírito Santo.
6 Mi,an ouvsi,an, trei/j u`posta,seij.
7 Sergui Bulgákov (1871-1944), cristão ortodoxo reconhecido como um dos grandes teólogos russos do século 20, além de filósofo e economista. Lecionou em Livny, Rússia, e em Paris e foi autor de diversos livros. Em sua obra sobre o Espírito Santo, escrita originalmente em russo e intitulada The Comforter, em inglês e El Paráclito em espanhol, ele apresenta uma análise histórica da pneumatologia, envolvendo também a doutrina da Trindade.
8 O termo “cristã” em “fé cristã”, fides catholica, em latim (artigos 1, 3, 44) é a versão dada aqui. O vocábulo grego kaqoliko,j (katholikós) “universal, geral”, de onde vem a palavra latina catholica, significa literalmente, “de acordo com o todo”, pois o substantivo é composto de katá e de (holos). A preposição grega, katá, significa também, “conforme, de acordo, segundo”, e a palavra holos, “todo, inteiro, completo”. Foi Inácio, bispo de Antioquia (70–110), que empregou o termo para designar a Igreja com o sentido de “geral, universal”. Mas, o sentido exato do termo perdeu-se com o tempo e hoje tem outro significado. A expressão, fides catholica, não diz respeito à Igreja Católica Romana de hoje.
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Amei o estudo sobre os concílios e sobre os pais da igreja que vieram em defesa da fé cristã. Parabéns ao escritor. Continue escrevendo sobre a historia da igreja , que é um assunto que muito me interessa.
ResponderExcluirObrigado pela participação Lucinere da Silva Santos. Glória Deus! e que estejamos sempre 'aprendendo'
Excluirabraço fraterno