“Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” Lc 17.10
“Fazer o bem sem olhar a quem”. Trata-se de
um ditado conhecidíssimo, mas o quanto será que ele tem sido praticado? Aferir
com precisão tal questionamento é impossível. Na verdade, mesmo que fosse
possível essa ação não seria ética e nem biblicamente correta, pois não se deve
ajudar a quem quer que seja e tornar o auxílio conhecido ou publicá-lo.
Estender as mãos a quem precisa deve ser uma atitude cuja motivação e
satisfação seja, simplesmente, o próprio ato de ajudar e nada mais. O exercício
da piedade, que é muito mais amplo que a prática dos três atos básicos de
justiça do judaísmo, conforme instruiu Paulo a Timóteo, é proveitoso sob
quaisquer circunstâncias (1Tm 4.8). Além do auxílio aos menos favorecidos, a
oração, como prática piedosa e forma de comunicar-se com Deus, deve ser
cultivada para garantir a saúde espiritual do crente. Ela não deve se
transformar em prática mecânica, motivo de orgulho por parte de quem “ora mais”
que os outros e coisas afins. Semelhantemente o jejum, sua prática não pode converter-se
em uma razão para que um se destaque dos demais, mas como uma forma de
demonstrar gratidão e domínio próprio.
Para esta oportunidade, faça a seguinte
pergunta aos alunos: O que Jesus estava dizendo quando afirmou que “não saiba a
tua mão esquerda o que fez a tua direita”? Ouça os alunos com atenção. Ressalte
que o Mestre estava ensinando que o real motivo para dar a Deus e ao próximo
deve ser puro, ou seja, sem segundas intenções. Infelizmente, muitos até fazem
algo em favor do outro, mas esperando receber algum tipo de benefício. Em
seguida, utilize o texto abaixo, extraído da Bíblia de Estudo Cronológica
Aplicação Pessoal, página 1333, para discutir com os alunos a respeito do dar
sem esperar nada em troca:
“É mais fácil fazer o que é certo, quando recebemos
reconhecimento e louvor. Mas devemos fazer nossas boas obras silenciosamente ou
em segredo, sem pensar em recompensa. Jesus diz que devemos examinar nossos
motivos em três áreas: generosidade (Mt 6.4), oração (Mt 6.6) e jejum (Mt
6.18). Esses atos não devem ser egocêntricos, mas centrados em Deus, feitos não
para que pareçamos generosos ou bons, mas para que Deus pareça bom. A
recompensa que Deus promete não é material, e nunca é dada aos que a buscam.
Fazer algo somente para nós mesmos não é um sacrifício de amor. Na sua própria
boa obra, pergunte a si mesmo: será que eu ainda faria isso se ninguém jamais
soubesse que eu o fiz?”.
Leia também: Pecado de Comissão; Pecado de Omissão
TEXTO BÍBLICO: Mateus 6.1-8,16-18
O bem deve ser feito pelo simples fato de isso ser correto e recomendável, e não para proporcionar status ou visibilidade social.
INTRODUÇÃO
Os chamados “atos básicos de justiça do
judaísmo” — esmola, oração e jejum — eram os pilares principais da religião
oficial de Israel. Apesar de serem atos prezados pelos judeus, assim como
contrapôs a justiça dos escribas (Mt 5.20), mostrando que a do Reino vai muito
além (Mt 5.21-48), o Mestre procede da mesma maneira em relação à justiça dos
fariseus (Mt 6.1-8,16-18). Jesus demonstra que mesmo tais atos não são piedosos
em si mesmos, antes o que determina a sinceridade e a pureza deles é a atitude
do coração, a intenção desprovida de qualquer outro interesse a não ser ajudar
as pessoas como forma de gratidão a Deus, bem como orar e jejuar visando o
estreitamento da relação com o Pai, pois Ele contempla o coração e não apenas o
exterior (1Sm 16.7 cf. Lc 18.9-14).
I. PRIMEIRO ATO DE JUSTIÇA — A ESMOLA
1. Os deveres de Israel para com os pobres.
Por
também ter sido estrangeiro e peregrino em “terra estranha”, esperava-se do
povo de Israel sensibilidade e solidariedade com as pessoas menos favorecidas,
bem como em relação ao órfão, à viúva e ao estrangeiro (Dt 10.17-19; 24.14-22).
Ciente da obstinação e dureza do coração humano, Deus, através de Moisés,
ordena que em caso de sobra em uma colheita, não se deve “rebuscar”, isto é,
repassar a mesma área do campo para ver se não ficou nada ainda a ser colhido
ou recolhido, pois tal sobra era uma provisão divina a essas pessoas (Dt
24.19-22).
2. A atualidade da prática de auxiliar os
pobres.
A despeito de a prática de auxiliar os pobres estar sendo
observada nos dias de Jesus (Mt 26.6-9), e até no tempo da igreja do primeiro
século (Gl 2.10), o Mestre sabia que mesmo as ações virtuosas podem ser
praticadas com motivações escusas. Por isso, Ele não contesta o ato de justiça
de ajudar, mas chama a atenção para os motivos que, para além das aparências,
podem não ser tão nobres (v.1 cf. Mt 19.21,22; Jo 12.4-6).
3. A atitude de quem ajuda.
Não é de
censura a instrução de Jesus acerca do auxílio aos menos favorecidos, ou seja,
os pobres devem ser ajudados e assistidos em suas necessidades por aqueles que
possuem mais condições (Mt 25.31-46; At 20.35). A observação do Mestre diz
respeito não unicamente à motivação, mas também quanto à discrição com que se
deve fazer o bem, ou dar esmolas às pessoas necessitadas. O Mestre utiliza expressivas
figuras de linguagem ao falar de “tocar trombetas” (motivação de fazer
publicidade) e também de “a mão esquerda não saber o que faz a direita” (falta
de discrição) (vv.2,3). Em outras palavras, se a finalidade é ajudar e não se
autopromover com a necessidade e o problema alheio, então deve-se agir discreta
e sigilosamente, pois do contrário já se terá recebido a recompensa aqui mesmo,
nada devendo esperar do Pai celestial em seu tribunal de galardão (vv.2,4 cf.
1Co 3.12-15).
“As Esmolas (6.1-4)
Jesus presume que dar
aos pobres é a norma. Ele não diz: ‘Se, pois deres’, mas: ‘Quando, pois,
deres’. Sua admoestação aqui é contra dar aos pobres pelos motivos errados. A
razão que Jesus apresenta para fazer caridade sem ser visto, é que a
generosidade ostentosa não resulta em recompensa ‘do vosso Pai, que está nos
céus’. Mateus frequentemente levanta a questão de pagamento e recompensa. O
substantivo ‘galardão’ (misthos, às vezes traduzido por ‘salário, recompensa’)
ocorre vinte e nove vezes no Novo Testamento, sendo encontrado dez vezes em
Mateus; o verbo ‘recompensar’ (apodidomi, v.4) aparece quarenta e oito vezes no
Novo Testamento, e é achado dezoito vezes em Mateus. Estes ensinos sobre
pagamento e recompensa por boas e más ações são usualmente colocados no
contexto de julgamento do tempo do fim. Jesus chama ‘hipócritas’ (hypocrites)
os que dão pelos motivos errados. Este é linguajar forte para descrever as
atividades dos seus inimigos, ainda que anteriormente Ele tivesse advertido
contra tais epítetos indiscriminados (Mt 5.22). Atividades auto-ilusórias
atraem acentuada crítica de Jesus, e Ele acha necessário chamar a atenção das
pessoas para o perigo. O termo hypocrites era originalmente usado
para descrever atores apropriado aqui, visto que o doador ostentoso está
desempenhando para uma audiência” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger
(Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 2ª Edição.
RJ: CPAD, 2004, pp.49-50).
O que fica claro foi que Jesus não aboliu a boa prática de auxiliar os menos favorecidos, mas advertiu acerca do cuidado de se fazer publicidade com a situação miserável das pessoas.
1. Orar com discrição.
De forma semelhante, o Mestre trata da oração
(v.5). Como alguém que orava muito (Lc 6.12,13; 11.1; Mt 14.23; 26.36-46; Lc
22.44), Jesus não desaconselha a prática da oração, antes a afirma (Mt 26.41;
Lc 18.1). Contudo, o Mestre dá instruções muito claras acerca do cuidado com a
discrição no momento de se falar com Deus (v.5). Ele refere-se ao perigo de
querer mostrar-se piedoso, e não da posição física ou mesmo do ato de orar em
público em algum momento (Mt 11.25,26; Lc 18.10-14). Quem quer mostrar-se piedoso
a fim de obter aplausos e admiração pública nada deve esperar da parte de Deus
em termos de galardão.
2. Orar secretamente.
A oração sigilosa é a prática recomendada
pelo Mestre (v.6). A quem utilizava tal expediente para destacar-se, a
observação do Senhor soava como afronta. Os fariseus costumavam agir dessa
maneira e, certamente, ficaram aborrecidos e desapontados por causa da
orientação de Jesus (Mt 23.14). No entanto, como ilustra a história de Agar e
Ismael, Deus não apenas ouve orações secretas e até mesmo o choro, mas os
atende (Gn 21.14-21).
3. O perigo de a oração degenerar-se em vãs
repetições.
A advertência do Senhor não se restringe a
não orar como os hipócritas (os fariseus), mas para se cuidar com o perigo de a
prática da oração não degenerar-se em artifícios, ou seja, adotar a forma pagã
de orar como aqueles que não têm conhecimento de Deus. Estes achavam que usando
mantras (fórmulas repetitivas para se pronunciar), obteriam o favor divino
(v.7). Na verdade, como Criador, o Pai já sabe tudo o que o ser humano
necessita (v.8 cf. vv.26-34). É curioso o fato de Jesus advertir para o perigo
de que a prática hipócrita pode acabar levando à prática pagã, degenerando
completamente a oração.
O perigo de se orar com motivações mesquinhas, de acordo com o que ensina Jesus, é acabar levando as pessoas ao paganismo de achar que desenvolvendo mantras, suas orações se tornarão eficazes e, consequentemente, atendidas.
Leia mais sobre ORAÇÃO! Como, Quando e Onde orar
1. A prática do jejum no Antigo Testamento.
Considerando o volume de texto, são poucas as
referências a respeito do jejum no Antigo Testamento. A recomendação na Lei,
por exemplo, era que se fizesse uma vez ao ano na chamada Festa da Expiação (Lv
16.29-34). Outras referências à prática do jejum no Antigo Testamento têm uma
relação direta com a crença e a devoção pessoais (2Sm 12.16-23; 2Cr 20.3; Ed
8.21; Ne 9.1; Et 4.3; Jl 2.12; Jn 3.5, etc.).
2. O jejum no Novo Testamento.
Jesus falou acerca do jejum unido à oração
com finalidades bem definidas (Mt 17.21). Já os fariseus jejuavam, ritualística
e religiosamente, duas vezes na semana (Lc 18.12). A fim de que não restassem
dúvidas de que eles estavam jejuando, os fariseus adotavam outros procedimentos
que caracterizavam a prática e, assim, garantiam a si próprios que as pessoas
reconheceriam que eles estavam jejuando (v.16 cf. Mt 11.21; Lc 10.13).
3. O verdadeiro jejum.
O Mestre diz que, tal como a prática de dar
esmolas e orar, o jejum deve ser discreto e ter motivações nobres, pois do
contrário a pessoa já recebia sua recompensa (v.16). Assim, o ensino de Jesus
objetiva a discrição ao jejuar, pois se tal ato visa agradar a Deus, não há
necessidade alguma de que isso transpareça a outros (vv.17,18). Ademais, é
sempre oportuno lembrar-se do jejum requerido por Deus em Isaías 58.2-12.
A não ser por questões puramente espirituais, a forma de jejum mais aconselhável é a de praticar a justiça social exposta em Isaías 58.2-12.
Leia mais sobre JEJUM
CONCLUSÃO
Ao utilizar, nas três recomendações dos atos
de justiça, a expressão “hipócritas”, o Mestre faz alusão aos fariseus, cujo
qualificativo depreciador, tornou-se sinônimo deles (vv.2,5,16 cf. Mt 15.1,7;
16.1,3,6,12; 22.15-18 etc.). A advertência era que as pessoas não se tornassem,
tal como aqueles religiosos, hipócritas, isto é, fingidos. Tal advertência
continua atualíssima para os dias atuais.
“As Esmolas (6.1-4)
O verbo ‘serdes visto’ (theaomai, v.1)
implica ‘espetáculo’; origina-se da mesma família de palavras da qual provém a
palavra ‘teatro’. Esta ‘justiça teatral’ pode enganar os seres humanos, mas o
ato destinado do motivo puro de honrar a Deus através de um viver correto
(Bruner; 1998a, p.229).
‘Fazer tocar trombeta’ (v.2) é uma expressão figurativa
que significa ‘chamar a atenção para alguém’, pois não há evidência de que os
fariseus jamais tenham subido em ‘palcos’ públicos sob o clangor de trombetas.
Ao fazerem esmola eles buscavam a própria glorificação das pessoas, em vez de
dar aos pobres como ato de agradecimento voltado à glória de Deus.
O que vem a seguir em Mateus é puramente
Jesus: ‘Em verdade vos digo que [amem] já receberam o seu galardão’ (v.2). ‘Já
receberam’ tem um sentido contábil, indicando que foi feito pagamento total e
um recibo foi dado. O contrato foi cumprido; eles receberam pelo que negociaram
— uma audiência iludida. Mas Deus não é iludido (Gl 6.3,7). O objetivo do afeto
para o verdadeiro esmoleiro é principalmente Deus. A justiça que excede a dos
fariseus (cf. Mt 5.20) busca proeminentemente agradar a Deus” (ARRINGTON,
French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal: Novo
Testamento. 2ª Edição. RJ: CPAD, 2004, p.50).
Fonte: Lições Bíblicas CPAD Jovens - 2º trim.2017 - O Sermão do Monte - A Justiça sob a ótica de Jesus - Comentarista César Moisés Carvalho
Aqui eu Aprendi!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será postado assim que o autor der a aprovação.
Respeitando a liberdade de expressão e a valorização de quem expressa o seu pensamento, todas as participações no espaço reservado aos comentários deverão conter a identificação do autor do comentário.
Não serão liberados comentários, mesmo identificados, que contenham palavrões, calunias, digitações ofensivas e pejorativas, com falsidade ideológica e os que agridam a privacidade familiar.
Comentários anônimos:
Embora haja a aceitação de digitação do comentário anônimo, isso não significa que será publicado.
O administrador do blog prioriza os comentários identificados.
Os comentários anônimos passarão por criteriosa analise e, poderão ou não serem publicados.
Comentários suspeitos e/ou "spam" serão excluídos automaticamente.
Obrigado!
" Aqui eu Aprendi! "