“Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo [...]” Fp 1.27
Jesus interpreta a Lei (Mt 5.21-48)
“Jesus [...] realiza o que todo rabino deseja
fazer: ‘cumprir’ a Lei no sentido de prover uma explicação fiel, exata e
confiável do verdadeiro significado da Lei. Com esta compreensão, vemos uma
nova força em tudo o que vem a seguir. Mesmo o menor dos mandamentos não deve
ser desrespeitado; a participação no reino dos céus exige uma justiça que
‘excede a dos escribas e fariseus’ (5.20). Isto é significativo, pois os
escribas e fariseus eram conhecidos pela sua condescendência escrupulosa com
até mesmo a mais obscura proibição bíblica. Neste ponto Jesus chama a atenção
de seus ouvintes para os mandamentos e costumes familiares. Em cada um dos seis
exemplos que se seguem, Jesus mostra que a Lei que proíbe uma ação, na
realidade condena a atitude que suscitou essa ação! A justiça que a Lei
verdadeiramente exige é uma justiça insuperável, uma pureza interior que
purifica tão completamente, que não existe nem o menor desejo de fazer o mal.
Assim, o verdadeiro significado da Lei, o significado de ‘cumprir’, é visto na
sua revelação de uma justiça que se baseia em uma transformação interior, uma
justiça que nenhuma mera observância de regras e regulamentos pode conceder.
Para participar desta expressão do reino dos céus a pessoa deve modificar-se
interiormente! De nenhuma maneira isto elimina a Lei, que regula as ações. Ao
contrário, isto cumpre a Lei, mostrando como as exigências e regras da Lei dão
testemunho da exigência definitiva de Deus: um caráter moral impecável e
transformado” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo
Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2007, pp.25-26).
Jesus expôs o que havia de mais profundo na Lei, pois Ele conhece a finalidade de cada mandamento.
Qualquer pessoa é capaz de cumprir leis e
viver dentro da ordem mínima estabelecida em sociedade. Vangloriar-se por causa
disso não parece ser algo muito inteligente, pois se trata de uma obrigação de
todos para que a vida em sociedade seja possível. Essa, porém, era a postura de
muitos judeus na época de Jesus. Achavam-se melhores que os outros povos e, até
entre si, disputavam qual dos inúmeros grupos conseguia ser mais ascético e
rigoroso a respeito dos preceitos morais e cerimoniais da Lei mosaica. Em tal
competição, havia a perda do principal valor de toda a lei que é justamente o
amor. Na lição de hoje você terá a oportunidade de trabalhar com os alunos este
assunto e discutir o aspecto motivacional da obediência.
Texto Bíblico: Mateus 5.21-48
SUBSÍDIOS - SEITAS JUDAICAS
OS FARISEUS - “Sucessores dos hassidim (‘os piedosos’) do século II a.C., formavam um partido religioso puritano.
1. Seu principal interesse era a observância da Lei de Moisés.
2. Conferiam igual valor às tradições dos anciãos e às Escrituras Sagradas.
3. Criam na existência dos anjos e demônios.
4. Criam na vida após a morte.
5. Davam grande ênfase aos aspectos práticos de seus ensinamentos, como a oração, o arrependimento e as obras assistenciais.
6. Embora poucos, em número, sua influência social e política era considerável.
7. A maioria dos escribas pertencia a este grupo.
8. Sua rigidez e separatismo degenerou-se em mero legalismo, em arrogância e menosprezo pelos demais.
9. Jesus não criticou a ortodoxia dos seus ensinamentos, mas a sua falta de amor e orgulho.
OS SADUCEUS - Em sua maioria, eram sacerdotes e ricos aristocratas. É provável que tenham surgido no período macabeu.
1. Não reconheciam a autoridade da tradição oral.
2. Negavam a existência do mundo espiritual.
3. Não criam na ressurreição dos mortos nem na vida futura.
4. Aceitavam como canônicos apenas os livros de Moisés.
5. Interpretavam a Lei de maneira literal.
6. Eram simpáticos à cultura helenista.
7. Contavam com pouco apoio popular.
8. Eram renhidos adversários dos fariseus”
(Bíblia de Estudo Pentecostal - CPAD, pg.1380)
INTRODUÇÃO
O Evangelho é superior a qualquer código de
regras, pois o seu fundamento é a Boa Notícia de que, além de nos salvar, Deus,
em Jesus, tornou-se modelo de ser humano para toda a humanidade (Mt 5.48). Esta
é, basicamente, a próxima mensagem e lição do Sermão do Monte. Através de seis
antíteses (teses contrárias, cf. vv.22,28,32,34,39,44), o Mestre demonstra que
a observância mecânica dos mandamentos nada significa se o intento maior não
for alcançado, ou seja, a transformação do caráter e da natureza, extirpando
todo ódio, cobiça, desprezo, falsidade, vingança e egoísmo. Jesus mostra que a
“justiça” dos escribas, doutores da Lei, estava muito aquém do real propósito
da Lei, e também muito longe do que era esperado das pessoas que diziam crer em
Deus como seu Pai (Mt 5.48).
"Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." Mateus 5:48
I. NÃO ODIAR, COBIÇAR OU DESPREZAR
1. Mais que não matar, é preciso não odiar.
De acordo com a Lei, além de pecado, matar é
crime passível de severa punição (Êx 20.13; 21.23-25; Lv 24.21; Dt 5.17). O
Mestre, porém, toca no âmago do problema ao dizer que a raiva gratuita ou mesmo
depreciações verbais, frutos do ódio, são condenáveis (v.22). Como o Templo
ainda estava em atividade, Jesus diz que alguém que sabe que existe uma pessoa aborrecida
por sua causa deve, antes de apresentar sua oferta ao sacerdote, procurar a
pessoa em questão e reconciliar-se com ela, antes que seja tarde demais
(vv.23.26 cf. Pv 18.19).
2. Não basta fugir do adultério, é preciso
extirpar a cobiça.
Segundo a Lei, o adultério merecia uma
punição exemplar e, por isso, os adúlteros recebiam a pena capital (Lv 20.10
cf. Êx 20.14; Dt 5.18). Jesus, contudo, ensina que não basta simplesmente não
consumar o ato, antes, é preciso eliminá-lo em seu nascedouro, isto é, no “coração”
ou na mente, onde tudo tem início (v.28). Uma vez mais, o Mestre lança mão de
uma figura de linguagem para falar o quanto pode custar para nós libertar-se de
desejos impuros. Todavia, é melhor livrar-se do prazer momentâneo, que
experimentar a condenação eterna (vv.29,30).
3. Não é suficiente cumprir a legislação,
antes é preciso não desprezar.
Apesar de Jesus aludir a uma lei de
Deuteronômio (24.1-4), que tinha como finalidade auxiliar a mulher para que ela
não ficasse desassistida, sua reinterpretação é objetiva (v.32). O Mestre tem
em conta a indissolubilidade do casamento, instituída pelo Criador no início de
tudo, ponto que Ele tratou mais explicitamente por causa da insistência dos
fariseus (Mt 19.1-9). Agindo dessa forma, não se preservava apenas o auxílio e
o amparo necessários à mulher, mas resguardava igualmente o homem, posto que a
separação deixa marcas dolorosas para ambas as partes.
Antes que qualquer ato se materialize, ou
venha se concretizar, invariavelmente, é precedido de elaboração mental, por
isso Jesus trata do pecado nessa esfera e área.
II. NÃO JURAR, REVIDAR OU VINGAR-SE
1. Recuperando a credibilidade.
Conquanto jurar fosse prática comum (Lv
19.12; Nm 30.2), Jesus veda toda forma de juramento, quer apelando para Deus,
quer utilizando qualquer outro recurso (o céu, a Terra, Jerusalém ou mesmo a
própria pessoa; cf. vv.34-36). O Mestre ensina que a palavra deve ser sincera a
ponto de corresponder à intenção. Somente assim, recuperando a credibilidade, é
que quando alguém disser “sim” ou “não”, será aceito sem necessidade alguma de
qualquer juramento. Para o Senhor Jesus, tudo o que passar disso é de
“procedência maligna” (v.37).
2. Não somente rejeitar a “lei do talião”,
mas não revidar e ainda fazer o bem.
No mundo antigo era conhecida a “lei de
talião” que, surgida na Caldeia, servia para inibir os crimes, pois aplicava
pena proporcional à violência. A Lei de Moisés continha regra similar (Êx
21.24; Lv 24.20; Dt 19.21), a qual Jesus faz menção (v.38). O Mestre, contudo,
contrapõe a lógica da retribuição, pois a justiça na perspectiva do Reino nada
tem com a justiça no aspecto das relações sociais, tal como convencionado pelos
homens. É assim que, conforme Ele ensina, ao prejuízo e perseguição perpetrados
por alguém, a resposta deve ser o amor que constrange (vv.39-41). De maneira
semelhante deve-se agir com quem quer algo emprestado ou solicita mesmo um
simples favor (v.42). Tal postura realmente transcendia qualquer significado
que pudesse ter o conceito de justiça na legislação, tanto do mundo antigo, quanto
no mundo de então e até nos dias atuais (Mt 5.20).
3. Não apenas os de “casa”, mas amar
igualmente os de fora e até mesmo os “inimigos”.
De acordo com Levítico 19.18, havia a
obrigatoriedade de se amar o “próximo”. Entretanto, “próximo” ali referia-se
exclusivamente aos judeus. Nesse sentido, a antítese de Jesus é profunda e sem
precedentes, pois como o “amor” de Levítico poderia não ser mais que bairrismo
ou corporativismo, o Mestre afirma que somente amando os inimigos, bendizendo
quem maldiz, fazendo o bem aos que odeiam e orando por quem maltrata e
persegue, é que alguém pode considerar-se filho de Deus (vv.44,45). Isso
porque, em uma cultura que considerava até mesmo o nome como algo que deveria
seguir a linhagem paterna, não combinava com alguém que se dizia filho,
comportar-se de forma tão diversa do pai (Lc 1.59-63). Assim, Jesus coloca
quatro questões reflexivas que os leva a não ter outra conclusão (vv.46,47).
A interpretação do Mestre transcende a mera
observação compulsória da regra, pois atinge o ponto central e a fonte dos
pecados humanos — o nosso “eu”.
III. PERFEITOS COMO O PAI
1. A perfeição.
A maior dificuldade com o versículo final
desse capítulo é o significado mais popular da palavra “perfeição” em nosso
idioma: sem defeito algum. Tal ideia faz com que as pessoas, diante da
inevitável realidade de que todos temos defeitos, sintam-se perplexas e
desanimadas.
2. Perfeição na Lei.
É interessante notar que o Mestre propõe, na
perspectiva do Reino, o mesmo que a Lei também visava (Dt 18.13). Isso
significa que a intenção do Filho de Deus não apenas convergia com o grande
objetivo da Lei, mas que era a mesma do Pai (cf. Jo 10.30).
3. Perfeitos como o Pai.
A perfeição pronunciada pelo Senhor refere-se
a ser íntegro, inteiro e coerente, tal como Deus, o Pai, o é (2Tm 2.13; 2Pe
3.9). Não está em pauta uma exigência de que as criaturas assemelhem-se ao
Criador de uma forma absoluta, o que seria, obviamente, impossível (Is 55.9). A
questão gira em torno da mudança de perspectiva que, só pode ocorrer de
verdade, com uma profunda transformação da natureza e personalidade de cada um
(v.48). Tal processo, é bom lembrar, dura a vida toda (Ef 4.12,13).
A perfeição apresentada por Jesus não
significa igualar-nos a Deus, antes, refere-se à identificação natural que cada
filho deve procurar ter com o Pai.
CONCLUSÃO
A perfeição mencionada por Jesus demonstra
claramente o que é mais importante na Lei, e na perspectiva do Reino, qual
seja: as intenções. Tal justiça excede a dos escribas, doutores da Lei (Mt
5.20). Isso porque ser íntegro não apenas nas ações, mas também nas intenções,
faz com que nos pareçamos com o Pai celestial.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD Jovens - 2º trim.2017 - O Sermão do Monte - A Justiça sob a ótica de Jesus - Comentarista César Moisés Carvalho
Este estudo é muito importante para nosso aprendizado.
ResponderExcluirMuitas vezes não entendemos porque alguns mandamentos do Senhor é deste ou daquele jeito. É aí que entra nossa confiança Nele, pois a partir do momento que o conhecemos e somos por Ele conhecidos, passamos a depositar a nossa confiança no que Ele nos diz, exatamente porque entendemos que "Ele conhece a finalidade de cada mandamento". Vamos levar em consideração tudo que nossos pais fizeram para nos dá uma boa educação, mesmo eles não sendo perfeitos. Imagine agora um Deus perfeito que nos adotou como filhos e que nos instrui no caminho que devemos andar. E tudo isso para nos conduzir a algo mais excelente.
Jesus é perfeito e maravilhoso!
A paz do Senhor e grande abraço meu amigo pastor Ismael!
Neiva, Paz do Senhor. Grande amiga e irmã em Cristo. Sábias palavras que enriqueceram o artigo, Deus te abençoe!
Excluirabraço fraterno
Muito bom. ..edificante
ResponderExcluirMuito bom. .abraço
ResponderExcluir