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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

O Evangelho de Mateus

“Livro da geração de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão” Mt 1.1

O Evangelho de Mateus

Data
Como no caso da maioria dos livros do Novo Testamento, a data é incerta. Escritores mais antigos consideraram Mateus como tendo sido escrito por volta de 60 d.C. A maioria dos estudiosos hoje prefere 80 ou 85 d.C.

Local da Escrita
Novamente há duas opiniões principais. A opinião tradicional é a de que o Evangelho de Mateus foi escrito na Palestina (cf. ‘Judeia’). Streeter diz que o local foi Antioquia da Síria, e ele é seguido pela maioria dos estudiosos hoje. Talvez a coletânea aramaica de palavras tenha sido escrita na Palestina, e o Evangelho em grego em Antioquia.

Propósito
Fica evidente que Mateus escreveu o seu Evangelho para os judeus, com o objetivo de apresentar Jesus como o Messias. Quando o Evangelho foi escrito, a nação já o havia rejeitado, e logo — se Mateus foi escrito entre 60 e 70 d.C. — iria sofrer por isto um severo juízo através da destruição de Jerusalém (70 d.C.). Hayes diz: ‘O primeiro Evangelho tinha algo do caráter de um ultimato oficial. Foi um último aviso do Senhor para o seu povo’”
(Comentário Bíblico Beacon. Mateus a Lucas. 1ª Edição. Volume 6. RJ: CPAD, 2006, p.22).

O objetivo principal do Evangelho de Mateus é mostrar que Jesus é o Messias que foi anunciado pelos profetas no Antigo Testamento.

Texto Bíblico - Mateus 1.1-17
1 — Livro da geração de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão.
2 — Abraão gerou a Isaque, e Isaque gerou a Jacó, e Jacó gerou a Judá e a seus irmãos,
3 — e Judá gerou de Tamar a Perez e a Zerá, e Perez gerou a Esrom, e Esrom gerou a Arão.
4 — Arão gerou a Aminadabe, e Aminadabe gerou a Naassom, e Naassom gerou a Salmom,
5 — e Salmom gerou de Raabe a Boaz, e Boaz gerou de Rute a Obede, e Obede gerou a Jessé.
6 — Jessé gerou ao rei Davi, e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.
7 — Salomão gerou a Roboão, e Roboão gerou a Abias, e Abias gerou a Asa,
8 — e Asa gerou a Josafá, e Josafá gerou a Jorão, e Jorão gerou a Uzias,
9 — e Uzias gerou a Jotão, e Jotão gerou a Acaz, e Acaz gerou a Ezequias.
10 — Ezequias gerou a Manassés, e Manassés gerou a Amom, e Amom gerou a Josias,
11 — e Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos na deportação para a Babilônia.
12 — E, depois da deportação para a Babilônia, Jeconias gerou a Salatiel, e Salatiel gerou a Zorobabel,
13 — e Zorobabel gerou a Abiúde, e Abiúde gerou a Eliaquim, e Eliaquim gerou a Azor,
14 — e Azor gerou a Sadoque, e Sadoque gerou a Aquim, e Aquim gerou a Eliúde,
15 — e Eliúde gerou a Eleazar, e Eleazar gerou a Matã, e Matã gerou a Jacó,
16 — e Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo.
17 — De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e, desde Davi até a deportação para a Babilônia, catorze gerações; e, desde a deportação para a Babilônia até Cristo, catorze gerações.

INTRODUÇÃO

Neste trimestre estudaremos o Evangelho de Mateus, o primeiro dos Evangelhos Sinóticos e o mais lido e estudado desde os primórdios do cristianismo. Ele apresenta uma estrutura marcadamente didática, distribuída por cinco grandes discursos, que são intercalados por narrativas. Em seu conteúdo se destacam o Sermão do Monte, as parábolas a respeito do Reino dos Céus, as orientações de Jesus para a Igreja e o discurso escatológico. Quando lemos o Evangelho de Mateus, podemos perceber suas características judaicas, que estimularam grupos judeu-cristãos a usá-lo.

Nesta primeira lição abordaremos as questões introdutórias, como por exemplo, a data e o ano em que foi escrito, bem como a genealogia de Jesus.

I. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

1. Autoria e data.
A autoria do primeiro Evangelho, como apresentado na ordem canônica, é atribuída a Mateus, o publicano que se tornou discípulo de Jesus. A Igreja Primitiva considerava-o autor do Evangelho assim como os pais da Igreja: Orígenes, Tertuliano e Eusébio. Quanto à data, situa-se entre os anos 60 d.C. e 85 d.C.

2. A relação sinótica dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.
A partir do século XVIII, os três primeiros Evangelhos passaram a ser conhecidos como sinóticos (synopsis = visão de conjunto). Em uma análise da organização narrativa da vida e obra de Jesus no Evangelho de João comparada com a dos livros sinóticos fica evidente a diferença entre eles, e consequentemente o motivo dele não pertencer ao grupo.

As similaridades entre os três Evangelhos sinóticos conduzirão em determinados momentos uma análise comparativa de textos de Mateus com os Evangelhos de Marcos e Lucas. Essa análise contribuirá para a interpretação do texto em apreciação. Mateus e Lucas possuem maior volume e, consequentemente, maior detalhamento de alguns episódios, como por exemplo: tentação, infância e discursos de Jesus. Desse modo, os Evangelhos de Mateus e Lucas tem um conteúdo maior que Marcos, mas eles se complementam. As semelhanças entre eles deram-lhes o título de Evangelhos sinóticos.

3. Organização em blocos narrativos e discursivos.
Mateus está organizado em blocos narrativos e discursivos. Nos blocos narrativos são apresentados relatos de uma série de eventos que cobrem certo período e variedade de locais. A apresentação da região e a cidade (Cafarnaum) onde Jesus reside e convoca seus primeiros discípulos, o padrão de sua atuação na região e a popularidade conquistada é um exemplo de bloco narrativo.

Mateus faz com requinte a relação entre agrupamentos narrativos e discursivos, preservando a ênfase nos discursos de Jesus. Como exemplo a conexão entre o agrupamento narrativo (Mt 3,4,8,9) e o agrupamento discursivo (Mt 5-7,10). Assim Mateus dá ênfase no ensino de Jesus, de forma que seus seguidores possam se tornar cada vez mais disciplinados, guardando todas as coisas que Ele tem ensinado (Mt 28.20).

Pense!
Jesus ensinou que devemos guardar todas as coisas que Ele tem ensinado. Jovem, o que você tem feito para saber e fazer o que Ele ensinou?

II. A GENEALOGIA DE JESUS EM MATEUS

1. A genealogia de Jesus, o Messias.
A relação do evangelista com a tradição e modo de pensar dos rabinos influencia a organização das gerações de Abraão até Jesus. Ele divide em três grupos de gerações: de Abraão ao estabelecimento do reino sob Davi (Mt 1.2-6); de Davi ao fim da monarquia (exílio babilônico) (Mt 1.6-11) e do período do exílio babilônico ao nascimento de Jesus (Mt 1.12-16).

O evangelista tinha um objetivo específico ao descrever a genealogia de Jesus: demonstrar que Ele era o Messias prometido. Mateus o relaciona com a casa real, como descendente direto do rei Davi, figura ligada à expectativa messiânica. Também enfatiza a descendência abraâmica, pois o grande patriarca é considerado o pai da nação israelita. Ele recebeu a promessa divina de que sua descendência seria grande e abençoada. Abraão é uma figura importante para o cristianismo como o pai de todo aquele que crê, por meio de seu exemplo de fé e vínculo com Jesus.

2. As mulheres na genealogia de Jesus.
Na leitura da genealogia de Jesus salta aos olhos a menção de três mulheres: Rute, Raabe e Tamar. Para a cultura da época a menção de mulheres já era um fato relevante pois elas geralmente, não eram mencionadas nas genealogias. O que surpreende ainda mais é o fato de que estas mulheres, segundo a tradição judaica, jamais teriam condições de entrar na genealogia do Rei dos reis, pois Rute, embora tivesse um caráter ilibado, era moabita. Raabe ganhava a vida como prostituta (Js 2.1), e Tamar seduziu e enganou o seu sogro (Gn 38). Além dessas três mulheres é citada também Bate-Seba, esposa de Urias, que se tornou conhecida pelo adultério com Davi (2Sm 11.3-5). Para a cultura judaica, estas mulheres eram consideradas moralmente corrompidas e, portanto, sem nenhuma possibilidade de fazerem parte da linha sucessória do Messias. No entanto, Deus não se submete às culturas, pois está atento aos corações das pessoas.

3. Uma genealogia onde os excluídos são incluídos.
As mulheres não eram as únicas “excluídas” a serem incluídas na genealogia de Jesus. Mateus coloca várias personagens excluídas da sociedade judaica em papéis principais nos discursos de Jesus. Esta inclusão parece ser proposital, principalmente pelo ambiente judaico desse Evangelho. O evangelista destaca que o Messias viria para salvar o seu povo de seus pecados (Mt 1.21). Ao mesmo tempo, ele descreve o encontro de Jesus com pessoas estrangeiras que são alcançadas pela sua graça e misericórdia (Mt 4.23-25). Demonstra que sua missão não era exclusiva para os judeus, mas universal. A universalidade da missão de Jesus é explicada de forma exaustiva pelo apóstolo Paulo, principalmente na Epístola aos Romanos, ao incluir tanto judeus como gentios como receptores da graça de Deus.

Ponto Importante
A genealogia de Jesus nos dá um grande exemplo de inclusão social, pois a tendência humana é “esconder” das ascendências os excluídos pela sociedade.

III. A TEOLOGIA DE MATEUS

1. O Messias e a proclamação da chegada do Reino dos Céus.
A figura do Messias está estritamente relacionada com a proclamação do Reino dos Céus. Esses temas ficam mais evidentes no início e no fim do Evangelho. O título “Filho de Deus” é citado sempre em momentos cruciais do Evangelho: no batismo de Jesus (Mt 3.17); na confissão de Pedro (Mt 16.16); na transfiguração (Mt 17.5), no julgamento e na cruz (Mt 26.63; 27.40,43,54). Outra expressão importante relacionada à messianidade de Jesus é “Filho de Davi”, que ocorre 10 vezes em Mateus.

Mateus demonstra que Jesus é, de fato, o Filho de Deus prometido no Antigo Testamento. Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus.

No Reino dos Céus proclamado por Jesus, a forma de governo é diferente dos impérios humanos que dominam os povos. O Reino dos Céus implica justiça, paz e a alegria que somente Deus pode dar. Assim a identidade messiânica de Jesus, o Reino dos Céus e temas recorrentes (a justiça e a Lei) são os principais focos teológicos do Evangelho de Mateus.

2. O Evangelho de Mateus e a Igreja.
Mateus menciona a Igreja por duas vezes (Mt 16.18; 18.18), enquanto o termo não é mencionado nos demais Evangelhos. Em seus escritos, a comunidade cristã é incentivada a manter a fé em Cristo e a seguir suas diretrizes fundamentais e aos seus líderes. Os grandes discursos do Evangelho contêm as principais diretrizes à Igreja.

Mateus recomenda a fé em Cristo e a humildade para se evitar a queda e os escândalos, aos quais todas as pessoas estão sujeitas (Mt 18.1-9). Ele alerta a respeito dos falsos profetas (Mt 7.15) e da existência tanto de santos como de pecadores na Igreja, cuja diferença ficará evidente apenas no Dia do Senhor (Mt 13.36-43; 22.11-14). No Evangelho de Mateus, o estilo de vida apostólico e missionário é descrito (Mt 9.36-11.1) e a Igreja é chamada para cumprir a sua missão evangelizadora (Mt 28.19,20).

3. O uso do Antigo Testamento em Mateus.
O evangelista utiliza, pelo menos, uma série de 10 citações do Antigo Testamento para demonstrar que tudo que aconteceu na vida e ministério de Jesus estava previsto, principalmente nos profetas (Mt 1.23; 2.15,23; 4.14-16; 8.17; 12.17-21; 13.35; 21.4,5; 27.9).

O cuidado de Mateus em demonstrar o cumprimento das profecias na vida e obra de Jesus tinha como objetivo demonstrar que o Messias não veio para destruir ou anular, mas para cumprir a Lei e os profetas (Mt 5.17). Principalmente por meio de sua morte na cruz, que era de difícil entendimento para um judeu, mesmo convertido ao cristianismo. Essa dificuldade será analisada com mais profundidade na lição 11.

A utilização de textos do Antigo Testamento para explicar os acontecimentos da vida de Jesus e sua obra foi uma importante estratégia de Mateus para demonstrar que o plano histórico-salvífico de Deus é único, tanto para judeus como para gentios.

Os títulos “Filho de Deus” e “Filho de Davi”, atribuídos a Jesus, são expressões messiânicas que Mateus usa para identificá-lo com o Messias prometido.


CONCLUSÃO

Na lição de hoje, uma introdução ao Evangelho de Mateus, aprendemos que os Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) evidenciam detalhes diferentes da vida e obra de Jesus, mas são coerentes no conteúdo. Que a genealogia mateana de Jesus tem o objetivo de apresentá-lo como o Messias, cujo Reino é universal incluindo judeus e gentios e que a teologia principal de Mateus é apresentar o Reino dos Céus por meio da Igreja e em concordância com o Antigo Testamento.


SUBSÍDIO I
“Durante os três primeiros séculos da era cristã, a descrição de Jesus, no Evangelho de Mateus, foi a mais admirada e citada no Novo Testamento. Evidentemente, o evangelho é exatamente isso: o retrato da pessoa que é em si mesma as boas-novas do amor perdoador de Deus.
O Evangelho de Mateus é um dos mais enraizados no Antigo Testamento e o mais preocupado com questões importantes para o povo judeu. É o que mais contém citações do Antigo Testamento e a maior parte das referências acerca do cumprimento das profecias messiânicas. Também é o que mais tem a dizer sobre a Lei do Antigo Testamento, ao demonstrar a distorção produzida pelas tradições defendidas pelos fariseus focalizando a atenção no coração e não no comportamento.
Tudo indica que a contribuição teológica mais importante de Mateus diz respeito ao reino. Os profetas do Antigo Testamento estavam convencidos de que a intenção de Deus era implementar um reino terreno do Messias, um descendente de Davi, que elevaria Israel à glória e estabeleceria a justiça de Deus em todo o mundo. A morte de Jesus na cruz levantou uma questão decisiva. Se Jesus é o Messias, o que teria acontecido com o reino? Mateus responde a essa indagação" (RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 9ª Edição. RJ: CPAD, 2010, p.599).

Fonte: Lições Bíblicas Jovens - 1º Trimestre de 2018 - Título: Seu Reino não terá fim — Vida e obra de Jesus segundo o Evangelho de Mateus - Comentarista: Natalino das Neves
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