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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A Carta aos Hebreus e a Excelência de Cristo

Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” Hb 1.1


Nesta lição introdutória do nosso estudo da Carta aos Hebreus, queremos iniciar dizendo que assim como todos os escritos da Bíblia, esta carta é um documento especial. Em nenhum outro documento do Novo Testamento encontramos um apelo exortativo tão forte. Isso possuía uma razão de ser — os crentes hebreus davam sinais de enfraquecimento espiritual e até mesmo o risco de abandonarem a fé! Era, portanto, urgente admoestá-los a perseverarem. Jesus, a quem o autor mostra ser maior do que os profetas, maior do que todas as hostes angélicas, maior do que Arão, Moisés, Josué e até mesmo os céus, é nosso grande ajudador nessa jornada.

AUTORIA, DESTINATÁRIO E PROPÓSITO

Autoria. A Carta aos Hebreus não revela o nome do seu autor. Esse fato fez com que surgissem inúmeras controvérsias em torno de sua autoria. É certo que os cristãos primitivos sabiam quem realmente a escreveu; todavia, já por volta do segundo século da nossa era não havia mais consenso quanto a isso. Clemente de Alexandria, no final do segundo século, atribuiu ao apóstolo Paulo a sua autoria, contudo, ao afirmar que Paulo a escreveu em hebraico e que Lucas a teria traduzido para o grego, passou a ser duramente questionado. As razões são basicamente duas: O texto de Hebreus, um dos mais rebuscados do Novo Testamento grego, não parece ser uma tradução. Por outro lado, o estilo usado na carta não parece ser de forma alguma de Paulo. Outros nomes surgiram como possíveis autores de Hebreus: Barnabé, Apolo, Lucas, Clemente Romano, etc. O certo é que somente Deus sabe quem é o seu autor. Por outro lado, o fato de ter sua autoria desconhecida em nada diminui a sua autoridade.

Destinatários. Não há dúvida de que a Carta aos Hebreus foi escrita para cristãos judeus. Deve ser observado que essa carta foi endereçada a uma comunidade específica de cristãos e não a um grupo indeterminado. O autor conhece o público a quem endereça o seu texto e espera até mesmo encontrar-se com eles (Hb 13.19,23). Onde viviam esses crentes é um ponto debatido pelos teólogos. Baseados na expressão “os da Itália vos saúdam” (Hb 13.24), muitos eruditos argumentam que esses crentes se encontravam fora de Roma, capital do Império Romano. A data da carta é motivo de disputa, mas as evidências internas permitem-nos situá-la antes da destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 d.C.

Propósito. O escritor I. Howard Marshal observa que Hebreus combina instrução com exortação. De fato, essa carta possui uma grande carga exortativa. Ela exorta os crentes a terem ânimo, confiança e fé em um tempo marcado pela apostasia. Muitos pareciam estar desanimados com a oposição que a nova fé vinha sofrendo e em razão disso estavam voltando às antigas práticas judaicas. A carta, portanto, exorta esses crentes a suportarem as pressões e perseguições, lembrando-os que não haviam ainda derramado sangue pela sua fé (Hb 12.4). Essas palavras continuam ecoando nesses dias quando muitos crentes demonstram apatia e falta de fervor espiritual diante de um mundo hostil.

Texto Bíblico: Hebreus 1.1-14

Por meio de Cristo, Deus revelou-se de uma forma especial e definitiva ao seu povo.


Fugindo das características que são comuns na abertura de uma carta ou epístola, o autor vai diretamente ao assunto que ele quer tratar. No original, é possível perceber a beleza da sua construção literária ainda nas primeiras linhas. Neil R. Lightfoot observa que, já na abertura de seu texto, o autor antecipa tudo o que se seguirá. Ele mostrará a supremacia da fé cristã em relação ao judaísmo primitivo.

“Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” (v. 1). Os profetas eram os arautos de Deus para o povo de Israel. A Instituição Profética no Antigo Testamento é por demais importante para ser minimizada. Para um judeu, a pior desgraça que poderia existir era o silêncio profético. A trombeta profética servia de alerta quando a vida moral, a espiritual e a social não iam bem. Abraham Joshua Heschel (1907–1972), famoso rabino austro-americano, escreveu sobre a importância dos profetas:

“O significado dos profetas de Israel não reside apenas no que eles disseram, mas também no que eles foram. Não podemos entender completamente o que eles pretendiam dizer a nós, a menos que tenhamos algum grau de consciência do que lhes aconteceu. Os momentos que passaram em suas vidas não estão agora disponíveis e não podem se tornar objeto de análise científica. Tudo o que temos é a consciência desses momentos como preservados em palavras [...]. O profeta faz pouco caso daqueles para quem a presença de Deus é auxílio e segurança; para ele, é um desafio, uma exigência incessante. Deus é compaixão, não concessão; justiça, embora não inclemência. A palavra do profeta é um grito na noite. Enquanto o mundo dorme despreocupado, o profeta sente o golpe vindo do céu”.1

O autor de Hebreus tem consciência desse fato — os profetas foram arautos de Deus para o seu antigo povo. Todavia, uma voz superior a deles fora levantada — a voz do Filho de Deus! Essa voz era em tudo superior a dos profetas. Os profetas foram agentes da revelação divina, mas não foram a revelação final. O autor lembra que essa revelação final, a última palavra profética, era do Filho de Deus. Nenhum profeta, por mais importante que tivesse sido, poderia igualar-se em importância com Jesus Cristo.

A ideia, aqui, não é que Deus não falaria mais a partir daquele momento, como nos quer fazer acreditar alguns autores, mas, sim, mostrar Jesus Cristo como sendo o cumprimento de tudo aquilo que foi predito pelos profetas.2 Adam Clarke (1760–1832) comentou com muita propriedade que:

“Debaixo do Antigo Testamento, as revelações foram feitas em ocasiões distintas por várias pessoas, em diversas leis e forma de ensinamentos com diferentes graus de clareza, símbolos, tipos e figuras e com distintos modos de revelação, tal como por anjos, visões, sonhos, impressões mentais, etc.; veja Nm. 12.68. Todavia, debaixo do Novo Testamento, tudo está feito por uma só pessoa, quer dizer, Jesus, que cumpriu o que disseram os profetas e completou as profecias”.3

“A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (v. 2). A palavra “herdeiro”, que traduz o termo grego kleronomos, era usada em referência à divisão dos bens que um pai realizava em favor de seus filhos. No judaísmo antigo, esse termo foi usado para o lançamento de sortes para ser definido a quem caberia a parte da herança. A ideia é que Jesus Cristo, por ser o único Filho de Deus, tornou-se o herdeiro de tudo. Todavia, Ele não era apenas o herdeiro de tudo, mas também foi o agente da criação. Através dEle, os mundos foram criados. A palavra “mundo” traduz o termo grego aionas, com o significado de “eras’. O sentido é que Deus, em Cristo, criou o mundo com tudo o que nele há. Como bem destacou Efrén de Nisibi: “tanto o mundo espiritual como o material”.4

“O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade, nas alturas” (v. 3). Esse versículo compõe aquilo que os teólogos denominam de “cristologia alta”. A patrística valeu-se com frequência desse texto para afirmar a divindade de Cristo. Ainda muito cedo, Orígenes escreveu:

“A mim me parece que o Filho é um reflexo da glória de Deus, conforme ao que Paulo afirma: ‘Ele é o reflexo de sua glória’. Deste reflexo de toda a gloria, reflete certamente os reflexos parciais que tem as demais criaturas dotadas de razão, pois penso que nada, exceto o Filho, pode conter o reflexo da glória do Pai em sua totalidade”.5

Por outro lado, Atanásio, em seu discurso contra os arianos, escreveu:

“Quem já viu uma luz sem resplendor? Ao escrever aos Hebreus, o apóstolo afirma: ‘Cristo é o esplendor de sua glória e a marca de sua substância’, e Davi, no Salmo 89, canta: ‘O esplendor do Senhor, nosso Deus, está conosco’, e também: ‘Em tua luz, vemos a luz’. Quem é tão néscio que não entende que essas palavras referem-se à eternidade do Filho? Como pode alguém ver a luz sem o esplendor de sua irradiação para poder dizer a respeito do Filho: ‘Houve um tempo no qual ele não existia’ ou ‘Não existia antes de ser gerado’? A expressão do Salmo 144 refere-se ao Filho: “Teu reino é um reino eterno” e não permite a ninguém pensar em um intervalo cronológico, qualquer que seja, no qual o Logos não existia”.6

Em seu clássico e exaustivo comentário sobre a carta aos Hebreus, o puritano William Gouge (1575–1653) lança mais luz sobre o entendimento desse texto:

“Essa frase, a expressa imagem, é uma exposição da palavra grega χαρακτήρ, que pode ser traduzida como character (caráter). O verbo do qual essa palavra é derivada, charattein, insculpir, significa gravar, e aqui é usada com o sentido de carimbar ou imprimir alguma coisa gravada como a impressão sobre uma moeda; a impressão sobre o papel feita pela impressora; a marca deixada pelo selo”.7

Em outras palavras, aquilo que Deus é, Jesus Cristo também é. “Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles” (v. 4). Tendo mostrado a dignidade do Filho de Deus e sua superioridade sobre o ministério profético, o autor passa a fazer um contraste entre Jesus e os anjos. A cultura judaica, representada tanto na literatura canônica como na apócrifa, dá um papel de destaque para as figuras angélicas. Os anjos frequentemente aparecem nas páginas do Antigo Testamento. O apóstolo Paulo advertiu a igreja de Colossos sobre os perigos de uma adoração angélica: “Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão” (Cl 2.18).

Em nenhum momento, o autor deprecia a instituição profética, nem tampouco procura desqualificar o papel dos anjos dentro do plano de Deus. O seu foco, porém, é mostrar que ninguém, nem mesmo os anjos, que habitam os céus, pode ser maior do que o Filho de Deus. “A ideia é a de superioridade em dignidade, valor ou utilidade, sendo a ideia fundamental de poder, e não a de bondade”.8

“Porque a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho” (v. 5). Embora os anjos sejam chamados na Bíblia de “filhos de Deus” (Jó 1.6; 2.1), o Senhor, todavia, jamais os chama de “meus filhos”. Essa expressão só é aplicada a Cristo conforme demonstra o Salmo 2. Aqui, não está presente a ideia de uma inferioridade do Filho em relação ao pai pelo fato de aquEle ter sido “gerado”. Os cristãos neotestamentários não tinham problema algum com a divindade de Cristo, sendo que tais questionamentos foram disseminados em tempo posterior com a heresia ariana. Na cultura hebraica, as ideias por trás das palavras “Pai” e “Filho” não trazem o sentido de origem do ser e de superioridade, nem tampouco de subordinação e dependência. Da mesma forma, os termos “gerado” e “criado” não podem ser tidos como sinônimos. Loraine Boettner (1901–1990) observa que essas palavras trazem em si as “noções semíticas e orientais de semelhança e igualdade de natureza e igualdade do ser. Obviamente, a sensibilidade semítica é que sublinha a fraseologia das Escrituras, e, quando elas chamam Cristo de ‘Filho de Deus’, confirmam sua divindade verdadeira e apropriada. Isso indica uma relação peculiar que não pode ser afirmada a respeito de criatura alguma, nem tampouco compartilhada. Da mesma forma que qualquer filho humano assemelha-se ao pai em sua natureza essencial, isto é, possui humanidade, assim também Cristo, o Filho de Deus, era como o Pai em sua natureza essencial, isto é, possuía Divindade”.9

C. S. Lewis (1898–1963), o consagrado escritor britânico e autor de as Crônicas de Nárnia, em uma carta escrita a Arthur Greeves, disse que:

“Gerar é tornar-se pai; criar é fazer. A diferença é esta: quando você gera, gera algo da mesma espécie que você. Um homem gera bebês humanos, o urso gera filhotes ursos, e um pássaro gera ovos que se transformam em passarinhos. Mas quando você cria, faz algo de uma espécie diferente da sua. O pássaro faz o ninho, o castor constrói um dique, o homem faz o telégrafo — ou talvez faça alguma coisa mais parecida consigo mesmo, como talvez uma estátua. Se for um escultor bem qualificado, pode fazer uma estátua bem parecida com um homem. Naturalmente, porém, ela não será um homem verdadeiro, apenas se assemelhando a ele. Ela é incapaz de respirar ou pensar. Não está viva. Essa é a primeira coisa a compreender. O que Deus gera é Deus; assim como o que o homem gera é homem. O que Deus cria não é Deus; da mesma forma que o que o homem cria não é homem. Daí a razão de os homens não serem filhos de Deus no mesmo sentido que Cristo. Eles podem assemelhar-se a Deus em certos aspectos, mas não pertencem à mesma espécie. Aproximam-se mais de estatuas ou figuras de Deus”.10

“E, quando outra vez introduz no mundo o Primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem” (v. 6). O autor põe em relevo a superioridade do Filho em relação aos anjos quando destaca que estes devem prestar-lhe adoração. A ideia, aqui, não é apenas de prestar uma homenagem como sugere o ensino ariano. O vocábulo grego proskyneo traz a ideia de prostrar-se e adorar.11  Os intérpretes acreditam que o autor nessa citação fez uma combinação de Deuteronômio 32.43 com o Salmo 97.7 (96.7 LXX). Tanto o texto massorético em hebraico como o texto grego da Septuaginta traduzem as palavras hištaḥăwūe proskyneo como adorar.
“E, quanto aos anjos, diz: O que de seus anjos faz ventos e de seus ministros, labareda de fogo” (v. 7). A tradução “vento”, e não “espírito”, posta logo após o termo “anjos”, conforme aparece na Almeida Revista e Atualizada, capta melhor o sentido do original. O sentido é que os anjos podem assumir tanto a forma de vento como de fogo! Por outro lado, a palavra “ministros” (gr. leitourgeo) dá a ideia de alguém a serviço de outrem. Os anjos são seres a serviço de Deus.
“Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro do teu reino” (v. 8). Aqui, o autor faz uma referência ao Salmo 45. Precisamos enxergar o caráter messiânico desse salmo se quisermos, de fato, entender o pensamento do autor. Em seu comentário do Novo Testamento, Joseph Benson (1749–1821) observa que essa citação só tem sentido quando aplicada a Cristo.12  Somente Ele pode ser chamado de Deus. Archibald Thomas Robertson (1863–1934), da mesma forma, vê nesse texto uma afirmação da divindade de Cristo. Robertson observa que “essa citação (a quinta) provém do Salmo 45.7ss. Uma ode nupcial hebraica (epithalamium) para um rei, que aqui é tratado como messiânico. Aqui, ho theos deve tomar-se como vocativo (dirige-se a palavra como na forma nominativa, como em João 20.28, onde o Messias é designado como Deus; cf. Jo 1.18)”.13

“Amaste a justiça e aborreceste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros” (v. 9). Eusébio de Cesareia (263–339 d.C.) destaca:

“aqui, o primeiro versículo do texto o chama de Deus; o segundo o honra com o cetro real. E a continuação depois de seu poder divino e régio mostra o mesmo Cristo, em terceiro lugar, ungido não com óleo que procede de matéria corporal, senão com o óleo divino do gozo, pelo que vem significar sua excelência, sua superioridade e sua diferença em relação aos antigos, ungidos mais corporalmente e em figura”.14

“E: Tu, Senhor, no princípio, fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos” (v. 10). Com sua mente no Salmo 102.25-27 e sempre seguindo a Septuaginta, o autor descreve a exaltação de Cristo, que é retratado aqui como Senhor e Criador. Para o autor, uma das inúmeras razões da superioridade de Jesus sobre os anjos é que Cristo não é uma criatura, mas, sim, o próprio Criador de tudo o que há. Essas palavras fazem um paralelo com Colossenses 1.16 e João 1.3.
“Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão” (v. 11). Em contraste com o mundo que passará, Jesus permanecerá para sempre.
“E, como um manto, os enrolarás, e, como uma veste, se mudarão; mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão” (v. 12). O autor põe em relevo as metáforas para contrastar a transitoriedade do mundo criado com a eternidade do Filho. Em seu comentário sobre Hebreus, James Moffat (1879–1944) escreveu: “O mundo desgasta-se, e até mesmo os céus (12.26) são abalados, e com ele as luzes celestiais, mas o Filho permanece. A natureza está a sua mercê, e não Ele à mercê da natureza”.15

“E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés?” (v. 13). Aqui, a figura é de um monarca sendo honrado diante de seus súditos. O assento da direita revelava posição de honra. Por outro lado, no Oriente, era costume dos vencedores colocar o pé no pescoço dos vencidos (Js 10.24). Nenhum dos anjos ocupou uma posição de honra semelhante àquela ocupada por Jesus. A expressão assenta-te, que traduz o grego kathou, está no presente contínuo e descreve o estado permanente da grandeza e supremacia de Jesus para todo o sempre.

O autor está próximo de introduzir outra seção na sua argumentação, mas ele precisa concluir sobre aquilo que ele havia argumentado sobre a superioridade do Filho em relação aos anjos. Os anjos são servos de Deus, Jesus é Filho e Senhor; os anjos não têm trono, o Filho tem. Os anjos são servos a serviço da salvação; o Filho é o autor da Salvação.

“Não são, porventura, todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” (v. 14). O versículo 14 conclui o que o autor tencionava fazer ao contrastar a pessoa de Jesus com os anjos. Ficou meridianamente claro que o Filho de Deus é superior aos anjos em tudo. Os anjos estão a serviço da soberania divina no seu projeto redentivo. “Afinal, o que são os anjos?”, pergunta Stuart Olyott.

“Não são pessoas da Divindade. São espíritos criados que foram enviados por Deus, não somente para servi-lo, mas também para servir os cristãos. Quão revelador e confortante é isso! Em alguns momentos parecemos tão rebaixados e os anjos aparecem tão poderosos. Mas nós é que herdaremos a salvação, não eles. Embora já estejamos salvos, a consumação final de nossa salvação (o corpo ressurreto, a absolvição pública no juízo final, as glórias celestiais, etc.) ainda nos aguarda. Os anjos já estão tão elevados o quanto é possível; nós ainda aguardamos a glorificação final, quando “julgaremos os próprios anjos” (1 Co 6.3). Mas jamais poderemos nos comparar em glória com nosso Senhor Jesus Cristo. Muito menos os anjos podem ser comparados a ele! Por que, então, alguém é tentado a deixá-lo e retornar a uma religião centrada em um conjunto de regras dadas por meio de intermediários angélicos?”.16

Da Antiga à Nova Aliança, Cristo é a revelação plena de Deus Pai, por isso, Ele é superior aos profetas.

SUBSÍDIO LEXICOGRÁFICO
REVELAÇÃO — [Do gr. apokalupsis; do lat. revelatio, tirar o véu] Manifestação sobrenatural de uma verdade que se achava oculta. Tendo em vista o caráter e a urgência das profecias do último livro da Bíblia, Apocalipse é considerado a revelação por excelência (Ap 1.1-3).

REVELAÇÃO BÍBLICA — Conhecimento divino preservado nas Sagradas Escrituras, e posto à disposição da humanidade. Consta do Antigo e do Novo Testamento. É a nossa única regra de fé e prática.

REVELAÇÃO PROGRESSIVA — Evolução progressiva e dispensacional das verdades divinas que, tendo a sua gênese no Antigo Testamento, culminaram e se completaram no Novo. O texto-áureo da revelação progressiva acha-se em Hebreus 1.1,2” (ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. RJ: CPAD, 1999, pp.255,56).

Jesus Cristo é superior aos anjos em relação à natureza, essência, majestade e deidade.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
ANJOS. A palavra ‘anjo’ (hb. Malak; gr. angelos) significa ‘mensageiro’. Os anjos são mensageiros ou servidores celestiais de Deus (Hb 1.13.14), criados por Deus antes de existir a terra (Jó 38.4-7; Sl 148.2,5; Cl 1.16).

(1) A Bíblia fala em anjos bons e em anjos maus, embora ressalte que todos os anjos foram originalmente criados bons e santos (Gn 1.31). Tendo livre-arbítrio, numerosos anjos participaram da rebelião de Satanás (Ez 28.12-17; 2Pe 2.4; Jd 6; Ap 12.9; Mt 4.10) e abandonaram o seu estado original de graça como servos de Deus, e assim perderam o direito à sua posição celestial.

(2) A Bíblia fala numa vasta hostes de anjos bons (1Rs 22.19; Sl 68.17; 148.2; Dn 7.9,10; Ap 5.11), embora os nomes de apenas dois sejam registrados nas Escrituras: Miguel (Dn 12.1; Jd 9; Ap 12.7) e Gabriel (Dn 9.21; Lc 1.19,26). Segundo parece, os anjos estão divididos em diferentes categorias: Miguel é chamado de arcanjo (lit.: ‘anjo principal’, Jd 9; 1Ts 4.16); há serafins (Is 6.2), querubins (Ez 10.1-3), anjos com autoridade e domínio (Ef 3.10; Cl 1.16) e as miríades de espíritos ministradores angelicais (Hb 1.13,14; Ap 5.11)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995, p.386).

O autor de hebreus não quis se identificar, mas isso em nada compromete a autoridade desse documento. Desde os primórdios, a igreja valeu-se dos ensinos dessa carta para fortalecer a fé dos crentes. Clemente de Alexandria fez amplo uso das exortações encontradas nessa carta e, ao assim fazer, reconhecia o profundo valor espiritual de Hebreus. 

Nesses últimos dias, onde os joelhos de muitos cristãos parecem vacilantes, faz-se necessário atentarmos diligentemente para o conselho encontrado em Hebreus, “se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais o vosso coração” (3.7).

Notas
1 HESCHEL, Abraham Joshua. The Prophets. Hendrickson Publishers, Peabody, Massachsetts, EU A, 2014.
2 É assim que devemos entender o uso do particípio aoristo làlesas, (tendo falado) no versículo 1 e o aoristo do indicativo ativo elalesen (falou) no versículo 2. A revelação final havia-se completado. O ministério profético da Antiga Aliança havia terminado (Lc 16.16), sendo que, a partir desse ponto, Deus falaria através do seu Filho, a revelação final; e este continuaria a falar à sua igreja através do seu Espírito (Jo 16.13; At 21.11).
3 CLARKE, Adam. Comentário de La Santa Biblia - Nuevo Testamento, tomo I I I - Hebreos. Casa Nazarena de Publicaciones, Lenexa, Kansas, EUA, 2014.
4 NISIBI, Efrén. Comentário a la Carta a los Hebreos - Lá Biblia Comentada por Los Padres de La Iglesia. Editora Ciudad Nueva. Madrid, Espana.
5 ORÍGENES. Comentário al Ev. De Juan, 32, 353-354. La Bíblia Comentada por Los Padres de La Iglesia.
6 ATANÁSIO. Discursos Contra Los Arianos. La Bíblia Comentada por Los Padres de La Iglesia.
7 GOUGE, William. Commentary on Hebrews - A Puritan Classic Exegetical and Expository Comentary, 2 Vol. Solid Ground Christian Books, Birminghan, Alabam, EUA.
8 RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. Editora Vida Nova, São Paulo, SP.
9 BOETTNER, Loraine. Studies in Theology. Conforme citado por Josh Mcdowel em: Jesus - Uma Defesa Bíblica de Sua Divindade. Editora Candeia, São Paulo.
10 LEWIS, C. S. They Stand Together: The Letters o f C. S. Lewis to Arthur Greeves. Walter Hooper. Nova Iorque: McMillan, 1979.
11 KITTEL, Gerhard. Theological Dictionary of the New Testament, 10 volumes. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Michigan, EUA.
12 BENSON, Joseph. New Testament Commentary. Nova Iorque: T. Mason & G. Lane, 1839.
13 ROBERTSON, A. T. Comentário al Texto Griego del Nuevo Testamento - obra completa. 6 tomos em 1. Editorial CLIE, Terrassa, Barcelona, Espana.
14 CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica, 1,3, 7-20. Conforme citado em La Biblia Comentada pelo los Padres de La Iglesia.
15 MOFFAT, James. A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Hebrews. Edimburgo, 1924.
16 OLYOTT, Stuart. A Carta aos Hebreus - bem explicadinha. Editnru Cultura Cristã. São Paulo, SP.

Fonte:
Lições Bíblicas 1º Trim.2018 - A supremacia de Cristo - Fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus - Comentarista: José Gonçalves
Livro de Apoio – A Supremacia de Cristo - Fé, Esperança e Ânimo na Carta aos Hebreus - José Gonçalves
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