“Mas a nossa cidade está nos céus, donde
também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” Fp 3.20
Glorificados em Cristo
Uma das características da soteriologia
pentecostal é a devoção à espera do porvir. Por causa dessa devoção, os
pentecostais são acusados injustamente de escapistas, pessoas despreocupadas
com as grandes questões do nosso tempo e não engajadas em determinadas agendas
políticas. É verdade que os pentecostais, somos “pessimistas” em relação à
natureza humana e à sua capacidade de fazer o caminho ético necessário à vida.
Esse pessimismo, em parte, reluz mediante a doutrina do pecado original, bem
como a certeza escatológica de que só quando Cristo Jesus retornar
gloriosamente é que o mundo experimentará uma paz perfeita — Apocalipse 21.4.
Para nós, a salvação em Cristo será plenamente realizada quando estivermos para
sempre com Cristo — Filipenses 3.20,21. Ora, como diz a Palavra 1 Coríntios
15.19. Para nós, os pentecostais, essa espera é inegociável; tal esperança move
a nossa fé. Revista Ensinador Cristão nº 72
A plena glorificação dos salvos se dará na
segunda vinda gloriosa de Cristo.
Texto bíblico - 1 Coríntios 15.13-23
A glorificação dos salvos é o clímax e o ato
final do processo de salvação. Além de ser o evento mais sublime para os
salvos, é também o lugar em que a doutrina da salvação e a escatologia
encontrar-se-ão. Trata-se de um evento tão glorioso que afetará a própria
criação, que será renovada e redimensionada (Ap 21.5) para receber a Jerusalém
Celestial, a futura habitação dos salvos remidos. Isso acontecerá na segunda
vinda de Cristo, e salvos experimentarão a transformação completa da
corruptibilidade humana e serão revestidos da glória de Deus.
PEREGRINOS NA TERRA
O anseio verdadeiro de todo crente é poder
chegar ao seu destino final, que é o céu. Esse anseio é totalmente possível
através da plenitude da salvação que se dará nesse momento quando a essência do
ser humano atingirá seu clímax de potencialidades positivas e santas e quando
cessarão as coisas próprias da humanidade decaída. Todavia, enquanto espera
esse dia glorioso, o crente é conduzido a peregrinar (Sl 119.19; Hb 11.13) na
terra da mesma forma como tantos heróis da fé já o fizeram, como escreve o
autor aos Hebreus: “Todos estes [Abraão, Sara, Isaque, Jacó, Moisés, etc.]
morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe, e
crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na
terra. Porque os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria” (Hb
11.13.14).
O peregrinar é cheio de vida e alegrias no
Senhor, mas também é permeado por circunstâncias difíceis, as quais nos
desafiam a respostas, soluções, resignações, processos de cura, resiliência e
fé. É o olhar fito no além que dá as condições necessárias para suportar as
dificuldades, assim como fez Abraão, que, “pela fé, habitou na terra da
promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros
com ele da mesma promessa” (Hb 11.9). O crente Abraão é o modelo bíblico ideal
dessa realidade, pois fez da peregrinação o seu estilo de vida (Hb 11.9). Da
mesma forma, nós, cristãos, somos peregrinos aqui e precisamos adquirir esse
estilo de vida. Por esse motivo, não podemos ficar embaraçados com as coisas do
mundo, nem permitir que elas ocupem o lugar que pertence ao Senhor em nossos
corações (Mt 6.21). Isso não significa relaxamento quanto ao trabalho, estudos
e família, mas, sim, um direcionamento correto do coração, buscando, em
primeiro lugar, as coisas que são de cima (Cl 3.1).
A Bíblia refere-se ao fato de que os crentes não
são deste mundo (Jo 17.16) e anseiam por sua pátria celestial, como disse
Paulo: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o
Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Dessa forma, nossos valores não podem
conformar-se com este mundo, e nosso estilo de vida deve refletir o exemplo de
Jesus presente nos evangelhos, marcado pela prática da justiça, do acolhimento
aos que sofrem, de libertação dos oprimidos do Diabo e, especialmente, em
praticar em todos os atos o amor de Deus, que será uma das poucas coisas da
terra presentes no céu (1 Co 13.13). Assim, antecipa-se o Reino de Deus na
terra na tensão entre o que vivemos agora e o que há de vir (Mt 6.33), pois
sabemos que tudo aqui na terra é transitório e passageiro.
A certeza da transitoriedade de todas as
coisas é o que alimenta a fé cristã. Todas as igrejas que são vivas em sua
liturgia e aplicam o evangelho ao seu cotidiano, como no caso dos pentecostais,
são as que mais intensamente aguardam o desenrolar escatológico, exatamente
como escreve Moltmann:
O cristianismo é total e visceralmente
escatologia, e não só como apêndice; ele é perspectiva e tendência para frente,
e, por isso mesmo, renovação, e transformação do presente. O escatológico não é
algo que se adiciona ao cristianismo, mas é simplesmente o meio em que se move
a fé cristã, aquilo que dá o tom a tudo o que há nele.
O peregrino é aquele que está de passagem por
uma terra que não lhe pertence. Ele caminha em direção a um país que seu
coração almeja e, então, sacrifica-se para isso, não tendo lugar permanente por
onde caminha, não experimentando conforto e ainda carregando o mínimo de
bagagem para tornar o trajeto mais fácil. “Amados, peço-vos [exorto-vos], como
a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências da carne,
que combatem contra a alma” (1 Pe 2.11).
Paulo
exorta-nos a termos o mesmo sentimento que houve em Cristo, o de esvaziar-se
(Fp 2.5) para poder cumprir o propósito de Deus, que é servir. Isso significa
que devemos abandonar toda prepotência, orgulho e apego a títulos, cargos e
posições para servir às pessoas necessitadas à nossa volta em obediência
completa a Jesus (Jo 13.1ss; Fp 2.7-8); o que passar disso assume a prepotência
de querer ser igual a Deus (Fp 2.6).
Aqui, somos constantemente levados à ganância, ao consumismo, ao poder e às
riquezas, as quais estão traindo a esperança futura de muitos crentes na vinda
de Cristo e também nas bem-aventuranças eternas, fazendo com que queiram
desfrutar (embora seja lícito dentro de limites) inadvertida e completamente
focados nas coisas da terra, esquecendo-se das celestiais, que, de fato, tem
valor eterno. Jesus disse para buscarmos “primeiro o Reino de Deus, e a sua
justiça, e todas essas coisas [nos] serão acrescentadas” (ver Mt 6.33).
Essa mudança
de foco por parte daqueles que deveriam estar esperando e ansiando pelo Reino
vindouro torna-se num secularismo religioso,184 o qual afasta as esperanças do
Reino, fazendo-os focar em ídolos criados pelos homens. Nesse sentido, os
ídolos podem ser qualquer coisa que tome o lugar do Senhor como prioridade
última na vida. O ídolo sempre é opaco, ou seja, ele ofusca aquilo que se quer
buscar, passando a apontar para si mesmo. O ídolo serve como um substituto
muito fútil para Deus. A religiosidade e as denominações religiosas podem,
inclusive, tornar-se um ídolo quando passam a manipular o povo para obter
vantagens próprias e adquirir poder (não do Espírito Santo, mas de forças
humanas), ou, quando elas tornam-se um fim em si mesmas.185
Algumas
religiões atuais que crescem vertiginosamente — em especial as neopentecostais
— secularizaram Deus a um mero atendedor de desejos humanos e
instrumentalizaram-no para fins de interesses duvidosos, extirpando qualquer
possibilidade de esperança futura, pois a religião nem sempre está em busca de
Deus e nem sempre cumpre seu propósito de religare186 com Deus. Isso faz com
que um falso reino de Deus seja implantado aqui e agora. O deus-ídolo que a
religião criou para atender esses desejos humanos, alguns até legítimos, porém
obtusos, não coincide com o Deus bíblico187 e escatológico.
Há, portanto,
uma imensa crise de esperança futura do Reino de Deus, fazendo muitos acharem
que esse Reino não é mais necessário. O neopentecostalismo já criou seus
anticristos, que proclamam que o reino já chegou materialmente. Trata-se de um
reino que está esplendidamente cheio de promessas de riqueza e que já está na
concretude da espoliação religiosa, da exploração de mentes e corações idólatras.
Houve uma aliança perfeita entre a ganância do mundo capitalista expressa nos
desejos do povo e na ganância por poder de líderes religiosos inescrupulosos
que constroem grandes impérios de um reino idolátrico. Trata-se de uma sutil
combinação malévola entre esses líderes e o povo idólatra num imenso e falso
conto de fadas religioso, praticando-se, assim, um ateísmo prático onde se fala
de Deus, mas Ele é totalmente desnecessário.
É
lógico que o fenômeno de buscar refúgio188 em igrejas para obter favores de
Deus (sejam eles financeiros ou de sanidade física) também reflete a falta de
políticas públicas que deem conta dos milhares de pobres e desamparados que não
têm acesso à medicina de forma digna e têm de submeter-se às promessas de
curandeirismo evangélico. É óbvio que não somos contra a cura como um milagre
legítimo através dos vários dons e ministérios conferidos por Cristo à sua
igreja, mas também não podemos concordar com ilusões e curas midiáticas que
apenas atraem mais povo para a igreja e, assim, extorquem-no de alguma forma.
Aqueles que professam a fé cristã não escapam
ao feitiço da religião do mercado. [...] O sistema religioso, [muitas vezes o
mesmo] que regula e controla o mercado exerce hoje uma influência muito
significativa sobre o povo de Deus das diferentes igrejas e confissões cristãs.
Isso equivale a dizer que, consciente ou inconscientemente, a espiritualidade
dessa parte do povo de Deus vive em aliança com os ídolos do mercado.189
Cientes
de que somos peregrinos na terra, aguardamos a pátria celestial, mantendo-nos
fieis ao que a Palavra de Deus ensina para, então, ficarmos livres dessas
formas de secularismo e ateísmo prático. A vida simples de Cristo, que nos
serve de exemplo, tinha um único objetivo apenas: fazer a vontade do Pai (Jo
5.30). Ele fazia dessa vontade sua vida e, portanto, não tinha preocupações
desnecessárias e nem as complicadas demandas que esvaziam a simplicidade cristã
de desfrutar a vida de maneira despretensiosa e, ao mesmo tempo, de esperar a
gloriosa morada celestial.
É preciso, entretanto, ter equilíbrio entre o
que se espera no além e as demandas normais da vida. Não se pode viver apenas
de forma etérea e esquecer as necessidades e obrigações que temos nesta vida —
como outrora, em que até mesmo os estudos eram desmotivados —, mas também não
podemos render-nos aos encantos do mundo como visto acima. Nesse sentido,
Albano afirma que:
Outrora, para muitos pentecostais, a salvação
era entendida como sinônimo de fuga do mundo. Assim, depreciava-se a criação e
assumia-se uma postura de desconfiança frente à vida nesta terra. Essa
espiritualidade podia ser resumida pela palavra não! Hoje, essa concepção vem
mudando, tem havido uma espiritualidade marcada pelo sim à vida. Isso ocorre
por obra do Espírito Santo, cuja atuação nas igrejas Assembleias de Deus,
sobretudo, no âmbito da educação teológica tem favorecido a abertura à
estética, artes e às questões públicas e políticas. Portanto, vivencia-se a
salvação que conduz ao encontro do mundo, em liberdade, santidade e
responsabilidade (cf. Jo 17.15-18; Rm 8).190
A
postura de esperança faz-nos buscar uma vida simples como Jesus ensinou e viveu
(Mt 6.19-21), confiando nos cuidados que Deus tem para com seus filhos. Somos
também livres das fúteis tentações da Teologia da Prosperidade, que inverte (1
Co 15.19) a ordem certa de prioridades do Reino de Deus e faz-nos querer buscar
as coisas que perecem (Mt 6.21), esquecendo-nos das que hão de vir (Ap 22.6).
A GLORIOSA
ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO DOS SANTOS
Os
salvos em Cristo têm uma esperança gloriosa de ressurreição para estarem para
sempre com Ele (1 Ts 4.14; Is 26.19). Essa é uma das promessas futuras do
crente possíveis por causa da ressurreição do próprio Jesus. Do mesmo modo que
Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. Ele “transformará o nosso corpo
abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de
sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3.21). Nosso corpo, hoje sujeito a
enfermidades e fraquezas, será revestido de incorruptibilidade na ressurreição
(1 Co 15.54) e nunca mais haverá fatos que levem à morte, pois a ressurreição
será a vitória final sobre a morte (1 Co 15.55).
Aqueles
que foram salvos pelo sacrifício de Cristo serão levados para o Reino de Deus,
que será um eterno desfrutar de alegrias, delícias e bem-estar na presença de
todos os salvos de todos os tempos, e o mais importante: estaremos para sempre
com o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cuja presença encherá a terra com
sua glória e majestade, conforme a visão de João: “E a cidade não necessita de
sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem
alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.23).
A
ressurreição será o início de um estado de eterna satisfação em Deus, que
suplantará incomparavelmente qualquer aflição deste tempo presente (Rm 8.18). O
sofrimento será completamente extirpado como afirmou João: “E Deus limpará de seus
olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor,
porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4). Diante da doce esperança
do porvir, conta-se de um crente bem idoso que, na iminência de estar com o
Senhor, foi perguntado se, durante a vida, ele não se sentiu tentado a deixar
de servir a Deus. Ele respondeu: “Se eu quisesse, eu não poderia; se eu
pudesse, eu não quereria.” Ele tinha seus olhos inteiramente voltados para
Cristo.
O anseio
pela vida eterna concretizada na ressurreição dos mortos esteve subjetivamente
presente nos heróis da fé do Antigo Testamento, quando as escrituras afirmam
que:
Todos estes morreram na fé, sem
terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe, e crendo nelas, e
abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Porque
os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria. E se, na verdade,
se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de voltar. Mas,
agora, desejam uma melhor, isto é, a celestial. Pelo que também Deus não se
envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade.
(Hb 11.13-16)
A ressurreição de Jesus e a futura ressurreição dos salvos fazem com que
tiremos os olhos das circunstâncias muitas vezes difíceis e voltemos nossos
olhos para o além. Isso não pode significar a fuga de enfrentamentos que aqui
temos de passar, mas significa uma alegre esperança de que tudo passará,
encorajando-nos ainda mais para enfrentarmos as batalhas e tendo certeza da
presença de Deus e seu fortalecimento (Rm 8.11). “Se esperamos em Cristo só
nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15.19).
A
PLENA SALVAÇÃO NOS CÉUS
Para compreender a glorificação dos salvos ou sua plenitude nos céus, é preciso
antes compreender que a salvação desfrutada aqui na terra, embora
potencialmente completa, é também precária na tensão entre a salvação já
operada, o “aqui agora”, e a salvação plena no futuro, o “ainda não”
escatológico. Dessa forma, todos os demais aspectos da salvação já
experimentados até agora alcançarão sua plenitude no “ainda não” escatológico.
Então, a justificação poderá ser comprovada, pois hoje é aceita por fé; o amor
de Deus será experimentado com todas as suas satisfações e gozos; a
regeneração, aqui relativa, será completa; a santificação, aqui vivida
limitadamente e sujeita ao pecado, será perfeita; a reconciliação com o Pai,
agora sujeita aos percalços da desconfiança e da incerteza, será uma doce
realidade; a adoção, aqui vivida às vezes com afastamentos do Pai, lá será
desfrutada em sua paternidade infinita. Paulo e Judas afirmam também a completa
inculpabilidade e irrepreensibilidade (Ef 1.4; Fp 1.9-11; 1 Co 1.8; Jd 24) na
glorificação futura. Isso acontecerá porque não haverá mais tentações pelo fato
de o pecado e o mal terem sido vencidos definitivamente.
O cristão
experimentará a sua plenitude em termos de sua espiritualidade, moralidade,
conhecimento (1 Co 13.12) e de seus sentimentos e emoções, num completo estado
de satisfação individual e relacional. As intrigas, inimizades, ciúmes,
invejas, toda sorte de infortúnios causados por terceiros em nós — ou que nós
mesmos causamos e provocamos em nós mesmos e nos outros — e as angústias
próprias da vida não estarão mais presentes, pois a perfeição do amor de Deus
invadirá todas as consciências e atitudes, de tal forma que, todas as
contingências, dificuldades e limitações humanas serão superadas, pois a
transformação atingirá todas as dimensões humanas como escreveu Paulo em 1
Coríntios 15.52-55.
Paul Tillich (1886–1965) enumera três tipos de angústias que serão superadas
totalmente na entrada no Reino eterno: do destino e da morte; da vacuidade ou
insignificação, no aspecto da busca por um lugar de sentido na vida; e da culpa
e condenação, que, mesmo nos salvos, pode gerar dúvidas e ansiedades.191 Todos
esses processos são subjetivos e presentes em todo ser humano, sendo
apaziguados, porém não totalmente superados, pela certeza da salvação e, dessa
forma, substancialmente presentes e vivenciados; por isso, gememos esperando
ser revestidos da habitação divina nos céus (ver 1 Co 5.2).
A salvação plena nos céus foi efetuada pela obra de Cristo na cruz e é garantida
pelo Espírito Santo que nos foi dado (2 Co 5.5). Ele é a garantia dessa herança
eterna e da redenção eterna nos céus (Ef 1.13-14). Lá experimentaremos a
completa transformação e também a ausência de pecados cometidos por nós, bem
como a completa ausência de enfermidades, moléstias, catástrofes, decepções ou
qualquer tristeza humana (Ap 21.4). Ali tudo será alegria eterna, paz, fé,
esperança e amor (1 Co 13.13).
Aqui nesta
vida, vivemos na tensão entre as possibilidades precárias do Reino de Deus na terra
e a alegre esperança da vida eterna nos céus, onde estaremos para sempre com o
Senhor, desfrutando das delícias preparadas para nós (Mt 25.10), porque aquilo
que de melhor ou pior existe nesta vida não é comparável ao melhor da glória
reservada para nós (Rm 8.18). Isso é definido por Gottfried Brakemeier da
seguinte forma:
A perfeição que vai
substituir o provisório (1 Co 13.11), a vinda da nova Jerusalém (Ap 21), o
banquete da alegria com o Jesus ressurreto (Mc 14.25), isso está por vir,
exigindo sejam superados o pecado, o mal e a morte. Ainda assim, a novidade
futura se antecipa. A evangelização aos pobres, a libertação dos cativos, a
restauração da vista aos cegos (Mt 11.2), em suma, a renovação de pessoas e
mundo visibiliza já agora a salvação que está por vir.192
Pelo fato de a vida ser precária e não plena, há um anseio no coração humano
que deseja ardentemente estar na casa do Pai porque, nessa casa, acontece a
cura das dores, há segurança e conforto e a alma encontra um lar onde pode
repousar. Esse anseio está presente até mesmo no ateu que busca preencher esse
lugar de forma inadequada, encontrando felicidades temporárias, como também no
mais piedoso crente, pois todo ser humano almeja estar neste lugar, a casa do
Pai para onde desejar voltar e desfrutar da sua presença. “O lar é onde você
realmente está seguro; é onde pode receber o que deseja. Você precisa [do
Espírito Santo] para se manter nele, de modo que não vá embora novamente.
Quando, entretanto, voltar para casa e ficar em casa, encontrará o amor que
trará descanso ao seu coração.”193
Uma
grande realidade e mistério que deve ser vivenciado com relação à peregrinação
para a vida eterna é que, apesar de ansiarmos pela pátria celestial, ela é
vivida onde Deus está. Assim, podemos viver como Jesus ensinou: “Estai em mim,
e eu, em vós” (Jo 15.4). A oração da intimidade com o Pai é a possibilidade de
antecipação de nossa volta a casa para estar com Ele. O lugar que a alma humana
anseia profundamente estar, conforme afirma Nouwen:
[Essa presença de Jesus] é a presença ativa de Deus no centro do meu
viver — o movimento do Espírito de Deus dentro de nós — que nos dá vida, a vida
eterna. “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro
e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Seja como for, o que será a
vida depois da morte? Quando vivemos em comunhão com Deus, pertencemos à
própria casa de Deus, onde não há mais nenhum antes ou depois. A morte deixa de
ser a linha divisória. A morte perde seu poder sobre aqueles que pertencem a
Deus, porque Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos. [Mt 22.33]. Logo que
tenhamos provado a alegria e a paz que vem do fato de sermos abraçados pelo
amor de Deus, saberemos que tudo está bem e estará bem.194
A
satisfação que o filho pródigo encontrou ao voltar para casa, a saudade da
segurança paterna, o abraço fraterno, a sensação de bem-estar e o carinho do
pai servem de exemplo, não apenas para os que se desviam da igreja, mas também
para os que permanecem nela e precisam descansar suas almas em Deus em meio a
um mundo caótico, com suas incertezas, insatisfações e frustrações.
Continuamos à espera de que um dia encontraremos o homem que traga paz à nossa
vida insatisfeita, o emprego em que possamos fazer uso e demonstrar o nosso
potencial, o livro que explicará tudo, e o lugar onde nos sintamos realmente em
casa. Essas falsas esperanças levam-nos a fazer exigências esgotantes e
preparam-nos para a hostilidade amarga e perigosa, quando começamos a perceber
que nada nem ninguém é capaz de satisfazer inteiramente as nossas expectativas
absolutistas.195
Embora a oração seja o meio pelo qual antecipamos o estar na casa
do Pai, almejamos por estarmos definitivamente na casa dEle. A busca desejosa
por esse lugar revela que nosso lugar não é aqui. A nostalgia do céu não
permite que vis tentações tirem nosso foco do lugar de delícias, do país das
maravilhas, do porto seguro, do outro lado da vida, do lugar onde as lutas
cessarão. Em breve, voltaremos ao lar.
A
esperança da plena salvação nos céus é que manteve e mantém a fé em Deus viva,
dos que já partiram e da nossa, que ainda militamos, apesar das circunstâncias
adversas e das circunstâncias mundanas e secularizadas, como citado
anteriormente, que se tornam em ídolos que exigem nosso tempo e dedicação, e
que nos servem de tentação para afastar-nos do propósito maior do tesouro no
céu (Mt 6). “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para
ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar
também a si todas as coisas” (Fp 3.20-21). Eu quero ir para casa. Venha comigo!
Pelo
fato de a salvação que há em Cristo ser um evento passado, presente e futuro, e
também completo, perfeito e integral, é que o autor bíblico chama-a de “tão
grande salvação” (Hb 2.3); alguns de seus aspectos são imensuráveis e
inexplicáveis e, por melhor que se tente fazê-lo (1 Tm 1.17), eles transcendem
a compreensão humana e somente nos serão revelados em sua totalidade no Reino
vindouro.
GLÓRIA DEUS!
Fonte:
Livro de Apoio - 4º Trim/17 – A Obra da Salvação - Claiton Ivan Pommerening
Lições Bíblicas Adultos 4º trimestre/17 - A Obra da Salvação — Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida – Comentarista: Claiton Ivan Pommerening
Lições Bíblicas Adultos 4º trimestre/17 - A Obra da Salvação — Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida – Comentarista: Claiton Ivan Pommerening
Aqui eu Aprendi!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será postado assim que o autor der a aprovação.
Respeitando a liberdade de expressão e a valorização de quem expressa o seu pensamento, todas as participações no espaço reservado aos comentários deverão conter a identificação do autor do comentário.
Não serão liberados comentários, mesmo identificados, que contenham palavrões, calunias, digitações ofensivas e pejorativas, com falsidade ideológica e os que agridam a privacidade familiar.
Comentários anônimos:
Embora haja a aceitação de digitação do comentário anônimo, isso não significa que será publicado.
O administrador do blog prioriza os comentários identificados.
Os comentários anônimos passarão por criteriosa analise e, poderão ou não serem publicados.
Comentários suspeitos e/ou "spam" serão excluídos automaticamente.
Obrigado!
" Aqui eu Aprendi! "