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sábado, 17 de dezembro de 2016

Modismos na Adoração e no Louvor

Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os contradizentes” Tt 1.9

Em um mundo repleto de desigualdades, injustiças, pessimismo e descrenças, uma pergunta crucial que devemos constantemente nos fazer antes de realizarmos qualquer tipo de empreendimento ou ação é: “Quais minhas motivações?”. Em outras palavras, devemos nos indagar sobre quais os objetivos que, por mobilizar nossas mentes e corações, nos impulsionam a realizar determinada tarefa.

Como muito bem já anunciou a sabedoria profética ("Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" Jr 17.9), existem inclinações de nosso homem interior que, por mais que pareçam ser puras e isentas de influências externas, serão perigosamente perniciosas a nossas vidas.

É um erro primário tentar avaliar a validade de uma determinada ação pelo resultado externo previsto ou até mesmo alcançado. Em inúmeros episódios da narrativa bíblica, pessoas que se auto-intitularam como justas ou éticas partindo simplesmente do julgamento dos resultados – atingidos ou esperados – de suas ações foram desmascaradas.

Leitura Texto Bíblico: 2 Pedro 2 1,13-19

“A razão da audácia dos falsos mestres é encontrada na sua animalidade. Eles são como animais irracionais (12), que nascem para ser capturados e destruídos como animais de rapina. Sua brutalidade é evidenciada no fato de blasfemarem do que não entendem. Eles posam como peritos espirituais quando, na realidade, são ignorantes quanto às coisas de Deus. Ao destruírem, eles certamente serão destruídos; ao serem injustos, eles receberão o salário da iniquidade (v.13). Mas Pedro ainda não terminou. A animalidade deles é percebida no fato de terem prazer nos deleites cotidianos. Esses cristãos professos são nódoas [...] e máculas para a comunidade cristã. A última parte do v.13 tem sido interpretada da seguinte maneira: ‘[...] os enganam, vivendo em pecado repugnante por um lado, enquanto pelo outro juntam-se a vocês em suas festas fraternais, como se fossem homens sinceros’ (Bíblia Viva). Visto que seus olhos são cheios de adultério (14), eles não conseguem ver uma mulher sem ter pensamentos lascivos. Na verdade, eles estão tão profundamente emaranhados que não cessam de pecar (são incapazes de parar de pecar), porque, por meio da avareza, exercitaram o coração com desejos maldosos” (Comentário Bíblico Beacon. Volume 10 — Hebreus a Apocalipse. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2006, p.274).

INTRODUÇÃO

Vivemos numa sociedade fluida. Prega-se que ao invés de valores e princípios — fixos e tradicionais — deve-se optar por tendências e modas — efêmeras e midiáticas. Essa tendência que se instaurou na sociedade contemporânea tem forte repercussão no campo religioso, especialmente quanto ao desenvolvimento do louvor e da adoração. A lógica do “faça rápido”, do “quem não aparece não é lembrando”, do “falem bem ou falem mal, mas falem de mim” invadiu o território sagrado da espiritualidade, transformando nossos adoradores em pop-stars e os cultos em “agendas” comerciais. A simplicidade e discrição, própria do cristianismo, foi substituída pelo glamour e pela midiaticidade. Todos querem ser notícia, cantar a música do momento, ir ao show de um ídolo. Parece que a mesma máquina de fazer dinheiro que impera no meio artístico de um modo geral, invadiu o segmento “gospel”. Em nome de Mamom, Jesus é preterido.

I. A DENÚNCIA DE PEDRO COMO ALERTA PARA NOSSOS DIAS

1. Os falsos profetas.
A preocupação de Pedro, que em grande parte é a preocupação de vários profetas ainda no Antigo Testamento, era a de que uma falsa liderança se levantasse sobre o povo de Deus distorcendo os ensinamentos de Cristo (Dt 13.1-18; Jr 23.9-15; Ez 12.21-28). As pessoas que Pedro denunciava, já naquela época, possuem, ainda hoje, uma série de características perigosas e identificadoras de suas más intenções: São avarentos e gananciosos (2Pe 2.3). Desejam fazer do povo de Deus mercadoria para negócio; são rebeldes e incapazes de obedecer às autoridades (v.10); são irracionalmente pragmáticos (vv.12,13), só pensam nos resultados imediatos, ainda que para isso acabem com princípios espirituais; são cheios de pecados sexuais, a mente, o coração e os olhos deles são dominados por adultérios (vv.14,15).

2. O culto defendido pelos falsos doutores em 2 Pedro.
Segundo os falsos mestres que Pedro denuncia, a vida do cristão não precisa ter grandes mudanças, libertação de pecados. Basta que ele permaneça como está, pois isso é ser livre. Mas como Pedro denuncia, esse discurso de falsa liberdade é a fonte de escravidão e dissolução daqueles que deveriam afastar-se do mal (vv.18,19). Seguindo a retórica falaciosa do princípio de que é “Proibido proibir!”, aquilo que deveria ser adoração torna-se profanação, e o que deveria ser louvor constitui-se escândalo. A promiscuidade é travestida de liberdade, e assim permite-se tudo para manter um grupo frequentando a igreja (Gl 5.13). O Evangelho é emudecido e só há espaço para discursos de autojustificação dos excentrismos, dos pecados e da falta de transformação.

3. Este “evangelho” mudou tanto que não muda ninguém!
Pedro, como verdadeiro profeta, já denunciava há quase dois mil anos que em tempos de crise desenvolver-se-ia um tipo de cristianismo que, de tão similar às práticas pecaminosas da sociedade sem Deus, não faria diferença alguma na vida das pessoas. A metáfora que o apóstolo usa no versículo 22 é extraída de Provérbios 26.11, e tem como finalidade demonstrar a ineficácia de uma espiritualidade que não liberta as pessoas. Esse tipo de “evangelho” é uma farsa, não transforma vidas, apenas as “embeleza” exteriormente para que mais tarde elas voltem a pecar, e mais uma vez retornem para a farsa religiosa, sem arrependimentos, apenas com culpas. Essa é a lógica perversa do “cristianismo sem Cristo”, um ciclo de pecado, falso perdão, novo pecado, novo falso perdão... Seguir a Cristo é um processo de escolha, renúncia e perseverança (Mt 16.24).

Que o Senhor Jesus nos dê cada vez mais discernimento para sermos capazes de diferençar os verdadeiros servos de Deus, dos mercenários que desejam apenas o poder.

II. MODISMOS NA ADORAÇÃO

1. Como se formam os modismos no mundo gospel?
Definimos como “modismo” todo tipo de comportamento ou atitude que as pessoas simplesmente reproduzem, sem uma reflexão prévia. É “moda” porque faz sucesso, porque chama a atenção. Na atualidade, boa parte dos modismos são reproduzidos por meio dos mecanismos de comunicação em massa, especialmente pela internet e por seus sites ou aplicativos de compartilhamento de informações. A força dos modismos está na falsa sensação de ineditismo que eles causam. Numa sociedade das coisas supérfluas, as pessoas não gostam de repetir experiências, por isso, até em sua vida espiritual procuram vivências novas, diferentes. Partindo deste princípio é que o modismo atinge outro ponto central para sua reprodutibilidade: o narcisismo. Quem faz algo novo torna-se o centro das atenções, e infelizmente muitas pessoas não estão em busca de uma adoração verdadeira, mas de tornarem-se celebridades.

2. As modas na adoração.
Os modismos na adoração são cíclicos, vão e vêm, sempre obedecendo ao princípio do ineditismo que alimenta o narcisismo. Tais modismo, de um modo geral, tiram a glória que pertence a Deus e direcionam a uma pessoa ou objeto (Êx 32.4; Ap 13.4). Daí temos as orações pelos copos com água ou pelas Carteiras de Trabalho; os tapetes ungidos; as vigílias centradas no número sete, etc. Existe a moda dos acontecimentos sobrenaturais no culto: todo culto alguém tem que cair; alguém rodopia; alguém marcha no poder. Acontecimentos que, se fossem ações de fato espirituais, deveriam ser episódicos e não programados.

3. Os efeitos dos modismos na adoração.
Os efeitos destes comportamentos são terríveis para o desenvolvimento de uma igreja: as pessoas não amadurecem espiritualmente (Hb 5.12), há um excesso de meninices (1Co 14.20), são facilmente enganadas por falsos obreiros (2Tm 3.13). É celebrado o culto, mas Cristo não é adorado (Mt 7.20-23). O que se faz pode-se chamar de adoração extravagante — onde pessoas gritam, choram jogam-se ao chão —, ou ainda de culto das primícias, do pentecostes — cheio de símbolos judaicos: shofar, candelabro, palavras em hebraico e ofertas em dinheiro —, todavia não são momentos de adoração, pois o simples nome não define uma celebração como verdadeira adoração. Pessoas que entram pelo caminho da falsa adoração enveredam por uma trajetória de ilusão, sofrimento e frustração (Cl 2.4,8,16).

Os modismos na adoração são prejudiciais à Igreja, pois tiram a glória que pertence a Deus e direcionam a uma pessoa.

Ser narcisista é tornar a si mesmo como objeto de adoração e veneração; para um narcisista ninguém é melhor que ele, somente ele é digno dos holofotes, aplausos e olhares.

III. MODISMOS NO LOUVOR

1. Muita repetição e pouca música.
O louvor é algo intimamente ligado a construção do povo de Deus. Os judeus possuem uma vasta coletânea de salmos, já a Igreja Primitiva possuía um conjunto de hinos públicos. Para o desenvolvimento deste repertório musical foi necessário muita inspiração e dedicação. Infelizmente hoje, uma parte das canções que cantamos na Igreja são plágios explícitos de músicas seculares; outras canções, apesar de inéditas, são compostas de tão poucos versos que é necessário repeti-la várias e várias vezes. Há ainda uma grave pobreza de conteúdo, canções que falam apenas de vitória, depois de vitória e no fim de vitória; temas repetitivos, estruturas poético-musicais paupérrimas. Quando lemos o Salmo 119, ou mesmo um cântico como o de Romanos 8.31-39, pode-se perceber que a inspiração de Deus é infinita e a riqueza de temas e assuntos é inesgotável. Cabe àquele que se dedica ao louvor que o faça com empenho e humildade.

2. A “indústria do louvor”.
No final da década de 90 e início dos anos 2000, concretizou-se a guinada descendente da indústria fonográfica. Com a popularização dos aparelhos de reprodução de CD's e da internet, os grandes selos musicais entraram em decadência. Contudo, os empresários do entretenimento musical logo perceberam que o segmento evangélico, por seus princípios éticos, continuava consumindo os CD's e DVD's de seus cantores. A indústria da música passou a contratar e gravar música gospel, que antes era preterida. Nossos irmãos tornaram-se artistas, suas músicas, as capas de seus CD's e seus shows tornaram-se plágios do mercado secular. Não houve apenas uma profissionalização do louvor, desenvolveu-se uma mercantilização da fé. Hoje há artista gospel em comícios de políticos, em programas de TV com baixa audiência, músicas como trilha sonora de novelas. E não foi para a glória de Deus, e sim, para o enriquecimento de alguém.

Ponto Importante
Todo obreiro é digno do seu salário. Aquele que faz a obra de Deus com dedicação e esmero deve ser reconhecido, em todas as áreas, por seu empenho. Todavia, é a lógica perversa do acúmulo de riqueza que faz com que muitos de nossos irmãos trabalhem muito, para enriquecer a outros.

CONCLUSÃO

Só existe oferta porque há mercado. Só existe artista porque há plateia. A adoração e o louvor obedecerão tanto mais os modismos do entretenimento secular quanto nós, em nossas igrejas, aceitarmos, comprarmos e reproduzirmos esses comportamentos decadentes. Só há um modo de retornarmos a essência da adoração: apresentando nossa adoração como puro louvor, nosso louvor como desinteressada adoração.

"Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á." Mateus 16:24,25

Fonte:
Revista Lições Bíblicas Jovens 4º Trim/2016 - Em Espírito e em Verdade - A essência da Adoração Cristã - CPAD - Comentarista Thiago Brazil
Livro de Apoio - Em Espírito e em Verdade - A essência da Adoração Cristã - Thiago Brasil
Bíblia Defesa da Fé
Bíblia de Estudo Pentecostal


Sugestão de leitura:
Aqui eu Aprendi!

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