O culto levítico fora
instituído, a fim de que Israel adorasse a Deus de forma verdadeira e amorosa
(Lv 20.7). Os seus vários sacrifícios, oferendas e oblações deveriam ser
subentendidos como figuras dos bens futuros (Hb 10.11). Infelizmente, os
israelitas passaram, com o decorrer do tempo, a adorar a própria adoração.
Acabaram por considerar o culto superior ao cultuado. E isso trouxe-lhes
consideráveis prejuízos. Haja vista o que aconteceu à serpente de bronze (Nm
21.8; 2 Rs 18.4).
Na vida dos judeus, cumprira-se o que, certa feita, afirmou
Charles Montesquieu: ‘A maior ofensa que se pode fazer aos homens é tocar nas
suas cerimônias e nos seus usos’. De tal maneira o formalismo contagiou os
judeus que, no tempo de Jeremias, passaram eles a considerar o Templo do Senhor
como mais importante que o Senhor do Templo (Jr 7.4). Achavam que, apesar de
suas iniquidades, os sacrifícios e oblações, que pensavam eles endereçar ao
Altíssimo, ser-lhes-iam mais do que suficientes para torná-los aceitáveis
diante de Deus (Jr 3.1-15). Como estavam enganados! [...] Assim é o
cristianismo nominal” (ANDRADE, Claudionor, de. Fundamentos Bíblicos de um
Autêntico Avivamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2004. p.128).
Deus criou todas as coisas ordenadamente. Nada veio do caos, tudo que existe tem uma razão de ser; assim também no culto ao Senhor necessitamos de princípios básicos de organização.
Texto Bíblico: I Coríntios 14 26-33
Existe uma liturgia ideal?
Liturgia,
formalismo e fanatismo; culto à forma X culto a Deus. Estudaremos a respeito da
natureza, necessidade e lógica da Liturgia, compreendida como conjunto de
procedimentos públicos que orientam o culto a Deus.
I. LITURGIA
1. O que é liturgia?
O termo “liturgia” é derivado de um vocábulo
do mundo político da Grécia Antiga, que foi incorporado ao contexto religioso.
Definia-se como leiturgía o trabalho que um cidadão exercia em
benefício da coletividade. Tal atribuição não era percebida como um encargo,
mas com uma honra. Ações como serviço militar, responsabilidade em cargos
políticos, construção de bens públicos, todos eram concebidos como leiturgía.
Quando introduzida no campo religioso a palavra passou a designar a organização
dos elementos cúlticos com a finalidade de prestar adoração e louvor a Deus de
forma coletiva e saudável. Em o Novo Testamento textos como 2 Coríntios 9.12;
Filipenses 2.17 e Hebreus 8.6, utilizam o termo que é traduzido,
respectivamente, como administração, serviço, ministério. Pode-se assim notar
que a liturgia não tem um fim em si mesma, mas tem como objetivo contribuir
para que cada elemento do culto cumpra seu papel principal, que é colaborar na
adoração.
2. Quem precisa de liturgia?
Se vivemos em comunidade é natural que em
determinado momento surjam as divergências. Elas não são necessariamente fruto
do pecado ou da influência de Satanás, mas produto de nossas singularidades.
Essa natureza multifacetada da humanidade repercute no corpo de Cristo, assim
como nos ministérios que exercemos nele (Ef 4.11; Rm 12.6-8). Diante dessa
condição própria da humanidade, o desenvolvimento de um conjunto de princípios
para a organização do culto é absolutamente necessário. Sem um ordenamento
mínimo qualquer organização humana torna-se caótica, até mesmo a adoração a
Deus. Deste modo, por melhores que sejamos ou mais espirituais que nos achemos,
todos necessitamos de limites e sinais que nos apontem até onde podemos ir.
3. Quais os fundamentos de uma liturgia.
O primeiro fundamento da liturgia é o louvor
a Deus. Tudo o que acontece no culto deve exaltar e bendizer ao Pai, logo, se
algo é realizado sem tal finalidade deve ser suprimido da devoção coletiva. A
segunda razão de ser da liturgia é a coletividade, isto é, tudo que envolve o
processo de organização do culto deve visar o bem comum, jamais o interesse
individual. Por isso, gostos e preferências particulares precisam ser deixados
de lado. O culto é organizado para glória de Deus e alegria de todos os
adoradores (Sl 32.11; 68.3). O terceiro elemento da liturgia é a organização; a
aplicação da liturgia deve permitir que participação no culto seja inteligível
a todos. Não há nada indiscernível ou misterioso no culto; tudo o que acontece
deve promover uma adoração racional.
"Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus." Levítico 20:7
II. O PROBLEMA DO CULTO EM CORINTO
1. Corinto, uma igreja de excessos.
A igreja em Corinto espelhava a comunidade na
qual estava inserida: cheia de exageros e imoderação (1Co 4.8; 5.6). Não que
aquela comunidade fosse apenas um reduto de pecados — apesar deles existirem
(1Co 5.1,2; 8.12) —, mas, ao contrário, a graça de Deus fora derramada ali de
modo especial (2Co 7.4; 8.7; 9.8,14). Aquela igreja transbordava em bênçãos de
Deus (1Co 1.7), esse talvez fosse o “bom problema” em Corinto: havia tantos
dons, bênçãos, milagres e ministérios, que se iniciou ali um choque de atuações
e serviços; enquanto alguns eram abençoados, outros eram atribulados (1Co
14.17). Foi algo tão sério que a comunidade chegou a partidarizar-se em torno
de algumas lideranças — as quais por sua vez possuíam características
ministeriais e carismáticas diferentes (1Co 3.1-6). Diante desse abençoado, mas
problemático, excesso de dádivas, o que fazer?
2. A adoção de uma liturgia para edificação
coletiva.
Havia muitos talentos entre os coríntios (1Co
14.26). Por isso, para o desenvolvimento espiritual de todos, era necessário a
adoção de um plano litúrgico para que as celebrações em Corinto fossem
edificantes para todos. Logo, deveria haver espaço para tudo, do louvor ao
falar em línguas, passando pela profecia e pelo discernimento de espírito. Um
conceito chave, entretanto, era a ordem, de modo que cada um, a partir de seu
próprio relacionamento com Deus e no desenvolvimento de sua adoração, deviam
colaborar, individualmente, para o estabelecimento de um bom ambiente de louvor
a Deus. A desculpa de que o momento da adoração nos conduz ao descontrole é
inválida.
3. O princípio do amor na estruturação da
liturgia.
Paulo deixa bastante claro que todas as
regras comunitárias, operações sobrenaturais, normas coletivas e manifestações
espirituais precisam ser mediadas pelo amor (1Co 12.31). Nada deve ser feito
por revanchismo, sentimento de humilhação do próximo, ou narcisismo (1Co
14.36). Cada cristão daquela comunidade tinha o privilégio de exercer seus dons
e ministérios, desde que levasse em conta que a existência desses era para a
glória de Deus e serviço à comunidade. Sem a devida conciliação entre
dons/ministérios e amor, a bênção de Deus pode tornar-se inválida (1Co
14.19,23). Não existe culto sem a manifestação de Deus, as operações
espirituais sem a mediação do amor tornam-se puro exibicionismo e espetáculo
que somente atrapalham o culto e afastam a glória de Deus.
"Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que sois retos de coração." Salmos 32:11
III. LITURGIA, FORMALISMO E EXIBICIONISMO
1. O culto a Deus X o culto ao culto.
A história é dinâmica, assim como o
desenvolvimento do povo de Deus. Durante o curso do desenvolvimento do plano
divino sobre a terra, o Senhor vem se utilizando de diversas estratégias para
auxiliar o seu povo no louvor: orientou a construção do Tabernáculo e do
Templo. Exigiu sacrifícios de animais e agora pede sacrifícios de louvor (Hb
13.15). Se com Israel e a Igreja Primitiva as formas de cultuar a Deus mudaram
é natural que em nossas comunidades algo também se altere, sem contudo, a
essência ser perdida.
2. Formalismo.
Formalismo é uma observância estrita a regras
e formas, e isso em algumas igrejas vem se tornando um problema no momento do
culto. Em alguns lugares, o culto é tão mecânico que sua previsibilidade
engessa a adoração. Em outros casos, uma pessoa pode até não andar realmente de
acordo com os padrões de Deus, mas se ela seguir o formalismo do culto, pode
até ministrar a adoração. Isso é errado! Pois, os adoradores verdadeiros, mais
do que seguir regras, seguem uma vida de obediência a Deus. Não existe fervor
nas orações, que já se tornaram vãs repetições. A forma como o culto é
apresentado é muito mais importante que o Deus que se pretende adorar. Ir à
igreja tornou-se uma tradição.
3. O perigo da falta de ordem.
Semelhante a comunidade em Corinto, em várias
igrejas a abundância de dons, que deveria ser um sinal de bênção, tem se
tornado motivo de tribulação. Em alguns lugares há tanto louvor que não é
possível ter pregação da Palavra; já em algumas comunidades o momento da oferta
tornou-se o centro do culto, ocupando a maior parte do tempo. Como faz falta
uma boa e genuína liturgia nestes lugares.
"Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura. Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada." Hebreus 13:14-16
A importância da liturgia para o
desenvolvimento da adoração a Deus é algo que devemos continuamente reconhecer.
Todos somos capazes de perceber quando a programação de um culto está mal
elaborada ou simplesmente não existe; isto porque essa irresponsabilidade afeta
coletivamente o louvor que se pretende apresentar ao Senhor. Busquemos a Deus
com fervor, mas sempre numa perfeita organização.
SUBSÍDIO
“O espírito do profeta e o Espírito do Senhor. Precisamos fazer a
nossa parte, a fim de que o Espírito realize a dEle. E isso está relacionado
com a liturgia, conjunto dos elementos que compõem o culto cristão (At 2.42-47;
1Co 14.26-40; Cl 3.16). Embora seja possível liturgia sem culto, não há culto
sem liturgia (Is 1.11-I7; 29.13; Mt 15.7-9; 1Co 11.17-22).
A parte litúrgica
compreende diversas partes do culto: oração (At 12.12; 16.16); cânticos (1Co
14.26; Cl 3.16); leitura e exposição da Palavra de Deus (Rm 10.17; Hb 13.7);
ofertas (1Co 16.1,2); manifestações e operações do Espírito Santo (1Co
14.26-32); e bênção apostólica (2Co 13.13; Nm 6.23-27).
Tomando como base o
livro de Atos dos Apóstolos e as Epístolas (At 2.1-4; Ef 5.19; Cl 3.16),
vejamos como era o culto, nos tempos do Novo Testamento. A promessa da efusão
do Espírito (Jl 2.28) cumpriu-se no dia de Pentecostes (At 2.16-18), quando os
que estavam reunidos foram ‘cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras
línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem’ (At 2.1-4). Essa
experiência pentecostal repetiu-se em outras ocasiões: At 8.14-20; At 9.17; At
10.44-48; At 19.1-7” (GILBERTO, Antonio. Teologia Sistemática Pentecostal. 1ª
Edição. RJ: CPAD, 2008, p.208).
Fonte:
Revista Lições Bíblicas Jovens 4º Trim/2016 - Em Espírito e em Verdade - A essência da Adoração Cristã - CPAD - Comentarista Thiago Brazil
Livro de Apoio - Em Espírito e em Verdade - A essência da Adoração Cristã - Thiago Brasil
Bíblia Defesa da Fé
Bíblia de Estudo Pentecostal
Sugestão de leitura:
Aqui eu Aprendi!
que a paz de Deus esteja sempre sobre vos, meu pastor sou presbritero da assembleia de Deus em saracuruna duque de caxias rj, dou estudo bíblico todas as quarta feira e o seu conteúdos tem sido de muita avalia pra obrigado por compartilha o seu conhecimento. eu gostei
ResponderExcluirPaz do Senhor Presbítero Vagner Mello. Obrigado por este retorno, que Deus te abençoe.
ExcluirQue cada dia possamos aprender mais e mais com a preciosa ajuda do amigo Espírito Santo. Que Cristo seja Glorificado.
abraço fraterno
vote sempre!
Pastor aqui! E o Diácono Claudomiro da assembléia de Deus vivendo em família..
ExcluirDirijo o culto de doutrina.
Esta , me ajudou. A elabora melhor , a organizar o culto. De doutrina.
Paz do Senhor Diácono Claudomiro. Fico contente em ter este retorno da parte do irmão. Glória Deus! é muito importante para nos cada retorno que recebemos dos amigos leitores. Deus abençoe!
ExcluirObrigado pela participação. Volte mais vezes.
abraço fraterno