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sábado, 23 de maio de 2015

Poder sobre a Natureza e os Demônios - Jesus, O Homem Perfeito

E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem? Lucas 8.25

O Evangelho de Lucas inicia o capítulo 8 apresentando as mulheres que financiavam o ministério de Jesus e dos seus discípulos: Maria, chamada Madalena; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Suzana, e muitas outras (8.1-4). Essas mulheres haviam sido curadas por Jesus de enfermidades e de espíritos malignos, como Maria Madalena, que havia sido expelido sete demônios. Ou seja, os quatro primeiros versículos abrem o capítulo 8 expondo os milagres de Jesus em relação às mulheres e, por isso, elas passaram a servir a Jesus com os seus bens.

Além de relatar brevemente o financiamento das mulheres, pois o seu ministério de pregação do Reino de Deus estava em pleno vapor, o Evangelho de Lucas passa a narrar a Parábola do Semeador para a multidão que o seguia (8.4-15), denotando a mensagem do Reino que devia ser propagada em todos os cantos do mundo. Em seguida, o nosso Senhor contou outra parábola, a da Candeia (8.16-18), ressaltando o aspecto iluminador de quem entende a mensagem do Reino de Deus.

Depois, Lucas passou a narrar o breve evento da família de Jesus (8.19-21). O relato demonstra o quanto Jesus estava focado em seu ministério. De modo que, quando disseram a Ele que a sua mãe e os seus irmãos estavam querendo vê-lo, de pronto o nosso Senhor replicou: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam” (Lc 8.21). A sua Palavra e seu ministério ungido pelo Espírito Santo refletem a sua autoridade, pois Jesus falava exatamente como um homem, que não apenas tinha, mas era de autoridade. As pessoas viam isso nEle, e se encantavam com suas palavras.

A partir do versículo 22, o evangelista passa a narrar 4 milagres que Jesus Cristo fez com o objetivo de as pessoas reconhecerem a sua natureza divina. Que além de curar enfermos, Ele perdoa pecados, livrando-nos de toda a culpa. Os milagres são:
-a tempestade apaziguada (8.22-25);
-o endemoninhado gadareno (8.26-39);
-a ressurreição da filha de Jairo (8.40-42,49-56);
-a cura da mulher com fluxo hemorrágico (8.43-48).

Ora, se o capítulo 8 inicia descrevendo as mulheres que foram curadas por Jesus e o nosso Senhor pregando à multidão, e encerra com milagres extraordinários, qual a intenção do Evangelista Lucas? Apresentar Jesus, não como um homem comum, mas como alguém que tem todo o poder sobre a Criação e, até mesmo, seres espirituais.
Revista Ensinador Cristão nº62 - CPAD

Ao mostrarem o poder de Jesus sobre as forças naturais e sobrenaturais, as Escrituras sublinham sua natureza divina e identidade messiânica.

COMENTÁRIO
Sobre a pessoa de Jesus, a Bíblia diz: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8). Esse texto ressalta a dimensão humana de Jesus, o Deus que se tornou homem. Entretanto, a sua natureza humana não se confunde com a divina: “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.9-11). Assim, a presente lição objetiva demonstrar o poder de Jesus Cristo sobre a Criação e sobre os demônios. Ele, o Filho, estava presente quando da criação de todas as coisas (Jo 1.1-3).

Jesus, como o Filho de Deus, tem poder sobre a natureza e os seres espirituais.

INTRODUÇÃO
Nesta lição, estudaremos os relatos que mostram o poder de Jesus sobre as forças da natureza e, também, sobre os demônios. Até aqui os discípulos já tinham visto Jesus curando doentes e libertando pessoas oprimidas pelo Diabo. Todavia, eles ainda não haviam visto o Mestre dominando as forças da natureza, nem tampouco alguém que andava nu e vivia nos sepulcros ser devolvido ao seu convívio familiar.

Estes fatos ocorreram quando Jesus acalmou uma tempestade e libertou o endemoninhado gadareno. Em ambos os relatos, vemos as manifestações do poder e da misericórdia de nosso Senhor, que sempre procurou o bem do homem, nem que para isso fosse necessário repreender as leis físicas do Universo ou quebrar o poder de Satanás. [1]

“Satanás” é o nome pessoal do cabeça dos demônios. Esse nome é mencionado em Jó 1.6, onde “os anjos vieram apresentar-se ao SENHOR, e Satanás também veio com eles” (v. tb. Jó 1.7—2.7). Aqui ele aparece como o inimigo do Senhor que traz severas provações para Jó . De modo semelhante, ao final da vida de Davi, “Satanás levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer um recenseamento do povo” (1Cr 21.1). Além disso, Zacarias teve uma visão do “sumo sacerdote Josué diante do anjo do SENHOR, e Satanás, à sua direita, para acusá-lo” (Zc 3.1). O nome “Satanás” é uma palavra hebraica (s ãtãn) que significa “adversário” . O N.T. também usa o nome “Satanás”, tomando-o simplesmente do A.T. Assim, Jesus, em sua tentação no deserto, fala a Satanás diretamente, dizendo: “Retire-se, Satanás!” (Mt 4.10), ou “Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lc 10.18).

A Bíblia usa também outros nomes para Satanás. Ele é chamado: “Diabo” (somente no N.T: Mt 4.1; 13.39; 25.41; Ap 12.9; 20.2; etc.); ”serpente” (Gn 3.1,14; 2Co 11.3; Ap 12.9; 20.2); ”Belzebu” (Mt 10.25; 12.24,27; Lc 1 l.15); ”o príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.1 l), ”príncipe do poder do ar” (Ef 2.2), ou “o Maligno” (Mt 13.19; 1Jo 2.13). Quando Jesus diz a Pedro: “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” (Mt 16.23), ele reconhece que a tentativa de Pedro de tentar preservá-lo do sofrimento e da agonia da cruz é realmente uma tentativa de impedir Jesus de obedecer ao plano de seu Pai. Jesus percebe que a oposição, em última instância, não vinha de Pedro, mas do próprio Satanás.

Os demônios se opõem e tentam destruir, toda obra de Deus.
Assim como Satanás induziu Eva a pecar contra Deus (Gn 3.1-6), ele também induziu Jesus a pecar para que falhasse na sua missão como Messias (Mt 4.1-11). As táticas de Satanás e seus demônios são as de usar as mentiras (Jo 8.44), o engano (Ap 12.9), o assassinato (Sl 106.37; Jo 8.44) e qualquer outra espécie de atividade destrutiva para provocar nas pessoas o abandono de Deus e a destruição delas próprias. Os demônios tentarão toda tática para cegar as pessoas para o evangelho (2Co 4.4) e mantê-las em escravidão às coisas que as impedem de vir a Deus (Gl 4.8). Eles também usarão tentação, dúvida, culpa, temor, confusão, doença, inveja, orgulho, calúnia ou quaisquer outros meios para impedir o testemunho e a utilidade dos cristãos. [2]


I. JESUS E AS FORÇAS SOBRENATURAIS
1. Poder sobre a natureza.
Até este ponto, Lucas já havia mostrado Jesus exercendo poder sobre demônios e enfermidades (Lc 4.31-44). Agora, ele o mostra exercendo o seu poder sobre as forças da natureza (Lc 8.23-25).
A tempestade surge, aqui, como uma força impessoal revelando que a harmonia original da criação se perdeu. Nesse momento, ela se levanta como uma força poderosa que precisa ser detida. Ao receber a voz de comando do Filho de Deus, as forças descontroladas da natureza param. Jesus põe ordem no caos. A cena foi tão dramática para os discípulos, que arrancou deles a pergunta: “Quem é este que até aos ventos e a água manda?”. [1]

2. Poder sobre os demônios.

Se a natureza é uma força impessoal, o mesmo não pode se dizer do Diabo. A Bíblia mostra que ele é um ser pessoal, isto é, dotado de personalidade. Jesus e seus discípulos tiveram que enfrentá-lo muitas vezes. Ainda quando descrevia o relato da tentação de Cristo, Lucas informa que Satanás ausentou-se de Jesus “por algum tempo” (Lc 4.13). Jesus derrotou o Diabo na tentação do deserto, mas depois disso teve outros embates com ele. De fato, a Escritura registra vários casos de pessoas oprimidas e possessas de demônios que tiveram um encontro com Jesus e seus discípulos (Lc 4.33-37,41; 6.18; 7.21; 8.27; 9.39; 10.17-19; 11.14; 13.11). Em todos os casos, tais pessoas foram libertas e Satanás derrotado. [1]

O homem possesso de demônios - Lucas 8 26-39
“E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia. E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo com alta voz: Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes. Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava.
E guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos. E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios. E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo. E andava pastando ali no monte uma manada de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu- lho. E, tendo saído os demônios do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago e afogou-se. E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e nos campos. E saíram a ver o que tinha acontecido e vieram ter com Jesus. Acharam, então, o homem de quem haviam saído os demônios, vestido e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus; e temeram. E os que tinham visto contaram-lhes também como fora salvo aquele endemoninhado. E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles, porque estavam possuídos de grande temor. E, entrando ele no barco, voltou. E aquele homem de quem haviam saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo: Torna para tua casa e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito”.

Na Terra do Gadareno
Em outubro de 2013 comandei uma caravana para Israel. No roteiro da viagem estava incluso um tour pela Jordânia, país que faz fronteira com Israel. Na Jordânia, conhecemos o monte Nebo, local onde Moisés contemplou a Terra Prometida antes da sua morte (Dt 34.5); passamos pelo Vau de Jaboque, local onde Jacó lutou com o anjo de Deus (Gn 32.28); conhecemos o local apontado pela arqueologia onde Jesus de fato fora batizado e também conhecemos Gerasa, também denominada de Gadara (Mt 8.28), local onde Jesus libertou o endemoninhado.

Ali chegando, pude logo perceber porque os evangelistas usam de forma intercambiável os termos “Gadara” e “Gerasa” para se referirem ao local onde se deu a libertação do endemoninhado. Na verdade, Gadara e Gerasa faziam parte de um complexo de cidades conhecidas como “Decápolis”, isto é, um conjunto de dez cidades. Foi ali na região da Decápolis que fiquei espantado com as maravilhas da arquitetura romana, presente por toda parte, principalmente em Gerasa onde as ruínas da cidade continuam testemunhando todo o esplendor do que fora o Império Romano. Ali vi o arco de Adriano, feito em homenagem a esse imperador romano.

Atravessando o Mar
Os meus olhos se enchiam com todas aquelas belezas arquitetônicas, mas a minha mente procurava fazer a reconstituição da passagem que Jesus tivera por Gerasa. “Meu Deus!” pensei eu, “o Senhor cruzou o Mar da Galileia, enfrentou uma tempestade sem precedentes simplesmente para ir atrás de um homem endemoninhado. Um moribundo, um homem considerado louco pela sociedade.” Mas era exatamente isso o que o texto mostra. De fato Lucas registra:
“E aconteceu que, num daqueles dias, entrou num barco com seus discípulos e disse-lhes: Passemos para a outra banda do lago. E partiram. E, navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma tempestade de vento no lago, e o barco enchia-se de água, estando eles em perigo. E, chegando-se a ele, o despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, estamos perecendo. E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança. E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem? E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia” (Lc 9.22-26).

Quando o Senhor se dirigia para confrontar as forças do mal em Gadara, as forças da natureza se levantaram contra ele: “E sobreveio uma tempestade de vento no lago, e o barco enchia-se de água, estando eles em perigo” (Lc 9.23). E interessante que Lucas usa o vocábulo grego epitimao (repreender) em relação às forças da natureza da mesma forma que o usa em relação à libertação dos demônios e da cura da sogra de Pedro (Lc 4.35; 4.39). Era como se a natureza, como uma força viva, se levantasse contra Jesus e seus discípulos naquele momento. A natureza, portanto, era uma força a ser detida. Isso não significa dizer que forças impessoais ganham pessoalidade nem tampouco que seres inanimados ganham vida. O fato é que a entrada do pecado no mundo trouxe desequilíbrio e desarmonia ao universo e a natureza também está inclusa (Rm 8.19-22).
Tendo repreendido o vento e a fúria das águas, Jesus chegou a Gadara, seu destino final.


Fazendo o Caminho de Volta
Pois bem, quando ainda me encontrava em Gadara, fiquei a meditar na passagem de Lucas 8.26-39. O final da narrativa desse grande milagre de libertação, diz: “E aquele homem de quem haviam saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo: Torna para tua casa e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito” (Lc 8.38,39).
O gadareno, agora liberto, queria acompanhar Jesus, mas a orientação do Senhor foi que ele voltasse para a sua terra e anunciasse tudo o que Deus tinha feito com ele. De fato, os Evangelhos registram que ele se tornou o primeiro evangelista na região da Decápolis (Mc 5.20).

Esse texto mostra de forma enfática o poder de Jesus sobre todos os demônios. Todavia revela também como fica o estado daqueles a quem Satanás escraviza. [1]

Embora achado na forma de homem, Jesus Cristo controlou a tempestade, revelando não apenas o seu lado divino, mas humano também. Nosso Senhor sente compaixão das pessoas que necessitam do seu socorro. Ele compungiu-se com a situação do jovem possesso por demônios, pois desejou trazê-lo de volta ao seu estado de juízo perfeito. Jesus devolveu aquele jovem para ele mesmo, para a sua família e para a sociedade.
Outro ponto importante a destacar neste tópico é que o apaziguamento da tempestade é a primeira de uma série de quatro milagres no capítulo 8 de Lucas: Jesus apazigua a tempestade (8.22-25); liberta o endemoninhado de Gadara (8.26-39); ressuscita a filha de Jairo (8.40-42,49-56); e cura a mulher com fluxo hemorrágico (8.43-48).



II. JESUS E A REALIDADE DOS DEMÔNIOS
1. Uma realidade bíblica.
A Bíblia desconhece a ideia de um Diabo mitológico ou que é um produto da cultura humana. Nas Escrituras, Satanás e seus demônios são mostrados como seres reais. Uma das mais poderosas armas usadas pelo Diabo é tentar mostrar que ele não existe. A Bíblia, no entanto, trata Satanás e seus demônios como seres dotados de pessoalidade. O próprio Cristo enfrentou pessoalmente Satanás no deserto e o derrotou (Lc 4.1-13). Jesus também revelou que o Diabo possui um reino e que trabalha de forma organizada (Lc 11.18). Tal reino é tão “organizado” que o apóstolo Paulo mostra que esse reino maligno está organizado de forma hierárquica (Ef 6.10-12). [1]

Os demônios são limitados pelo controle de Deus e têm poder limitado.

A história de Jó deixa claro que Satanás poderia fazer somente o que Deus lhe deu permissão para fazer, e nada mais (Jó 1.12; 2.6). Os demônios estão presos “com correntes eternas” (Jd 6) e podem ser vitoriosamente rechaçados pelos cristãos por meio da autoridade que Cristo lhes dá (Tg 4.7: “Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês”).
Além disso, o poder dos demônios é limitado. Após rebelarem-se contra Deus, eles não têm o poder que tinham quando eram anjos, porque o pecado é influência enfraquecedora e destrutiva.

O poder dos demônios, embora significativo, é provavelmente menor que o poder dos anjos.

Na área do conhecimento, não devemos pensar que os demônios podem conhecer o futuro ou que eles possam ler nossa mente ou conhecer nossos pensamentos. Em muitos lugares no A.T, o Senhor revela-se como o Deus verdadeiro em contraposição aos deuses (demoníacos) das nações pelo fato de que ele somente pode conhecer o futuro: “Lembrem-se das coisas passadas, das coisas muito antigas! Eu sou Deus, e não há nenhum outro; eu sou Deus, e não há nenhum como eu. Desde o início faço conhecido o fim, desde tempos remotos, o que ainda virá” (Is 46.9,10). Nem mesmo os anjos conhecem o tempo do retorno de Jesus (Mc 13.32) , e também não há indicação na Escritura de que eles ou os demônios conheçam qualquer outra coisa a respeito do futuro.

Com respeito a conhecer os nossos pensamentos, a Bíblia nos diz que Jesus conhecia os pensamentos das pessoas (Mt 9.4; 12.25; Mc 2.8; Lc 6.8; 11.17) e que Deus conhece os pensamentos das pessoas (Gn 6.5; Sl 139.2,4,23; Is 66.18), mas não há indicação de que anjos ou demônios possam conhecer os nossos pensamentos. De fato, Daniel disse ao rei Nabucodonosor que nenhuma pessoa falando por outro poder que não o de Deus poderia dizer ao rei o que ele havia sonhado (v. Dn 2.27,28). Mas se os demônios não podem ler a mente das pessoas, como haveremos de entender os relatórios recentes dos bruxos, dos que lêem a sorte ou de outros evidentemente sob influência demoníaca que são capazes de dizer às pessoas os detalhes de sua vida que elas pensavam que ninguém sabia, como, por exemplo, o que haviam comido no café da manhã ou onde haviam guardado secretamente algum dinheiro em sua casa? A maioria dessas coisas pode ser explicada pela percepção de que os demônios podem observar o que acontece no mundo e, provavelmente, deduzir algumas conclusões de suas observações. Um demônio pode saber o que eu comi no café-da-manhã simplesmente por me ver tomando o café-da-manhã! Ele pode saber o que eu disse em uma conversa particular de telefone porque ele ouviu a minha conversa. Os cristãos não devem deixar-se iludir se encontrarem membros do ocultismo ou de outras falsas religiões que parecem demonstrar tal conhecimento de vez em quando. Esses resultados da observação não provam que os demônios possam ler os nossos pensamentos e nada na Bíblia nos leva a pensar que eles tenham esse poder. [2]

2. Uma realidade experimental.
Na Palestina do primeiro século, a presença de pessoas oprimidas ou possuídas por demônios era uma realidade do dia a dia. No Evangelho de Lucas, encontramos dezenas de textos mostrando essa verdade (Lc 4.41; 6.18). Lucas diz que Jesus curou muitos de moléstias (Lc 7.21). Além disso, registra ainda que Jesus repreendeu espíritos imundos (Lc 9.42); e que via a queda de Satanás em cada demônio que era expulso (Lc 10.17,18). À luz da Bíblia, não há, pois, como negar a realidade dos demônios.

Os demônios são ativos no mundo hoje?
Algumas pessoas, influenciadas pela cosmovisão naturalista que somente admite a realidade do que pode ser visto, tocado ou ouvido, negam que os demônios existam hoje. Eles sustentam que anjos e demônios são simplesmente mitos que pertencem à cosmovisão obsoleta ensinada na Bíblia e em outras culturas antigas.

Se, entretanto, a Escritura nos dá o relato verdadeiro do mundo como ele realmente é, então temos de levar a sério sua descrição do intenso envolvimento demoníaco na sociedade humana. Nosso compromisso com os cinco sentidos meramente nos diz que temos algumas deficiências em nossa capacidade de entender o mundo, mas não que os demônios não existam. De fato, não há razão alguma para pensar que há menos atividade demoníaca no mundo hoje do que houve no tempo do N.T. Estamos no mesmo período do plano global de Deus para a história (a época da igreja ou a época da nova aliança), e o milênio, quando a influência de Satanás será removida da terra, ainda não veio. Da perspectiva bíblica, a recusa da sociedade moderna em reconhecer a presença da atividade demoníaca hoje deve-se simplesmente à cegueira das pessoas para a verdadeira natureza da realidade.

Mas em que espécie de atividade os demônios estão envolvidos hoje? Há algumas características distintivas que vão nos capacitar a reconhecer a atividade demoníaca quando ela ocorrer? [2]

Em primeiro lugar, o Diabo põe as pessoas na zona de exclusão. “E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia” (Lc 8.26). A frase “defronte da Galileia” é traduzida na Almeida Revista e Atualizada como “fronteira da Galileia”. A palavra grega antiperan, traduzida como oposto, na margem oposta, do outro lado, mantém essa ideia de região fronteiriça. As regiões fronteiriças são distantes de tudo. Em relação ao estado ou nação da qual fazem parte, se tornam uma verdadeira zona de exclusão. O gadareno vivia na fronteira, uma terra de ninguém. Não tenho dúvidas de que o Senhor foi para Gadara com o objetivo único de procurar aquele homem, libertá-lo e fazer com que ele saísse da zona de exclusão.

Em segundo lugar, o Diabo rouba a identidade do homem. O texto diz: “desde muito tempo, estava possesso de demônios” (Lc 8.27) e “como fora salvo o endemoninhado” (Lc 8.36). Em Lucas 8.27 o gadareno aparece como “tendo” (gr. echo) demônios e em Lc 8.36, como quem se encontra “possuído” (gr. daimonizomai) por demônios.1 O renomado léxico da língua grega de Walter Bauer traduz daimonizomai como “ser possuído por demônios”.2 Em outras palavras, o gadareno encontrava- se totalmente dominado por demônios. Ele não era mais ele, havia perdido por completo a sua identidade. Havia deixado de ser gente para se tornar uma coisa. Todos o evitavam porque ele não era aquela pessoa que haviam conhecido. Jesus o liberta e faz com que ele volte a ser gente como os demais (Lc 8.35).

Em terceiro lugar, o Diabo tira todos os valores, “e não andava vestido” (Lc 8.27). A palavra grega endidysko tem o sentido de vestir, vestir-se, cobrir- se, estar vestido em. Usada com a negativa “não” mantém o sentido de “estar descoberto”. É uma forma de dizer que ele andava sem roupa. Somente alguém que perde a noção de valores éticos-morais consegue andar nu. Mas é isso que o Diabo faz — deixar as pessoas totalmente nuas e despidas de tudo aquilo que as valoriza. Quando Jesus libertou o gadareno, as pessoas o viram “vestido” novamente (Lc 8.35). A missão do Diabo é despir as pessoas, enquanto o Senhor Jesus veste-as e reveste-as com sua graça.

O pastor Jack Haiford, pastor de uma igreja pentecostal na Califórnia, Estados Unidos da América, conta que certa vez uma jovem o procurou para ser aconselhada. Quando a jovem começou a contar a sua história, o pastor Haiford disse que precisou interrompê-la. O Espírito Santo lhe revelara que a jovem não estava contando-lhe o verdadeiro motivo de o ter procurado. O pastor informou-lhe que o Senhor o havia instruído a dizer uma frase para ela, e que para ele parecia sem sentido, mas que o Senhor dissera-lhe que faria todo o sentido para ela. A jovem então quis saber que frase era. O pastor repetiu a frase que ouvira do Senhor: “Jamais permitirei que alguém veja a sua nudez”. Essas palavras tiveram um efeito bombástico naquela jovem. Ela começou a chorar convulsivamente. Depois de se refazer, confidenciou para o pastor. Antes de se converter ela era uma prostituta e quando entregou a sua vida ao Senhor tudo estava indo bem, mas havia seis meses que um pensamento obsessivo parecia querer-lhe dominar a sua mente: “Você vai andar nua novamente”. Com aquela palavra de conhecimento liberada pelo pastor Jack Haiford a jovem foi totalmente livre.3

Em quarto lugar, o Diabo tira os referenciais, “nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros” (Lc 8.27). Esse homem não possuía mais uma família. Havia perdido a sua referência social. Havia perdido os seus valores morais e também os sociais. O homem é um ser gregário e como tal necessita viver em sociedade. O Diabo sabe disso e por isso procurou jogar aquele pobre coitado em um total isolamento social. Estava vivo, mas vivia com os mortos. Era um morto vivo. Jesus o libertou e devolveu ao convívio familiar.

Em quinto lugar, o Diabo torna a vida do homem árida. “Era impelido pelo demônio para os desertos” (Lc 8.29). O deserto é o lugar dos extremos. Durante o dia a temperatura é escaldante e durante a noite elas despencam. Vi isso quando estive no deserto do Sinai. Durante o dia, a temperatura no monte Sinai é elevadíssima, sendo possível medir cinquenta graus na sombra. Por outro lado, as madrugadas são geladas, ficando alguns graus abaixo de zero. Devido a esses fenômenos, o deserto é um lugar árido. O Diabo fez com que o deserto fosse a casa do gadareno. A sua vida era, portanto, árida. Foi somente quando Jesus o libertou que ele voltou a viver a vida abundante. As referências que mostram Jesus confrontando o poder de Satanás são abundantes nos evangelhos. No Evangelho de Lucas esse embate ocorre nos primeiros momentos do ministério público de Jesus.

“E desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e os ensinava nos sábados. E admiravam-se da sua doutrina, porque a sua palavra era com autoridade. E estava na sinagoga um homem que tinha um espírito de um demônio imundo, e este exclamou em alta voz, dizendo: Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele, sem lhe fazer mal. E veio espanto sobre todos, e falavam uns e outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem? E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca” (Lc 4.31-37). Como no caso dos milagres, Lucas também não tem a preocupação de provar a existência dos demônios. Isso não era necessário, pois eles estavam por toda parte. A Bíblia mostra o modus operandi do Diabo em vários textos. Ele resiste à oração (Dn 10.10-13); influencia a mente (Mt 16.21-23; At 5.3); corrompe a mente (2 Co 11.1-3); opõe-se à pregação do evangelho (At 13.8); procura destruir as vidas (Mc 9.22; Jo 10.10).

O registro dos Evangelhos é que havia muitas pessoas oprimidas e possuídas pelos demônios no antigo Israel. De fato a missão de Jesus, como o Messias prometido, incluía a libertação das pessoas dominadas pelo Diabo. “Chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.16-19).

Nesses confrontos uma coisa ficou logo evidente — Jesus, durante o seu ministério terreno exerceu autoridade sobre todas as castas de demônios! As pessoas viram isso e admiradas, se perguntavam que poder era aquele, pois Jesus ordenava aos demônios que eles saíssem e eles obedeciam! Até os próprios demônios estavam conscientes do poder de Jesus sobre eles: “Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!” (Lc 4.34).

Lucas mostra que Jesus não apenas possuía autoridade sobre os demônios como também delegou para seus discípulos essa autoridade. “E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam. E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo, e nada vos fará dano algum” (Lc 10.17-19).

O cristão, portanto, possui autoridade sobre o reino do mal. Isso se tornou possível porque Jesus conquistou a vitória sobre Satanás na cruz do calvário: “havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2.14-15). Estando em Cristo, o crente agora encontra-se em posição de domínio sobre o poder das trevas: “Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. E sujeitou todas as coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu como cabeça da igreja” (Ef 1.20-22). “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2.4-6). [1]

A natureza dos demônios declara que eles são seres criados, limitados, espirituais, malignos e imundos.


III. JESUS E A OBRA DOS DEMÔNIOS
1. Jesus e a oposição dos demônios.
O caso da libertação do endemoninhado, que ocorre logo após Jesus acalmar a tempestade, é um dos muitos relatos que mostra como os demônios entraram em rota de colisão com Jesus: “Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes” (Lc 8.28), disse o espírito maligno. Isso era esperado que acontecesse por causa da própria natureza da missão de Jesus, que é destruir as obras do Diabo (1Jo 3.8). Essa missão também foi confiada aos seus discípulos (Mt 10.1; Lc 9.1) e posteriormente posta em prática por sua igreja (At 5.16; 8.6,7).

2. Jesus e a libertação de endemoninhados.
Quando questionado sobre ter curado no sábado uma mulher com um espírito de enfermidade, Jesus respondeu: “E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás mantinha presa?” (Lc 13.16). O verbo grego traduzido como “libertar” é luo, e significa, nesse contexto, “livrar de laços”, “desamarrar”, “tornar livre”. Jesus veio para libertar os cativos do Diabo. Essa libertação é, também, tida como uma cura ou livramento do poder do mal (Lc 6.18). A palavra “curados” traduz o grego therapeuo, de onde vem o vocábulo português terapia, e significa “sarar”, “curar”, “restaurar a saúde”. Ao libertar dos demônios, Jesus trata, também, de todos os efeitos colaterais (Lc 10.19). [1]

A Bíblia descreve o Diabo como um ser real e experimental.

A Peneira do Diabo
Se o cristão tem autoridade sobre o Diabo, como de fato tem, então porque Satanás leva vantagens sobre muitos deles? Primeiramente porque lhe dão lugar (Ef 4.27); não são totalmente convertidos (Lc 22.31) e também possuem uma mente mundana (1Co 10.21). Algo parecido com o que vivenciou Simão Pedro: “Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte. Mas ele disse: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces” (Lc 22.31-34). Pelo menos seis coisas podemos deduzir do comportamento de Pedro revelados nesse texto.

1. Pedro demonstrou presunção — “estou pronto para morrer”. Isso não passava de presunção, pois quando foi confrontado por ser discípulo de Jesus, ele negou temendo a morte.

2. Pedro possuía “brechas” — “Satanás vos reclamou”. O Diabo viu áreas no comportamento de Pedro que revelavam que ele não parecia ser aquela pessoa que demonstrava. Ele queria tirar isso a limpo. Não há dúvidas de que havia área na vida de Simão que o Diabo conhecia como sendo vulneráveis.

3. Pedro possuía vida devocional pobre — “Roguei por ti” — O Senhor orou por Pedro. O que o texto parece mostrar é que Pedro não vivia uma vida devocional profunda. Quando Jesus orava no Getsêmani, ele logo adormeceu na oração.

4. Pedro também não demonstrou ser totalmente convertido — “Quando te converteres”. O Senhor não iria dizer essas palavras se Pedro fosse um homem convertido por completo. Eu não sei precisar o que era essa falta de conversão, mas que ele não era ainda convertido por completo, não era.

5. Pedro demonstrou egoísmo — “fortalece aos teus irmãos”. Pedro sempre aparece como sendo o primeiro em tudo. Era hora do Senhor lembrar que ele precisava pensar em seus companheiros.

Um homem possesso por demônio é (foi) reduzido a um nível subumano. Ele andava nu, e vivia em lugares lúgubres. Os demônios entraram em sua personalidade a ponto de distorcê-la e torná-la descontrolada quanto à realidade espiritual. Eles tiraram toda a sua sanidade e, quando o tomavam, não havia quem pudesse contê-lo. Ele esmiuçava todas as correntes que intentavam dominá-lo.
Por fim, a Bíblia fala claramente sobre a realidade do mundo espiritual e da forma de o Diabo trabalhar. Mas com olhar de amor e de misericórdia, o nosso Senhor está disponível a salvar-nos de tal realidade sombria.
Lúgubre: relativo à morte, aos funerais; que evoca a morte; fúnebre, macabro.


Crentes Possessos?
Lucas nada diz sobre a possessão de demônios em cristãos nem em seu evangelho nem tampouco em Atos. Todavia alguns escritores vão além e defendem a possibilidade de um crente ficar possuído pelo Diabo. Eu não compartilho dessa ideia. Estou convencido de que nenhum ensino tem demonstrado ser tão nocivo à Igreja de Jesus Cristo, quanto esse que afirma que o cristão pode ser possuído por demônios. Nos anos 90, esse ensino se tornou como uma praga e era só no que se falava nos meios evangélicos. Em um manual de libertação de autoria do neozelandês Bill Subritzky encontramos a pergunta: “pode um cristão ter demônios? O mesmo autor responde sem rodeios: “a resposta é enfaticamente sim!”4

O problema com esta afirmação está no fato da mesma não ser baseada na Bíblia Sagrada, mas na experiência do autor. Tentando fundamentar a sua resposta, ele diz: “Estou ciente do muito que se tem ensinado a respeito de os cristãos não poderem ter demônios. Contudo, através de minha experiência no ministério há quatorze anos, constatei que tal opinião é totalmente incorreta.”5
Partindo desse princípio a posteriori (fundamentado em sua experiência), Subritzky faz uma exegese falaciosa sobre a “possessão demoníaca” no cristão: “Em primeiro lugar”, escreve ele, “precisamos compreender que alguém pode ter um demônio sem estar possuído por ele. Aversão King James (Bíblia em Inglês) traduz incorretamente a palavra ‘endemoninhado’ como ‘possuído’. Isso dá as pessoas a impressão de que se um espírito as ataca, ou se apenas possuem um espírito estão consequentemente possuídas por demônios. Não há nada na tradução grega que revele a palavra ‘possuído’. Estudiosos insistem no fato de que esta palavra tem amedrontado muitas pessoas, por pensarem que, se possuem um demônio estão ‘possuídas’”.6
Como já escrevi em outro lugar, essa crença que dá amplos poderes aos demônios sobre os cristãos é falsa pelo menos por cinco razões:

1. E a “posteriori”, isto é, baseia-se na experiência e não na Bíblia.
2. E fruto de uma teologia errada sobre a segurança do crente.
3. E fundamentado numa concepção equivocada sobre a tricotomia humana.
4. E falho em definir o que seja um “cristão” segundo o modelo do Novo Testamento.
5É fundamentado na má compreensão da terminologia usada no Novo Testamento para a possessão demoníaca.7

Não podemos negar o valor que a experiência tem para nós, cristãos. A vida cristã é experimental. Todavia uma experiência cristã alicerça seus princípios na Palavra de Deus — a Bíblia Sagrada. Uma experiência divorciada das Escrituras não tem valor para a fé genuinamente evangélica. Aqueles que defendem a possessão demoníaca em cristãos não conseguem enquadrar essa experiência no modelo dado no Novo Testamento. A interpretação dada à palavra grega daimonizomai, com o sentido de “ter” demônios sem contudo estar possuído por ele, é falha e não conta com o apoio do Novo Testamento grego.8
Por outro lado, quando aceitamos a Cristo como nosso Salvador, mudamos de cidadania, de propriedade e consequentemente de reino e senhor (Cl 1.13). Quando pertencemos ao reino de Deus não existe, portanto, a ideia de copropriedade ou ocupação conjunta. Não podemos ser habitados ao mesmo tempo pelo Espírito Santo e por demônios. Neste aspecto, o cristão em comunhão com Deus está guardado e não há porque temer as forças do mal (Rm 8.38,39; Lc 10.18,19; Ef 6.10-18). [1]

O termo “possessão demoníaca” é um termo infeliz que aparece em algumas traduções da Bíblia, mas não reflete realmente o texto grego. O NT grego pode falar de pessoas que “têm demônio” (Mt 11.18; Lc 7.33; 8.27; Jo 7.20; 8.48,49,52; 10.20), ou pode falar de pessoas que estão sofrendo por causa de influência demoníaca (a expressão grega é daimonizomai ), porém a Bíblia nunca usa uma linguagem que sugira que um demônio realmente “possui alguém”.

O problema com ambos os termos, possessão demoníaca e endemoninhado, é que eles conotam uma influência demoníaca tão forte que parece insinuar que a pessoa que está sob o ataque demoníaco não tem escolha senão sucumbir ao demônio. Eles sugerem que a pessoa não mais é capaz de exercer sua vontade e está completamente sob domínio do espírito mau. Embora isso possa ser verdade em casos extremos, como o do endemoninhado de Gadara (v. Mc 5.1-20; observe que, após Jesus ter expulsado os demônios, ele ficou “em perfeito juízo”, v. 15), certamente não é o que acontece em muitos casos de ataque demoníaco ou conflito com demônios na vida de diversas pessoas. Assim, como responderemos à pergunta “Um crente pode ser possuído pelo demônio?”. Embora a minha preferência não seja, de forma alguma, o uso do termo possessão demoníaca seja qual for a situação, a resposta a essa pergunta dependerá do que se quer dizer por “possessão demoníaca”. Se por ela se entende que a vontade de uma pessoa fica completamente dominada por um demônio, de forma que essa pessoa não tenha nenhum poder de escolha para fazer o certo e obedecer a Deus, então a resposta com respeito ao cristão ser possuído pelo demônio é negativa, porque a Escritura assegura que o pecado não terá domínio sobre nós, já que fomos ressuscitados com Cristo (Rm 6.14; v. tb. v. 4,11).

A maioria dos cristãos, por outro lado, concorda que pode haver diferentes graus de ataque ou influência demoníaca na vida dos crentes. O crente pode em certas ocasiões ficar sob ataque demoníaco mais forte ou mais suave. (Observe a “filha de Abraão” a quem Satanás mantinha encurvada por dezoito anos de forma que, por causa desse espírito de enfermidade, ela não podia endireitar-se [Lc 13.11,16].) Embora os cristãos após o Pentecoste tenham poder mais pleno [A palavra daimonizomai, que pode ser traduzida por “estar sob a influência demoníaca” ou estar endemoninhados, ocorre treze vezes no NT, todas elas nos evangelhos (Mt 4.24; 8.16,28,33; 9.32; 12.22; 15.22 [“endemoninhada”]; Mc 1.32; 5.15,16,18; Lc 8.36; Jo 10.21). Todos esses exemplos parecem indicar a influência demoníaca muito grave. À luz disso, talvez seja melhor reservar a palavra endemoninhado para casos mais extremos ou graves. A palavra endemoninhado parece-me sugerir influência ou controle demoníaco muito forte. (V. outras palavras similares com o sufixo “izado”: pasteurizado, homogeneizado, tiranizado, materializado, nacionalizado etc. Todas essas palavras falam de uma transformação total no objeto a que se referem, não apenas de uma influência moderada ou suave.) Mas tornou-se comum em parte da literatura cristã de hoje descrever pessoas sob qualquer espécie de ataque do maligno como “endemoninhado”. Seria mais sábio reservar o termo para casos mais graves de influência demoníaca, a fim de que nossa linguagem não sugira uma influência mais forte do que realmente ocorre.] do Espírito Santo trabalhando dentro deles para capacitá-los a triunfar sobre os ataques demoníacos, eles nem sempre invocaram esse poder ou nem mesmo conheceram a respeito do poder que por direito lhes pertence. Faríamos bem em evitar a categorização dessa influência com os termos possessão demoníaca (assim como outros termos como oprimido ou atormentado), para simplesmente reconhecer que pode haver graus variados de ataque ou de influência demoníaca sobre pessoas, mesmo sobre cristãos, e não acrescer mais nada. Em todos os casos, o remédio será sempre o mesmo: repreenda o demônio em nome de Jesus e ordene que saia. [2]
"Não deis lugar ao diabo." Efésios 4:27

Quer as forças descontroladas sejam pessoais ou impessoais, Jesus possui poder sobre todas elas. Em um mundo que nos parece inóspito, onde forças sobrenaturais se mostram maiores do que nós, temos a confiança que Deus está no controle de tudo.

"Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus." Lucas 11:20

"Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus." Mateus 12:28

“Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” Lucas 10.20

"E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém." Mateus 28:18-20


PARA REFLETIR
Sobre os ensinos do Evangelho de Lucas, responda:
De que forma a lição retrata o poder absoluto de Jesus?
Essa pergunta busca ressaltar como o texto bíblico demonstra Jesus absolutamente poderoso. Nesse sentido, a imagem dEle dominando a natureza e libertando o endemoninhado retrata fielmente tal poder.
O Diabo é um ser pessoal?
Sim, pois a Bíblia trata Satanás e os demônios como seres dotados de pessoalidade.
Como as Escrituras Sagradas mostram Satanás e seus demônios?
Como seres criados. Tanto Satanás quanto seus demônios possuem poderes limitados. E também, seres imundos e perversos.
À luz da Bíblia, há como negar a realidade dos demônios?
Não. A Bíblia mostra que eles são seres espirituais e reais.
Qual o significado do vocábulo “terapia”?
Significa sarar, curar, restaurar a saúde. Jesus tem poder para restaurar a nossa saúde física, emocional e espiritual.

NOTAS

1 Veja uma exposição completa sobre esse texto livro de minha autoria Por Que Caem os Valentes, CPAD, 2006. Ali faço uma exposição detalhada sobre a possibilidade ou não de um crente ficar possesso de demônios.
2 BAUER, Walter. A Greek - English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature. The University of Chicago Press, 1958.
HAIFORD, Jack. A Beleza da Linguagem Espiritual. Editora Quadrangular.
4 SUBRITZKY, Bill. Demônios Derrotados. ADHONEP, 1993.
Idem.
Idem.
7 GONÇALVES, José. Por Que Caem os Valentes. CPAD, Rio de Janeiro, 2006.
Os principais léxicos gregos como os de Bauer, Thayer, Bullinger e outros traduzem daimonizomai como “possuído por demônios”.

Fontes:
[1]José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Ed.CPAD 
Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. José Gonçalves - Livro de Apoio Ed.CPAD
[2]Wayne Grudem - Teologia Sistemática atual e exaustiva - Ed.Vida Nova
Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento.CPAD 
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. CPAD
Revista Ensinador Cristão - CPAD
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia Defesa da Fé


Sugestão de Leitura: 
Aqui eu Aprendi!

5 comentários:

  1. Muito bom estudo pastor! Não consegui ler tudo por causa da correria aqui do trabalho, mas o pouco que li deu pra sentir o "gosto" do estudo. Deus abençoe!!

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    Respostas
    1. Meu grande amigo Ezequiel. Espero que tenha oportunidade de terminar a leitura e nos das um feedback, seus comentários são importantíssimos para mim.
      Obrigado pelo apoio.

      abraço fraterno
      Pastor Ismael

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  2. Ola que trabalho abençoador gloria gostei muito que o Senhor continue te abençoando o ministerio!
    Deste de ja estou te seguido convido a nos fazer uma breve visita e sera uma hora em ter você nos seguindo.
    Aprendi muito com esse estudo que esse blog seja usado para crescimento espirtual de muitos !

    https://ministerioaliancas.blogspot.com

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    Respostas
    1. A Paz do Senhor Jesus irmão Marcinho Alves.
      Obrigado pelo enriquecedor comentário.
      Já sou seguidor do seu Blog e que continuemos a realizar a Grande Comissão do Senhor Jesus Cristo. O 'Ide' de Jesus é mais do que uma ordem, é uma obrigação: "...me é imposta esta obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho" (1 Co 9:16).

      Que Deus continue a usa-lo poderosamente.
      abraço fraterno
      Pastor Ismael

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  3. Otimo estudo gostei muito parabéns pwlo excelente trabalho esclarecedor.

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