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sábado, 27 de maio de 2017

A Bondade Divina e a Regra de Ouro

E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira fazei-lhes vós também” Lc 6.31

Pedir, Buscar, Bater: Jesus fala da oração (7.7-12)
Interpretação. Duas observações essenciais para nossa interpretação. Jesus está falando estas palavras como incentivo. Jesus está falando de súplica, não de outras formas de oração. Nós sabemos que as palavras de Deus devem ser interpretadas como um incentivo e não como um mandamento, porque cada exortação vem acompanhada de uma promessa:

• Pedi e dar-se-vos-á.

• Buscai e encontrareis.

• Batei e abrir-se-vos-á.

Isto leva à pergunta imediata: Por que precisamos ser incentivados a levar nossas súplicas a Deus?
A resposta pode estar sugerida no contexto total do ensino de Jesus. O relacionamento com Deus é verdadeiramente uma coisa ‘em secreto’. Os incrédulos não podem ver, tocar nem sentir ‘Deus’. Nem nós! Quando oramos, damos um salto de fé, confiando em um Ser invisível para atuar em nosso nome no universo material. À medida que começamos a praticar a oração, precisamos da certeza provida pelas promessas de Jesus” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, p.36).

Pedir, Buscar, Bater
Se os pais humanos, que são maus, dão coisas boas aos seus filhos, Deus, que é completamente bom, certamente dará coisas boas àqueles que Lhe pedirem. Isto verdadeiramente é incentivo. Deus não apenas responderá nossas orações, mas, sua resposta nascerá de seu amor de Pai por nós, e será verdadeiramente uma ‘coisa boa’. Em segundo lugar, o tipo de oração que Jesus está ensinando é a súplica. Isto não é louvor, nem ação de graças, nem contemplação. É pedir a Deus por alguma coisa que é vital para nós. Nós sabemos disto porque Jesus descreve a oração como pedir, buscar e bater. ‘Pedir’ é um ato de oração na sua forma mais simples. ‘Buscar’ transmite intensidade, uma ‘sinceridade fervorosa’. E ‘bater’ retrata persistência. Nós batemos à porta do céu, e continuamos batendo! É importante não confundir o que Jesus está dizendo com o estabelecimento de condições que, se cumpridas, levarão Deus a nos responder. Jesus não está dizendo que se você pedir com fervor o suficiente, Deus responderá sua oração. Ele simplesmente está dizendo que quando sentirmos uma necessidade tão intensa que nos leve ao Senhor repetidas vezes, não devemos nos sentir desencorajados, mesmo se a resposta parecer atrasada. Deus verdadeiramente se preocupa com estas coisas que importam para os seus filhos. E Deus responde às nossas súplicas dando-nos boas coisas” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, pp.36-37).

“Tratar os demais como nós mesmos gostaríamos de ser tratados” é um conhecido dito popular. Contudo, ao analisar melhor tal sentença, é possível perceber que ela diz mais do que conseguimos enxergar em uma primeira leitura. A forma como todos gostamos de ser tratados é algo bastante pessoal. Um exemplo ilustra o ponto: Há pessoas que preferem ser chamadas de maneira formal (senhor/senhora), mesmo tendo pouca idade, ao passo que outras, mais idosas, preferem a informalidade (você). Tratá-las como “gostaríamos de ser tratados” significa justamente observar essa regra. Não nos cabe exigir que as pessoas gostem das mesmas coisas que nós, pois isso seria tratá-las como nós — e não elas — pessoalmente gostamos de ser tratados e não como elas, segundo suas predileções, gostariam de ser consideradas. Isso, porém, não significa que devemos concordar com tudo que as pessoas gostam/fazem e vice-versa. Tal distinção é necessária, pois não se pode confundir educação e boas maneiras com concordância acrítica e descompromissada de práticas reprováveis. Cuidemos, entretanto, de não tornar os nossos “gostos pessoais” a regra, segundo a qual, avaliamos as pessoas.

TEXTO BÍBLICO: Mateus 7.7-12

7 — Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.
8 — Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre.
9 — E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?
10 — E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?
11 — Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?
12 — Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.

INTRODUÇÃO
Os seis versículos da lição de hoje encerram grandes ensinamentos. Os primeiros cinco retomam verdades que já foram implicitamente trabalhadas na oração do Pai-Nosso e também nas orientações gerais sobre o ato de orar (Mt 6.5-13). O Mestre retoma igualmente os ensinos acerca da ansiedade pela vida (Mt 6.25-34). Entretanto, em relação a este último aspecto do discipulado, Cristo instrui, primeiramente, em detalhes e agora o coloca de forma implícita em forma de orientação a respeito da “frequência” com que se deve orar (vv.7,8). A confiança no Pai é ensinada com base na própria bondade humana que, como se sabe, é limitadíssima (vv.9-11). Finalmente, um dos textos mais populares e que é repetido até mesmo por pessoas que não creem em Deus: a regra de ouro é apresentada pelo Mestre como síntese da Lei (v.12).

I. PEDIR, BUSCAR E BATER

1. A vida orante.
É preciso ter em mente que o Mestre dirige-se aos seus discípulos e que eles são judeus. É acerca da justiça do Reino que Ele está a ensinar. Sendo assim, como a abnegação e a confiança são pré-requisitos indispensáveis aos que atenderam ao chamado de Jesus (Mt 6.25-34), o Mestre instrui agora acerca da “vida orante”, ou seja, da adoção de um estilo de vida que tem a oração como uma constante (v.7). A constância aqui nada tem com as vãs repetições que foram reprovadas anteriormente, posto que aquelas consistem em palavrórios vazios de quem não tem discernimento do caráter de Deus (Mt 6.7,8,32,33). A questão visada aqui não é algo circunstancial, mas perene e profundamente espiritual indo além das necessidades básicas que já são conhecidas pelo Pai (Lc 11.9-13).

2. “Pedi”, “buscai” e “batei”.
Através de três verbos, o Mestre ensina acerca da constância e do estilo de vida do discípulo no que diz respeito à oração: “Pedi”, “buscai” e “batei” (v.1). São ações e não meramente contemplações. Quem pede demonstra humildade, pois reconhece sua necessidade (Mt 15.21-28). Buscar está relacionado ao reconhecimento de que há algo mais que precisa ser encontrado, obtido. Não quer dizer inconformismo egoísta, mas a não aceitação de um estado de apatia espiritual e de falta de comunhão (Jr 29.11-14). Finalmente, o que bate sabe que depende da benevolência e da sensibilidade de quem está do “lado de dentro”. Portanto, precisa contar com tal confiança (At 12.16; Ap 3.20).

3. Receber, encontrar e abrir.
Quem tomou a decisão de pedir, buscar e bater, tem do Mestre a confiança de que “aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre” (v.8). Adotar esse estilo de vida orante, significa manter-se em um estado de perpétuo reconhecimento. Não é algo que deve se apresentar apenas em momentos de dificuldades que atingem a todos indistintamente. Comportar-se dessa maneira significa reconhecer a total dependência que temos do Criador (At 17.24-28).

Ponto Importante

A petição do estilo de vida orante não se restringe às necessidades básicas e, muito menos, a desejos caprichosos e individualistas, mas é um reconhecimento da nossa dependência divina.

II. A BONDADE DIVINA E A MALDADE HUMANA

1. O amor paternal humano.
Em continuidade ao seu ensino acerca do estilo de vida orante, o Mestre agora evoca a figura paterna para demonstrar o quanto se pode confiar em Deus. Qual pai, em sã consciência, ao pedido de alimento do filho lhe dará uma pedra, ou, “pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?” (vv.9,10). Evidentemente que os dois elementos aqui colocados para exemplificar os cuidados paternais — pão e peixe — são típicos da sociedade daquela época. No entanto, a mensagem é clara: salvo os comportamentos patológicos que existem, qualquer pai, em condições normais, cuida do filho e quer o melhor para ele (Lc 15.11-32).

2. A maldade inata do ser humano.
Apesar de este não ser o propósito do ensino do Mestre, Ele reitera uma doutrina cara da fé cristã que é o fato de a humanidade ser pecadora por natureza (Gn 3; Rm 5.12), ou seja, os atos de bondade que somos capazes de exercer não nos tornam bons, pois somos maus (v.11).

3. A infinita bondade divina.
A capacidade humana de praticar um ato de bondade ante a necessidade do filho, a despeito de o ser humano ser mau, faz com que Jesus tome tal situação como referência para exemplificar a infinita bondade do Pai (v.11). Em outros termos, se nós, sendo maus, temos capacidade de dar coisas boas aos nossos filhos, que dirá Deus, que é infinitamente bondoso (1Jo 4.8). Dessa forma, a pergunta do versículo 11 é retórica, pois é claro que Deus é indiscutivelmente mais digno da nossa confiança, pois Ele é bom para todos, independentemente das circunstâncias (Sl 118.1; Is 49.15,16; Lc 18.19; Mt 5.44,45).

Ponto Importante

O discípulo não é como os pagãos que não possuem entendimento algum sobre Deus. Por isso, seus pedidos precisam ser conscientes e nunca individualistas e egoístas.

III. A REGRA DE OURO E A COMPLETUDE DA LEI

1. A regra de ouro.
Conhecida até mesmo, de alguma forma, por pessoas que não leem a Bíblia, a regra de ouro consiste em um ditado que, em sua forma negativa (“Não faça aos outros, o que não queres que façam a ti”) era muito difundida no mundo antigo. Alguns autores defendem ser ela, em sua forma positiva (v.12), uma criação de Jesus. Entretanto, pesquisas realizadas no campo da literatura greco-romana e rabínica, demonstram sua existência em outros lugares e cultura.

2. A novidade da regra de ouro em Jesus.
Como qualquer ditado que, devido ao seu uso popular, tende a se tornar um chavão desgastado e raramente praticado, Jesus surpreende ao relacionar a regra de ouro àquilo que era mais caro aos judeus: as Escrituras Veterotestamentárias (v.12). Nesse sentido, uma vez mais o Mestre demonstra que não veio para “pisar” na Lei, e sim dar-lhe pleno sentido e cumprimento (Mt 5.17).

3. A Lei e os Profetas.
Considerando o volume físico do material do Antigo Testamento, inscrito em papiros e, posteriormente, em pergaminhos, sendo, por isso mesmo, de difícil reprodução, não há dificuldade alguma em imaginar o que o Mestre fez ao acrescentar à regra de ouro que o seu cumprimento correspondia a viver integralmente a “Lei e os Profetas”. Sendo as mentes judias disputadas por várias escolas rabínicas e estas, monopolizadoras do Antigo Testamento, não é difícil entender a revolução que foi afirmar que toda discussão teórica em torno de minúcias da Lei de nada valiam, mas sim o agir em amor, o fazer (praticar, realizar) aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem a nós. Esta sim era uma atitude que significava viver, integralmente, o que ensinava a Lei e os Profetas (Mt 22.34-40).

Ponto Importante

Uma vez mais o Mestre ensina que a vontade de Deus não é contemplação, mas ação. Saber sobre a Lei e os Profetas não é tão importante quanto cumprir o que lá está escrito, isto é, amar e agir como gostaríamos que agissem conosco.

CONCLUSÃO

Pedir, buscar e bater são atitudes que indicam reconhecimento de que se está necessitado e de que há falta de algo. O apelo se dirige a quem, a priori, acreditamos nos ser propício e benevolente, posto que confiamos que irá nos atender. Outro grande ensinamento do Senhor é que, fazer aos outros primeiro o que gostaríamos que fosse feito a nós é o que, de fato, significa cumprir o que está na Lei e nos Profetas. Para o judeu este é o maior de seus anseios e objetivos. Mas, e para os discípulos? Sua justiça deve exceder a dos escribas e fariseus (Mt 5.20). Logo, deve ter algo mais profundo. E Jesus revela isso em João 13.34.


Fonte: Lições Bíblicas CPAD Jovens - 2º trim.2017 - O Sermão do Monte - A Justiça sob a ótica de Jesus - Comentarista César Moisés Carvalho 


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