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sábado, 6 de agosto de 2016

Jesus e os Grupos Político-Religiosos de sua época

Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o Reino dos céus; e nem vós entrais, nem deixais entrar aos que estão entrando” Mt 23.13

O homem é, essencialmente, um ser religioso. Jesus também viveu dentro de um contexto social de diversidade religiosa, e com Ele aprendemos como nos posicionar frente às seitas religiosas, com respeito, mas defendendo a verdade do Evangelho.

No contexto do Novo Testamento, a nação judaica não era homogênea. Ao contrário disso, ela estava dividida em vários grupos e partidos com doutrinas, ideologias e tradições distintas, movidos ora por motivações políticas, ora religiosas. Nesse sentido, saduceus, fariseus, essênios, zelotes e herodianos formavam os principais partidos políticos e seitas religiosas daquela época.

Nesta lição, veremos as características desses grupos, e como Jesus, com sua sabedoria e coragem, conviveu e reagiu a eles, nos deixando o exemplo de como viver dentro de um ambiente de pluralismo religioso como o presenciado nos dias atuais, com respeito e defesa da verdade.

Embora tenha convivido com os grupos religiosos de sua época, Jesus apontou seus erros e hipocrisia.

1. Saduceus.
Apesar da pequena quantidade, os saduceus representavam a aristocracia dominante do judaísmo nos tempos do Novo Testamento. O nome desse grupo, segundo Merrill Tenney, originou-se provavelmente de Zadoque, o pai da linhagem de sumo sacerdotes durante o reinado de Salomão (1Rs 1.32,34,38,45). Eles formavam o escalão superior dos sacerdotes e parte do Sinédrio, exercendo, por isso, grande influência política. Ao contrário dos fariseus, que reconheciam a importância da tradição oral, os saduceus aceitavam somente a Lei escrita (Torá). Por influência do helenismo e da cultura pagã, era uma religião materialista e secularizada, que negava a existência do mundo espiritual (At 23.8) e não cria na ressurreição dos mortos (Mc 12.18) nem na vida futura. A vida para eles, portanto, se resumia ao aqui e agora, sobre a qual Deus não tinha nenhuma interferência. Quanto a esse grupo, Jesus disse aos seus discípulos para tomarem cuidado com o seu “fermento” (Mt 16.6), símbolo do mal e da corrupção.

2. Fariseus.
Em maior número que os saduceus, os fariseus (hb. parash: “separar”) representavam o núcleo mais rígido do judaísmo, formado basicamente por pessoas da classe média e com grande influência entre o povo (Jo 12.42,43). Eram meticulosos quanto ao cumprimento da Lei mosaica e, por isso, a maioria dos escribas (Mt 15.1; 23.2) pertencia a esse grupo. Enfatizavam mais a tradição oral do que a literalidade da lei. Além de dar grande valor às tradições religiosas, como a lavagem das mãos antes das refeições (Mc 7.3) e ao recolhimento do dízimo (Mt 23.23), os fariseus jejuavam regularmente (Mt 9.14) e enfatizavam a observância do sábado (Mt 12.1-8). Entretanto, eram avarentos (Lc 16.14) e, em suas orações, gostavam de se vangloriar de seus atributos morais (Lc 18.11,12).

Em razão do seu legalismo, Jesus os repreendeu de forma corajosa (cf. Mt 23), chamando-os de amantes dos primeiros lugares, hipócritas e condutores cegos, pois a religiosidade deles estava baseada no exterior, nos rituais e na justiça própria, em desprezo à parte mais importante da Lei: o juízo, a misericórdia e a fé (v.23). Um dos exemplos era a invocação da tradição de Corbã (Mc 7.11) como subterfúgio para não cuidar de seus pais na velhice, dizendo que seus bens haviam sido consagrados como oferta a Deus e ao Templo e, por isso, não poderiam ser utilizados. Jesus disse que eles haviam invalidado a lei pela tradição (Mc 7.13). Eis o motivo pelo qual Jesus declarou aos seus discípulos: “[...] se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus” (Mt 5.20).
A conduta dos fariseus nos faz lembrar que a verdadeira santidade não se alcança através do legalismo e do esforço pessoal, mas pela fé em Cristo (Gl 2.16) e através da sua maravilhosa graça (Hb 4.16).

3. Essênios.
Embora a Bíblia não mencione diretamente esse grupo religioso, os essênios formavam uma pequena seita judaica na época do Novo Testamento, que vivia de forma reclusa no deserto da Judeia, às margens do Mar Morto. Merrill Tenney diz que no ato da admissão à seita, todas as pessoas entregavam suas propriedades a um fundo que era igualmente disponível a todos. Banhavam-se antes das refeições e vestiam-se de branco. Além disso, consideravam a si mesmos “os filhos da luz”, e viviam completamente separados do judaísmo de Jerusalém, o qual consideravam apóstata.

As práticas místicas dos essênios destoam dos ensinamentos de Jesus, que não impôs nenhum ritual de purificação, a não ser a purificação pela Palavra (Jo 13.10; 15.3). Além disso, os cristãos foram chamados para ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13,14), o que implica viver e influenciar a sociedade e a cultura, e não viver em reclusão.

Dentre as comunidades, tornou-se conhecida a de Qumram, pelos manuscritos em pergaminhos que levam seu nome, também chamados Pergaminhos do Mar Morto ou Manuscritos do Mar Morto.

Segundo Christian Ginsburg (historiador orientalista), os Essênios foram os precursores do Cristianismo, pois a maior parte dos ensinamentos de Jesus, o idealismo ético, a pureza espiritual, remetem ao ideal Essênio de vida espiritual. A prática de banhar-se com frequência, segundo alguns historiadores, estaria na origem do ritual cristão do batismo, que era ministrado por João Batista, ás margens do Rio Jordão, próximo a Qumram.

4. Zelotes.
Os zelotes formavam um grupo extremista que usava a rebelião e a violência contra a dominação dos romanos, pois acreditavam que tal submissão era uma traição a Deus. De acordo com o Dicionário Wycliffe, “alguns sugeriram que o Senhor Jesus favoreceu os Zelotes, e escolheu Simão, o Zelote (Lc 6.15) para expressar sua aprovação em relação às suas táticas. Nada poderia ser tão oposto à verdade, uma vez que todo ministério de Jesus era baseado em meios pacíficos, e Simão provavelmente experimentou uma mudança de coração em relação a toda atividade dos Zelotes”.

Zelotes, um grupo que se destaca como sendo o mais radical do Judaísmo. Foram os principais responsáveis por produzirem os levantes contra Roma, provocando a Guerra Judia (66-7- d.C.), culminando na destruição de Jerusalém e do templo. Os Zelotes tornaram-se sinônimos de 'fervorosos', e foram os que uniram o fervor religioso com o compromisso social, assim como os Sicários.

Ao passo que os Zelotes eram fervorosos defensores de uma rebelião, os Herodianos se tornaram então seus opositores.

5. Herodianos.
Os evangelhos também mencionam os chamados herodianos (Mc 3.6; 12.13; Mt 22.16). Tinham características de agremiação partidária, apoiando a dinastia dos Herodes, que deviam seu poder às forças romanas de ocupação. Os herodianos se opunham a Jesus por receio que Ele pudesse promover perturbações públicas por meio de seus ensinamentos morais. Eram movidos mais por interesses políticos do que religiosos, tanto que não tinham uma ortodoxia clara. Ainda hoje, alguns grupos religiosos são mais movidos por interesses políticos do que pelas convicções bíblicas.

SUBSÍDIOS
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Os Publicanos
Cobrador de rendimentos públicos entre os romanos. Havia duas espécies de recebedores de tributos: os recebedores gerais, e os seus delegados em cada província, sendo os primeiros responsáveis para com o imperador pelas rendas do império. Eram os principais recebedores homens de grande importância no governo, sendo geralmente membros de famílias ilustres - mas os seus delegados, homens das classes inferiores, eram tidos, pelas suas rapinas e extorsões, como ladrões e gatunos. As obrigações dos cobradores eram muito mais amplas do que acontece entre nós, porque eles tributavam todos os artigos de mercadoria que passavam pela estrada. (*veja Mateus.) Entre os judeus era odiosa a profissão de um publicano. os galileus, principalmente, submetiam-se a esses cobradores com a maior repugnância, indo até ao ponto de considerarem ilegítimo o pagamento do tributo (*veja Mt 22.17). E quanto àqueles publicanos da sua própria nação, quase eram considerados como pagãos (Mt 18.17). Os publicanos de que fala o N.T. eram olhados como traidores e apóstatas, instrumentos do opressor, e classificados como pessoas do mais vil caráter (Mt 9.11 - 11.19 - 18.17 - 21.31,32), sendo os seus únicos amigos os desterrados. Não admira, pois, que Aquele que comia e bebia com publicanos fosse tratado com desprezo pelos seus conterrâneos (Mt 9.11 - Lc 15.1 - 19.2). As próprias esmolas dessa gente não eram aceitas para a caixa dos pobres da sinagoga. Uma virtude, pelo menos, eles possuíam: a de não serem hipócritas. o publicano que no templo clamou: ‘Ó Deus, sê propício a mim, pecador!’ (Lc 18.13), mostrava que alguns da sua desprezada classe tinham sido tocados pela pregação de João Batista (Mt 21.32). o publicano Mateus foi escolhido para o número dos doze discípulos pelo Divino Mestre. (Dicionário Bíblico Universal Buckland pg.364)

Os Samaritanos
Seita antiga, e ainda hoje existente entre os judeus, derivando o seu nome de Samaria, a cidade capital dos seus domínios. (*veja Israel, israelitas.) Depois da queda de Samaria e do reino de Israel, o conquistador Sargom levou a massa dos seus habitantes para a Assíria, sendo depois repovoados, em parte, os territórios dos israelitas por estrangeiros, vindos das regiões vizinhas do Tigre e do Eufrates (2 Rs 17). Estes e os israelitas, que tinham ficado na terra de Israel, aliaram-se por casamentos recíprocos, tomando mais tarde o nome de samaritanos. o despovoado país tinha sido invadido por animais ferozes, tirando os idólatras desse fato a conclusão de que o ‘Deus do pais’ estava encolerizado. E, aterrorizados com essa idéia, mandaram pedir ao imperador da Assíria que lhes fosse mandado um sacerdote do Senhor, a fim de instruí-los sobre a maneira de prestar culto ao Deus de israel. Ao princípio a sua religião era de diferentes cores: ‘temiam o Senhor e ao mesmo tempo serviam aos seus próprios deuses’. Mas, depois das reformas introduzidas por Josias, reformas que se estenderam até Betel e aos distritos do norte (2 Rs 23.15 - 2 Cr 34.6,7), parece que o povo cedeu à destruição dos seus ídolos, aceitando nominalmente a religião israelita. Todavia, embora tivessem a mesma religião que os judeus, não tinham destes a sua estima, visto como eles se tinham servido de calúnias e de vários estratagemas para impedir a reedificação do templo de Jerusalém (2 Rs 17 - Ed 4.5,6). Depois do cativeiro, tendo principiado Neemias uma reforma na Judéia, deu-se o caso de alguns dos judeus, que tinham casado com mulheres pagãs, preferirem passar para os samaritanos a terem de repudiá-las. Um destes foi Manassés, filho do sumo sacerdote, o qual conseguiu que os samaritanos renunciassem a muitas das suas idolatrias, edificando sobre o monte Gerizim um templo, onde o culto se assemelhava ao de Jerusalém. (*veja Manassés, Neemias, Sambalá.) Mais tarde, quando o pais fazia parte do império grego, revoltaram-se os samaritanos contra o poder de Alexandre. Este expulsou-os de Samaria, reuniu-os com os macedônios, sendo dada a província aos judeus. Contribuiu esta circunstância em não pequeno grau para aumentar a animosidade entre os dois povos. Samaria tornou-se lugar de refúgio para os transgressores da lei judaica, que iam depois prestar culto ao Senhor no monte Gerizim. Quando prosperavam os negócios do povo judeu, nunca os samaritanos perdiam a ocasião de se chamarem hebreus, pertencentes à raça de Abraão. Mas quando os judeus eram atormentados com perseguições já os samaritanos não os reconheciam como sendo seus irmãos, declarando, então, que eram da raça fenícia, ou descendentes de José, ou de seu filho Manassés. os samaritanos mostravam ter interesse pela antiga aliança mosaica. A sua fé e práticas religiosas eram somente baseadas no Pentateuco, sendo inteiramente rejeitados os outros livros do cânon judaico. o seu templo, edificado no monte Gerizim, ali permaneceu até ao ano 109 a.C. Jesus distinguia os samaritanos das ovelhas perdidas da casa de israel, e dos gentios (Mt 10.5,6). Neste tempo o ódio entre eles e os judeus estava no seu auge (Lc 9.52,53 - Jo 4.9) - e até ao próprio Salvador chamavam samaritano, significando esta palavra tudo quanto era mau (Jo 8.48). (Dicionário Bíblico Universal Buckland pgs.395-396)


A QUESTÃO DO PLURALISMO RELIGIOSO

1. Jesus e as religiões do seu tempo.
Como podemos observar, Jesus viveu dentro de um contexto de pluralidade religiosa, com a existência de diversas teologias e concepções sobre Deus e espiritualidade. Embora respeitasse a crença de cada grupo e tivesse dialogado com muitos deles (Lc. 7.36), Ele não deixou de apontar os seus erros e de lhes falar a verdade. Jesus não se apresentou como mais uma opção religiosa entre tantas, mas como o próprio Filho de Deus (Jo 6.57), afirmando a sua exclusividade ao dizer: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).

2. A exclusividade de Cristo hoje.
Nos dias atuais, como discípulos de Jesus, devemos respeitar as demais confissões religiosas, sem perder o senso crítico e a coragem de dizer o que convém à sã doutrina (Tt 2.1). Precisamos estar preparados (1Pe 3.15) para confrontar toda religião que fuja dos princípios bíblicos, seja por legalismo, misticismo ou mundanismo, enfatizando a superioridade de Cristo, o autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2), e o fundamento da verdadeira espiritualidade.


CONCLUSÃO
Vivemos hoje em um contexto de grande diversidade religiosa, no qual muitos escolhem suas religiões de forma descompromissada e baseados em simples preferência pessoal ou agenda política. Ainda assim, os princípios básicos dos ensinos do Mestre permanecem válidos, servindo-nos de orientação para a defesa da verdade e da ortodoxia bíblica, contra as religiões enganosas, heresias e falsas doutrinas.


SUBSÍDIOS - (Bíblia de Estudo Pentecostal - CPAD, pg.1380)
SEITAS JUDAICAS

OS FARISEUS
“Sucessores dos hassidim (‘os piedosos’) do século II a.C., formavam um partido religioso puritano.
1. Seu principal interesse era a observância da Lei de Moisés.
2. Conferiam igual valor às tradições dos anciãos e às Escrituras Sagradas.
3. Criam na existência dos anjos e demônios.
4. Criam na vida após a morte.
5. Davam grande ênfase aos aspectos práticos de seus ensinamentos, como a oração, o arrependimento e as obras assistenciais.
6. Embora poucos, em número, sua influência social e política era considerável.
7. A maioria dos escribas pertencia a este grupo.
8. Sua rigidez e separatismo degenerou-se em mero legalismo, em arrogância e menosprezo pelos demais.
9. Jesus não criticou a ortodoxia dos seus ensinamentos, mas a sua falta de amor e orgulho.

OS SADUCEUS
Em sua maioria, eram sacerdotes e ricos aristocratas. É provável que tenham surgido no período macabeu.
1. Não reconheciam a autoridade da tradição oral.
2. Negavam a existência do mundo espiritual.
3. Não criam na ressurreição dos mortos nem na vida futura.
4. Aceitavam como canônicos apenas os livros de Moisés.
5. Interpretavam a Lei de maneira literal.
6. Eram simpáticos à cultura helenista.
7. Contavam com pouco apoio popular.
8. Eram renhidos adversários dos fariseus”


ESTUDANDO
1. Quais as características dos saduceus?
Era uma religião materialista e secularizada, negavam a existência do mundo espiritual (At 23.8) e não criam na ressurreição dos mortos (Mc 12.18) nem na vida futura.

2. Por que Jesus repreendeu os fariseus?
Em razão do legalismo e da hipocrisia.

3. Por que os essênios destoavam dos ensinamentos de Jesus?
Jesus não impôs nenhum ritual de purificação, a não ser a purificação pela Palavra (Jo 13.10; 15.3). Além disso, os cristãos foram chamados para ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.14), o que implica viver e influenciar a sociedade e a cultura, e não viver em reclusão.

4. Por que os herodianos se opunham à liderança de Jesus?
Por receio de que Ele pudesse promover perturbações públicas por meio de seus ensinamentos morais, alterando o status quo* daquela época.

5. Hoje, como os cristãos devem se portar diante da diversidade religiosa?
Nos dias atuais, como discípulos de Jesus devemos respeitar as demais confissões religiosas, sem perder o senso crítico e a coragem de dizer o que convém à sã doutrina (Tt 2.1).

*O status quo está relacionado ao estado dos fatos, das situações e das coisas, independente do momento. O termo status quo é geralmente acompanhado por outras palavras como manter, defender, mudar e etc.
Neste sentido, quando se diz que “devemos manter o status quo”, significa que a intenção é manter o atual cenário, situação ou condição.
Por outro lado, quando se diz que “devemos mudar o status quo”, significa que o estado atual deve ser alterado.

Fonte:
Lições Bíblicas - Jovens - Jesus e o seu tempo - Conhecendo o contexto da sociedade judaica nos tempos de Jesus - 2º trim.2015 - Comentarista Valmir Milomem
Dicionario Bíblico Wycliffe
Dicionario Bíblico Universal Buckland - Ed.Vida 

Para saber mais sobre GRUPO RELIGIOSOS dos JUDEUS
  • Período Interbíblico - Intertestamentário 
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