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sábado, 5 de maio de 2018

Ética Cristã e Suicídio

“O ladrão não vem senão a roubar, a matar e o destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” Jo 10.10

Ética Cristã e suicídio

O suicídio é um drama no mundo. Muitos casos são potencializados por causa das crises de depressão profunda. Há um relato de suicídio muito triste de uma famosa escritora inglesa, Virginia Woolf (1882-1941). Seu estilo literário é considerado influente sobre a também conhecida escritora brasileira Clarice Lispector. Obras marcantes de Virgínia são “Orlando”, “As Ondas”, “Mrs. Dalloway” e uma que este articulista aprecia muito, “Cenas Londrinas”, dentre outras. Virgínia sofreu muito com períodos de crises depressivas. Na época, não se tinha fármacos tão eficientes em relação à doença. No momento de crise, a escritora sentia dores de cabeça alucinantes indo à exaustão física. Até que um dia, não mais suportando o sofrimento, Virginia Woolf tirou a própria vida colocando pedras em seu casaco, caminhando e afogando-se no Rio Ouse, perto de sua residência.

O exemplo mencionado acima pode ser classificado como “suicídio pessoal”, quando a pessoa individualmente desiste de viver. São muitos os casos de indivíduos que se encontram nessa situação. De acordo com o jornalista André Trigueiro, na obra “Viver é a melhor opção — A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo”, foi realizado um mapeamento de milhares de pessoas de várias partes do mundo, que tinham em comum em seus óbitos o suicídio. Em 90% dos casos foi constatado que as pessoas que praticaram o suicídio tinham histórico de alguma patologia mental, especialmente o transtorno de humor, conhecido como depressão, esquizofrenia, bipolaridade e outras, que poderiam ser perfeitamente tratadas. É uma amostragem chocante. Significa que 90% dos casos do suicídio poderiam ser revertidos. Além do livro, há vários vídeos do jornalista André Trigueiro sobre o assunto no Youtube. Outra obra que pode ajudar muito a conhecer a implicação das doenças psíquicas na vida é a clássica “O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão”, do jornalista Andrew Solomon. É uma descrição realista a cerca do domínio da depressão sobre a psiquê humana.

Diante desse quadro grave, o suicídio deve ser tratado com muita seriedade. Por isso, estude bem o assunto. Mencione a questão médica da depressão e a sua relação com o suicídio. Então, mostre a posição teológica e ética da Igreja de Cristo. E aproveite a oportunidade para propor ações de prevenção a favor da vida, junto à classe. Boa aula! – Revista Ensinador Cristão nº 73

O início e o término de nossa vida são prerrogativas exclusivas de Deus.

Texto Bíblico - 1 Samuel 31.1-6

Há dados alarmantes a respeito do suicídio. Está mais do que na hora de considerarmos este assunto de acordo com a seriedade que ele requer.
Não é de hoje que o suicídio tem sido um fato que perpassa a realidade de muitas igrejas locais. São membros, que infelizmente, dão cabo da própria vida. Outros, são pastores experimentados no ministério, que não suportando o sofrimento, põem fim a própria existência.
Esse problema é um drama que tem ligação direta com os transtornos de humor, manifestados na depressão, no transtorno de ansiedade, nas esquizofrenias, dentre outros, como revelou uma pesquisa médica recente.
O mais dramático é que esses transtornos têm tratamento adequado por intermédio de medicamentos e de terapias profissionais. Ore ao Senhor e peça sabedoria do alto para que, se for o caso, oriente as pessoas que porventura vivem o “calabouço” da depressão a procurarem ajuda profissional, paralelo à terapia espiritual. Tal orientação pode salvar vidas. Boa aula!

Deus é quem deve ter a última palavra a respeito da vida


A expressão suicídio vem do latim sui (“a si mesmo”) e caedere (“matar”, “cortar”), que significa “matar a si mesmo”, também conhecido como “morte autoinfligida”. A palavra “suicídio” foi criada em 1651 pelo médico e filósofo inglês Walter Charleton. Ele alegava que “vindicar-se de uma calamidade extrema e, de outro modo, inevitável por meio do suicídio não é um crime” (KAISER Jr, 2016, p.181). O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) acatou a seguinte definição:

Chama-se suicídio todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato, positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que ela sabia que reproduziria este resultado. A tentativa é o ato assim definido, mas interrompido antes que ele resulte a morte. (DURKHEIM, 2000, p.14)

Buscando descobrir quais condutas sociais causavam o suicídio (nexo casual), Durkheim classificou os suicídios em egoísta, altruísta, fatalista e anômico. O egoísta é aquele em que o bem-estar do indivíduo ultrapassa o bem-estar da coletividade. As relações com a sociedade se deterioram, o suicida se isola em uma atitude de autocomiseração a ponto de considerar não ter mais sentido em viver. O altruísta é aquele que se dá por meio do exagero da interação social. O cidadão sente-se no dever de oferecer a sua vida em favor de uma causa própria. O fatalista não acredita que as coisas possam melhorar. Ele decreta o fracasso como única possibilidade e decide tirar a própria vida por sentir-se inferior em relação às outras pessoas. O anômico acontece em situação de anomia social, ou seja, a ausência de regras e expectativas, decorrente de alguma crise social, tais como na área política e na economia, que desregulam as normas sociais. A prática do suicídio tem sido um mal silencioso e o índice de pessoas que se matam vem crescendo assustadoramente. Porém, as causas do suicídio não são apenas de origem sociais; elas possuem fortes elementos de natureza espiritual.

I. O SUICÍDIO NAS ESCRITURAS E NO MUNDO

As Escrituras registram seis casos de suicídio, cinco no Antigo e um no Novo Testamento. Entre os judeus ortodoxos, existia um entendimento extremado do texto de Levítico: “E não profanareis o meu santo nome, para que eu seja santificado no meio dos filhos de Israel. Eu sou o Senhor que vos santifico” (Lv 22.32). A doutrina da “Santificação do Nome” (Kiddush Ha-shem) exigia que o judeu fizesse todo o possível, até mesmo tirar a própria vida, para glorificar o nome de Deus (KAISER Jr, 2015, p. 183).

1. No Antigo Testamento

Os casos de suicídio relatados no Antigo Testamento revelam a incapacidade humana em enfrentar a vergonha e a rejeição. O ser humano tem necessidade de sentir-se aceito, respeitado e amado. Porém, sabe-se que é impossível viver sem nunca ser rejeitado e, portanto, saber lidar com a rejeição é uma aprendizagem fundamental para o equilíbrio do ser humano (MIRANDA, 2005, p. 10). Aqueles que não encontram esse equilíbrio desenvolvem um forte sentimento de baixa autoestima que os leva a prática do suicídio.

A controversa saga de Sansão

O livro de juízes estende-se por um período de intervalo entre a morte de Josué e o começo da monarquia em Israel. Ele narra um tempo conturbado da história dos israelitas compreendido entre 1200 até 1070 a.C. A narrativa de Juízes conta a saga de Sansão, o sétimo juiz, cuja tarefa era derrotar os filisteus. Sansão recebeu atributos para ser um libertador de seu povo (Jz 13.5), mas preferiu alimentar sua carne e envolveu-se em relacionamentos amorosos condenados pela lei mosaica (Jz 14.3). Ele casou-se com uma das filhas dos filisteus a quem amava, mas ainda durante a festa de casamento ela traiu a confiança dele (Jz 14.17). Descontrolado, abandonou a festa e foi para a casa de seu pai. Quando retornou para reconciliar-se com a esposa, descobriu que a tinham dado para outro homem (Jz 14.19,20). Irritado, vingou-se dos filisteus por causa dessa ofensa (Jz 16.5).

Os filisteus lhe deram o troco, e queimaram a casa e mataram a família e a mulher que Sansão amava (Jz 15.6). Ele severamente tornou a vingar-se dos filisteus (Jz 15.8). Então, seus adversários cercaram Judá e pediram sua cabeça, seus compatriotas o amarraram e o entregaram aos filisteus (Jz 15.913). Sansão libertou-se das amarras e com a queixada fresca de um jumento matou mil filisteus (Jz 16.14-16). Depois disso, ele foi até Gaza e deitou-se em casa de uma prostituta. Os gazitas cercaram a cidade para matá-lo pela manhã. Porém, à meia-noite, Sansão se levantou e carregou o portão da cidade, com seus umbrais e tranca (Jz 16.1-3). Não é difícil compreender que as más escolhas de Sansão o conduziram por um tortuoso e desgovernado caminho. Seus pais não o entenderam, sua esposa o traiu, seus compatriotas o entregaram, uma nação inteira de filisteus o odiava e sua vida corria risco de morte. Não obstante, Sansão não procurou alívio de seu sofrimento no suicídio, ao contrário, ele lutava bravamente para se manter vivo.

Após sofrer todos esses revezes, Sansão apaixonou-se por uma mulher chamada Dalila (Jz 16.4). Tudo indica que estava em busca de companhia, não era apenas desejo sexual; ele estava solitário e castigado pela rejeição, precisava sentir-se amado, e então passou a morar em casa de Dalila (Jz 16.5). Destarte, Sansão experimentaria a maior de todas as suas decepções. Instigada pelos filisteus, Dalila insistia em descobrir o segredo da sua força (Jz 16.15,16). Após confidenciar a verdade à mulher que amava, os filisteus arrancaram-lhe os olhos, aprisionaram-no com duas cadeias de bronze e obrigaram-no a girar um moinho no cárcere (Jz 16.21). Quando seus cabelos tornaram a crescer, decidido em cumprir sua missão, na festa a Dagom (um dos deuses do panteão cananeu), ao se recostar nas colunas de sustentação, derrubou o templo sobre si e seus inimigos (Jz 16.30).

É verdade que as Escrituras não apresentam Sansão como modelo de piedade e santidade. Mas os problemas de Sansão não eram exclusivamente a luxúria, e sim desobediência espiritual e desajuste emocional. Ele não cumpriu o seu voto de nazireu, não controlou suas paixões e se deixou manipular. Contudo, a humilhação que experimentara em poder dos filisteus (a mutilação de seus olhos e o trabalho escravo na prisão) parece que o fez cônscio de sua missão divina. Na derradeira oração de sua vida, Sansão demonstra sua fé e acredita que Deus possa usá-lo uma última vez (Jz 16.28). Deus reunira em um só lugar todos os líderes filisteus inimigos de Sansão e de Israel (Jz 16.30). Assim, sua tarefa de iniciar o livramento de seu povo foi cumprida com a sua morte. Essa ação de Sansão não foi vista como suicídio, e sim como um sacrifício. Seu último ato o transformou em um herói da fé (Hb 11.32-34).

Os suicídios como fuga pessoal

O primeiro rei israelita, o benjamita Saul, cometeu vários desatinos e distanciou-se completamente de Deus. Reinou durante quarenta anos (At 13.21), mas já a partir do segundo ano trilhou o caminho da desobediência (1 Sm 13.1). Seu primeiro grande erro foi o de usurpar para si o ofício de sacerdote sobre Israel. Estava há sete dias no campo de batalha aguardando por Samuel para a oferta do sacrifício; como o sacerdote demorou, Saul precipitadamente decidiu oferecer o sacrifício (1 Sm 13.8,9). Ao chegar ao arraial, o sacerdote o repreendeu severamente: “Agiste nesciamente […] agora, não subsistirá o teu reino” (1 Sm 13.13,14).

Dominado pela inveja e ciúmes que sentia por Davi, Saul vivia atormentado por um espírito mau (1 Sm 16.14). Por causa de seus erros e pecados, Deus não falava mais com ele (1 Sm 28.6). Insensato e inconsequente, rejeitou ao Senhor e buscou respostas no ocultismo (1 Sm 28.7). Acuado na peleja contra os filisteus, não podendo suportar a derrota e o fracasso de sua empreitada, lançou-se sobre a própria espada e seu auxiliar fez o mesmo (1 Sm 31.4,5).

O suicídio do conselheiro Aitofel é outro caso registrado como fuga para os problemas. Ele era um gilonita, conselheiro de Davi. Sua reputação era tão alta que as suas palavras tinham a autoridade de um oráculo divino (2 Sm 16.23.). Conjectura-se que Aitofel estava zangado com Davi por causa do adultério do rei com sua neta Bate-Seba e o consequente assassinato de Urias (2 Sm 11.3; 23.34). Por essa razão, Aitofel teria ficado ao lado de Absalão quando este usurpou o reino de Davi (2 Sm 15.31). Para mostrar ao povo que o rompimento entre o filho e o pai era definitivo, Aitofel aconselhou Absalão a possuir as concubinas de Davi aos olhos do povo (2 Sm 16.21,22). Aitofel também aconselhara escolher doze mil homens, e perseguir a Davi naquela mesma noite. Porém, o rebelde Absalão desejou ouvir uma segunda opinião. Chamaram a Husai, o arquita, que aconselhou esperar, tendo como objetivo alertar a Davi acerca do perigo. Absalão acatou o conselho de Husai, e quando Aitofel viu que seu conselho fora rejeitado, desesperou-se, e, sem conseguir lidar com a situação, voltou frustrado e deprimido para sua casa, colocou as suas coisas em ordem e enforcou-se (2 Sm 17.1-23).

O outro registro é o caso do rei Zinri. Ele foi o quinto monarca do Reino do Norte. Antes de se tornar rei, tinha sido capitão da metade dos carros sob o reinado de Elá. Quando da ausência do exército em Gibetom, por causa dos filisteus, Zinri aproveitou da ocasião e da embriaguez do monarca e traiçoeiramente matou a Elá, também dizimou os membros da família real e se autoproclamou rei. Contudo, seu reinado foi breve — apenas sete dias —, pois o exército não o reconheceu e fez do capitão Onri o novo rei. Onri marchou com o exército revoltado e sitiou a cidade de Tirza, local onde Zinri reinava. Encurralado, derrotado e apavorado, Zinri incendiou a casa do rei estando ele dentro e assim tirou a própria vida por ato de incêndio criminoso (1 Rs 16.9-19). Ao não suportar a rejeição sofrida, Zinri covardemente cometeu suicídio e por motivo fútil.

2. No Novo Testamento

O mais emblemático caso é o suicídio de Judas Iscariotes. Ele fizera parte do colegiado apostólico (Lc 6.16). Sua função de tesoureiro requeria integridade (Jo 13.29). No entanto, ele furtava as ofertas que eram lançadas na bolsa (Jo 12.6). Sua ambição por dinheiro foi uma das motivações para entregar Jesus (Mc 14.11). Culpado por entregar sangue inocente, foi enforcar-se (Mt 27.4,5) e como resultado “caiu de cabeça, seu corpo partiu-se ao meio, e as suas vísceras se derramaram” (At 1.18, NVI). Cristo já o tinha alertado: “ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído” (Mc 14.21), porém, Judas não resistiu ao Diabo e nem teve humildade para buscar o perdão. Preferiu o suicídio em lugar de corrigir o erro cometido. Em nossos dias, a banalização da vida e da fé tem contribuído para comportamentos similares e consequente queda espiritual.

Judas foi salvo?

Essa pergunta é muito comum no meio evangélico. A dúvida de alguns se baseia no conceito equivocado de predestinação. A doutrina da predestinação fatalista ensina que Deus predestinou uns para os céus e outros para o inferno. Os adeptos dessa ideia questionam: “Se Judas estava predestinado para trair Jesus, o que ele poderia fazer para evitar sua condenação?” De outro lado, usando esse mesmo pressuposto, alguns consideram uma injustiça Judas não ter sido salvo, uma vez que, segundo essa teoria, ele nada poderia fazer contra os desígnios divinos. Sem entrar nos debates da erudição teológica acerca da doutrina da salvação, especialmente entre Calvino e Armínio, reconhecemos pelas Escrituras que Deus é soberano (Is 41.21-24). Em sua soberania, Ele concede a cada pessoa o livre-arbítrio para ser exercido dentro de seu soberano projeto para o passado, presente e futuro. E as Escrituras também asseveram que a presciência divina das futuras decisões de alguém não é o resultado de sua predeterminação dessas escolhas. Portanto, cada qual será responsabilizado e julgado por suas decisões, quer elas sejam boas, quer sejam más escolhas (Sl 51.3,4, Rm 2.6-8, Ap 20.12).

Nesse caso, a presciência divina sabia que Jesus morreria em uma cruz (Jo 12.32). Sabia que seria traído por Judas Iscariotes (Jo 13.18-27) e também tinha ciência de que Pedro negaria o Cristo (Mc 14.19-31). No entanto, a responsabilidade de cada um desses atos recaiu sobre quem os decidiu executar. Quanto à morte de Cristo, Deus não levou as autoridades e nem os algozes a crucificar Jesus, embora o Senhor tivesse conhecimento prévio dos fatos, a culpa ainda era dos executores (At 4.27,28). Isso significa dizer que “Deus não precisa predestinar para saber de antemão” (HORTON, 1997, p. 364).

Quanto ao Iscariotes, sua má índole e sua conduta reprovável não aconteceram de uma hora para outra. Não obstante, Lucas e João escreverem que Satanás entrou em Judas (Lc 22.3; Jo 13.27), isso significa dizer que embora agisse de modo próprio, inconscientemente o traidor cooperou com o Diabo (ARRINGTON, 2003, p.139). O discípulo amado informa que Judas era um corrupto contumaz e furtava as ofertas que Jesus recebia (Jo 12.6). A sua motivação para entregar o Senhor envolveu uma transação monetária — trinta moedas de prata — o preço de um escravo (Êx 21.32). Apesar disso, considera-se que esse não fora o único motivo da traição. Talvez ele achasse que Cristo fosse um embuste e, desacreditado da messianidade de seu líder, resolveu lucrar com a situação (MOUNCE, 1996, p. 250). Entretanto, ao contrário de Pedro — que também traiu a Jesus —, mas que após negar ao seu Senhor encontrou perdão por meio do arrependimento (Lc 22.62; Jo 21.17), Judas, cheio de remorso, resolveu tirar a própria vida (Mt 27.5). Por conseguinte, tanto o “ato da traição” quanto o “ato do suicídio” foram escolhas que selaram o seu destino. Assim sendo, Pedro foi salvo e o Iscariotes morreu perdido.

3. O Suicídio no Mundo

Segundo a Organização Mundial da Saúde, as mortes por suicídio aumentaram 60% nas últimas cinco décadas. Quase um milhão de pessoas tira a própria vida todos os anos e cerca de outros vinte milhões tentam ou pensam em suicidar-se. Para cada suicídio, cerca de seis a dez outras pessoas são diretamente afetadas. Na maioria dos países desenvolvidos, o suicídio é a primeira causa de morte não natural. Desde 2015, as autoridades iniciaram o movimento “Setembro Amarelo”, estimulado pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP), que consiste em iluminar ou sinalizar locais públicos com faixas ou símbolos amarelos a fim de alertar e conscientizar do grande mal do suicídio.

II. OS TIPOS DE SUICÍDIOS

Aparentemente, os seres humanos são os únicos animais que cometem o suicídio. A morte exerce sobre o homem, ao mesmo tempo, medo e fascínio. Em 37 das peças de Shakespeare, por 54 vezes algum de seus personagens comete suicídio (DRANE, 2013, p. 61). A prática do suicídio acontece de modo variado. Neste tópico adotaremos os tipos classificados como convencional, pessoal e sacrificial.

1. Suicídio Convencional

Dá-se o nome de “convencional” ao suicídio provocado pela tradição cultural de uma sociedade ou povo, bem como a coerção do grupo social na qual o indivíduo está inserido. Trata-se de uma conduta consolidada pelo uso e pela prática. Na cultura dos esquimós — grupo étnico que vive no gelo e na neve, submetidos a temperaturas de até -45º C —, a doença e a incapacidade física, bem como a velhice avançada, podem levar ao abandono e mesmo à morte. Para os Kutchin, na região do Alasca, a morte dos inválidos era uma questão de sobrevivência para seus descendentes. Era costume as pessoas de idade avançada, ao se sentirem um peso para a sociedade, pedirem para serem mortas ou deixadas para trás para morrer. Um ano após a morte dos velhos e incapacitados, uma cerimônia era celebrada em memória daqueles que se sacrificaram pelo grupo. Esse tipo de comportamento se assemelha à eugenia, em que somente os fortes podem e devem sobreviver.

No Japão, a prática do “hara-kiri” (suicídio ritual) expressava orgulho do suicida em escapar de alguma situação intolerável e era visto como um ato de nobreza e uma forma de heroísmo. Era costume, por exemplo, que o devedor insolvente praticasse o suicídio na véspera do Ano-Novo, como uma maneira de limpar o seu nome e o de sua família. Tal costume justificou o aparecimento dos “pilotos suicidas” durante a Segunda Guerra Mundial (LARAIA, 2015, p. 15). Em época recente, em maio de 2007, o ministro da Agricultura do Japão, ao ser investigado por corrupção, sentiu-se extremamente envergonhado e cometeu o suicídio por enforcamento. Em 2014, a taxa média de suicídios no Japão era de 70 pessoas por dia. Especialistas costumam citar essa antiga tradição de “suicídio em nome da honra” para explicar que razões culturais tornam os japoneses mais propensos à morte autoinfligida.

2. Suicídio Pessoal

Praticado por iniciativa individual sem a influência de tradição cultural. As motivações para esse tipo de suicídio são variadas e muitas vezes não é possível apontar causas aparentes. Nesse caso, o suicídio é considerado uma fuga radical e permanente dos problemas da vida, tais como, dificuldades financeiras, desilusões amorosas, sentimentos de culpa, depressão, neuroses, desequilíbrios mentais e espirituais, e outros. O único e último desejo do suicida é supostamente aliviar o sofrimento por meio da morte. Tais pessoas comportam-se de maneira egocêntrica e costumam pensar apenas em si mesmas. Não se importam com o sofrimento que vão causar aos outros tirando a própria vida. Imaginam que seus sofrimentos são insuperáveis. Nessas circunstâncias de individualização exacerbada, a tristeza e a melancolia afloram os sentimentos suicidas que, desprovidos de fé e esperança, em um ato de desespero levam o homem atentar contra a própria vida.

3. Suicídio Sacrificial

Também conhecido como “morte em prol dos outros”. Trata-se da tentativa altruísta de alguém salvar a vida alheia em detrimento de sua própria vida. Para o sociólogo Émile Durkheim, o suicídio altruísta é praticado por indivíduos que se veem sem importância e oprimidos pela sociedade ou por indivíduos que veem o mundo social sem importância e sacrificam a si próprios por um grande ideal. Nesse ponto, divergimos do célebre sociólogo, pois reconhecemos que pessoas podem sacrificar suas vidas não por desacreditarem de si mesmas ou por desprezarem a sociedade, mas por pura abnegação e como meio de salvar a vida de outro ser humano que está em iminente perigo.

Nesse caso enquadra-se o bombeiro, que entra no fogo ciente de que corre risco de vida, e que por vezes acaba morrendo como resultado de sua ação. Também aquele habilitado ou voluntário que se afoga ao entrar na água para tentar salvar a vida do outro. Ainda o profissional civil e militar ou voluntário que perde a vida combatendo o crime. Igualmente fazem parte dessa lista os voluntários e os profissionais que atuam no socorro às vítimas de acidentes e emergências, que muitas vezes sucumbem no exercício de suas atividades.
Nessas circunstâncias, a morte de quem arrisca a vida em favor do próximo é considerado um ato de amor. Não se trata de suicídio deliberado, convencional, pessoal ou egoísta, mas sim de uma ação caracterizada pelo desprendimento da própria vida em favor do outro. Foi Cristo Jesus quem nos ensinou: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo 15.13). O próprio Senhor entregou a sua vida por nós. Não foi suicídio, foi um sacrifício de amor (Jo 10.15).

III. O POSICIONAMENTO CRISTÃO PARA O SUICÍDIO

A posição teológica e ética do cristão é totalmente desfavorável à prática do suicídio. Atentar contra a vida, a sua ou a de outro, é atentar contra a soberania de Deus, o autor da vida. Cremos e ensinamos que o poder absoluto sobre a vida e a morte pertence a Deus. Por violar os propósitos divinos, repudiamos qualquer ideologia que propague o direito do homem em exterminar a própria vida.

1. O posicionamento teológico

O cristão se posiciona contra o suicídio fundamentado no sexto mandamento do Decálogo: “Não matarás” (Êx 20.13). O mandamento que proíbe o homem de assassinar o outro também o proíbe de assassinar a si mesmo. A vida humana é uma dádiva divina e, portanto, pertence a Deus (Sl 100.3). O Criador é quem determina o início e o término da vida, e não a criatura (Ec 3.2). É Deus quem estabelece quando e como a vida deve cessar, seja por doença, velhice, seja por acidente. Por conseguinte, o fim da vida está sob o controle e a sabedoria divina.

A salvação e o suicida

Uma pergunta comum indaga o destino final daquele que pratica o suicídio. Para responder a essa questão, é preciso ficar claro que o suicídio é pecado contra Deus, a vida, a dignidade, a pessoa e a sociedade. As Escrituras advertem que a violação do mandamento “não matarás” resulta em condenação ao infrator (1 Co 3.16,17; 1 Jo 3.15b; Ap 21.8).

Mercê da revelação inequívoca das Escrituras, cometer homicídio contra outro ou contra si mesmo é pecado contra Deus, e atentar contra o corpo que é templo do Espírito Santo implica a condenação de quem comete tais atos. Aqueles que tentam inocentar o cristão que tira a própria vida argumentam que Sansão, ao cometer suicídio, não perdeu a salvação, pois seu nome integra a galeria dos Heróis da Fé (Hb 11.32). Tal argumento, como já vimos, é um logro e pode ser desconstruído pelo fato de Sansão ter realizado um ato heroico de fé, para vingar-se dos inimigos de Israel, mesmo admitindo o risco de morrer com eles. Portanto, usar o exemplo de Sansão para justificar o suicida é apenas uma falsa conjectura.

Outro argumento falacioso apresentado por alguns no intuito de amenizar o pecado do suicídio consiste em afirmar que a salvação é concedida ao suicida cristão sem a necessidade de arrependimento de tal pecado. Aliás, essa posição é um desvirtuamento do ensino das Escrituras Sagradas. Contradizendo essa audaciosa falácia, as Escrituras revelam que o arrependimento precede a salvação (Lc 24.46,47; 2 Co 7.10a; 1 Jo 1.9,10).

Deus não requer de nós um estado de perfeição plena. Se assim fosse, a salvação não seria por graça, e sim por obras. Por outro lado, aquele que é nascido do Espírito é nova criatura e não vive mais na prática do pecado, mas sim no processo de santificação sem a qual ninguém verá a Deus (Hb12.14). Por conseguinte, é preciso entender que a prática do suicídio não é um pecado involuntário ou inconsciente inerente de nossa fraqueza carnal. Tirar a própria vida é um pecado deliberado, consciente, pensado, premeditado, planejado e executado em detalhes. Ao fazer uso do livre-arbítrio, o suicida intencionalmente decide atentar contra a própria vida na ilusão de acabar com o sofrimento e assim afronta a soberania divina. Estão inclusos aqui também aqueles que, segundo Paulo, serão julgados por sua consciência (Rm 2.15,16).

A Bíblia afirma que o Espírito Santo é quem convence o homem do pecado, e da justiça e do juízo (Jo 16.8). Quem comete o suicídio não está convencido desse pecado; Ele resiste à ação do Espírito Santo e decide dar cabo da própria vida. Entendemos o desespero da vida de quem chega a esse ponto e reconhecemos que tal pessoa precisa de ajuda e de compaixão, e não de incentivo para suicidar-se. Quem vive tal dilema, precisa de apoio e de libertação. E nós sabemos pelas Escrituras que o homem não pode libertar-se por si próprio e que tanto a salvação como o livre-arbítrio nos foram propiciados por Deus. Portanto, quem comete o pecado do suicídio necessita que seu livre-arbítrio seja conduzido pelo Espírito de Deus ao arrependimento e assim ser alcançado pela graça salvadora. Lamentamos, porém, que alguns religiosos no afã de defenderem um dogma de sua denominação religiosa insistem em apresentar argumentos falaciosos, garantindo a salvação de quem comete suicídio, e assim, de maneira insensata e inconsequente, consciente ou inconsciente, fazem apologia à prática do suicídio.

Em contrapartida, cremos que no caso do suicida ser convencido pelo Espírito de Deus acerca de seu pecado, e nos últimos instantes de sua vida, tal qual o malfeitor da cruz, por meio da fé arrepender-se de seu ato será salvo por meio da graça, o favor imerecido concedido por Deus a pecadores arrependidos. E, esclareço, o arrependimento não é obra humana; é obra do Espírito, que convence o homem do pecado e o capacita ao arrependimento. Por conseguinte, somente Deus é quem conhece a situação espiritual no último momento da partida de cada um de nós. Por isso, o cristão não deve buscar e nem amenizar a prática do suicídio.

2. O Posicionamento Ético

O aumento do suicídio é resultado da ideologia que enaltece a criatura em lugar do Criador e propõe a morte como única saída para o sofrimento humano. O existencialismo, o secularismo e o relativismo tão comuns na cultura pós-moderna insistirão que é direito do homem exercer autonomia sobre o próprio corpo, a liberdade de fazer o que quiser, inclusive suicidar-se. Essa filosofia é antiga. Os estoicos, por exemplo, glorificavam o suicídio como a suprema independência do homem. Os atuais adeptos de tais ideologias defendem que qualquer opinião contrária ao suicido é ameaça e violação contra a liberdade humana. Quando o homem evoca autonomia sobre o próprio corpo e a própria vida, desprezando e afrontando a soberania divina, graves e funestas consequências ocorrem. A vida só tem sentido quando está sob o controle irrestrito de seu Criador (Is 41.13). O início da vida e também o quando e o modo do término da vida são prerrogativas exclusivamente divinas.

Justificativas éticas

A posição da ética cristã é contrária à prática e à apologia ao suicídio pelos seguintes e principais motivos:

a) o suicídio implica banalizar a vida e afrontar a soberania divina, constituindo-se em último ato da falta de fé e de esperança na vida de alguém;

b) o suicida viola o mandamento de amar a si mesmo e ao próximo, constituindo-se em descaso com a dádiva da vida e desamor para com o outro;

c) o suicídio é um ato egoísta de quem pensa em aliviar seu sofrimento sem se importar com os outros, constituindo-se em individualismo extremado;

d) suicidar-se denota inversão dos valores da vida e falta de confiança em Deus, constituindo-se em conduta que relativiza as verdades bíblicas;

e) o suicido é um gesto de ingratidão que interrompe o ciclo e a missão da vida outorgada por Deus, constituindo-se em um ato de desagravo ao favor divino.

A ética da prevenção

A ética da prevenção tem por objetivo ser uma referência para a prática de conduta pessoal e profissional de todos os colaboradores que visam impedir o suicídio e auxiliar pessoas com tendências suicidas. Em 2006, a Organização Mundial da Saúde, alarmada com os índices de suicídio no mundo, lançou um Manual de “Prevenção do Suicídio”. O Manual afirma que “os comportamentos suicidas são mais comuns em certas circunstâncias devido a fatores culturais, genéticos, psicossociais e ambientais” (Prevenção do Suicídio, 2006, p. 3, 4), e ainda apresenta dicas que podem reduzir o risco de suicídio, tais como, o apoio da família e de amigos, crenças religiosas, culturais e étnicas; envolvimento na comunidade; vida social satisfatória e o cuidado com a saúde mental, dentre outros.

Como cristãos, não podemos ignorar que também somos seres humanos, e, portanto, não estamos imunes aos sofrimentos psíquicos e angústias da alma. Precisamos cuidar uns dos outros por meio do apoio mútuo, do diálogo franco, e não por meio de acusações ou atitudes discriminatórias. Ao percebermos os sintomas aqui já listados, não podemos tomar atitudes triunfalistas ou de negação dos fatos. Os sentimentos suicidas são atos de desespero e profundo sofrimento. Por isso, é indispensável agir. Dar atenção, estar disponível, conversar, aconselhar e interceder. Estimular a fé e a esperança, cobrir de afeto e de carinho, sentir empatia e ser compreensivo. Em caso de nenhuma dessas prevenções surtir efeito, deve-se buscar ajuda qualificada. Não é nenhum demérito o cristão receber tratamento profissional adequado.
Lançando a ansiedade sobre Cristo
“A Bíblia manda lançar todas as ansiedades sobre o Senhor e não na morte (1Jo 1.7; 1Pe 5.7). A Palavra de Deus nos incentiva a exercitar a fé, colocando sobre Deus os nossos cuidados, ansiedades e sofrimentos. Diz a Palavra: ‘Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si...’ (Is 53.4a — ênfase minha). Cristo levou nossas dores sobre si. Isso nos dá o conforto e a segurança de que, pela fé, nossas dores foram Lançadas sobre Ele”. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo, CPAD, p.145.

Fonte:
Livro de Apoio – Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Douglas Baptista
Lições Bíblicas 2º Trim.2018 - Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Comentarista: Douglas Baptista


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