“E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus” Rm 4.20
Para explicar a doutrina da Justificação pela
Fé, o apóstolo Paulo usa dois tipos de linguagem na carta: a do judiciário e a
do sistema de sacrifício levítico. Como o apóstolo pretende convencer o seu
público leitor, os judeus, bem como os gentios, de que mais do que observar o
sistema de Lei como requisito para a salvação, Deus havia manifestado a sua
graça justificadora lá no tempo da Antiga Aliança por intermédio do pai da fé,
Abraão, o apóstolo afirma com todas as letras: “Portanto, é pela fé, para que
seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade,
não somente à que é da lei, mas também à que é da fé de Abraão, o qual é pai de
todos nós. [...] Pelo que isso lhe foi também imputado como justiça” (Rm
4.16,22). Dessa forma, o apóstolo argumentava ao judeu de que, mesmo o gentio
não tendo a Lei, a condição do gentio em relação a Deus em nada é inferior ao
do judeu. Em Jesus, pela fé mediante a Graça de Deus, o gentio é filho de
Abraão por intermédio da fé, que é pai tanto do judeu quanto do gentio achado
por Deus (Rm 4.9-13).
A linguagem judiciária da Justificação
Ser justificado por Deus é ser inocentado por
Ele mesmo da condição de culpado pelos atos. Ou seja, o indivíduo não tem
quaisquer condições de se auto-declarar inocente ou de aliviar a sua
consciência, pois sabe que nada poderá apagar a sua culpa. Por isso, Deus, em
Cristo, na cruz do Calvário, nos reconciliou para sempre (2Co 5.19). De modo
que o apóstolo Paulo ratifica esse milagre: “Porque pela graça sois salvos, por
meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8).
A linguagem sacrifical da Justificação
Trocar o culpado pelo inocente. O sangue de
Jesus Cristo foi derramado no lugar do sangue da humanidade. Foi a substituição
vicária de Cristo Jesus por nós. Éramos culpados, mas Cristo se tornou culpado
por nós; éramos malditos, Cristo se tornou maldito por nós; éramos dignos de
morte, Cristo morreu em nosso lugar e por nós (Rm 3.25).
A linguagem judiciária e sacrifical da
justificação nos mostra um Deus amoroso e misericordioso, que não faz acepção
de pessoas e que deixa clara a real condição do ser humano, seja ele judeu ou
gentio: somos todos carentes da graça e da misericórdia do Pai.
Caro professor, esse trecho bíblico [3.1 —
4.25] é importante para o desenvolvimento do argumento do apóstolo em sua
epístola. Estude-o com rigor. (Revista Ensinador Cristão nº66)
A justificação dos pecados diante de Deus ocorre somente pela fé.
A lição de hoje trata a respeito de
uma das doutrinas mais importantes apresentadas por Paulo na Epístola de
Romanos — a justificação pela fé. Ressalte, no decorrer de toda a lição, que
ninguém pode ser justificado diante de Deus pela Lei ou pelas obras da carne. O
caminho da justificação é somente pela fé na obra expiatória de Jesus Cristo.
Paulo mostra que Cristo é o único caminho para que judeus e gentios sejam
absolvidos da penalidade do pecado. O apóstolo, de maneira sábia, utiliza o
exemplo do patriarca Abraão para desfazer a ideia errada que os judeus tinham
de que a aceitação de Deus era obtida mediante as obras da Lei.
Glória a Deus, pois na Nova Aliança,
tudo que recebemos da parte do Senhor, inclusive a salvação, é decorrente única
e exclusivamente da graça de Deus.
"[do heb. tsadik; do gr. diakaios;
do lat. justificationem].
Ato de declarar justo. Processo judicial que se
dá junto ao Tribunal de Deus, através do qual o pecador que aceita a Cristo é
declarado justo (Rm 5.1). Ou seja: passa a ser visto por Deus como se
jamais tivera pecado em toda a sua vida (Rm 5.1).
A justificação é mais que um mero perdão. O
criminoso perdoado, ou anistiado, continuará criminoso. Mas se Deus o
justificar, torna-se ele justo (Rm 8.1). A justificação é obtida única e
exclusivamente pela fé em Cristo Jesus."
Para conhecer mais leia Dicionário
Teológico, CPAD, p.198.
Paulo nos mostra como Deus manifestou a sua justificação para alcançar os gentios e judeus.
Romanos 3.21-26
Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a
justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas, isto é, a justiça de
Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não
há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo
Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para
demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a
paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para
que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.
Declarado Inocente!
"Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a
justiça de Deus, tendo o testemunho da Dei e dos Profetas” (3.21). Essa
seção que começa em Romanos 3.21 e se estende até 4.25 apresenta o remédio do
diagnóstico que Paulo tinha dado anteriormente para a questão do pecado em
Romanos 1.18—3.20. Vimos que Paulo primeiramente apresentou o mundo pagão
totalmente mergulhado nas trevas do pecado. Por outro lado, a situação dos seus
compatriotas judeus não era diferente. Eles também estavam debaixo do domínio
do mesmo pecado. É, pois, nessa seção que o apóstolo apresentará a solução de
Deus para a rebelião do homem —- a justiça de Deus imputada a todos por Cristo
Jesus.
À parte da lei, isto é, sem o concurso da lei, a justiça de Deus se manifestou para resolver o dilema humano. Essa justiça divina, que se manifestaria em Cristo Jesus, já era testemunhada pela própria lei e pelos profetas (v. 21). Primeiramente, a imagem que Paulo tem em mente aqui é de um tribunal. Alguém que se encontra como réu diante de um juiz e de quem espera o veredicto condenatório. Todavia, em vez de receber uma condenação, ele recebe a absolvição.
O expositor bíblico William Barclay mostra o pano de fundo da doutrina da justificação nessa passagem. Nesse exemplo de Paulo, imagina-se o homem diante do tribunal de Deus. Barclay destaca com muita propriedade que a palavra grega traduzida como “justificar” vem da mesma raiz de dikaiúne que todos os verbos gregos que terminam em ún têm o sentido de considerar alguém como algo e não o de fazer algo a alguém. Dessa forma, se alguém que é inocente se apresenta diante de um juiz, o juiz, evidentemente, o declarará inocente. Todavia, o caso mostrado por Paulo aqui é diferente. A pessoa que se apresenta diante de Deus é totalmente culpada, merecendo a punição do seu erro, porém, o justo Juiz, em uma demonstração de sua graça infinita, considera-o como se fosse inocente. Isso é o que se entende do significado da palavra “justificação” no contexto paulino. Quando Paulo diz “Deus justifica o ímpio”, significa, dentro do contexto da justificação, que Deus trata o ímpio como alguém bom. É evidente que tal raciocínio deixou os judeus totalmente escandalizados. Na mente dos judeus, apenas um juiz iníquo agiria dessa forma, pois justificar o ímpio é uma abominação para Deus (Pv 17.15); “não justificarei o ímpio” (Ex 23.7). Todavia, a argumentação de Paulo mostra que é exatamente isso o que Deus fez.
Na mente de Paulo, observa Barclay, se alguém desejasse saber como Deus é, então deveria olhar para Jesus, pois Ele revelou Deus aos homens. O verbo encarnado de Deus veio mostrar o grande amor de Deus pelos homens, mesmo estes estando mortos em seus delitos e pecados (Ef 2.1,2). Barclay destaca que “quando descobrimos isso e cremos, nossa relação com Deus muda radicalmente. Estamos conscientes do nosso pecado, mas não estamos aterrorizados ou distantes. Quebrantados e arrependidos, recorremos a Deus como uma criança triste se chega a sua mãe e sabemos que o Deus a quem chegamos é amor. Isso é o que significa justificação pela fé em Jesus Cristo. Isso significa que estamos em relacionamento correto com Deus porque acreditamos sinceramente que o que Jesus nos disse de Deus é a verdade. Já não somos estranhos que têm medo de um Deus irado. Somos filhos, crianças errantes que confiam no amor do Pai que os perdoará. E não podíamos nunca chegar a esse relacionamento com Deus, se Jesus não tivesse vindo para viver e morrer para nos dizer como maravilhosamente Deus nos ama”.
À parte da lei, isto é, sem o concurso da lei, a justiça de Deus se manifestou para resolver o dilema humano. Essa justiça divina, que se manifestaria em Cristo Jesus, já era testemunhada pela própria lei e pelos profetas (v. 21). Primeiramente, a imagem que Paulo tem em mente aqui é de um tribunal. Alguém que se encontra como réu diante de um juiz e de quem espera o veredicto condenatório. Todavia, em vez de receber uma condenação, ele recebe a absolvição.
O expositor bíblico William Barclay mostra o pano de fundo da doutrina da justificação nessa passagem. Nesse exemplo de Paulo, imagina-se o homem diante do tribunal de Deus. Barclay destaca com muita propriedade que a palavra grega traduzida como “justificar” vem da mesma raiz de dikaiúne que todos os verbos gregos que terminam em ún têm o sentido de considerar alguém como algo e não o de fazer algo a alguém. Dessa forma, se alguém que é inocente se apresenta diante de um juiz, o juiz, evidentemente, o declarará inocente. Todavia, o caso mostrado por Paulo aqui é diferente. A pessoa que se apresenta diante de Deus é totalmente culpada, merecendo a punição do seu erro, porém, o justo Juiz, em uma demonstração de sua graça infinita, considera-o como se fosse inocente. Isso é o que se entende do significado da palavra “justificação” no contexto paulino. Quando Paulo diz “Deus justifica o ímpio”, significa, dentro do contexto da justificação, que Deus trata o ímpio como alguém bom. É evidente que tal raciocínio deixou os judeus totalmente escandalizados. Na mente dos judeus, apenas um juiz iníquo agiria dessa forma, pois justificar o ímpio é uma abominação para Deus (Pv 17.15); “não justificarei o ímpio” (Ex 23.7). Todavia, a argumentação de Paulo mostra que é exatamente isso o que Deus fez.
Na mente de Paulo, observa Barclay, se alguém desejasse saber como Deus é, então deveria olhar para Jesus, pois Ele revelou Deus aos homens. O verbo encarnado de Deus veio mostrar o grande amor de Deus pelos homens, mesmo estes estando mortos em seus delitos e pecados (Ef 2.1,2). Barclay destaca que “quando descobrimos isso e cremos, nossa relação com Deus muda radicalmente. Estamos conscientes do nosso pecado, mas não estamos aterrorizados ou distantes. Quebrantados e arrependidos, recorremos a Deus como uma criança triste se chega a sua mãe e sabemos que o Deus a quem chegamos é amor. Isso é o que significa justificação pela fé em Jesus Cristo. Isso significa que estamos em relacionamento correto com Deus porque acreditamos sinceramente que o que Jesus nos disse de Deus é a verdade. Já não somos estranhos que têm medo de um Deus irado. Somos filhos, crianças errantes que confiam no amor do Pai que os perdoará. E não podíamos nunca chegar a esse relacionamento com Deus, se Jesus não tivesse vindo para viver e morrer para nos dizer como maravilhosamente Deus nos ama”.
Escravo Alforriado
“...pela redenção que há em Cristo Jesus”
(3.24 b).
A palavra traduzida como “redenção” vem do grego apolutrósis. De acordo com o léxico grego de Gerhard Kittel, essa palavra tem o sentido de resgate ou pagamento de um regaste, passando a ser um termo muito importante no Novo Testamento. A história seguinte ajuda-nos a entender o seu real sentido.
No tempo da escravidão, nos Estados Unidos, numa movimentada rua de certa cidade, uma multidão de pessoas concorreu para uma feira de escravos. Amarrados de pés e mãos, aguardavam compradores.
A palavra traduzida como “redenção” vem do grego apolutrósis. De acordo com o léxico grego de Gerhard Kittel, essa palavra tem o sentido de resgate ou pagamento de um regaste, passando a ser um termo muito importante no Novo Testamento. A história seguinte ajuda-nos a entender o seu real sentido.
No tempo da escravidão, nos Estados Unidos, numa movimentada rua de certa cidade, uma multidão de pessoas concorreu para uma feira de escravos. Amarrados de pés e mãos, aguardavam compradores.
No meio dos escravos, estava uma moça de
olhar cabisbaixo, triste, pensando na sua condição de escrava. Um cavalheiro passou,
olhou para os escravos e teve profunda compaixão por aquela escrava, que era
tratada como os demais escravos, feito animais. Na hora dos lances, o
cavalheiro ofereceu o dobro. O leiloeiro bateu o martelo, estava livre, podia
gozar de sua liberdade.
Soltaram a escrava e o seu libertador
disse-lhe: “Acompanhe-me”. Com raiva, ela cuspiu na cara do seu benfeitor. Ele
tirou o lenço do bolso, limpou a cusparada. Terminou a parte burocrática. Pegou
os documentos e deu à jovem. Era a carta de alforria. A escrava estava livre.
Com aqueles papéis ninguém conseguiria escravizá-la.
Com os documentos na mão, dizia quase sem
parar: “O senhor me comprou para me libertar?”. Estava livre. Aquele homem
comprou a libertação da jovem escrava. Poderia gozar de sua liberdade. A nossa
escravidão, imposta pelo Diabo, é muito mais grave do que a escravidão daquela
jovem negra. Estávamos nos grilhões do Diabo. Comumente, ele nos levava pelo
caminho do cigarro, das drogas, da prostituição, do furto e do crime. E esses
pecados se refletiam em nossa família, nossos filhos, nosso trabalho. No
cabresto do Diabo, ele nos levava por esses caminhos de sombras, de desilusão,
de amargura, de morte. Matou a esperança em nosso coração. Como aquele
cavalheiro nos Estados Unidos pagou a libertação da jovem, Cristo pagou o preço
da nossa redenção.
O Preço de um Resgate
"... a qual Deus propôs para propiciação
pela fé no seu sangue... ” (3.25).
O vocábulo “propiciação” (gr. hilastérion), comenta Elvis Carballosa, significa sacrifico expiatório. Esse sacrifício expiatório foi a morte de Cristo em lugar do pecador. A frase “no seu sangue” se refere à morte de Cristo. A morte de Cristo foi uma realidade histórica.
O vocábulo “propiciação” (gr. hilastérion), comenta Elvis Carballosa, significa sacrifico expiatório. Esse sacrifício expiatório foi a morte de Cristo em lugar do pecador. A frase “no seu sangue” se refere à morte de Cristo. A morte de Cristo foi uma realidade histórica.
Romanos 3.27-31
Onde está, logo, a jactância? É excluída. Por
qual lei? Das obras? Não! Mas pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é
justificado pela fé, sem as obras da lei. É, porventura, Deus somente dos
judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente. Se Deus é
um só, que justifica, pela fé, a circuncisão e, por meio da fé, a
incircuncisão, anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes,
estabelecemos a lei.
Jesus e o Judaísmo Palestino
“Concluímos, pois, que o homem é justificado
pela fé, sem as obras da lei” (3.28). Nesse ponto, dentro de nosso
comentário textual e exegético desse texto, é preciso fazer referência a um
grande debate que nos últimos anos tem surgido em torno da teologia paulina da
graça. Alguns expositores têm defendido a tese de que Paulo não estaria
combatendo o legalismo judaico, isto é, a salvação pelas obras, mas em vez
disso estaria se posicionando apenas contra o orgulho judaico de pertencer ao
povo da aliança.
Os escritos do norte-americano E. P. Sanders revolucionaram os estudos sobre a teologia paulina quando, em 1977, publicou seu livro Paulo e o Judaísmo Palestino. Sanders parte do princípio de que o judaísmo não era uma religião legalista que pregava a salvação pelas obras. Esse pensamento de Sanders, denominado de A Nova Perspectiva sobre Paulo, é radicalmente oposto àquele da tradição cristã histórica. O livro de Sanders é uma tentativa de provar que a teologia sobre Paulo, que os reformadores defendiam, não era de fato de Paulo, mas de Agostinho, bispo de Hipona. O escritor William S. Campbell destaca que “é perceptível, pela leitura de Sanders, que um debate cristão interno posterior sobre a graça e obras foi projetado no cristianismo inicial, fazendo com que nosso entendimento das origens cristãs, em relação ao judaísmo, se tornasse um tanto distorcido. Em certo sentido, esse é, na verdade, mais um debate sobre a graça dentro do cristianismo. É esclarecedor observar que foram os escritos antipelagianos de Agostinho o material que Lutero considerou mais úteis. Para Lutero, Agostinho é sua autoridade preferida, seu principal aliado na luta contra as tendências pelagianas do escolasticismo. Mas, em decorrência disso, os judeus são vistos por Lutero como representantes de um tipo de pelagianismo e, como tal, inimigos do Evangelho tanto quanto a igreja não reformada”.
Partindo, portanto, desse princípio, E. P. Sanders se opôs a essa visão dos reformadores. Ao contrário do que crê o cristianismo tradicional, disse que o judaísmo é uma religião da aliança em que o status de pertencer ao grupo eleito, e não a obediência legalista da lei, é a principal característica. Para Sanders, os judeus não acreditavam que a obediência aos preceitos legais lhes garantia salvação, mas apenas mantinha seu status dentro do grupo da aliança. Nesse aspecto, em vez de ser a causa da salvação, a obediência era apenas a condição. Essa nova perspectiva, Sanders denominou denomismo da aliança. Em outras palavras, o erro dos judeus era o de se orgulhar de pertencer ao povo eleito de Deus, pertencer a aliança que Deus fez com Israel e não querer agradá-lo por meio das obras.
Outro autor que fez coro com Sanders foi o britânico James D. G. Dunn que também passou a defender a Nova Perspectiva sobre Paulo. Todavia, Dunn fez críticas ao modelo de Sanders para implantar o seu próprio modelo. Dunn afirma que “o Paulo luterano foi substituído por um Paulo idiossincrático que, de maneira arbitrária e irracional, volta-se contra a glória e a grandeza da teologia pactuai do judaísmo e abandona o judaísmo simplesmente por que ele não é cristianismo”. O teólogo presbiteriano Augustus Nicodemus observa que J. D. G. Dunn nessa nova abordagem sociológica sobre Paulo “tem recebido vasta aceitação. Para ele, Paulo ataca as ‘obras da lei’ não porque elas expressam algum desejo de alcançar mérito por parte dos judeus, mas porque entende que elas fazem uma distinção entre os judeus, o povo de Deus da antiga dispensação, e os gentios, a quem o evangelho está sendo oferecido. As ‘obras da lei’, que Paulo identifica como restritas à circuncisão, às leis sobre alimentos puros e impuros (kashrut) e aos dias especiais do calendário judaico, são emblemas que caracterizam o judaísmo e devem ser rejeitadas porque enfatizam a separação entre judeus e não judeus, a qual Cristo veio abolir”.
Duas coisas precisam ser observadas aqui. Primeiro, a leitura de Romanos 3.28 mostra claramente que Paulo não via o problema da rejeição judaica apenas como sendo um orgulho de pertencer ao povo da aliança. Essa Escritura é clara o suficiente para mostrar que a busca pelo mérito por meio das obras constituiu-se o principal obstáculo para um judeu legalista aceitar a justificação somente pela fé. Em segundo lugar, é um fato que não apenas Lutero, mas outros reformadores depois dele, beberam do poço doutrinário de Agostinho, como por exemplo, a crença no pecado original com a consequente doutrina da regeneração batismal, etc. Embora haja similaridade entre o legalismo judaico e a doutrina da salvação pelas obras de Pelágio, não é correto fazer a crença luterana na justificação pela fé depender exclusivamente de Agostinho. Não há como negar que Lutero foi influenciado de forma negativa por Agostinho, todavia, a própria história da Reforma, com seu lema “O justo viverá pela fé” (Rm 1.17), revela a grande influência que a Carta aos Romanos teve na vida e obra do reformador alemão. Não é seguro, portanto, pelo menos neste caso, fazer a convicção teológica do reformador alemão depender somente de Agostinho. Por outro lado, é certo e historicamente provado, como demonstrou Sanders, que Lutero errou ao odiar os judeus ao projetar neles o erro pelagiano.
Os escritos do norte-americano E. P. Sanders revolucionaram os estudos sobre a teologia paulina quando, em 1977, publicou seu livro Paulo e o Judaísmo Palestino. Sanders parte do princípio de que o judaísmo não era uma religião legalista que pregava a salvação pelas obras. Esse pensamento de Sanders, denominado de A Nova Perspectiva sobre Paulo, é radicalmente oposto àquele da tradição cristã histórica. O livro de Sanders é uma tentativa de provar que a teologia sobre Paulo, que os reformadores defendiam, não era de fato de Paulo, mas de Agostinho, bispo de Hipona. O escritor William S. Campbell destaca que “é perceptível, pela leitura de Sanders, que um debate cristão interno posterior sobre a graça e obras foi projetado no cristianismo inicial, fazendo com que nosso entendimento das origens cristãs, em relação ao judaísmo, se tornasse um tanto distorcido. Em certo sentido, esse é, na verdade, mais um debate sobre a graça dentro do cristianismo. É esclarecedor observar que foram os escritos antipelagianos de Agostinho o material que Lutero considerou mais úteis. Para Lutero, Agostinho é sua autoridade preferida, seu principal aliado na luta contra as tendências pelagianas do escolasticismo. Mas, em decorrência disso, os judeus são vistos por Lutero como representantes de um tipo de pelagianismo e, como tal, inimigos do Evangelho tanto quanto a igreja não reformada”.
Partindo, portanto, desse princípio, E. P. Sanders se opôs a essa visão dos reformadores. Ao contrário do que crê o cristianismo tradicional, disse que o judaísmo é uma religião da aliança em que o status de pertencer ao grupo eleito, e não a obediência legalista da lei, é a principal característica. Para Sanders, os judeus não acreditavam que a obediência aos preceitos legais lhes garantia salvação, mas apenas mantinha seu status dentro do grupo da aliança. Nesse aspecto, em vez de ser a causa da salvação, a obediência era apenas a condição. Essa nova perspectiva, Sanders denominou denomismo da aliança. Em outras palavras, o erro dos judeus era o de se orgulhar de pertencer ao povo eleito de Deus, pertencer a aliança que Deus fez com Israel e não querer agradá-lo por meio das obras.
Outro autor que fez coro com Sanders foi o britânico James D. G. Dunn que também passou a defender a Nova Perspectiva sobre Paulo. Todavia, Dunn fez críticas ao modelo de Sanders para implantar o seu próprio modelo. Dunn afirma que “o Paulo luterano foi substituído por um Paulo idiossincrático que, de maneira arbitrária e irracional, volta-se contra a glória e a grandeza da teologia pactuai do judaísmo e abandona o judaísmo simplesmente por que ele não é cristianismo”. O teólogo presbiteriano Augustus Nicodemus observa que J. D. G. Dunn nessa nova abordagem sociológica sobre Paulo “tem recebido vasta aceitação. Para ele, Paulo ataca as ‘obras da lei’ não porque elas expressam algum desejo de alcançar mérito por parte dos judeus, mas porque entende que elas fazem uma distinção entre os judeus, o povo de Deus da antiga dispensação, e os gentios, a quem o evangelho está sendo oferecido. As ‘obras da lei’, que Paulo identifica como restritas à circuncisão, às leis sobre alimentos puros e impuros (kashrut) e aos dias especiais do calendário judaico, são emblemas que caracterizam o judaísmo e devem ser rejeitadas porque enfatizam a separação entre judeus e não judeus, a qual Cristo veio abolir”.
Duas coisas precisam ser observadas aqui. Primeiro, a leitura de Romanos 3.28 mostra claramente que Paulo não via o problema da rejeição judaica apenas como sendo um orgulho de pertencer ao povo da aliança. Essa Escritura é clara o suficiente para mostrar que a busca pelo mérito por meio das obras constituiu-se o principal obstáculo para um judeu legalista aceitar a justificação somente pela fé. Em segundo lugar, é um fato que não apenas Lutero, mas outros reformadores depois dele, beberam do poço doutrinário de Agostinho, como por exemplo, a crença no pecado original com a consequente doutrina da regeneração batismal, etc. Embora haja similaridade entre o legalismo judaico e a doutrina da salvação pelas obras de Pelágio, não é correto fazer a crença luterana na justificação pela fé depender exclusivamente de Agostinho. Não há como negar que Lutero foi influenciado de forma negativa por Agostinho, todavia, a própria história da Reforma, com seu lema “O justo viverá pela fé” (Rm 1.17), revela a grande influência que a Carta aos Romanos teve na vida e obra do reformador alemão. Não é seguro, portanto, pelo menos neste caso, fazer a convicção teológica do reformador alemão depender somente de Agostinho. Por outro lado, é certo e historicamente provado, como demonstrou Sanders, que Lutero errou ao odiar os judeus ao projetar neles o erro pelagiano.
Romanos 4.1-25
Que diremos, pois, ter alcançado Abraão,
nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem
de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu
Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, àquele que faz
qualquer obra, não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a
dívida. Mas, àquele que não pratica, porém crê naquele que justifica o ímpio, a
sua fé lhe é imputada como justiça. Assim também Davi declara bem-aventurado o
homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados
aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado. Vem, pois, esta
bem-aventurança sobre a circuncisão somente ou também sobre a incircuncisão?
Porque dizemos que a fé foi imputada como justiça a Abraão. Como lhe foi, pois,
imputada? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas
na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé,
quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que creem
(estando eles também na incircuncisão, a fim de que também a justiça lhes seja
imputada), e fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da
circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé de Abraão, nosso pai,
que tivera na incircuncisão. Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do
mundo não foi feita pela lei a Abraão ou à sua posteridade, mas pela justiça da
fé. Pois, se os que são da lei são os herdeiros, logo a fé é vã e a promessa é
aniquilada. Porque a lei opera a ira; porque onde não há lei também não há
transgressão. Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que
a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas
também à que é da fé de Abraão, o qual é pai de todos nós, (como está escrito:
Por pai de muitas nações te constituí.), perante aquele no qual creu, a saber,
Deus, o qual vivifica os mortos e chama as coisas que não são como se já
fossem. O qual, em esperança, creu contra a esperança que seria feito pai de
muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E
não enfraqueceu na fé, nem atentou para o seu próprio corpo já amortecido (pois
era já de quase cem anos), nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara.
E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé,
dando glória a Deus; e estando certíssimo de que o que ele tinha prometido
também era poderoso para o fazer. Pelo que isso lhe foi também imputado como
justiça. Ora, não só por causa dele está escrito que lhe fosse tomado em conta,
mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dos
mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor, o qual por nossos pecados foi
entregue e ressuscitou para nossa justificação.
Antes de discorrer a respeito do assunto faça a seguinte indagação:
"O que é antinomismo?"
Ouça os alunos com atenção e explique que "literalmente significa contra a lei. Doutrina que assevera não haver mais necessidade de se pregar nem de se observar as leis morais do Antigo Testamento. Calibrando esta assertiva, alegam os antimonistas que, salvos pela fé em Cristo Jesus, já estamos livres da tutela de Moisés.
"O que é antinomismo?"
Ouça os alunos com atenção e explique que "literalmente significa contra a lei. Doutrina que assevera não haver mais necessidade de se pregar nem de se observar as leis morais do Antigo Testamento. Calibrando esta assertiva, alegam os antimonistas que, salvos pela fé em Cristo Jesus, já estamos livres da tutela de Moisés.
Ignoram porém, serem as ordenanças morais do Antigo Testamento pertencentes ao elenco do direito natural que o Criador incrustara na alma de Adão. Como podemos desprezar os Dez Mandamentos? Todo crente piedoso os observa, pois o Cristo não veio revogá-los; veio cumpri-los e sublimá-los. Além do mais, as legislações modernas estão alicerçadas justamente no Decálogo" (ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 8.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.44).
A Jornada da Fé
A partir dessa seção, Paulo introduz a
história do patriarca Abraão com um exemplo do seu argumento da justificação
pela fé. Paulo argumenta a partir de Gênesis 15; todavia, acredito ser oportuno
aqui vermos alguns aspectos anteriores da jornada desse gigante espiritual.
Voltemo-nos, pois, ao capítulo 13 de Gênesis para traçarmos o percurso dessa jornada.
1. Uma jornada para conviver com altares, e
não com pirâmides.
“Subiu, pois, Abrão do Egito [a terra das pirâmides] [...] E fez as suas jornadas do Sul [Neguebe] até Betei, até ao lugar onde, ao princípio, estivera a sua tenda, entre Betei e Ai; até ao lugar do altar que, dantes, ali tinha feito; e Abrão invocou ali o nome do Senhor” (Gn 13.1-4). Abraão saiu do Egito, onde conviveu com as grandes pirâmides, para voltar à Palestina, terra onde construíra altares. Deus quer o fiel convivendo com altares, e não com pirâmides. (*Abrão esteve no Egito por volta de 2000 a.C. e as pirâmides foram construídas pelo menos 600 anos antes de sua chegada lá.)
2. Uma jornada onde a visão deve ser maior do que a ambição.
“E houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló [...] E disse Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque irmãos somos” (Gn 13.7,8). A ambição, o orgulho e o desejo de ter são agentes causadores da quebra da unidade fraternal, mas a busca da koinonia (original grego significa Comunhão) é o remédio para esse mal. A luta por espaço arranhou o relacionamento entre os pastores de Abraão e Ló. Evidentemente que isso estava tendo consequências entre o tio e o sobrinho. E melhor abrir mão de alguma coisa do que permitir que venha a arranhar a comunhão fraternal.
3. Uma jornada que não pode ser seduzida por uma imitação do Paraíso nem pelas lembranças do Egito.
“E levantou Ló os seus olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, antes de o Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar” (Gn 13.10). Ló se deixou seduzir por uma lembrança do Paraíso, todavia Abraão procurou viver a realidade nua e crua de uma vida de fé. As campinas de Sodoma lembravam o Paraíso, mas não eram o Paraíso. Às vezes, o crente se deixa iludir pelas aparências e em vez de procurar o caminho mais seguro, busca os atalhos.
4. Uma jornada que se aproxima de Canaã e se afasta de Sodoma.
“Habitou Abrão na terra de Canaã, e Ló habitou nas cidades da campina e armou as suas tendas até Sodoma” (Gn 13.12,13). Enquanto Ló se aproximava de Sodoma, do pecado, Abraão se distanciava cada vez mais dele. Impulsionado pelos atrativos, Ló se aproximava cada vez mais dos encantos de Sodoma. Foi uma sedução que, posteriormente, lhe custou muito caro. Por que em vez de se afastar de Sodoma muitos se aproximam cada vez mais?
5. Uma jornada onde a exclusividade determina a intimidade.
“E disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se apartou dele” (Gn 13.14). Às vezes precisamos nos separar de determinadas coisas, até mesmo de pessoas, se queremos ouvir a voz do Senhor. Não dá para conviver com quem gosta de Sodoma.
6. Uma jornada onde Deus mostra o futuro, mas é o homem quem constrói o presente.
“Levanta, agora, os teus olhos e olha desde o lugar onde estás, para a banda do norte, e do sul, e do oriente, e do ocidente; porque toda esta terra que vês te hei de dar a ti e à tua semente, para sempre. [...] Levanta-te, percorre essa terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei. E Abrão armou as suas tendas, e veio, e habitou nos carvalhais de Manre, que estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao Senhor” (Gn 13.14-18). Deus revela o futuro, mas somos nós quem construímos o presente. É preciso haver deslocamento. Começar e recomeçar sempre. Deus faz promessas e as cumpre, mas é preciso ter paciência, encarar as incertezas do presente para chegar às garantias do futuro.
7. Uma jornada onde pessoas são mais importantes do que coisas.
“Também tomaram a Ló, que habitava em Sodoma, filho do irmão de Abrão, e a sua fazenda e foram-se. [...] não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão” (Gn 14.12,23). Abraão era rico, mas não punha nas riquezas a sua confiança. O importante para ele era a comunhão com o seu Deus.
8. Uma jornada onde Abrão aprendeu que era grande, mas não o maior.
“E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e este era sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o e disse: Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E deu-lhe o dízimo de tudo” (Gn 14.18,20; Hb7.1-10). Mesmo sendo um homem grande, Abraão reconheceu que havia alguém ainda maior. Melquisedeque é um tipo de Cristo, e o velho patriarca aprendeu desde sempre a depender da fé nEle.
“Subiu, pois, Abrão do Egito [a terra das pirâmides] [...] E fez as suas jornadas do Sul [Neguebe] até Betei, até ao lugar onde, ao princípio, estivera a sua tenda, entre Betei e Ai; até ao lugar do altar que, dantes, ali tinha feito; e Abrão invocou ali o nome do Senhor” (Gn 13.1-4). Abraão saiu do Egito, onde conviveu com as grandes pirâmides, para voltar à Palestina, terra onde construíra altares. Deus quer o fiel convivendo com altares, e não com pirâmides. (*Abrão esteve no Egito por volta de 2000 a.C. e as pirâmides foram construídas pelo menos 600 anos antes de sua chegada lá.)
2. Uma jornada onde a visão deve ser maior do que a ambição.
“E houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló [...] E disse Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque irmãos somos” (Gn 13.7,8). A ambição, o orgulho e o desejo de ter são agentes causadores da quebra da unidade fraternal, mas a busca da koinonia (original grego significa Comunhão) é o remédio para esse mal. A luta por espaço arranhou o relacionamento entre os pastores de Abraão e Ló. Evidentemente que isso estava tendo consequências entre o tio e o sobrinho. E melhor abrir mão de alguma coisa do que permitir que venha a arranhar a comunhão fraternal.
3. Uma jornada que não pode ser seduzida por uma imitação do Paraíso nem pelas lembranças do Egito.
“E levantou Ló os seus olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, antes de o Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar” (Gn 13.10). Ló se deixou seduzir por uma lembrança do Paraíso, todavia Abraão procurou viver a realidade nua e crua de uma vida de fé. As campinas de Sodoma lembravam o Paraíso, mas não eram o Paraíso. Às vezes, o crente se deixa iludir pelas aparências e em vez de procurar o caminho mais seguro, busca os atalhos.
4. Uma jornada que se aproxima de Canaã e se afasta de Sodoma.
“Habitou Abrão na terra de Canaã, e Ló habitou nas cidades da campina e armou as suas tendas até Sodoma” (Gn 13.12,13). Enquanto Ló se aproximava de Sodoma, do pecado, Abraão se distanciava cada vez mais dele. Impulsionado pelos atrativos, Ló se aproximava cada vez mais dos encantos de Sodoma. Foi uma sedução que, posteriormente, lhe custou muito caro. Por que em vez de se afastar de Sodoma muitos se aproximam cada vez mais?
5. Uma jornada onde a exclusividade determina a intimidade.
“E disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se apartou dele” (Gn 13.14). Às vezes precisamos nos separar de determinadas coisas, até mesmo de pessoas, se queremos ouvir a voz do Senhor. Não dá para conviver com quem gosta de Sodoma.
6. Uma jornada onde Deus mostra o futuro, mas é o homem quem constrói o presente.
“Levanta, agora, os teus olhos e olha desde o lugar onde estás, para a banda do norte, e do sul, e do oriente, e do ocidente; porque toda esta terra que vês te hei de dar a ti e à tua semente, para sempre. [...] Levanta-te, percorre essa terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei. E Abrão armou as suas tendas, e veio, e habitou nos carvalhais de Manre, que estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao Senhor” (Gn 13.14-18). Deus revela o futuro, mas somos nós quem construímos o presente. É preciso haver deslocamento. Começar e recomeçar sempre. Deus faz promessas e as cumpre, mas é preciso ter paciência, encarar as incertezas do presente para chegar às garantias do futuro.
7. Uma jornada onde pessoas são mais importantes do que coisas.
“Também tomaram a Ló, que habitava em Sodoma, filho do irmão de Abrão, e a sua fazenda e foram-se. [...] não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão” (Gn 14.12,23). Abraão era rico, mas não punha nas riquezas a sua confiança. O importante para ele era a comunhão com o seu Deus.
8. Uma jornada onde Abrão aprendeu que era grande, mas não o maior.
“E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e este era sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o e disse: Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E deu-lhe o dízimo de tudo” (Gn 14.18,20; Hb7.1-10). Mesmo sendo um homem grande, Abraão reconheceu que havia alguém ainda maior. Melquisedeque é um tipo de Cristo, e o velho patriarca aprendeu desde sempre a depender da fé nEle.
Pois bem, voltemos ao texto.
O texto de Romanos 4.1-25, como vimos, trata
com exclusividade da vida do velho patriarca Abraão. A exegese feita por Paulo
nessa passagem mostra, a partir do livro de Gênesis, que a justificação de
Abraão não se deu em decorrência das obras, mas da fé. Nesse aspecto há uma
similaridade entre a fé de Abraão e a fé do cristão. Lucien Cerfaux sintetizou
bem essa analogia usada por Paulo. Dentro dessa passagem de Romanos é possível
perceber com clareza Paulo fazendo a ligação entre a justiça de Abraão, Cristo
e a justiça do cristão.
“Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4.3). Paulo toma como ponto de partida de seu argumento Gênesis 15.6, onde Deus fez a promessa a Abrão de lhe dar uma posteridade numerosa. O judaísmo acreditava que Abraão havia sido justificado em consequência do rito da circuncisão, o que Paulo vai negar. Paulo observa que Deus justificou o patriarca em consequência da sua fé, que aconteceu muito antes da prática da circuncisão. Dessa forma, como mostra Romanos 4.4, Abraão não poderia ter sido justificado pelas obras, mas pela fé. A sua justificação foi uma dádiva, e não uma dívida.
O expositor Lucien Cerfaux destaca que “Paulo exalta a fé de Abraão, emoldurando-a de maneira mais determinada com a fé dos cristãos, cujo objeto principal é a ressurreição de Cristo. Abraão crera em Deus ‘que dá vida aos mortos e, chamando-as, faz existir as coisas que não existiam’ (Rm 4.17). Paulo explica seu modo de pensar: ‘E sem vacilar na fé, não considerou nem o seu corpo, já sem vitalidade, por ser quase centenário, nem a falta de vigor do seio de Sara; nem hesitou por falta de fé, perante a promessa de Deus, antes hauriu força na sua fé, dando gloria a Deus’ (Rm 4.19). Notem-se as expressões ‘morte’ (o corpo de Abraão, o seio de Sara estão mortos) e ‘dar vida’. E a antítese morte-ressurreição. A fé de Abraão constitui o primeiro esboço da fé cristã; pela maneira com a qual a formula, suspeita-se que Paulo a encara como um ‘tipo’ de fé na morte e ressurreição de Cristo”.
“Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado” (Rm 4.8). Seguindo um dos princípios hermenêuticos (Gezerah Sahawah) da escola rabínica de Hillel, faz um paralelo entre Salmos 32.1 e Gênesis 16.6. O propósito do apóstolo é interpretar Gênesis 15 a partir do Salmo 32. “O fato de Abraão ter sido considerado justo, de ter-lhe sido atribuída justiça diante de Deus (Gn 15.6), significa que Deus não contou, atribuiu seus pecados contra ele (SI 32.1,2), com referência ao perdão divino dos pecados de adultério e homicídio cometidos por Davi [cf. 2 Sm 11]. Tudo isso significa que Abraão foi justificado diante de Deus, pela fé e não por obras. De fato, Abraão era um pecador cuja única esperança era a graça de Deus recebida pela fé”.
Na argumentação de Paulo, ficam, portanto, os fatos:
1. Quando Abraão foi justificado, era ainda incircunciso.
Isso significa que Abraão seria o pai de todos os que haviam de crer sem estar circuncidados (incircuncisos), e assim fosse creditada a justiça também a eles.
2. A circuncisão foi dada após, como “sinal” (segundo Gn 17.10ss), isto é, como sinal da justiça da fé que ele havia recebido sendo ainda incircunciso.
Isso significa que Abraão seria o pai de todos circuncisos, isto é, daqueles que não se limitam à circuncisão, mas que, além disso, seguem na esteira da fé que, ainda incircunciso, possuía nosso pai Abraão (Rm 4.11)
“Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4.3). Paulo toma como ponto de partida de seu argumento Gênesis 15.6, onde Deus fez a promessa a Abrão de lhe dar uma posteridade numerosa. O judaísmo acreditava que Abraão havia sido justificado em consequência do rito da circuncisão, o que Paulo vai negar. Paulo observa que Deus justificou o patriarca em consequência da sua fé, que aconteceu muito antes da prática da circuncisão. Dessa forma, como mostra Romanos 4.4, Abraão não poderia ter sido justificado pelas obras, mas pela fé. A sua justificação foi uma dádiva, e não uma dívida.
O expositor Lucien Cerfaux destaca que “Paulo exalta a fé de Abraão, emoldurando-a de maneira mais determinada com a fé dos cristãos, cujo objeto principal é a ressurreição de Cristo. Abraão crera em Deus ‘que dá vida aos mortos e, chamando-as, faz existir as coisas que não existiam’ (Rm 4.17). Paulo explica seu modo de pensar: ‘E sem vacilar na fé, não considerou nem o seu corpo, já sem vitalidade, por ser quase centenário, nem a falta de vigor do seio de Sara; nem hesitou por falta de fé, perante a promessa de Deus, antes hauriu força na sua fé, dando gloria a Deus’ (Rm 4.19). Notem-se as expressões ‘morte’ (o corpo de Abraão, o seio de Sara estão mortos) e ‘dar vida’. E a antítese morte-ressurreição. A fé de Abraão constitui o primeiro esboço da fé cristã; pela maneira com a qual a formula, suspeita-se que Paulo a encara como um ‘tipo’ de fé na morte e ressurreição de Cristo”.
“Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado” (Rm 4.8). Seguindo um dos princípios hermenêuticos (Gezerah Sahawah) da escola rabínica de Hillel, faz um paralelo entre Salmos 32.1 e Gênesis 16.6. O propósito do apóstolo é interpretar Gênesis 15 a partir do Salmo 32. “O fato de Abraão ter sido considerado justo, de ter-lhe sido atribuída justiça diante de Deus (Gn 15.6), significa que Deus não contou, atribuiu seus pecados contra ele (SI 32.1,2), com referência ao perdão divino dos pecados de adultério e homicídio cometidos por Davi [cf. 2 Sm 11]. Tudo isso significa que Abraão foi justificado diante de Deus, pela fé e não por obras. De fato, Abraão era um pecador cuja única esperança era a graça de Deus recebida pela fé”.
Na argumentação de Paulo, ficam, portanto, os fatos:
1. Quando Abraão foi justificado, era ainda incircunciso.
Isso significa que Abraão seria o pai de todos os que haviam de crer sem estar circuncidados (incircuncisos), e assim fosse creditada a justiça também a eles.
2. A circuncisão foi dada após, como “sinal” (segundo Gn 17.10ss), isto é, como sinal da justiça da fé que ele havia recebido sendo ainda incircunciso.
Isso significa que Abraão seria o pai de todos circuncisos, isto é, daqueles que não se limitam à circuncisão, mas que, além disso, seguem na esteira da fé que, ainda incircunciso, possuía nosso pai Abraão (Rm 4.11)
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
1- "A Doutrina da Justificação
A estudarmos a Doutrina do Pecado descobrimos que ninguém pode ser justificado pela justiça humana. Entretanto, é na doutrina da justificação, no texto de 3.1 a 5.21, que o pecador encontra o caminho da justificação, através da obra expiatória de Cristo. No primeiro estado, o pecador está perdido e sem possibilidade alguma de se justificar diante de Deus. No segundo estado, o pecador encontra Cristo que o justifica.
É a partir do capítulo 3.21 que o pecador, judeu ou gentio, encontra um novo caminho através dos méritos de Cristo Jesus. É aqui que ele pode ser perdoado e declarado livre da pena do seu pecado, perante Deus.
Justificação significa absolvição da culpa, cuja pena foi satisfeita. Significa ser declarado livre de toda culpa tendo cumprido todos os requisitos da lei.
Justificação é um termo forense que denota um ato judicial da administração da lei. Esse ato judicial legaliza a situação do transgressor perante a lei e o torna justo, isto é, livre de toda a condenação. Cristo assumiu a pena do pecador e foi sentenciado no lugar do pecador. Ele sofreu a pena contra o pecador. Cumprida a pena, o veredicto final da justiça divina é a justificação do pecador. Entende-se então que ser justificado não significa que a justiça tenha sido adiada, ou que ela não tenha sido cumprida"
(CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.52).
2- "Paulo diz que, se Abraão, o pai dos judeus segundo a carne, tivesse sido julgado por obras ou justiça própria, teria que gloriar-se diante de Deus. Porém o que aprendemos é que Abraão foi como qualquer outro homem, pecador e sem justiça nenhuma. Ele foi declarado justo por meio da fé (Rm 4.3). Os judeus vangloriavam-se em Abraão e criam que isto lhes garantiria a justificação, apenas por serem 'filhos de Abraão segundo a carne". Os versículos 4 e 5, apresentam dois modos de justificação: por méritos e por graça.
A justificação por méritos se baseia nas obras do homem para obter a sua salvação. A justificação por graça baseia-se sobre o princípio da fé. Deus justifica o pecador pela fé. Ele imputa justiça ao que crê, isto é pela graça de Deus"
A justificação por méritos se baseia nas obras do homem para obter a sua salvação. A justificação por graça baseia-se sobre o princípio da fé. Deus justifica o pecador pela fé. Ele imputa justiça ao que crê, isto é pela graça de Deus"
(CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.59).
CONCLUSÃO
Chegamos ao final de uma importante lição sobre a doutrina da justificação pela fé. Nesta lição aprendemos que Paulo recorreu a experiência do patriarca Abraão para argumentar contra a crença judaica que associava a aceitação das obras como garantia de justificação diante de Deus. Para Paulo isso não poderia ser verdade já que o velho patriarca não possuía mérito algum quando recebeu as promessas de Deus. As bênçãos recebidas por ele, assim como as da Nova Aliança, decorrem exclusivamente da graça de Deus em resposta a fé.
CONCLUSÃO
Chegamos ao final de uma importante lição sobre a doutrina da justificação pela fé. Nesta lição aprendemos que Paulo recorreu a experiência do patriarca Abraão para argumentar contra a crença judaica que associava a aceitação das obras como garantia de justificação diante de Deus. Para Paulo isso não poderia ser verdade já que o velho patriarca não possuía mérito algum quando recebeu as promessas de Deus. As bênçãos recebidas por ele, assim como as da Nova Aliança, decorrem exclusivamente da graça de Deus em resposta a fé.
Fonte:
Lições Bíblicas - Maravilhosa Graça - O Evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos - 2º.trim_2016 CPAD - Comentarista Jose Gonçalves
Livro de Apoio - Maravilhosa Graça - O Evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos - José Gonçalves
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Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia de Estudo Defesa da Fé
Dicionário Bíblico Wycliffe
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