O Antigo Testamento é o primeiro documento da Bíblia Sagrada que conta a história de salvação do Deus Trino. Ali, o Altíssimo se deu a conhecer ao ser humano. Primeiro a Adão, depois a Abel, mais tarde a Sete. E bem verdade que em Adão, antes da Queda, a relação de Deus com o nosso primeiro pai era intensa, diária, como a de um pai com o filho que se veem, conversam e se relacionam em amor e carinho.
Após a Queda, portanto, essa relação foi dificultada. A Palavra de Deus diz que “as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). O pecado transtornou uma relação amorosa e desembocou numa tragédia. A seção dos capítulos 1 a 11 de Gênesis dá conta dessa tragédia humana, isto é, a rebelião dos seres humanos contra Deus: multiplicação da violência humana; intensificação da promiscuidade; o gênero humano se corrompendo em todos os aspectos da vida. Enfim, mais tarde Deus trouxe o seu juízo com o Dilúvio (Gn 6).
Deus se deu a conhecer
Os 11 primeiros capítulos de Gênesis relatam a tentativa da parte de Deus em se revelar ao homem e trazê-lo à consciência das coisas, à verdade dos fatos. Após a Queda, o ápice dessa auto-revelação divina se deu com Abraão, onde foi estabelecida a Aliança de Deus, que efetivou essa auto-revelação divina para o homem (Gn 12-50). É a partir de Abraão que começa de fato a história da salvação de Deus por intermédio do seu povo, Israel. Por isso, faz todo o sentido dizer que Deus foi o primeiro evangelista, pois a primeira iniciativa de se revelar ao homem foi exclusivamente dEle. Ele quem se deu a conhecer. Após o Dilúvio e a geração de Noé, Abraão foi a primeira pessoa que entendeu e aceitou o propósito de Deus para efetivar a sua Aliança em toda a Terra.
Uma história evangélica
Logo, a história do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), dos Escritos (Josué a Cantares) e dos Profetas (Isaías a Malaquias), que formam o cânon do Antigo Testamento, é a extensão dessa Aliança de Deus com Abraão — essa é uma das razões pelas quais o Antigo Testamento é indissociável do Novo. Nesse sentido, além de Abraão e Moisés, a história de Israel, sua poesia e seus escritos proféticos são comprometidamente evangélicos. O povo de Israel foi forjado por Deus para dar testemunho da grandeza e da beleza do seu Reino a fim de convencer as nações daquele tempo de que havia um único Deus, o criador dos céus e da terra: o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. (Revista Ensinador Cristão nº67.pg.37)
Deus, que deu início ao trabalho de evangelização, exige de cada um de nós uma atitude evangelística responsável e amorosa.
Sendo Deus o primeiro evangelista da História Sagrada, toda a sua palavra é amorosamente evangelizadora. E por isso que a Bíblia, ao contrário de outros livros tidos como sagrados, é lida e relida, sem jamais deixar de ser apaixonante. Embora concluída há mais de dois mil anos, ela é repleta de manchetes que, todas as manhãs, surpreendem-nos por sua graça, misericórdia e alvíssaras.
Do Gênesis ao Apocalipse, temos uma proclamação evangelística que, tendo início na criação, vai até a consumação de todas as coisas, inaugurando o Novo Céu e a Nova Terra.
Deus se compraz em comunicar o evangelho. Quer pessoalmente, quer por intermédio de seus arautos, Ele conclama-nos à salvação. Até mesmo em seus juízos, entrevemos o inexplicável amor, que o constrangeu a entregar o Unigênito a morrer em nosso lugar. Que ninguém o acuse de injustiça, pois a sua natureza leva-o a proclamar a todos, em todo o tempo e lugar, as Boas-Novas de seu Reino. O Pai anseia por incluir-nos em seus domínios eternos.
Neste capítulo, refletiremos acerca da ação evangelística pessoal do próprio Deus. Surpresos, constataremos que Ele evangeliza até mesmo quando está em silêncio.
I - As Primeiras Notas Evangélicas de Deus
Se lermos atentamente a Bíblia Sagrada, constataremos que, quando o universo ainda não existia, o Plano da Salvação já estava esboçado no espírito de Deus.
O Cordeiro Morto na eternidade. Em Apocalipse, o Espírito Santo revela a João que o Senhor Jesus, para redimir-nos, não morreu apenas no tempo. Na presciência divina, o Cordeiro de Deus já estava morto antes mesmo dos eventos registrados em Gênesis (Ap 13.8). Nossa redenção, por esse motivo, transcende o tempo e os eventos da criação; é eterna (Hb 9.12). Portanto, quando ainda não havia pecado, ou pecadores, o amoroso Deus já tinha estabelecido as bases da nossa salvação.
A morte do Cordeiro, na presciência de Deus, foi a primeira nota evangélica da História Sagrada. Se Cristo morreu na eternidade, na eternidade também fomos eleitos (1 Pe 1.2). Eis porque, conforme veremos mais adiante, quando Adão pecou, Ele não se mostrou surpreso. Na sentença sobre o pecado, anuncia a redenção do pecador (Gn 3.15). Antecipadamente, prega o evangelho do Unigênito à humanidade, representada, ali, no primeiro ser humano. Antes mesmo que houvesse tempo, proclamou a salvação eterna. Era como se Deus, num tabernáculo vazio, chamasse os pecadores, que ainda não existiam, ao arrependimento. Parece loucura? A pregação do evangelho tem peculiaridades que só o amor divino é capaz de operar (1 Co 1.2 1).
Deus evangeliza trabalhando. Na criação dos céus e da terra, quando Deus montava o cenário para o drama de nossa redenção, seus anjos, antegozando o triunfo do Calvário, louvam-no exaltadamente (Jó 3 8.7). Eles sabiam que o nosso planeta não seria mais uma esfera entre outras esferas, mas o círculo que, na plenitude do tempo, haveria de se fechar com a morte de Cristo. Por isso, os santos anjos ensaiavam, naquele instante da obra divina, para celebrar o nascimento do Filho de Deus em Belém (Lc 2.13.14).
A proclamação do evangelho evoca cânticos de júbilos. Ao descrever o regozijo dos exércitos celestes na conversão de um pecador, declarou Jesus:
Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. (Lc 15.7-10).
Deus evangeliza proclamando. Deus evangeliza tanto trabalhando quanto proclamando. Ninguém melhor do que Ele sabe usar as palavras, pois a nossa linguagem nEle nasceu e nEle se desenvolve. Ele cria o mudo e o eloquente (Ex 4.11). Por intermédio de seu Espírito Santo, inspirou o Livro dos livros (2 Tm 3.16). E, pela boca de seus servos, narra as histórias mais belas, declama as poesias mais sublimes, anuncia as promessas mais escondidas e consola-nos, diariamente, com o cajado do Bom Pastor.
A Bíblia não se limita a conter a Palavra de Deus. Ela é a Palavra de Deus que evangeliza e redime o pecador, guiando-o às regiões mais celestes (Ef 2.6). Todas as vezes que a Sagrada Escritura é lida, ouve-se o próprio Deus evangelizando. Por isso, quem rejeita o Filho, rejeita o Pai.
Conheça mais...
*Abraão
"Abraão iniciou sua vida em Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia. Dali, Tera, seu pai, mudou-se com a família para Harã. Tanto Ur como Harã eram centros de adoração da lua. O nome de seu pai, Tera, provavelmente significava 'Ter é (o divino) irmão'. Acredita-se que 'Ter' seja uma variação dialética para o deus lua e era especialmente popular no distrito de Harã como foi confirmado pelos registros assírios. Mas Abraão foi convocado pela voz de Deus a deixar o seu cenário pagão, para ir a uma terra divinamente prometida à sua semente. Após sua chegada à Palestina, Abraão passou muitos dias principalmente nas proximidades de três centros no sul, Betel, Hebrom (Manre) e Berseba". Para conhecer mais, leia Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, p. 11.
II - O Proto-Evangelho de Deus
Na queda de Adão, temos a mentira que aprisiona, a verdade que liberta e a promessa da semente que, lançada no Eden, germinaria no Calvário, trazendo a salvação a todos os homens.
A mentira que aprisiona. O discurso com que Satanás enredou a queda de Adão era lógico e filosofante. Nem mesmo Aristóteles seria capaz de armar silogismos como aqueles. O Inimigo mentiu, fazendo-se amigo; distorceu a verdade, levando-a a parecer mentira. Desevangelizando Adão e Eva, induziu toda a humanidade à rebelião contra Deus. E, assim, aprisionou nossos pais.
A queda de nossos primeiros genitores chocou os seres angelicais. Até ali, homens e anjos formavam uma mesma grei, apesar de estarem separados por uma barreira dimensional. Mas, agora, com o pecado, éramos tão inimigos de Deus quanto Satanás. O Senhor dos céus e da terra, contudo, não tardaria a proclamar o proto-evangelho que, no Calvário, desfaria a inimizade que separa a criatura do Criador.
A verdade que liberta. O que parecia a desgraça da raça humana acabaria por revelar a maravilhosa graça do Pai Celeste. Ao ver a queda de seu filho, Adão, tão precocemente pródigo, mas também tão precocemente arrependido e choroso, Deus não o deixou prostrado. Antes, providenciou-lhe um inesperado acolhimento, que só os pais são capazes de proporcionar aos filhos mais ingratos e rebeldes. Ainda no Jardim do Éden, o Senhor recebe-os com amor e misericórdia. Substituindo os andrajos de figueira, dá-lhes a pele de um animal vicário como roupa. Não bastasse tanto cuidado e afeição, juntamente com o juízo, anuncia-lhes o proto-evangelho. Deus em nada diferia do pai daquele pródigo descrito por Jesus.
O proto-evangelho. No Éden, Deus age como o Juiz da raça humana. Mas, como a sua misericórdia sempre triunfa no juízo, não tarda em predizer a redenção da espécie adâmica. O Juiz faz-se Evangelista, e proclama, ali mesmo, Q proto-evangelho: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).
O juízo sobre a raça tem, como exórdio, uma nota lindamente evangélica. Antes mesmo de o Juiz sentenciar-nos os pais, evangeliza- os. Eles, de fato, seriam duramente punidos. Se, por um lado, eram expulsos do Eden terrestre, por outro, haveriam dc ser introduzidos, por meio da semente da mulher, no Paraíso celeste. A partir de um evangelho tão sucinto e tão econômico nas palavras, a redenção da humanidade começa a ganhar feições. Com menos de trinta vocábulos, o Senhor, eloquentemente, anuncia a chegada de Jesus Cristo, nosso amado Salvador.
III. O Evangelho de Cristo a Abraão
De Adão, o primeiro homem, a Abraão, o primeiro patriarca dos hebreus, temos um interregno de aproximadamente dois mil anos. Nesse período, o Reino de Deus parecia engolido pelo império de Satanás. Todavia, o Evangelista Eterno estava apenas preparando o caminho de seu Filho que, decorridos mais dois milênios, haveria de nascer em Belém de Judá.
Abraão, o gentio. Ao ser chamado por Deus a peregrinar numa terra desconhecida e mui distante, Abraão não passava de um gentio como eu e você. Era um caldeu entre os caldeus. O idioma que falava não era o hebraico, mas a língua aramaica que, nascida em Damasco, estendia-se até as fronteiras com a India. Mas aprouve a Deus evangelizá-lo, separando-o dentre as gentes, para, por meio dele, levar o mundo a uma surpreendente realidade espiritual.
De tal forma converte-se Abraão ao Deus Único e Verdadeiro que, ante o seu chamamento, deixa uma cidade segura e confortável para andejar um chão ermo e cheio de sobressaltos. Suas experiências com o Senhor são profundas; faz-se amigo de Deus (Is 41.8).
Não demora para que o seu nome seja mudado, indicando uma nova dimensão em sua vida espiritual. Dantes, era Abrão: grande pai. Mas, agora, é Abraão, que em hebraico significa pai de uma multidão não somente étnica, mas destacadamente espiritual (Gn 17.5). Logo, o patriarca hebreu torna-se o nosso pai na fé (Tg 2.21). O cristianismo e o judaísmo são religiões abraãmicas. Semelhante designação é reivindicada também pelo islamismo. Todavia, ao ler o Corão, não pude encontrar, em nenhuma de suas suratas, algo que me levasse a identificar a fé islâmica com a crença do patriarca hebreu.
O evangelho de Deus a Abraão. Em sua belíssima teologia da justificação pela fé, Paulo, depois de condenar energicamente o falso evangelho anunciado nas regiões da Galácia, escreve: É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão. (GI 3.6-9).
Aos israelitas, que ainda não haviam recebido o Cristo de Deus, a chamada de Abraão era mais étnica do que espiritual. O apóstolo, porém, iluminado pelo Espírito Santo, viu, atrás daquela narrativa, uma das mais profundas teologias do Novo Testamento. Em Gênesis, escondia a essência do Evangelho: Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12.1-3).
Se nos detivermos a analisar a vocação do patriarca hebreu, encontraremos a mais bela síntese da mensagem cristã. Em primeiro lugar, Deus individualiza a chamada de Abraão, a fim de universalizar a convocação de todas as nações a crer em Jesus Cristo.
a) Uma chamada que transcende a nacionalidade. Deus, em primeiro lugar, intima Abraão a deixar a sua nacionalidade: “Sai-te da tua terra”. A fé no Deus Único e Verdadeiro não pode circunscrever-se a uma nacionalidade. Seu caráter reivindica seja ela proclamada a todos, em todo o tempo e lugar, por todos os meios. Por esse motivo, não sou favorável a uma igreja oficial, como a anglicana, pois sempre estará a serviço do Estado. A Igreja, por ser Igreja, não pode ser trancada na burocracia estatal, pois a sua natureza leva-a a forçar todas as portas, inclusive as do inferno.
Israel jamais poderia ter restringido a sua fé a um território, a uma cidade, a um santuário e a um objeto sagrado. Infelizmente, foi o que aconteceu. Embora fundassem uma terra santa, não foram suficientemente zelosos para santificar os povos além de suas fronteiras.
Ao elegerem Jerusalém como a cidade santa por excelência, não saíram, a partir dela, a proclamar a Palavra de Deus até aos confins da terra como fez o profeta Jonas. Quanto ao Santo Templo, achavam que Deus estava restrito àquela casa e que, de lá, jamais sairia. E, para completar o seu exclusivismo religioso, fizeram da arca sagrada um totem. Supunham que, tendo-a por perto, nenhum mal viria a alcançá-los. O Senhor mostrou-lhes, porém, que aquele objeto tão belo e tão cobiçado viria a perder-se um dia (Jr 3.16).
Enfim, os israelitas, ao contrário de Abraão, não conseguiram transcender a própria nacionalidade na divulgação da verdadeira fé. Logo, o Deus de Israel é também o Deus de todos os povos, porque sua é a terra e a sua plenitude. Até mesmo os apóstolos demoraram a entender o alcance universal do evangelho de Cristo. Fez-se necessária a convocação de um concílio, para que, iluminados pelo Espírito Santo, autorizassem Paulo e Barnabé a prosseguirem o seu ministério junto aos gentios.
b) Uma chamada que transcende a etnia. Deus ordenou também a Abraão que deixasse a sua parentela, pois o chamava a ser o pai de todos os que creem. Então, como haveria ele de confinar-se à etnia hebreia, se o mais ilustre de seus descendentes haveria de morrer por todos os povos? Os israelitas, porém, ignorando a natureza de sua chamada universal, isolam-se nacionalmente.
A fim de arrancar os apóstolos a esse exclusivismo, o Senhor concede a Pedro a visão global do evangelho. No lençol descido do céu, o galileu contempla toda sorte de animais imundos e repulsivos. Em seguida, ouve do próprio Jesus: “Não faças tu comum ao que Deus purificou” (At 10.15).
A partir daquele momento, a Igreja de Cristo, ainda majoritariamente judaica, internacionaliza-se até alcançar os povos mais inalcançáveis. A grandeza de Israel, portanto, não está em sua nacionalidade, nem em sua etnia; reside em sua herança espiritual.
c) Uma chamada que transcende a família. Abraão foi chamado ainda a deixar a casa de seu pai, pois a família que dele sairia não se fundaria em laços de sangue, mas numa aliança espiritual. E claro que, aos olhos de Deus, a família é muito importante. Precedendo o Estado e até mesmo a Igreja, ela é a base tanto daquele quanto desta. Mas, pela fé em Jesus Cristo, filho de Abraão, surge um povo mais forte que a própria família.
Certa vez, perguntou o Senhor Jesus: “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?”. Ato contínuo, destacando seus discípulos, responde: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos; porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe” (Mt 12.49,50).
A família, para Abraão, teria um fundamento mais forte que o sanguíneo. A fé no Deus Único e Verdadeiro seria capaz de unir, num mesmo corpo, em Jesus Cristo, todos os povos da Terra. Todos os que o aceitam, portanto, são chamados para fora de sua nacionalidade, etnia e família, a fim de formar um só organismo espiritual. Assim é descrita a Igreja de Cristo pelo apóstolo Paulo: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3.26-28).
d) Uma terra que transcende os olhos. No evangelho que Deus pregou a Abraão, havia uma terra estratégica, larga e espaçosa. Disse-lhe o Senhor: “para a terra que eu te mostrarei”. Portanto, Abraão é chamado para fora de sua nacionalidade, de sua etnia e de sua família, com o objetivo de possuir uma terra que ele ainda não via. Assim, movido por uma fé justificadora, começa o patriarca a ver o invisível. Naquele exato momento, deixando para trás o sedentarismo confortável, faz-se nômade. E, de oásis em oásis, peregrina até chegar a uma terra que, profeticamente, já era sua, mas, historicamente, ainda estava em poder de gentios aguerridos, profanos e inimigos de Deus.
Por que Canaã, e não Ur dos caldeus? Por que a terra do amorreu e do jebuseu, e não Padã-Arã? Ambas as cidades eram mais importantes que o território cananeu. Todavia, não eram estrategicamente localizadas para a difusão do conhecimento divino a toda a Terra. Somente Israel serviria como a localização exata para o Senhor Jesus iniciar a expansão do Reino de Deus. Os evangelistas, partindo de Jerusalém, alcançariam toda a Judeia, a região de Samaria e, finalmente, os confins do globo.
A igreja católica, sob o comando de Urbano II, reuniu-se em cruzada, para retomar a Jerusalém. Mas a Igreja Primitiva, impulsionada pelo Espírito Santo, partiu de Jerusalém para conquistar o mundo para Cristo. Temos aí o verdadeiro significado de Urb et Orbi. Ou seja: à cidade e ao mundo com um só alvo: proclamar a Palavra de Deus.
Quanto àquela terra, não há dúvida. Pertence a Israel.
e) Uma nação paradoxal. Na promessa que o Senhor lavra ao seu amigo, há uma nota paradoxal: “E far-te-ei uma grande nação”. Se Abraão fosse o pai da China, ou dos Estados Unidos, não haveria, aí, contradição alguma. De seus lombos, porém, saiu uma das menores nações do mundo. Por mais que se multiplique, a demografia de Israel jamais chegará ao nível da chinesa ou da americana. Não obstante, não há povo tão influente, espiritual e moralmente, do que o hebreu.
Nenhuma outra escritura é tão lida quanto a Bíblia. Nenhum profeta é citado como Moisés. Quanto a Jesus Cristo, nosso Senhor, nenhum ser humano é tão evocado quanto Ele.
Verdadeiro Homem e Deus Verdadeiro, o Nazareno reúne, em tomo de seu nome, povos de todas as nacionalidades que, vinculados pela fé, tratam-se como irmãos. Essa é a grandeza de Israel.
f) Abraão, fonte de bênçãos e maldições. No evangelho que Deus pregou a Abraão, há dois mandamentos específicos. Se o primeiro representou dificuldades geográficas e logísticas, o segundo representará um grande desafio espiritual e teológico. Na segunda ordenança, diz-lhe o Senhor: “e tu serás uma bênção”. Se na versão corrigida de Almeida o mandamento parece profecia, já na tradução atualizada, a promessa soa como um mandamento bastante claro: “Sê tu uma bênção” (Gn 12.2).
Abraão teria de ser uma bênção à sua família e a todas as nações da Terra. Ele abençoou-nos com os profetas, com as Escrituras Sagradas e com o Cristo. Jamais poderemos retribuir-lhe as bênçãos que, de seus descendentes, recebemos. Por isso, cabe-nos abençoá-lo. Hoje, abençoamos Israel não somente mantendo vínculos amistosos com o Estado judeu, mas curvando-nos ao evangelho que nos veio por intermédio da família hebreia.
Conclusão
Do proto-evangelho, no Éden, ao evangelho de Cristo, no Calvário, todas as nações foram abençoadas no patriarca Abraão. O interessante é que, em ambos os eventos, Deus fez-se presente para atestar o seu amor pela humanidade caída. Ele criou o mundo em seis dias. No sétimo, veio a descansar de seu trabalho. Todavia, quando da queda de nossos pais, o Senhor recomeçou o seu labor não apenas preservando a sua criação, mas também evangelizando seus filhos rebeldes e apostatas.
Jesus afirmou, certa vez, que o Pai trabalha até agora. Por essa razão, o Filho continuava o seu labor. Mas qual o trabalho do Pai? Não é criar, porque tudo quanto havia de ser criado, já o foi. Todavia, a evangelização sempre haverá de ser um trabalho incompleto, por mais que nos esforcemos.
Neste momento, Deus não mais anuncia pessoalmente o evangelho, como fez no Eden e ao patriarca Abraão. Entretanto, não cessa de abrir portas, abençoar missões e missionários. Por intermédio de mim e de você, Ele estende as fronteiras de seu Reino. Paulo dizia-se imitador de Deus, porque se sentia na obrigação de proclamar-lhe a Palavra a tempo e fora de tempo.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Deus refere-se três vezes a Israel como 'minhas testemunhas' (Is 43.10,12; 44.8). A verdadeira questão é: uma testemunha de quem? O Senhor declara explicitamente: 'O povo que formei para mim proclamará meus louvores' (43.21). Proclamar seus louvores para quem? O versículo 9 nos dá a orientação: 'Que todas as nações se unam ao mesmo tempo, que se reúnam os povos'. Esse é o público de Israel. Essa é a sua missão!
Esse conceito de serviço não é enfraquecido pelo fato de que quatro canções servis dedicadas a esse 'Servo ideal' de Deus que é o próprio Cristo. O serviço de Israel é estabelecido claramente. Israel tem uma missão a cumprir, um serviço a ser feito. As palavras de Paulo ecoam o verdadeiro chamado de Israel no Antigo Testamento: 'Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes' (Rm 1.14). O fato de Israel não ter reconhecido essa posição de serviço e não ter servido à humanidade não elimina o ideal do Antigo Testamento para com a nação, e o chamado da mesma.
Se mantivermos na mente essa dupla posição e relação de Israel, grande parte das Escrituras ganhará uma nova perspectiva e significado mais profundo. Israel nunca deixa de ser o povo de Deus, a nação do Senhor, embora, devido ao fracasso, ela seja temporariamente como serva de Deus. Ela permanece desqualificada até que o genuíno arrependimento a restaure novamente. Tal restauração é prometida pela graça de Deus e exigida pela justiça e fidelidade de Deus" (PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 20000, pp. 137,138).
Fonte:
Lições Bíblicas - O Desafio da Evangelização - 3º.trim_2016 CPAD - Comentarista Claudionor de Andrade
Livro de Apoio - O Desafio da Evangelização - Obedecendo ao Ide do Senhor Jesus de levar as Boas-Novas a toda a criatura - Comentarista Claudionor de Andrade
Revista Ensinador Cristão-nº67
Teologia Bíblica de Missões - George W. Peters - 1.ed.CPAD
Prática do Evangelismo Pessoal - Antonio Gilberto - 1.ed.CPAD
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia de Estudo Defesa da Fé
Dicionário Bíblico Wycliffe
Sempre aprendo muito com esses conteúdos. Que Deus continue a abençoar a todos nós, no entendimento de sua palavra.
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