O Antigo Testamento é o primeiro documento da Bíblia Sagrada que conta a história de salvação do Deus Trino. Ali, o Altíssimo se deu a conhecer ao ser humano. Primeiro a Adão, depois a Abel, mais tarde a Sete. E bem verdade que em Adão, antes da Queda, a relação de Deus com o nosso primeiro pai era intensa, diária, como a de um pai com o filho que se veem, conversam e se relacionam em amor e carinho.
Após a Queda, portanto, essa relação foi dificultada. A Palavra de Deus diz que “as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). O pecado transtornou uma relação amorosa e desembocou numa tragédia. A seção dos capítulos 1 a 11 de Gênesis dá conta dessa tragédia humana, isto é, a rebelião dos seres humanos contra Deus: multiplicação da violência humana; intensificação da promiscuidade; o gênero humano se corrompendo em todos os aspectos da vida. Enfim, mais tarde Deus trouxe o seu juízo com o Dilúvio (Gn 6).
Deus se deu a conhecer
Os 11 primeiros capítulos de Gênesis relatam a tentativa da parte de Deus em se revelar ao homem e trazê-lo à consciência das coisas, à verdade dos fatos. Após a Queda, o ápice dessa auto-revelação divina se deu com Abraão, onde foi estabelecida a Aliança de Deus, que efetivou essa auto-revelação divina para o homem (Gn 12-50). É a partir de Abraão que começa de fato a história da salvação de Deus por intermédio do seu povo, Israel. Por isso, faz todo o sentido dizer que Deus foi o primeiro evangelista, pois a primeira iniciativa de se revelar ao homem foi exclusivamente dEle. Ele quem se deu a conhecer. Após o Dilúvio e a geração de Noé, Abraão foi a primeira pessoa que entendeu e aceitou o propósito de Deus para efetivar a sua Aliança em toda a Terra.
Uma história evangélica
Logo, a história do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), dos Escritos (Josué a Cantares) e dos Profetas (Isaías a Malaquias), que formam o cânon do Antigo Testamento, é a extensão dessa Aliança de Deus com Abraão — essa é uma das razões pelas quais o Antigo Testamento é indissociável do Novo. Nesse sentido, além de Abraão e Moisés, a história de Israel, sua poesia e seus escritos proféticos são comprometidamente evangélicos. O povo de Israel foi forjado por Deus para dar testemunho da grandeza e da beleza do seu Reino a fim de convencer as nações daquele tempo de que havia um único Deus, o criador dos céus e da terra: o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. (Revista Ensinador Cristão nº67.pg.37)
Deus, que deu início ao trabalho de evangelização, exige de cada um de nós uma atitude evangelística responsável e amorosa.
Sendo Deus o primeiro evangelista da História Sagrada, toda a sua palavra é amorosamente evangelizadora. E por isso que a Bíblia, ao contrário de outros livros tidos como sagrados, é lida e relida, sem jamais deixar de ser apaixonante. Embora concluída há mais de dois mil anos, ela é repleta de manchetes que, todas as manhãs, surpreendem-nos por sua graça, misericórdia e alvíssaras.
Do Gênesis ao Apocalipse, temos uma proclamação evangelística que, tendo início na criação, vai até a consumação de todas as coisas, inaugurando o Novo Céu e a Nova Terra.
Deus se compraz em comunicar o evangelho. Quer pessoalmente, quer por intermédio de seus arautos, Ele conclama-nos à salvação. Até mesmo em seus juízos, entrevemos o inexplicável amor, que o constrangeu a entregar o Unigênito a morrer em nosso lugar. Que ninguém o acuse de injustiça, pois a sua natureza leva-o a proclamar a todos, em todo o tempo e lugar, as Boas-Novas de seu Reino. O Pai anseia por incluir-nos em seus domínios eternos.
Neste capítulo, refletiremos acerca da ação evangelística pessoal do próprio Deus. Surpresos, constataremos que Ele evangeliza até mesmo quando está em silêncio.
I - As Primeiras Notas Evangélicas de Deus
Se lermos atentamente a Bíblia Sagrada, constataremos que, quando o universo ainda não existia, o Plano da Salvação já estava esboçado no espírito de Deus.
O Cordeiro Morto na eternidade. Em Apocalipse, o Espírito Santo revela a João que o Senhor Jesus, para redimir-nos, não morreu apenas no tempo. Na presciência divina, o Cordeiro de Deus já estava morto antes mesmo dos eventos registrados em Gênesis (Ap 13.8). Nossa redenção, por esse motivo, transcende o tempo e os eventos da criação; é eterna (Hb 9.12). Portanto, quando ainda não havia pecado, ou pecadores, o amoroso Deus já tinha estabelecido as bases da nossa salvação.

Deus evangeliza trabalhando. Na criação dos céus e da terra, quando Deus montava o cenário para o drama de nossa redenção, seus anjos, antegozando o triunfo do Calvário, louvam-no exaltadamente (Jó 3 8.7). Eles sabiam que o nosso planeta não seria mais uma esfera entre outras esferas, mas o círculo que, na plenitude do tempo, haveria de se fechar com a morte de Cristo. Por isso, os santos anjos ensaiavam, naquele instante da obra divina, para celebrar o nascimento do Filho de Deus em Belém (Lc 2.13.14).
A proclamação do evangelho evoca cânticos de júbilos. Ao descrever o regozijo dos exércitos celestes na conversão de um pecador, declarou Jesus:
Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. (Lc 15.7-10).
Deus evangeliza proclamando. Deus evangeliza tanto trabalhando quanto proclamando. Ninguém melhor do que Ele sabe usar as palavras, pois a nossa linguagem nEle nasceu e nEle se desenvolve. Ele cria o mudo e o eloquente (Ex 4.11). Por intermédio de seu Espírito Santo, inspirou o Livro dos livros (2 Tm 3.16). E, pela boca de seus servos, narra as histórias mais belas, declama as poesias mais sublimes, anuncia as promessas mais escondidas e consola-nos, diariamente, com o cajado do Bom Pastor.
A Bíblia não se limita a conter a Palavra de Deus. Ela é a Palavra de Deus que evangeliza e redime o pecador, guiando-o às regiões mais celestes (Ef 2.6). Todas as vezes que a Sagrada Escritura é lida, ouve-se o próprio Deus evangelizando. Por isso, quem rejeita o Filho, rejeita o Pai.

*Abraão
"Abraão iniciou sua vida em Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia. Dali, Tera, seu pai, mudou-se com a família para Harã. Tanto Ur como Harã eram centros de adoração da lua. O nome de seu pai, Tera, provavelmente significava 'Ter é (o divino) irmão'. Acredita-se que 'Ter' seja uma variação dialética para o deus lua e era especialmente popular no distrito de Harã como foi confirmado pelos registros assírios. Mas Abraão foi convocado pela voz de Deus a deixar o seu cenário pagão, para ir a uma terra divinamente prometida à sua semente. Após sua chegada à Palestina, Abraão passou muitos dias principalmente nas proximidades de três centros no sul, Betel, Hebrom (Manre) e Berseba". Para conhecer mais, leia Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, p. 11.
II - O Proto-Evangelho de Deus
Na queda de Adão, temos a mentira que aprisiona, a verdade que liberta e a promessa da semente que, lançada no Eden, germinaria no Calvário, trazendo a salvação a todos os homens.
A mentira que aprisiona. O discurso com que Satanás enredou a queda de Adão era lógico e filosofante. Nem mesmo Aristóteles seria capaz de armar silogismos como aqueles. O Inimigo mentiu, fazendo-se amigo; distorceu a verdade, levando-a a parecer mentira. Desevangelizando Adão e Eva, induziu toda a humanidade à rebelião contra Deus. E, assim, aprisionou nossos pais.
A queda de nossos primeiros genitores chocou os seres angelicais. Até ali, homens e anjos formavam uma mesma grei, apesar de estarem separados por uma barreira dimensional. Mas, agora, com o pecado, éramos tão inimigos de Deus quanto Satanás. O Senhor dos céus e da terra, contudo, não tardaria a proclamar o proto-evangelho que, no Calvário, desfaria a inimizade que separa a criatura do Criador.
A verdade que liberta. O que parecia a desgraça da raça humana acabaria por revelar a maravilhosa graça do Pai Celeste. Ao ver a queda de seu filho, Adão, tão precocemente pródigo, mas também tão precocemente arrependido e choroso, Deus não o deixou prostrado. Antes, providenciou-lhe um inesperado acolhimento, que só os pais são capazes de proporcionar aos filhos mais ingratos e rebeldes. Ainda no Jardim do Éden, o Senhor recebe-os com amor e misericórdia. Substituindo os andrajos de figueira, dá-lhes a pele de um animal vicário como roupa. Não bastasse tanto cuidado e afeição, juntamente com o juízo, anuncia-lhes o proto-evangelho. Deus em nada diferia do pai daquele pródigo descrito por Jesus.
O proto-evangelho. No Éden, Deus age como o Juiz da raça humana. Mas, como a sua misericórdia sempre triunfa no juízo, não tarda em predizer a redenção da espécie adâmica. O Juiz faz-se Evangelista, e proclama, ali mesmo, Q proto-evangelho: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).
O juízo sobre a raça tem, como exórdio, uma nota lindamente evangélica. Antes mesmo de o Juiz sentenciar-nos os pais, evangeliza- os. Eles, de fato, seriam duramente punidos. Se, por um lado, eram expulsos do Eden terrestre, por outro, haveriam dc ser introduzidos, por meio da semente da mulher, no Paraíso celeste. A partir de um evangelho tão sucinto e tão econômico nas palavras, a redenção da humanidade começa a ganhar feições. Com menos de trinta vocábulos, o Senhor, eloquentemente, anuncia a chegada de Jesus Cristo, nosso amado Salvador.

De Adão, o primeiro homem, a Abraão, o primeiro patriarca dos hebreus, temos um interregno de aproximadamente dois mil anos. Nesse período, o Reino de Deus parecia engolido pelo império de Satanás. Todavia, o Evangelista Eterno estava apenas preparando o caminho de seu Filho que, decorridos mais dois milênios, haveria de nascer em Belém de Judá.
Abraão, o gentio. Ao ser chamado por Deus a peregrinar numa terra desconhecida e mui distante, Abraão não passava de um gentio como eu e você. Era um caldeu entre os caldeus. O idioma que falava não era o hebraico, mas a língua aramaica que, nascida em Damasco, estendia-se até as fronteiras com a India. Mas aprouve a Deus evangelizá-lo, separando-o dentre as gentes, para, por meio dele, levar o mundo a uma surpreendente realidade espiritual.
De tal forma converte-se Abraão ao Deus Único e Verdadeiro que, ante o seu chamamento, deixa uma cidade segura e confortável para andejar um chão ermo e cheio de sobressaltos. Suas experiências com o Senhor são profundas; faz-se amigo de Deus (Is 41.8).
Não demora para que o seu nome seja mudado, indicando uma nova dimensão em sua vida espiritual. Dantes, era Abrão: grande pai. Mas, agora, é Abraão, que em hebraico significa pai de uma multidão não somente étnica, mas destacadamente espiritual (Gn 17.5). Logo, o patriarca hebreu torna-se o nosso pai na fé (Tg 2.21). O cristianismo e o judaísmo são religiões abraãmicas. Semelhante designação é reivindicada também pelo islamismo. Todavia, ao ler o Corão, não pude encontrar, em nenhuma de suas suratas, algo que me levasse a identificar a fé islâmica com a crença do patriarca hebreu.
O evangelho de Deus a Abraão. Em sua belíssima teologia da justificação pela fé, Paulo, depois de condenar energicamente o falso evangelho anunciado nas regiões da Galácia, escreve: É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão. (GI 3.6-9).
Aos israelitas, que ainda não haviam recebido o Cristo de Deus, a chamada de Abraão era mais étnica do que espiritual. O apóstolo, porém, iluminado pelo Espírito Santo, viu, atrás daquela narrativa, uma das mais profundas teologias do Novo Testamento. Em Gênesis, escondia a essência do Evangelho: Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12.1-3).
Se nos detivermos a analisar a vocação do patriarca hebreu, encontraremos a mais bela síntese da mensagem cristã. Em primeiro lugar, Deus individualiza a chamada de Abraão, a fim de universalizar a convocação de todas as nações a crer em Jesus Cristo.
a) Uma chamada que transcende a nacionalidade. Deus, em primeiro lugar, intima Abraão a deixar a sua nacionalidade: “Sai-te da tua terra”. A fé no Deus Único e Verdadeiro não pode circunscrever-se a uma nacionalidade. Seu caráter reivindica seja ela proclamada a todos, em todo o tempo e lugar, por todos os meios. Por esse motivo, não sou favorável a uma igreja oficial, como a anglicana, pois sempre estará a serviço do Estado. A Igreja, por ser Igreja, não pode ser trancada na burocracia estatal, pois a sua natureza leva-a a forçar todas as portas, inclusive as do inferno.
Israel jamais poderia ter restringido a sua fé a um território, a uma cidade, a um santuário e a um objeto sagrado. Infelizmente, foi o que aconteceu. Embora fundassem uma terra santa, não foram suficientemente zelosos para santificar os povos além de suas fronteiras.
Ao elegerem Jerusalém como a cidade santa por excelência, não saíram, a partir dela, a proclamar a Palavra de Deus até aos confins da terra como fez o profeta Jonas. Quanto ao Santo Templo, achavam que Deus estava restrito àquela casa e que, de lá, jamais sairia. E, para completar o seu exclusivismo religioso, fizeram da arca sagrada um totem. Supunham que, tendo-a por perto, nenhum mal viria a alcançá-los. O Senhor mostrou-lhes, porém, que aquele objeto tão belo e tão cobiçado viria a perder-se um dia (Jr 3.16).
Enfim, os israelitas, ao contrário de Abraão, não conseguiram transcender a própria nacionalidade na divulgação da verdadeira fé. Logo, o Deus de Israel é também o Deus de todos os povos, porque sua é a terra e a sua plenitude. Até mesmo os apóstolos demoraram a entender o alcance universal do evangelho de Cristo. Fez-se necessária a convocação de um concílio, para que, iluminados pelo Espírito Santo, autorizassem Paulo e Barnabé a prosseguirem o seu ministério junto aos gentios.
b) Uma chamada que transcende a etnia. Deus ordenou também a Abraão que deixasse a sua parentela, pois o chamava a ser o pai de todos os que creem. Então, como haveria ele de confinar-se à etnia hebreia, se o mais ilustre de seus descendentes haveria de morrer por todos os povos? Os israelitas, porém, ignorando a natureza de sua chamada universal, isolam-se nacionalmente.
A fim de arrancar os apóstolos a esse exclusivismo, o Senhor concede a Pedro a visão global do evangelho. No lençol descido do céu, o galileu contempla toda sorte de animais imundos e repulsivos. Em seguida, ouve do próprio Jesus: “Não faças tu comum ao que Deus purificou” (At 10.15).
A partir daquele momento, a Igreja de Cristo, ainda majoritariamente judaica, internacionaliza-se até alcançar os povos mais inalcançáveis. A grandeza de Israel, portanto, não está em sua nacionalidade, nem em sua etnia; reside em sua herança espiritual.
c) Uma chamada que transcende a família. Abraão foi chamado ainda a deixar a casa de seu pai, pois a família que dele sairia não se fundaria em laços de sangue, mas numa aliança espiritual. E claro que, aos olhos de Deus, a família é muito importante. Precedendo o Estado e até mesmo a Igreja, ela é a base tanto daquele quanto desta. Mas, pela fé em Jesus Cristo, filho de Abraão, surge um povo mais forte que a própria família.
Certa vez, perguntou o Senhor Jesus: “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?”. Ato contínuo, destacando seus discípulos, responde: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos; porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe” (Mt 12.49,50).
A família, para Abraão, teria um fundamento mais forte que o sanguíneo. A fé no Deus Único e Verdadeiro seria capaz de unir, num mesmo corpo, em Jesus Cristo, todos os povos da Terra. Todos os que o aceitam, portanto, são chamados para fora de sua nacionalidade, etnia e família, a fim de formar um só organismo espiritual. Assim é descrita a Igreja de Cristo pelo apóstolo Paulo: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3.26-28).
d) Uma terra que transcende os olhos. No evangelho que Deus pregou a Abraão, havia uma terra estratégica, larga e espaçosa. Disse-lhe o Senhor: “para a terra que eu te mostrarei”. Portanto, Abraão é chamado para fora de sua nacionalidade, de sua etnia e de sua família, com o objetivo de possuir uma terra que ele ainda não via. Assim, movido por uma fé justificadora, começa o patriarca a ver o invisível. Naquele exato momento, deixando para trás o sedentarismo confortável, faz-se nômade. E, de oásis em oásis, peregrina até chegar a uma terra que, profeticamente, já era sua, mas, historicamente, ainda estava em poder de gentios aguerridos, profanos e inimigos de Deus.
Por que Canaã, e não Ur dos caldeus? Por que a terra do amorreu e do jebuseu, e não Padã-Arã? Ambas as cidades eram mais importantes que o território cananeu. Todavia, não eram estrategicamente localizadas para a difusão do conhecimento divino a toda a Terra. Somente Israel serviria como a localização exata para o Senhor Jesus iniciar a expansão do Reino de Deus. Os evangelistas, partindo de Jerusalém, alcançariam toda a Judeia, a região de Samaria e, finalmente, os confins do globo.
A igreja católica, sob o comando de Urbano II, reuniu-se em cruzada, para retomar a Jerusalém. Mas a Igreja Primitiva, impulsionada pelo Espírito Santo, partiu de Jerusalém para conquistar o mundo para Cristo. Temos aí o verdadeiro significado de Urb et Orbi. Ou seja: à cidade e ao mundo com um só alvo: proclamar a Palavra de Deus.
Quanto àquela terra, não há dúvida. Pertence a Israel.
e) Uma nação paradoxal. Na promessa que o Senhor lavra ao seu amigo, há uma nota paradoxal: “E far-te-ei uma grande nação”. Se Abraão fosse o pai da China, ou dos Estados Unidos, não haveria, aí, contradição alguma. De seus lombos, porém, saiu uma das menores nações do mundo. Por mais que se multiplique, a demografia de Israel jamais chegará ao nível da chinesa ou da americana. Não obstante, não há povo tão influente, espiritual e moralmente, do que o hebreu.
Nenhuma outra escritura é tão lida quanto a Bíblia. Nenhum profeta é citado como Moisés. Quanto a Jesus Cristo, nosso Senhor, nenhum ser humano é tão evocado quanto Ele.
Verdadeiro Homem e Deus Verdadeiro, o Nazareno reúne, em tomo de seu nome, povos de todas as nacionalidades que, vinculados pela fé, tratam-se como irmãos. Essa é a grandeza de Israel.
f) Abraão, fonte de bênçãos e maldições. No evangelho que Deus pregou a Abraão, há dois mandamentos específicos. Se o primeiro representou dificuldades geográficas e logísticas, o segundo representará um grande desafio espiritual e teológico. Na segunda ordenança, diz-lhe o Senhor: “e tu serás uma bênção”. Se na versão corrigida de Almeida o mandamento parece profecia, já na tradução atualizada, a promessa soa como um mandamento bastante claro: “Sê tu uma bênção” (Gn 12.2).
Abraão teria de ser uma bênção à sua família e a todas as nações da Terra. Ele abençoou-nos com os profetas, com as Escrituras Sagradas e com o Cristo. Jamais poderemos retribuir-lhe as bênçãos que, de seus descendentes, recebemos. Por isso, cabe-nos abençoá-lo. Hoje, abençoamos Israel não somente mantendo vínculos amistosos com o Estado judeu, mas curvando-nos ao evangelho que nos veio por intermédio da família hebreia.
Conclusão
Do proto-evangelho, no Éden, ao evangelho de Cristo, no Calvário, todas as nações foram abençoadas no patriarca Abraão. O interessante é que, em ambos os eventos, Deus fez-se presente para atestar o seu amor pela humanidade caída. Ele criou o mundo em seis dias. No sétimo, veio a descansar de seu trabalho. Todavia, quando da queda de nossos pais, o Senhor recomeçou o seu labor não apenas preservando a sua criação, mas também evangelizando seus filhos rebeldes e apostatas.
Jesus afirmou, certa vez, que o Pai trabalha até agora. Por essa razão, o Filho continuava o seu labor. Mas qual o trabalho do Pai? Não é criar, porque tudo quanto havia de ser criado, já o foi. Todavia, a evangelização sempre haverá de ser um trabalho incompleto, por mais que nos esforcemos.
Neste momento, Deus não mais anuncia pessoalmente o evangelho, como fez no Eden e ao patriarca Abraão. Entretanto, não cessa de abrir portas, abençoar missões e missionários. Por intermédio de mim e de você, Ele estende as fronteiras de seu Reino. Paulo dizia-se imitador de Deus, porque se sentia na obrigação de proclamar-lhe a Palavra a tempo e fora de tempo.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Deus refere-se três vezes a Israel como 'minhas testemunhas' (Is 43.10,12; 44.8). A verdadeira questão é: uma testemunha de quem? O Senhor declara explicitamente: 'O povo que formei para mim proclamará meus louvores' (43.21). Proclamar seus louvores para quem? O versículo 9 nos dá a orientação: 'Que todas as nações se unam ao mesmo tempo, que se reúnam os povos'. Esse é o público de Israel. Essa é a sua missão!

Se mantivermos na mente essa dupla posição e relação de Israel, grande parte das Escrituras ganhará uma nova perspectiva e significado mais profundo. Israel nunca deixa de ser o povo de Deus, a nação do Senhor, embora, devido ao fracasso, ela seja temporariamente como serva de Deus. Ela permanece desqualificada até que o genuíno arrependimento a restaure novamente. Tal restauração é prometida pela graça de Deus e exigida pela justiça e fidelidade de Deus" (PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 20000, pp. 137,138).
Fonte:
Lições Bíblicas - O Desafio da Evangelização - 3º.trim_2016 CPAD - Comentarista Claudionor de Andrade
Livro de Apoio - O Desafio da Evangelização - Obedecendo ao Ide do Senhor Jesus de levar as Boas-Novas a toda a criatura - Comentarista Claudionor de Andrade
Revista Ensinador Cristão-nº67
Teologia Bíblica de Missões - George W. Peters - 1.ed.CPAD
Prática do Evangelismo Pessoal - Antonio Gilberto - 1.ed.CPAD
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia de Estudo Defesa da Fé
Dicionário Bíblico Wycliffe
Sempre aprendo muito com esses conteúdos. Que Deus continue a abençoar a todos nós, no entendimento de sua palavra.
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