“Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado” Rm 7.25
Na lição de hoje estudaremos o capítulo sete da Epístola aos Romanos. Este capítulo trata a respeito da libertação da Lei. Para que os romanos compreendessem bem o assunto, Paulo faz uma analogia entre a Lei e o casamento. O apóstolo mostra que enquanto o marido viver, a esposa está ligada a ele mediante a lei do matrimônio. Mas, morto o marido a esposa se torna livre, podendo até mesmo contrair novas núpcias. Com esta analogia, Paulo mostra que os salvos em Cristo, pela fé, já estão livres da lei do pecado e agora pertencem a Jesus Cristo. Em Cristo, estamos mortos para a lei do pecado. O apóstolo precisou tratar deste assunto porque os judeus tinham dificuldades de se libertarem das amaras da Lei. Livres da lei do pecado temos condições de nos relacionarmos com Deus e vivermos uma vida de santidade. Segundo Lawrence Richards "a libertação da Lei não promove o pecado, mas a justiça".
A luta entre a carne e o espírito é uma realidade na vida de todo crente, mas a dependência da graça de Deus fará com que tenhamos uma vida vitoriosa.
A Lei, a carne e o Espírito
Sobre o papel da Lei — Lembre-se sempre de que um dos
métodos argumentativos do apóstolo em suas epístolas é o de criar perguntas
retóricas a fim de ensinar determinada doutrina. Como por exemplo: se pela Lei
eu conheço o pecado, então a Lei é má? O apóstolo responderá imediatamente: De
modo nenhum (Rm 7.7). Se a Lei é de Deus, ela é boa e santa. Mas, então, ela se
tornou morte para mim? — De modo nenhum (Rm 7.13) — mais uma vez responde o
apóstolo.
No versículo 7, o que vemos é o apóstolo
Paulo rejeitando a ideia de que a Lei é má, ou é pecado. Pelo contrário, o
apóstolo afirma que é pela Lei que conhecemos o pecado. Ou seja, não que pela
Lei consumamos o pecado, mas o conhecemos. Aqui há uma diferença gigante entre
o conhecer o pecado e o praticar o pecado. Alguém pode perguntar: Então o que
fez o ser humano pecar? De pronto o apóstolo responde: “Mas o pecado, tomando
ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a concupiscência: porquanto, sem
a lei, estava morto o pecado” (v.8). Logo, a Lei não é pecado.
No versículo 13, mais uma pergunta retórica:
a Lei tornou-se morte para mim? A resposta do apóstolo é mais um vigoroso: De
modo nenhum. Na sequência do texto o apóstolo Paulo mostra que o que ocorre é
exatamente o contrário: quem produz a morte não é a Lei, senão o pecado. O
pecado é quem produz a morte no ser humano. A Lei o desmascara e sobre ele nos
convence.
Lei e Pecado — Lei e Pecado são elementos
diametralmente opostos. A santidade da Lei e em relação ao pecado é de uma
seriedade e solenidade na epístola de Romanos ao ponto de o apóstolo deixar
claro de que a Lei não é a ministradora do pecado ou da morte. Digamos que ela
agrava o Pecado.
Há um ditado popular que diz: “Tudo o que é
proibido é mais gostoso”. A partir do momento em que o ser humano toma contato
com a proibição é como se houvesse uma revolta contra aquela proibição e uma
necessidade imensa de violar aquilo que está proibido. É nossa natureza
pecaminosa. Se não quebrada a norma, nenhuma consequência. Mas no caso da
pessoa que viola tal norma, sofrerá ela as consequências da norma. Por esse
aspecto, podemos dizer que a norma agrava a violação, pois se não houvesse a
norma não haveria a violação. Se houvesse Lei, não haveria o pecado. A graça de
Deus apresentada pelo apóstolo Paulo implica num compromisso muito sólido e
vivo com a ética do Reino de Deus e sua justiça. (Revista Ensinador Cristão nº66-pg.39)
Jesus Cristo nos libertou do jugo da Lei, do pecado e das obras da carne, por isso, podemos andar em Espírito.
Romanos 7.1-6
Não sabeis vós,
irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem
por todo o tempo que vive? Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto
ele viver, está-lhe ligada pela lei, mas, morto o marido, está livre da lei do
marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for doutro
marido; mas, morto o marido, livre está da lei e assim não será adúltera se for
doutro marido. Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo
corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os
mortos, a fim de que demos fruto para Deus. Porque, quando estávamos na carne,
as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem
fruto para a morte. Mas, agora, estamos livres da lei, pois morremos para
aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e
não na velhice da letra.
Luz sobre Roma
Os intérpretes da
Bíblia reconhecem que a interpretação de Romanos 7 deve ser analisada por mais
de uma perspectiva teológica. É preciso, portanto, termos conhecimento do pano
de fundo dessa carta para podermos fazer uma análise mais precisa daquilo que
Paulo estava ensinando aqui. De grande ajuda são as observações do doutor Bob
Utley, professor de hermenêutica na Universidade Batista do Oeste, Estados
Unidos da América. Utley enumera alguns passos, que acho importante resumir
aqui.
1. Romanos 7 deve
ser interpretado à luz de Romanos 6, especialmente 7.12-14 (também 3.20,21-31;
4.13-16; 5.20).
2. É preciso também
levar em conta a tensão na igreja de Roma entre os crentes judeus e os crentes
gentios, a qual é mostrada em Romanos 9—11. A natureza do problema, como
observa Utley, é incerta, mas pode ter sido:
a. legalismo
baseado na lei mosaica;
b. ênfase
judaizante sobre Moisés em vez de Cristo;
c. incompreensão
de como o evangelho se aplica aos judeus;
d. incompreensão
da relação entre a Antiga e a Nova Aliança;
e. ciúme por parte
dos crentes judeus da liderança dos gentios depois do edito imperial expulsando
os judeus de Roma.
3. Deve ser
observado que Romanos 7.1-6 contém linguagem figurada de Romanos 6 acerca da
relação dos cristãos com a sua velha vida. As metáforas usadas são:
a. morte e
libertação da escravidão para pertencer a outro (Rm 6);
b. morte e libertação
da obrigação matrimonial (Rm 7).
4. Devemos
observar também que Romanos 6 e 7 são literaturas paralelas. Romanos 6 detalha
como é a relação dos crentes com o pecado e Romanos 7 como é o relacionamento
dos crentes com a lei. A analogia da libertação da escravidão da morte
(6.12-23) é paralela à analogia da libertação do marido que morreu (7.1-6).
Utley ainda destaca o paralelo de alguns termos e expressões existentes entre
Romanos 6 e Romanos 7.
5. A lei com seus
preceitos foi a sentença de morte. Todos os homens estavam condenados sob ela
(Rm 6.14; 7.4; G1 3.13; Ef 2.15; Cl 2.14). A lei mosaica se tornou maldição!
Nova Aliança, Novo
Relacionamento
“Não sabeis vós,
irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem
por todo o tempo que vivei?" (7.1). Alguns intérpretes veem aqui uma referência à
lei romana, enquanto outros enxergam a lei como um princípio universal.
Todavia, o contexto parece deixar claro que Paulo estaria se referindo à lei
mosaica. A expressão “falo aos que conhecem a lei” pode ser aplicada a toda a
igreja romana, mas especialmente os judeus. A discussão feita pelo apóstolo em
Romanos 6 poderia ter gerado mal-entendidos sobre o papel da lei em relação aos
cristãos. Não devemos esquecer que Paulo havia enfrentado, conforme mostra o
livro de Atos e especialmente a Epístola aos Gálatas, conflitos com judeus que
o acusavam de estar pregando rebelião contra a lei.
Não há dúvida de
que o apóstolo sabia que esse mal-entendido sobre o seu pensamento já havia
chegado a Roma. A ideia que perpassava era que Paulo era um antinomista, isto
é, pregava a não observação da lei. Esse equívoco deveria ser esclarecido para
que o ensino da justificação pela fé somente fosse compreendido em toda a sua
extensão. O elo é estabelecido entre os capítulos 6 e 8 pelo argumento do
apóstolo.
Recorrendo
novamente ao método de diatribe (modelo literário, que era um recurso muito usado pelos filósofos estoicos e cínicos, o autor valia-se de uma exposição crítica a respeito de alguma obra), Paulo quer
desfazer essa imagem negativa que alguns estariam fazendo sobre ele em relação
à lei. Por que Paulo se mostrava tão negativo em relação à lei? Paulo mostrará
que, ao contrário do que muitos pensavam, ele tem um grande apreço pela lei de
Deus; todavia, não vê nela um instrumento capaz de produzir salvação. E nesse
ponto que percebemos que o conceito das duas alianças está bem presente no
pensamento do apóstolo. Na Antiga Aliança, a lei teve uma função principal,
mesmo que fosse apenas para apontar os pecados e produzir a ira divina, porém
na Nova Aliança essa função não existe mais. E por que não? Porque a lei
apontava para Cristo, e Ele havia chegado!
É exatamente aqui
que Paulo fará a analogia do casamento. Era de conhecimento dos crentes romanos
que enquanto o marido fosse vivo, a lei proibia que a esposa contraísse novas
núpcias. Se assim fizesse, estaria caindo em adultério. Todavia, se o marido morresse,
ela estaria livre para casar com quem quisesse. Paulo então mostra que é
exatamente isso o que ocorreu em relação à lei. Aqui o crente morre para a lei
para pertencer a outro, Jesus Cristo. “Assim, meus irmãos, também vós estais
mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que
ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus” (Rm 7.4). O
expositor bíblico F. F. Bruce destaca que “como a morte desfaz o laço que une
marido e mulher, assim a morte — a morte do crente com Cristo — desfaz o laço
que o prendia ao jugo da lei, e agora está livre para entrar em união com
Cristo. Sua anterior associação com a lei não o ajudava a produzir os frutos da
justiça, mas esses frutos são produzidos com abundância, agora que ele está
unido a Cristo. O pecado e a morte foram o resultado de sua associação com a
lei; a justiça e a vida são o produto de sua nova associação; pois (como Paulo
o coloca em outro lugar), 'a letra mata, mas o Espírito vivifica’ (2 Co 3.6)”.
Não se tratava, portanto, de um antinomismo ou rebelião contra a lei, mas
assumir a nova posição que a Nova Aliança em Cristo proporcionou. Os cristãos
são chamados para pertencer a “outro”, Cristo, e dessa forma frutificarem para
Deus.
“Porque, quando
estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em
nossos membros para darem fruto para a morte” (7.5). Paulo fundamenta seu
comentário mostrando a antiga relação da lei com aquele que a observa. Paulo já
havia mostrado no capítulo 5 que o pecado não é levado em conta quando não há
lei. Ali a transgressão aparece como a quebra do mandamento da lei. Deus deu
então o código do Sinai. Essa lei dada a seu antigo povo é justa e boa, mas em
vez de produzir vida, trouxe morte. Havia algum problema com a lei? Não, o
problema estava com os homens, corrompidos pelo pecado, que se mostraram
incapazes de obedecer aos preceitos da lei. A lei trouxe a consciência do
pecado e esse pecado, alimentado pela cobiça, frutificou para a morte. Esse
argumento receberá ênfase novamente em Romanos 7.7.
“Mas, agora,
estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para
que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra” (7.6). João
Calvino, em seu comentário da Epístola aos Romanos, destaca que Paulo “dá
seguimento a seu argumento a partir de opostos. Se a coibição da lei surtiu tão
pouco efeito em subjugar a carne que nos despertava antes a pecar, então
devemos nos desvencilhar da lei para que deixemos de pecar. Se somos libertos
da servidão da lei a fim de podermos servir a Deus [livremente], então aqueles
que derivam deste fato sua licença para pecar, e aqueles que nos ensinam que
devemos soltar as rédeas e nos entregarmos a luxúria, também estão equivocados.
Note-se, pois, quando Deus nos livra de suas rígidas exigências e de sua
maldição, dotando-nos com o Espírito Santo a fim de trilharmos seus santos
caminhos”.
Paulo esboça aqui
o que tratará em detalhes no capítulo 8. O crente foi liberto da lei para viver
debaixo de outra lei — a lei do Espírito de vida. Sem dúvida esse é o sentido
de “servir em novidade de vida”. Andar de acordo com a lei, vivendo na era do
Espírito, é uma anomalia a qual o cristão nascido de novo não pode mais
aceitar.
A morte de Cristo na cruz, e os cristãos juntamente com Ele (Ef 2.5,6), rompeu os votos de obediência aos preceitos legais da lei mosaica (Rm 7.4).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Livre
Um cônjuge não está mais ligado pela lei matrimonial com o consorte falecido. A morte liberta a ele ou a ela dessa lei. Semelhantemente, a morte de Cristo, que compartilhamos em nossa união com Ele, nos liberta de todas as obrigações legais constantes na Lei de Deus.
Algumas pessoas ficam atemorizadas com a ideia de que o cristão não tem obrigação alguma de guardar a Lei. Paulo deixa claro que precisamos estar livres dessas obrigações. Por quê? A Lei diz respeito à nossa natureza pecaminosa e proclama: 'Não'. O resultado não foi uma repreensão do desejo de pecar, mas o surgimento de nossas paixões pecaminosas. Pecamos, ao 'produzir frutos da morte'. Deus agora nos chama para nos relacionarmos diretamente com Ele através do Espírito. O Espírito falará à nossa natureza, nos estimulando a servir e, assim, a 'produzir frutos para Deus' (RICHARDS, Lawrence. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo.10.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.743.
*A Lei
"A Lei de Deus, em Romanos 7, é a revelação do Antigo Testamento dos padrões de comportamentos morais de justiça. No entanto, a 'lei' que Paulo descobre estar agindo em sua personalidade é o 'princípio universal' do pecado e da morte que escraviza os seres humanos decaídos. Nesse capítulo, Paulo explora o relacionamento entre a Lei de Deus e a lei (princípio) do pecado. Ele expressa seu sentimento de desesperança na medida em que tenta responder à Lei de Deus, mas, no meio disso, está o pecado a impedi-lo. Em 8.2, Paulo apresenta outra 'lei' (princípio universal) que resolve o seu problema e o nosso." Para conhecer mais leia Guia do Leitor da Bíblia, CPAD, p. 743.
A expressão “mortos para a lei pelo corpo de Cristo” é entendida pelos intérpretes como uma referência à morte de Cristo e a nossa identificação com Ele. O biblicista C. Marvin Pate observa que “Paulo usa a analogia da morte de um cônjuge no casamento para ilustrar a morte do crente para a lei, pelo fato de ele estar unido com Cristo (Rm 7.1-6)”.
Romanos 7.7-13
Que diremos, pois?
E a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela lei;
porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não
cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda
a concupiscência; porquanto, sem a lei, estava morto o pecado. E eu, nalgum
tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri; e
o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. Porque o pecado,
tomando ocasião pelo mandamento, me enganou e, por ele, me matou. Assim, a lei
é santa; e o mandamento, santo, justo e bom. Logo, tornou-se-me o bom em morte?
De modo nenhum! Mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a
morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente
maligno.
De Volta ao
Paraíso
“Que diremos,
pois? E a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela
lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não
cobiçarás” (7.7). A partir desse ponto, Paulo introduz a figura do “eu” na sua
argumentação. Quem seria, portanto, esse “eu”? Alguns intérpretes, a exemplo de
Dale Moody e Leon Morris, acreditam que ele estaria falando de uma experiência
pré-cristã. Por outro lado, intérpretes como John Stott e Charles Swindoll põem
aqui em destaque os conflitos internos do cristão. À propósito, Swindoll
comenta: “Romanos 7 é o autorretrato de Paulo, no qual ele usa utiliza o verbo
na primeira pessoa do singular 30 vezes. Perto do final do autorretrato ele
exclama: ‘Sou um pobre miserável’. A expressão ‘pobre miserável’ é a tradução
de uma palavra grega que quer dizer ‘sofredor, afligido, miserável’”.
Não há dúvida,
portanto, de que o “eu” aparece em Romanos 7 com um sentido individualizante.
Todavia, como observou acertadamente Giuseppe Barbaglio, aqui ele não se limita
apenas a esse sentido. Ele ganha também um sentido supraindividual. Em
outras palavras, ele possui um sentido individualizante, mas também um sentido
representativo. Esse sentido mais universal é usado para mostrar a vida dos que
vivem sem lei, dos que vivem sob a lei e dos que estão livres da lei. Barbaglio
elenca alguns fatos que contribuem para esse entendimento:
1. Paulo contrapõe
a bondade intrínseca da lei e do mandamento divino ao “eu”, que dela fez uma
experiência negativa, encontrando aí a morte eterna (w. 7-13).
2. O “eu” é
apresentado como um sujeito que carrega uma história dividida nitidamente em
duas fases: ausência da lei e “vinda do mandamento (vv. 9,10). Notem-se as
séries dos verbos no passado, que caracterizam os versículos 7-13.
3. No trecho de
14-25, ao contrário, os verbos são conjugados no presente. Seria, portanto,
errado deduzir que Paulo deseje aí apresentar a condição atual do “eu’, em
antítese ao passado de perdição. Na realidade, ele descreve o estado de
dissociação existencial do “eu” como resultado de sua história. Testemunha-o o
versículo 14: “mas eu sou ‘carnal’, fui vendido como escravo ao pecado”. A
confirmação nos vem do grito conclusivo: “Pobre de mim! Quem me poderá libertar
deste corpo destinado à morte?” Pecado e morte, portanto, são o âmbito em que o
“eu” se acha encerrado, por efeito de seu passado de submissão.
4. O “eu” é um ser
perdido sem possibilidade autônoma de libertação (v. 24).
5. O “eu” dirige
um canto de ações de graças a Deus, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor!
Pela graça, portanto, experimentou a salvação.
“A conclusão”, diz
Barbaglio, “parece bastante fundamentada. O discurso de Paulo revela uma estrutura
de fundo de caráter histórico-salvífico: abarca a caminhada de toda a
humanidade a partir do jardim do Éden, evocado claramente nos versículos 9 a
11, até a iniciativa salvífica de Deus, mediada por Jesus Cristo. A semelhança
com 5.12-21 é inegável. Mas não se trata de uma descrição feita de fora,
própria de um observador externo. E, ao contrário, uma retrospectiva que
envolve a ele próprio e a todos os fiéis, que olhando para trás avaliam à luz
da fé a terrível perdição da qual escaparam. Portanto, o ‘eu’ de 7.7-25
representa os cristãos, por aquilo que eram, em estreita solidariedade com a
humanidade adâmica pecadora, e agora não mais o são, por graça. O capítulo
descreve sua história passada, que se radica na pré-história mais longínqua:
ambas à imagem de Adão, que cedeu à tentação de ser como Deus”.
"... porque
eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás” (7.7).
Não devemos limitar aqui o termo “cobiça” como se fosse um mero sinônimo de
desejos sexuais. O expositor bíblico Mark A. Seifrid observa que Paulo faz uma
descrição das obras da lei em termos de um encontro com a proibição da cobiça,
do desejo legítimo de possuir aquilo que pertence a outra pessoa. Dessa forma,
Paulo tem em mente a cobiça em seu sentido mais amplo. O quadro de Gênesis 3.6,
onde narra o desejo de Eva, evidentemente está presente na argumentação do
apóstolo. Seifrid sublinha que “Paulo vê no encontro do ser humano com o
mandamento a recapitulação da transgressão de Adão. Ao contrário da situação da
Queda, o pecado já está presente no ser humano que ouve a Lei; o mandamento
fornece apenas a oportunidade para o pecado produzir ‘todo tipo de cobiça’
(7.8)”.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
Professor, reproduza o esquema abaixo e utilize-o para enfatizar o que dispomos como descendência de Adão e como filhos de Deus.
"Lembranças do Sinai" - Outra razão, no entendimento de muitos intérpretes da Bíblia, que levou o apóstolo a se ver em Adão está na crença judaica de que o primeiro homem viveu os princípios da Torá (lei), mesmo tendo existido muito antes da sua promulgação no Sinai. De fato, essa é uma crença muito bem documentada na literatura rabínica. Filo de Alexandria, filósofo judeu, por exemplo, dizia que a cobiça, pecado praticado por Adão no paraíso, era a raiz de todos os males.
Romanos 7.14-25
Porque bem sabemos
que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que
faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso
faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira
que, agora, já não sou eu faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu
sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o
querer está em mim, mas não consigo realizar e bem. Porque não faço o bem que
quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já
o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho, então, esta lei em mim:
que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem
interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que
batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado
que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo
desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu
mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do
pecado.
“Porque bem
sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado” (7.14).
A natureza boa da lei em contraste com a natureza maligna do pecado é
apresentada aqui por Paulo. A lei aparece aqui como um espelho que reflete a
imagem de quem o contempla, mas aquele que é contemplado nada pode fazer pela
melhoria dessa imagem. Ele apenas se torna consciente diante desse espelho dos
seus inúmeros defeitos. John Wesley, em 1754, comentou essa passagem: “Eu sou
carnal — São Paulo, depois de ter comparado juntos o estado passado e presente
dos crentes, ‘na carne’ (Romanos 7.5) e ‘no espírito’ (Romanos 7.6), procura
responder a duas acusações (é então a lei pecado? Romanos 7.7, e é a lei
morte?, Romanos 7.13) e entrelaça todo o processo do arrazoamento de um homem,
lutando e procurando escapar do estado legal para o evangélico. Isso ele faz em
Romanos 7.7, até o fim neste capítulo”. Joseph A. Fitzmyer destaca que “a
explicação de Paulo não é ainda completa; na presente passagem trata de
esclarecer a questão. Como pôde o pecado usar algo bom em si mesmo (a lei) para
destruir os seres humanos? O problema não está na lei, mas nos seres humanos
como tais. A lei é espiritual. Devido à sua origem divina e o seu
propósito de conduzir os seres humanos até Deus. Dessa forma, ela não pertencia
ao mundo da humanidade terrena, natural. Enquanto pneumáticos,
ela pertencia à esfera de Deus; se opõe ao que é sarkinos, “canal”,
“pertencente à esfera da carne”.
“Porque o que
faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso
faço” (7.15). Paulo retrata aqui o dilema não apenas dele, mas de todos os
cristãos. Desejar fazer o certo, todavia realizando o que é errado! Antes de
apresentar a explicação para esse fenômeno, Paulo maximiza a sua argumentação
nesse paradoxo — querer fazer o bem, mas sendo levado a fazer o mal. Alguns
intérpretes acreditam e, concordo com eles, que alguns crentes romanos,
principalmente os de origem judaica, ainda alimentavam a esperança de conciliar
a lei com a graça. Por que não recorrer a uma “ajudinha” da lei para viver
retamente? Paulo vai mostrar então que isso simplesmente é impossível. O
problema, como já havia sublinhado em outro lugar, não estava com a Lei, que em
si era de origem divina e boa. A questão era outra. O problema estava dentro de
cada crente — uma natureza pecaminosa que em vez de se sentir freada pela lei
era estimulada ainda mais por ela.
Esse é um
argumento usado por Paulo para combater o legalismo. Nenhuma prática cristã
pode ser usada para ajudar a graça. A graça é suficiente! As disciplinas
cristãs, como oração, jejum, prática de leitura da Bíblia, etc., não devem ser
praticadas, portanto, com o objetivo de nos tornar aceitáveis diante de Deus.
Deus nos aceita do jeito que somos. Essas disciplinas não devem ser praticadas
com o objetivo de produzir um salvo mais espiritual, mas para ajustar o relacionamento
com Deus de quem já é salvo. Não é uma salvação pelas obras, mas é o resultado
de um fruto de quem já foi salvo para praticar boas obras (Ef 2.8). Essas
práticas não mudam a Deus, mas mudam a nós mesmos. Se são praticadas com a
atitude correta, então elas com certeza agradam a Deus.
“Miserável homem
que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (7.24). Eis o grito angustiante
de Paulo na luta contra o pecado! Neste ponto, o apóstolo, como todo cristão,
mostra-se consciente da natureza humana que possui. A luta não é exterior, mas
com ele mesmo. O cantor e poeta Sérgio Lopes conseguiu expressar por meio da
música Natureza Humana:
Ninguém é tão
perfeito que consiga
Fugir dos olhos
vivos do Senhor
Que vê além do
mais profundo abismo
E até segredos que
eu nunca falei
Ele sabe cada um
dos meus desejos
O que faço, onde
ando, quem procuro
Conhece o meu
passado e o meu presente
E quer fazer feliz
o meu futuro
Eu luto é contra a
minha própria alma
A natureza humana
que há em mim
Eu quero sepultar
o velho homem
E andar em
comunhão com Cristo
Viver, cantar só
para Ele
Morrer pro mundo e
reviver pra Deus.
Stanley Clark
comenta: “O grito da primeira parte do versículo 24 e a pergunta que o apóstolo
faz em seguida devem ser entendidas como uma expressão de angústia, e não de
desespero. A referência a libertação na pergunta pode ser uma expressão do
anelo fervente do que ele sabe com segurança do que o aguarda (8.23). A
expressão ‘este corpo de morte’ bem como a expressão ‘meus membros’ no versículo
anterior deve ser uma referência à natureza humana em sua condição de sujeição
à lei do pecado. O apóstolo quer ser libertado da condição de vida no qual o
corpo está sujeito ao pecado, como descreveu em todo o parágrafo ‘Quem me
livrará deste meu ser, instrumento de morte?’”.
Paulo encerra essa seção mostrando quem de fato destronou o “eu”: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor”. Ele é a graça de Deus. Ele é nossa vitória!
Paulo encerra essa seção mostrando quem de fato destronou o “eu”: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor”. Ele é a graça de Deus. Ele é nossa vitória!
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
"O conflito entre a Lei e o pecado (7.14-25)
Esse conflito é inevitável. Duas leis se chocam - a lei do pecado e a lei de Deus. Podemos chamá-las de lei carnal e lei espiritual. Entretanto, esse conflito pode ser facilmente dominado pelo crente, se ele dominar o pecado pela lei espiritual. O campo de batalha entre essas duas forças é interior ao homem. Paulo ilustra o coração como o interior de nossas vidas para mostrar esse conflito.
A lei é espiritual (v. 14). Mais uma vez o apóstolo declara que o problema não está na lei de Deus, mas na natureza pecaminosa do homem. Quando ele declara 'sou carnal' está, na verdade, dizendo que ele é feito carne, isto é, sujeito à lei do pecado que opera na carne. Ele diz, também, que é 'vendido sob o pecado', ou, à escravidão do pecado. Significa que, queira ou não, está na sua carne, a tendência pecaminosa que o escraviza a faz de sua natureza pecaminosa a sede de operações para o pecado. Essa escravidão envolve toda a personalidade do homem. Porém, esse envolvimento encontra uma barreira para o domínio total do pecado, que é a lei espiritual.
O conflito entre lei e o pecado (v.15). Nestas palavras o apóstolo se sente o centro do conflito no seu interior, e não consegue entender porque pratica certos atos que contrariam sua real vontade. Ele vê o conflito entre o bem e o mal, e, às vezes, esse conflito é tão intenso que ele não consegue descobrir o 'porquê' desse conflito que o leva fazer certos atos" (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, pp.85,86).
"A malignidade da carne" - Não há dúvida que todo cristão entende bem essas palavras de Paulo em Romanos 7.22,23. Essas palavras revelam o conflito entre a nossa nova natureza em Cristo e o “velho homem” residente em nós. É a guerra entre a carne e o espírito. A quem essas palavras de Paulo se destinam? O contexto parece não deixar dúvidas de que Paulo tinha em mente os crentes que, pelo fato de serem cristãos, acreditavam que poderiam viver vitoriosamente sem o Espírito Santo. Embora Paulo tenha deixado para tratar sobre o ministério do Espírito Santo no capítulo 8 de Romanos, ele já chama aqui a atenção para o viver “em novidade do Espírito” (Rm 7.6) como forma de vencer as inclinações da carne.
"A malignidade da carne" - Não há dúvida que todo cristão entende bem essas palavras de Paulo em Romanos 7.22,23. Essas palavras revelam o conflito entre a nossa nova natureza em Cristo e o “velho homem” residente em nós. É a guerra entre a carne e o espírito. A quem essas palavras de Paulo se destinam? O contexto parece não deixar dúvidas de que Paulo tinha em mente os crentes que, pelo fato de serem cristãos, acreditavam que poderiam viver vitoriosamente sem o Espírito Santo. Embora Paulo tenha deixado para tratar sobre o ministério do Espírito Santo no capítulo 8 de Romanos, ele já chama aqui a atenção para o viver “em novidade do Espírito” (Rm 7.6) como forma de vencer as inclinações da carne.
CONCLUSÃO
Mesmo vivendo debaixo da graça o crente experimenta o conflito entre sua antiga natureza e sua nova vida em Cristo. Como viver uma vida nova, se a velha vida ainda continua querendo ocupar seu antigo espaço? A resposta do crente está na compreensão de que a solução a esse conflito está em responder positivamente à nova vida espiritual, dependendo inteiramente da graça de Deus.
"Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei." Gálatas 5:16-23
ESTUDANDO a LIÇÃO
A respeito da Carta
aos Romanos, responda:
O que Paulo desejava
mostrar com a metáfora do casamento?
Paulo desejava mostrar que homem algum pode
ser salvo pela Lei, até mesmo aqueles que a guardam com zelo e devoção. Paulo
usou o casamento para mostrar o nosso relacionamento com a Lei. O apóstolo
ressalta que o contrato de casamento perde sua validade quando um dos cônjuges
morre. Segundo a Bíblia de
Aplicação Pessoal “ao morrermos
com Cristo, a Lei não pode mais nos condenar; estamos unidos a Cristo”.
Como pode ser
entendida a expressão “mortos para lei pelo corpo de Cristo”?
A expressão “mortos para a lei pelo corpo de
Cristo” é entendida pelos intérpretes como uma referência à morte de Cristo e a
nossa identificação com Ele.
Segundo Paulo, quem é
o cabeça da raça humana?
Paulo considerava Adão o cabeça e o
representante da humanidade.
Segundo Paulo, a lei
e seus propósitos são bons?
Sim. A Lei é boa e seu propósito também. O
problema, portanto, não estava na Lei, mas naqueles que se regiam por ela.
Quem pode nos ajudar
no embate contra a velha natureza?
O Espírito Santo, que habita em nós.
Fonte:
Lições Bíblicas - Maravilhosa Graça - O Evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos - 2º.trim_2016 CPAD - Comentarista Jose Gonçalves
Livro de Apoio - Maravilhosa Graça - O Evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos - José Gonçalves
Guia do Leitor da Bíblia - CPAD
Romanos. O Evangelho da Justiça de Deus - 5ª.ed.CPAD
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia de Estudo Defesa da Fé
Dicionário Bíblico Wycliffe
Dicionário Teológico CPAD
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