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sábado, 30 de setembro de 2017

Uma Promessa de Salvação

E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” Gn 3.15

Uma promessa de Salvação

Neste mês de outubro, ocorrerá o evento de suma importância para toda a igreja de tradição protestante no mundo: 500 anos da Reforma Protestante. Por isso, o tema que estudaremos ao longo deste trimestre — A Obra de Salvação: Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida — é importantíssimo para todos os cristãos que se identificam com a tradição protestante, e mais especificamente, para nós os pentecostais. O tema da salvação foi crucial para o advento da Reforma Protestante. Num contexto em que se vendia o céu por dinheiro, bispos praticavam imoralidades e a espiritualidade da igreja oficial era isquêmica e autômata, dizer que a salvação do pecador dependia exclusivamente da fé em Cristo Jesus era algo que só poderia brotar do Espírito Santo. Essa mensagem ia contra toda a teologia e tradição construídas ao longo dos anos pela igreja ocidental. Para nós, os pentecostais, de longa data, há sempre uma tensão ao tratar do assunto. Isso por que muitos se veem diante de uma tradição protestante forte em que a tônica soteriológica se dá no sentido de jamais ser possível perder a salvação. E se afirmamos que o crente precisa esforçar-se para viver em santidade e guardar fé para não cair da graça, faz-se uma acusação de pelagianismo, isto é, Deus não seria o responsável pela salvação, mas sim o homem. Jamais, nós os pentecostais, afirmamos tal “doutrina”. Neste trimestre, veremos que isso não faz sentido algum, pois a mesma Bíblia que diz que Deus é soberano e, sim, é o autor da salvação, pois Ele, em primeiro lugar, deseja que todos sejam salvos (1Tm 2.4); também diz que é preciso estarmos vigilantes e santificar nossa vida diante Deus, pois sem santidade “ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

Embora sejamos alcançados pela graça por Deus, pois jamais afirmamos coisa contrária, Ele espera que o Espírito Santo convença o homem “do pecado, e da justiça, e do juízo” (Jo 16.8). Assim, é o desejo do Pai, que em Cristo, o ser humano reconheça o seu real estado e diga o “sim” de verdade, como decisão consciente de que Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14.6); porque “quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). Revista Ensinador Cristão nº72 - CPAD

A Promessa da Salvação foi a resposta amorosa de Deus para reconciliar consigo mesmo o ser humano.

Leitura Bíblica em Classe: Gênesis 3.9-15

A salvação é um processo imediato (conversão) e contínuo na vida do crente (santificação). É necessário que o nascido de novo conheça todos os benefícios que essa dádiva, por intermédio da morte de Cristo, outorgou-lhe na cruz. A vida plena, a paz, a alegria, a misericórdia, a graça e a bondade que o crente desfruta provêm do milagre da salvação.


A salvação é obra de Deus e é oferecida como presente pela sua graça (Ef 2.8-9), não podendo ser alcançada por mérito ou esforço humano (Tt 2.11). Ela tornou-se necessária após a experiência destrutível que o homem experimentou ao pecar no Jardim do Éden, o que tornou deplorável o estado do homem.

Um dos maiores tesouros que a raça humana perdeu com a Queda foi a capacidade de amar plenamente a Deus, a seu semelhante e a si mesmo — essa era a essência da imagem de Deus; agora, apesar da capacidade de amar, foi incorporada a desconfiança, a ira, o rancor, o ódio e a vingança, que passaram a fazer parte dos relacionamentos, alienando (separando) o ser humano do seu semelhante, de Deus e de si mesmo. Isso é motivo de angústias e desesperos no ser humano.

O pecado tem como consequência a destruição da comunhão com Deus, provocando alienação; esta, por sinal, provoca a ira de Deus, bem como a culpa (expectativa de horror pela alienação) no homem, impedindo-o de chegar-se a Deus, estabelecendo a parede de separação (Is 59.2; Ef 2.14);

A santidade de Deus exige uma restituição à altura; o homem, entretanto, não tem condições de satisfazer essa exigência. Sendo assim, Deus evidencia sua misericórdia e amor providenciando uma solução, mas a honra de Deus exigiu o sacrifício de um homem perfeito como único meio suficiente de reconciliação. O ser humano é incapaz de satisfazer essa exigência. Assim, Cristo morreu em lugar da humanidade. Essa incapacidade humana exigiu a morte de cruz para que se compreendesse o imensurável amor de Deus.

Esse estado de pecado no homem causou-lhe a culpa pelo pecado e o medo da morte como consequência (Rm 6.23). Antropologicamente, a culpa tenta ser amenizada aplacando o clamor da alma do homem que lhe grita de forma ensurdecedora: “um preço precisa ser pago”; a exemplo dos povos mais primitivos que criam formas e rituais religiosos para amenizar essa culpa, alguns deles sacrificando animais, fazendo oferendas ou sacrificando ao seu deus algo que lhe custe caro, muitos crentes também podem estar tentando aplacar esse grito de forma errônea, ou sem estarem entendendo todos os benefícios da salvação, ou, ainda, querendo aprofundar esse tema. Daí a necessidade de estudarmos o significado da salvação em Cristo Jesus.

Para livrar-se desses medos anteriormente descritos, o homem procura criar preceitos morais e éticos5 que limitam sua esfera de ação, definindo o que é certo e o que é errado. Quando transcende esse limite, ele sente-se culpado e condenado. Quando se comporta dentro desse limite, pode sentir-se falsamente bem. Alguns círculos religiosos têm procurado satisfazer essa ansiedade traçando para si limites mais estreitos, ou seja, quanto maior seu sentimento de culpa e condenação, mais eles tentam, com isso, amenizar sua consciência. Tal situação pode produzir sujeitos neuróticos e doentes, que muitas vezes não conseguem viver a plenitude da salvação e nem se contentam enquanto os outros não se tornarem como eles. Abusados, tornam-se abusadores da liberdade dos outros e vice-versa, num constante círculo vicioso de proselitismo doentio.

O crente precisa transferir esse apelo para Cristo para livrar-se do legalismo e da culpa. Todos os falsos deuses e legalismos exigem algo do homem para aplacar a ira desse “deus”, mas o Deus verdadeiro fez o contrário: Ele deu a si mesmo em resgate da humanidade! (cf. Gl 1.4)

1. O CONCEITO BÍBLICO DE SALVAÇÃO

A palavra salvação em latim é composta por salvare (tornar seguro) e por salus (boa saúde, ajuda). Disso, é oriundo o cumprimento latino “salve” como um desejo de boa saúde. Portanto, salvação é um termo abrangente cujo significado evoca bem-estar físico, mental, social e espiritual, justamente o que a Bíblia diz ser cura, redenção, remédio, completude, inteireza, integridade e integralidade. “Salvação significa a ação ou resultado de livramento, preservação de algum perigo ou enfermidade, subentendendo segurança, saúde e prosperidade.”6  A salvação não é uma ideia ou um projeto apenas; é uma pessoa.
É o próprio Jesus, o próprio Deus quem se dá. Em sua presença todos os debates intermináveis que despertam em nós o sentimento de culpa, todas as diferenças moralistas e nossas defesas contra os julgamentos de outros, tudo isto se esvai. [...] O remorso é silenciado pela sua absolvição. Ele substitui o remorso com uma simples pergunta, aquela que fez para o apóstolo Pedro: “Tu me amas?” (Jo 21.15).7

Tanto os nomes de Deus e de Jesus no hebraico têm semelhanças com a palavra salvação, que é yeshü‘â (livramento, facilidade). Yahweh é Jeová em Êx 14.13 e combina esse nome com o anterior para designar livramento. Yehoshua significa Josué, que é derivado de Yeshua (Jesus), que significa “Yahweh é a salvação”. Portanto, há uma semelhança semântica muito interessante que designa Jesus como o Salvador. “E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (1 Jo 4.14). A palavra para “paz”, em hebraico shãlôm, cujo significado é completude, saúde, bem-estar, harmonia, paz e algo que não foi violado, tem raiz comum com a palavra “salvação”.

O sentido original de salvação (de salvus, “curado”) pode ser interpretado como cura. A humanidade precisa ser curada do pecado. Nesse sentido, curar significa reunir Deus e o ser humano, que estão separados um do outro, e superar a divisão e a inimizade entre as pessoas e Deus. É exatamente por isso que Jesus disse à mulher que foi curada por tocar na vestimenta dEle: “Filha, a tua fé te salvou” (Mc 5.34).

Salvação” tem origem também na palavra grega sóter. O vocábulo “soteriologia” é um termo teológico composto por duas palavras gregas: sōtēria que significa “salvação, cura, recuperação, redenção, remédio, bem-estar”, e do substantivo logia, cujo significado primário é “estudo, tratado ou ensino”. Em sentido literal, soteriologia é “o estudo, ensino, ou tratado acerca da salvação”. O substantivo grego soteria ocorre cerca de quarenta e cinco vezes nas Escrituras Neotestamentárias, enquanto o verbo “sōzō” (salvar, conservar do mal, socorrer), ocorre cento e seis vezes.8

Salvação é a saída do estado de pecado para o estado de graça e perdão. O cristão que aceita a Jesus como seu Salvador vive sua vida de forma abundante, ou seja, ele experimenta não apenas a certeza da vida eterna, mas também, já aqui nesta vida, a antecipação do Reino de Deus, podendo viver em paz, em saúde e em prosperidade em todas as dimensões da vida; além disso, ele experimenta também a comunhão com Deus, o perdão e a libertação dos pecados, apazigua sua alma de temores, desfruta a vida em felicidade; ele é nova criatura e esforça-se para compartilhar e implantar as realidades do Reino de Deus em sua vida e no mundo. Salvação significa que Cristo fez a expiação pelo pecador, ocupando seu lugar na cruz (passado); significa que o crente é regenerado e santificado (presente) e será glorificado integralmente (futuro).

Existem várias doutrinas bíblicas relacionadas à salvação; algumas delas serão discorridas neste livro, dentre as quais citamos:do pecado (Rm 3.23); da graça de Deus (Tt 2.11); da expiação (Lv 17.11); da redenção (Ef 1.7); da propiciação (Êx 32.30); da fé salvífica (Ef 2.8); do arrependimento (Mc 1.14-15); da confissão dos pecados (Rm 10.9-10); do perdão dos pecados (Cl 3.13); da regeneração (1 Pe 1.3); da adoção (Gl 4.5-6); da santificação (1 Co 6.11); da eleição divina (1 Pe 1.2); da predestinação dos salvos (Rm 8.29); do livre-arbítrio (Mc 16.16); da justificação (Rm 8.30) e da glorificação futura (Rm 8.30). Os principais aspectos da salvação,10 que serão abordados num capítulo específico, referem-se à regeneração, à justificação e à santificação.

Essas doutrinas podem ser divididas em duas partes, que são:
(1) as provisões feitas por Deus, que incluem a morte, ressurreição, ascensão e exaltação de Cristo; e 
(2) a aplicação das provisões, que são arrependimento, fé, justificação, regeneração, adoção, eleição, santificação, confiança e segurança.11

No Antigo Testamento, a salvação está relacionada a escapar das mãos dos inimigos, à libertação da escravidão e ao estabelecimento de qualidades morais e espirituais (Is 33.22ss;). Portanto, diante de ameaças de calamidade física (Êx 15.25), de perseguição (Jz 15.18; 1 Sm 10.19; 2 Sm 22.3), de escravidão, de doenças e da morte, Deus promete salvação no sentido de libertação (Êx 14.13; 15.2,13), livramento e cura (Is 38.16; 58.8). As narrativas do Antigo Testamento têm em vista demonstrar como Deus intervém na história através do amor e, com isso, fica evidente seu imenso interesse em salvar a humanidade perdida.

A salvação no Antigo Testamento envolve o fato de que, quando há transgressão do povo de Deus e o consequente cativeiro, Deus provê libertação (Ne 9.27; Is 46.13; 52.10). Assim sendo, salvação no A.T aponta para várias figuras e tipos de Cristo como o Messias Salvador. Os personagens de José do Egito, Moisés, Josué, Davi, Isaías e vários reis e profetas apontam para o caráter salvífico que Cristo efetuaria de uma vez por todas na cruz do Calvário.

O sacrifício de Cristo teve um grande sentido salvífico. Foi um favor imerecido da parte de Deus para com os pecadores que deveriam sofrer merecidamente, mas Cristo fez essa substituição: o santo pelos pecadores, o justo pelos injustos. Os sacrifícios do Antigo Testamento tinham sua transitoriedade temporal, mas o de Cristo teve validade eterna, como escreveu o autor de Hebreus: “mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus” (Hb 10.12).

Paulo, em suas epístolas, é quem mais esclarece os conceitos de salvação, mostrando que não há salvação por intermédio da Lei, nem por esforços humanos, mas unicamente pela graça de Deus (Gl 2.16). Cabe ao homem confiar pela fé na retidão de Cristo que o redimiu por sua morte e que o justificou por sua ressurreição (Rm 4.25). Através de Cristo, Deus justifica o pecador sem que este mereça, perdoa o seu pecado, reconcilia-o consigo (Rm 5.11), adota-o em sua família (Gl 4.5), dando-lhe o selo do seu Espírito, fazendo dele uma nova criatura. O Espírito Santo capacita o crente a viver em santidade, mortificando a força do pecado, tornando-o semelhante a Cristo (Rm 8.29), esperando sua salvação completa e gloriosa (Fp 3.21).


2. A IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA DA SALVAÇÃO

A importância da doutrina da salvação dá-se porque Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5). Ele é o único Salvador, e sua obra salvadora abrange todas as dimensões humanas: física, emocional, mental, religiosa, social, econômica, histórica e escatológica. Portanto, algo tão abrangente é de suma importância para ser conhecido por todos os crentes. Ela significa que o crente experimenta uma nova vida em Cristo, onde a salvação é a porta de entrada no Reino de Deus e da vivência das realidades deste Reino, aqui e agora, e que receberá a plenitude dEle na vida eterna. As realidades presentes na salvação no aqui e agora dizem respeito à indelicada posição que o homem ocupa diante de Deus por causa do pecado, que é desafiá-lo em arrogância e “desejo de ser igual a Deus. [Em] asserção de independência humana contra Deus”. 12 O homem encontra-se alienado, fracassado, escravo, rebelde, enfermo e condenado à morte; mas, através da salvação, essa condição é resolvida, dando-lhe condições satisfatórias de viver em harmonia consigo, com Deus e com o próximo. Por melhores que sejam, nem a religiosidade e nem mesmo condições sociais e econômicas favoráveis podem mostrar-se eficazes no combate à angústia do pecado, à culpa e à condenação ao Inferno. Somente a obra salvadora de Cristo, aceita em atitude de fé e confiança, pode trazer alívio a essa terrível condição humana. A salvação de Cristo proporcionou-nos a salvação do Inferno — a chamada morte eterna — e a salvação em relação àquilo que conduz ao Inferno, que é o pecado.

Embora haja na vida do cristão um momento de conversão, de ruptura com uma velha vida e nascimento para uma nova vida em Cristo, é necessário esta ser acompanhada de um sempre maior conhecimento de seus benefícios (1 Tm 2.4). Nesse sentido, deve-se tomar o capacete da salvação e a couraça da justiça (Ef 6.14,17); e preencher a mente e o coração com as verdades e mudanças processadas através da salvação para estarmos livres das investidas de Satanás, que coloca dúvidas, e para compreendermos conceitos e práticas fundamentais da doutrina cristã da salvação e apropriarmo-nos sempre mais dos benefícios espirituais e materiais desta tão grande salvação.

A salvação abrange todas as dimensões da vida; para isso, basta apenas aceitar a Cristo (Rm 10.10) — muitas vezes, seu processo é lento e requer compreensões maiores — é o que chamamos de aperfeiçoamento dos santos. Como a salvação pode ser negligenciada (Hb 2.3), devemos esforçar-nos para conhecer e apropriarmo-nos de todos os seus benefícios, dentre os quais citamos: livramento da condenação do Inferno, libertação do poder do pecado e do poder das trevas (Cl 1.13) para experimentar a redenção em Cristo (1Pe 1.18,19), para cuidar da criação (Rm 8.22), para andar segundo o Espírito (Rm 8.1), para nascer de novo (Jo 3.5) e participar da ressurreição (Cl 3.1).

A realidade da salvação convoca-nos para um agir no mundo, como uma antecipação do Reino de Deus, promovendo a paz, o amor e a justiça numa sociedade caótica e carente de Deus, cujos valores estão cada vez mais deturpados pelos pecados da ganância, do egoísmo, do individualismo, do capitalismo selvagem e de toda variedade de situações que o pecado cria e impõe sobre o homem. Dessa forma, o evangelho torna-se a única solução possível, cabendo àqueles que foram alcançados por ele propagarem essa tão grande verdade a respeito da bondade e do interesse de Deus em proporcionar vida plena a todo ser humano.

Embora a salvação tenha implicações para a eternidade e religue o ser humano a Deus, ela manifesta-se também no tempo presente, na reconciliação do relacionamento do ser humano com o outro, “no pão sobre a mesa, no bem-estar do corpo, numa mente sadia” e num relacionamento saudável consigo e com a criação. “Esta vida humana reconciliada com Deus anda em justiça, amor e na prática do bem (At 27.20,31,34; Rm 1.16; Ef 1.1-14)”. 13

A compreensão da doutrina da salvação nos primórdios era entendida como fuga do mundo, depreciando-se a criação e desconfiando de todas as coisas da vida nesta terra. Hoje, os pentecostais já pensam de outra maneira, sentindo sua responsabilidade que engloba a vida em sua plenitude. O sopro do Espírito, através da educação teológica, tem aberto os olhos para a estética, as artes e as questões públicas e políticas; portanto, uma salvação que tem implicações práticas de construir uma vida melhor. 14 Entretanto, os extremos devem ser salientados, pois uma preocupação com a vida apenas aqui nesta terra tem indícios de Teologia da Prosperidade, o que novamente é uma afronta à obra de Cristo na cruz que, além de preparar-nos uma vida plena aqui na terra, prepara-nos especialmente para a vida além.


3. A SALVAÇÃO PROMETIDA NO ÉDEN

O pecado é a ruptura da comunhão do homem com Deus e a ruptura da comunhão dos homens entre si; é o fechamento do homem sobre si mesmo como multiforme atitude de ruptura com os demais e também com a natureza, a flora e a fauna, promovendo destruição e morte. Essa é a realidade do homem desde que ele pecou no Jardim do Éden. Como consequência natural do pecado, Deus disse que a terra perderia parte de sua capacidade produtiva; por conseguinte, todos os animais e plantas também sofreriam as consequências. Deus ainda disse que tanto o homem quanto a mulher teriam esforços excessivos e dores para organizarem suas vidas fora do Éden e que seus próprios corpos experimentariam as consequências do pecado até mesmo nas situações econômicas e sociais e, por fim, a terrível sentença de morte. Portanto, o pecado foi a pior tragédia para o homem como jamais se presenciou na história.

Num sentido ético, as consequências do pecado foram que: 15 (1) ocorreu a depravação ou corrupção da natureza humana. No pentecostalismo, tal depravação não impede que o homem responda positivamente ao gesto gracioso de Salvação que Deus oferece; (2) originou-se a culpa como obrigação de reparar pelo pecado cometido diante da santidade divina; (3) uma pena teria que ser paga, ocasionando sofrimento e perdas para reparar o dano; outra consequência do pecado foi que, ao se sentirem culpados, o homem e a mulher (4) afastaram-se de Deus, alienaram-se dEle — o que é um estado natural do homem pecador —, mas a salvação em Cristo proporciona o reencontro com Deus religando a comunhão com o Criador, que é necessária e vital para o ser humano.

A partir do momento que pecou, a raça humana passou a expressar e vivenciar a maldade; até então, viviam nus um diante do outro, ou seja, não havia limites para conhecerem um ao outro, e eles podiam relacionar-se com confiança plena; a partir do pecado, eles tiveram que encobrir a maldade do coração para conseguirem relacionar-se. A obra de Cristo permite-nos conviver em verdade e sinceridade, pois a maldade do coração é substituída pela capacidade de relacionar-se em amor, bondade e cuidados como uma consequência prática da salvação.

A resposta que Adão e Eva deram a Deus ao serem questionados por Ele após pecarem aponta para o fato de que o homem é incapaz de resolver o problema do pecado e de sua salvação. Ambos transferiram suas culpas para outros, e foi justamente essa a solução que Deus já havia providenciado: a substituição. Naquele instante, Deus transferiu a culpa para um animal inocente, cuja pele foi usada para cobrir a nudez, o qual simbolizava Cristo, que seria o sacrifício perfeito para salvar a raça humana e cobrir a nudez do pecado. Deus anunciou no Éden o que é chamado de protoevangelho, ou seja, a primeira vez na história humana em que é proclamado que Deus daria um jeito definitivo para a queda do homem. Deus não abandonou o homem, pois sabia que este não sobreviveria nesse estado, que lhe rouba toda a alegria e vitalidade. O intento de Satanás não ultrapassa a tentativa de ferir o calcanhar do homem, mas Cristo, através de sua salvação outorgada na cruz, esmaga-lhe a cabeça, significando uma solução definitiva para o estado do homem (Gn 3.15). A peçonha do pecado, que Satanás tenta passar ao ser humano quando fere seu calcanhar, é aniquilada pela morte redentora de Cristo. Portanto, Deus promete a salvação ao ser humano apesar de sua condição de rebelado, de pecador e de inimigo de Deus por causa do pecado. Ainda mais: Deus pode realizar o que promete, pois Ele é fiel.

O Senhor prometeu salvação ao homem desde que este pecou no Jardim do Éden. A partir desse momento, Deus moveu-se na história humana a ponto de, em todas as suas intervenções, manifestar sua intenção de salvar, curar e preservar a raça humana. Existe a história geral da humanidade como micro-história, protagonizada pelos homens, e também a história da salvação como macro-história, protagonizada pelo próprio Deus. A história humana é emoldurada pela história de Deus e tem a ver com as intervenções que Ele faz de acontecimentos ligados entre si pelo nexo soteriológico/revelacional. Assim sendo, Deus revela-se à humanidade através da história da salvação, a macro-história, cujos eventos são essenciais para que a mensagem do evangelho seja entendida.

Jesus inseriu-se na história da salvação como seu executor, proclamador e mediador, criando a redenção com sua morte. Os apóstolos declararam fé no novo evento divino e interpretaram-no de forma soteriológica. É feita uma nova revelação da história da salvação a Paulo, o qual se sente chamado a expô-la aos pagãos. Tal revelação é a exposição do desígnio divino de redenção (Gl 1.12ss). O apóstolo João dá uma claríssima base histórico-soteriológica em que Jesus ocupa posição central ao longo da trajetória da história da salvação. A Igreja, por sua vez, acolhe o Antigo Testamento no Novo Testamento significando que a fé cristã é fé numa ação divina para a salvação ao longo da história. 16 Assim, o fio vermelho (linha central) de toda a Bíblia é Cristo, de onde decorre toda a história humana. A morte de Cristo na cruz e sua ressurreição são o ápice da história da salvação que Deus vivencia com a raça humana. Nessa morte, todo o amor, misericórdia e bondade de Deus manifestaram-se como um gesto salvífico sem comparações na história.

As intervenções de Deus na história têm como alvo central a revelação de si mesmo ao homem através de seu Filho. Assim, a própria Bíblia, a consciência e natureza e, finalmente, Cristo, são a revelação de Deus na história. As intervenções de Deus na história da humanidade são sempre cheias de amor, bondade e justiça, inclusive as intervenções particulares (histórias individuais de cada um). As suas intervenções vão muito além da fé pessoal naquilo que Ele é capaz de fazer, ou seja, elas extravasam o limite de fé. Se nossa fé pessoal fosse limitada, Deus deixaria de ser Deus, pois seu agir vai muito além de nossa capacidade de crer, e não haveria história da salvação para contar.

Segundo Oscar Culmann (1902­–1999), toda a história da salvação está virtualmente contida num único evento: no fato de que todo o passado da história da salvação tende para essa intervenção; dela brota todo o presente e representa todo o futuro da redenção, ou seja, para a morte de Cristo na cruz, inaugurando o “já agora” da redenção, quando estamos na fase intermediária da salvação definitiva chamada de “ainda não” escatológico. A morte de Cristo na cruz foi a batalha decisiva da história da salvação, mas a vitória final será dada no fim da história. Dessa forma, vive-se, na atualidade, na tensão (spannung) aflitiva e hostil empenhada pela força das trevas e do mundo entre o “já agora” e o “ainda não”. 17 A morte de Cristo, embora sendo o centro da história, não é o seu fim; porém, profeticamente, tem caráter final, conclusivo, sendo o início da vitória final. Em Cristo, a salvação de Deus revela sua integralidade e torna-se visível. 18

Deus faz a macro-história acontecer quando cria todas as coisas e intervém quando for preciso. A título de exemplificação, ele interviu: quando do sacrifício temporário para o pecado original; para proteger Caim; no Dilúvio, para refrear o mal; na Torre de Babel, para evitar o caos; no chamado de Abraão e nascimento de Isaque; na ascensão de José, para preservar seu povo da fome; na liberação do Egito com milagres evitando a opressão de seu povo; no provimento das necessidades de Israel na travessia do deserto; na conquista da Terra Prometida; na escolha de Davi e de sua linhagem como rei; no envio de profetas que avisaram seu povo da destruição e do cativeiro; na ida para o cativeiro, para eliminar a idolatria de seu povo; na ascensão de Ester a um trono pagão para proteger seu povo; na libertação do cativeiro babilônico; tudo isso visando à sua maior intervenção na história humana: o envio de seu Filho ao mundo. O Senhor interveio, ainda, na descida do Espírito Santo em Pentecostes; na disseminação do evangelho aos gentios através de Paulo; na capacitação da igreja para a revelação de Jesus Cristo na terra; no chamamento particular de cada um para a salvação; na escolha e chamado para o ministério de cada um. Ele, da mesma forma, intervirá na volta de Jesus para arrebatar seu povo e também quando se fizerem novas todas as coisas e, enfim, morarmos para sempre com Ele na nova Jerusalém.

Existem três instâncias humanas que a promessa de salvação opera. Temos a passada e instantânea, que se refere tanto ao sacrifício efetuado temporalmente na cruz no tempo passado e a imposição do alcance dessa morte no pecador agora redimido que confiou em Cristo para o perdão e que, assim, torna-se filho de Deus e co-herdeiro com Cristo (Cl 1.22). A segunda instância é a presente e progressiva, cuja ação santificadora do Espírito demonstra em atitudes, palavras e ações (Fruto do Espírito) o que aconteceu internamente no passado (Fp 3.12-13; 2Pe 3.18). A terceira instância é a futurista e escatológica, que é a finalização definitiva da salvação em que nem o pecado nem a morte terão qualquer domínio sobre o crente e quando estaremos para sempre com o Senhor.

Deus tem poder ilimitado e demonstra sua intervenção na história, apesar de os acontecimentos e catástrofes apontarem, muitas vezes, para o caos. Além disso, o protagonismo humano na história, na maioria das vezes, é destrutivo, tendo em vista sua situação de pecado; todavia, a história da salvação de Deus em Cristo terá um final feliz e tem força sobre os acontecimentos presentes, pois foi efetuado com um alto preço na cruz do Calvário. Cabe aos alcançados por essa salvação utilizar sua capacidade profética de interpretar o tempo presente e denunciar onde os seres humanos violam a história da salvação divina. Os alcançados trabalham em favor do evangelho para que a salvação alcance os confins da terra, os corações mais endurecidos e as situações de miséria humana como, por exemplo, fome, guerras, opressão e destruição, a fim de que os benefícios dessa salvação sejam acessíveis a todos os que sofrem pelas condições precárias da vida humana e também pelas perdas que o pecado causou a toda a humanidade. Ele é antes do início, foi crucificado (passado), reina agora invisível e voltará no fim dos séculos para estabelecer seu reinado eterno.



Fonte: Livro de Apoio - 4º Trim/17 – A Obra da Salvação - Claiton Ivan Pommerening
Lições Bíblicas Adultos 4º trimestre/17 - A Obra da Salvação — Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida – Comentarista: Claiton Ivan Pommerening
Aqui eu Aprendi!

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Relevantes como o Sal, Resplandecente como a Luz

Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” Mt 5.16


TEXTO BÍBLICO - Mateus 5.13-16

13 — Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens.
14 — Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
15 — nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa.
16 — Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.

A Influência Deles (5.13-16)
Jesus usou dois símbolos para descrever a influência que os cristãos têm sobre uma sociedade não cristã. O primeiro foi o sal, e o segundo, a luz.

a) Como o Sal (5.13). O sal possui dois usos — dar gosto e conservar.

1) Alimentos como mingau de aveia ou molhos são muito desagradáveis ao paladar sem sal. Durante a Idade Média, na Europa, quando as pessoas preparavam a maior parte de seu próprio alimento, elas ainda tinham que viajar para os mercados anuais para comprar sal. O sal era considerado um ingrediente absolutamente essencial. Dessa mesma forma, a vida sem Cristo e sem o cristianismo é insuportavelmente insípida. Assim como Cristo revitalizou e deu gosto à vida do crente, cada discípulo, por sua vez, deve fazer o mesmo pela vida de outros.

2) O sal conserva. Antes do advento das caixas de gelo e dos modernos refrigeradores, o sal era um dos principais meios de conservar os alimentos. Quando peixes eram transportados no lombo de burros por cento e sessenta quilômetros de Cafarnaum até Jerusalém, eles tinham que ser abundantemente salgados. Assim, o seguidor de Cristo deve agir como um conservante no mundo. Não se pode deixar de imaginar o que aconteceria com a sociedade moderna, com toda a sua podridão moral, se não fosse a presença da igreja cristã”.

b) Como Luz (5.14-16). Jesus declarou certa vez: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12). Aqui Ele diz aos seus discípulos: Vós sois a luz do mundo (14). Assim como a lua reflete a luz do sol no lado escurecido da terra, a igreja deve refletir os raios do “Sol da Justiça” (Ml 4.2) em um mundo escurecido pelo pecado.

Os cristãos são como uma cidade edificada sobre um monte - uma imagem comum na Palestina. Gostem ou não, eles estão expostos perante o mundo o tempo todo. Não se pode mais escapar de sua influência, assim como ninguém é capaz de fugir de sua própria sombra.

O termo candeia (15) deve ser entendido como “lâmpada”; alqueire deve ser entendido como “medida de cereal” ou “cuba de farinha”; velador deve ser entendido como “castiçal”. Não se usavam velas nos dias de Jesus, mas pequenas lâmpadas de barro do tamanho aproximado da palma da mão de um homem. Muitas lâmpadas do tempo de Cristo foram desenterradas na Palestina. Nas casas sem janelas daqueles dias, a lâmpada deveria ser colocada em um pedestal, ou mais provavelmente em um nicho na parede de barro; ela daria luz a todos aqueles que estivessem na casa. Isto seria literalmente verdadeiro nas casas de apenas um cômodo das pessoas pobres da Palestina. O azeite era o combustível usado nestas lâmpadas.

A luz dos discípulos deveria ser as suas boas obras (16). Se eles brilhassem de forma coerente com aquilo que professavam, ela iria glorificar a Deus. Louvar ao Senhor com a nossa vida é mais importante do que louvá-lo com os nossos lábios. (Comentário Bíblico Beacon. Volume 6: Mateus a Lucas. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2006, pp.56,57).

O viver cristão autêntico é capaz de fazer uma diferença substancial na sociedade, não por meio de palavras, mas através de ações verdadeiras.

Estamos iniciando uma nova lição da Escola Bíblica Dominical sob o título “Seguidores de Cristo: Testemunhando numa Sociedade em Ruínas”. As aulas deste trimestre serão desafiadoras, pois teremos a oportunidade de aprender e discutir a respeito dos diversos temas que emergem na sociedade contemporânea. Falaremos sobre questões nacionais, internacionais, políticas, econômicas e muitos outros assuntos que fazem parte do nosso cotidiano, a respeito dos quais somos chamados a dar respostas contundentes à luz das Escrituras e das convicções cristãs.

Aproveite estas lições para instigar os alunos a serem relevantes e resplandecentes nesses tempos trabalhosos (2Tm 3.1). “Fazer a diferença” não pode ser um mero bordão religioso, e sim o resultado do efetivo testemunho cristão.

INTRODUÇÃO

Jesus foi contundente ao dizer que os seus discípulos eram o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5.13-16). Passados mais de dois mil anos após o Mestre proferir essa majestosa declaração, a responsabilidade que dela se extrai continua a ecoar sobre a vida dos seus seguidores. No decorrer deste trimestre, estudaremos a respeito de vários temas que evocam a aplicação dessa alegoria. Vivendo em tempos de caos, em meio a injustiças, desigualdades e conflitos, a Igreja é chamada a fazer a diferença e a testemunhar, diante dos homens, a relevância da fé cristã.

Nesta primeira lição, aprenderemos acerca do comissionamento que recebemos do Senhor para fazermos a diferença no mundo, mesmo dentro de uma cultura decadente.


I. COMISSIONADOS PARA TRANSFORMAR O MUNDO

1. A riqueza da metáfora.
No contexto do Sermão da Montanha, logo após falar sobre as beatitudes, Jesus declarou que os seus discípulos são o “sal da terra” e a “luz do mundo” (Mt 5.13-16). Ensinador por excelência, o Mestre valeu-se de metáfora, extraída das práticas comuns à vida, para transmitir um rico ensinamento a respeito do testemunho cristão no ambiente social. A alegoria empregada nos fala sobre um aspecto essencial da missão da Igreja na Terra: a sua presença ativa e transformadora na sociedade.

2. Comissão cultural.
Depreendemos da declaração de Jesus que ser sal e luz não é mera faculdade conferida à sua Igreja, é imperativo. Além da Grande Comissão (Mc 16.15), pela qual a comunidade cristã recebeu a incumbência de proclamar o evangelho e fazer discípulos, foi-nos outorgada também a comissão cultural — a chamada para salgar e iluminar a cultura do mundo. Isso significa tanto confrontar as culturas que se opõem ao evangelho, quanto produzir cultura de qualidade, para exaltação do nome do Senhor. Tal determinação está em sintonia com o mandamento que o Criador deu ao primeiro casal para sujeitar a terra e dominar sobre as demais criaturas (Gn 1.28). Surge daí a responsabilidade ética e espiritual de cuidarmos da criação de Deus de maneira zelosa, o que compreende aplicar os valores e princípios bíblicos em todos os setores da sociedade.

3. O poder impactante do Evangelho em tempos sombrios.
Apesar de vivermos em uma cultura decadente, caótica e sombria, o povo de Deus é capaz de testemunhar a graça divina e transformar a realidade social, política e econômica da presente era. Tal transformação se dá primeiramente com a correta compreensão de que o mundo jaz no maligno (1Jo 5.19), mas não lhe pertence. O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos (2Co 4.4). O Inimigo de Deus, depois da Queda, intrometeu-se na Criação e agora tenta subjugá-la. Entretanto, com a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, o Criador contra-atacou mostrando que intervém e que tem o controle da História. Além disso, Ele nos comissionou para fazer a sua obra. Assim vivendo a dimensão presente do Reino, o povo de Deus pode influenciar o mundo com o poder do evangelho (Rm 1.16).

Apesar de vivermos em uma cultura decadente, caótica e sombria, o povo de Deus é capaz de testemunhar a graça divina e transformar a realidade social, política e econômica da presente era.


II. RELEVANTES COMO O SAL

1. “Vocês são o sal da terra”.
O sal é um elemento útil na culinária. Podemos usá-lo tanto para dar sabor quanto para conservar os alimentos. Ao dizer que os discípulos são o sal da terra, Jesus destaca o papel relevante que podemos exercer em seu nome na sociedade. Quando o evangelho é pregado e vivido em toda a sua pureza, a Igreja torna-se o tempero gracioso para um mundo decadente (Ef 3.10,11; 1Pe 2.9).

Imagine como seria a história da humanidade sem o tempero dos crentes sobre a face da terra? Através dos séculos, encontramos vários exemplos da influência transformadora da Igreja no mundo: a Reforma Protestante foi um marco divisor da história mundial; o Avivamento Wesleyano do Século XVIII afetou poderosamente a história e a cultura britânica; o Avivamento Pentecostal moderno iniciado na Rua Azusa tem promovido, até hoje, resultados extraordinários para a civilização. Todos esses eventos demonstram que Deus se importa com a história e nela intervém com a sua soberana vontade.

2. Cadê o sabor do sal que estava aqui?
“E se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens” (v.13). Aqui o Mestre adverte do perigo de se perder a essência do sal. Quando possui sabor, o cristianismo é realmente útil para atender às diversas necessidades do homem. Porém, insípido, se resume à mera religiosidade formal, inútil para promover qualquer mudança. Guarda-nos, Deus, de perdemos o sabor de Cristo em nossas vidas, tornando-nos servos inúteis (Mt 25.30) ou árvores infrutíferas (Jo 15.1). Devemos estar temperados com a graça!

3. Não confunda!
Não é correto associar relevância social da Igreja com o seu crescimento numérico, pois nem sempre quantidade representa qualidade espiritual. Se o aumento da população evangélica não for fruto de genuíno avivamento pela Palavra, não haverá testemunho público impactante. Por outro lado, mesmo em pequena quantidade, cristãos comprometidos com o Reino fazem a diferença onde estiverem, assim como ocorreu com a Igreja Primitiva. Apesar de ser minoria, cheios do Espírito Santo, os crentes do primeiro século davam grande testemunho da fé em Cristo (At 4.33).

Relevância também não significa ativismo social e político dos crentes. A utilidade cristã na esfera pública ocorre de maneira natural, como consequência da vivência contínua e duradoura dos discípulos sob o senhorio de Cristo. Afinal, a Igreja não é uma organização, é um organismo vivo (1Co 12.12)!

Cabe realçar, por fim, que a busca por relevância social jamais pode nos fazer esquecer da vocação evangelística da Igreja (Lc 9.2; 1Co 9.16). A transformação social somente ocorre após a redenção das pessoas a Cristo!

Não é adequado associar relevância social da igreja com o seu crescimento numérico, pois nem sempre quantidade representa qualidade espiritual.


III. RESPLANDECENTES COMO A LUZ

1. Devemos ser como “astros” no mundo.
Na Física, luz é uma onda eletromagnética. Mas, fique tranquilo. Certamente não era sobre isso que Jesus estava se referindo quando disse que os seus discípulos são a luz do mundo. O Mestre tinha em mente a função iluminadora, resplandecente da luz. O princípio aqui aduzido é de que a comunidade cristã é o luzeiro moral e espiritual de Deus neste mundo tenebroso. Em meio às trevas morais que empalidecem e ofuscam a vida contemporânea, a Igreja faz raiar o brilho da esperança. Com efeito, nosso compromisso com Cristo deve nos levar a viver de uma maneira tal que sirva de modelo para as demais pessoas. O apóstolo Paulo expressou essa verdade ao dizer que devemos ser “irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandecemos como astros no mundo” (Fp 2.15).

2. Não esconda a sua luz!
Para cumprir a sua finalidade, a lâmpada não pode ficar escondida. Ela precisa ser posta em local propício para que suas ondas se propaguem em todas as direções. Igualmente, os filhos de Deus são chamados a reluzir amplamente, fazendo-se notar em todos os segmentos. Ao restringirmos a dimensão da nossa espiritualidade somente aos limites da Igreja e do lar, escondemos a luminosidade que resplandeceu em nossos corações (2Co 4.6) e sobre a qual é-nos exigido testificar. Se a nossa vida é completamente iluminada pelo Senhor, não tendo trevas em parte alguma (Lc 11.36), então o brilho da nossa fé é igualmente integral e abrangente, capaz de alumiar o mundo além da religião, o que inclui as grandes áreas de influência do mundo: economia, comércio, direito, meios de comunicação, artes, educação, governo e política.

3. Luz Pentecostal.
É significativo observar que o símbolo do batismo com o Espírito Santo e do pentecostalismo é o fogo, em alusão a Atos 2.3. Além de aquecer, a chama irradia luz. Consequentemente, a espiritualidade pentecostal não se restringe a um gueto religioso; ela é capaz de impactar o mundo no poder do Espírito Santo e fornecer uma visão distinta sobre a sociedade, iluminando-a. Podemos afirmar que a fé pentecostal tem sempre algo a dizer, seja nos degraus do templo de Jerusalém (At 2) ou no Areópago de Atenas (At 17).

4. Resplandecentes para a glória de Deus.
Jesus concluiu o ensino a respeito do sal e da luz enfatizando o propósito final do testemunho relevante dos discípulos diante dos homens: “(...) para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está no céu”. Fica claro que a iluminação cristã no mundo não é algo para a autoglorificação da Igreja. Esta não existe para atrair os holofotes da fama, mas para ser como o farol, que irradia luz e serve como norte para as pessoas, para a glória de Deus!

A Igreja não existe para atrair os holofotes da fama, mas para ser como o farol, que irradia luz e serve como norte para as pessoas, para a glória de Deus!

CONCLUSÃO

O intuito desta lição introdutória foi explicitar o significado da metáfora de Jesus sobre o sal e a luz. A alegoria enfatiza a presença ativa e transformadora da Igreja na sociedade. O sal preserva e dá paladar; representando a relevância cristã no mundo. A luz resplandece nas trevas, em alusão ao testemunho moral e espiritual dos crentes diante dos homens. Com base nessas premissas, nas lições seguintes veremos como a fé cristã encara e responde aos vários problemas sociais, éticos e políticos que florescem nestes tempos de crise e calamidade moral. Embora o cenário seja sombrio, não há motivos para desespero. Afinal de contas, além de encontrarmos nas Escrituras as respostas para as questões da atualidade, nossa esperança está em Cristo!


Fonte: Lições Bíblicas CPAD - Jovens - 4º Trimestre de 2017
Título: Seguidores de Cristo — Testemunhando numa Sociedade em ruínas - Comentarista: Valmir Nascimento
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terça-feira, 26 de setembro de 2017

A origem da palavra 'Amém'

Você conhece a origem da palavra 'Amém'?


Utilizada por religiosos de todo o mundo, palavra é usada da mesma maneira que os hebreus faziam no passado.

A palavra “amém” é um dos raros exemplos de palavras que mantiveram seu significado original quase imutável por milênios, mesmo após ser adotada por línguas das mais diversas famílias linguísticas. No entanto, você conhece a sua origem?

A palavra em hebraico אָמֵן (āmēn) pode ser traduzida literalmente como “espere por isso”. No entanto, o seu uso, desde alguns dos primeiros textos judaicos, apresenta o significado “que assim seja”, no sentido de reforçar a veracidade de uma declaração, ou de concordância com o seu conteúdo.

Ao longo dos séculos, a palavra acabou sendo transportada para diferentes línguas, mantendo este mesmo significado. Assim, hoje é possível ouvir “amém” sendo utilizada com o mesmo significado por católicos, judeus e muçulmanos de qualquer nacionalidade.

CURIOSIDADES
  • Originada no hebraico, a palavra “amém” chegou ao grego e, posteriormente, ao latim quando teólogos gregos traduziram a Bíblia para o idioma. Posteriormente, a palavra chegou também ao árabe e ao inglês.
  • Um dos diversos nomes atribuídos a Jesus na Bíblia é “o Amém” em (Apocalipse 3:14), em que o profeta “é descrito como a testemunha fiel e verdadeira”.
  • A palavra hebraica “amen” deriva de “amán”, do mesmo idioma. Alguns estudiosos acreditam que esta palavra seria derivada de um antigo deus egípcio chamado Amum (que, em alguns casos, aparece chamado de Amen). No entanto, a maior parte dos especialistas acredita que isso não passa de uma mera coincidência.
  • A última palavra da Bíblia é Amém. “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém” (Apocalipse 22:21)

Fonte: Today I Found Out  via Mensagem Edificante para Alma - Josiel Dias

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domingo, 24 de setembro de 2017

Rosh HaShaná: comemorando o ano 5.778

Rosh HaShaná: Judeus comemoram o ano de 5.778


Data marca o período de avaliação da vida e arrependimento

A celebração do Ano Novo Judaico, o Rosh HaShaná ("Cabeça do Ano", em Hebraico), teve início ao pôr do sol da quarta-feira, 20 de setembro. Comemorada em todo o mundo, a celebração dura dez dias, e culmina com o dia do Perdão, o Yom Kippur, quando os judeus praticantes fazem jejum de 25 horas, acompanhado de orações nas sinagogas.

Enquanto o mundo segue o calendário cristão e está 2017 depois de Cristo, os judeus comemoram o início do ano 5778 do seu calendário. Segundo a tradição, ele teria se iniciado no dia da criação do homem e do mundo.

Leonardo Alanati, rabino da Congregação Israelita Mineira, ensina que o Ano Novo Judaico difere do tradicional réveillon dos brasileiros. "Na noite do Rosh HaShaná, os judeus vão à sinagoga orar e ouvir o toque do shofar, uma espécie de berrante feita com chifre de carneiro. Depois das orações, as famílias se reúnem para jantar, trocam presente, flores e consomem alimentos simbólicos. Apesar de o significado ser totalmente diferente, o espírito se assemelharia mais ao do Natal em outras culturas", explica.

O rabino Leonardo enfatiza: "O Ano Novo Judaico passa uma dupla mensagem. De um lado, felicidade, paz e saúde. De outro, representa uma reavaliação de cada um e uma oportunidade para pedir perdão e iniciar um novo ciclo".

O Shaná Tová, saudação que significa "um bom ano" marca esse período do ano especial para os judeus, orações são mais longas e são feitos 100 toques do shofar. Os dez dias entre "RoshHaShaná" e o "Yom Kipur", são chamados de "Iamim Noraim" (dias temíveis). Nesse período, os israelitas continuam a fazer o balanço dos atos passados e comprometem-se com a mudança e o arrependimento, explica Marcus Strozberg,  presidente da Sociedade Israelita do Estado do Ceará.

Marcus enfatiza que o calendário judaico é lunar, por isso a data é comemorada em dias diferentes todos os anos, mas sempre na mesma época. Segundo a tradição judaica, Adão e Eva foram criados no primeiro dia do mês de "Tishrei", que foi o sexto dia da Criação.


No calendário judaico existem doze meses no ano, e há doze Tribos em Israel. Cada mês do ano judaico tem sua tribo representativa. O mês de Tishrei é o mês da Tribo de Dã. Isto tem um significado simbólico, pois quando Dã nasceu, sua mãe Lea disse: "Deus julgou-me e também atendeu à minha voz." Dan e Din (Yom HaDin, Dia do Julgamento) são ambos derivados da mesma raiz, simbolizando que Tishrei é a época do Julgamento Divino e do perdão.

Fonte: Gospel Prime


Rosh Hashaná ocorre no primeiro dia do mês de Tishrei, primeiro mês do ano no calendário judaico rabínico, sétimo mês no calendário bíblico e nono mês no calendário gregoriano.

Começa ao pôr do sol na véspera de 1º de Tishrei (20 de setembro de 2017) e termina após o anoitecer em 2 de Tishrei (22 de setembro de 2017).

A Torá refere-se a este dia como o Dia da Aclamação (Yom Truá Levítico 23:24).

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sábado, 23 de setembro de 2017

Sobre a Família e a sua natureza

Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” Gn 2.24

Sobre a família e a sua natureza

Há uma tentativa clara de desconstruir o modelo bíblico de família. A ideia é demolir conceitos tradicionais de masculinidade e de feminilidade. Assim, se desconstrói o casamento, a família tradicional e, por fim, o modelo de nossa sociedade para dar lugar a outro que ninguém sabe onde dará. Por isso, sugerimos que você pesquise sobre a Ideologia de Gênero, talvez o maior perigo moderno para a família tradicional.

É preciso compreender que a trincheira principal dessa ideologia é a Educação, isto é, as escolas formais onde crianças e adolescentes estudam. Abaixo, apresento alguns conceitos importantes para o professor e a professora darem continuidade à pesquisa.

O que é Ideologia de Gênero?

Para os defensores da Ideologia de Gênero, a sexualidade humana é vista como uma CONSTRUÇÃO SOCIAL, que para eles significa que o ser humano nasce “sexualmente neutro”. Podemos dizer que essa ideologia surgiu a partir da chamada Revolução Sexual, na década de 1960, onde o corpo e o sexo se desvinculam da função familiar. Antes, a sexualidade era vivida em sua plenitude no matrimônio, hoje essa sexualidade se encontra completamente desvinculada do matrimônio. Nesse aspecto, os proponentes dessa ideologia não mais veem o corpo como algo que lhe é dado de acordo com seus aspectos biológicos e pessoais, mas como uma construção pessoal adquirida a partir da sociedade e da cultura que o ser humano vive. Então, o conceito de masculinidade e feminilidade se dá, não mais pelo curso natural do desenvolvimento humano-biológico, mas pela construção social e cultural da sociedade. Esse conceito quando estimulado em crianças e adolescentes é uma tragédia para construção da identidade pessoal deles.

O que fazer?

• Conhecer o assunto por intermédio de livros e sites especializados, posicionando claramente contra a proposição do movimento de Ideologia de Gênero.

 Conhecer o que as escolas de nossos filhos estão ensinando e exigir o direito de que seus filhos não sejam doutrinados em sala de aula.

 Ter a consciência que esta é uma ideologia formada para manipular pessoas, pois não há outros gêneros que não o Masculino e Feminino, ou seja, homem e mulher.

 Investir na educação religiosa dos nossos filhos e filhas, mostrando-os que Deus criou o ser humano para a sua glória, implantando nele a sua Imagem: “Façamos o ser humano conforme a nossa imagem e semelhança” (Gn 1.26-28).  Revista Ensinador Cristão nº71

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Leitura Bíblica em classe: Gênesis 2.18-24

O casamento foi instituído por Deus e ratificado por nosso Senhor Jesus Cristo como união entre um homem e uma mulher, nascidos macho e fêmea.

A família tradicional é uma herança da civilização ocidental. O encontro entre o Cristianismo (ética judaico-cristã), a filosofia grega e o direito romano delineou e modernizou a mais antiga instituição que remonta a criação divina: a família. Há forças no mundo contemporâneo que têm interesses em desestabilizar o conceito tradicional de família, pois fazendo isso, ataca o coração dos valores éticos do Ocidente, por consequência, a derrubada da fé cristã para colocar em seu lugar uma ideologia que todos sabemos no que dará. Quando alguém afirma que a masculinidade e a feminilidade não são naturais (ignorando até a própria biologia), mas construída socialmente ao longo da história, é isso que está em jogo. Nunca houve na história do mundo um ataque tão frontal aos fundamentos da família. Um assunto urgente que merece nossa atenção e estudo!

INTRODUÇÃO

A família é assunto de interesse geral, de cristãos e não-cristãos, de religiosos e não-religiosos. Trata-se de um projeto de Deus para os seres humanos. O livro de Gênesis traz um breve e singelo relato de como tudo isso começou e também revela o propósito de Deus para a família. Não existe prazo de validade para os princípios estabelecidos nessa narrativa e eles continuam valendo na atualidade. Esse é o enfoque da última lição.


I. A ORIGEM

1. O homem e a mulher.
No relato da criação, ambos aparecem juntos, mostrando a igualdade ontológica do homem e da mulher. O texto de Gênesis 1.27 diz: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou”. A palavra hebraica usada para “homem” aqui é adam, que serve tanto para o nome do primeiro homem que Deus criou, como também para “homem” no sentido de representante do ser humano, semelhantemente à palavra grega anthropos. A expressão final, “macho e fêmea os criou”, mostra que adam, nesse versículo, diz respeito ao ser humano. Isso revela a igualdade de ambos, macho e fêmea, homem e mulher, como portadores da imagem de Deus; a diferença está na sexualidade (1Pe 3.7). Ao reunir esse casal, Deus instituiu o que chamamos hoje de casamento.

2. A formação da mulher.
A Bíblia nos conta como a mulher surgiu na história humana. Curiosamente, a formação da mulher não aparece nos antigos registros do Oriente Médio. No relato da criação, em Gênesis, a formação do homem só aparece uma vez (Gn 2.7), e seis vezes a da mulher (vv.18-23). O termo “adjutora” (v.18) quer dizer “auxiliadora”, conforme vemos na Almeida Revista e Atualizada e “ajudadora”, de acordo com o que registra a Tradução Brasileira. Isso não inferioriza a mulher, pois os termos “auxiliador” ou “ajudador” devem ser entendidos à luz do contexto (Sl 54.4; Hb 13.6). O termo hebraico, kenegdó, “como diante dele” (v.18b), tem a ideia de “igual e adequado” (Gl 3.28). O relato da criação pressupõe que Deus colocou o homem com prioridade governamental (1Co 11.3), mas que ambos os sexos, homem e mulher, são mutuamente dependentes (1Co 11.11).

A origem da família remonta a criação do homem e da mulher como a base da formação familiar.

Leia também: 

SUBSÍDIO DIDÁTICO
Família, Projeto Divino
Na sociedade hebraica a família era o âmago da estrutura social. Na Tanach, exclusivamente em Berê'shîth (Gênesis), encontramos o princípio judaico-cristão da família no texto que diz: ‘E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele. Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada. Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam’ (Gn 2.18,21-25). Segundo o filósofo Lévi-Strauss, o princípio da família é dado pelo texto da Escritura que diz: ‘deixará o varão o seu pai e a sua mãe’, regra infrangível ditada a toda a sociedade para que possa estabelecer-se e durar” (BENTHO, Esdras Costa. A Família no Antigo Testamento: História e Sociologia. RJ: CPAD, 2011, p.23).


II. A FAMÍLIA

1. Conceito de família entre os antigos hebreus.
O lar é parte do clã, este parte da tribo e esta, por sua vez, parte do povo/nação (Js 7.16-18). O lar constitui-se de pai, mãe e filhos (Sl 128.1-4), é a família nuclear. Considerando que a base da economia do Antigo Israel era a agricultura e o pastoreio, a família nuclear com poucos membros via-se em dificuldade por falta de mão de obra para o sustento da casa. Por isso, ela poderia se estender com parentes próximos — tios e primos — ou com duas ou mais gerações vivendo juntas (Gn 24.67). As casas descobertas pelos arqueólogos mostram que essa família ampliada era formada, em média, de 15 membros. Quando se tratava de famílias ricas, acrescentavam-se servos e estrangeiros, como no caso de Abraão (Gn 14.14), ou como previsto na legislação mosaica (Êx 23.12). Saul, por exemplo, aparece na Bíblia com a menção de seu pai, avô, bisavô, trisavô, e também da tribo (1Sm 9.1,2).

2. O papel da mulher na sociedade israelita.
A tarefa do homem e da mulher era a mesma, sendo que a mulher cuidava da casa e ajudava o marido nos trabalhos diários para sustento da família. A sentença divina por ocasião da Queda no Éden diz: “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” (Gn 3.16). Isso significa que a mulher se dedicaria ao trabalho da mesma forma que o homem, e também à maternidade; a mulher não é inferior, mas o homem é o chefe e pastor do lar. Ela levava a criança no ventre e continuava exercendo suas tarefas. Considerando questões médicas, sanitárias e nutricionais, a gravidez era um período de alto risco para a mãe e para o bebê.

A família nuclear constitui-se de pai, mãe e seus filhos, onde homem e mulher exercem funções distintas.

Leia também: 

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
A Constituição do Núcleo Familiar
A constituição do núcleo familiar a priori foi composta por um homem e uma mulher. Mais tarde, acrescentou-se ao casal os filhos gerados dessa união. A partir do nascimento dos primeiros filhos, a família tornou-se o primeiro sistema social no qual o ser humano é inserido.
A primeira família, formada apenas por duas pessoas, tornou-se numerosa por meio dos filhos que, ao serem gerados, se inseriram ao núcleo familiar assumindo diversos papéis dentro do sistema: filho, irmão, neto, primo, etc. A família não foi criada, portanto, como um sistema fechado, mas dinâmico, e, com o passar do tempo, o número de seus membros foi aumentando gradativamente, e destes formando novos núcleos familiares ligados por consanguinidade e afinidade. Para mencionar mais uma vez Lévi-Strauss, este considerava que o grupo familiar tem sua origem no casamento. Este núcleo é constituído pelo marido, pela mulher e pelos filhos nascidos dessa união, bem como por parentes afins aglutinados a esse núcleo.
No contexto desse sistema familiar, cada membro do grupo passa por uma série de funções ou papéis sociais determinados tanto por fatores exógenos, que estão ligados aos cenários sociais próximos a ele, como por endógenos, ligados a idade, sexo e maturação psicológica” (BENTHO, Esdras Costa. A Família no Antigo Testamento: História e Sociologia. RJ: CPAD, 2011, pp.25-26).


III. PRINCÍPIOS BÁSICOS

1. Casamento.
É a mais fundamental de todas as relações sociais. Trata-se da união íntima e verdadeira entre duas pessoas de sexos opostos que manifestam publicamente o desejo de viverem juntas mediante um pacto solene e legal. Não existe no universo, entre os seres vivos inteligentes, uma intimidade maior do que a que existe entre marido e mulher, exceto apenas entre as três Pessoas da Trindade. Deus estabeleceu a família para companheirismo mútuo e felicidade, para uma convivência amorosa. A declaração: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2.24), apresenta três princípios básicos sobre o casamento: monogamia (1Co 7.2), heterossexualidade (Gn 4.1,25) e indissolubilidade (Mt 19.6).

2. Monogamia.
O termo diz respeito às sociedades que adotam o princípio do casamento de um homem com uma única mulher e vice-versa, conforme estabelecido pelo Criador. As palavras “e apegar-se-á à sua mulher” (v.24) apontam para o princípio monogâmico; o texto não diz “às suas mulheres”, mas, pelo contrário, “à sua mulher”. Essa verdade expressa o pensamento bíblico (1Co 7.2; 1Tm 3.2).

3. Heterossexualidade.
Um dos propósitos divinos na criação do homem e da mulher é a procriação, visando a conservação dos seres humanos na terra: “[...] macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1.27,28). Quando Deus formou a mulher da costela de Adão, a Bíblia afirma: “[...] deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher” (Gn 2.24). Isso mostra que a diferenciação dos sexos assegura as particularidades de cada um na união conjugal, postura necessária à formação do casal. O homem se une sexualmente a sua esposa, como resultado do amor conjugal, não só para procriar, mas para uma vivência afetuosa, agradável e prazerosa (Pv 5.18). O relacionamento sexual aprovado na Bíblia é o de um homem e de uma mulher dentro do matrimônio. O pai e a mãe são o referencial para a formação tanto do menino quanto da menina. Acima de qualquer exemplo, o comportamento estabelecido para o homem e para a mulher deve vir da Palavra de Deus.

4. Indissolubilidade.
A natureza indissolúvel do casamento vem desde a sua origem: “e serão ambos uma só carne” (v.24b). O Senhor Jesus Cristo disse que essa passagem bíblica significa a indissolubilidade do casamento (Mt 19.6). O voto solene de fidelidade um ao outro “até que a morte os separe”, que se ouve dos nubentes numa cerimônia de casamento, não é mera formalidade (Ml 2.14). O casamento só termina pela morte de um dos cônjuges (Rm 7.3), pela infidelidade conjugal (Mt 5.32; 19.9) ou pela deserção por parte do cônjuge descrente (1Co 7.15).

Os princípios básicos da família são o casamento monogâmico, sua indissolubilidade e a heterossexualidade.

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    A natureza indissolúvel do casamento
    “‘Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne’ (Gn 2.24). O Senhor Jesus Cristo disse que essa passagem bíblica significa a indissolubilidade do casamento: ‘Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem’ (Mt 19.5,6). É uma união íntima entre duas pessoas de sexos opostos que assumem publicamente o compromisso de viverem juntas; é uma aliança solene, um pacto sagrado, legal e social”. Para conhecer mais, leia Casamento, Divórcio & Sexo à Luz da Bíblia, CPAD, pp.16,17.


    IV. O DESAFIO DA IGREJA

    1. Institucionalização da iniquidade.
    A tendência humana é desafiar a Deus em tudo; isso vem desde a Torre de Babel (Gn 11.4) e vai continuar até o final dos tempos. E com a sagrada instituição da família não é diferente, uma vez que Deus a instituiu como união entre um homem e uma mulher (Gn 2.24; 1.27,28), o atual sistema de coisas quer institucionalizar a iniquidade ao considerar legítima diante de Deus a união de pessoas do mesmo sexo. É ir longe demais, em uma verdadeira afronta a Deus (Lv 18.22; 20.13). A Bíblia condena a prática homossexual, ou pecado de Sodoma, para usar o termo bíblico (Dt 23.17; Jd 7). O avanço dessa prática é um dos sinais do fim dos tempos (Lc 17.28-30). A Bíblia condena de maneira direta tal estilo de vida (Rm 1.26,27; 1Co 6.10; 1Tm 1.9,10).

    2. A inversão de valores.
    O que se vê hoje é a tentativa de tornar o errado certo e o certo, errado (Is 5.20). O mundo atual está invertendo os valores em busca do hedonismo, ou seja, a procura indiscriminada do prazer, gozo sensual, deleite sexual (1Jo 2.16). Mas essas autoridades vão prestar contas de tudo isso (Is 10.1). Esse também era o desafio da Igreja do período apostólico. O apóstolo Paulo denunciou também essa inversão de valores, dizendo que “mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” (Rm 1.25 — ARA).

    A Igreja de Cristo está diante da institucionalização da iniquidade e da inversão de valores. O desafio é urgente!

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    Os Apelos da Consciência
    O apóstolo Paulo entendeu a ligação entre uma consciência cristã e uma mente espiritual. Ele escreveu: ‘Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo’ (1Co 2.15,16). O cristão que tem a mente de Cristo conhece a sua vontade e seu propósito, por isso ele aprende a viver com uma consciência dos valores morais e espirituais estabelecidos por sua Palavra. Quando praticamos alguma ação, dizemos uma palavra, pensamos algo ou adotamos alguma atitude, devemos agir com uma mente espiritual. Ao avaliar essas várias situações, nossa consciência acenderá sua luz verde ou vermelha, concordando ou discordando; acusando ou defendendo. O julgamento da consciência será de acordo com o senso de justiça que a estiver dominando, se estiver purificada, jamais ela concordará com o erro; se contaminada, ela não conseguirá julgar corretamente. Devemos sempre comparar nossas ações à luz da justiça que a Bíblia apresenta. Nossas ações devem corresponder à uma consciência baseada na Palavra de Deus (2Tm 3.16,17)” (CABRAL, Elienai. A Síndrome do Canto do Galo: Consciência Cristã. Um desafio à ética dos tempos modernos. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2000, p.134).




    CONCLUSÃO

    Diante do exposto, entendemos que Deus criou o homem e a mulher para ser mutuamente dependentes, entretanto, cada um em sua particularidade, para juntos, com os filhos, “a herança do Senhor”, formarem um núcleo familiar. Essa é, então, a primeira estrutura social humana.


    Fonte:
    Lições Bíblicas CPAD Adultos - 3º Trimestre de 2017 - Título: A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Livro de Apoio - Comentarista: Esequias Soares
    Revista Adultos 3ºTrim.2017 - A razão da nossa fé — Assim cremos, assim vivemos - Comentarista: Esequias Soares


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