“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” Jo 14.27
Paz de Deus, antídoto contra as inimizades
O ser humano busca a paz. Todos desejam viver
em paz. Sem paz a vida é difícil, angustiosa, frustrada, amargurada,
traumática, violenta, impossível. A paz é uma espécie de direito natural. Em
tese, todo ser humano nasceu com o direito de viver em paz. Entretanto, a paz é
concomitantemente interrompida, obstaculizada e impedida pelos homens. Quem não
se lembra do longo conflito entre judeus e muçulmanos?! E entre protestantes e
católicos na Irlanda do Norte?!
Atualmente, o conflito mais aterrador do
mundo é a guerra civil na Síria. O Estado Islâmico tem dizimado famílias
inteiras, religiões minoritárias e inimigos políticos, que segundo ele, não
merecem viver. O conflito é tão intenso que um fenômeno na região tem chamado a
atenção: o surgimento da Brigada Babilônia, uma milícia cristã armada de
combate ao terror do Estado Islâmico. Aqui não é o fórum adequado para se
discutir as implicações éticas desse fenômeno, mas é uma simples descrição de
um fato que remonta as consequências da ausência da paz.
Entretanto, por detrás de um conflito bélico
de grandes proporções, está um coração humano impaciente, angustiado e
revoltado a ponto de explodir. Nosso Senhor disse que é do coração que
“procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos e blasfêmias” (Mt 15.19). Logo, não é só em proporções mundiais que
a ausência da paz está presente. Mas principalmente em proporções micros. Aqui,
seu efeito é danoso, terrível. A ausência da paz na família é trágica. Na
igreja local, desvia a motivação espiritual e nos torna carnais. No
relacionamento com o colega, alimenta as rixas e as rivalidades. É uma tragédia
humana! Na maioria das vezes, a busca pelo entendimento se torna ineficaz. Assim,
acordos são desrespeitados e rompidos.
Todavia, a paz que a
Bíblia se refere (do grego eirenè) é a que excede todo entendimento. E a
paz que vem de Deus, que naturalmente não se refere a alguma suspensão frágil
ou promessa superficial de trégua. Ela não depende dos acordos ou dos
acontecimentos impostos pela “legislação ética” do sistema mundano contemporâneo.
Essa paz depende única e exclusivamente de Deus, e para vivê-la não dependemos
do estado externo das coisas que estão ao nosso redor. Filipenses 4.7 mostra
que essa paz guardará o nosso coração e nosso sentimento. É isso que o Espírito
Santo quer fazer na vida de nossos alunos. Boa aula! (Revista Ensinador Cristão nº.69)
A paz, como fruto do Espírito, não promove inimizades e dissensões.
Leitura Bíblica: Efésios 2.11-17
Sabe-se que paz é a ausência de guerra. Vivemos tempos trabalhosos. Em muitos centros urbanos a violência só aumenta e as cidades do interior também têm experimentado este aumento. Na esfera mundial, temos observado muitas guerras (de cunho religioso) no Oriente Médio.
Em Jesus, temos paz. Não estamos falando da paz que o mundo oferece. Estamos falando de uma paz que excede todo entendimento; uma paz com Deus que, mesmo em um mundo cheio de guerras e conflitos, podemos afirmar que vivemos em paz. A verdadeira paz resulta da fé em Deus, porque somente Ele incorpora todas as características da paz. Para encontrar a paz de espírito e a paz com os outros, você precisa encontrar a fé com Deus.
Paz versus Inimizade
Definição sobre a Paz
Em toda a existência do homem o que ele
sempre desejou e deseja é paz, tanto para a cidade como a paz interior. Na
busca pela paz nas cidades, as autoridades têm feito de tudo para que ela
esteja presente, isso aconteceu no tempo de César, ele até conseguiu trazer a
paz para Roma, mas não a paz para a vida interior do homem.
O mundo vive sem paz porque é habitado por
pessoas que vivem dominadas pela natureza pecaminosa, essa posição é defendida
por Tiago: “Donde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto,
a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?” (Tg 4.1).
A falta da paz na cidade tem origem na
ausência de Deus. Paulo disse que quanto mais o homem fala em paz, mais haverá
repentina destruição (1Ts 5.3).
Não é utopia, mas um mundo sem guerra, sem
conflitos armados, sem brigas, com todos vivendo em tranquilidade, só será
possível quando Jesus Cristo reinar e todos os seus súditos estiverem
transformados. Jesus tanto trará a paz para o mundo como a paz interior,
somente Ele tem autoridade para conceder paz (Jo 14.27).
Na busca por uma definição precisa sobre a
palavra paz, estudiosos e filósofos têm procurado descrevê-la de diversas
formas. Na filosofia, alguns ensinaram que para a paz realmente acontecer era
necessário evitar os prazeres e o aumento de bens materiais, pois quanto mais
temos essas coisas, mas se avolumam as perturbações em todos os sentidos.
Ensinaram também que caso uma pessoa deseje
realmente ter paz, não deve deixar que as emoções fujam do controle, nem que
outras pessoas dominem sua vida. Caso isso aconteça, ele facilmente cairá; por
isso, para que não ceda a tais desejos o primordial é controlar a mente, fazer
boas escolhas. Sendo assim, em relação às coisas que estão diante de seus
olhos, ao seu redor, o melhor é manter-se negligente e jamais depender delas.
Na definição filosófica, a paz desejada pelo
homem só seria possível caso ele se mantivesse separado das coisas exteriores,
refreasse seus desejos e se mantivesse desinteressado com o mundo que o rodeia.
Note que a paz proposta pelos filósofos é sem vida e sem alegria, pois exclui o
homem do próprio mundo em que vive e de seus prazeres, como se todo o problema
estivesse nas coisas.
A Bíblia sempre deu ênfase ao homem desfrutar
das coisas deste mundo, posto que tudo o que Deus criou é bom e perfeito (Gn
1.31). Riqueza, poder e prazer no trabalho, todas essas coisas são bênçãos de
Deus para o homem, delas ele precisa desfrutar com alegria.
Não há poder nos objetos para conceder
felicidade e paz. Jesus disse que a felicidade do homem não está na abundância
de bens que alguém possui (Lc 12.15). Na obra de Humberto Rohden, O Pensamento
Filosófico da Humanidade, a felicidade é retratada assim:
O estoicismo é, substancialmente, socrático,
universalista; mas, diversamente dos cínicos, não pensa que a felicidade do
homem consinta em não possuir nada, e sim em que não ser possuído de coisa
alguma, seja de fora, seja de dentro. Pode o homem possuir externamente o que
quiser, mas não deve internamente ser apegado a coisa alguma, de maneira que
suas posses sejam a causa de sua felicidade, ou a falta dessas posses seja a
causa de sua infelicidade. A felicidade não está naquilo que o homem possui,
porém no modo como possui. (ROHDEN, s/d, p.81)
Jesus disse que o homem bom tira do seu
tesouro coisas boas, ao contrário do homem mau, que tudo o que sai de sua vida
será destruidor (Mt 12.35). Os que vivem sob o poder destruidor da natureza
pecaminosa produzirão ações para a morte, mas os que desfrutam da comunhão com
Cristo, tendo a paz como virtude do fruto do Espírito, produzirão um ambiente
de alegria e harmonia.
A Paz
na Definição Bíblica
A Paz no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, a paz é denominada
Shalom, essa é uma saudação normalmente usada no dia a dia com a qual os judeus
se cumprimentam. Na obra do pastor Billy Graham, fazendo uma definição da paz
como fruto do Espírito, ele afirma que:
Paz traz a ideia de unidade, satisfação,
descanso, segurança e tranquilidade. No Antigo Testamento a palavra é Shalom.
Quando encontro algum amigo judeu o
cumprimento com Shalom. E quando cumprimento um dos meus amigos árabes uso um
termo semelhante que na língua deles significa paz, Shalom. (GRAHAM, 2009, p.
222)
A palavra Shalom pode ser entendida como boa
saúde, um bom viver, prosperidade e riqueza (Gn 43.27; Sl 38.3; Jó 15.21).
Para os judeus, esse Shalom é visto como algo
que faz com que a vida se torne uma vida de qualidade, eles não viam a paz
apenas como uma ausência de guerras, uma vez que pessoas podem estar juntas sem
que tenham harmonia, outras podem ter muitos bens, mas não desfrutam da
verdadeira paz. O aspecto positivo da paz, na visão dos hebreus, é aquilo que
age na produção de um bem para todos. Os judeus viam a paz como algo que
contribuía para um estado permanente de felicidade, nela estava presente a
bênção de Deus, de modo que o Shalom não seria uma mera saudação convencional,
mas, sim, um agir divino para a promoção do bem e da felicidade daqueles que
confiavam em Deus (Is 23.6). A Septuaginta carregou o mesmo significado do
judaísmo, em sua forma eirene passou a ser traduzida por tranquilidade,
felicidade, segurança, prosperidade, harmonia, unidade, acordo, quietude e
descanso, certo que tudo isso vinha diretamente de Deus (Is 32.17; SI 4.8).
Quem tem a paz na vida está disposto a viver
bem com todos. Vivendo na paz, Shalom ou eirene, o homem poderá desenvolver
relacionamentos saudáveis com o seu próximo, já que estaria vivendo na paz que
lhe encaminharia para o bem, evitando comportamentos que prejudicasse o seu
próximo. O salmista, querendo incentivar a todos a viverem bem, buscando
relacionamentos estruturados, não diz primeiro: sejam unidos, pelo contrário,
ele começa incentivando a todos a buscarem a paz, e que todos se empenhem
por ela (SI 34.14) ainda que outros não queiram (Rm 12.18). Um homem de Deus
sempre agirá buscando a paz com todos, nas páginas do Antigo Testamento os
homens de Deus sempre procuraram promover a paz com o seu próximo (Js 9.15),
eles agiam dessa maneira porque estavam em paz com Deus (Is 54.10; Jr
29.11).
Ter a paz na vida é algo muito singular,
pois, ainda que os servos de Deus enfrentem problemas, lutas, desavenças e
contrariedades, essa paz concede um bem-estar para a alma, para o corpo e uma
serenidade grandiosa, e os conduzem a procurar viver harmoniosamente com o seu
semelhante.
A Paz no Novo Testamento
Nas saudações do apóstolo Paulo o eirene,
isto é, paz, sempre estava presente; em Romanos 1.7 ele diz: “A todos os que
estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus nosso pai,
e do Senhor Jesus Cristo” (Rm 1.7).
Cháris humin kaí eiréne (Graça a voz e
paz). Pelas palavras finais de Paulo, percebemos que as pessoas às quais ele
falava eram gentios convertidos, que agora estavam separados, ou seja,
separados para viverem os ideais divinos, vivendo em Roma com cristãos
verdadeiros, cheios da graça e paz, que pode soar como uma saudação pessoal,
contudo ela vai muito mais além, indica a ação salvadora de Deus em suas vidas.
Esses cristãos poderiam impactar Roma com o poder do Evangelho que estava em
suas vidas.
Em muitos outros textos Paulo fazia uso de
eiréne como uma saudação (1Co 1.3; Gl 1.3; Fp 1.2; 1Ts 1.1; 1Tm 1.2), deixando
claro aos irmãos que eles poderiam estar sempre bem, porque tinham recebido
tudo o que precisavam para serem felizes. Paulo entendia que essa paz
maravilhosa vinha de Deus por meio da fé (Rm 15.13), e levava os crentes a crer
no gozo divino.
Vivendo na paz que vinha por meio da fé em
Deus o cristão poderia praticar o bem para com todos os homens (Rm 2.10), isso
porque ele desejaria estar em total e absoluta obediência, pois é do Senhor que
vem a tranquilidade para a vida. O homem não pode criar sua paz, Paulo
esclarece que a paz vem de Deus, por isso está acima da mente humana (Fp 4.7).
Paulo sempre falou da importância da paz na
vida do crente, e algo importante quando lemos João 14.27 é que Jesus poderia
ter provido a paz na terra, pois em seus dias a falta de paz era grande, mas
Ele desejou conceder aos seus filhos a sua paz.
Os discípulos de Jesus Cristo tinham muitos problemas, inclusive medo; cremos
que o que eles mais desejariam ouvir do seu Mestre eram as seguintes palavras:
“Eu os farei prosperar, darei boas condições de vida a todos, os melhores
cargos e empregos”, mas, não foi bem assim, antes de morrer dos seus lábios
saíram as palavras mais maravilhosas: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se
turbe o vosso coração, nem se atemorize. (Jo 14.27)
Essa paz presente no coração dos discípulos
acalmou seus medos, suas desesperanças, seus anelos e suas ansiedades, eles
procuraram viver certos de que o eiréne divino lhes conduziria a todo tipo de
bem.
Quem vive na paz de Deus sempre batalha para que tudo concorra para o bem,
Paulo disse que um crente que tem a paz na vida não intenciona criar
dificuldade, mas procura desenvolver relacionamentos harmoniosos porque sabe
que o desígnio de Deus é: que todos vivam em paz (1Co 7.15).
Um casal cristão, que tem a paz de Deus, no momento em que surgir um conflito
não pensará logo no divórcio nem em separação, como os dois tem ciência de que
Deus os chamou para paz, seu alvo primordial é procurar desenvolvê-la. É triste
dizer, mas em muitos lares cristãos as brigas e contendas são constantes,
criando um ambiente de infelicidade, porque a verdadeira paz está ausente.
Jesus morreu na cruz para promover paz no nosso interior e com o próximo (Ef
2.14-17). Paulo diz que Jesus derribou a parede de separação. No meu livro
Cartas da Prisão, tratando sobre esse assunto, escrevo:
A palavra parede no grego é mesótoichon, muro. Note que essa palavra é
composta, mésos fala de meio, ou no meio (Jo 19.18), isso como adjetivo, como
substantivo fica o meio (Mc 7.31), no caso neutro funciona como um advérbio,
nesse caso é usado como preposição com genitivo: no meio (Mt 14.24; Fp 2.15).
Paulo está falando do muro que separava o pátio dos gentios e o dos judeus no
Templo, nessa parede tinha um escrito que advertia aos gentios sob certas
penalidades, inclusive a morte, se eles se atrevessem a entrar no lugar dos
judeus. Essa inimizade o Senhor Jesus Cristo desfez, tudo isso foi feito por
meio da cruz de Cristo, por meio dela todos têm acesso a Deus. (GOMES, 2015, p.50)
A paz que Deus dá aos crentes faz com que os relacionamentos sejam sólidos na
igreja (Ef 4.2), observe que a paz que recebemos divinamente não está limitada
apenas ao nosso interior, como um rio ela se alastra atingindo outras pessoas. É impossível um crente ter a paz de Deus e estar criando confusão, contendas
e brigas na igreja, isso porque a paz de Deus é seu árbitro, é ela que
decide tudo (Cl 3.15).
Quando a paz de Deus está no coração de cada
membro da igreja, as decisões, atitudes, projetos, nada é feito baseado na
busca da autopromoção, nem governado pelo espírito de louvor pessoal, pois quem
decide tudo é a paz de Deus que age como um ser soberano, um juiz que dirime.
O cristão que tem a paz sente-se responsabilizado em promovê-la com todas as
pessoas (Hb 12.14), anelando que os relacionamentos sejam bem construídos, não
cedendo aos desejos carnais na intenção de promover dissidência. Quem tem paz
com Deus busca promover o que é bom, pois já foi justificado (Rm 5.1), o cristão
é consciente que por meio de Jesus foi restabelecida sua paz com Deus (Cl
1.20), como então ele poderá trabalhar para desfazer essa paz? Na paz de Deus o
nosso relacionamento é tanto vertical como horizontal, podemos nos voltar para
o nosso Senhor em qualquer lugar e a qualquer momento, e chamá-lo de Pai, como fez seu Filho Jesus Cristo (Rm
8.15).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Cristo, nossa paz, forma o novo homem
Ao sintetizar tudo o que Deus fez na salvação
por intermédio de Cristo, Paulo diz que Cristo é a fonte da nossa paz
(2.14-18). No contexto de Efésios, isso não quer dizer que Cristo seja a fonte
da paz interior, mas que Ele é o meio de reconciliação entre judeus e gentios e
entre os membros da nova comunidade e Deus. O objetivo da salvação não é apenas
fazer com que os indivíduos estejam corretos diante de Deus, mas também que
estejam corretos uns com os outros. À medida que Deus, por intermédio de
Cristo, une judeus e gentios, a reconciliação opera de forma triangular entre
os três. Judeus e gentios, quando entram na nova comunidade, não deixam de ser
quem eram; todavia, agora, eles podem atuar juntos, lado a lado, como evidência
do amor transformador e conciliador de Deus (1Co 7.17-24; Rm 14-15). Essa obra
de reconciliação é o fundamento para a nova comunidade que Deus está edificando
por intermédio de Cristo. Por isso, ao longo de Efésios 2.11-22, o termo
dominante e repetido é o prefixo syn (‘juntos’). Deus formou uma nova
unidade, na qual se diz que Ele de dois criou ‘um novo homem’” (ZUCK, Roy B. Teologia
do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2008, p.347).
“Paz com Deus
Há uma transformação
na vida do pecador quando passa a ser um crente verdadeiro, não importando o
que tenha sido anteriormente. Sendo justificado pela fé, tem paz com Deus. O
Deus santo e justo não pode estar em paz com um pecador enquanto este estiver
sob a culpa do pecado. A justificação elimina a culpa, e assim abre caminho
para a paz. Esta é concedida por meio de nosso Senhor Jesus; por meio dEle como
o grande Pacificador, e Mediador entre Deus e o homem. O feliz estado dos santos
é o estado de graça. Somos levados a esta graça. Isto significa que não
nascemos neste estado”. (Comentário Bíblico de
Matthew Henry, CPAD, p.929.)
A Paz como Virtude Fruto do Espírito
Acima descrevemos um tipo de paz que o homem não pode produzir, porque depende
exclusivamente de Deus para tê-la e desenvolvê-la (Jo 14.27; 16.33). O
restabelecimento da paz entre Deus e o homem, conforme já falamos, foi feita
por Jesus, que concedeu restauração ao homem, o que é chamado de paz com Deus (Rm 5.1). O cristão tem tranquilidade na
alma, firmeza, alegria e paz, porque por intermédio da cruz tudo isso foi
conquistado (Cl 1.20).
Matthew Henry em seu Comentário Bíblico do
Novo Testamento, Atos a Apocalipse, falando sobre a paz como virtude do
Espírito diz:
[...] Depois vem a paz com Deus e com a
própria consciência, ou seja, uma harmonia pacífica de temperamento e
comportamento em relação aos outros. (HENRY, 2012 p. 568).
A paz como virtude do fruto do Espírito age no crente concedendo-lhe
tranquilidade em meio ao desespero, tempestade, tumultos e agitação. A paz que
reina em nosso coração é denominada de Paz de Deus, a qual vem precedida pela
Paz com Deus.
Entendendo a Inimizade no Antigo e no Novo
Testamento
A inimizade nasce no momento em que o homem peca contra Deus no Éden, e logo se
dará escatológicamente uma oposição ferrenha entre o homem e Jesus (Gn 3.15). A
inimizade não é apenas um sentimento de ódio contra alguém, e sim contra tudo
aquilo que é bom e perfeito.
A definição de inimizade descreve um sentido de oposição que se dá entre o bem
e o mal e, biblicamente falando, os que são aliciados pelo mau constituem-se
inimigos de Deus (Tg 4.4).
Pela formação da palavra inimigo logo se pode perceber seu grande aspecto
negativo, do latim a palavra inimigo é inimicu, o in aponta para não, amicus
quer dizer amigo, depreende-se então que, inimigo quer dizer não amigo, alguém
adverso, contrário e hostil.
Frente ao conceito descrito acima, podemos dizer que a inimizade se processa no
campo da rivalidade, ressentimento, ideias e ações maléficas para com o
próximo. No hebraico existem algumas palavras que são usadas para descrever um
inimigo, a primeira é ar, descreve um inimigo que está acordado (1 Sm 28.16),
como adversário aparece a palavra tsar (Gn 14.20) e o inimigo que odeia é
chamado de sane (Êx 1.10). No grego, a palavra para inimigo é echtbrós.
Na palavra inimigo ou inimizade está expresso o ódio que alguém dominado pela
obra da carne pratica. A Bíblia está repleta de exemplos de inimigos; Israel, o
povo escolhido de Deus, sempre enfrentou grandes inimigos (Sl 6.10; Is 1.24), e
a Palavra declara que todos os que são dominados por essa obra da carne sempre causam grandes males.
A inimizade é dominada pelo ódio e seu objetivo é prejudicar.
Está relatado em Gênesis 4.5-8 que o primeiro
homicídio na terra foi por causa da inimizade, por isso esse sentimento sempre
foi combatido por Deus. Moisés escreveu para os israelitas afirmando que eles
deveriam amar a todos, quer fosse judeu ou não (Lv 19.34), em o Novo Testamento
o amor será ainda mais destacado, visto que o Espírito Santo estaria em cada
crente produzindo as melhores virtudes do Espírito.
Os que vivem na prática da inimizade, inclusive contra o povo de Deus, serão
punidos (Lm 2.4; SI 97.1,3), essa castigo seria feito ou baseado segundo a lei
da semeadura (Ex 21.24). O bom para todos nós é procurar sempre desenvolver
boas amizades, jamais manifestando sentimento de ódio contra quem quer que seja, especialmente para com os que vivem em
comunhão com o Senhor, pois os que os atacam estão atacando o próprio Deus.
Deus falou para Abraão que iria abençoar os que lhe abençoassem, mas iria
amaldiçoar todos quantos o amaldiçoassem (Gn 12.3), nesse caso se entende que
quem se opusesse a um escolhido do Senhor estaria combatendo contra Ele mesmo,
ou sendo seu inimigo (Ex 23.22).
Nas páginas do Novo Testamento de modo diáfano, o termo inimigo, do grego
echtbrós, pode ser entendido de diversas formas, em destaque podemos dizer que
se trata de inimigos pessoais e contra os cristãos (Rm 12.19-21; G1 4.16).
Também é dito que aqueles que fazem oposição aos servos do Senhor estão
tentando combater contra Ele (At 13.10; Rm 5.10), e o grande inimigo dos que
servem a Deus é Satanás; ele usa as pessoas para disseminarem o ódio de modo
hostil, procurando de todas as formas acabar com todos (Mt 13.30; 1Pe 5.8).
Uma coisa interessante, no que diz respeito à inimizade no Antigo Testamento, é
que Israel fora ensinado a odiar os seus inimigos, e incentivado a amar o seu
próximo, que se trata dos seus conterrâneos e estrangeiros, mas quanto aos seus
inimigos declarados, os quais sempre os estavam cercando, ele deveria odiar.
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo,
e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos,
bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos
céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça
sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis?
Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos
irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois
perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. (Mt 5.43-48).
Esse tipo de amor que era ensinado por Jesus está contrapondo-se ao costume
judaico, como também o manual de disciplina do Kumran, que dizia: “Amar todos o
que Ele escolheu, e odiar a todos o que Ele rejeitou”. Jesus fala da
importância de se amar o inimigo, veja que Ele coloca o amor agápe em destaque,
esse amor busca atingir o coração do inimigo, daquele
que está dominado pelo ódio, então, é dever do cristão lutar para libertar o
inimigo que está dominado pelo ódio. Esse amor é desenvolvido por meio de ações
maravilhosas e atitudes de um verdadeiro servo de Deus.
O amor do servo de Deus deve ser expansivo, ou seja, não se direciona apenas a
pessoas perfeitas, ou àquelas pessoas que têm notoriedade; antes, o amor do
cristão deve ser como o amor do Pai, que abrange a todos indistintamente, é
nesse particular que devemos ser perfeitos como Deus. Nós não somos perfeitos
como Deus, pois o próprio Senhor Jesus fala nesse texto que devemos sempre ter
sede pela justiça, uma prova de que não somos justos na íntegra. Precisamos
sempre ser sedentos nas coisas espirituais. Podemos entender que os
inimigos que Israel deveria odiar seriam aqueles que vivessem na prática do
pecado, isso pode ser comprovado pelas seguintes passagens bíblicas (Dt
20.16-18; SI 26; 31.6), pois não podemos imaginar um Deus que ensina a amar e
ao mesmo tempo manda odiar. Jesus ensinou que nós devemos amar ao próximo, ou
seja, não deve haver em nossas atitudes qualquer artifício de ódio contra o
nosso semelhante, porque esse princípio era também um mandamento (Mc 12.30,31).
O Comportamento do Cristão para com o Inimigo
O comportamento do cristão fora da esfera congregacional é uma prova clara da
ação do Espírito Santo de Deus em sua vida, além disso, um testemunho vivo para
o mundo de que nossa vida é dirigida pelo Espírito Santo. O cristão deve
manifestar um amor sincero e sem hipocrisia, deve sempre aborrecer o mal e
apegar-se ao bem, deve ter um amor fraternal, deve ser incandescente, isto
é, fervoroso de espírito e deve sempre servir ao Senhor.
O cristão precisa alegrar-se sempre na esperança diante de tudo aquilo que Deus
lhe tem feito e prometido, sempre viver em oração e suportar as provações, deve
ser hospitaleiro e suprir as necessidades dos outros, e manifestar uma atitude
de abençoar os outros e orar pelos que os perseguem sempre; manifestar alegria para com os que estão alegres e ser
complacente com os que estão tristes.
Quando um crente demonstra alegria para com aqueles que estão alegres, é sinal
de que ele já tem domínio próprio e muita maturidade.
A harmonia deve ser um marco na vida dos cristãos, ela faz com que a competição
egoística não se nomeie no meio deles, não há busca por coisas grandiosas,
antes a simplicidade os domina, sendo assim não são convencidos e acomodam-se
as coisas simples.
Os cristãos não podem pagar o mal com o mal,
a sua preocupação é com aquilo que é moral e bom perante todos, viver em paz
com todos é a meta de cada cristão. O crente também não vive procurando
vingança, antes confia na providência de Deus em tudo.
O cristão deve ter um comportamento totalmente diferente diante dos seus
inimigos. Quando os seus inimigos se encontrarem em dificuldades, o cristão
deve tratá-los bem, assim estarão amontoando braças sobre suas cabeças; diante
dessa delicadeza eles ficarão envergonhados (Rm 12.19-21). Nessa competição o cristão nunca deve perder para o mal, mas com
o bem ele deve vencer a tudo e a todos.
Podemos dizer que o comportamento do crente diante de seus inimigos não é
resultado de um esforço próprio, mas procede da comunhão que se tem com o
Espírito Santo, pois é Ele quem faz com que os bons frutos apareçam (Gl 5.22).
Quando o crente, por meio de suas ações, manifesta um amor sincero para com o
seu inimigo, é sinal de que de fato o fruto do Espírito está em sua vida e que realmente
tem o caráter de Cristo, que pediu perdão por aqueles que o crucificaram (Lc
23.34).
Teologicamente, podemos dizer que Deus quer que tenhamos paz com Ele, pois a
inimizade que nos distanciava dEle foi desfeita por meio de Cristo Jesus (Rm
5.10), assim, reconciliados pelo evangelho, tendo o Espírito Santo na vida,
podemos agora manifestar esse amor para com os nossos piores inimigos (Cl
1.23).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Salmos 133.1-3
Davi declarou que a união é agradável e preciosa.
Infelizmente, a união que deveria ser encontrada na Igreja nem sempre o é. As
pessoas discordam e causam divisões por causa de assuntos sem importância.
Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e desacreditando os outros.
Mas a união é importante porque:
(1) faz da igreja um exemplo para o mundo e
ajuda a aproximar as pessoas do Senhor;
(2) ajuda-nos a cooperar conforme a
vontade de Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no céu;
(3) renova e
revigora o ministério, porque existe menos tensão para extrair a nossa energia.
Viver em união não significa que
concordaremos com tudo; haverá muitas opiniões, da mesma maneira que existem
muitas notas em um acorde musical. Mas devemos concordar em nosso propósito na
vida: trabalhar juntos para Deus. A união reflete a nossa concordância de
propósitos” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RJ: CPAD, 2003, p.822).
CONCLUSÃO
A paz de que tratamos nesta lição é fruto do
Espírito. Mesmo em meio às adversidades, podemos ter paz, pois é uma quietude
interior que vem de Deus. Que você possa ser um pregoeiro da paz de Cristo,
seja na Igreja ou fora dela.
Para realizar a missão de anunciar o Reino de Deus aos povos, o crente precisa viver em paz uns com os outros.
Fonte:
Livro de Apoio 1º trim 2017 - As Obras da Carne e o Fruto do Espírito - CPAD - Osiel Gomes
Revista Bíblica As Obras da Carne e os Frutos do Espírito - Como o crente pode vencer a verdadeira batalha espiritual travada diariamente - 1º sem_2017 - CPAD - Comentarista Osiel Gomes
Bíblia Defesa da Fé
Bíblia de Estudo Pentecostal
Dicionário Wycliffe
Sugestão de leitura:
Aqui eu Aprendi!