“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”
Romanos 1.16
INTRODUÇÃO
Neste trimestre teremos o privilégio de estudar a Epístola de Paulo aos Romanos. Podemos afirmar que jamais seremos os mesmos depois de uma leitura cuidadosa e um estudo sistemático dessa Epístola.
Romanos mostra que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação dos judeus e gentios. Revela também que o homem, perdido nas trevas do pecado, é reconciliado com Deus mediante a sua graça. Essa graça é o que nos justifica e nos qualifica a ter comunhão com Ele.
Na Epístola aos Romanos aprendemos que a natureza adâmica, que domina o velho homem, é destronada pela fé em Cristo, e que é possível vivermos em novidade de vida através do poder do Espírito Santo que opera em nós. Veremos que esta Carta é um chamado à liberdade cristã.
A Epístola aos Romanos
A mais famosa epístola do apóstolo Paulo foi
escrita aproximadamente entre 57 e 58 d.C., com uma margem de erro de um ou
dois anos, de acordo com o estudioso do Novo Testamento, D. A. Carson. O autor
é Paulo, embora tenha sido Tércio quem escreveu a epístola, o amanuense (escrevente) do
apóstolo (Rm 16.22).
A carta foi destinada aos crentes, judeus e gentios, que
constituíam a igreja em Roma (Rm 1.7,15). A maioria dos estudiosos concorda que
havia pelo menos dois propósitos na epístola paulina:
(1) missionário — O apóstolo
se apresentaria à igreja para remover as suspeitas contra ele levantadas pelo
partido judaico de Jerusalém a fim de impedi-lo a chegar à Europa, na Espanha;
(2) Doutrinário — Expor os direitos e privilégios da salvação tanto dos judeus
quanto dos gentios, pois, em Cristo, não haveria mais judeu nem grego, mas uma
pessoa somente nascida de novo em Jesus Cristo (Rm 14.1-10). Por isso, o
principal texto da Epístola aos Romanos é “Porque nele se descobre a justiça de
Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” (1.17).
Caro professor, estude bons comentários do
Novo Testamento. Associe o conhecimento adquirido a partir do seu estudo
introdutório, e sob a perspectiva da visão do todo da carta de Paulo, com o
auxílio da tabela abaixo.
Revista Ensinador Cristão nº66-pg.36
A Epístola aos Romanos mostra que sem a graça divina todos os nossos esforços são inúteis para a nossa salvação e comunhão com Deus.
Romanos
1.1-6 - Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho
de Deus, o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas
Escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a
carne, declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação,
pela ressurreição dos mortos, — Jesus Cristo, nosso Senhor, pelo qual recebemos
a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu
nome, entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo.
Paulo,
o Apóstolo da Graça
“Paulo...
” (1.1). A Carta aos Romanos tem início com a identificação do nome de seu
autor, Paulo. Há uma unanimidade entre os intérpretes conservadores da autoria
paulina de Romanos. Stanley Clark, autor de um excelente comentário sobre
Romanos, observa que “a carta afirma que seu autor é Paulo o apóstolo (1:1).
Esta afirmação tem sido questionada seriamente. A evidência interna (estilo,
conteúdo, circunstâncias do autor) a confirma e tem sido a convicção entre os
crentes desde os primeiros tempos. C. H. Dodd tem declarado que a autenticidade
da Epístola aos Romanos é uma questão já resolvida”.1
O
nome Paulo é uma forma latina do hebraico Saul. Sabemos através do livro de
Atos dos apóstolos que ele era natural de Tarso, cidade da Cilicia, hoje
território turco. Paulo nasceu em um lar judeu e herdou por direito de
nascimento a cidadania romana. Ele mesmo informa que seus pais eram fariseus
(At 23.6) e por influência destes se tornou fariseu, estudando na Escola de
Gamaliel (At 5.34; 22.3). Isso fez com que o seu zelo pelo judaísmo aumentasse
e que se tornasse um ferrenho defensor de suas tradições. Motivado por esse
zelo, passou a fazer uma perseguição sangrenta aos cristãos, levando muitos
deles ao cárcere e à morte. E esse homem implacável que se torna posteriormente
o maior defensor e propagador do cristianismo. Foi no encontro com Jesus
ressuscitado no caminho de Damasco, capital da Síria, que Paulo teve sua vida
totalmente mudada (At 9.1- 22). A graça de Deus superabundou em sua vida.
"...
servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de
Deus” (1.1). Duas coisas Paulo diz acerca desse seu chamamento: ele agora era
um “servo” de Jesus Cristo e que foi “separado” para o evangelho. A palavra
“servo” traduz o termo grego doulos, cujo sentido é “aquele que pertence a
outro”.2 A vida de Paulo não pertencia mais a ele mesmo, mas a Jesus Cristo, o
Senhor! Em segundo lugar, Paulo, além de servo de Jesus Cristo, foi também
“separado” para ser um apóstolo. O particípio perfeito passivo do verbo grego
aphoriso (separado) mostra que ele havia sido separado para Deus e continuava
dentro dessa nova fronteira que fora demarcada para seu chamamento. Sua missão
agora era ser um enviado de Deus para onde Ele o mandasse. O termo “apóstolo”
assume uma conotação teológica no Novo Testamento, cujo sentido é “enviar (para
fora) para servir a Deus com a própria autoridade de Deus”.3 Sim, Paulo não era
agora um mero zeloso da lei, mas um apóstolo, um enviado pelo Senhor para
conquistar o mundo para Deus.4
"...
pelo qual recebemos a graça” (1.5). Aqui aparece pela primeira vez na carta aos
Romanos a palavra “graça” (gr. charis). Essa palavra, que sem dúvida predomina
no pensamento teológico de Paulo, ocorre 164 vezes no texto do Novo Testamento
grego, sendo 23 vezes somente em Romanos.5 Sem exagero algum, Romanos é uma
carta cheia da graça!
A graça se torna um tema fundamental na teologia paulina.
Na verdade, o principal eixo de sua teologia. Paulo se sentia devedor dessa
graça! Qualquer leitor atento observará que a graça está no início e no fim das
suas obras literárias. Por exemplo, em 1 Coríntios, Paulo mostra que a graça
impede que o passado o machuque. “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não
sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus. Mas,
pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15.9,10a). Paulo não negou o seu
passado e já sabemos que seu passado não foi nada agradável. Todavia, ele,
totalmente imerso na graça de Deus, sabia que seu passado tinha ficado para
trás. Mas a graça fez mais! A graça não permitiu que ele ficasse choramingando
pelos cantos, caindo na inércia por se sentir um “Zé Ninguém”. Não, a graça não
permitiu que ele ficasse inoperante. Ela o impulsionou para o trabalho. “E a
sua graça para comigo não foi vã; antes, trabalhei muito mais do que todos
eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (1 Co 15.10). Essa
mesma graça o ajudou a superar os obstáculos e a conviver com as adversidades.
“E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na
fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em
mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas
injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de
Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte” (2 Co 12.9,10). Que mais
fez a graça por ele? Ela o salvou: “Porque pela graça sois salvos, por meio da
fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8); fez com que fosse um
vencedor: “Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus
Cristo” (1 Co 15.57) e um embaixador do Reino de Deus: “E dou graças ao que me
tem confortado, a Cristo Jesus, Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me
no ministério” (1 Tm 1.12). Tudo feito pela graça!
Saiba mais: Saulo ou Paulo? Conhecendo este homem
SUBSÍDIO DIDÁTICO
"quando Paulo escreveu a carta à Igreja de Cristo em Roma, ainda não havia estado nesta cidade, mas já havia anunciado o evangelho 'desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico' (Rm 15.19). O apóstolo planejou visitar e pregar em Roma; esperava continuar a levar o evangelho ao ocidente, à Espanha" (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, Rio de Janeiro: CPAD, p. 1550).
Vejamos o mapa
"A igreja primitiva e até mesmo os críticos da atualidade concordam com os versículos de abertura da carta. Esta é a carta do apóstolo Paulo aos romanos. Muitos comentaristas creem que Paulo a escreveu em 56 e 57 d.C., enquanto estava em Corinto. Febe, das cercanias de Cencreia, levou a carta (Rm 16.1,2); e Gaio (16.23), foi o mais proeminente convertido de Paulo em Corinto (1 Co 1.14). Assim, a carta de Paulo chegou a Roma vários anos antes de sua vinda à cidade, como prisioneiro, para ser julgado pelo tribunal de César (At 28)". Para conhecer mais leia Guia do Leitor da Bíblia, CPAD, p. 735.
Destinatários.
Alguns intérpretes ao escreverem a respeito da Epístola aos Romanos a classificam como sendo de natureza atemporal. Eles não estão errados, visto que ela foi inspirada pelo Espírito Santo e como tal transcende as barreiras do tempo. Romanos 1.7 nos mostra, de modo bem claro, o destinatário da epístola: "A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo". Quem seria, pois, esses "todos que estais em Roma?" Há uma disputa sobre os reais destinatários desta carta. Alguns argumentam que Paulo escreveu para os judeus radicados em Roma, enquanto outros defendem os cristãos gentílicos como sendo esses destinatários. Porém, Paulo escreveu à igreja de Roma. Uma igreja formada tanto por judeus como por gentios. (Revista Bíblia 2º.trim_2016)
Romanos
1.7-15
A
todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de
Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Primeiramente, dou graças ao meu
Deus, por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada
a vossa fé. Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu
Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós, pedindo
sempre em minhas orações que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça
boa ocasião de ir ter convosco. Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum
dom espiritual, a fim de que sejais confortados, isto é, para que, juntamente
convosco eu seja consolado pela fé mútua, tanto vossa como minha. Não quero,
porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco (mas até
agora tenho sido impedido) para também ter entre vós algum fruto, como também
entre os demais gentios. Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a
sábios como a ignorantes. E assim, quanto está em mim, estou pronto para também
vos anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma.
Amados
Romanos
“A
todos os que estais em Roma... ” (1.7). Paulo não foi o fundador da igreja que
estava em Roma, mas possuía um desejo ardente de visitá-la. Ele sabia que seu
apostolado era para os gentios e sabia também que a igreja de Roma era formada
predominantemente de gentios (Rm 1.6). Todavia, endereça sua carta a “todos os
crentes” de Roma. William McDonald observa que a expressão “todos” deve ser
entendida no contexto de que em Roma, capital do império, não havia apenas um
local de culto, mas vários, e Paulo queria que todos tomassem conhecimento
dessa carta.6 Mas se Paulo, que fundou quase todas as igrejas do Novo
Testamento, não foi quem levou o evangelho para Roma, quem foi então? Não há
elementos que nos permitem ser dogmáticos nesse assunto, mas os intérpretes
acham indícios que permitem fazer deduções. Por ocasião do Dia de Pentecostes,
entre os que receberam o batismo no Espírito Santo estavam “romanos que aqui
residem” (At 2.10, ARA). Teriam sido esses crentes romanos que se encontravam
em Jerusalém, depois de serem cheios do Espírito Santo, que voltaram para Roma
com a preciosa semente do evangelho. Roma, portanto, era uma igreja que nasceu
do Pentecostes.
“...
Chamados santos” (1.7). Como costuma fazer em outras cartas, Paulo se dirige
aos crentes usando o adjetivo “santos”. “Santo” (gr. hagios) era aquilo que
fora separado para um serviço especial. Aqui significa dedicado a Deus, santo e
sagrado7
Os crentes são santos porque foram separados para pertencerem a Deus.
O conceito de santificação posicional já aparece aqui nessa expressão. Em
Cristo todos os crentes são santos porque foram comprados com seu sangue e,
portanto, pertencem a Ele (1 Co 6.19,20).
O conceito de santificação
progressiva, aquela na qual o crente tem sua participação efetiva, aparecerá na
argumentação de Paulo no capítulo 8 dessa carta. Infelizmente, o conceito de
santidade se encontra de tal forma relativizado que quase não é mais possível
se distinguir o santo do profano. Santidade tem a ver com o estabelecimento de
limites e a diferença clara entre o que é certo e o que é errado. O parâmetro é
sempre dado pela palavra de Deus. Infelizmente, quem está ditando os padrões
para as igrejas não é mais a Bíblia, e sim a cultura secular. É impressionante
a facilidade que têm muitos crentes de se moldarem por aquilo que o mundo dita.
Se o mundo permite se divorciar por qualquer motivo, então muitos crentes acham
que devem fazer o mesmo. Quem se levantar contra é logo taxado de falso moralista!
Todavia, a Escritura chama isso de mundanismo! Mundanismo é pecado.
"...
em todo o mundo é anunciada a vossa fé” (1.8). Esse versículo mostra a
influência que a igreja de Roma exercia. Paulo reconhece que a fé deles já era
notícia no mundo todo. Era uma igreja que todo mundo sabia que ela existia.
Talvez a tragédia da igreja hoje esteja no fato de ela passar despercebida na
sociedade. Poucos sabem da sua existência e os poucos que sabem não se sentem
mudados por ela.
Qual seria, pois, a razão da pouca influência da igreja
contemporânea?
Não podemos ser simplistas, mas evidentemente que existem causas
para esse fenômeno de esfriamento das igrejas. Um pneumatismo anárquico, que
tem lançado a igreja numa verdadeira corrida sensorial é uma das razões. A
busca desenfreada por realização, por prazer, tem transformado a igreja em uma
comunidade de consumidores, e não de adoradores. A busca por mais adrenalina
não está acontecendo apenas em esportes radicais, mas também em muitos cultos.
Infelizmente, as igrejas neopentecostais estão na vanguarda dessa nova
espiritualidade. Por outro lado, as ortodoxias engessantes também são nocivas
da mesma forma. Cultos frios, em que o ritual não dá a mínima liberdade para o
exercício dos dons espirituais, é um veneno para a espiritualidade da igreja.
Não devemos ser contra a liturgia, pois todo culto a Deus necessita possuir um
ritual litúrgico. Todavia, foi o mesmo Paulo quem esboçou os princípios de uma
liturgia de uma igreja onde o Espírito não está engessado. “Que fareis, pois,
irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem
revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co
14.26).
"...incessantemente faço
menção de vós, pedindo sempre em minhas orações" (1.9,10). Uma das marcas
da espiritualidade de Paulo é sua profunda piedade cristã. Paulo era um homem
devotado à oração. Mesmo não conhecendo ainda a igreja de Roma, ele se lançava
em um trabalho de intercessão por ela. Alguns pensam que a oração ficou
restrita aos menos letrados, aos místicos. Todavia, aqui encontramos um homem
com uma profunda formação teológica, um verdadeiro erudito, que não
negligenciava sua vida devocional. O teólogo anglicano Alan Jones observou que
quem pensa não ora e quem ora não pensa! Essa parece ser a lógica da
espiritualidade dos clérigos do século XXI. Não é de admirar que se encontrem
tantos clérigos vazios, mas cheios de si mesmos. A devoção foi substituída pela
busca da posição. Como disse o filósofo Antonio Cruz, a carne sufocou o espírito.8
"...
para vos comunicar algum dom espiritual” (1.11-13). A expressão “dom
espiritual” traduz o grego charisma pneumatikon. O expositor bíblico Stanley
Clark observa três usos dessa palavra no contexto de Romanos. Primeiramente,
ela é usada em referência ao dom da graça, Cristo Jesus, que Deus deu a todos
os homens (Rm 5.15,16). Em segundo lugar, a referência aos dons que Deus
outorgou ao povo de Israel (Rm 11.29). Em terceiro lugar, uma capacidade
especial que Deus deu a um membro da igreja para que seja usado no ministério
(Rm 12.6). Eu me junto àqueles que veem aqui o terceiro sentido. A expressão
charisma peneumatikon é a mesma encontrada nos capítulos 12 a 14 da Primeira
Carta de Paulo aos Coríntios, onde a referência é aos dons espirituais. Não há
dúvida de que aqui essa expressão tem significação similar ao encontrado ali.
Muitos intérpretes, quando leem as cartas de Paulo, as leem com os óculos da
cultura onde vivem. Não se dão conta do contexto espiritual da igreja do
primeiro século. A igreja de Roma, como foram todas as outras do Novo
Testamento, era filha do Pentecostes. Ela entendia a linguagem do apóstolo
sobre os carismas do Espírito porque também os vivenciava. Paulo queria naquela
visita compartilhar os frutos de sua experiência com Deus e da mesma forma
queria se sentir abençoado com aquilo que Deus também havia feito na vida
daqueles crentes. Há muita gente criticando experiências espirituais sem nunca
as ter vivido.
Romanos
1.16,17
Porque
não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação
de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se
descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá
da fé.
A
Graça que não Decepciona
“Porque
não me envergonho do evangelho..." (1.16,17). Em seu célebre comentário de
Romanos, o expositor bíblico C. E. B. Cranfield observa que a forma “negativa
em que Paulo se exprime deve ser explicada não como exemplo de atenuação (significando
que ele, Paulo, está orgulhoso do evangelho), mas como refletindo o seu sóbrio
reconhecimento do fato de que o evangelho é algo de que, neste mundo, os
cristãos serão constantemente tentados a envergonhar-se. (Podemos cf. Mc 8.38;
Lc 9.26; 2 Tm 1.8.) A presença desta tentação como característica constante da
vida cristã é inevitável, não só por causa da contínua hostilidade do mundo
para com Deus, mas também por causa da natureza do próprio evangelho, o fato de
que Deus (porque Ele determinou deixar espaço aos homens para tomarem decisão
pessoal livre, em vez de compeli-los) interveio na história para a salvação dos
homens, não com poder e majestade manifestos, mas de maneira velada, era
destinado a ser visto pelo mundo como fraqueza e insensatez vis”.9
Essa,
evidentemente, é a graça que não decepciona. A graça de Deus não é motivo para
vergonha nem tampouco envergonha ninguém. Todavia, há algo por aí se passando
por “graça” que não tem graça alguma. Essa “graça”, além de envergonhar o
evangelho, está produzindo grandes escândalos. Todo tipo de aberração ética,
teológica, comportamental e até mesmo espiritual estão sendo justificados por
essa suposta graça. É uma graça que não tem graça. Quando a graça perde a
graça, ela já não é mais graça, mas uma desgraça. A propósito, a palavra grega
traduzida aqui como “envergonhar” é epaischynomai, que é formada pela junção da
preposição epi e o verbo aiscbyno.10 A palavra composta tem seu sentido
intensificado, significando desonrado, desgraçado. Em outras palavras, refere-se a alguém que caiu em desgraça ou que foi desonrado. Ao colocar a negativa
“não” antes desse vocábulo, Paulo diz que se sente honrado pela mensagem que
abraçou. Ela não o decepciona.
“...
é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (1,16). O evangelho é
motivo de honra, e é muito mais. O evangelho é o poder de Deus que traz
salvação a todo que crer. “Poder” traduz o termo grego dynamis, de onde provém
o nosso vocábulo dinamite, Essa palavra é usada 120 vezes no Novo Testamento e
significa capacidade para executar. E uma referência à habilidade de Deus no
processo da salvação.
O
propósito dessa “explosão” do evangelho é salvação dos homens. O significado da
preposição grega eis (para) tem o sentido de “tendo em vista a”, mostrando o
propósito do evangelho. Ele é de fato o poder de Deus, mas não é um poder que
busca o engrandecimento do homem, mas a glória de Deus. Infelizmente muitos
parecem não saber disso e não se deixam usar pelo evangelho, mas em vez disso
fazem uso do poder do evangelho para se autopromoverem. Buscam as suas próprias
glórias e realizações.
Ao
afirmar que o evangelho é o poder de Deus, o apóstolo tem em mente mostrar a
razão do envio de sua carta aos romanos. Já tendo feito as cordialidades
costumeiras que eram comuns nesse tipo de correspondência pessoal, ele agora
introduz o assunto do qual passará a tratar a seguir. Ele vai explicar como a
graça de Deus, objetivando a salvação de todos os pecadores perdidos, se
manifestou de forma mais que abundante na pessoa bendita de Jesus Cristo. No
dizer do poeta:
A
graça de Deus revelada
Em
Cristo Jesus, meu Senhor,
Ao
mundo perdido é dada
Por
Deus d’infinito favor.
Graça,
graça,
A
mim basta a graça de Deus: Jesus;
Graça,
graça,
A
graça eu achei em Jesus.
A
graça de Deus é mais doce,
Do
que bens terrestres daqui;
Em
gozo meu choro tornou-se
Correndo
Sua graça p’ra mim.
Mais
alta que nuvens celestes,
Mais
funda que profundo mar,
A
fonte da vida fizeste,
Na
qual nos podemos fartar.
A
graça de Deus hoje prova
Tu que vives na perdição,
Pois
Ele te salva, renova,
Também
limpa teu coração. 11
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
Forma literária. A Epístola de Paulo aos Romanos segue o modelo de outros documentos do primeiro século da era cristã. O esboço obedece à ordem desse tipo de documento, tendo sempre uma saudação e uma oração (Rm 1.1,7,8,16).
Uma forma literária bastante comum nos dias de Paulo era a escrita em forma de diálogo. Platão, filósofo grego, por exemplo, escreveu dezenas deles. Todavia, como bem observou o especialista em Novo Testamento, Brodus D. Hale, essa forma literária dificilmente se ajusta ao modelo paulino. O que podemos observar na leitura de Romanos é o uso de diatribes por parte do apóstolo. Nesse modelo literário, que era um recurso muito usado pelos filósofos estoicos e cínicos, o autor valia-se de uma exposição crítica a respeito de alguma obra.
Seu conteúdo. O conteúdo de Romanos trata de alguns temas bem específicos, como por exemplo, a pecaminosidade do homem, a salvação de Deus, a justificação pela fé e a graça divina. Logo depois das palavras de saudação observamos a seção que trata sobre a manifestação da justiça de Deus mediante a fé (Rm 1.18-4.25). Paulo mostra a necessidade espiritual que os gentios, judeus e toda a humanidade têm da salvação de Deus. Paulo também mostra nos capítulos 5 a 8 (5.1- 8.39), a ação santificadora do Espirito Santo no processo da salvação. É destacado aqui o resultado prático do Evangelho na salvação do crente. Através do Espírito Santo o crente experimenta a paz com Deus.
Nos capítulos 9 a 11 encontramos a teologia paulina a respeito do tratamento de Deus para com Israel, o seu povo. São revelados três aspectos do tratamento de Deus para com Israel - passado, presente e futuro.
Na última seção Paulo mostra o lado prático do Evangelho na transformação de vidas (12 a 15.13). A conclusão da carta, tratando do empreendimento missionário do apóstolo e algumas recomendações finais, estende-se do capítulo 15.14 ao 16.27.
VALOR ESPIRITUAL
Fundamentação doutrinária. A Epístola aos Romanos é considerada a mais teológica dentre todas as outras escritas por Paulo. O forte conteúdo doutrinário desta carta é sem dúvida o mais completo do Novo Testamento.
Romanos trata de alguns dos temas mais profundos do Cristianismo - as doutrinas da chamada eleição, da predestinação, da justificação, da glorificação e da herança eterna.
Paulo mostra à igreja que o pecador pode encontrar a redenção na poderosa mensagem do Evangelho que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. A Carta aos Romanos revela que é por intermédio da graça de Deus, manifestada na pessoa bendita de Jesus Cristo, que o homem pode ver corrigido o seu relacionamento com o Criador. A velha natureza é subjugada na cruz e o Espírito Santo faz com que o poder da cruz agora emane na vida do crente.
Renovação espiritual. Não há dúvida de que a igreja de Roma, a quem a Epístola aos Romanos foi endereçada, experimentou uma tremenda renovação espiritual mediante a sua leitura. Todavia, o renovo espiritual advindo da leitura desta carta pode ser visto na vida de muitos crentes ao longo da história da Igreja. Tomemos como exemplo Agostinho, bispo de Hipona, que teve sua vida mudada quando leu Romanos 13.13. Por outro lado, Matinho Lutero, o grande reformador alemão, foi desafiado a romper com a tradição católica quando também leu a Carta aos Romanos. John Wesley também testemunhou forte renovação em sua vida através da leitura do comentário dessa Carta, escrita pelo Reformador. (Revista do professor Lições Bíblicas 2º.trim_2016)
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
"Paulo destaca alguns aspectos principais na carta aos Romanos. A doutrina da salvação é apresentada dentro de alguns itens especiais: o teológico (1.18-5.11); o antropológico (5.12-8.39); o histórico (9.1-11.36) e o ético (12.1-15.33). Esse plano alcança toda a obra e contém verdades incontestáveis e irremovíveis.
Na esfera teológica. Paulo apresenta a condição perdida dos homens, sem a mínima possibilidade de salvação por méritos próprios. Logo depois, Cristo é a solução, visto que, por meio de sua morte, todos podem ser justificados da condenação. O pecador é justificado mediante a obra expiatória de Jesus Cristo.
Na esfera antropológica. A ilustração do primeiro e segundo Adão, coloca o crente de frente a uma nova realidade espiritual. O primeiro Adão foi vencido pelo pecado, mas o segundo o venceu por todos os homens. Em Cristo, o homem assume um novo regime de vida sob a orientação do Espírito Santo" (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 8.ed. Rio de Janeiro: CPAD,2005, p.17).
CONCLUSÃO
Uma visão panorâmica da carta de Paulo aos Romanos permite-nos vislumbrar a terrível situação espiritual na qual se encontra a humanidade depois da Queda. É algo desesperador. Todavia, a Carta mostra, de forma clara, que Deus por intermédio do seu amor gracioso, que ultrapassa todo o entendimento, veio ao encontro dos pecadores para oferecer-lhes perdão e restauração através de Jesus Cristo, seu bendito Filho. É Ele que, através de seu sacrifício vicário, tirou a raça humana das trevas do pecado e deu a oportunidade ao pecador de viver uma nova vida no poder do Espírito Santo.
Bibliografia:
1 CLARK, Stanley. Romanos — Comentário Bíblico Mundo Hispano. El Paso, Texas: Editorial Mundo Hispano.
2 THAYER, Joseph H. Thayer’s Greek Lexicon of the New Testament. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984.
3 KITELL, Gerhard. Theological Dictionary of the New Testament. 10 volumes. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing Company, 2006.
4 A palavra apóstolo tinha o sentido no grego clássico de um navio que saía numa missão comercial. Posteriormente, ganhou o sentido de “alguém que é enviado numa missão” (CHAMBERLAIN, William. Gramática Exegética do Novo Testamento Grego. São Paulo: Editora Cultura Cristã).
5 PETTER, Hugo M. Concordância Greco-Espanola del Nuevo Testamento., Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.
6 MACDONALD, William. Comentário Bíblico Romanos. Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.
7 BAUER, Walter. A Greek English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature. Chicago: The University of Chicago Press.
8 CRUZ, Antonio. La Postmodernidad. Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.
9 CRANFIELD, C. E. B. Romanos — Comentário Versículo por Versículo. São Paulo: Editora Vida Nova.
10 STRONG, James. Exhaustive Concordance of the Bible. Nashville, TN: Thomas Nelson, 1990.
11 HARPA CRISTÃ. Rio de Janeiro: CPAD.
Fonte:
Lições Bíblicas - Maravilhosa Graça - O Evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos - 2º.trim_2016 CPAD - Comentarista Jose Gonçalves
Livro de Apoio - Maravilhosa Graça - O Evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos - José Gonçalves
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia de Estudo Defesa da Fé
Dicionário Bíblico Wycliffe