"Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher," Marcos 10:7
A narrativa a seguir foi escrita por C.S.
Lewis, em seu livro “O Grande Abismo”. Ele conta a história de Pâmela, uma
mulher que perdera seu filho Miguel, o qual ela amava mais do que ao próprio
Deus e, por isso, não podia entrar no céu. Com a mente prodigiosa do escritor,
muitos detalhes são apresentados. Entretanto, aqui só será narrado o essencial.
O diálogo a seguir é travado entre Pâmela e um ser Espiritual fictício. Nessa
altura, a mulher queria ver seu filho na eternidade, mas não era possível:
PAMELA — "(...)
O que quer de mim? Vamos. Quanto mais cedo começarmos, melhor. E então poderei
ver o meu menino. Estou pronta!”
SER — "(...) Você não vê que não pode
começar nada enquanto estiver nessa condição mental? Está tratando Deus apenas
como um meio de alcançar Miguel. Mas todo o tratamento de solidificação
consiste em aprender a desejar Deus por Ele mesmo. (...) Você existe como mãe
de Miguel somente porque existe em primeiro lugar como uma criatura de Deus.
Esse relacionamento é mais antigo e mais próximo”.
PAMELA — "(...) Mas, estou certa de que
fiz Miguel feliz. Empenhei toda a minha vida...”.
SER — "Os seres humanos não podem fazer
uns aos outros felizes por muito tempo. (...) Ele (Deus) queria que o seu amor
puramente instintivo pelo seu filho (...) se transformasse em algo superior.
Queria que você amasse Miguel como Ele compreende o amor. Não é possível amar
um semelhante perfeitamente até que se ame a Deus. (...) O (seu) instinto era
incontrolável, selvagem e monomaníaco. (...) O único remédio era remover o
objeto desse sentimento. Era um caso cirúrgico. Quando esse primeiro tipo de
amor fosse contrariado, haveria então uma pequena possibilidade de que na
solidão, no silêncio, alguma outra coisa pudesse começar a desenvolver-se”.
PAMELA — "(...) Meu amor por Miguel
jamais se perverteria. Nem que vivêssemos juntos um milhão de anos. (...) Se
Miguel estivesse comigo, eu seria perfeitamente feliz. (...) Como poderia
alguém amar mais a seu filho do que eu? (...) Dê-me o meu filho. Ouviu bem? Não
me importo com todas as suas regras e regulamentos. Não creio num Deus que
separa mãe e filho. Acredito num Deus de amor. Ninguém tem o direito de se
colocar entre mim e meu filho. Nem mesmo Deus. Diga isso a Ele diretamente.
Quero meu menino, e vou ficar com ele. Ele é meu, está entendendo? Meu, meu,
meu, para sempre e sempre. (...) Odeio a sua religião e odeio e desprezo o seu
Deus. Acredito num Deus de Amor”.
(O “visitante celestial” [o próprio Lewis]
pergunta ao seu "Professor”, que o acompanhava na viagem) — "Há
qualquer esperança para ela, Senhor?"
PROFESSOR — “Existe alguma. O que chama de
amor pelo filho se transformou em algo pobre, espinhoso. Mas existe ainda uma
pequenina centelha que não é apenas o seu próprio ‘eu’, e ela pode crescer,
virando uma chama. (...) o amor, como os mortais entendem a palavra, não basta.
Todo amor natural ressuscitará e viverá para sempre neste país, mas nenhum irá
ressuscitar se não tiver sido sepultado. (...) Só existe um único ser bom, e
esse é Deus. Tudo o mais é bom quando olha para Ele e mau quando se afasta
dEle. E quanto mais alto e poderoso estiver ele na ordem natural, tanto mais
demoníaco será se rebelar-se. Não é de ratos ou pulgas perversos que se fazem
demônios, mas dos maus arcanjos (...)”.
A história do egoísmo de Pâmela por Miguel,
que ela pensava ser amor, será bastante útil para se analisar o mandamento da
individuação (deixar pai e mãe), que foi a primeira ordem dada pelo Criador à
família. Esta questão se encontra no âmago do mandamento, porque alguns pais, como
a fictícia Pâmela, não querem deixar seus filhos partirem, muito menos formarem
um novo lar, não porque os amem sobremaneira, e sim por amarem a si próprios
mais do que aos filhos e ao Altíssimo.
Abraão estava em grande perigo espiritual
quando o Eterno pediu para sacrificar Isaque (Gn 22.1,2). O amor de Abraão por
Isaque era algo descomunal, com tanta intensidade, que o Todo-Poderoso precisou
prová-lo. Abraão somente provou seu amor pelo Senhor quando, figuradamente,
pela fé, usou o cutelo para matar e o fogo para queimar o holocausto do seu
filho (Gn 22.12).
Tanto Pâmela, quanto o velho patriarca
Abraão, tinham algo em comum: um filho para adorar! O mandamento do Altíssimo,
todavia, sobre a proibição de ter outros deuses diante do Senhor, obstruía tal
sentimento. Isso foi válido para aquela época e também para os dias hodiernos.
Na verdade, a raiz deste mal é o orgulho em
possuir algo do qual não se quer abrir mão: os filhos. (Será esse o motivo pelo
qual algumas sogras não se relacionam bem com as noras? Será que as sogras
entendem que as noras roubaram algo de propriedade exclusiva delas? Fica a
pergunta). O fato é que há, frequentemente, muito orgulho envolvido nisso tudo.
O Todo-Poderoso, para confrontar esse sentimento diabólico e estabelecer os alicerces
de uma nova família, brada desde a eternidade: deixará o homem seu pai e sua
mãe (Gn 2.24).
I. O PRIMEIRO MANDAMENTO
1. Requisito para a
perfeita união
Certos começos possuem como requisito
principal o término de determinados estágios. Por exemplo, a primavera somente
se manifesta quando o inverno vai embora. O mesmo acontece com dia e noite.
Igualmente acontece com a criação de uma nova família! A anterior, que
acompanha o filho ou a filha desde o nascimento, cederá espaço para uma nova
composição. Não se trata, aqui, da família anterior ser esquecida, claro que
não. Mas, apenas deixada em “segundo plano”. Nunca desprezada, que são coisas
bem distintas. A intenção do Eterno aponta para a necessidade de toda nova
família possuir características sui
generis, para existir uma união perfeita. Isso é impreterível para haver
uma identidade familiar própria e crescimento. Dessa forma, o novo casal
precisa ter suas experiências pessoais e resolver seus problemas, sem haver
intromissão de nenhuma outra pessoa.
Esse mandamento mencionado no Éden foi
reiterado para Abraão (Gn 12.1-3). O amigo de Deus colocou em prática a ordem
de sair do meio da sua parentela e da casa do seu pai, embora não
completamente, pois levou consigo seu sobrinho Ló, causando embaraços à sua
própria família. O Senhor, toda vez que nos recomenda algo, visa, em primeiro
lugar, o nosso próprio bem. Deus nunca é egoísta, mas sempre altruísta. Quando
o Eterno pede algo ao homem, não é que Ele precise daquilo. O Senhor não
precisa de nada. Os seres humanos, naturalmente orgulhosos e individualistas,
são quem carecem, para a sua felicidade, abandonar as coisas indevidas. Por
isso, o Altíssimo as pede! Como exemplo, observe que Abraão necessitava ficar
livre de toda influência de sua família anterior, inclusive de Ló, o qual só
lhe trouxe dificuldades. Quando, por fim, tio e sobrinho se separaram, o
Todo-Poderoso fez a Abraão grandes promessas (Gn 13.11,14-17).
Com a lição aprendida, Abraão ensinou tudo
isso a Isaque e a Jacó, os quais, mesmo habitando em tendas, juntos, no clã (Hb
11.9), não perdiam a individualidade, pois cada um tinha a sua própria
habitação (Gn 24.67; 31.34)! Eles sabiam conservar a cultura familiar, sem
deixar de atender a esse importante mandamento.
Deus é muito criativo. Ele sempre faz coisas
novas, sem precisar utilizar um modelo anterior. Os evolucionistas não entendem
isso e, por tal razão, minimizam o grande milagre da Criação, atribuindo-o ao
acaso, a partir da evolução de um ser unicelular (são pessoas de muita fé!).
Eles confundem adaptação (uma espécie mudar suas características de acordo com
as condições do ecossistema) com evolução (migração para novas espécies, mesmo
não existindo nenhuma prova científica de que isso aconteceu alguma vez).
Deus, na verdade, criou os seres viventes de
maneira peculiar, para constituí-los únicos. A individuação, portanto, é o
fenômeno através do qual um organismo se singulariza dentro da espécie, sem
abandonar as características comuns dos seus pares. É uma forma, portanto, de
adaptação. Usando a mesma lei que atua na natureza, o Senhor criou o mandamento
para os nubentes deixarem pai e mãe, para poderem desenvolver suas
idiossincrasias enquanto nova família.
O verbo hebraico usado na ordem de Gn 2.24,
aqui analisada, é 'ãzabh, que
significa partir, abandonar, desamparar, soltar. Esse verbo também é utilizado
frequentemente quando se muda para um novo lugar (2Rs 8.6), existindo
separação entre pessoas (Gn 44.22; Rt 1.16), ou ao se abandonar alguém (Ex
2.20). Dessa forma, o Altíssimo determinou ao casal partir para novas
experiências, abandonando a casa dos pais, soltando os grilhões e traumas
psicológicos da família paterna. É necessário ressaltar, porém, que permanecer
junto dos familiares é um compromisso perene da nova família (SI 128), a qual
não deve se excluir das celebrações familiares — aniversários, Natal, dia dos
pais, das mães, etc. Entretanto, a singularização do ente familiar formado é
imperiosa. Foi Deus quem pensou assim.
É bom ressaltar, todavia, que, enquanto
estiverem em casa, os filhos deverão ser totalmente obedientes aos pais, no
Senhor. Quando se casarem, porém, “deixarão pai e mãe”. Isso não significa
abandoná-los. Mas, com o casamento, os filhos devem sair da casa (afastamento
geográfico), construir seu próprio patrimônio (afastamento financeiro) e tomar
suas próprias decisões na vida (autonomia e afastamento psicológico ou
emocional). Isso se denomina na filosofia de individuação; ou seja, o indivíduo
isola-se para adquirir sua própria personalidade, dentro da nova família.
O filho casado, por consequência, receberá
autoridade para exercer a liderança, em amor, no seu novo lar. E a filha
casada, até então submissa aos pais, agora será submissa exclusivamente ao
marido, no Senhor. Aliás, é muito comum observar pessoas com sérios conflitos
familiares, quando os pais continuam se intrometendo nas decisões dos filhos
casados. Os bons conselhos dos pais sempre serão necessários, mas as decisões
devem ser tomadas, em conjunto, pelo novo casal. Deus quer, desse modo, cada um
com sua própria história. Muitos divórcios ocorrem porque pais e filhos não
compreendem a extensão e a duração do princípio da autoridade e da submissão.
3. Menção na Bíblia
Na Bíblia, Deus fala de individuação em Jó
39, mencionando como esse fenômeno acontece na família das cabras monteses (vv.
1-4), cujos filhos, quando crescem e ficam fortes, partem e “nunca mais tornam
para elas”. As montanhas escarpadas nas quais esses “alpinistas”
extraordinários estabelecem sua morada, talvez não devam ser divididas com
todos. Não se sabe o motivo; entretanto, é imperativo, para elas e para Deus,
que cada nova família animal tenha sua própria montanha. Quando os filhos das
cabras monteses crescem, precisam viver sua própria história, identificando-se
como indivíduos, sem abrir mão dos ensinamentos recebidos dos pais
(indispensáveis à sobrevivência). Assim, à sombra dos seus pais, elas
certamente não poderiam, jamais, cumprir integralmente o projeto do Criador.
Deus cita para Jó esse exemplo da natureza
juntamente com o de outros animais, como o jumento selvagem, o cavalo, a
avestruz, tudo isso para mostrar como são variadas as obras de suas mãos. E é
exatamente por essa variedade das obras do Senhor que Ele exige ao homem, como
requisito para casar, deixar seus pais.
Na vida selvagem, há casos onde animais
permanecem no mesmo grupo familiar até o fim dos seus dias. Entretanto, como
lhes falta entendimento, isso é perfeitamente compreensível, mas não no caso da
raça humana (Pv 24.3,4), onde Deus dotou cada pessoa com uma personalidade
diferente.
1. Afastamento
geográfico
Toda família precisa de “espaço" para
crescer. Para isso, Deus mandou o novo casal, antes de se unir, deixar pai e
mãe. Observe uma planta. Ela precisa de um espaço só dela: veja quando o trigo
divide um pequeno espaço geográfico com o joio — Mt 13.28-30 — é um problema. A
grande dificuldade é que as raízes do joio e do trigo podem se entrelaçar,
diante da proximidade territorial. Isso significa a necessidade do trigo por um
espaço individual, próprio. A mesma coisa acontece com o novo lar.
Moisés prosperou no deserto, Davi foi
vitorioso na caverna de Adulão, Elias deu fruto na casa da viúva em Sidom, João
Batista frutificou às margens do Jordão, e o apóstolo João teve a mais
extraordinária revelação numa ilha inóspita. Assim, fica claro que a geografia,
ou seja, o lugar onde se vive, tem tudo a ver com a bênção do servo do Senhor.
O apóstolo Paulo, enquanto estava em
Jerusalém, onde lhe era cômodo e estratégico, trouxe muita confusão para todos,
a tal ponto de os judeus procurarem matá-lo. Mas quando os irmãos souberam
disso “(...) o acompanharam até Cesareia e o enviaram a Tarso. Assim, pois, as
Igrejas (...) tinham paz e eram edificadas; e se multiplicavam” (At 9.30,31).
A conversão de Paulo, num primeiro momento,
acarretou mais problemas, ao invés de alegrias para a igreja da Judeia,
Galileia e Samaria. Que coisa interessante! O maior missionário de todos os
tempos, em certo momento, foi um empecilho à Obra do Altíssimo. Por qual
motivo? Ao que tudo indica, ele estava pregando na hora certa, porém no lugar
errado. O Eterno iria ensinar-lhe sobre a bênção da geografia.
Paulo estava sendo um estorvo para a Igreja
Primitiva daquela região. Mesmo assim, quando foi enviado para Tarso
(mandaram-no de volta para a sua própria casa), a igreja teve paz, foi
edificada e se multiplicou.
Paulo não frutificou, mesmo fazendo o certo,
pois estava distante da geografia adequada. Este fato mostra que, embora todos
sejam insubstituíveis (pois não existem duas pessoas iguais), não há indivíduos
indispensáveis (nem mesmo Paulo), e o projeto do Soberano só será
realizado integralmente se os agentes do Senhor estiverem no local certo, o
melhor lugar do mundo — o centro da vontade de Deus.
Dessa forma, a casa dos pais pode ser um
lugar cheio de amor, carinho, conforto e compreensão, porém nunca será o melhor
lugar para construir uma nova família. É preciso deixar tudo o que prende o
novo casal ao passado! Não é fácil, mas é preciso.
2. Afastamento
psicológico
A planta precisa de luz solar para fazer a
fotossíntese e crescer. Entretanto, essa radiação trará certo incômodo a ela
nos horários mais quentes do dia. Isso, porém, é necessário. Utilizando o mesmo
raciocínio, pode-se dizer que os pais não devem privar seus filhos dos
eventuais desafios psicológicos — exposição ao sol. É preciso que cada nova
família adquira individualidade, tomando suas próprias decisões. Por mais que
"doa” ver os filhos passarem por certos "percalços” no novo contexto
familiar, o bloqueio emocional ao novo casal, pelos pais, (impedir que deixe
psicologicamente os genitores) ensejará prejuízo. Um escritor antigo dizia que
"em mar calmo, todo barco navega bem". As lutas e as dificuldades
surgirão para que possam despontar a nova liderança do lar: o marido.
A formação da nova identidade familiar
apresenta-se, pois, como algo indispensável. O rapaz e a moça precisam saber
quem, de fato, eles são. Essa será a mais emocionante viagem possível a um
indivíduo na companhia de quem se ama e do Altíssimo. Nessa viagem
introspectiva, cada um encontrará muitas respostas para perguntas importantes,
dentre as quais: Quem somos nós? Como o Senhor nos vê? Assim, cada cônjuge
compreenderá qual é a sua verdadeira identidade. Na Bíblia, em várias ocasiões,
antes de o Senhor se fazer conhecido a alguém, Ele fazia questão que a pessoa
entendesse quem, de fato, ela era, certamente para resolver uma crise de
identidade. Isso era fundamental para a pessoa seguir em frente, porque quem
não consegue enxergar a si mesmo tampouco conseguirá enxergar a Deus.
Muitos homens e mulheres, instrumentos do
Soberano, na Bíblia, passaram por essa experiência. Eles conheceram,
previamente, a identidade que Deus atribuiu-lhes, para depois serem usados pelo
Senhor. Eles precisavam conhecer sua nova identidade familiar, para recomeçar o
relacionamento com Deus.
Foi assim, por exemplo, com Moisés, que era
filho de escravos hebreus, no entanto criado como um herdeiro do trono egípcio.
Aos quarenta anos, decidiu assumir a defesa de seus irmãos, porém com a
arrogância de um senhor egípcio. Essa crise de identidade fez Deus encaminhar
Moisés ao deserto. Ele precisava conhecer a si mesmo, saber quem ele era.
Depois de quarenta anos de tratamento no deserto, Moisés reconheceu sua
identidade. A arrogância faraônica fora embora. Nesse momento, Deus, de uma
sarça ardente, revelou-se a ele e mandou libertar o povo da escravidão. O novo
casal, igualmente, precisa desse tratamento exclusivo do Soberano, a sós, em
seu lar.
3. Afastamento
financeiro
A ordem de "deixar pai e mãe” também
atinge a parte financeira, porém o dever dos pais ajudarem financeiramente os
filhos (2 Co 12.14) e vice-versa (Mc 7.10-13) nunca terminará diante de Deus,
bem como perante a lei civil, a qual usa como parâmetro para definir o valor da
"pensão alimentícia” o trinômio
"necessidade-possibilidade-proporcionalidade”. Ou seja, o dever de pagar
reciprocamente alcança pais e filhos, na medida da necessidade e possibilidade
de cada um, aplicando o critério da proporcionalidade para achar o valor justo.
Há, porém, pais que possuem renda suficiente, mas exigem, para comprar
supérfluos, aportes financeiros mensais do filho casado. Por outro lado,
existem filhos casados que, irresponsavelmente, querem viver à custa dos pais.
Os dois extremos estão errados e causam sérios conflitos no lar. É bom frisar,
por fim, que nenhuma ajuda que inviabilize a administração do lar de quem
contribui vem de Deus, porque isso não tem origem no amor, mas sim em um
sentimento indevido de posse dos pais sobre o (a) filho (a) recém-casado (a),
ou vice-versa.
Neste aspecto, podem acontecer três
problemas:
a) os pais com renda suficiente exigirem do filho casado
contribuição financeira, para comprar coisas supérfluas, de maneira indefinida,
obstruindo a consolidação da nova família,
b) Os filhos casados, de maneira
irresponsável, sobrecarregarem seus pais financeiramente, inclusive indo morar
com eles, tirando-lhes a privacidade e fazendo-lhes passar, ocasionalmente,
privações,
c) Os pais fazerem questão de pagar todas as despesas dos filhos
casados, impedindo-lhes de ter suas próprias experiências financeiras!
Esses
três casos podem dar origem a inúmeros conflitos dentro da nova família,
fazendo a situação do casal ficar insustentável. Nenhuma escravidão (inclusive
a financeira) vem de Deus, pois isso não provém do amor, e sim de um sentimento indevido de
posse dos pais sobre o filho recém-casado, ou vice-versa.
Assim, é preciso tomar bastante cuidado para
isso não fragilizar o casamento. Tenho visto, com muita frequência, divórcios
por questões de natureza pecuniária (relativo ao dinheiro). O fato de cada
família viver em sua própria casa, pagando, em regra, suas despesas, diminuirá
sensivelmente esses atritos.
Talvez, em um primeiro instante, morar com um
dos pais seja uma ideia interessante, pois haverá diminuição de despesas para
quem está começando a vida. Entretanto, os dias amargos, de “vacas magras” no
aspecto emocional, virão, e eles podem ser mais abundantes que os inicialmente
agradáveis. Está escrito: “E as vacas magras e feias comiam as primeiras sete
vacas gordas...” (Gn 41.20).
Buscando a orientação do Espírito Santo,
essas questões serão resolvidas para a glória do Altíssimo, gerando unidade e
felicidade nas famílias. O amor consciente e responsável, que deve existir
entre pais e filhos, será uma bússola a guiar as gerações futuras no caminho da
vida, um tipo de "bênção hereditária”. O Altíssimo guarde as famílias que
O amam!
III. CONFLITO ENTRE MANDAMENTOS
Há, na Bíblia, dois mandamentos aparentemente
contraditórios: deixar e também honrar pai e mãe.
Na Bíblia, temos um belo exemplo de
subordinação entre filho e pai: o caso de Isaque e Abraão (Gn 22). Ao ler o
texto mencionado, pode-se observar um filho permitindo ao pai matá-lo! Isso é
submissão! E preciso que os filhos primeiramente obedeçam e, só depois,
entendam, para aprender a verdadeira obediência e não condicionem suas ações à
compreensão. Caso contrário, não seria obediência, e sim rebelião, pois a
submissão à autoridade, no Senhor, deve ser incondicional. Honrar pai e mãe,
como mencionado, é o primeiro mandamento com promessa (Ef 6.2).
Quando Golias apareceu para desafiar Israel
(1Sm 17), não encontrou ninguém que quisesse ir ao confronto. Saul era
detentor de armadura e armas para enfrentá-lo, porém não tinha autoridade
espiritual. O Todo-Poderoso já o havia rejeitado. Depois de quarenta dias de
humilhação, apareceu Davi, que não possuía armadura, no entanto o Altíssimo lhe
conferiu autoridade espiritual, pois, além da unção feita por Samuel, o
desprezado pastor de ovelhas estava cumprindo uma ordem do seu pai, Jessé, o
qual o mandara levar um lanche a seus irmãos! Com a bênção paterna, e também
atendendo ao mover do Espírito Santo, o submisso Davi foi ao campo de batalha
e, no fim, o gigante Golias veio ao chão (1 Sm 17). Honrar aos pais traz
bênçãos sem medida.
Inclusive, mesmo com o casamento dos filhos,
o mandamento de honrar pai e mãe ainda persistirá, e isso inclui ajudá-los,
quiçá financeiramente, no momento das dificuldades, conforme ensinou Jesus (Mc
7.10-13).
2. Deixando pai e mãe
Não existe nenhuma contradição entre os
mandamentos do Senhor, pois eles são puros e alumiam os olhos (SI 19.7,8).
Honrar pai e mãe, assim, não entra em contradição com o mandamento que
determina deixar pai e mãe, por ocasião do casamento. Como mencionado, esse
"deixar” restringe-se, tão somente, aos aspectos geográfico, emocional e financeiro,
mas em relação ao dever de honrá-los permanecerá enquanto os filhos estiverem
vivos. Jesus, por exemplo, até na hora da morte honrou sua mãe, provendo-lhe
uma casa para morar - a de João.
Quando a Bíblia ordena o “deixar” geográfico,
não implica dizer que os filhos não devem visitar os pais. Ora, o SI 128.3
relata que os filhos serão como plantas de oliveira à roda da mesa daquele que
teme ao Senhor! O significado de tal expressão é que os filhos sempre estarão
presentes na casa dos pais, sentados à mesa, participando de reuniões e
refeições, inclusive com os netos, pois adiante diz que os pais dedicados ao
Senhor verão os filhos dos filhos (v.6). Isso é comunhão profunda! O Altíssimo
simplesmente deseja cada filho casado morando em sua própria casa, assumindo a
liderança de sua família. Dessa forma, o filho casado, portanto, receberá
autoridade para exercer a liderança, em amor, no seu novo lar, e a filha
casada, outrora sujeita aos pais, agora será submissa exclusivamente ao marido,
no Senhor.
Também não há nenhum problema em participar
das emoções paternais, de ter uma interação psicológica com aqueles que
outorgaram tantos cuidados e carinho ao longo da vida. De modo algum. O
importante é que todos envolvidos saibam os novos limites impostos.
É um completo absurdo o sogro ou a sogra
repreender o filho (ou a nora) sobre uma conduta tomada pela nova família. Essa
fase já passou. Cabe aos pais orarem pelos filhos e aconselhá-los sempre, mas a
decisão deve ser tomada em comum pelo casal. Isso se chama ser uma só carne.
Intimidade e cumplicidade! Dali em diante, os filhos, entretanto, ainda devem
honrar grandemente seus genitores.
E, finalmente, o “deixar” financeiro não
significa a ausência de auxílio pecuniário aos pais, como já foi mencionado.
Contudo, essas ajudas não devem inviabilizar patrimonialmente o novo casal.
Cada um deve ter liberdade para construir seu próprio patrimônio. Afinal, a
Bíblia diz que os pais entesouram para os filhos, e não o contrário (2 Co
12.14)!
Interessante que, logo após Jesus e Paulo,
respectivamente, falarem sobre o dever de o novo casal deixar pai e mãe, eles
acrescentam igualmente a obrigação de honrá-los (Mt 19.5,19; Mc 10.7,19 e Ef
5.31; 6.2). Ou seja, um mandamento não invalida o outro.
3. Filhos que podem
morrer cedo
O Senhor estabeleceu uma ordem natural
maravilhosa no mundo, colocando a relação entre pais e filhos no centro desse
sistema. Isto tocou tanto o coração do Eterno, que, quando Jesus ensinou seus
discípulos a orar, determinou que chamassem a Deus de “paizinho” (nossa
tradução bíblica é "Pai Nosso”), um termo que realça intimidade,
relacionamento próximo entre duas pessoas ligadas por laços de sangue e que se
amam.
Assim, o padrão do Soberano para a família é
muito alto. O Senhor espera muito dos pais e dos filhos. No Antigo Testamento,
foi ordenado aos pais o dever de serem sacerdotes no lar, ensinando a seus
filhos constantemente a palavra do Senhor, em um interminável culto doméstico.
Que grande responsabilidade! A ordem de honrar seus pais foi expedida aos
filhos, sob pena de serem apedrejados.
No Novo Testamento, o princípio bíblico para
a família não foi alterado. Jesus e os apóstolos foram firmes na manutenção do
dever dos pais ensinarem aos filhos a Bíblia e que os filhos honrem seus pais.
Conheci um homem rico que, um dia, deu uma
grande surra em seu pai. Algum tempo depois, quando esse filho tinha quarenta
ou cinquenta anos, morreu repentinamente. Então, pensei: a palavra do Altíssimo
se cumpre. É certo que alguns homens honram seus pais e podem morrer cedo. Deus
é soberano para fazer como quiser. Entretanto, em minhas observações ao longo
da existência, tenho visto esse padrão bíblico invariavelmente funcionando. Por
outro lado, vejo pessoas que honram seus pais e os tratam com muito amor sempre
vivendo acima da média. Coincidência? Creio que não. Então, eu penso: o Senhor
cumpre com sua palavra.
Os pais e filhos que forem fiéis ao
mandamento mais antigo de Deus para a família — ao casar, deixar pai e mãe —
desfrutarão do ciclo da vida familiar em conformidade com a vontade do Criador.
E isso é muito bom e proveitoso. Obedecer às ordens do Senhor não é um peso,
mas um privilégio, pois a obediência garante um futuro de paz e a fruição de
toda a sorte de bênçãos divinas (Lv 26.3-10).
SUBSÍDIO I
“O casamento bíblico começa ‘deixando’ (a
fundação), é sustentado ‘apegando-se’ (o processo) e resulta em uma carne (o
resultado). Deixar implica em uma transformação radical do básico e forte
relacionamento pré-conjugal, entre o homem e a mulher e seus respectivos pais,
e, desta maneira, todos os demais relacionamentos. A Bíblia não defende o
abandono dos pais e parentes para se casar (1Tm 5.8), mas espera uma
transformação radical no relacionamento entre pais e filhos, de modo que uma
nova unidade se forme, pelo casamento.
É importante que um casal recém-casado
perceba que é de seu interesse modificar o seu relacionamento com seus pais. A
raiz de muitos maus relacionamentos com os parentes do cônjuge frequentemente
devem-se ao fato de que os pais ou os filhos não são capazes de transformar o
seu relacionamento, [...], a fim de que se torne uma carne. [...] Um indivíduo
não pode se casar e se comportar como uma pessoa solteira, no que diz respeito
à administração do tempo, hábitos alimentares e associação com amigos e
parentes. No entanto, a Bíblia se concentra no mais básico de todos os
relacionamentos, que é o de pai e filho, para enfatizar a necessidade de
mudanças fundamentais, que devem ocorrer no casamento” (ADEI, Stephen. Seja
o Líder que Sua Família Precisa. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2010, p.110).
ESTUDANDO a Lição
1. Qual o primeiro mandamento com promessa?
“Honrar pai e mãe” (Êx 20.12).
2. Segundo a lição, em que consiste o fenômeno da individuação?
É o fenômeno através do qual um organismo se singulariza dentro da espécie, sem abandonar as características comuns dos seus pares.
3. Como os pais devem tratar os seus filhos casados?
Podem aconselhar, mas não interferir.
4. Por que os filhos devem deixar o lar após o casamento?
Para dar início a um novo ciclo familiar.
5. Quais tipos de afastamentos, entre pais e filhos, devem ser feitos após o casamento?
Afastamentos geográfico, psicológico e financeiro.
Afastamentos geográfico, psicológico e financeiro.
Fonte:
Lições Bíblicas CPAD - 2ºtrim.2016 Eu e minha casa - Orientações da Palavra de Deus para a Família do Século XXI - Comentarista Reynaldo Odilo
Livro de Apoio - Eu e minha casa - Orientações da Palavra de Deus para a Família do Século XXI - Comentarista Reynaldo Odilo
Deis, Stephen - Seja o Lider que sua Família precisa - CPAD
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia Defesa da Fé.
Sugestão de leitura:
Aqui eu Aprendi!