“E [Jesus] ordenou-lhe
que a ninguém o dissesse. Mas disse-lhe: Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece,
pela tua purificação, o que Moisés determinou, para que lhes sirva de
testemunho” Lc 5.14
A função social dos sacerdotes
Na aula desta semana é importante introduzi-la comentando que à época da peregrinação do povo judeu no deserto não havia uma vida social e jurídica organizada, isto é, por exemplo, não havia médicos, sanitaristas e juízes. O sistema sacerdotal, indiretamente, serviria para atender essas necessidades.
Os principais desafios para o povo peregrino, do ponto de vista da saúde, era a lepra; do ponto de vista da organização social, era a família, a propriedade privada e a vida do indivíduo.
A lepra era uma doença incurável e transmissível. Além de uma doença temida, essa enfermidade também era estigmatizante e, por causa do acometimento à Miriã, irmã de Moisés, derivada de sua rebelião, a lepra passou também a ser vista como castigo divino.
Aqui, cabe uma nota de justificação do isolamento das pessoas. Devido à infeliz militância ideológica na hermenêutica bíblica, muitos tendem a fazer uma leitura social deste episódio colocando os líderes judeus como opressores e os leprosos como os oprimidos. Ora, isso é ignorar por completo o contexto antigo da narrativa bíblica. A lepra era uma doença terrível e incurável. Não havia médicos nem o mínimo de estrutura sanitária. Isolar o leproso era garantir, naquele contexto, a sobrevivência das demais pessoas.
É evidente que, ao longo da história, o isolamento promoveu uma quantidade enorme de excluídos sociais, o que neste caso, não se trata de uma leitura sob os óculos de qualquer ideologia, mas a constatação de uma realidade social demonstrada por meio da alegria radiante, por exemplo, que tomava conta de um leproso curado por Jesus. Quando o Senhor fazia isso, Ele não estava apenas curando essa pessoa, mas a libertando da exclusão social e a devolvendo ao convívio das pessoas amadas por ela.
Hoje, graças a Deus!, embora ainda temida, a lepra, atualmente conhecida como hanseníase, é encarada com maior naturalidade, diminuindo a discriminação e o isolamento social. Isso ocorre porque, diferente dos tempos bíblicos, a hanseníase tem cura medicamentosa. Por isso, muitos leprosários já foram desativados.
Além do caso da lepra, a família, a propriedade privada e a vida do indivíduo precisavam de proteção. Os sacerdotes também deveriam atuar para garantir tal proteção.
Reconstruir o contexto explicativo acima ajudará muito seus alunos a compreender o porquê da série de leis proibitivas no Levítico. Revista Bíblica Ensinador Cristão nº74
Leitura Bíblica em Classe - Levítico 13.1-6
Prezado professor(a), na lição deste domingo estudaremos as funções dos sacerdotes. Homens escolhidos e separados pelo Senhor para o serviço no Tabernáculo. Ser sacerdote era ser honrado pelo Senhor mediante uma nobre missão, pois servir a Deus é um grande privilégio. Mas além da honra e do privilégio, havia as responsabilidades e as muitas exigências. O sacerdócio exigia sacrifícios, pois a função mais importante era conduzir o povo segundo a Lei, em santidade e justiça. Essa era uma tarefa das mais difíceis, pois por diversas vezes os hebreus apostataram da fé. Contudo, os sacerdotes também exerciam outras funções, que exigia discernimento e muita sabedoria. Ele tinha que ter consciência do que era puro e impuro, certo ou errado, santo e profano, pois deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange a Palavra de Deus, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Na nova aliança, não é diferente, pois o Senhor continua a exigir de nós, sacerdotes seus, que tenhamos um padrão de santidade e justiça. No Sermão do Monte, o código de ética do Reino de Deus, Jesus nos adverte quanto a sermos “sal” e “luz” desse mundo (Mt 5.13,14).
As funções do sacerdote iam além da liturgia; sua principal obrigação era zelar pela santidade e pureza do povo de Deus.
Neste capítulo, mostraremos por que as ordenanças de Levítico fizeram de Israel o povo mais avançado na área médica, urbanística e jurídica de todo o Oriente Médio. Não exageraremos se considerarmos os hebreus, nesse mesmo período, mais adiantados do que os chineses, egípcios e babilônios. Quanto aos gregos e romanos, ainda lutavam por se firmarem como civilização.
Acredito que, sem as orientações levíticas, o Ocidente jamais teria alcançado o seu atual estágio de desenvolvimento. A razão é bastante simples. A Igreja Cristã, ao fazer uso da Bíblia Sagrada, jamais deixou de aplicar os princípios mosaicos ao seu dia a dia. Não quero dizer, com isso, que os teólogos patrísticos e medievais porfiaram em judaizar a sociedade na qual estavam inseridos. Mas, sabiamente, souberam como separar os mandamentos específicos a Israel daqueles que devem ser observados por todos os povos. E, dessa forma, lançaram os alicerces da Civilização Ocidental.
Acompanhemos, pois, o processo de santificação dos israelitas. Esse processo, aliás, não contemplava apenas a interioridade humana, mas também a sua exterioridade, porque esta deveria ser um reflexo perfeito daquela. Para que isso ocorresse, a Universidade Levítica fez-se indispensável.
I. A UNIVERSIDADE LEVÍTICA
Ao separar os levitas para servirem como sacerdotes e ministros do altar, Deus lançava, naquele instante, os alicerces de uma instituição que faria dos hebreus o povo mais civilizado do mundo. Vejamos em que consistia a epistemologia dessa entidade que, com muita justiça, poderia ser chamada de Universidade Levítica.
1. Teologia, a verdade sobre o único Deus.
Os sacerdotes levitas, por serem os grandes mestres e catedráticos de Israel, partiam de um pressuposto que faz toda a diferença no campo filosófico, científico e literário: Deus existe. Mas, ao contrário dos deístas atuais, acreditavam eles que Deus não se limitou a criar os Céus e a Terra, mas continua a preservá-los e a intervir em todos os seus negócios, pois Ele é o Senhor de todas as coisas (Gn 1.1).
A teologia levítica não se embasava em meras teorias ou simples assentimentos intelectuais; firmava-se em algo profundo e experimental: o temor de Deus. Como diria mais tarde o sábio rei de Israel, “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7, ARA).
Tendo esse texto de ouro como a pedra de esquina de sua epistemologia, os levitas avançaram nos mais diversos campos das ciências e saberes humanos.
Façamos uma pausa, a fim de explicar o que é a epistemologia. Essa palavra é formada por dois vocábulos gregos: episteme, conhecimento, ciência; e logos, estudo, ou discurso racional. A Epistemologia, portanto, é a reflexão em torno da natureza, estágios e abrangências do conhecimento produzido, adquirido e transmitido pelo homem.
2. Cosmologia, o Universo é de Deus.
Os sacerdotes do Senhor não se perdiam em teorias loucas e bizarras acerca do aparecimento dos Céus e da Terra. Eles sabiam que, no princípio, Deus criara tudo quanto existe. Se tudo quanto existe é criação divina, depreende-se logo que somente o Criador é quem deve ser adorado; não a criatura. Tal proposição é fundamental para se estabelecer uma epistemologia segura, eficaz e que conduza o ser humano ao progresso.
Quando os levitas oficiavam a Deus, apresentando-lhe alguma oferenda ou dom, sabiam estar reconsagrando-lhe algo que já lhe pertencia. Por isso, tratavam a Terra não como a deusa intocável dos gregos, nem como a mãe caprichosa dos ecologistas atuais; tratavam-na como criação divina. Tinham eles ciência suficiente para entender que a Terra fora criada por causa do homem, e não o homem por causa da Terra. Que esta, pois, seja o santuário do Senhor, pois do Senhor é a Terra (Sl 24.1).
3. Antropologia, o homem é a imagem de Deus.
Já imaginou se os levitas tivessem sido educados por Charles Darwin (1809-1882)? Como iriam eles tratar os filhos de Israel a partir de uma antropologia bizarra, fantasiosa e sem a mínima base científica? Mas, sabendo eles que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, jamais deixariam os hebreus embrenharem-se nas promiscuidades egípcias, cananeias e mesopotâmias. Todos eles porfiavam por serem reconhecidos como o povo escolhido do Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
Eis porque os sacerdotes do Senhor obrigavam-se a cuidar tanto da interioridade quanto da exterioridade dos hebreus. Eles estavam cientes de que Deus exigia de seu povo santidade, pureza e distinção. Todos deveriam ser santos, porque Santo é o Senhor. Diante de tal reivindicação, como devemos nós, hoje, proceder? Que o Espírito Santo nos ajude a ter uma vida irrepreensível perante Deus e diante dos homens.
Como seria bom se os médicos e os demais profissionais de saúde tivessem uma antropologia realmente bíblica. A partir dessa perspectiva, tratariam melhor seus pacientes, pois nestes veriam a imagem e a semelhança do Criador. E, assim, seriam banidos das universidades e dos hospitais experimentos cruéis e desumanos como aqueles realizados pelos alemães e japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.
4. Direitos e deveres.
Os sacerdotes do Senhor, orientados pelos Dez Mandamentos e pelas demais ordenanças do Pentateuco, foram além dos mestres e juristas da antiguidade. Se Hamurabi, por exemplo, que viveu por volta do século XIX a.C., teve uma influência meramente local, o código levita fez-se universal; eterno. E, hoje, em não poucos tribunais, encontramos uma cópia dos Dez Mandamentos.
Se compararmos a Lei de Moisés à de Dracon ou à de Solon, ambos legisladores gregos do século VII a.D., constataremos que estes jamais lograram alcançar a excelência da legislação que Deus, por meio de Moisés, entregara aos levitas. Por isso, devem os sacerdotes ser vistos como os juristas, advogados, promotores e juízes de Israel. Além disso, lançaram a base jurídica da civilização ocidental.
5. Contrastes entre a Universidade Levítica e a Faraônica.
Antes de encerrarmos este tópico, faremos um pequeno contraste entre a academia egípcia, formada, em sua maior parte, por magos e astrólogos, e a hebreia, representada pelos levitas.
A egípcia, apesar de suas notáveis conquistas científicas, centrava-se em ciências ocultas e duvidosas (Êx 7.11). Quanto à hebreia, tinha à sua disposição não os conhecimentos escondidos e entretecidos nas profundezas de Satanás, mas o saber verdadeiro que o próprio Deus revelara a Moisés e ainda mostraria aos profetas que viriam depois do grande legislador.
Por essa razão, quem hoje se interessa pelas ciências egípcias dos magos e astrólogos de Faraó? No entanto, a Bíblia Sagrada é lida todos os dias do Ocidente ao Oriente como a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.
II. O INÍCIO DOS HOSPITAIS MODERNOS
Parece que os médicos egípcios existiam apenas em função dos faraós. Quanto ao povo, que se arrumasse com as suas doenças, moléstias e enfermidades. No que tange aos levitas, observamos que estes, apesar de não serem médicos profissionais, dedicavam-se desvelada e sagradamente aos cuidados preventivos da saúde hebreia. E, assim, vieram a lançar as bases dos modernos hospitais.
1. O hospital, a Casa do Bom Samaritano.
Na língua alemã, a palavra “hospital” tem um significado interessante e que, em sua essência, revela um pouco da filosofia pagã. O termo Krankenhaus significa, etimologicamente, casa do enfermo.
Se buscarmos a etimologia da palavra “hospital”, descobriremos não somente um novo significado linguístico, mas também uma renovada filosofia. O termo, proveniente do latim medieval, vem de hospes que, naquele período, significava “hospedeiro” ou “hospede”. A partir daí, nasceu o vocábulo “hospital”: local onde os viajantes eram bem recebidos e muito bem cuidados.
Com o tempo, devido à influência da Igreja Cristã, o hospital começou a ser visto não mais como uma simples hospedaria, mas como um lugar para se acolher os enfermos.
Em seus primórdios, o hospital não era uma casa de enfermo ou de enfermidade, mas um lugar onde o hóspede, se enfermo, podia receber cuidados médicos.
A parábola do Bom Samaritano é um quadro que ilustra muito bem a fundação dos hospitais como hoje os conhecemos. Nessa belíssima narrativa, observemos algo muito importante. Os desvelos ministrados pelo samaritano àquele pobre homem refletiam, de certa forma, as funções de um sacerdote levita. Se bem que tanto o sacerdote como o levita, nessa narrativa, embora até possuíssem alguma ciência médica, passaram de largo e ignoraram o seu paciente.
Segundo a história, o primeiro hospital moderno foi estabelecido, em 370 d.C., na cidade de Cesareia, como resultado de um benévolo édito imperial. Mais tarde, Basílio, o Grande (329-379), recomendou a criação de hospitais, tendo como referência um famoso e eficiente hospital de Roma. Não nos esqueçamos da Ordem dos Hospitalários que, apesar de sua forte vocação militar, não deixou de cuidar dos peregrinos que se dirigiam à Terra Santa.
Na história de Israel, as práticas clínicas dos levitas precederam a medicina. É o que podemos inferir do texto sagrado. A seguir, vejamos como os sacerdotes cuidavam da saúde dos hebreus, não propriamente curando-lhes as enfermidades, mas prevenindo-as. Esse cuidado torna-se mais visível em relação à lepra que, naquele tempo, além de ser uma doença incurável, era socialmente repulsiva.
2. Lepra, o símbolo do pecado.
Libertos de uma terra idólatra e insalubre, os israelitas corriam o risco de transmitir à próxima geração enfermidades como a lepra, a doença mais repelente da antiguidade (Dt 7.15). Por isso, Deus encarregou os sacerdotes de inspecionar clinicamente o seu povo. Nos tempos bíblicos, a lepra causava repulsa devido ao seu aspecto e contágio (Lv 13.2). Se Deus não a curasse, médico algum poderia fazê-lo. Haja vista o caso do general sírio Naamã (2 Rs 5.1-14). O Senhor Jesus, durante o seu ministério terreno, curou a diversos leprosos e ordenou a seus discípulos a que os purificasse (Mt 10.8; 11.5).
3. A inspeção clínica.
Em sua peregrinação à Terra Prometida, os israelitas não contavam com médicos e sanitaristas. Era um luxo restrito aos nobres egípcios (Gn 50.2). Portanto, sempre que alguém apresentava algum dos sintomas da lepra, deveria encaminhar-se ao sumo sacerdote para ser examinado (Lv 13.1-30). De acordo com o diagnóstico, o paciente era declarado limpo ou impuro. Se constatada a doença, o enfermo era imediatamente apartado da comunidade (Lv 13.46).
4. A limitação do sacerdote.
Os sacerdotes, por conseguinte, encontravam-se habilitados a diagnosticar, mas não a curar os leprosos; era uma função mais preventiva que curativa. O próprio Senhor Jesus reconheceu a perícia do sacerdote na diagnose da enfermidade (Lc 5.14).
Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus, louvado como o Médico dos médicos, admitiu a utilidade dos médicos humanos. Embora limitados e, às vezes, até inúteis diante de algumas situações, eles aí estão para aliviar-nos a dor (Mt 9.12). Pelo que deduzimos desta saudação tipicamente paulina, Lucas era um médico mui amado entre os cristãos primitivos (Cl 4.14).
III. O INÍCIO DA URBANIZAÇÃO MODERNA
Às vezes, pergunto-me por que uma cidade como o Rio de Janeiro, que já foi alcunhada de maravilhosa, possui tantas mazelas urbanísticas. Ao lado de condomínios, que vivem no luxo, há comunidades que tentam sobreviver do lixo e no lixo. Dessa forma, vemos proliferar doenças que, há mais de um século, já haviam sido debeladas. No Israel do Antigo Testamento, tal situação era inadmissível.
1. O urbanismo e o sanitarismo do sacerdócio levítico.
O urbanismo é a disciplina relacionada ao estudo, regulação, controle e planejamento da cidade. Nessa ciência, não se pode confundir urbanismo com ação urbanizadora. Se esta não promover a melhoria de vida da população não é urbanismo; é mera preocupação estética. A cidade, pois, antes de ser bonita, tem de ser saudável.
O urbanismo deve caminhar de mãos dadas com o sanitarismo. Modernamente, o sanitarismo, conhecido também como higienismo, é conhecido como a ciência que tem por objetivo promover a saúde pública. A menos que tenhamos uma população saudável, qualquer projeto urbanístico, por mais belo e aprazível, será inútil. Eis por que Deus recomendou aos sacerdotes que zelassem pela saúde de seu povo.
De acordo com as leis urbanas que encontramos no Levítico, a urbanização de Israel deveria começar de dentro para fora; do interior das casas ao centro da cidade. Se uma casa estava doente, todos os demais domicílios corriam perigo; a epidemia era eminente. Vejamos, pois, como agiam os sacerdotes na fiscalização urbana de Israel. Aliás, a sua função incluía, também, o sanitarismo.
2. A função urbanista e sanitarista dos sacerdotes.
Apesar de ser a terra que mana leite e mel, Canaã, por causa dos povos que a habitavam, tornara-se tão doentia e insustentável quanto o Egito (Lv 14.34). Até suas casas e vestes estavam sujeitas a uma espécie de lepra, fatal aos israelitas. Por isso, Deus instruiu os sacerdotes a atuarem também como sanitaristas e urbanistas.
3. A função sanitarista do sacerdote.
O sanitarista é um especialista em saúde pública; sua função é mais preventiva do que curativa. Sua obrigação é manter a cidade livre de focos de doenças e infecções. Por isso, os sacerdotes, em Israel, inspecionavam casas e roupas (Lv 14.34-57).
4. A lepra na casa.
A lepra numa casa é descrita como manchas esverdinhadas e avermelhadas que, via de regra, pareciam mais fundas que a parede (Lv 14.37). Sempre que isso ocorria, o proprietário deveria recorrer ao sacerdote que, após examiná-la, ordenava o seu despejo, para que a praga não se espalhasse, contaminando toda a propriedade (Lv 14.36).
Em seguida, a casa era interditada por sete dias (Lv 14.38). Caso a praga não cedesse, as pedras contaminadas eram retiradas e as paredes todas eram raspadas. Em último caso, o sacerdote tinha autoridade para ordenar a demolição do imóvel (Lv 14.45). Para que a lepra não contaminasse outras propriedades, todo o seu entulho era jogado fora do perímetro urbano.
6. A lepra nas vestes.
As vestes e objetos domésticos também estavam sujeitos à lepra. No caso destes, tratavam-se de mofos e fungos igualmente nocivos à saúde (Lv 13.47-50). De imediato, a roupa deveria ser levada ao sacerdote (Lv 13.51). Caso a praga se mostrasse persistente, a roupa deveria ser queimada, a fim de evitar a propagação de doenças (Lv 13.52).
Deus advertiu solenemente os israelitas a guardarem-se da praga da lepra, pois a doença abria a porta a outras enfermidades e moléstias (Dt 24.8). Era um dos mais fortes símbolos do pecado (Is 1.6).
IV. A ESTRUTURA JURÍDICA DE ISRAEL
No Israel dos sacerdotes e levitas, o direito estava sempre ao alcance dos pobres, porque a Lei de Deus havia sido proclamada a toda a nação, e não apenas a uma minoria privilegiada. Ali, pobres e ricos, pequenos e grandes, nobres e plebeus; todos, enfim, estavam sujeitos aos mandamentos divinos. Não havia minoria privilegiada, nem maioria ignorada; eram todos iguais diante da Lei de Deus.
1. A função judicial dos sacerdotes.
Judicialmente, o livro de Levítico apresenta várias disposições, a fim de proteger a família, a propriedade privada e, principalmente, a vida humana. Nesse sentido, o sacerdote atuava também no campo jurídico. No Israel do Antigo Testamento, não havia uma lei-maior para dirigir o país; uma espécie de constituição. Ali, toda a Palavra de Deus funcionava como a ordenança que não podia ser ignorada quer pelo rei, quer pelo plebeu. E, para zelar pelo fiel cumprimento dos estatutos divinos, os sacerdotes e demais levitas faziam-se presentes.
2. Proteção da família.
Com o objetivo de manter a pureza e a legitimidade no relacionamento familiar, o Senhor, por intermédio de Moisés, proíbe aos israelitas: o sacrifício infantil (Lv 20.2); o incesto, (Lv 18.6-9); o abuso sexual doméstico (Lv 18.10); a exposição das filhas à prostituição (Lv 19.29); o homossexualismo e a bestialidade (Lv 18.22,23). Os israelitas, como adoradores do Único e Verdadeiro Deus, eram obrigados a honrar seus pais e a preservar-lhes a autoridade (Lv 19.3; 20.9).
3. Proteção da propriedade privada.
A posse de uma propriedade, em Israel, era considerada algo sagrado; uma dádiva de Deus ao seu povo (Êx 3.7,8). Por esse motivo, os israelitas deveriam tratar suas casas e campos de maneira responsável e amorosa (Lv 19.9). As colheitas eram feitas de tal maneira, que os pobres jamais deixavam de ser contemplados (Lv 23.22).
Sendo, pois, a terra propriedade do Senhor, não poderia ser explorada de maneira irresponsável e contrária à natureza (Lv 25.3,4). Do texto sagrado, depreendemos que o sacerdote tinha por obrigação supervisionar o uso sustentável da terra.
A propriedade da terra não era considerada roubo, conforme diria o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865), mas uma herança pela qual valia a pena lutar (1 Rs 21.3). No Israel de Deus, os governantes não se digladiavam hoje pela esquerda, e, amanhã pela direita; punham-se todos no centro da vontade divina.
Ali, nas terras do Senhor, não havia lugar para o comunismo assassino e mentiroso, nem para o fascismo desumano e cruel, pois a Lei de Moisés supria todas as carências e lacunas sociais. E, quando do advento da injustiça, Jeová enviava os seus mensageiros que, corajosamente, clamavam contra a opressão, o roubo, o crime e a infidelidade doméstica.
4. Proteção da vida.
Também estava sob o encargo do sacerdote a inspeção das casas (Dt 22.8) e da criação de animais (Êx 21.36). A mulher grávida recebia proteção especial (Êx 21.22). Enfim, a vida na sociedade judaica era e é sagrada; um dom do Criador (Nm 16.22). Por isso, Deus determina no Sexto Mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13). Mencionemos ainda as cidades de refúgio que, administradas pelos levitas, serviam para acolher o que, sem o querer, matava alguém (Nm 35.10-15).
Oremos, para que o nosso país seja realmente justo e misericordioso. Não nos faltam leis, nem legisladores, nem juízes. Ei-los pelos tribunais; ei-los saindo das faculdades e academias. Todavia, falta-nos o temor do Senhor, sem o qual não pode haver princípio algum de sabedoria. É chegado o momento de rogarmos ao Senhor que nos cure a terra. Achamo-nos tão enfermos, hoje, quanto o Israel dos tempos de Isaías (Is 1.1-9). Neste momento, conscientizemo-nos de nossa responsabilidade como sal da terra e luz do mundo.
CONCLUSÃO
Conforme profetizou Malaquias, a aliança do Senhor com a tribo de Levi era firme e bem conhecida de todo o Israel. Nesse sentido, seus descendentes deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange à Lei de Moisés, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Infelizmente, os sacerdotes não souberam como guardar o concerto levítico.
Se o Senhor exigiu excelência e correção dos levitas, no Antigo Testamento, como devemos nós agir? Que o nosso culto seja marcado pelo amor e pela não conformação com este mundo.
Nós, obreiros de Cristo, temos de ser um padrão na sã doutrina, segundo recomenda o apóstolo: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência” (Tt 2.7, ARA). Ainda que não sejamos sacerdotes como os filhos de Levi, nossa responsabilidade, diante do povo de Deus, não é menor. Se o Senhor exigiu deles excelência, o que não exigirá de nós, seus despenseiros? Ou será que já não tememos ser reprovados no Tribunal de Cristo? Que o Senhor nos ajude.
Fonte:
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade
A função social dos sacerdotes
Na aula desta semana é importante introduzi-la comentando que à época da peregrinação do povo judeu no deserto não havia uma vida social e jurídica organizada, isto é, por exemplo, não havia médicos, sanitaristas e juízes. O sistema sacerdotal, indiretamente, serviria para atender essas necessidades.
Os principais desafios para o povo peregrino, do ponto de vista da saúde, era a lepra; do ponto de vista da organização social, era a família, a propriedade privada e a vida do indivíduo.
A lepra era uma doença incurável e transmissível. Além de uma doença temida, essa enfermidade também era estigmatizante e, por causa do acometimento à Miriã, irmã de Moisés, derivada de sua rebelião, a lepra passou também a ser vista como castigo divino.
Aqui, cabe uma nota de justificação do isolamento das pessoas. Devido à infeliz militância ideológica na hermenêutica bíblica, muitos tendem a fazer uma leitura social deste episódio colocando os líderes judeus como opressores e os leprosos como os oprimidos. Ora, isso é ignorar por completo o contexto antigo da narrativa bíblica. A lepra era uma doença terrível e incurável. Não havia médicos nem o mínimo de estrutura sanitária. Isolar o leproso era garantir, naquele contexto, a sobrevivência das demais pessoas.
É evidente que, ao longo da história, o isolamento promoveu uma quantidade enorme de excluídos sociais, o que neste caso, não se trata de uma leitura sob os óculos de qualquer ideologia, mas a constatação de uma realidade social demonstrada por meio da alegria radiante, por exemplo, que tomava conta de um leproso curado por Jesus. Quando o Senhor fazia isso, Ele não estava apenas curando essa pessoa, mas a libertando da exclusão social e a devolvendo ao convívio das pessoas amadas por ela.
Hoje, graças a Deus!, embora ainda temida, a lepra, atualmente conhecida como hanseníase, é encarada com maior naturalidade, diminuindo a discriminação e o isolamento social. Isso ocorre porque, diferente dos tempos bíblicos, a hanseníase tem cura medicamentosa. Por isso, muitos leprosários já foram desativados.
Além do caso da lepra, a família, a propriedade privada e a vida do indivíduo precisavam de proteção. Os sacerdotes também deveriam atuar para garantir tal proteção.
Reconstruir o contexto explicativo acima ajudará muito seus alunos a compreender o porquê da série de leis proibitivas no Levítico. Revista Bíblica Ensinador Cristão nº74
Leitura Bíblica em Classe - Levítico 13.1-6
Prezado professor(a), na lição deste domingo estudaremos as funções dos sacerdotes. Homens escolhidos e separados pelo Senhor para o serviço no Tabernáculo. Ser sacerdote era ser honrado pelo Senhor mediante uma nobre missão, pois servir a Deus é um grande privilégio. Mas além da honra e do privilégio, havia as responsabilidades e as muitas exigências. O sacerdócio exigia sacrifícios, pois a função mais importante era conduzir o povo segundo a Lei, em santidade e justiça. Essa era uma tarefa das mais difíceis, pois por diversas vezes os hebreus apostataram da fé. Contudo, os sacerdotes também exerciam outras funções, que exigia discernimento e muita sabedoria. Ele tinha que ter consciência do que era puro e impuro, certo ou errado, santo e profano, pois deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange a Palavra de Deus, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Na nova aliança, não é diferente, pois o Senhor continua a exigir de nós, sacerdotes seus, que tenhamos um padrão de santidade e justiça. No Sermão do Monte, o código de ética do Reino de Deus, Jesus nos adverte quanto a sermos “sal” e “luz” desse mundo (Mt 5.13,14).
As funções do sacerdote iam além da liturgia; sua principal obrigação era zelar pela santidade e pureza do povo de Deus.
Neste capítulo, mostraremos por que as ordenanças de Levítico fizeram de Israel o povo mais avançado na área médica, urbanística e jurídica de todo o Oriente Médio. Não exageraremos se considerarmos os hebreus, nesse mesmo período, mais adiantados do que os chineses, egípcios e babilônios. Quanto aos gregos e romanos, ainda lutavam por se firmarem como civilização.
Acredito que, sem as orientações levíticas, o Ocidente jamais teria alcançado o seu atual estágio de desenvolvimento. A razão é bastante simples. A Igreja Cristã, ao fazer uso da Bíblia Sagrada, jamais deixou de aplicar os princípios mosaicos ao seu dia a dia. Não quero dizer, com isso, que os teólogos patrísticos e medievais porfiaram em judaizar a sociedade na qual estavam inseridos. Mas, sabiamente, souberam como separar os mandamentos específicos a Israel daqueles que devem ser observados por todos os povos. E, dessa forma, lançaram os alicerces da Civilização Ocidental.
Acompanhemos, pois, o processo de santificação dos israelitas. Esse processo, aliás, não contemplava apenas a interioridade humana, mas também a sua exterioridade, porque esta deveria ser um reflexo perfeito daquela. Para que isso ocorresse, a Universidade Levítica fez-se indispensável.
I. A UNIVERSIDADE LEVÍTICA
Ao separar os levitas para servirem como sacerdotes e ministros do altar, Deus lançava, naquele instante, os alicerces de uma instituição que faria dos hebreus o povo mais civilizado do mundo. Vejamos em que consistia a epistemologia dessa entidade que, com muita justiça, poderia ser chamada de Universidade Levítica.
1. Teologia, a verdade sobre o único Deus.
Os sacerdotes levitas, por serem os grandes mestres e catedráticos de Israel, partiam de um pressuposto que faz toda a diferença no campo filosófico, científico e literário: Deus existe. Mas, ao contrário dos deístas atuais, acreditavam eles que Deus não se limitou a criar os Céus e a Terra, mas continua a preservá-los e a intervir em todos os seus negócios, pois Ele é o Senhor de todas as coisas (Gn 1.1).
A teologia levítica não se embasava em meras teorias ou simples assentimentos intelectuais; firmava-se em algo profundo e experimental: o temor de Deus. Como diria mais tarde o sábio rei de Israel, “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7, ARA).
Tendo esse texto de ouro como a pedra de esquina de sua epistemologia, os levitas avançaram nos mais diversos campos das ciências e saberes humanos.
Façamos uma pausa, a fim de explicar o que é a epistemologia. Essa palavra é formada por dois vocábulos gregos: episteme, conhecimento, ciência; e logos, estudo, ou discurso racional. A Epistemologia, portanto, é a reflexão em torno da natureza, estágios e abrangências do conhecimento produzido, adquirido e transmitido pelo homem.
2. Cosmologia, o Universo é de Deus.
Os sacerdotes do Senhor não se perdiam em teorias loucas e bizarras acerca do aparecimento dos Céus e da Terra. Eles sabiam que, no princípio, Deus criara tudo quanto existe. Se tudo quanto existe é criação divina, depreende-se logo que somente o Criador é quem deve ser adorado; não a criatura. Tal proposição é fundamental para se estabelecer uma epistemologia segura, eficaz e que conduza o ser humano ao progresso.
Quando os levitas oficiavam a Deus, apresentando-lhe alguma oferenda ou dom, sabiam estar reconsagrando-lhe algo que já lhe pertencia. Por isso, tratavam a Terra não como a deusa intocável dos gregos, nem como a mãe caprichosa dos ecologistas atuais; tratavam-na como criação divina. Tinham eles ciência suficiente para entender que a Terra fora criada por causa do homem, e não o homem por causa da Terra. Que esta, pois, seja o santuário do Senhor, pois do Senhor é a Terra (Sl 24.1).
3. Antropologia, o homem é a imagem de Deus.
Já imaginou se os levitas tivessem sido educados por Charles Darwin (1809-1882)? Como iriam eles tratar os filhos de Israel a partir de uma antropologia bizarra, fantasiosa e sem a mínima base científica? Mas, sabendo eles que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, jamais deixariam os hebreus embrenharem-se nas promiscuidades egípcias, cananeias e mesopotâmias. Todos eles porfiavam por serem reconhecidos como o povo escolhido do Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
Eis porque os sacerdotes do Senhor obrigavam-se a cuidar tanto da interioridade quanto da exterioridade dos hebreus. Eles estavam cientes de que Deus exigia de seu povo santidade, pureza e distinção. Todos deveriam ser santos, porque Santo é o Senhor. Diante de tal reivindicação, como devemos nós, hoje, proceder? Que o Espírito Santo nos ajude a ter uma vida irrepreensível perante Deus e diante dos homens.
Como seria bom se os médicos e os demais profissionais de saúde tivessem uma antropologia realmente bíblica. A partir dessa perspectiva, tratariam melhor seus pacientes, pois nestes veriam a imagem e a semelhança do Criador. E, assim, seriam banidos das universidades e dos hospitais experimentos cruéis e desumanos como aqueles realizados pelos alemães e japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.
4. Direitos e deveres.
Os sacerdotes do Senhor, orientados pelos Dez Mandamentos e pelas demais ordenanças do Pentateuco, foram além dos mestres e juristas da antiguidade. Se Hamurabi, por exemplo, que viveu por volta do século XIX a.C., teve uma influência meramente local, o código levita fez-se universal; eterno. E, hoje, em não poucos tribunais, encontramos uma cópia dos Dez Mandamentos.
Se compararmos a Lei de Moisés à de Dracon ou à de Solon, ambos legisladores gregos do século VII a.D., constataremos que estes jamais lograram alcançar a excelência da legislação que Deus, por meio de Moisés, entregara aos levitas. Por isso, devem os sacerdotes ser vistos como os juristas, advogados, promotores e juízes de Israel. Além disso, lançaram a base jurídica da civilização ocidental.
5. Contrastes entre a Universidade Levítica e a Faraônica.
Antes de encerrarmos este tópico, faremos um pequeno contraste entre a academia egípcia, formada, em sua maior parte, por magos e astrólogos, e a hebreia, representada pelos levitas.
A egípcia, apesar de suas notáveis conquistas científicas, centrava-se em ciências ocultas e duvidosas (Êx 7.11). Quanto à hebreia, tinha à sua disposição não os conhecimentos escondidos e entretecidos nas profundezas de Satanás, mas o saber verdadeiro que o próprio Deus revelara a Moisés e ainda mostraria aos profetas que viriam depois do grande legislador.
Por essa razão, quem hoje se interessa pelas ciências egípcias dos magos e astrólogos de Faraó? No entanto, a Bíblia Sagrada é lida todos os dias do Ocidente ao Oriente como a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.
II. O INÍCIO DOS HOSPITAIS MODERNOS
Parece que os médicos egípcios existiam apenas em função dos faraós. Quanto ao povo, que se arrumasse com as suas doenças, moléstias e enfermidades. No que tange aos levitas, observamos que estes, apesar de não serem médicos profissionais, dedicavam-se desvelada e sagradamente aos cuidados preventivos da saúde hebreia. E, assim, vieram a lançar as bases dos modernos hospitais.
1. O hospital, a Casa do Bom Samaritano.
Na língua alemã, a palavra “hospital” tem um significado interessante e que, em sua essência, revela um pouco da filosofia pagã. O termo Krankenhaus significa, etimologicamente, casa do enfermo.
Se buscarmos a etimologia da palavra “hospital”, descobriremos não somente um novo significado linguístico, mas também uma renovada filosofia. O termo, proveniente do latim medieval, vem de hospes que, naquele período, significava “hospedeiro” ou “hospede”. A partir daí, nasceu o vocábulo “hospital”: local onde os viajantes eram bem recebidos e muito bem cuidados.
Com o tempo, devido à influência da Igreja Cristã, o hospital começou a ser visto não mais como uma simples hospedaria, mas como um lugar para se acolher os enfermos.
Em seus primórdios, o hospital não era uma casa de enfermo ou de enfermidade, mas um lugar onde o hóspede, se enfermo, podia receber cuidados médicos.
A parábola do Bom Samaritano é um quadro que ilustra muito bem a fundação dos hospitais como hoje os conhecemos. Nessa belíssima narrativa, observemos algo muito importante. Os desvelos ministrados pelo samaritano àquele pobre homem refletiam, de certa forma, as funções de um sacerdote levita. Se bem que tanto o sacerdote como o levita, nessa narrativa, embora até possuíssem alguma ciência médica, passaram de largo e ignoraram o seu paciente.
Segundo a história, o primeiro hospital moderno foi estabelecido, em 370 d.C., na cidade de Cesareia, como resultado de um benévolo édito imperial. Mais tarde, Basílio, o Grande (329-379), recomendou a criação de hospitais, tendo como referência um famoso e eficiente hospital de Roma. Não nos esqueçamos da Ordem dos Hospitalários que, apesar de sua forte vocação militar, não deixou de cuidar dos peregrinos que se dirigiam à Terra Santa.
Na história de Israel, as práticas clínicas dos levitas precederam a medicina. É o que podemos inferir do texto sagrado. A seguir, vejamos como os sacerdotes cuidavam da saúde dos hebreus, não propriamente curando-lhes as enfermidades, mas prevenindo-as. Esse cuidado torna-se mais visível em relação à lepra que, naquele tempo, além de ser uma doença incurável, era socialmente repulsiva.
2. Lepra, o símbolo do pecado.
Libertos de uma terra idólatra e insalubre, os israelitas corriam o risco de transmitir à próxima geração enfermidades como a lepra, a doença mais repelente da antiguidade (Dt 7.15). Por isso, Deus encarregou os sacerdotes de inspecionar clinicamente o seu povo. Nos tempos bíblicos, a lepra causava repulsa devido ao seu aspecto e contágio (Lv 13.2). Se Deus não a curasse, médico algum poderia fazê-lo. Haja vista o caso do general sírio Naamã (2 Rs 5.1-14). O Senhor Jesus, durante o seu ministério terreno, curou a diversos leprosos e ordenou a seus discípulos a que os purificasse (Mt 10.8; 11.5).
3. A inspeção clínica.
Em sua peregrinação à Terra Prometida, os israelitas não contavam com médicos e sanitaristas. Era um luxo restrito aos nobres egípcios (Gn 50.2). Portanto, sempre que alguém apresentava algum dos sintomas da lepra, deveria encaminhar-se ao sumo sacerdote para ser examinado (Lv 13.1-30). De acordo com o diagnóstico, o paciente era declarado limpo ou impuro. Se constatada a doença, o enfermo era imediatamente apartado da comunidade (Lv 13.46).
4. A limitação do sacerdote.
Os sacerdotes, por conseguinte, encontravam-se habilitados a diagnosticar, mas não a curar os leprosos; era uma função mais preventiva que curativa. O próprio Senhor Jesus reconheceu a perícia do sacerdote na diagnose da enfermidade (Lc 5.14).
Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus, louvado como o Médico dos médicos, admitiu a utilidade dos médicos humanos. Embora limitados e, às vezes, até inúteis diante de algumas situações, eles aí estão para aliviar-nos a dor (Mt 9.12). Pelo que deduzimos desta saudação tipicamente paulina, Lucas era um médico mui amado entre os cristãos primitivos (Cl 4.14).
III. O INÍCIO DA URBANIZAÇÃO MODERNA
Às vezes, pergunto-me por que uma cidade como o Rio de Janeiro, que já foi alcunhada de maravilhosa, possui tantas mazelas urbanísticas. Ao lado de condomínios, que vivem no luxo, há comunidades que tentam sobreviver do lixo e no lixo. Dessa forma, vemos proliferar doenças que, há mais de um século, já haviam sido debeladas. No Israel do Antigo Testamento, tal situação era inadmissível.
1. O urbanismo e o sanitarismo do sacerdócio levítico.
O urbanismo é a disciplina relacionada ao estudo, regulação, controle e planejamento da cidade. Nessa ciência, não se pode confundir urbanismo com ação urbanizadora. Se esta não promover a melhoria de vida da população não é urbanismo; é mera preocupação estética. A cidade, pois, antes de ser bonita, tem de ser saudável.
O urbanismo deve caminhar de mãos dadas com o sanitarismo. Modernamente, o sanitarismo, conhecido também como higienismo, é conhecido como a ciência que tem por objetivo promover a saúde pública. A menos que tenhamos uma população saudável, qualquer projeto urbanístico, por mais belo e aprazível, será inútil. Eis por que Deus recomendou aos sacerdotes que zelassem pela saúde de seu povo.
De acordo com as leis urbanas que encontramos no Levítico, a urbanização de Israel deveria começar de dentro para fora; do interior das casas ao centro da cidade. Se uma casa estava doente, todos os demais domicílios corriam perigo; a epidemia era eminente. Vejamos, pois, como agiam os sacerdotes na fiscalização urbana de Israel. Aliás, a sua função incluía, também, o sanitarismo.
2. A função urbanista e sanitarista dos sacerdotes.
Apesar de ser a terra que mana leite e mel, Canaã, por causa dos povos que a habitavam, tornara-se tão doentia e insustentável quanto o Egito (Lv 14.34). Até suas casas e vestes estavam sujeitas a uma espécie de lepra, fatal aos israelitas. Por isso, Deus instruiu os sacerdotes a atuarem também como sanitaristas e urbanistas.
3. A função sanitarista do sacerdote.
O sanitarista é um especialista em saúde pública; sua função é mais preventiva do que curativa. Sua obrigação é manter a cidade livre de focos de doenças e infecções. Por isso, os sacerdotes, em Israel, inspecionavam casas e roupas (Lv 14.34-57).
4. A lepra na casa.
A lepra numa casa é descrita como manchas esverdinhadas e avermelhadas que, via de regra, pareciam mais fundas que a parede (Lv 14.37). Sempre que isso ocorria, o proprietário deveria recorrer ao sacerdote que, após examiná-la, ordenava o seu despejo, para que a praga não se espalhasse, contaminando toda a propriedade (Lv 14.36).
Em seguida, a casa era interditada por sete dias (Lv 14.38). Caso a praga não cedesse, as pedras contaminadas eram retiradas e as paredes todas eram raspadas. Em último caso, o sacerdote tinha autoridade para ordenar a demolição do imóvel (Lv 14.45). Para que a lepra não contaminasse outras propriedades, todo o seu entulho era jogado fora do perímetro urbano.
6. A lepra nas vestes.
As vestes e objetos domésticos também estavam sujeitos à lepra. No caso destes, tratavam-se de mofos e fungos igualmente nocivos à saúde (Lv 13.47-50). De imediato, a roupa deveria ser levada ao sacerdote (Lv 13.51). Caso a praga se mostrasse persistente, a roupa deveria ser queimada, a fim de evitar a propagação de doenças (Lv 13.52).
Deus advertiu solenemente os israelitas a guardarem-se da praga da lepra, pois a doença abria a porta a outras enfermidades e moléstias (Dt 24.8). Era um dos mais fortes símbolos do pecado (Is 1.6).
IV. A ESTRUTURA JURÍDICA DE ISRAEL
No Israel dos sacerdotes e levitas, o direito estava sempre ao alcance dos pobres, porque a Lei de Deus havia sido proclamada a toda a nação, e não apenas a uma minoria privilegiada. Ali, pobres e ricos, pequenos e grandes, nobres e plebeus; todos, enfim, estavam sujeitos aos mandamentos divinos. Não havia minoria privilegiada, nem maioria ignorada; eram todos iguais diante da Lei de Deus.
1. A função judicial dos sacerdotes.
Judicialmente, o livro de Levítico apresenta várias disposições, a fim de proteger a família, a propriedade privada e, principalmente, a vida humana. Nesse sentido, o sacerdote atuava também no campo jurídico. No Israel do Antigo Testamento, não havia uma lei-maior para dirigir o país; uma espécie de constituição. Ali, toda a Palavra de Deus funcionava como a ordenança que não podia ser ignorada quer pelo rei, quer pelo plebeu. E, para zelar pelo fiel cumprimento dos estatutos divinos, os sacerdotes e demais levitas faziam-se presentes.
2. Proteção da família.
Com o objetivo de manter a pureza e a legitimidade no relacionamento familiar, o Senhor, por intermédio de Moisés, proíbe aos israelitas: o sacrifício infantil (Lv 20.2); o incesto, (Lv 18.6-9); o abuso sexual doméstico (Lv 18.10); a exposição das filhas à prostituição (Lv 19.29); o homossexualismo e a bestialidade (Lv 18.22,23). Os israelitas, como adoradores do Único e Verdadeiro Deus, eram obrigados a honrar seus pais e a preservar-lhes a autoridade (Lv 19.3; 20.9).
3. Proteção da propriedade privada.
A posse de uma propriedade, em Israel, era considerada algo sagrado; uma dádiva de Deus ao seu povo (Êx 3.7,8). Por esse motivo, os israelitas deveriam tratar suas casas e campos de maneira responsável e amorosa (Lv 19.9). As colheitas eram feitas de tal maneira, que os pobres jamais deixavam de ser contemplados (Lv 23.22).
Sendo, pois, a terra propriedade do Senhor, não poderia ser explorada de maneira irresponsável e contrária à natureza (Lv 25.3,4). Do texto sagrado, depreendemos que o sacerdote tinha por obrigação supervisionar o uso sustentável da terra.
A propriedade da terra não era considerada roubo, conforme diria o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865), mas uma herança pela qual valia a pena lutar (1 Rs 21.3). No Israel de Deus, os governantes não se digladiavam hoje pela esquerda, e, amanhã pela direita; punham-se todos no centro da vontade divina.
Ali, nas terras do Senhor, não havia lugar para o comunismo assassino e mentiroso, nem para o fascismo desumano e cruel, pois a Lei de Moisés supria todas as carências e lacunas sociais. E, quando do advento da injustiça, Jeová enviava os seus mensageiros que, corajosamente, clamavam contra a opressão, o roubo, o crime e a infidelidade doméstica.
4. Proteção da vida.
Também estava sob o encargo do sacerdote a inspeção das casas (Dt 22.8) e da criação de animais (Êx 21.36). A mulher grávida recebia proteção especial (Êx 21.22). Enfim, a vida na sociedade judaica era e é sagrada; um dom do Criador (Nm 16.22). Por isso, Deus determina no Sexto Mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13). Mencionemos ainda as cidades de refúgio que, administradas pelos levitas, serviam para acolher o que, sem o querer, matava alguém (Nm 35.10-15).
Oremos, para que o nosso país seja realmente justo e misericordioso. Não nos faltam leis, nem legisladores, nem juízes. Ei-los pelos tribunais; ei-los saindo das faculdades e academias. Todavia, falta-nos o temor do Senhor, sem o qual não pode haver princípio algum de sabedoria. É chegado o momento de rogarmos ao Senhor que nos cure a terra. Achamo-nos tão enfermos, hoje, quanto o Israel dos tempos de Isaías (Is 1.1-9). Neste momento, conscientizemo-nos de nossa responsabilidade como sal da terra e luz do mundo.
CONCLUSÃO
Conforme profetizou Malaquias, a aliança do Senhor com a tribo de Levi era firme e bem conhecida de todo o Israel. Nesse sentido, seus descendentes deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange à Lei de Moisés, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Infelizmente, os sacerdotes não souberam como guardar o concerto levítico.
Se o Senhor exigiu excelência e correção dos levitas, no Antigo Testamento, como devemos nós agir? Que o nosso culto seja marcado pelo amor e pela não conformação com este mundo.
Nós, obreiros de Cristo, temos de ser um padrão na sã doutrina, segundo recomenda o apóstolo: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência” (Tt 2.7, ARA). Ainda que não sejamos sacerdotes como os filhos de Levi, nossa responsabilidade, diante do povo de Deus, não é menor. Se o Senhor exigiu deles excelência, o que não exigirá de nós, seus despenseiros? Ou será que já não tememos ser reprovados no Tribunal de Cristo? Que o Senhor nos ajude.
Fonte:
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade
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