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sexta-feira, 29 de junho de 2018

Levítico, Adoração e Serviço ao Senhor

“E porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma de vós não se enfadará” Lv 26.11


Levítico, adoração e serviço ao Senhor

Caros professores, neste trimestre abordaremos um livro da Bíblia que para muitos é tido como difícil, hermético e impenetrável: o Levítico. Essa palavra provém da antiga tradução grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, e seu significado é “Concernente aos levitas” ou “Com respeito aos levitas”.

O nome do livro revela que a obra sagrada foi escrita originalmente como um manual litúrgico para os levitas. Nesse aspecto, o Levítico contém a narrativa da maior parte do sistema de leis estabelecido por Deus para o Seu povo sob a administração do sacerdócio levítico.

Informações Básicas sobre o livro

Ao longo do livro, que com outros quatro formam o Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento), são destacados os seguintes conteúdos: leis sobre a santidade de Deus e o amor ao próximo; sacrifícios como parte da adoração; a pureza ritual e obrigações sociais; instituição do sacerdócio segundo a ordem de Arão; leis quanto à função sacerdotal dos levitas; estabelecimento da expiação dos pecados (o Dia da Expiação); leis que regulam as relações sexuais, a vida familiar, a punição de crimes graves, as festas sagradas e os anos especiais, como o sabático e o jubileu.

Essas descrições apontam para os seguintes objetivos do livro: purificar a nação escolhida das abominações do Egito; preservá-la das sujeiras morais e espirituais de Canaã; transformar a nação num povo separado por Deus para cumprir os propósitos divinos. Por isso, o livro tem o propósito claro de estabelecer a santidade de Deus na vida de seu povo: “Porque eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44).

Esboço do livro de Levítico

DIVISÃO EM DOIS PRINCIPAIS BLOCOS
1—16 → Regulamento para o povo e os sacerdotes (o Código Levítico);
17—26 → Regulamento do relacionamento com Deus e com o próximo (o Código de Santidade).

DIVISÃO DO PRIMEIRO BLOCO (1—16)
1.1—6.7 → As ofertas do povo
8—9 → A instituição do sacerdócio arônico;
10 → Juízo de Deus e instruções para os sacerdotes;
11—15 → Leis sobre a pureza ritual para os sacerdotes;
16 → Instituição do Dia da Expiação.

DIVISÃO DO SEGUNDO BLOCO (17—26)
17—24 → O Código de Santidade para diversos comportamentos da nação e dos sacerdotes;
25—26 → Instituição dos anos sabáticos e do jubileu; bênçãos e maldições da aliança.


A verdadeira adoração a Deus compreende, necessariamente, o nosso serviço voluntário, santo e amoroso ao seu Reino.

Leitura Bíblica em classe: Levítico 27.28-34

Estudaremos, a partir de agora, o livro de Levítico, cujo tema pode ser resumido nesta simples, mas atual ordenança divina: “... portanto vós vos santificareis, e sereis santos, porque eu sou santo” Lv 11.44



Introdução

Embora seja visto, às vezes, como um manual de cerimônias estressante e monótono, o livro de Levítico vai além das celebrações e ritos que prescreve. No cânon divino, surge como parte viva, orgânica e essencial da História Sagrada. Por essa razão, sua atualidade não pode ser ignorada por nenhum cristão. Isso não significa, porém, que devamos submeter-nos à sua liturgia que, como muito bem explica o apóstolo Paulo, cumpriu-se plenamente em Cristo. Enveredando-se pelo caminho dos judaizantes, os gálatas caíram da graça; quase pereceram. Os princípios teológicos e devocionais de Levítico, todavia, são eternos; eram necessários ontem e continuam imprescindíveis hoje.

Nessa porção sagrada, deparamo-nos com três palavras-chave: adoração, santidade e serviço. Tais proposições servem de alicerce tanto à congregação israelita quanto à Igreja de Cristo. Ambas precisaram aprender, cada uma a seu tempo, a adorar a Deus e a reconhecê-lo como o Criador, Senhor e Mantenedor de todas as coisas. Em seguida, aprendemos com Moisés e Arão que, para agradar ao Senhor, temos de apartar-nos do mundo e separar-nos exclusivamente ao serviço divino. Eis o cerne da santificação preconizada em cada seção do livro de Levítico.

Já em suas primeiras linhas, é possível concluir que a adoração nada é sem a santificação, e a santificação, por sua vez, nenhum valor terá se não resultar em serviços ao Reino de Deus. Aqui está o fulcro do terceiro livro do Pentateuco. Ao chegarmos à última etapa desta obra, concluiremos: o Levítico é tão vivo, hoje, como no dia em que Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, lavrou-o num papiro a caminho da Terra Prometida.

I. Levítico, um Livro por Excelência

À semelhança dos demais livros do Cânon Sagrado, o Levítico destaca-se por sua singularidade, origem e excelência. Vejamos, em primeiro lugar, a razão de seu nome e de sua estrutura.

1. O nome do livro. 
No original hebraico, o livro de Levítico é conhecido por suas palavras iniciais: Vaicrá que, literalmente, significam “e chamou” (Lv 1.1). Numa primeira instância, veremos, nesse enunciado, um chamado indireto de Deus a Moisés a escrever a terceira porção do Pentateuco. Em seguida, enxerguemo-la como a vocação direta de Deus a Israel a reerguer-se como nação santa, profética, real e sacerdotal.

Vaicrá tem, ainda, mais duas traduções possíveis: “e separou” e “e santificou”. Teologicamente, o chamado de Deus implica em nossa separação do mundo e em nossa imediata santificação ao serviço de seu Reino.

Na erudição judaica, o livro é conhecido também como Torath Kohanim – A Lei dos Sacerdotes. Já na Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento, o livro recebe o nome de Leuitikon, denotando-lhe o tema e o propósito: as coisas pertencentes ao ministério dos levitas. No latim, a sua designação é Leviticus. E, tendo em vista a origem românica do idioma português, nossos tradutores houveram por bem denominá-lo de Levítico pelas razões já apontadas.

2. Estrutura do livro.
Terceiro livro das Sagradas Escrituras, o Levítico é composto por 27 capítulos, 859 versículos e, aproximadamente, 24 mil palavras. Nele, são encontrados mandamentos, proposições, narrativas e profecias. Em suas páginas, há 26 promessas quanto ao proceder obediente de quem professa adorar a Deus.

3. Singularidade do livro.
O Levítico é um livro singular por duas razões:

1) É o único manual que temos na Bíblia referente à forma correta de se adorar a Deus; e

2) Embora dirigido aos sacerdotes, foi redigido por um profeta (Lv 1.1).


4. As divisões de Levítico.
Utilizaremos A Bíblia Explicada para esboçar o Levítico. Esse livro sagrado, de acordo com S. E. Macnair, pode ser dividido em nove seções principais:

1) As ofertas (caps. 1—6.7).

2) A lei das ofertas (caps. 6.8—7.38).

3) Consagração (caps. 8.1—9.24).

4) Uma transgressão e um exemplo (cap. 10.1—20).

5) Um Deus santo exige um povo santo (caps. 11—15).

6) Expiação (cap. 16).

7) A conduta do povo de Deus (caps. 17 e 22).

8) As festas de Jeová (cap. 23).

9) Instruções e avisos (caps. 24—27).

5. Origem divina e humana do livro.
À semelhança dos demais livros das Sagradas Escrituras, o Levítico é um texto verdadeiramente humano e verdadeiramente divino. Sua autoria fica bem patente logo no primeiro versículo: “E chamou o SENHOR a Moisés, e falou com ele da tenda da congregação” (Lv 1.1).

O livro tem como fonte o próprio Deus e, como medianeiro, Moisés. Inspirado pelo Espírito Santo, o profeta e legislador dos hebreus redigiu-o e encarregou-se de transmiti-lo aos levitas e aos demais filhos de Israel, seus leitores e ouvintes imediatos, e, depois, a nós, a Igreja de Cristo. É uma obra, pois, de dupla procedência e autoria: divino-humana.

6. Excelência literária do livro.
Que o livro de Levítico é inspirado pelo Espírito Santo, não há dúvida. Nós ouvimos a voz de Deus em cada uma de suas páginas; é um texto comprovadamente divino. Todavia, o que podemos dizer acerca de suas qualidades literárias?

Apesar de ser uma obra técnica, o Levítico não se perde naqueles jargões e tecnicismos que caracterizam os manuais. O seu autor humano, sempre guiado pelo Espírito de Deus, redigiu-o de tal forma que, passados mais de três milênios, sentimo-lo como se tivesse acabado de ser escrito. É importante observarmos que a sua redação não secciona a narrativa pentateutica da peregrinação dos israelitas à Terra Prometida.

Moisés escreveu o Levítico com tanto “engenho e arte”, que se tem a impressão de que essa porção da Bíblia Sagrada é a continuidade do Êxodo e a transição natural para os livros de Números e Deuteronômio. Temos, pois, diante de nós, uma obra de comprovada excelência literária. É bela e sublime; em seu gênero, inigualável.

II. A Certeza da Autoria Mosaica

Neste tópico, ressaltaremos as qualidades literárias de Moisés. Em seguida, veremos o idioma e a escrita usada pelo autor sagrado.

1. Deus, o autor divino.
Do primeiro ao último versículo de Levítico, sente-se claramente que Deus é o seu autor (Lv 1.1). Tal convicção não advém apenas das reivindicações formais do livro; advém, principalmente, da experiência do leitor com a obra. Pelo menos essa é a minha experiência pessoal.

Do início ao final de Levítico, o Senhor dirige-se a Moisés em 38 ocasiões diferentes. Patenteia-se, dessa forma, a origem divina da terceira seção do Pentateuco. Não há dúvida: é a palavra inspirada, inerrante e completa de Deus.

2. Moisés, o autor humano.
Não exagero ao afirmar que Moisés foi o homem mais sábio que o mundo já conheceu. É claro que faço essa afirmação depois de excetuar o Senhor Jesus Cristo que, além de sapientíssimo, era e é a própria sabedoria. Aliás, Ele é a Palavra de Deus encarnada. Nesse sentido, toda a palavra do Levítico era, essencial e tipologicamente, o oráculo do Filho de Deus.

Vejamos algumas qualidades literárias de Moisés.

Educado na corte faraônica, Moisés tornou-se um homem poderoso em palavras e obras. Sua cultura não se restringia ao Egito; era universal. Ele podia transitar por todo o Oriente Médio sem constrangimento algum. Já refugiado em Canaã, entrou em contato com a escrita sinaítica: um meio termo entre a pictografia egípcia e o alfabeto assurítico, que, no tempo de Esdras, seria adotado pelos escribas judeus.

Ali, nos prados midianitas, Moisés foi induzido, providencialmente, a trocar a primeira forma de escrita pela segunda. Em termos técnicos, pode-se considerar os signos sinaíticos como uma espécie de alfabeto. Será que os intelectuais egípcios conheciam os signos do Sinai? Talvez. Mas, à semelhança dos chineses, resolveram manter o seu complexo sistema de linguagem, a fim de não popularizar o conhecimento.

O estilo literário de Moisés foi divinamente forjado no deserto. Fugindo às ladainhas egípcias, foi conduzido didaticamente a sair da movediça e fantástica literatura faraônica até firmar-se num estilo firme, racional e próprio da literatura histórico-profética. Nesse período, deixa-se impregnar pela dicção poética, campesina e pastoral de seu povo. E, assim, depois de quarenta anos no exílio e, após muito pensar, o filho de Anrão e Joquebede estava preparado a lavrar as palavras que Deus, por intermédio do Espírito Santo, assoprar-lhe-ia na alma.

3. O idioma original.
Ao ser intimado por Deus a ser o pai da nação eleita, Abraão ainda não falava o hebraico, embora fosse reconhecido como hebreu (Gn 14.13). Seu idioma materno era, mui provavelmente, um caldaico primitivo que ainda lutava por desvencilhar-se das influências dialetais da Acádia. Nesse sentido, a língua de suas peregrinações pode ser classificada como pré-hebraica. Isso porque, em suas caminhadas por Canaã foi mesclando sua língua materna aos diversos falares cananeus. Como estes se expressavam em línguas igualmente semíticas, o patriarca não teve dificuldades em transitar pelos diversos reinos cananeus e, com estes, negociar e estabelecer alianças. O capítulo 14 de Gênesis mostra, implicitamente, a desenvoltura linguística de Abraão entre os povos de Canaã. Seria como um lusófono, alguém que fala português, a andejar numa área onde predominasse a hispanofonia, uma comunidade linguística que envolve todas as pessoas que têm em comum a língua espanhola.

Nos lábios dos patriarcas, a língua hebraica foi sendo paulatinamente formada ao longo de cinco séculos: do chamado de Abraão ao chamamento de Moisés. Um período que vai, de acordo com a cronologia bíblica geralmente aceita, do ano 2.000 a 1.500 a.C.

A estadia de Israel no Egito foi decisiva à consolidação do idioma hebraico. Ali, na distante Gósen, isolada no delta oriental do Nilo, os israelitas puderam desenvolver o seu idioma, livres das influências linguísticas dos cananeus e dos egípcios. Apesar de residirem no Egito, os filhos de Israel não mantinham contato com os habitantes da terra, uma vez que estes os consideravam abominação (Gn 46.34). Os súditos de Faraó não toleravam pastores de ovelhas, pois tinham o gado vacum e ovino como divindade.

Por conseguinte, quando o Senhor chamou Moisés a escrever os primeiros cinco livros da Bíblia Sagrada, a língua hebraica já estava devidamente formada. Faltava-lhe, porém, um sistema de escrita. Que signos adotar? Os hieróglifos egípcios? Ou a escrita cuneiforme das antigas Suméria e Acádia? Se Moisés tivesse optado quer pelos primeiros quer pela segunda, hoje não teríamos acesso às revelações do Gênesis e às narrativas da redenção de Israel.

4. A escrita pentatêutica.
Foi nesse período que Moisés descobriu a escrita sinaítica. Se comparada aos hieróglifos egípcios e às cunhas mesopotâmicas, ela pode ser considerada, de fato, um sistema alfabético. No entanto, prefiro classificá-la de pré-alfabética por duas razões: ela ainda estruturava-se em sinais pictóricos, e estava bem longe de usar vogais em seus fonemas. Mesmo assim, era um avanço admirável em relação às grafias dos vales do Nilo e do Eufrates.

O que poderia ter acontecido se Moisés, ao invés de usar a escrita sinaítica, tivesse optado pela egípcia ou pela mesopotâmica? Certamente, hoje, a História Sagrada seria um amontoado de signos incompreensíveis e sujeitos às mais bizarras interpretações. Aliás, nem os próprios israelitas achariam nelas qualquer sentido. Mas, graças a Deus, o profeta foi não apenas inspirado a escrever inerrantemente o Pentateuco, como também foi dirigido, pelo mesmo Espírito, a escolher o sistema de escrituração mais eficaz da época, para narrar os princípios da História Sagrada até a libertação completa dos hebreus. O alfabeto sinaítico (chamemo-lo assim) foi rapidamente assimilado pelos sábios de Israel que, sempre dirigidos e supervisionados pelo Espírito Santo, puderam dar continuidade à História Sagrada. Josué, Samuel, Davi e Gade, por exemplo, tornaram-se mestres na escrita do Sinai; grandes literatos (Js 24.26; 1 Sm 10.25; Sl 45.1). Aliás, pelo que inferimos de algumas passagens, era um sistema já bastante utilizado naquela região (Jz 8.14).

Na verdade, a escrita sinaítica nasceu entre os fenícios que, já naqueles dias, dominavam o comércio na região do Oriente Médio. E, para agilizar suas escriturações contábeis, entenderam por bem criar um sistema de registro mais dinâmico e eficaz. E, tendo como base os hieróglifos egípcios, elaboraram um pré-alfabeto que, séculos depois, seria adotado e aperfeiçoado pelos gregos e romanos.

Se bem atentarmos à história de Israel, perceberemos que, durante o exílio babilônico, os judeus vieram a trocar, de fato, o seu alfabeto pelo assurítico. Denominado escrita quadrática, devido à forma de suas letras, foi introduzido na cópia das Sagradas Escrituras mui provavelmente por Esdras. O eruditíssimo doutor e escriba, aliás, foi quem procedeu a última reforma editorial e gráfica do Antigo Testamento. Sem o seu trabalho, as Sagradas Escrituras corriam o risco de se tornarem um todo incompreensível. E, dessa maneira, viriam a cair no esquecimento.

O hebraico, como o lemos hoje no Antigo Testamento, é um legado tanto de Moisés quanto de Esdras, intermediados por filólogos como os homens de Ezequias (Pv 25.1).

A Moisés coube uma tripla e dificílima tarefa: adaptar a escrita sinaítica às necessidades linguísticas de Israel; gramaticar o hebraico e, finalmente, torná-lo uma língua literária. Nesse sentido, Moisés está para o hebraico como Martinho Lutero (1483-1546) está para o alemão. Sem o trabalho de ambos, separados por trinta séculos, hoje não teríamos nem a língua hebraica nem a alemã. Moisés, por esse motivo, não foi apenas o maior profeta da História Sagrada, foi também um dos maiores linguistas e filólogos que o mundo já conheceu. Infelizmente, os eruditos seculares, sempre preocupados em desconstruir a Bíblia, ainda não atentam a esse fato. Quanto a Esdras, coube-lhe uma missão dupla e igualmente dificílima. Em primeiro lugar, adaptou o alfabeto assurítico, usado pelos falantes do aramaico, ao hebraico do exílio. Já resolvido o problema alfabético, o grande e bem-conceituado doutor pôs-se a revisar linguisticamente as Escrituras Sagradas até então lavradas. Sua revisão, frisamos, não avançou além do campo filológico; ele não fez nenhuma mudança de conteúdo, pois a própria Escritura, a fim de preservar-se, proibia-o terminantemente (Pv 30.5,6; Ap 22.18.19). E, sobre as adaptações linguísticas, os editores sagrados não esconderam a sua participação (Gn 22.14; Dt 3.14; 1 Sm 5.5).

A mudança da escrita sinaítica para o alfabeto assurítico, conhecido hoje como hebraico, começou a ser feita no exato momento em que Daniel e seus companheiros chegaram à corte babilônica. Eles foram não somente obrigados a aprender a língua e a cultura dos caldeus, mas também constrangidos a assimilar o seu alfabeto (Dn 1.4). Afinal, os documentos oficiais eram redigidos, inicialmente, em arameu e no alfabeto assurítico, e, depois, nas demais línguas e alfabetos.

Hoje, temos o livro de Levítico na Bíblia Hebraica, não mais na escrita sinaítica, mas no sistema alfabético assurítico. Concernente à língua hebraica, em si, o que podemos dizer? O hebraico falado no tempo de Esdras seria perfeitamente inteligível a um israelense de nossos dias. Deus, portanto, reservou os meios mais eficazes (alfabeto, língua e trabalho editorial), para que tivéssemos, hoje, a sua Palavra como Ele a inspirou a Moisés e aos demais profetas.

III. Ocasião, o Nascimento de Israel

Ao datarmos a redação do livro de Levítico, temos de levar em consideração três coisas muito importantes: a ocasião da obra, a peregrinação e o aparente atraso e, finalmente, o estabelecimento da congregação israelita no deserto.

1. A data da redação do Levítico.
De acordo com a cronologia bíblica geralmente aceita, o livro de Levítico foi escrito por Moisés em 1445 a.C.. É claro que essa data não pode ser considerada exata, mas também não é absurda nem pode ser descartada. E, se levarmos em conta Êxodo 40.7, veremos que a redação da terceira parte do Pentateuco começou a ser feita um ano depois de os israelitas terem saído do Egito. Foi nessa ocasião, ainda, que o Senhor ordenou fosse erguido o Santo Tabernáculo no deserto.

2. O período do Levítico.
Moisés escreveu o Levítico num momento particularmente difícil da história de Israel. Os israelitas tinham acabado de sair de uma segunda apostasia. A primeira, como se recorda, foi o episódio do bezerro de ouro (Êx 32). Mas a segunda, embora não tivesse como motivação a idolatria, foi pior do que a primeira; tinha como fundamento a incredulidade que, a partir daquele momento, tornar-se-ia crônica na vida dos judeus.

Embora conhecessem a promessa feita por Deus a Abraão, os hebreus, contaminados pelo desânimo, não se animaram a apossar-se de Canaã. Foram, por isso, condenados a peregrinar no deserto por quarenta anos (Nm 14.34). Em meio a essa rebelião e apostasia, foi que Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu o Levítico, a fim de ensinar o povo a adorar o Deus Santo, Vivo, Único e Verdadeiro.

3. A peregrinação e o atraso.
Não fossem as duas grandes apostasias, Israel teria chegado a Canaã em, no máximo, dois meses. Mas, em consequência de seus pecados, os hebreus tiveram de voltear o Sinai por um período de quarenta anos, até que toda aquela geração de incrédulos caísse no deserto e, no deserto, fosse sepultada. Sem esse longo contratempo, o livro de Levítico poderia ter sido escrito em Canaã, sob circunstâncias mais favoráveis. E, quem sabe, o lamentável episódio de Nadabe e Abiú teria sido igualmente evitado, pois ambos, frutos daquela incredulidade, eram tão culpáveis quanto os dez espias que esparramaram o desalento pelo arraial hebreu.

Todavia, como o cronograma redentivo de Deus não pode ser atrasado pelas circunstâncias, aprouve ao Senhor entregar as regras e mandamentos levíticos em pleno Sinai. E, dessa forma, a nova geração de Israel adentraria Canaã com uma disposição renovada, apossando-se de vez da terra que mana leite e mel. Sendo assim, podemos dizer que o atraso ocorrido na peregrinação dos israelitas em direção à Terra Prometida foi providencial e didático. Sem a longa estadia no deserto, Israel jamais alcançaria o seu status de nação profética, sacerdotal e real.

4. A congregação no deserto.
Foi nesse período conturbado, que Deus ordenou a construção do Santo Tabernáculo. Neste ponto, vejo-me obrigado a levantar esta questão: se não fossem as duas apostasias de Israel, no Sinai, a tenda de adoração seria necessária?

Que os israelitas careciam de um centro de adoração ninguém o pode negar. Entretanto, se a peregrinação tivesse durado apenas sessenta dias, um tempo mais do que razoável, acredito que, ao invés de um santuário portátil, os israelitas seriam instruídos, pelo Senhor, a erguer uma casa definitiva. Isso, porém, só viria a acontecer quatro séculos depois da entrada de Israel em seu território. A desobediência traz retardos e atrasos em todos os sentidos. Eis porque devemos primar por uma vida de obediência ao Senhor.

IV. Os Objetivos de Levítico

À primeira vista, o livro de Levítico é um manual de cerimônia como outro qualquer. Todavia, uma leitura mais atenta leva-nos a ver, em suas páginas, pelo menos cinco objetivos: doxológico, hagiológico, didático, diaconológico e missiológico.

1. Objetivo doxológico.
No Êxodo, o Senhor demanda de seu povo uma adoração perfeita. Já no Levítico, ensina Ele, a esse mesmo povo, como alcançar esse alvo. Em suas páginas, observamos que, além da intenção do adorador, a adoração tem de processar-se de maneira correta e santa, pois o Senhor busca os que o honram em espírito e em verdade. Por isso, a partir do sacerdócio araônico, a adoração passa a ser considerada um serviço a ser prestado regular e corretamente ao Deus Santo e Verdadeiro.

A doxologia é o primeiro e mais elevado objetivo do livro de Levítico. Eis porque, no cerne de todo sacrifício e oferta, tem de estar o coração e a alma do adorador. Menos que isso é inaceitável.

2. Objetivo hagiológico.
A hagiologia não se limita a estudar a vida dos homens santos; seu objetivo inclui a pesquisa de coisas tidas como santas e o processo de santificação que as acompanha. Por essa razão, temos de ver os estágios de santificação de Israel como o segundo objetivo de Levítico. Isso porque, o Deus Santo e Verdadeiro requer, de seus adoradores, a mesma santidade e a mesma verdade. Aliás, o texto áureo desse livro é bastante claro quanto aos seus objetivos hagiológicos: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2).

A hagiologia bíblica abrange um duplo processo. O primeiro é separar o homem do mundo, para que ele, pelos meios da graça, santifique-se ao Senhor. O segundo leva esse mesmo homem, já separado do mundo, a santificar-se para o serviço de Deus. Conclui-se que a doxologia só há de ser perfeita se a hagiologia for completa na vida de quem professa amar e servir ao Senhor.

3. Objetivo didático.
Mas, como alcançar os objetivos doxológicos e hagiológicos demandados no livro de Levítico? A fim de que a adoração de Israel fosse perfeita, o Senhor providenciou um amplo e eficaz aparato didático. Somente assim o perfeito e santo Deus seria perfeita e santamente adorado.

Devemos, portanto, ver como didáticos os livros de Êxodo e de Levítico, pois o objetivo de ambos é conduzir Israel, para que este, perfeita e completamente instruído, viesse a servir a Deus em espírito e em verdade.

Se levarmos em conta os ensinos das epístolas endereçadas aos gálatas e aos cristãos hebreus, veremos o Santo Tabernáculo como um jardim de infância, no qual os israelitas, sempre conduzidos pelas mãos de Arão e de Moisés, deveriam aprender os primeiros rudimentos das verdades divinas (Gl 3.24,25).

Infelizmente, eles recusaram-se a crescer na graça e no conhecimento do Senhor; optaram por ficar na escola de pré-alfabetização; não avançaram jamais. Vendo esse retardo atingir inclusive os cristãos, o autor sagrado exorta-os a deixar os tipos e emblemas dos bens futuros e, nestes, fixarem-se (Hb 9.11; 10.1).

Hoje, não são poucas as igrejas evangélicas gentias que, embevecidas pelo esplendor do culto hebreu, buscam reviver festas e cerimônias judaicas, como se o templo cristão fosse mera sinagoga. Nosso compromisso com Israel é orar pela paz de Jerusalém, para que os filhos de Abraão retornem o mais depressa possível à sua herança, conforme preconizam os santos profetas. Quanto a nós, já saímos do jardim de infância espiritual. Eis porque devemos cumprir a terceira ordenança de Jesus: evangelizar até aos confins da terra.

4. Objetivo diaconológico.
Que Israel fora chamado a servir a Deus era algo que não podia ser ignorado nem pela nação como um todo, nem pelo adorador em particular. A doxologia, a hagiologia e a didática tinham de resultar, naturalmente, na diaconia de quem professa conhecer o Deus Único e Verdadeiro. Israel deveria erguer-se, necessária e urgentemente, como a comunidade servidora por excelência. Mas não foi isso que aconteceu. Os judeus tardaram em reconhecer a natureza de sua missão como filhos de Deus e herdeiros de Abraão. Se nos detivermos no espírito de Levítico, constataremos que o seu principal objetivo era preparar um povo obreiro ao Senhor.

5. Objetivo missiológico.
O verdadeiro santo não é aquele que se limita a não praticar o mal; é aquele que, apartando-se do mal, deleita-se em fazer o bem e servir a Deus. Refugiar-se num convento pode até ser eficiente para quem busca fugir à avareza, à prostituição e às intemperanças. Todavia, tal refúgio impedir-nos-á de praticar o bem. E quem sabe praticar o bem e não o pratica ofende a Deus; faz-se tão pecador como aquele que, intemperando-se, lança-se a todos os excessos. Por essa razão, entendamos de uma vez por todas: fomos salvos para divulgar o testemunho de Jesus Cristo.

Tal ensino pode ser encontrado na essência de Levítico. Portanto, à semelhança dos demais livros das Sagradas Escrituras, ele é, também, um livro missiológico. Se Israel, compenetrando-se de sua missão como povo de Deus, observasse os seus mandamentos, teria partido dali mesmo, em pleno deserto, a anunciar as grandezas de Deus. Mas, recolhido aos seus privilégios, limitou-se a reagir às agressões dos gentios. De que modo estamos agindo como Igreja de Deus? Agimos? Ou limitamo-nos a reagir às circunstâncias? Santifiquemo-nos! Testemunhemos de Cristo em toda e qualquer circunstância.

Conclusão

Conforme tivemos a oportunidade de ver, o livro de Levítico não é um simples manual de cerimônias. Se o lermos com reverência e cuidado, constataremos estarmos diante de um livro, cuja principal reivindicação é a nossa santificação para servir a Deus. O Senhor intima-nos a ser santos, porque Ele é santo. Mas que a nossa santidade não venha a isolar-nos do clamor do mundo. Embora separados deste, neste ainda estamos. Eis porque, como santos de Deus, temos o dever de apregoar a mensagem do Evangelho por todo o mundo.

O livro de Levítico continua tão atual, hoje, como no dia em que Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, o escreveu. Que Deus nos ajude e, por intermédio do Espírito Santo, santifique-nos a cada dia.

Fonte:
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade

Aqui eu Aprendi!

quinta-feira, 28 de junho de 2018

O que é Milagre?

“E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” At 3.6

Prezado (a) professor(a), já chegamos na metade de 2018 e estamos iniciando mais um trimestre com a graça de Deus. Nesta ocasião o tema a ser estudado é bastante sugestivo, pois trata dos Milagres de Jesus. Em uma época em que os milagres parecem ter se extinguido em alguns lugares enquanto em outros têm sido banalizados, tal assunto torna-se imprescindível, pois as pessoas continuam carentes da intervenção divina.

Texto Bíblico:  Atos 3.1-10


O milagre acontece de acordo com a vontade e a permissão de Deus.

INTRODUÇÃO

Neste trimestre estudaremos um tema oportuno — Os Milagres de Jesus. Excetuando as primeiras duas lições que têm como objetivo introduzir o assunto, e a última que conclui a revista, todas as demais lições tratarão de um dos muitos milagres realizados por nosso Senhor Jesus Cristo. O ministério terreno do Mestre foi marcado por muitos sinais miraculosos. Uma vez que o Senhor não mudou, certamente este trimestre será pontuado pela manifestação divina e muitas curas e milagres acontecerão. No ensejo deste estudo lembremos que o Senhor é o mesmo e, por isso, Ele virá em nosso socorro e nos agraciará com toda a sorte de bênçãos celestiais. Aproveitemos esse período para receber o milagre que tanto precisamos e, posteriormente, testemunhemos para a glória do nome do Senhor.

I. O MILAGRE

1. O que é milagre?
Autores há que defendam a ideia de que o milagre seja a suspensão momentânea das leis naturais e outros que advogam justamente o contrário, ou seja, o milagre é a “normalidade” e a expressão exata do que deveria acontecer em um mundo governado pelas leis divinas e sem a mancha do pecado. Tal discussão contém verdade e conflito tanto de um lado quanto de outro. O fato mais importante é que o milagre, tal como se entende biblicamente, trata-se de uma intervenção sobrenatural de Deus na ordem dos acontecimentos e diz respeito a algo extraordinário (Jo 4.46-54: 6.1-14; At 4.22).

2. A função do milagre.
O propósito do milagre, invariavelmente, é prestar socorro e glorificar o nome do Senhor (Lc 13.10-17). Ele não é resultado da vontade humana e nem produto da capacidade de quem quer que seja, mas vem única e exclusivamente da parte de Deus (Tg 1.17). Portanto, qualquer tentativa de usurpar a glória do Altíssimo constitui-se em “roubo”, pois a sua glória Ele não dará a outrem (Is 42.8).

3. A “imprevisibilidade” como característica do milagre.
Apesar de o milagre chegar em momentos de dificuldade e de grande aflição, não é prudente “agendá-lo”, decretá-lo ou mesmo determiná-lo, pois é Deus “o que opera [...] tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). Em casos excepcionais, em que parece ter havido um “agendamento” para o milagre, certamente Deus pode ter comunicado ao coração dos seus servos para que tal acontecesse (1Rs 17.1; 18.41-46 cf. Tg 5.17,18). Contudo, fora esses casos específicos, devemos confiar no Senhor de todo o nosso coração, mas sem querer manipular o Eterno.


II. PERIGOS QUE RONDAM O MILAGRE

1. Apego excessivo ao miraculoso.
Acostumar-se ao miraculoso encerra um grande perigo que é desprezar o sagrado, tornando-se ingrato (Nm 11.6). Todavia, “viciar-se” em tudo o que parece extraordinário, desprezando a ordinariedade, pode ser igualmente perigoso. O servo de Deus precisa aprender a contar com a dependência divina sem descuidar de sua parte no processo da manutenção da vida, ou seja, deve buscar o equilíbrio (Pv 30.7-9). Alcançar tal equilíbrio não parece difícil, entretanto, o que se verifica é uma tendência à polarização: quando tudo vai bem tornamo-nos relapsos quanto à oração e nem nos lembramos que o dom da vida depende de Deus e é um milagre, por outro lado, se estamos em tribulação, clamamos desespera da mente pela intervenção divina.

2. Idolatria popular em relação a quem foi o canal divino.
Já se disse, com propriedade, que ninguém torna uma multidão refém de si sem antes tornar-se dela refém. José foi bastante claro ao dizer que não estava nele a capacidade de revelar alguma coisa a Faraó, mas que Deus daria resposta de paz ao governante (Gn 41.16). Portar-se de tal forma pode parecer fácil, entretanto, a própria história bíblica registra casos em que pessoas se esqueceram de tributar ao Senhor a glória que lhe é devida e acabaram sofrendo as consequências de tal comportamento (2Rs 5.20-27; Dn 4.28-33). É preciso muito cuidado por parte de quem Deus opera através de sua vida, pois a tentação de sentir-se idolatrado é grande. Da parte do povo igualmente é preciso cuidado, pois este pode levar àquele que foi o canal divino a exaltar-se, porém, Deus cobrará de cada um, individualmente, a responsabilidade de reconhecer-lhe a glória.

3. O perigo do descompromisso.
Entre os grandes ensinamentos do Sermão do Monte, o Mestre chama a atenção ao proferir que “Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas?”; ao que Ele lhes responderá: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7.22,23). Que terrível final para quem tanto fez em nome de Deus! O perigo do descompromisso ronda todos aqueles que se entregam ao trabalho do Mestre, mas esquecem de fazer a vontade do Pai (Mt 7.21). A vontade do Pai é que o obedeçamos, em humildade e temor, submetendo-nos a sua Palavra (Jo 14.21).

III. O CONTRASTE DA RELIGIOSIDADE COM A PALAVRA DO EVANGELHO

1. O coxo ficava à Porta Formosa do Templo.
A religiosidade é pródiga em premiar aparências e desconsiderar o principal (Mt 23.23-28). A descrição de Lucas parece conter uma dose de ironia, pois diz que à hora da oração, “era trazido um varão que desde que o ventre do sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam” (At 3.2). Um mendigo deficiente colocado todos os dias na porta, cujo nome era Formosa, do suntuoso Templo dos judeus. Que contraste! Enquanto se praticava a religiosidade com todos seus protocolos litúrgicos, um homem jazia, diariamente, à porta reluzente do Templo padecendo necessidade e ninguém se incomodava com a situação. A insensibilidade tomara conta dos oficiais da religião, bem como do povo, de forma tão intensa que ninguém mais percebia o quanto era equivocada tal coexistência.

2. A cura do homem e o exemplo de Pedro e João.
Certamente dirigidos pelo Espírito de Deus, os apóstolos Pedro e João foram ao Templo e se depararam com o homem que jazia á porta Formosa (At 3.1,3). Pensando em receber esmolas, mal sabia o coxo que ao dirigir-se àqueles dois homens sua vida mudaria. Em vez de uma ajuda paliativa, que ainda gerava status religioso para o “benevolente” (Mt 6.1-4), o homem recebeu a cura divina e, instantaneamente, levantou-se tomado pela mão direita “e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus” (At 3.8). O povo, que conhecia o homem que diariamente estava no Templo, ficou admirado e aglomerou-se junto a Pedro e João, mas estes, como verdadeiros servos do Deus Altíssimo, comportaram-se humildemente, tributando ao Senhor toda honra e toda glória pelo grande milagre que acabara de ocorrer (At 3.11,12). É esta a postura recomendada para quem afirma temer a Deus e não quer usurpar a glória do Senhor para si.

3. O milagre e a palavra do Evangelho.
O milagre, apesar de socorrer a alguém em um momento de grande necessidade, serve igualmente como oportunidade para a pregação do Evangelho. Na verdade, o Evangelho completo traz em si a possibilidade do socorro através do milagre (Mc 16.15-20). Quando o povo, atônito, acorreu aos apóstolos, Pedro rapidamente tratou de pregar o Evangelho, demonstrando biblicamente, que através da fé em Jesus, a quem os judeus preteriram em favor de um homicida, foi possível realizar o milagre que a multidão acabara de presenciar (At 3.13,14,16). Não é de se estranhar que Pedro e João tenham sido presos e levados ao Sinédrio no outro dia (At 4.1-22), pois o povo desviou a atenção dos sacerdotes voltando-se para os apóstolos. Nesta segunda oportunidade em que Pedro pregou o Evangelho, o número de conversões chegou a quase cinco mil.

A palavra do Evangelho contrasta com a religiosidade porque ela prioriza a salvação e não o ritual.

CONCLUSÃO

Os milagres são intervenções poderosas de Deus para socorrer-nos em momentos de aflição. Eles, sob hipótese alguma, devem ser usados como forma de autopromoção, exibicionismo ou coisa parecida. A glória do milagre pertence somente ao Senhor Jesus Cristo. Ele operou muitos milagres e tributava toda a glória ao Pai (Jo 11.41,42), Que possamos ser canais de Deus para que milagres aconteçam em nossas vidas e através delas, porém, sem nos esquecer que a glória pertence ao Senhor.


SUBSÍDIO
A publicidade desencorajadora
Um dos grandes perigos da ênfase excessiva na cura é que ela pode eclipsar o evangelho no evangelismo. Esse perigo também pode ter influenciado a ordem de Jesus para que as pessoas curadas mantivessem segredo. Como Stephen Short coloca: ‘Jesus não queria que as pessoas viessem a Ele apenas para receber benefícios físicos’. Muitos não cristãos vão as reuniões cristãs principalmente a fim de satisfazer alguma necessidade física ou material. Uma vez que eles vêm, partilhamos o evangelho com eles. Mas descobri que é muito difícil eles fazerem, em seu pensamento, a transição das necessidades sentidas para o evangelho. Ouvem nossa explicação do evangelho e talvez até mesmo a aceitem, mas, em seu íntimo, quando pensam no cristianismo e nos cristãos, imaginam o seguinte: Esse é um lugar no qual minhas necessidades físicas e materiais são satisfeitas. Por isso, eles têm dificuldade em realmente ouvir o evangelho, embora ele seja transmitido claramente a eles. Por isso, o evangelho tem sempre de ser predominante em nosso programa. A compaixão é um aspecto do evangelho. Portanto, a compaixão sempre é um aspecto do nosso ministério no mundo, Mas se os atos de compaixão são feitos principalmente para ‘ganhar pessoas para o nosso lado’ e crescermos como igreja, podemos terminar com um monte de problemas” (FERNANDO, Ajith. Ministério Dirigido por Jesus. 1ª Edição. RJ: CPAD. 2013, pp.212,213).

Fonte: Lições Bíblicas Jovens - 3º Trimestre de 2018 - Título: Milagres de Jesus — A fé realizando o impossível - César Moisés Carvalho

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sábado, 23 de junho de 2018

Ética Cristã e Redes Sociais

“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” 1Co 6.12

Ética Cristã e Redes Sociais

Uma constatação
O fenômeno da rede social é evidente. Muitos movimentos políticos, sociais e religiosos têm sua origem nas redes sociais. De fato, as redes sociais quebraram a hegemonia da mídia. Hoje não há mais a possibilidade de uma pessoa ter apenas uma versão dos fatos de acordo com a linha editorial de determinado grupo de comunicação. Isso quebrou. A consequência desses fenômenos é a preocupação de muitos especialistas no assunto, como o sociólogo Manuel Castells, em sua obra “Sociedade em Rede”, em que ele propõe “a cultura da virtualidade real”, onde não há a separação entre a realidade e os signos virtuais. Nesse contexto, o sociólogo prevê que as relações humanas se darão cada vez mais nesses ambientes multimídias em que ainda não é possível antever os impactos que elas trarão na sociedade.

O perigo da relação descartável
Embora não seja possível verificar o impacto real do crescimento do uso das redes sociais, empiricamente sentimos alguns impactos em nossas experiências pastorais. Em nossas igrejas são comuns queixas de esposas que reclamam dos esposos que passam horas no ambiente virtual; dos esposos que reclamam o mesmo de suas esposas; dos filhos adolescentes que não saem do mundo virtual. Algumas consequências: desentendimentos, mágoas, perda do convívio familiar. Ora, o nosso Deus nos fez pessoas de “carne e osso” que se comunicam, nos fez seres sociais (Gn 2.18). A identidade do seguidor de Jesus passa obrigatoriamente na relação próxima e de bem estar com a outra pessoa (Jo 13.35). Nossas relações não podem ser descartáveis nem depender de um bloqueio ou não para sermos aceitos (Rm 2.11).

A rede social a serviço do Reino de Deus
A Palavra de Deus diz que nós temos a mente de Cristo (1Co 2.16). Tudo o que fazemos é para a glória de Deus (1Co 10.31). Então, tudo o que postamos, comentamos, curtimos e compartilhamos precisa ter como pano de fundo as virtudes do Reino de Deus. Há um livro cujo título é “Em seus Passos o que faria Jesus?”. É a pergunta sincera que nós devemos fazer em tudo que agirmos. Procure meditar em Mateus cinco, seis e sete. Esses capítulos são denominados de “Sermão do Monte”. Aqui, está toda a ética do Reino de Deus. Quando aprendermos a viver essa ética, então, tudo o que fizermos nas redes sociais estará a serviço do Reino de Deus. Revista Ensinador Cristão nº 73

As redes sociais são um fenômeno que integra a sociedade, porém, os relacionamentos virtuais não podem substituir a relação interpessoal, principalmente, a comunhão cristã.

O que é a rede social? A expressão é usada para uma aplicação da rede mundial de computadores (Web), cuja finalidade é conectar e integrar pessoas. Os que aderem a um site de relacionamentos podem conectar-se entre si, criar um perfil, adicionar amigos e conhecidos, enviar mensagens, fazer depoimentos, trocar informações, fotos e vídeos, além de estabelecer vínculos. A rede social moderna surgiu no início do século XXI e viabilizou aos usuários o encontro de amigos do passado e a ampliação do círculo social.

Leitura Bíblica em classe - Provérbios 4.10-15

Devido ao avanço tecnológico, várias mudanças foram inseridas na sociedade. A rede mundial de computadores, conhecida como Internet, conecta o mundo todo. Com o surgimento das redes sociais, tudo o que acontece é comentado e divulgado de modo instantâneo. Informações são transmitidas com rapidez surpreendente. Em contrapartida, vivemos um estágio em que as pessoas se relacionam mais virtualmente do que presencialmente.

O desenvolvimento das tecnologias digitais favoreceu o estabelecimento de novas formas de interação social e, a partir destas, novos paradigmas de relacionamentos. Nesse novo paradigma, as relações sociais tornaram-se virtuais, o contato e o diálogo foram se distanciando de seu conceito original e as relações sociais tornaram-se efêmeras. As publicações nas redes sociais apresentam distorções da felicidade, criam ilusões e padrões utópicos de vida perfeita. A falsa ideia de privacidade e anonimato permite extravasar sentimentos e paixões culminando em relações sociais descartáveis e desastrosas. Estatísticas indicam que mais de um terço da população mundial está conectada à web e interage por meio de redes sociais. Dados indicam que as redes sociais transformaram-se em um importante meio para a divulgação de informações e a propagação de ideologias e todo o tipo de ativismo.

Diante desses fatos, a igreja precisa instruir seus membros no uso das novas tecnologias e buscar métodos da evangelização por meio das redes sociais. O cristão precisa estar consciente de suas responsabilidades e deveres no mundo virtual. A igreja não pode viver alienada diante dessa realidade cada vez mais presente na vida dos fiéis. Neste capítulo, veremos a gênese da comunicação virtual, o conceito, o perigo e o mau uso das redes sociais, bem como o desafio da igreja hodierna em evangelizar por meio dessas novas tecnologias. Para tanto, dizem as Escrituras, “rejeitamos as coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (2 Co 4.2).

I. O CONCEITO DE REDE SOCIAL

As redes sociais podem ser consideradas de modo genérico como sites de relacionamentos. Como fator positivo, possibilitam às pessoas se relacionarem virtualmente; todavia, também oferecem riscos aos seus usuários.

O termo é utilizado para indicar uma aplicação da rede mundial de computadores (web) cuja finalidade é relacionar as pessoas. Os que aderem a um site de relacionamentos podem conectar-se entre si, criar um perfil, adicionar amigos e conhecidos, enviar mensagens, fazer depoimentos, trocar informações, fotos e vídeos, além de estabelecer vínculos. A rede social moderna surgiu no início do século XXI e viabilizou aos usuários encontrar amigos do passado, reencontrar pessoas e ampliar o círculo social.

As redes sociais não são satisfatoriamente seguras. Os dados e informações pessoais podem ser invadidos por terceiros. Entre os principais riscos associados às redes sociais está a invasão de privacidade, danos à imagem e à reputação, vazamento de informações e contato com pessoas malintencionadas. Além disso, existem muitos perfis falsos (fakes), comunidades polêmicas, discriminatórias, conteúdos com imoralidade e preconceitos em geral. Como tudo na Internet e nas tecnologias da informação, as redes sociais apresentam danos para seus usuários.

II. O PERIGO DA RELAÇÃO DESCARTÁVEL E AS NOVAS TECNOLOGIAS

A velocidade da informação e a efemeridade nos relacionamentos virtuais têm provocado sérios danos nas relações sociais. Quando as novas tecnologias são utilizadas como fuga de problemas ou como substitutas das relações humanas, o chamado avanço tecnológico se torna um verdadeiro retrocesso.

1. A Distorção da Felicidade

Nas redes sociais em geral, as pessoas publicam uma vida perfeita e um mundo repleto de felicidade. As redes estimulam a prática do narcisismo, ou seja, o indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo. Essas pessoas tendem a buscar uma felicidade fútil, em meio a fotos montadas e a sorrisos falsos. Os usuários editam a própria vida apresentando a si mesmos como vencedores e vendem a ilusão de que vivem em plena paz e harmonia. As Escrituras condenam os que se ufanam e vivem em hipocrisia (Is 5.20,21).

A verdadeira felicidade

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define felicidade como “completo bem-estar físico, mental e social”. O “Relatório Mundial sobre a Felicidade” publicado pela Universidade de Columbia, em 2012, apontou multiplicidade no conceito:

A felicidade inclui avaliações sobre a vida de maneira geral e aspectos positivos e negativos de emoções que afetam o dia a dia de cada um. Alguns fatores são externos como emprego, renda e saúde. Outros são pessoais, como gênero, educação, saúde mental e idade. Outros são interrelacionados: com maior renda é possível ter melhor educação e sendo mais feliz, a saúde também melhora. (KAHN, Jan. 2013)

O problema desses conceitos é que eles estão condicionados a algo, a alguém ou a alguma coisa. Quando esses quesitos não são preenchidos, a felicidade acaba ou não acontece, e se instala a frustração e, em consequência, a tristeza e o sofrimento. A Bíblia Sagrada apresenta a felicidade como sendo a alegria que não depende de nenhuma circunstância (Lc 12.15). Ela é fruto do Espírito, caracterizado por um deleite e regozijo permanente na vida do cristão (Gl 5.22, Fp 4.4). A tentação de buscar a felicidade nos bens efêmeros é insensatez e resulta em desgosto (1 Tm 6.8,9). A verdadeira alegria só pode ser encontrada no temor e na obediência ao Criador: “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem” (Sl 128.1,2).

2. O Isolamento e a Solidão

Na década de 1990, pesquisadores chamaram atenção para o mal social chamado de “paradoxo da Internet”. Trata-se da contradição de alguém ter vários relacionamentos virtuais e, ao mesmo tempo, ausência real de contato humano. Estudos recentes demonstram que o aumento no uso da Internet coincide com o aumento da solidão, problema acentuado pelas redes sociais. O ser humano está sendo integrado à tecnologia e tratado como se fosse também uma máquina. Essa falta de equilíbrio tem desencadeado crises emocionais, ansiedade e isolamento (Jr 6.14).

Dependência virtual

Reconhecemos a importância, a contribuição e os benefícios proporcionados pela Internet e as redes sociais. No entanto, não podemos fechar os olhos diante de seus efeitos colaterais, como, por exemplo, a dependência virtual. Estudos psicológicos detectaram oito sinais de uso patológico da rede:
(I) incapacidade de controlar o uso da internet;
(II) necessidade de se conectar mais vezes;
(III) acessar a rede para fugir dos problemas ou para melhorar o estado de ânimo;
(IV) pensar na internet quando se está off-line;
(V) sentir agitação ou irritação ao tentar restringir o uso;
(VI) descuidar do trabalho, dos estudos ou até mesmo dos relacionamentos pessoais por causa da rede;
(VII) sofrer pela abstinência;
(VIII) mentir sobre a quantidade de horas que passa conectado e/ou permanecer muito mais tempo do que o previsto (SAYEG, 2000, p. 153).

O usuário enquadrado em alguns dos itens acima pode estar usando a Internet como fuga para problemas psicológicos. O não tratamento desses sintomas resulta em dependência e isolamento cada vez maior.

3. Relações Sociais Efêmeras

Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), a sociedade vive um momento de frouxidão nas relações sociais. Bauman chama esse fenômeno social de “modernidade líquida”. Os tempos são “líquidos” porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. Nas redes sociais, com apenas um clique é possível bloquear, deletar e excluir pessoas. E com outro clique pode aceitar, comentar e curtir outras pessoas. Essa situação representa um declínio das sólidas relações humanas, uma vez que, por meio das tecnologias, a amizade, o amor e o respeito entre as pessoas são facilmente descartáveis (Ec 1.2).

O efeito paradoxal

A maior parte das pessoas busca nas redes sociais aproximação com outras pessoas. Mas, em total paradoxo, os relacionamentos virtuais tendem a ter maior importância que os relacionamentos reais. É comum, por exemplo, pessoas caminharem “conectadas” absortas e cabisbaixas pelas ruas, alienadas do mundo real. Quase ninguém mais conversa sem o uso da Internet. Nos restaurantes, famílias inteiras ou grupo de amigos, acessam a Internet e não dialogam entre si, exceto por monólogos ou sobre o que estão vendo nas redes sociais. Esse fenômeno também é observado nas escolas, no âmbito do trabalho e até de maneira insana e irresponsável no trânsito urbano. Tal comportamento é um retrocesso, pois torna as relações humanas superficiais, transitórias e irrelevantes. Faz-se necessário e imprescindível corrigir essas distorções, especialmente em nossa vida privada, junto de nossa família e de nossos amigos. A sensatez é primordial, uma vez que todo excesso é extremamente danoso ao ser humano.

4. A Falsa Sensação de Privacidade

Diversos usuários das redes sociais iludem-se com a sensação de privacidade e ficam expostos a toda espécie de constrangimentos. Comentários pessoais, sentimentos de foro íntimo, fotos e vídeos comprometedores saem da área do privado e se tornam públicos. Essa sensação de privacidade também favorece a prática do pecado viral (algo que se espalha rápido como um vírus). Pode ser desde a reprodução e retransmissão de pornografia até a divulgação de notícias falsas e difamatórias (2 Tm 2.22; Pv 16.28).

A indecorosa prática do “nudes”

A possibilidade de manter a identidade real oculta é um dos fatores que impulsionam o uso equivocado da Internet. Algumas pessoas sentem-se à vontade para extravasar seus impulsos sexuais ilícitos sem medo de repercussão. A fantasia do anonimato e a falta de inibição estimulam a prática da imoralidade. Uma conduta deplorável tem sido a postagem de “nudes” (imagens da pessoa nua).

Segundo pesquisas divulgadas por sites especializados, mais de 50% das mulheres com acesso a redes sociais já enviaram, ao menos, uma foto de nudes e mais de 42% dos homens já realizaram tal prática (TRIBUNA DO CEARÁ, out. 2016). A postagem da imagem de “nudes” acontece no âmbito privado, mas, em vários casos, quem recebe as imagens salva as fotos e as compartilha nas redes sociais, tornando-as de domínio público. Tal atitude pode ser responsabilizada criminalmente; no entanto, nenhuma condenação poderá reparar o dano moral causado. Os que tiveram suas fotos divulgadas passaram e passam por diversos infortúnios, tais como o bullying, automartírio, abalos psicológicos e alguns chegam inclusive ao extremo de cometer o suicídio. O ideal mesmo é não compartilhar nenhuma imagem íntima nem sua e nem de terceiros, primeiro por ser uma prática imoral (Gl 5.19) e segundo por ser uma conduta antiética.

III. A REDE SOCIAL A SERVIÇO DO REINO DE DEUS

A igreja de Cristo precisa ser consciente quanto ao potencial das redes sociais e deve usá-la na propagação do Reino de Deus. Mas para evangelizar nas mídias não basta postar mensagens de cunho cristão; é indispensável o bom testemunho do usuário na rede de computadores.

1. O Bom Testemunho nas Redes Sociais

Cristo ensinou que o cristão é a luz do mundo (Mt 5.14) e que essa luz deve resplandecer por meio das boas obras a fim de glorificar o nosso Pai que está nos céus (Mt 5.16). Desse modo, para o bom testemunho nas redes sociais, o cristão não deve postar comentários negativos ou fazer pré-julgamento das pessoas. Deve tomar todo cuidado e precaução com fotos e vídeos que publicar, sejam pessoais, sejam de terceiros. Avaliar o conteúdo, a coerência, o vocabulário e a ética cristã das mensagens antes de postar, comentar ou curtir. Paulo nos ensina a fazer de tudo para ganhar as pessoas para Cristo (1 Co 9.22)

Importância da boa reputação

O requisito de boa reputação é fator preponderante na evangelização, tanto a pessoal (corpo a corpo) quanto a virtual (Internet). O bom caráter e a idoneidade daquele que evangeliza deve ser testemunhado pelos não crentes. Espera-se dos cristãos que desfrutem de um viver reto e íntegro, por meio da oração e santificação no Espírito Santo. Se isso não for observado, a evangelização será inócua, quem evangeliza será difamado e envergonhado, a igreja colocada em descrédito e o evangelho de Jesus vilipendiado:

Um viver incoerente, contraditório com os valores morais e éticos do evangelho, certamente inviabilizaria toda e qualquer possibilidade de ser reconhecido como um líder cristão, como um instrumento de bênção nas mãos de Deus. Um viver incompatível com o evangelho apenas revela o profundo abismo existente entre o homem e Deus. (EMAD, 2005, p. 241)

Somos servos de Deus e estamos sendo observados. Se quisermos testemunhar de Cristo e seu evangelho, precisamos vigiar nossa conduta. Portanto, é inadmissível que aqueles que usam as redes sociais para provocar constrangimentos, estimular o preconceito e a discriminação, enviar ou receber “nudes”, curtir e compartilhar imagens, vídeos e mensagens com conteúdo lascivo ou duvidoso possam ter autoridade moral ou espiritual para evangelizar alguém. Quanto à necessidade de evangelizar corretamente, Paulo nos alertou: “se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada” (1 Co 9.17)

2. O Uso Correto da Evangelização Digital

A Internet é uma grande aliada na divulgação do evangelho, porém alguns cuidados são necessários para não tornar a mensagem inócua. As postagens não podem ser grandes e os vídeos não podem ser demorados. A mensagem precisa ser clara, concisa e objetiva. Antes de compartilhar as imagens, deve-se verificar a veracidade bíblica daquela mensagem e o seu teor teológico.

Em lugar de postagens com frases de efeito ou de autoajuda, devem-se priorizar os versículos bíblicos. Ao reproduzir áudios e vídeos, deve-se verificar se não existe algo que possa causar escândalos ou intolerância religiosa. Também não se deve atacar a ninguém, apenas anunciar e confessar a Cristo (1 Co 1.23,24).

Evangelizar é comunicar

No decorrer da história da humanidade, Deus tem se revelado e se comunicado com o ser humano. O escritor aos Hebreus assevera que Deus falou antigamente aos pais, pelos profetas, e a nós falou-nos nestes últimos dias pelo seu Filho (Hb 1.1). Desse modo, o ápice da comunicação divina acontece na Encarnação do Verbo Divino: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória” (Jo 1.14). Jesus Cristo é o encontro mais pleno alcançado entre Deus e o homem. Ao revelar sua mensagem aos escolhidos, Deus desejou que ela fosse compartilhada com todos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19, ARA). Portanto, evangelizar não é simplesmente anunciar uma doutrina, mas é comunicar-se com o outro, isto é, “entrar em diálogo, relacionar-se, viver em comunhão com Deus para poder testemunhar com autenticidade Àquele em quem se crê e entrar em comunhão com outras pessoas” (SILVA, 2015, p. 12). Sob essa perspectiva, as redes sociais tornam-se um campo fértil para a comunicação do evangelho.

Resultados promissores

Em 2011, a Global Media Outreach (Alcance Global pela Mídia) divulgou que mais da metade das pessoas que se decidem por Cristo na Internet posteriormente compartilham sua fé com outros internautas. Desses convertidos on-line, 34% afirmam ler a Bíblia Sagrada diariamente. O estudo denominado de “Índice do Crescimento Cristão” ouviu mais de 100 mil pessoas ao redor do mundo. Segundo Walt Wilson, presidente da instituição, desde a sua fundação, em 2004, mais de 15 milhões de pessoas já se decidiram por Cristo.

A eficácia da evangelização pode ser resumida em três processos bem simples:
(I) levá-los ao Salvador — páginas web que ajudem a encontrar Jesus;
(II) alimentá-los na fé — websites de discipulado e guias para recém-conversos; e,
(III) conectá-los à Igreja — conduzir o convertido a frequentar uma igreja local. Para isso, explica Wilson, não basta ter uma página na internet, transmitir cultos e comunicar-se pelas web rádios. O resultado se obtém por meio do discipulado e a comunicação com o novo convertido; essas ações são tão imprescindíveis quanto o evangelismo (ARAGÃO, Dez. 2011).

As redes sociais são um fenômeno do nosso tempo, mas precisam ser utilizadas com sabedoria.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Você consegue imaginar, na atualidade, uma pessoa que não esteja conectada ao WhatsApp, Facebook, Twitter ou Instagram? Não conseguimos nem idealizar, pois nunca o acesso às redes sociais foi tão amplo. Entretanto quando o assunto é redes sociais, em geral os crentes ficam preocupados e es opiniões se dividem quanto ao seu uso. Alguns até creem que é pecado. Outros questionam: O cristão pode utilizar as redes sociais? Você não vai encontrar na Bíblia nenhum texto bíblico que fale a respeito deste assunto, pois é uma atividade da vida moderna. Por não conhecerem o universo online, muitas pessoas acabam tendo um excesso de zelo, preocupação e enxergam somente os aspectos negativos do mundo virtual. Houve um tempo que o rádio também foi muito criticado, e algumas igrejas, proibiam seus membros de ouvi-lo. Tudo que é novo assusta, contudo como cristãos devemos evitar todo e qualquer radicalismo, pois o crente deve ser prudente, equilibrado em suas atitudes, palavras e até ponto de vista em relação ao uso das redes sociais não é diferente; precisamos utilizá-las com sabedoria, prudência e equilíbrio. A cada dia o número de brasileiros online vem aumentado e grande parte deste número é de crentes e que frequentam a Escola Dominical. A questão a ser discutida hoje pelos professores e alunos da Escola Dominical é mais ampla: Como as pessoas estão se comportando nas redes sociais? Como você se comporta? O problema não são as redes sociais, mas como as pessoas se comportam nelas.
Para o cristão, todas as coisas são lícitas, mas nem tudo é proveitoso ou edificante (1Co 10.23; 16.12). Devemos fazer uso do universo online com prudência e discernimento; sejamos cuidadosos e tenhamos limites. Michael Palmer, no livro Panorama do Pensamento Cristão, diz que ‘os cristãos que veem a cultura de mídia de entretenimento têm de aprender a ler essas imagens e rejeitar as que são incompatíveis com os padrões cristãos e a Escritura’. Esse é o problema. Muitos crentes não conseguem fazer essa leitura. Precisam ser ensinados a fazer isso. Será que você faz essa leitura? Ou você ingere tudo sem questionamento?” (BUENO, Telma. Adolescentes Vencedores: Vivendo em Sociedade. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2015, p.45).

Fonte:
Livro de Apoio – Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Douglas Baptista
Lições Bíblicas 2º Trim.2018 - Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Comentarista: Douglas Baptista


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