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sábado, 9 de junho de 2018

Ética Cristã, vícios e jogos

“Melhor é o pouco com o temor do Senhor, do que um grande tesouro onde há inquietação” Pv 15.16

Ética Cristã, vícios e jogos

Até a conclusão deste artigo, havia um projeto de lei que dispunha sobre a liberação da exploração de jogos de azar (bingos, cassinos, jogo do bicho) no Brasil, é o PL 186/2014. Quem conhece um pouco a realidade do ambiente de jogos de azar, ou porque os frequentou numa vida pregressa, ou ainda segue atento a coberturas policiais na grande mídia, sabe que quem está por de trás dessas jogatinas são criminosos, narcotraficantes, pessoas que você não teria coragem de frequentar as casas delas. É gente perigosa, que não perde em nada para o antigo ambiente do Cartel de Medelín, na Colômbia. É algo muito grave que está em curso no Congresso.

Outra tentativa absurda, que vai contra a dignidade da pessoa, é a intensa e sistematicamente “luta” a favor da liberação das drogas. Não bastando o impacto social do uso do álcool e do cigarro, agora há os que defendem e militam pela legalização do consumo de drogas em nível nacional. A ideia é repassar para o poder público, e a sociedade, o ônus de lidar com as consequências de escolhas individuais, mas que provocam impactos gigantescos coletivos, mesmo sabendo que o que está por trás de todo esse fenômeno é uma indústria poderosa do crime. Uma tragédia anunciada!

Liberação dos jogos de azar, das drogas e o consumo intenso do álcool e do cigarro nos mostram que a sociedade caminha a passos largos para a degradação individual e institucionalizada. Aqui, estamos falando de uma degradação diferente do que estamos acostumados a ver no poder político ou em outras instituições, refiro-me à degradação da vida interior que atinge de morte a família. Jogos de azar, drogas e álcool são combinações que atingem funestamente a família, única célula que consegue ainda resistir aos absurdos sociais praticados em nosso país.

Em Apocalipse 22, a Palavra de Deus diz que nesses últimos dias o quadro seria este: “Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda” (v.10). Entretanto, há uma exortação para os que estão em Cristo Jesus vivendo estes últimos dias: “quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda” (v.10). Os fiéis do Corpo de Cristo ainda são a resistência do Reino de Deus no mundo. Não temos a pretensão de resolver os problemas do mundo, mas podemos proteger nossa casa, proteger nossa igreja local e resistir ao “espírito desse mundo”. revista Ensinador Cristão nº 73

Deus não criou o ser humano para ser escravo dos vícios nem dos jogos, pois segundo a Palavra de Deus, não podemos ser dominados por coisa alguma.

Leitura Bíblica em classe - Provérbios 28.1-10

O Senhor Jesus morreu e ressuscitou para nos libertar da escravidão do pecado. Pela fé no Salvador nos tornamos livres, por isso não podemos nos colocar novamente debaixo de jugo algum. O vicio, seja ele qual for, escraviza a pessoa. Os jogos de azar assim como o vício da bebida têm destruído milhares de vidas. Atualmente, é grande o número de pessoas não crentes que foram seduzidos pelo uso de bebidas alcoólicas. Segundo uma pesquisa, no Brasil o consumo de álcool já é maior do que o consumo de leite. O alcoolismo não é somente um vício, mas uma doença que precisa de tratamento. Essa não é uma prática inocente, por isso, resista ao mal.



A Bíblia Sagrada enaltece a vida moderada, o trabalho honesto e a boa administração da família (1 Co 10.23; Ec 3.10; 1 Tm 5.8). Desse modo, as Escrituras eliminam qualquer possibilidade de o cristão envolver-se na prática dos vícios ou jogos de azar. No entanto, as estatísticas indicam dados alarmantes dos prejuízos que são provocados por esse mal em nossa sociedade.

Estima-se que, depois do relato bíblico envolvendo o vinho fermentado por Noé (Gn 9.20-27), a primeira bebida alcoólica teria sido preparada na China, por volta do ano 8.000 a.C. A análise de substâncias orgânicas em peças de cerâmica na vila neolítica de Jiahu, no norte da China, no ano de 2006, revelou que elas continham um drinque feito de arroz, mel e frutas silvestres, tudo fermentado (GARCIA, 2007, p. 2). Na cultura da civilização sumeriana (3.000 a.C.), eram produzidos 19 tipos de bebidas alcoólicas — sendo que 16 delas eram à base de trigo e cevada — provavelmente o embrião da cerveja. A bebida era consumida pelos aristocratas sumérios por meio de canudinhos de ouro (GARATTONI, ago. 2008).

Quanto ao uso de drogas alucinógenas, o consumo da cannabis (conhecida como maconha) remonta ao ano 2.700 a.C. A maconha teve sua origem no Afeganistão e na índia, sendo consumida para uso medicinal e em rituais religiosos. Na Europa, era usada para fabricar papel e tecido, tornando-se um dos principais produtos agrícolas, passando a ser usada posteriormente como entorpecente (CARLINI, 2005).

A arqueologia registra que a origem dos “jogos de azar” remontam à antiga Suméria, por volta do século III a.C. Os sumérios implantaram um jogo que consistia em um grupo de dados fabricado em ossos de animais com símbolos cunhados nas faces, com valores determinados e específicos. Nesse jogo, o vencedor era aquele que alcançasse uma maior pontuação, arremessando os dados. Essa cultura de jogatina também foi encontrada no Egito — com tabuleiros (séc. II a.C.) —, e na Roma antiga — com o jogo de dados e outros (séc. I a.C.). Historiadores afirmam que esses jogos somente terminavam após um dos participantes perder todos os seus bens, muitos, inclusive, perdiam a liberdade, tornando-se escravos (FERNANDES, 2012).

I. VÍCIOS: A DEGRADAÇÃO DA VIDA HUMANA

Tudo aquilo que escraviza o homem e o faz perder seus valores é qualificado como vícios que resultam na degradação da essência humana. Uma definição genérica para vício é “um hábito, ou prática, imoral ou mau; conduta imoral; comportamento depravado e degradante” (HENRY, 2007, p. 596). Portanto, vício é o contrário da virtude, assim como o errado diverge do certo e as trevas fazem oposição à luz. Durante a Idade Média, os teólogos relacionaram os “vícios” aos denominados sete “pecados capitais”. Os vícios eram identificados em um ou mais dos seguintes pecados mortais: orgulho, avareza, lascívia, inveja, glutonaria, ira e preguiça. Quanto a esses e aos demais pecados, somos exortados a rejeitar as obras das trevas e nos vestir das armas da luz (Rm 13.12). O apóstolo dos gentios enfatiza o comportamento ético do cristão como aquele que age na luz: “não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja” (Rm 13.13). As vidas viciadas no álcool, cigarros e demais drogas evidenciam ausência de paz de espírito, andam nas trevas e necessitam de urgente libertação (Gl 5.16; 1 Jo 2.8).

1. O Pecado do Alcoolismo

O consumo do álcool é tanto um vício como um pecado (Lc 21.34; Ef 5.18; 1 Co 6.10). A embriaguez altera o raciocínio e o bom senso (Pv 31.4,5). O álcool retira a inibição e a pessoa perde “a motivação para fazer o que é certo” (Os 4.11). O alcoolismo leva à pobreza e a graves problemas de saúde (Pv 23.21,31,32). Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam o alcoolismo como a terceira causa de morte no mundo. A igreja deve posicionar-se e trabalhar na prevenção ao vício. O problema é de ordem espiritual, médica e psicológica. Muitas pessoas fazem uso da bebida alcoólica como um meio de fuga para seus problemas. Por conseguinte, precisamos sair da clausura dos templos e anunciar que Cristo produz vida (Jo 10.10) e concede paz para a alma (Jo 14.27).

A maldição na família de Noé

A embriaguez do patriarca Noé resultou em graves consequências para si e para sua família. Após o período do dilúvio, Noé tornou-se lavrador da terra e plantou uma vinha (Gn 9.20). Na primeira colheita da uva, ao fermentar um vinho, o patriarca embriagado ficou desnudo dentro de sua tenda. Desinibido pelo efeito do álcool, tornou-se incapaz de perceber a insensatez de sua atitude (Gn 9.21). O mesmo efeito de destempero acontece com aqueles que agem sob o efeito do álcool. Por isso, as Escrituras advertem: “O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio” (Pv 20.1). Por essa razão, também Paulo recomendou a abstinência de bebidas alcoólicas (1 Tm 3.3). A nudez de Noé foi flagrada pelo seu filho Cam, que em lugar de resguardar seu pai decidiu depreciar sua honra contando aos irmãos (Gn 9.22).

Os outros filhos de Noé, Sem e Jafé, de maneira respeitosa, com o rosto virado em direção contrária, cobriram a nudez do pai (Gn 9.23). Passado o entorpecimento, ao despertar de sua bebedeira e se conscientizar dos fatos, o patriarca lançou sobre o filho de Cam um severo juízo: “Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos” (Gn 9.25). Por conseguinte, por causa da postura difamatória de Cam, toda a descendência de Canaã ficou sob maldição. Apreende-se com tal episódio que o uso do álcool resulta em situações danosas e constrangedoras para a família. Assim, para o cristão, prevalece a admoestação bíblica: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).

2. A Escravidão das Drogas

As drogas são substâncias químicas que provocam alterações no organismo. As drogas causam dependência e o consumo excessivo provoca morte por overdose. As drogas afetam também o funcionamento do coração, fígado, pulmões e até mesmo o cérebro. As drogas ilícitas mais comuns são a maconha, a cocaína, o crack e o ecstasy. As chamadas drogas lícitas, como o álcool e o cigarro, são igualmente prejudiciais à saúde. As pessoas usam drogas principalmente para alterar o estado de espírito em busca de paz. Entretanto, as drogas agridem o corpo que é templo do Espírito Santo (1 Co 6.19,20) e invalidam o sacrifício de Cristo na cruz (1 Co 1.18). O cristão não deve usar e nem participar de movimentos que visam legalizar as drogas.

Descriminalização do uso e venda de drogas

A legislação brasileira verbera contra o uso e contra a venda de entorpecentes (Lei nº 11.343/2006). Embora a referida norma abrandasse as penalidades para os usuários, em comparação com as legislações anteriores, a norma em vigor ainda considera crime “adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo [entorpecentes]” (Art. 28). Todavia, tramitam no Congresso Nacional Projetos de Leis (PL) que visam à descriminalização das drogas, isto é, que o uso de drogas e sua venda não seja mais considerado crime.

O PL n° 7270/2014 autoriza a produção e o comércio da maconha em todo o território nacional. Outro projeto de lei é o de n° 7187/2014, que dispõe sobre o controle, a plantação, o cultivo e a comercialização da maconha. Por fim, há ainda um Recurso Extraordinário (RE) n° 635659 que tramita no Supremo Tribunal Federal que tem o intuito de descriminar o uso da maconha. Contudo, é importante frisar que mesmo com essas tentativas de descriminalização, o uso e a venda de drogas até então é crime.

Assim como relatado neste capítulo, o uso de entorpecentes é imoral, antiético, bem como prejudicial à saúde do usuário e das pessoas do seu convívio social. Porém, alguns grupos nocivos à sociedade anseiam a descriminalização das drogas. O condão de defesa apresentado por esses apoiadores é que a criminalização das drogas cria cartéis do narcotráfico, e que, “liberando” as drogas, essas quadrilhas seriam desmobilizadas. Outra arguição é que o uso de drogas não pode ser considerado crime, e, sim, problema de saúde pública. Com esses pretextos, como explicar que mesmo regulamentado os medicamentos de “tarja preta” ou de antibióticos são vendidos clandestinamente? Se o uso de entorpecentes é considerado crime e mesmo assim milhares de pessoas utilizam, será que “liberando” o uso de drogas diminuirá os usuários, e, assim, desafogará o sistema de saúde?

O exercício do domínio próprio

Aquele que vive na carne é escravizado pelo pecado (Jo 8.34). A maior característica de quem vive no Espírito é a manifestação do fruto do Espírito Santo. Segundo o teólogo David Lim, “o fruto tem a ver com o crescimento e o caráter; o modo da vida é o teste fundamental da autenticidade” (HORTON, 1996, p. 488). O fruto do Espírito consiste em nove graças listadas em Gálatas 5.22,23, as quais são amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e temperança. O fruto no singular refere-se à unidade que o Espírito Santo cria na vida daqueles que se sujeitam a Ele (GOMES, 2016, p. 14). A virtude que parece ser o somatório de todas as outras é tradução da palavra grega egkrateia, que significa “temperança” ou “domínio próprio”. É autocontrole, autodisciplina e moderação. É a qualidade que Cristo nos dá para andarmos no mundo conservando a nossa santidade. Trata-se de um ato de repelir ou reprimir os desejos da carne por meio do controle do Espírito Santo:

Ironicamente os nossos desejos pecaminosos, que prometem autorrealização e poder, inevitavelmente nos levam à escravidão. Quando nos rendemos ao Espírito Santo, inicialmente sentimos como se tivéssemos perdido o controle, mas Ele nos leva a exercer o autocontrole que seria impossível somente com as nossas próprias forças. (RIBAS, 2009, p. 298)

Desse modo, o cristão controlado pelo Espírito Santo não pode ceder às paixões carnais e nem tão pouco ser escravizado pelo uso de quaisquer drogas ou entorpecentes. O vício — quer ele seja lícito, quer seja ilícito — não tem lugar na vida de uma pessoa que procura ser controlada pelo Espírito de Deus. Embora nem a idade nem a experiência sirvam de garantia para o exercício do autocontrole, o fruto do Espírito o produz na vida do crente. O texto paulino exorta o cristão a não ser dominado por nada: “[...] todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Co 6.12b).

II. JOGOS DE AZAR: A ARMADILHA PARA A FAMÍLIA

Tudo aquilo que abarca investimento sem retorno garantido, descomprometido com a ética e a moral resulta em sérios prejuízos na família. A expressão “jogos de azar”, para os efeitos penais, é definida como sendo o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte. Consideram-se jogos de azar:
a) o jogo dependente de sorte;
b) apostas em qualquer outra competição.

O décimo mandamento do Decálogo condena a cobiça, que é a raiz de todos os jogos de azar (Êx 20.17).

1. A Ilusão do Ganho Fácil

A sedução dos jogos de azar ocorre pela esperança de se obter lucro instantâneo. As pessoas são atraídas pela ilusão de ganhar dinheiro rápido e fácil sem o esforço do trabalho. Jogam na expectativa de tirar a sorte grande e assim resolver problemas financeiros. Ciente dessa realidade, o Estado brasileiro é extremamente ambicioso na exploração da jogatina. Somente de loterias legalizadas são nove modalidades: mega-sena, loto mania, dupla sena, loto fácil, quina, instantânea, loteria federal, loteca e lotogol. E ainda existem as casas de bingo, os jogos eletrônicos e também os jogos ilegais como os caça-níqueis e o jogo do bicho, entre outros. O governo e os contraventores lucram e lucram muito. Mas os jogadores tornam-se compulsivos, endividam-se, arruínam a família e a própria vida. Depositar a esperança na sorte é pecado e implica não confiar na providência divina (Jr 17.5-7).

O erro de confiar nas riquezas

No capítulo 6 do Evangelho de Mateus, no Sermão do Monte, Cristo tratou, entre outros assuntos, acerca da oração e da ansiedade. Discorreu sobre a tendência humana de acumular tesouros na terra (Mt 6.19,20). Cristo alertou que as riquezas não são permanentes e podem rapidamente desaparecer. As possessões terrenas podem ser destruídas por três maneiras: a traça, a ferrugem e os ladrões. Portanto, aqueles que depositam sua fé e esperança nos bens materiais estão sujeitos a sofrer decepções e dores profundas, pois “o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1 Tm 6.10). Para livrar o cristão do sofrimento de tais males, o Senhor nos orienta a ajuntar tesouros nos céus, com a seguinte observação: “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.21).

O Senhor não condenou o acúmulo de dinheiro quando usado para fins de sobrevivência e conforto necessários ao homem e sua família. A reprimenda de Jesus se refere à confiança irrestrita nas riquezas que arrebata os pensamentos, os esforços e as energias na busca dos bens terrenos. Sob esse aspecto, o cristão deve depositar sua esperança na providência divina, e não na busca desenfreada e irresponsável de dinheiro fácil por meio dos jogos de azar. Atitude diferente dessa implica não confiar na provisão divina, que nos alerta a não andar inquietos quanto ao que comeremos, beberemos ou com que nos vestiremos porque “decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas” (Mt 6.31,32).

2. Os Males dos Jogos na Família

Os jogos de azar causam destruições irreparáveis no ambiente familiar. O jogo vicia e escraviza a ponto de migrar todos os recursos de uma família para o pagamento de dívidas contraídas pelo jogador. Nos jogos de azar, o benefício de um depende completamente do prejuízo do outro e normalmente são as pessoas de baixa renda que sustentam a jogatina. Esses jogos fomentam a preguiça, a corrupção, a marginalidade, a agiotagem, a violência e a criminalidade. Os jogadores compulsivos descem ao nível mais baixo para continuar alimentando o vício da jogatina. Em muitos casos tais jogadores perdem seus empregos, o respeito de seus amigos e até o amor de suas famílias. As Escrituras nos advertem a zelar pela família (1 Tm 3.4,5) e não cair em armadilhas, pois “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7).

Jogos de Azar: uma contravenção penal

O ordenamento jurídico brasileiro classifica os delitos em duas naturezas: crimes ou contravenções penais. A primeira é tida como um delito de maior potencial (delitos contra a vida, a liberdade, etc.); já as contravenções penais são aquelas tidas como de menor potencial (delitos contra a paz pública, a incolumidade pública e outros). Os jogos de azar são classificados como contravenções penais (Art. 50, Decreto-Lei n° 3.688/1941), ou seja, quem joga, presencialmente ou online, ou ainda administra tal serviço está sujeito às penalidades legais.

Existem dois projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional que visam à legalização desses jogos: o projeto de lei n° 442/1991 (Câmara dos Deputados), que reúne 14 propostas sobre legalização de cassinos, bingos, caça-níqueis, jogo do bicho e jogos online; e o projeto de lei n° 186/2016 (Senado Federal), que deseja legalizar o funcionamento de cassinos, bingos, jogo do bicho e jogos em vídeo. O perigo dessa prática desmedida é diverso, como apresentado nos tópicos anteriores, assim como seria impossível o Estado fiscalizar esses estabelecimentos e, sem dúvida alguma, seria o local “adequado” para o crime organizado lavar seu dinheiro.

Doença comportamental

Todo e qualquer tipo de vício escraviza o ser humano, e com o viciado em jogos não é diferente. Um incontável número de jogadores perdeu tudo o que tinha em apostas variadas; eles não perderam apenas dinheiro, perderam a dignidade, a confiança, o respeito e até a moral. O viciado imagina que pode recuperar o dinheiro perdido e nesse afã aposta valores cada vez mais altos até ficar completamente falido. O viciado é capaz de inventar todo tipo de histórias para conseguir dinheiro e continuar alimentando o seu vício — inclusive cometer crimes. Embora o vício em jogos seja considerado uma doença patológica, a compulsão para jogar não é ocasionada por alguma dependência química; trata-se de uma doença comportamental. A família não pode ficar omissa diante de um quadro de vício patológico. Admitir o problema e procurar a orientação de profissionais especializados é indispensável para o tratamento do vício. Ignorar ou dirimir os fatos só trará constrangimentos, vergonha e muito sofrimento.

3. As Consequências para a Saúde

Os jogos de azar, assim como o álcool, o cigarro e as demais drogas, causam dependência química e psíquica. Em 1992, a OMS concluiu que jogar faz mal à saúde e incluiu o jogo compulsivo no Código Internacional de Doenças (CID). Quando em crise de abstinência, o jogador sofre com tremores, náuseas, depressão e graves problemas cardíacos. Cerca de 80% dos viciados em jogos de azar relatam algum tipo de ideação suicida como uma forma de fugir da vergonha moral e de suas dívidas. Tal como os outros viciados, os jogadores compulsivos tendem ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas. Maltratar o próprio corpo é insensatez e afronta contra a vida outorgada por Deus (1 Sm 2.6; Ef 5.29,30).

As sequelas da ludopatia

A doença denominada de ludopatia refere-se o jogo compulsivo ou patológico, que leva uma pessoa a não poder resistir ao impulso de jogar mais e mais, provocando graves problemas econômicos, psicológicos e familiares. O autoflagelo, seja psíquico, seja físico, é comumente encontrado em pessoas diagnosticadas com essa patologia. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a pessoa com um quadro de ludopatia apresenta pelo menos cinco dos sintomas a seguir: necessidade de aumentar o risco e as apostas; ficar o tempo todo preocupada com o jogo; apresentar irritação e nervosismo se deixar de jogar; usar o jogo para escapar de problemas; mentir para familiares e amigos para esconder seu real envolvimento com o jogo; tentar se controlar e parar de jogar, e não conseguir; e fazer do jogo uma prioridade que ameaça relacionamentos, oportunidades de trabalho e carreira. E por fim, essa patologia quase sempre está associada a outros vícios igualmente nocivos, tais como alcoolismo, tabagismo e consumo de drogas ilícitas.

III. VIVAMOS UMA VIDA SÓBRIA, HONESTA E FIEL A DEUS

A vitória do cristão contra os vícios e os jogos de azar engloba a sobriedade, honestidade e fidelidade ao Autor da vida. A ética cristã requer dos súditos do Rei um comportamento digno e uma vida de moderação. Não é condizente com os salvos em Cristo a extravagância, o destempero, o desequilíbrio ou qualquer outra atitude que possa manchar o evangelho ou denegrir o bom nome de Cristo.

1. A Bênção da Sobriedade

A expressão grega nephálios refere-se à sobriedade em relação ao consumo de bebidas alcoólicas. O dicionário indica aquele que ao contrário de embriagado, está desperto, consciente e com capacidade de discernir. O termo também é utilizado para identificar vida equilibrada. Trata-se da virtude daquele que controla as paixões da carne (Gl 5.24). Desse modo, a sobriedade abrange o comportamento moderado, a mente sã, o bom juízo e a prudência (Rm 12.3; 1 Tm 1.5; 2 Tm 1.7). A orientação bíblica é de abstinência de toda a imundícia, inclusive a dos vícios e dos jogos de azar (Tt 2.12).

Abstinência é a melhor solução

No que diz respeito à abstinência total de álcool, vez ou outra se levanta uma discussão acerca do uso do vinho no Novo Testamento. O vinho servido nas bodas em Caná da Galileia (Jo 2.9), o vinho usado por Cristo na instituição da Ceia do Senhor (Lc 22.20) e o vinho recomendado por Paulo a Timóteo (1 Tm 5.23). O debate refere-se às seguintes questões: Trata-se apenas do suco natural da vide ou de suco fermentado? Não vou entrar no mérito da discussão etimológica dos termos gregos e nem nas probabilidades de interpretação por considerar essa demanda estúrdia e secundária (Tt 3.9). Somente, transcrevo abaixo a posição do Comentário Bíblico Pentecostal:

A completa abstinência é recomendável. Uma pessoa que abstém completamente do álcool não se embriaga nem se tornará alcoólatra. Também não faria com que um ex-alcoólatra recaísse no pecado. É melhor prevenir do que remediar! (ARRINGTON, 2003, p. 1478)

Aquele que se abstém não comete excessos. Esse procedimento mantém o cristão afastado das críticas, das ruins suspeitas e da escravidão do vício. Não é possível conceber um cristão embriagado, expondo-se ao escárnio e zombaria dominado pelo efeito do álcool; ou seja, a abstinência total e absoluta é o ideal para o exercício da fé genuinamente cristã.

2. Honestidade e Fidelidade

Uma pessoa honesta não explora o seu próximo, mas conduz seus negócios com transparência (Sl 112.1-5). Não retira seu sustento da jogatina à custa de quem perde dinheiro nos jogos de azar (1 Ts 4.6). O verdadeiro cristão não busca amparo na sorte, mas provê a si e sua família por meio do trabalho honesto (Gn 3.19). A fidelidade do cristão é com a palavra de Deus. Mesmo que alguns vícios e jogos de azar sejam lícitos pelas leis do Estado, o salvo em Jesus não se permite contaminar. Os ensinos e os princípios bíblicos devem pautar a vida daqueles que são fiéis ao Senhor (Sl 119.105).

O viver moderado do cristão

A vida sóbria é sinônimo de moderação. A honestidade denota sinceridade. A fidelidade é o compromisso do crente salvo com Deus e sua Palavra. Os vícios e os jogos de azar, legais ou ilegais, são práticas reprováveis e prejudiciais à sociedade. Os vícios escravizam e destroem as vidas e as famílias. De igual modo o fazem os jogos de azar. Portanto, o cristão deve abster-se da prática de todo e qualquer vício e dedicar-se ao trabalho honesto para o sustento de sua casa. Cabe ao salvo resistir ao pecado e não se deixar dominar por coisa alguma (1 Co 6.12). O viver moderado denota equilíbrio e vida santificada. Vida santa significa cuidar e honrar, e não macular o próprio corpo conforme nos asseveram as Escrituras: “que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra” (1 Ts 4.4).


O crente deve viver uma vida sóbria, honesta e fel a Deus.


SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
O Cristão, os Vícios e os Jogos
Não é comum vermos um crente em Jesus Cristo na jogatina, viciado em bebida, drogas, ou em outro tipo de agente destruidor da moral, dos bons costumes ou da saúde. Mas há muitas pessoas que são tentadas a buscar o ganho fácil, atendendo as sugestões de pessoas incrédulas, que não se pautam pela ética cristã, baseada na Bíblia Sagrada.
Um certo irmão, numa igreja, foi visto por diversas vezes, num local de ‘jogo do bicho’, indagado a respeito, respondeu que não havia nada demais, alegando que gastava apenas uma pequena importância, tentando ‘fazer uma fezinha’, com o intento de aumentar sua renda de uma hora para outra. Mas essa não é a vontade de Deus para seus filhos. Além dos jogos, os vícios são inimigos corriqueiros que atacam lares em todo o mundo, destruindo vidas e famílias. Eles também prejudicam lares cristãos. Na época em que vivemos, há uma onda de liberalismo, que não vê pecado em quase nada, e favorece práticas perigosas, que podem levar à destruição espiritual, disfarçadas de ‘coisas que não têm nada a ver’. Meditemos neste tema, buscando um entendimento com base na Palavra de Deus” (LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. 9ª Edição. RJ: CPAD, 2015, pp.177,178).

Fonte:
Livro de Apoio – Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Douglas Baptista
Lições Bíblicas 2º Trim.2018 - Valores Cristãos - Enfrentando as questões morais de nosso tempo - Comentarista: Douglas Baptista

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