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domingo, 7 de outubro de 2018

Parábola: Uma lição para a vida

“E sem parábolas nunca lhes falava, porém tudo declarava em particular aos seus discípulos” Mc 4.34

Parábola: uma lição para a vida

Caro professor (a), neste trimestre abordaremos As Parábolas de Jesus. A primeira lição resume-se em três tópicos:
(1) O que é Parábola;
(2) O contexto social e literário;
(3) Como ler uma parábola.
Logo, estudar o gênero da parábola deve ser o ponto de partida para este trimestre. Lendo-a superficialmente pode parecer simples, mas veremos que não o é.

Informações básicas sobre o gênero da Parábola

Em primeiro lugar, a parábola é um recurso literário que visa inserir o ouvinte diretamente numa narrativa em que ele esteja dentro da história e, assim, espontaneamente, aprenda o ensino contido na história contada. Nesse aspecto, Gordon D. Fee nos diz que “Jesus contava parábolas para as pessoas [Lucas] (15.3; 18.9; 19.11) com implicação clara de que as parábolas podiam ser compreendidas” (Entendes o que Lês, pp.180-81).

Em segundo lugar, o uso da parábola tinha o objetivo de que o ouvinte estabelecesse a resolução de mudar o comportamento. Como explica Gordon D. Fee, o problema em ouvir a parábola não está em compreendê-la, mas em mudar o comportamento, pois em Jesus Cristo a parábola era um chamado à obediência aos seus ensinamentos: “o problema deles não era com a compreensão da parábola, mas sim com o fato de permitir que ela mudasse seu comportamento. [...] [Muitos] olhavam, mas deixavam de ver; escutavam — e até mesmo compreendiam — as parábolas, mas falharam em escutá-las de um modo que os levasse à obediência” (Entendes o que Lês, pp.180-81).

Assim, podemos resumir o papel da parábola no ensino de Jesus da seguinte forma: um recurso literário que, por intermédio da inserção direta do ouvinte na história contada, apela para que ele mude o comportamento “anticristão”.

Conselhos para ler uma parábola

A parábola, sem dúvida, é um dos gêneros mais vivos nas Escrituras Sagradas. Portanto, para experimentar sua vivacidade, (1) antes de lê-la, ore pedindo a iluminação do Espírito Santo, (2) considere a experiência cotidiana da época de Jesus como marco histórico de encontro com a revelação de Deus, (3) observe e concentre-se nas declarações explícitas e implícitas da parábola, (4) identifique o eixo central que permite a aplicação da parábola nos dias de hoje.

As parábolas são uma forma instrutiva para se ensinar grandes lições, e delas podemos extrair as inspirações e os ensinamentos divinos para a vida cristã.

Leitura Bíblica: Mateus 13.10-17

Quando estudamos as parábolas de Jesus, com os corações abertos e dispostos a aprender como discípulos verdadeiros, em busca de sabedoria e entendimento das verdades espirituais profundas, nos deparamos com as sábias lições que Ele nos deixou para sermos bem-sucedidos em nossa vida aqui no mundo. Estudar este conteúdo, como disse Jesus aos seus primeiros discípulos, é um privilégio: “Bem-aventurados são os olhos que veem o que vós vedes, pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não o viram; e ouvir o que ouvis e não o ouviram” (Lc 10.23,24). Assim, as parábolas do Senhor possuem preciosas promessas de bênçãos para todos quantos acolhem sua mensagem e se dispõem a compreender as verdades que elas ensinam.

Análise Interpretativa – Métodos Interpretativos

O método é entendido como um caminho a percorrer com o objetivo de atingir um fim. A palavra deriva do termo “metodologia”, que significa a “arte de dirigir o espírito na investigação da verdade, ou, a orientação para o ensino de uma disciplina”.1

Assim, o método interpretativo de estudo tem por objetivo descobrir e demonstrar a verdade, pois enquanto interpretação textual, é uma arte que visa explicar detalhadamente um texto. Isso resume o sentido da interpretação de texto.

A ideia essencial da interpretação aponta para a explicação detalhada de um texto, ou seja, “o estudo de tudo que está escrito na ‘linha’ (aquilo que o texto literalmente diz - tudo que está explícito) e na ‘entrelinha’ (espaço entre duas linhas) ou seja, tudo que está implícito, e que, muitas vezes, não foi dito por questões políticas, morais, ideológicas, sociais ou religiosas”.2

Outra ideia de interpretação aponta para a chegada ao sentido claro do texto através de uma análise detalhada e profunda dele. “Quer deseje ou não, todo leitor é, ao mesmo tempo um intérprete.”3  No contexto bíblico, a interpretação não é uma atividade complexa, pelo contrário, “a maior parte da Escritura é, na verdade, de fácil entendimento. Ninguém precisa ser versado nos originais para compreender o seu propósito salvífico. Sua mensagem é basicamente simples. Todo aquele que dela se aproxima pode ser educado na justiça. Contudo, existem certas partes que não são de tão fácil compreensão, sendo de
suma importância que o intérprete-leitor, tenha algumas qualificações”,4 sendo tais intelectuais, educacionais e espirituais.

Em suma, o método interpretativo é a maneira ordenada de entender um texto. Trata-se de um procedimento que obedece alguns passos, cujo objetivo é chegar a uma conclusão.

Existe, no entanto, uma diferença entre “interpretar” e “compreender” o texto, que consiste, respectivamente, na análise e inferência do que está escrito. Para compreender um texto se faz necessário analisar o que está escrito literalmente, mas para interpretá-lo faz-se necessário entender sua subjetividade. Assim, no trabalho de compreensão do texto estão envolvidos os aspectos explícitos do texto; já no da interpretação, os aspectos implícitos do texto.

O quadro abaixo 5 resume as diferenças básicas entre compreensão e interpretação de um texto. Ele mostra que um texto pode ser compreendido sem ser interpretado, mas não pode ser interpretado sem ser compreendido.


      Compreensão   

     Interpretação

   O que é

É a análise do que está escrito no texto, a compreensão das frases e ideias presentes.

É o que podemos concluir sobre o que está escrito no texto. É o modo como interpretamos o conteúdo.


  Informação

A informação está presente no texto.

A informação está fora do texto, mas tem conexão com ele.


  Análise

Trabalha com a objetividade, com as frases e palavras que estão escritas no texto.

Trabalha com a subjetividade, com o que você entendeu sobre o texto

Para compreender e interpretar um texto bíblico se faz necessário entender que a Palavra de Deus foi revelada numa linguagem humana e, por isso, devemos considerar os princípios interpretativos que esclarece histórico e gramaticalmente os textos de qualquer natureza. Ora, se a Bíblia não estivesse sujeita às mesmas regras de interpretação textual seria inviável chegar ao conhecimento adequado e saudável do texto bíblico.

O uso dos diversos métodos de interpretação, embora essenciais em sua aplicação, devem ser entendidos como influentes na interferência direta do significado do texto, ou seja, “as questões levantadas pelo intérprete estão subordinadas aos métodos interpretativos adotados e guiam-no na sua abordagem do texto”.6  De acordo com Oliveira, o intérprete “deve primar pela consistência do método adotado com os objetivos pretendidos, se quiser manter íntegra sua interpretação das escrituras sagradas”.7

Existem diversos métodos de interpretação do texto bíblico, dentre eles o método analítico, o método sintético, o método temático e o método biográfico. A aplicação destes e outros métodos de interpretação são úteis, uma vez que os diferentes contextos que constituem o texto sagrado estão distantes historicamente da atualidade, requerendo do intérprete um esforço na interpretação. De acordo com Santos, “uma interpretação correta dos textos bíblicos resulta em uma fé sadia onde o cristão sob a orientação e iluminação do Espírito Santo passa a ter uma melhor compreensão da revelação do Eterno por meio de Jesus Cristo”.8  O uso de métodos coerentes possibilita a edificação de uma interpretação segura, sobretudo, fundamentada nas Escrituras Sagradas, impedindo assim uma interpretação equivocada que possa resultar na construção de uma mensagem enganosa.

Ao descrever sobre a importância do uso de métodos na interpretação das Escrituras Sagradas, Raimundo de Oliveira destacou que “assim como o trabalho metódico do agricultor (plantio, cultivo e colheita), ajuda a ação do sol e da chuva a produzir abundantes colheitas, o estudo metódico das Escrituras nos ajuda a receber a revelação da verdade através do Espírito Santo de uma maneira progressiva e bem organizada”.9  O quadro abaixo 10 resume as características do método analítico, do método sintético, do método temático e do método biográfico.

Método
Características
Analítico
 Estuda o texto bíblico através da análise minuciosa do texto, observando cada detalhe de sua composição. “Permite ao leitor deparar-se com o porquê o escritor disse o que disse do modo como disse”. Este método é composto pela observação; dando ênfase aquilo que não está claro no texto; pela interpretação propriamente dita, de preferência com identificação de palavras-chave; pela correlação, onde textos no mesmo capítulo se relacionam; e pela aplicação, identificando princípios que devem ser vividos.
Sintético
 Apresenta um determinado assunto numa perspectiva panorâmica, possibilitando uma noção geral, e não detalhado, do texto bíblico. Diferente do método analítico, busca uma visão global de cada livro da Bíblia, por isso, não dedica-se aos detalhes, mas sim, a mensagem geral. Busca respostas sobre o propósito do escritor ao escrever determinado tema, o que ele tinha em mente quando escreveu o tema e qual o caminho que ele percorreu para alcançar seu objetivo.
Temático
Trata de assuntos específicos. Pode ser o estudo de um tema único, ou, um tema geral da Bíblia. Neste método o intérprete deve buscar o máximo de referências bíblicas relacionadas ao tema definido para o estudo, permitindo dessa forma que a Bíblia explique-se a si mesma.
Biográfico
Estuda as características dos diversos personagens da Bíblia, com o objetivo de compreendê-los com maior profundidade e extrair lições de cada um deles.

Os Gêneros Literários

Os gêneros literários caracterizam-se pelo agrupamento de textos que possuem padrões textuais similares. Surgiram durante a antiguidade clássica, e o filósofo grego Aristóteles foi o responsável em fazer a primeira classificação de obras literárias, com o objetivo de organizá-las na história de acordo com características comuns apresentadas por elas, dividindo-as em gênero épico, gênero lírico e gênero dramático.

O gênero épico caracteriza-se pela referência à narrativa feita em forma de versos, e tem como marca a presença de um narrador que fala de feitos do passado, em especial, de feitos heroicos de um povo.

O gênero lírico caracteriza-se pela expressão de emoções e sentimentos, geralmente composto por uma produção textual subjetiva.

O gênero dramático caracteriza-se pela produção de textos criados com o objetivo de serem encenados, ou seja, é produzido a partir da ideia da existência de um grupo de pessoas dispostas a assistir a produção, e também, pela existência de uma ou mais pessoas dispostas a representá-lo. O quadro abaixo 11 apresenta os três gêneros literários e seus sub-gêneros:
   
Gênero
Sub-Gênero
Épico narrativo
Romance, conto, epopeia ou poesia épica, fábula, crônica, ensaio.
Lírico
 Ode, hino, elegia, idílio, écloga, epitalâmio, sátira.
Dramático
Auto, comédia, tragédia, tragicomédia, farsa.


De acordo com Silva, “os gêneros textuais são textos que encontramos em nossa vida diária, são as práticas comunicativas do nosso cotidiano”.12  A especialista também afirma que “conhecer os gêneros textuais constitui-se objetivo pedagógico central para a formação de leitores”.13  Assim, o conhecimento dos gêneros literários contribui para a identificação de características essenciais, aspectos sociais e históricos que marcaram uma sociedade ao longo de sua história. Conhecer os gêneros literários torna-se essencial para o conhecimento correto de uma mensagem transmitida por um texto.

A mensagem transmitida por Deus aos homens é única e seu conteúdo está revelado nas Sagradas Escrituras em diversos livros que a compõem através de gêneros literários diversos. É possível identificar esses diversos gêneros na composição textual da Bíblia Sagrada. O objetivo de eles estarem ali é transmitir uma única mensagem por diferentes formas, para diferentes pessoas e em diferentes épocas da história.

Os gêneros literários classificados por Aristóteles, logo, considerados clássicos, também são encontrados na Bíblia, ou seja, o gênero épico, o gênero lírico e o gênero dramático estão presentes na produção do texto bíblico. O quadro abaixo apresenta alguns exemplos da presença dos gêneros literários nas Sagradas Escrituras:

Gênero Literário
Presença no Texto Bíblico
Épico – Narrativo
 História de José do Egito (Gênesis); Parábola do Administrador Infiel (Lucas).
Lírico
  Celebração no Salmo 100 (Salmos)
Dramático
 Cativeiro de Judá na Babilônia (2 Reis).

No livro dos Hebreus, por exemplo, no primeiro capítulo e no primeiro versículo, o texto bíblico diz: “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho”. Esta passagem indica a presença de diferentes gêneros literários, ou seja, indica a transmissão de uma mensagem única para comunicar a revelação de Deus de diferentes maneiras. Quando se estuda o gênero literário das Escrituras, percebemos histórias, leis, poesias, sabedoria, profecia, evangelhos e literatura apocalíptica. Logo, ao identificarmos um gênero literário, compreenderemos melhor as Escrituras. Ora, é natural que não se pode ler as cartas de Paulo como se lê as parábolas de Jesus.

O quadro abaixo 14 permite a observação dos diversos gêneros literários presentes nas Sagradas Escrituras:

Gênero      
 Características
 Exemplos
Apocalipse
Material dramático, altamente simbólico; imagens mentais vividas; contrastes perfeitos; eventos em escala global; abordagem da testemunha ocular; luta cósmica entre o bem e o mal.
Daniel 9.20-27;  Apocalipse.
Biografia
 Visão de perto da vida de uma pessoa; contraste com outra pessoa; eventos selecionados; desenvolvimento do personagem, positivo ou negativo.
Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Saul, Davi, Eliseu e Jesus.
Encômio
 Alto louvor a alguém ou alguma coisa: brilhantes termos para as origens, atos. Atributos ou superioridade do sujeito; exortação a imitar os traços positivos.
1 Sm 2.1-10; 19; 119; Pv 8.22-36; Cantares de Salomão; Jo 1.1-18; 1 Co 13; Cl 1.15-20; Hb 1-3.


          




      Exposição
Argumento ou explicação cuidadosamente fundamentada; organizada; fluxo lógico; termos cruciais; clímax lógico e constrangedor; objetivo: concordância e ação.
Cartas de Paulo; Hebreus; Tiago; 1 e 2 Pedro; 1,2 e 3 João; Judas.
     



      Narrativa
  Categoria ampla na qual a história é proeminente; relatos históricos: estrutura transmitida por enredo; eventos comunicando significado; eventos justapostos para contraste e comparação.
 Gênesis;  Evangelhos; Atos.
    


     Oratória
 Apresentação oral estilizada de um argumento; convenções formais de retórica e oratória; citação de autoridades conhecidas: exortação e persuasão
João 13–17; Atos 7; 17.2231; 22.1-21; 24.10-21; 26.123.
    


    Parábola
  Breve história oral ilustrando moral; personagens de repertório e estereótipos; cenas e atividades comuns; reflexão e auto avaliação.
2 Sm 12.1-6; Ec 9.14-16; Mt 13.1-53; Mc 4.1-34; Lc 15.1; 16.31.
    



    Pastoral
  Literatura que lida com temas rurais e rústicos, especialmente pastores; pouca ação; meditativa e calma; laço entre pastor e ovelhas; apresentação idealizada da vida distante dos males urbanos.
Sl 23; Is 40.11;




   Poesia
Verso escrito para ser declamado ou cantado; ênfase na cadência e nos sons das palavras; imagens e símbolos vividos; emoções: pode empregar o encômio, a pastoral e outros estilos; no AT. Muitos paralelismos.
Jó; Salmos; Provérbios; Eclesiastes; Cantares.


   Profecia
Apresentação estridente e autoritária da vontade e das palavras de Deus; com frequente intenção de correção; motivação às mudanças; prevenção contra os planos de Deus em resposta às escolhas humanas.
Isaías; Malaquias.



   Provérbio
Declaração curta e substanciosa de uma verdade moral; reduz a vida a categorias branco e preto; dirige-se frequentemente a jovens; emprega paralelismos; direção ao que é correto e distante do mal; muitas metáforas e símiles.
Provérbios.


   Sabedoria
Exposição e ridicularização do vício e da insensatez; vários estilos literários, especialmente narrativa. Biografia e provérbio; advertência pelo exemplo negativo.
Pv 24.30-34; Ez 34; Lc 18.1-8.



    Tragédia
Relata a queda de uma pessoa; eventos selecionados para mostrar o caminho à ruína; aponta para falha crítica no caráter e escolhas morais; advertência pelo exemplo negativo
Ló; Sansão; Saul; At 5.1-11.

A Parábola

A parábola é uma “narração alegórica que encerra uma doutrina moral”15 e tem como propósito facilitar a compreensão de uma mensagem através do compartilhamento de uma história, fixando assim conceitos essenciais em nossa mente, e isto é possível, uma vez que a parábola contém sempre uma lição central. Para Champlin ‘parábola’ “indica, literalmente, comparação, e é comumente usada para indicar uma história breve, um exemplo esclarecedor, que ilustra uma verdade qualquer”.16  Assim, a parábola é uma história que objetiva que algo seja claramente compreendido a partir de uma ilustração com base na situação vivencial da vida comum. A parábola é diferente de uma fábula e de um mito.

Sobre a diferença existente entre a parábola e a fábula, Champlin destaca que “a fábula é uma forma de história ilustrativa fictícia e que ensina através da fantasia, mediante a apresentação de animais que falam ou de objetos animados.

A parábola nem sempre lança mão de histórias verídicas, mas admite a probabilidade, ensinando mediante ocorrências imaginárias, mas que jamais fogem à realidade das coisas”.17  Em relação à diferença entre a parábola e o mito é necessário verificar que este “narra uma história como se fosse verdadeira, mas não adiciona nem a probabilidade e nem a verdade. A parábola não tenta contar uma história que deve ser aceita como história real e, sim, um tipo de narrativa que nem sempre sucedeu realmente”.18

Para Cope, a “parábola é justaposição, isto é, colocação de uma coisa ao lado de outra com a finalidade de comparação e ilustração; indicação de casos paralelos ou análogos; é o caso do argumento da analogia. [...] Aristóteles distingue parábola em geral da fábula dizendo que a primeira descreve relações humanas, com o que as parábolas do N.T. concordam; inventa casos análogos que não são históricos, mas sempre verossímeis, isto é, sempre prováveis e correspondendo ao que de fato ocorre na vida real”.19

É comum limitarmos o significado e alcance das parábolas somente no Novo Testamento, porém, sua verificação é ampla na história antiga e também está presente no Antigo Testamento. Apesar de Cristo ter se utilizado de parábolas para transmitir sua mensagem de forma simples e clara, fato este marcante inclusive no seu ministério terreno, não foi ele o criador desse recurso. As parábolas são verificadas entre os povos orientais da antiguidade, e, na literatura judaica eram usadas de maneira abundante na literatura dos rabinos com o objetivo de explicar verdades e doutrinas. O modo de vida agrário era o ambiente inspirador para o uso da parábola para atingir o objetivo de compartilhar uma mensagem. “Os escritos rabínicos estão cheios de histórias, alegóricas ou parabólicas quanto ao caráter, com a intenção de deixar claro algum ponto do ensino ou ilustrar alguma passagem na Bíblia Hebraica”.20

As parábolas estão presentes nos textos do Antigo Testamento devido ao fato de serem os hebreus exímios contadores de histórias, ou seja, era natural a presença das parábolas na cultura literária dos hebreus.

No que diz respeito ao uso de parábolas por outros povos na história, Charles Salmond destaca que “a utilização desse tipo de linguagem exercia atração especial sobre os povos orientais, para quem a imaginação era mais rápida e também mais ativa que a faculdade lógica. A grande família das nações conhecidas como semitas, aos quais pertencem os hebreus, junto com os árabes, os sírios, os babilônios e outras raças notáveis já demonstraram a especial tendência à imaginação, como também um gosto particular por ela”.21

A palavra hebraica mashal tem o significado de provérbio, analogia e parábola, e apesar de ser aplicada de forma variada e abrangente, a ideia essencial de seu significado faz referência a produção textual na forma de parábola.

Parábolas no Antigo Testamento

Na busca pela identificação de parábolas no Antigo Testamento é necessário verificar se o conceito de parábola veterotestamentária é semelhante ao aplicado ao Novo Testamento com a finalidade de diferenciá-lo de outras figuras de linguagem que possuam alguma similaridade. Com base nesta ideia, Manson22 admite a existência de apenas nove ocorrências de parábolas no Antigo Testamento.

A primeira verificação ocorre no texto de 2 Samuel 12.1-14 que diz: “ E o SENHOR enviou Natã a Davi; e, entrando ele a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. O rico tinha muitíssimas ovelhas e vacas; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; e ela havia crescido com ele e com seus filhos igualmente; do seu bocado comia, e do seu copo bebia, e dormia em seu regaço, e a tinha como filha. E, vindo um viajante ao homem rico, deixou este de tomar das suas ovelhas e das suas vacas para guisar para o viajante que viera a ele; e tomou a cordeira do homem pobre e a preparou para o homem que viera a ele. Então, o furor de Davi se acendeu em grande maneira contra aquele homem, e disse a Natã: Vive o SENHOR, que digno de morte é o homem que fez isso. E pela cordeira tornará a dar o quadruplicado, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu.

Então, disse Natã a Davi: Tu és este homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; e te dei a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teu seio e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para que te seja por mulher. Assim diz o SENHOR: Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol. Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o SENHOR. E disse Natã a Davi: Também o SENHOR traspassou o teu pecado; não morrerás. Todavia, porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do SENHOR blasfemem, também o filho que te nasceu certamente morrerá”.

A segunda verificação ocorre em 2 Samuel 14.1-11 que diz: “Conhecendo, pois, Joabe, filho de Zeruia, que o coração do rei era inclinado para Absalão, enviou Joabe a Tecoa, e tomou de lá uma mulher sábia, e disse-lhe: Ora, finge que estás de luto; veste vestes de luto, e não te unjas com óleo, e sejas como uma mulher que há já muitos dias está de luto por algum morto. E entra ao rei e fala-lhe conforme esta palavra. E Joabe lhe pôs as palavras na boca. E a mulher tecoíta falou ao rei, e, deitando-se com o rosto em terra, se prostrou, e disse: Salva-me, ó rei. E disse-lhe o rei: Que tens? E disse ela: Na verdade que sou uma mulher viúva, e morreu meu marido. Tinha, pois, a tua serva dois filhos, e ambos estes brigaram no campo, e não houve quem os apartasse; assim, um feriu ao outro e o matou. E eis que toda a linhagem se levantou contra a tua serva, e disseram: Dá-nos aquele que feriu a seu irmão para que o matemos, por causa da vida de seu irmão, a quem matou, e para que destruamos também ao herdeiro. Assim, apagarão a brasa que me ficou, de sorte que não deixam a meu marido nome, nem resto sobre a terra.

E disse o rei à mulher: Vai para tua casa, e eu mandarei ordem acerca de ti. E disse a mulher tecoíta ao rei: A injustiça, ó rei, meu senhor, venha sobre mim e sobre a casa de meu pai; e o rei e o seu trono fiquem inculpáveis. E disse o rei: Quem falar contra ti, traze-mo a mim; e nunca mais te tocará. E disse ela: Ora, lembre-se o rei do SENHOR, teu Deus, para que os vingadores do sangue se não multipliquem a deitar-nos a perder e não destruam meu filho. Então, disse ele: Vive o SENHOR, que não há de cair no chão nem um dos cabelos de teu filho”.

A terceira verificação ocorre em 1 Reis 20.35-40 que diz: “Então, um dos homens dos filhos dos profetas disse ao seu companheiro, pela palavra do SENHOR: Ora, fere-me. E o homem recusou feri-lo. E ele lhe disse: Porque não obedeceste à voz do SENHOR, eis que, em te apartando de mim, um leão te ferirá. E, como dele se apartou, um leão o encontrou e o feriu. Depois, encontrou outro homem e disse-lhe: Ora, fere-me. E feriu-o aquele homem, ferindo-o e vulnerando-o. Então, foi o profeta, e pôs-se perante o rei no caminho, e disfarçou-se com cinza sobre os seus olhos. E sucedeu que, passando o rei, clamou ele ao rei e disse: Teu servo saiu ao meio da peleja, e eis que, desviando-se um homem, me trouxe outro homem e disse: Guarda-me este homem; se vier a faltar, será a tua vida em lugar da vida dele ou pagarás um talento de prata. Sucedeu, pois, que, estando o teu servo ocupado de uma e de outra parte, entretanto, desapareceu. Então, o rei de Israel lhe disse: Esta é a tua sentença; tu mesmo a pronunciaste”.

A quarta verificação ocorre em Isaías 5.1-7 que diz: “Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha. O meu amado tem uma vinha em um outeiro fértil. E a cercou, e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?  Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derribarei a sua parede, para que seja pisada; e a tornarei em deserto; não será podada, nem cavada; mas crescerão nela sarças e espinheiros; e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias; e esperou que exercessem juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor”.

A quinta verificação ocorre em Ezequiel 17.3-10 que diz: “E dize: Assim diz o Senhor Jeová: Uma grande águia, de grandes asas, de farta plumagem, cheia de penas de várias cores, veio ao Líbano e levou o mais alto ramo de um cedro. E arrancou a ponta mais alta dos seus ramos e a trouxe a uma terra de mercancia; na cidade de mercadores a pôs. Tomou da semente da terra e a lançou num campo de semente; tomando-a, a pôs junto às grandes águas, com grande prudência. E brotou e tornou-se numa videira mui larga, de pouca altura, virando-se para ela os seus ramos, porque as suas raízes estavam debaixo dela; e tornou-se numa videira, e produzia sarmentos, e lançava renovos.

Houve mais uma grande águia, de grandes asas, e cheia de penas; e eis que essa videira lançou para ela as suas raízes e estendeu para ela os seus ramos, desde as auréolas do seu plantio, para que a regasse. Numa boa terra, à borda de muitas águas, estava ela plantada, para produzir ramos e para dar fruto, para que fosse videira excelente. Dize: Assim diz o Senhor Jeová: Ela prosperará? Não lhe arrancará ele as suas raízes e não cortará o seu fruto, para que se seque? Em todas as folhas de seus renovos se secará; e, não com braço grande, nem com muita gente, será arrancada pelas suas raízes. Mas, estando plantada, prosperará? Porventura, tocando-lhe vento oriental, de todo não se secará? Desde as auréolas do seu plantio se secará”.

A sexta verificação ocorre em Ezequiel 19.2-9 que diz: “[...] e dize: Quem foi tua mãe? Uma leoa entre leões deitada criou os seus filhotes no meio dos leõezinhos. E fez crescer um dos seus filhotinhos, o qual veio a ser leãozinho e aprendeu a apanhar a presa; e devorou os homens. E, ouvindo falar dele as nações, foi apanhado na sua cova, e o trouxeram com ganchos à terra do Egito. Vendo, pois, ela que havia esperado e que a sua esperança era perdida, tomou outro dos seus filhotes e fez dele um leãozinho. E este, andando continuamente no meio dos leões, veio a ser um leãozinho, e aprendeu a apanhar a presa, e devorou homens. E conheceu os seus palácios e destruiu as suas cidades; e assolou-se a terra e a sua plenitude, ao ouvir o seu rugido. Então, se ajuntaram contra ele as pessoas das províncias em roda, estenderam sobre ele a rede, e foi apanhado na sua cova. E meteram-no em cárcere com ganchos e o levaram ao rei da Babilônia; fizeram-no entrar nos lugares fortes, para que se não ouvisse mais a sua voz nos montes de Israel”.

A sétima verificação ocorre em Ezequiel 19.10-14 que diz: “Tua mãe era como uma videira na tua quietação, plantada à borda das águas; ela frutificou e encheu-se de ramos, por causa das muitas águas. E tinha varas fortes para cetros de dominadores e elevou-se a sua estatura entre os espessos ramos, e foi vista na sua altura com a multidão dos seus ramos. Mas foi arrancada com furor, foi abatida até à terra, e o vento oriental secou o seu fruto; quebraram-se e secaram-se as suas fortes varas, e o fogo as consumiu. E, agora, está plantada no deserto, numa terra seca e sedenta. E de uma vara dos seus ramos saiu fogo que consumiu o seu fruto, de maneira que não há nela nenhuma vara forte, cetro para dominar. Esta é a lamentação e servirá de lamentação”.

A oitava verificação ocorre em Ezequiel 21.1-5 que diz: “E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, dirige o rosto contra Jerusalém, e derrama as tuas palavras contra os santuários, e profetiza contra a terra de Israel. E dize à terra de Israel: Assim diz o SENHOR: Eis que sou contra ti, e tirarei a minha espada da bainha, e exterminarei do meio de ti o justo e o ímpio. Por isso que hei de exterminar do meio de ti o justo e o ímpio, a minha espada sairá da bainha contra toda carne, desde o Sul até ao Norte. E saberá toda carne que eu, o SENHOR, tirei a minha espada da bainha; nunca mais voltará a ela”.

A nona verificação ocorre em Ezequiel 24.3-5 que diz: “E usa de uma comparação para com a casa rebelde e dize-lhe: Assim diz o Senhor Jeová: Põe a panela ao lume, e põe-na, e deita-lhe água dentro, e ajunta nela bons pedaços de carne, todos os bons pedaços, as pernas e as espáduas, e enche-a de ossos escolhidos. Pega no melhor do rebanho e queima também os ossos debaixo dela; fá-la ferver bem, e cozam-se dentro dela os seus ossos”.

Para Manson, “à luz do uso que da parábola faz o Antigo Testamento, é possível dizer o seguinte acerca do seu emprego nos evangelhos: parábola é uma criação literária do gênero narrativo designada a retratar um certo tipo de caráter como advertência ou exemplo, ou a ilustrar um princípio da maneira de Deus dirigir o mundo e os homens”.23  De acordo com Lockyer outras passagens do Antigo Testamento evidenciam a existência de parábolas. O quadro abaixo 24 resume esta classificação de Lockyer:





Parábolas no Novo Testamento

No Novo Testamento, Jesus utilizou as parábolas como recurso na transmissão de sua mensagem com o objetivo de compartilhar uma verdade espiritual de modo que fosse compreendida de maneira simples, e para isso, usou exemplos do cotidiano de quem o ouvia. O objetivo de Jesus era transmitir uma mensagem que não deixasse dúvida da parte de quem recebia. Schottroff destaca que Jesus narra parábolas para ensinar e para ser entendido, e, que estas parábolas “são designadas de discurso compreensível que não quer apenas provocar a compreensão intelectual, mas também a compreensão que decorre de ouvir a voz de Deus”.25  Schottroff destaca também que “o convite para comparar a narrativa parabólica com o reino de Deus visa a uma reflexão sobre o conteúdo do agir de Deus, da vontade de Deus, sobre o agir no passado, presente e futuro”.26

Ao se dirigir aos seus discípulos e aos fariseus, seus inimigos, Jesus adotou o método de ensino por parábolas com a finalidade de convencer aqueles e condenar estes. Em Mateus 13.10, os discípulos fizeram a seguinte pergunta para Jesus: “Por que lhes falas por parábolas?”. Essa pergunta foi respondida nos cinco versículos seguintes (vv.11-17). Jesus usava esse método em razão da diversidade de caráter, de nível espiritual e de percepção moral de seus ouvintes: “Por isso, lhes falo por parábolas” (Mt 13.13). Em Marcos 4.10-12, ao ser inquirido sobre o uso de parábolas, Jesus respondeu que as usava nos seus ensinamentos por duas razões distintas: para ilustrar a verdade para aqueles que estavam dispostos a recebe-la e para obscurecer a verdade daqueles que a odiavam.

Contexto Social no Tempo de Jesus

A Galileia era a mais setentrional das províncias ocidentais da Palestina. Compreendia todo o território ao Norte de Samaria até ao Monte Líbano, estendendo-se de Leste a Oeste, entre o Mar da Galileia, o Mar Mediterrâneo e a Fenícia. A Galileia situava-se nas grandes rotas comerciais que cruzavam o Oriente Próximo, e muitos estrangeiros atravessavam a região. Esta era muito mais próspera que a Judeia e abrigava uma grande população. Os galileus eram menosprezados pelos líderes religiosos de Jerusalém, pois muitos deles não eram de descendência judaica, pois seus antepassados foram violentamente convertidos por Alexandre Janeu.

O mar da Galileia (Mt 4.18), também conhecido como mar de Tiberíades ou lago de Genesaré (Lc 5.1) é um extenso lago de água, localizado ao norte da Palestina, e tem comprimento máximo de cerca de 19 quilômetros e largura máxima de cerca de 13 km, cuja profundidade média é de 45m, sendo que sua área total abrange 166,7 km². É formado pelo alargamento do rio Jordão, em certo trecho de seu curso. Fica a 213 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo. Nos tempos do Novo Testamento, ficavam nas suas costas as cidades de Tiberíades — fundada por Herodes Antipas ao tempo da infância de Jesus —, Cafarnaum, Betsaida e Genesaré, entre outras. Hoje, Tiberíades é a localidade principal nas margens do lago. A nordeste deste lago ficam as colinas de Golã.

Escavações arqueológicas tem revelado que havia ao todo doze cidades em volta do lago. A conservação de peixes pela salgadura e sua exportação para todos os lugres do Império Romano era a principal indústria. Esse Mar, que ficava cerca de 96 km ao norte de Jerusalém, ajudava a determinar o tipo de vida que se levava em toda a região ao derredor. As ocupações dos habitantes incluíam a agricultura, a fruticultura, a pecuária, o tingimento de tecidos, o curtume, a pesca e a fabricação de embarcações. Foi em Caná, na Galileia, que Jesus realizou seu primeiro milagre, transformando água em vinho, numa festa de casamento (Jo 2.1-11). Nessa província, Jesus reforçou seu ensino com parábolas memoráveis, ilustrando o amor de Deus pelos pecadores, a necessidade de confiança na misericórdia de Deus, o amor que devemos ter uns com os outros, a maneira como a Palavra de Deus vem e o Reino de Deus cresce, a responsabilidade de o discípulo desenvolver seus dons e o julgamento daqueles que rejeitam o Evangelho.

Jerusalém no Tempo de Jesus  —  Religiosidade do Templo e Relação com as Pessoas

Jerusalém é uma das mais antigas cidades do mundo. É a mais sagrada cidade da Palestina e tem existido como cidade e como capital, além de lugar sagrado, há mais de três mil anos. Jerusalém contava com uma superpopulação, sendo que a maioria das pessoas estava desesperada em decorrência da opressão do Império Romano, da miséria, da opressão aos pequenos produtores, dos pequenos agricultores praticamente falidos, tendo que pagar elevados impostos a Roma. Nessa época, grande parte da população dependia de esmolas do Templo. Enquanto o povo comum estava vivendo em situação de extrema pobreza, padecendo por terríveis privações, a aristocracia, os grandes produtores, os grandes comerciantes e as famílias mais abastadas estavam satisfeitas com o sistema vigente controlado pelo governo de Roma. Diante desse contexto, o povo judeu aguardava com ansiedade o Messias que viria em glória, conforme vaticinado pelo profeta Zacarias (Zc 14.4).

Todavia, na segunda fase de seu ministério na Judeia, Jesus subiu a Jerusalém, no meio da Festa dos Tabernáculos, e começou a ensinar o povo publicamente no pátio do Templo (Jo 7.14-53). A opinião popular divergia a seu respeito e os líderes religiosos indignados interrogavam: “Como sabe este letras, não as tendo aprendido”? (Jo 7.15). Essa atitude de Jesus, ensinando e assumindo a posição de rabino, sem ter sido instruído nas escolas dos escribas e fariseus em Jerusalém, consistia num grave insulto para eles. Entretanto, Jesus não era um analfabeto, pois Ele sabia ler e escrever (Lc 4.16-20; Jo 8.6). A resposta de Jesus foi bastante clara, dizendo que “a certeza da crença em Deus não depende da mentalidade da pessoa, mas de um coração reto e de um espírito obediente”: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou” (Jo 7.16).

O Contexto Literário no Tempo de Jesus:  os Evangelhos

Os quatro primeiros livros do Cânon do Novo Testamento são chamados de Evangelhos porque são os registros escritos das primeiras pregações das boas novas a respeito de Cristo. Eles constituem um tipo distinto de literatura. Não são biografias completas, pois não tentam narrar todos os fatos da carreira de Jesus; nem são apenas histórias; nem são sermões, embora incluam pregações e discursos; também não são apenas relatos de notícias.

Os três primeiros Evangelhos – Mateus, Marcos e Lucas – são chamados sinóticos, termo que vem do grego synoptikos, que significa “ver junto”, “ver da mesma perspectiva”, “vistos de um ponto de vista comum”. Isso se justifica pelo fato que eles viam o ministério de Jesus sob perspectivas semelhantes entre si. Por exemplo, mais de 600 dos 661 versículos de Marcos podem ser encontrados em Mateus. Aproximadamente 380 versículos de Lucas são semelhantes aos encontrados em Marcos.

Os Sinóticos apresentam a vida, os ensinamentos e a significação de Jesus sob o mesmo ponto de vista, em contraste com o Evangelho de João, o qual se limita quase inteiramente ao que Jesus disse e fez na área de Jerusalém. Cada Evangelho foi escrito por pessoas diferentes, em épocas distintas, em lugares que variaram e em situações peculiares. Todos, porém, foram provavelmente escritos entre os anos 60 a 95 d.C.

Mateus escreveu seu Evangelho para os judeus e é conhecido como o Evangelho do Rei;
Marcos escreveu aos romanos e é conhecido como o Evangelho do grande Servo de Deus;
Lucas escreveu aos gregos, conhecido como Evangelho do Filho do Homem;
João, conhecido como o Evangelho do Filho de Deus, foi escrito para a Igreja.

Como Ler e Interpretar uma Parábola

A leitura da parábola deve ser lida e entendida como uma narrativa sintética das experiências cotidianas.

Uma das questões mais importantes ao ler uma parábola é procurar entender os elementos culturais operados em cada uma delas, pois são histórias contadas a partir de outra cultura e tempo. Torna-se impossível entender as parábolas sem vinculá-las ao seu contexto social, pois elas se referem a experiências de pessoas que viveram na época de Jesus. Para tanto, torna-se necessário identificar a conexão com as estruturas daquela sociedade. Quase um terço dos ensinamentos de Jesus foram realizados através de parábolas. Ele contou parábolas sobre a natureza: o trigo e o joio (Mt 13.24-30), trabalho e salário: o senhor e o servo (Lc 17.7-10), e até sobre casamentos e festas: as dez virgens (Mt 25.1-13).

Jesus não falava de forma genérica acerca da busca de Deus pelo perdido, mas sempre através de histórias de experiências cotidianas, tais como: a história sobre uma mulher que perdera uma de suas dez moedas de prata, e que não descansou até encontrá-la (Lc 15.8-10). Ao confrontar os fariseus, escolheu pensar neles como “sepulcros caiados” (Mt 23.27), referindo-se aos seus ensinamentos como motivações espirituais comparadas aos cemitérios gregos, onde as tumbas de calcário, chamadas de sarcófago, eram belas por fora, mas dentro eram repletas de ossos secos.

A leitura da parábola deve procurar as declarações explícitas e implícitas do agir de Deus no contexto literário. 

Exemplo de declaração explícita do agir de Deus: “Assim diz o Senhor” (420 vezes na Bíblia NVI). Explícito significa desprovido de dúvidas ou ambiguidades; que está perfeitamente enunciado; claro; preciso.

Exemplo de declaração implícita desse agir: “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra está na minha boca” (2 Sm 23.2). O que Davi está afirmando é que sua inspiração para compor Salmos vinha do Espírito de Deus. Implícito significa que está envolvido ou contido, mas não expresso claramente; subentendido; tácito.

Para fazer uma comparação da narrativa parabólica com o Reino de Deus é indispensável que haja uma reflexão sobre o conteúdo do agir de Deus, da vontade de Deus no passado, no presente e no futuro. Quanto ao presente e ao futuro são entendidos escatologicamente. Portanto, faz sentido desvendar a parábola com as seguintes perguntas, conforme sugere Luise Schottroff:

“Onde está o evangelho, a mensagem libertadora?
Onde se pode reconhecer o Deus da Torá e a Torá ao lado, por trás ou ainda na própria parábola?
O que a parábola diz a respeito da promessa ou promissão de Deus?

Essas três perguntas (Evangelho, Torá, Escatologia) são auxílios que se oferecem para a compreensão das aplicações das parábolas”.

A leitura da parábola deve identificar a aplicação prática da mesma

As parábolas de Jesus contêm lições profundas e de aplicação prática no campo da ética e da vida espiritual das pessoas. A maneira predileta de Jesus ensinar era pelo uso de parábolas. Ele sabia que as pessoas gostavam de ouvir uma boa estória! Jesus usava parábolas para dizer tudo isso ao povo. Ele não dizia nada a eles sem ser por meio de parábolas. Isto aconteceu para se cumprir o que o profeta tinha dito: “Usarei parábolas quando falar com esse povo e explicarei coisas desconhecidas desde a criação do mundo” (Mt 13.34-35 (NTLH). Jesus ministrava suas mensagens com facilidade em todos os níveis sociais. Ele tinha conhecimento das mais diversas áreas da sociedade e sabia quais eram as suas necessidades. Conhecia como funcionava a lógica dos fariseus e dos escribas.

Por meio de suas parábolas Jesus levou aos seus ouvintes a mensagem de salvação, conclamava a se arrependerem e a crerem. Aos crentes, desafiava-os a porem a fé em prática, exortando seus seguidores à vigilância. Quando seus discípulos tinham dificuldade para entender as parábolas, Jesus as interpretava.

Além das três perguntas acima sobre como desvendar uma parábola (Evangelho, Torá e Escatologia), uma boa maneira de identificar a aplicação prática de uma Parábola é fazer as perguntas seguintes:

Para quem a parábola foi contada?
Porque a parábola foi contada?
Qual é a moral da parábola?
Existe algum ponto culminante na parábola?
Alguma interpretação é dada na passagem para a parábola?
A salvação da alma é parte integrante das parábolas, pois não há como entrar no Reino de Deus sem ter nascido de novo (Jo 3.3-8). Você já renasceu?
Já se arrependeu dos pecados e confiado em Jesus Cristo como seu sacrifício pelos seus pecados? Você conhece o Rei do Reino? Seu coração já se prostra diante deste Rei? Ou vive em rebeldia contra Ele ainda? Os verdadeiros súditos reconhecem a soberania do Rei e submetem-se a ela.

As Parábolas de Jesus

De acordo com Snodgrass “não existe muito acordo acerca do número de parábolas no Novo Testamento, com estimativas variando de trinta e sete até sessenta e cinco”.27  Este autor destaca que a “determinação desse número depende da definição que se dê ao termo ‘parábola’, levando em conta julgamentos relativos a formas específicas e se parábolas semelhantes como a dos Talentos e das Minas são consideradas uma só parábola ou duas”.28  Snodgrass também destaca que no evangelho segundo João não existem parábolas, uma vez que nenhuma das figuras apresentadas por ele “se equipara às similaridades, às narrativas duplamente indiretas, às parábolas jurídicas ou às parábolas interrogativas encontradas nos Evangelhos Sinóticos”.29

O quadro abaixo sintetiza as parábolas de Jesus




Quando estudamos as parábolas de Jesus, como discípulos verdadeiros, em busca de sabedoria e entendimento das verdades espirituais profundas, nos deparamos com as sábias lições que Ele nos deixou para sermos bem-sucedidos em nossa vida aqui no mundo. Como disse Jesus aos seus primeiros discípulos:

“Felizes são os olhos que veem o que vocês veem. Pois eu lhes digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vocês estão vendo, mas não viram; e ouvir o que vocês estão ouvindo, mas não ouviram” (Lc 10.23-24 – NTLH).


SUBSÍDIO

PARÁBOLA - CONCEITO
Parábola, no hebraico mashal, dependendo do contexto, refere-se a um dito profético, um provérbio, uma analogia, um enigma, um discurso, um poema, um conto, um símile. Essa palavra ocorre aproximadamente quarenta vezes no Antigo Testamento, sendo normalmente traduzida como “provérbio”.

A palavra grega traduzida como parábola, em o Novo Testamento, é parabolé, “por ao lado de”, com o sentido de “comparar” como ilustração de alguma verdade ou ensino. Nesse sentido, torna-se um instrumento didático. Ela é usada cinquenta vezes no Novo Testamento, sendo duas para indicar uma fala figurativa (Hb 9.9; 11.19) e quarenta e oito vezes traduzida no singular ou no plural, sempre se referindo às histórias de Jesus. Em síntese, parábola significa, literalmente, “comparação”, e como tal, comumente utilizada para indicar uma história breve, um exemplo esclarecedor para ilustrar uma verdade.

SUBSÍDIO ETIMOLÓGICO

“Entre as formas literárias encontradas na Bíblia, a mais conhecida, talvez, seja a parábola. O fato é especialmente verdade em se tratando das parábolas de Jesus, tais como a do bom samaritano, do filho pródigo, das dez virgens e do semeador. Porém, definir exatamente o que é uma parábola no Antigo Testamento [mashal] ou no Novo (parabole) é difícil. Em ambos os casos, os termos podem referir-se a um provérbio (1Sm 24.13; Ez 18.2,3; Lc 4.23; 6.39); uma sátira (Sl 44.11; 69.11; Is 14.3,4; Hc 2.4); uma charada (Sl 49.4; 78.2; Pv 1.6); um dito simbólico (Mc 7.14,17; Lc 5.36,38); um símile extensa ou similitude (Mt 13.33; Mc 4.30,32; Lc 15.8-10); uma parábola histórica (Mt 25.1-13; Lc 14.16,24; 15.11-32; 16.1-8); um exemplo de parábola (Mt 18.23-25; Lc 10.29-37; 12.16-21; 16.19-31); e, até mesmo, uma alegoria (Jz 9.7-20; Ez 16.1-5; 17.2-10; 20.49—21.5; Mc 4.3-9,13-20; 12.1-11). Esses dois termos bíblicos possuem vasta extensão de significados, mas o sentido básico de cada um é a comparação entre duas coisas diferentes. Algo parecido com algo que não é” (STEIN, Robert H. Guia Básico de Interpretação da Bíblia. 1ª Edição. RJ: CPAD, 1999, p.143).

SUBSÍDIO HERMENÊUTICO

“Parábola, do grego parabolé, significa ‘colocar ao lado de’, e leva a ideia de colocar uma coisa ao lado de outra com o objetivo de comparar. A parábola envolve uma contradição aparente apresentada em forma de narração, relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com objetivo de declarar ou ilustrar uma ou várias verdades importantes” (BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2003, p.321).

1 BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 1996. p. 429.
2 SENIOR, Augusto. O que é interpretação textual. Disponível em Acesso em 17 de Jan. de 2018.
3 FEE, Gordon D. STUART, Douglas. Entendes o que lês? Um guia para entender a Bíblia com o auxílio da exegese e da hermenêutica. São Paulo: Vida Nova,1984. p. 139.1
6  OLIVEIRA, Moisés C. Como os métodos afetam a interpretação do texto.  Disponível em Acesso em 17 de Jan. de 2018.
7  Ibidem.
8  SANTOS, Marcos A. A importância do estudo da hermenêutica para a igreja de hoje. Disponível em Acesso em 19 de Jan. de 2018.
9  OLIVEIRA, Raimundo F. Princípios de Hermenêutica: Estudo e Compreensão da Bíblia. 4. ed. Campinas: EETAD, 2001. p. 65.
10 Adaptado de OLIVEIRA, Raimundo F. Princípios de Hermenêutica: Estudo e Compreensão da Bíblia. 4. ed. Campinas: EETAD, 2001. p. 63-76.
11 Adaptado do texto “Gêneros literários: tipos e características” do portal Norma Culta – Língua portuguesa em bom português” disponível em Acesso em 19 de Dez. de 2017.
14 HENDRICKS, Howard G.; HENDRICKS, William D. Vivendo na Palavra – A arte e a ciência da leitura da Bíblia. São Paulo: Editora Batista Regular, 2010.
15 BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 1996. p. 482.
16 CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 5. São Paulo: Hagnos, 2013. p. 57.
17 CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 5. São Paulo: Hagnos, 2013. p. 57.
18 Ibidem.
19 COPE apud MANSON, T. W. O Ensino de Jesus. São Paulo: ASTE, 1965. p. 74.
20 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia – Cultura Cristã. Vol. 4. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 774.
21 SALMOND, Charles apud LOCKYER, Herbert. Todas as parábolas da Bíblia - Uma análise detalhada de todas as parábolas das Escrituras. São Paulo: Editora Vida, 2006. p. 8.
22 MANSON, T. W. O Ensino de Jesus. São Paulo: ASTE, 1965. p. 79.
23 MANSON, T. W. O Ensino de Jesus. São Paulo: ASTE, 1965. p. 81.
24 Quadro adaptado do texto da obra de LOCKYER, Herbert. Todas as parábolas da Bíblia - Uma análise detalhada de todas as parábolas das Escrituras. São Paulo: Editora Vida, 2006.
25 SCHOTTROFF, Luise. As parábolas de Jesus: uma nova hermenêutica. Trad. Nélio Scneider. São Leopoldo: Sinodal, 2007. p. 130.
26 Ibidem. p. 129.
27 SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as parábolas de Jesus. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. p. 53-54. 28 Ibidem. 29 Ibidem. p. 54.

Fonte:
Livro de Apoio – As Parábolas de Jesus - As verdades e princípios divinos para uma vida abundante - Wagner Tadeu dos Santos Gaby e Eliel dos Santos Gaby
Lições Bíblicas 4º Trim.2018 - As Parábolas de Jesus - As verdades e princípios divinos para uma vida abundante - Comentarista: Wagner Tadeu dos Santos Gaby
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