O Semeador
O capítulo 13 de Mateus registrou sete parábolas de Cristo proferidas nas cercanias de Cafarnaum, junto ao mar da Galiléia. Geralmente, Jesus subia na popa de algum barquinho; outras vezes, em terra, colocava-se em algum ponto mais alto, tendo diante de si a planície de Genesaré, e então ministrava ao povo que afluía para ouvi-lo. Forma de comunicação típica do povo do Oriente Médio, em especial na Palestina, o Mestre usava muitas figuras de linguagem para transmitir seus ensinos. Porém, o método mais utilizado foi a linguagem por parábolas.
Jesus foi especialista em usar linguagem figurada. Por esse método de comunicação, Ele conseguia ilustrar as verdades espirituais e morais que desejava ensinar. Para cada parábola, Cristo tinha uma lição especial. E na Parábola do Semeador deixou-nos uma das mais extraordinárias lições sobre os tipos distintos de corações (solos, terrenos), os quais recebem a semeadura.
O versículo 3 diz que Jesus “falou-lhe de muitas coisas por parábolas”. O termo parábola vem da língua grega, e significa, “colocar coisas lado a lado, para que se perceba as semelhanças”, ou pode ser definido como “uma comparação ilustrativa na forma de narrativa”. Jesus, portanto, contava suas parábolas a partir de fatos da vida cotidiana. Nesta parábola, Cristo se volta para a vida agrícola da Palestina a fim de ilustrar a receptividade do Reino de Deus no coração das pessoas.
O SEMEADOR
Antes de qualquer interpretação especulativa e secundária devemos considerar o sentido original do ensino que Jesus queria transmitir àquele povo. Visto que Ele estava contrastando os inimigos do Reino com os verdadeiros discípulos, conforme está retratado no capítulo 12, Mateus organiza seus registros de forma especial e conecta com o capítulo 13, no qual Jesus ensina por parábolas (Mt 13.1-3).
O que aprendemos e interpretamos inicialmente nesta parábola? O contexto da parábola indica o próprio Cristo como “o semeador”. No texto está escrito que: “o semeador saiu. a semear” (v. 3). Por quê? Ao analisar as circunstâncias anteriores no capítulo 12, vemos que Jesus havia se deparado com muita oposição e dureza de coração daqueles ouvintes. Sua mensagem não havia sido bem aceita, especialmente pelos escribas e fariseus que sempre buscavam algo para acusá-lo. Muitas pessoas foram até Ele, e já era o fim da tarde quando Cristo entrou num pequeno barco e dali passou a falar à multidão desejosa (por meio de parábolas) pelos seus ensinos. O ponto de partida da interpretação acerca de quem era o semeador tem um caráter particular, porque indica subjetivamente o próprio Cristo como “o semeador”. Todavia, essa característica particular da interpretação não impede que se dê um sentido genérico aos cristãos como “semeadores”. Não acrescenta nem fere os princípios hermenêuticos que regem a interpretação dessa parábola.
Nesta parábola Jesus teve como objetivo principal mostrar a diferença dos corações quanto à recepção da Palavra de Deus. Era o próprio Cristo revelando a rejeição ao seu ministério por parte dos judeus. Na parábola seguinte, a do Joio e do Trigo (Mt 13.36-43), Jesus se identifica (v.37) como aquele que “semeia a boa semente”. Antes dEle, outros haviam atuado como semeadores da Palavra, especialmente no Antigo Testamento. Porém, foi Jesus, que a si mesmo se referiu como o “Filho do Homem”, para distinguir-se dos demais em singularidade, quem podia e sabia como semear em quaisquer terrenos. A expressão “Filho do Homem” revelava, de modo especial, a humanidade de Jesus, como ser gerado no ventre de uma mulher, sendo, porém, sua geração operada pelo Espírito Santo. Ele é o “semeador” que veio para fazer diferença dos demais “semeadores” (Jo1.11,12).
O Espírito Santo também é um semeador da boa semente. Ele é o que inspira os semeadores ao serviço da semeadura e quem rega a semente lançada. Cristo declarou acerca do Espírito e o seu trabalho na vida do pecador: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (Jo 3.8). Entendemos que essa passagem implica, metaforicamente, numa ação do Espírito semeando a Palavra de Deus. Não significa que o Espírito faça o nosso papel de “semeadores”, ou seja, evangelizadores, mas é Ele quem toca o nosso espírito e somos despertados para espalhar a semente. Como Cristo ascendeu ao Pai, Ele ainda ministra através do Espírito Santo seu Paracleto, e este ministra através dos crentes, nos quais opera pelo seu Espírito (Jo 14.26).
Os cristãos autênticos são os semeadores na dispensação da graça. A missão evangelizadora dos discípulos de Cristo é identificada em dois textos dos Evangelhos (Mt 28.19,20 e Mc 16.20). A missão de Cristo foi a de um semeador e Ele a passou aos seus discípulos, os quais semeiam em toda a terra desde então. O que Jesus começou a ensinar, seus discípulos deram continuidade (At 1.1). Na história inicial da igreja, surgiram outros grandes semeadores, entre os quais Paulo, que se declarava representante de Cristo como semeador, e dizia que: “visto que buscais, uma prova de Cristo que fala em mim, o qual não é fraco para convosco; antes, é poderoso entre vós” (2 Co 13.3). Paulo considerava seu ministério como uma semeadura de coisas espirituais (1 Co 9.11). Ao dar testemunho de sua conversão, o apóstolo usa a metáfora do vaso para ilustrar sua utilidade na expansão do nome de Jesus (At 9.15). Paulo, portanto, tornou-se um autêntico semeador da “boa semente” do evangelho de Cristo.
Todo crente em Jesus é um semeador da sua Palavra e, indubitavelmente, encontrará os mais variados tipos de solos para receber a boa semente. Fomos salvos para servir e semear a boa semente e devemos servir com amor e espírito sacrificial (SI 126.6).
Na ótica de Cristo não há uma mera preocupação com expansão e quantidade. Não era apenas a proporção da quantidade de sementes que lançamos sobre a terra, de qualquer maneira, sem critério. Para Jesus, não deveria haver inibição quanto ao ato de semear a boa semente, porque o que interessava mesmo era que a semente fosse semeada, a tempo e fora de tempo, em qualquer solo que estivesse disponível para se lançar a semente. Não se trata de um ato de semear aleatoriamente, mas um ato de confiança no poder da semente para encontrar alguma terra capaz de recebê-la e romper com as dificuldades de sua frutificação. Por outro lado, a falta de critério para a semeadura refere-se ao trabalho cuidadoso do semeador. Tudo o que o semeador tem de fazer é semear. Fazer que cresça a semente é algo que vai além de sua capacidade. É trabalho misterioso, sem a intervenção humana.
A SEMENTE
Os Evangelhos Sinóticos tratam, às vezes, das mesmas narrativas históricas ,porém com a visão do autor do Evangelho. Mateus, Marcos e Lucas narraram a mesma parábola e destacaram nuanças percebidas particularmente por cada um dos autores.
Mateus descreve a “semente” como “a palavra do reino” (Mt 13.19);
Lucas a descreve como “a palavra de Deus” (Lc 8.11);
Marcos, simplesmente, como “a palavra” (Mc 4.15).
Na ótica de Mateus, “a palavra do reino” referia-se à natureza e exigências do Reino messiânico desejado e esperado pelos judeus, mas incompreendido e, de certo modo, rejeitado por eles. Jesus mesmo interpretou sua parábola e destacou alguns solos nos quais as sementes lançadas não germinaram. Ele interpretou esses “terrenos” (solos) como aqueles que não “compreendem ” a sua mensagem ou como aqueles que a rejeitam (Mt 13.13).
Jesus também quis mostrar aos seus discípulos que a semeadura da “boa semente” não podia ficar restrita a um solo específico, ou seja, a um grupo étnico, no caso, os judeus. mas teria uma dimensão global, como está escrito: “Portanto ,ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). A lição básica dessa parábola é que é preciso semear toda a semente. Toda a semente refere-se, essencialmente, à plenitude da mensagem do evangelho da graça de Deus que é Jesus Cristo (At 20.24,25). O evangelho é a semente viva, poderosa, que ultrapassa qualquer elemento físico porque “é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). A Bíblia diz que esta “ semente” é “ Viva “ e “incorruptível” (1 Pe 22-25); tem poder e produz fé (Rm 1.16; 10.17); é celestial e divina (Is 55.10,11); imutável e eterna (Is 40.8); pode ser enxertada e salvar (Tg 1.18,21).
Outro aspecto importante que se percebe é que no campo das similitudes tanto o semeador quanto a semente significam o mesmo elemento, que é “a palavra de Deus”. Ora, a Bíblia é a Palavra de Deus tanto quanto Cristo é a Palavra divina. Se a Bíblia é a Palavra viva de Deus, portanto, está cheia de Cristo, que é o Verbo de Deus enviado para salvar o mundo (Jo 1.1). Jesus é o logos de Deus, “o Verbo divino que estava com Deus... se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória” (Jo 1.14). Ele mesmo é a semente. A Palavra escrita dá testemunho de que veio como a Palavra viva (Jo 5.39). Os que recebem “a semente” (a Palavra, Cristo), recebem a vida, porque têm vida em seu nome (Jo 20.30,31). Portanto, a semente que semeamos na terra dos corações humanos não só é a “semente de Cristo”, como também é o próprio Cristo. A semente do Reino dos céus é Ele mesmo, o Rei.
A TERRENO PARA O PLANTIO (M t 13.4-8)
Jesus apresentou sua parábola com muita criatividade, pois destacou quatro tipos distintos de terrenos nos quais a semente podia ser semeada. Figurativamente, o terreno onde cai a semente é o coração das pessoas e a receptividade à semente se apresenta de maneiras diversas. O que aprendemos nesta parábola é que o coração humano é como um terreno que pode receber uma semente e produzir fruto, como também poderá desenvolver dureza e rejeição a qualquer tipo de semente. No plano espiritual, o terreno do coração das pessoas é também espiritual, todavia pode desenvolver disposições favoráveis ou contrárias à recepção das coisas espirituais. Por causa da natureza pecaminosa e rebelde adquirida pelo homem, a disposição do seu coração tornou-se rebelde e endurecida. O que Jesus nos mostra na Parábola do Semeador é que a semente é lançada em quatro tipos de terrenos, mas nem todos serão receptivos à "boa semente”.
O terreno “ao pé do caminho” (w . 4,19)
Naquela época, Jesus procurou conduzir a mente dos seus ouvintes aos caminhos feitos por entre os campos, como podemos exemplificar com o texto de Mateus 12.1, que diz: “Naquele tempo, passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas e a comer”. Em suas viagens, Jesus passava por muitos lugares, nas montanhas, nos desertos, às margens do mar da Galileia, junto aos rios e, especialmente, nos caminhos poeirentos entre as plantações, de trigo, cevada, aveia e outros grãos. O povo israelita aproveitava todo o espaço de terra cultivável, porque era pouco para cultivá-lo. Da experiência vivida por aquelas terras, Ele sabia tirar proveito para ensinar verdades profundas com ilustrações da vida cotidiana. Por isso. Cristo tirava lições da vida pesqueira, da agricultura e até da pecuária.
Nesta parábola, em especial, suas andanças pelas terras agricultáveis lhe deram, uma, visão dos vários tipos de terras que podem receber sementes e frutificarem ou não. Na sua percepção, Ele notou, um tipo de terreno que não era acessível à semente: era a terra “ao pé do caminho”. As sementes lançadas objetivamente ou as que caíam naquela terra batida “por acaso” não penetravam a terra,, então os pássaros as comiam, porque estavam expostas sobre aquela terra dura ao pé do caminho.
Que classe de ouvintes é comparada a esse tipo de terreno? Segundo o próprio Cristo definiu no versículo 19, é aquela classe de pessoas que ouve a Palavra de Deus e não a entende, nem se esforça para entendê-la. É a classe de ouvintes-terra-dura. Na realidade, nos parece que são pessoas displicentes com as coisas de Deus e acham que não precisam se preocupar com isso. O terreno “ao pé do caminho” é batido e pisado pelos transeuntes da vida. E, portanto, terreno duro, impenetrável e inacessível. São muitas as influências exteriores que alcançam o coração humano e influenciam sua vida.
As “aves” que vêm e comem as sementes expostas naquela terra dura representam o quê? Jesus mesmo dá a resposta, quando diz: “Ouvindo alguém a palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho” (Mt 13.19). O Mestre interpreta essas aves como sendo “o maligno”. E quem é o tal? Em toda a Bíblia a palavra “maligno” refere-se ao Diabo e aos demônios sob seu domínio, Segundo o dicionário Aurélio, “maligno” deriva do latim e significa “ser propenso para o mal, ser maléfico, mau, nocivo, pernicioso, danoso”. Esses elementos identificam a pessoa do Diabo. Em Marcos 4.15, o próprio jesus denuncia Satanás como o ladrão da semente da Palavra de Deus para que o pecador não a receba (Jo 10.1,10). As aves do céu que arrebatam a semente lançada no coração precisam ser enxotadas.
As “aves do céu” podem representar os agentes espirituais da maldade que são acionados para impedirem o progresso do “reino de Deus na terra” (Ef 6.10-13). Esses demônios atuam de várias maneiras, com as mais diferentes características para enganar e seduzir os incautos. Essas “aves” podem representar homens ou mulheres usados por Satanás para pisarem a terra do coração das pessoas, influenciando suas mentes com artifícios intelectuais e ateístas, ou com idolatria, para lhes fechar e endurecer o coração.
O ouvinte representado pelo terreno ao pé do caminho é, na verdade, o de coração fechado. E uma classe de pessoas que recebem a semente com o ouvido, mas não permitem descer ao coração. A semente fica exposta na flor da terra, na camada exterior, e não entra para o interior. Lamentavelmente, temos esse tipo de crentes no seio da igreja que, a despeito de participarem de atividades sociais e religiosas, são pessoas sem percepção espiritual. Nada do que acontece no terreno espiritual as sensibiliza porque são desprovidas de uma experiência interior profunda. A semente não pode penetrar nem germinar, e então fica exposta para que “as aves do céu”, que representam os agentes do mal, a arrebatem. A Palavra não surte efeito.
O terreno cheio de “pedregais” (w . 5,6,20,21)
Esse é o tipo de ouvinte que recebe inicialmente bem a Palavra de Deus, mas tem pouca duração, porque onde há pedregulhos o solo é movediço e não permite criar raízes. Na realidade, esse tipo é aquele que facilmente se emociona com o que ouve, porém os obstáculos da vida impedem que a Palavra germine no seu coração. É o tipo de pessoa que chora quando ouve a Palavra, faz confissões de necessidade, mas não consegue se desvencilhar das pedras de sua vida pessoal. A semente é recebida, contudo não cria raízes. Essas pessoas recebem a semente na camada de cima da terra, isto é, na camada emocional do coração, todavia não deixam penetrar a terra. São pessoas entusiastas que se comovem com facilidade e gostam de ouvir a mensagem do evangelho. No entanto, são pessoas superficiais, cuja fé é temporal e frágil, incapazes de superar dificuldades.
As pedras neste terreno podem representar problemas de ordem moral. vícios, maus hábitos de caráter e pecados recorrentes. Nota-se uma diferença na forma de receber a semente nos dois primeiros tipos de terrenos (ou solos). O terreno “ao pé do caminho” é o endurecido, fechado, compacto, que não dá espaço para mais nada. São as pessoas que não entendem a Palavra. Porém, o segundo tipo de terreno é cheio de pedras. Esse terreno é o coração daqueles que, imediatamente, entendem a Palavra, mas de modo superficial. São pessoas que têm dificuldades em administrar seus sentimentos e emoções, por isso, são volúveis e medrosas. Estão sempre resvalando em alguma dificuldade que não sabem resolver. Muitos cristãos vivem na superficialidade espiritual, pois imaginam que por se emocionarem num culto com uma mensagem ou um cântico não precisam de mais nada, por isso não se esforçam para tirar as pedras. De suas vidas. Eles recebem a semente naquele momento (v. 20) e ela até chega a brotar de imediato (v. 4), mas não desenvolve suas raízes. E típico do “cristão-pedregulho”. que está sempre buscando novidades e não se firma na fé. A hipocrisia acaba sendo uma característica desse tipo de crente, sempre propenso a grandes emoções, manifestando-as com frequência nos cultos da igreja. Ao calor de um culto de adoração de louvor, ele manifesta fervor e faz demonstrações de profissão de fé, mas passando aquele momento, volta a ser o mesmo cristão inseguro de sempre, facilmente “levado por ventos de doutrina e vãs filosofias”. Ainda que deseje frutificar, ele não consegue, porque não possui raízes profundas em si mesmo. São pessoas de convicções duvidosas, inseguras e frágeis. Não suportam tribulações e provas, e com facilidade tropeçam e caem.
O terreno cheio de “espinhos” (w . 7,22)
Diz o texto literalmente: “E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na”. Na língua grega, a palavra “espinho” é akantha, que se refere a “planta espinhosa”, típica das terras do Oriente Médio. Por exemplo, a coroa de espinhos que os romanos fizeram para Jesus era, de fato, uma “coroa de akanthon” (Mt 27.29). Esse tipo de planta espinhosa se espalha e se dimensiona sobre a terra de tal forma, que outras plantas não subsistem naquele terreno. Geralmente, esse tipo de solo é constituído de rochedos elevados cobertos de pouca terra. Sobre ele é fácil encontrar essa planta de akanthon (de espinhos) e lançar sementes frutíferas. Às vezes, uma ponta de terra que entra pelo mar e é cercada de águas por todos os lados. Naquela ponta de terra rochosa crescia muita planta de espinhos. O autor da Carta aos Hebreus escreveu o seguinte: “Porque a terra que embebe a chuva que muitas vezes cai sobre ela e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos é reprovada e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada” (Hb 6.7,8). Entende-se, portanto, que esse tipo de terreno torna inútil o trabalho do semeador. É interessante notar que a semente lançada ali encontrou possibilidade de germinar, mas logo foi sufocada pelos espinhos.
A semelhança dos problemas típicos do terreno pedregoso, esse terceiro também é cheio de obstáculos e estorvos. Jesus quis de fato dar um destaque especial a esse terreno porque esses espinhos sufocaram a semente (v. 22).
Que tipos de espinhos podem sufocar a “boa semente”? O texto de Mateus 13.22 apresenta dois tipos de espinhos e Lucas 8.14, três.
Mateus indica “os cuidados deste mundo” e “a sedução das riquezas”, e Lucas considera três: “cuidados, riquezas e deleites da vida”. Todos esses espinhos estão, na verdade, na mesma dimensão.
Na primeira expressão — “cuidados deste mundo” — , Mateus coloca em destaque duas palavras: “cuidados” e “mundo”. A primeira delas fala de preocupações secundárias que acabam dominando a mente e o coração das pessoas, sem deixar espaço para a prioridade maior que é o “reino de Deus”. Essas preocupações sufocam a floração e a frutificação da Palavra de Deus, que é a fonte de toda a vida e de toda fecundidade. Muitos cristãos não frutificam na vida cristã porque vivem sufocados pelas preocupações da vida. Não têm tempo para as coisas de Deus.
A segunda palavra significa um sistema espiritual invisível que oferece às criaturas toda sorte de coisas que roubam o espaço da relação e comunhão com Deus.
A segunda expressão — “a sedução das riquezas” — refere-se à possessão de riquezas que têm sufocado a vida espiritual de muitos irmãos que não têm tempo, para a oração, meditação e comunhão com Deus. A participação nas atividades da igreja torna-se nula porque “a sedução das riquezas” toma o primeiro lugar em suas vidas. Paulo exortou sobre o perigo que correm os “que querem ficar ricos” (1 Tm 6.9).
A terceira expressão — “os deleites da vida” — encontra- se em Lucas, como já mencionado anteriormente. Sem dúvida, os deleites propiciados pela prosperidade material induzem as pessoas à arrogância e à presunção. A busca desmedida por prosperidade material facilita o caminho das tentações e, inevitavelmente, o lugar da Palavra de Deus é sufocado no coração dessas pessoas. Nos tempos modernos, quando a equivocada teologia da prosperidade é pregada e ensinada como descoberta de se ficar rico, a verdadeira teologia é abandonada. A prosperidade material deveria ser um modo de servir melhor a Deus e não para produzir sentimentos presunçosos no coração daqueles que se imaginam mais abençoados que os outros.
O terreno da “boa terra” (w . 8,23)
A quarta classe destacada por Jesus é o que chamaria de ouvintes-boa-terra porque são aqueles que ouvem e compreendem a Palavra de Deus e dão frutos. A “boa terra” recebe a semente porque é macia, profunda, sem pedras e limpa. É a terra fértil e fofa que recebe a semente e é propícia à sua germinação e desenvolvimento. Pelo menos três características, são manifestadas nesse tipo.de terreno.
Primeiro, as pessoas ouvem e entendem a Palavra. Geralmente, tais pessoas são sensíveis às coisas espirituais. São desejosas de conhecer e aprender porque suas raízes são profundas. Segundo as pessoas tornam-se frutíferas. Essa atividade frutífera é demonstrada por uma dinâmica interior da semente plantada e pela qualidade da terra. Jesus destaca essa dinâmica quando diz:“... e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta” (Mt 13.8).
Quando a Palavra (a semente) penetra fundo a terra do coração, ela produz bons frutos, que é o resultado das convicções firmes no poder da Palavra (Jo 15.8'). Em Terceiro lugar, as pessoas tornam-se frutíferas independentemente da quantidade ou proporção. Não importa quem produz mais ou menos. O que importa é que produzamos o suficiente para alcançar muitas pessoas (SI 1.3). Porém, há um detalhe que indica que certos grãos rendem mais que outros. Isto não significa qualquer privilégio propiciado ou discriminativo. No mundo em que vivemos, algumas pessoas produzem mais que as outras, e no Reino de Deus é a mesma coisa. O importante é que todos produzam, independentemente da quantidade. A proporção é equivalente à capacidade individual de cada “grão” (semente) produzir ou não.
Os estudiosos têm procurado entender o texto de Mateus 13.8, que destaca as proporções de produtividade das sementes semeadas. O famoso teólogo Fausset interpreta esse texto da seguinte forma: “trinta por um” designa o nível menor de frutificação; “sessenta por um”, o nível intermediário de frutificação; “cem por um”, o mais elevado nível. Um outro teólogo comentou esse texto da seguinte maneira: “Assim como os níveis dos ouvintes sem fruto eram três, também é tríplice a abundância de frutos. Aqueles que tinham, foi-lhes dado”. A semente plantada em nossos corações germinará e frutificará mediante a nossa disposição para produzir. Todavia, a lição maior desta parábola não é simplesmente frutificar, o que está relacionado com a disposição para querer aprender e entender a Palavra de Deus. É o entendimento intelectual e espiritual da Palavra que produzirá algum fruto. Essa parábola tem a ver com a nossa capacidade de ouvir, entender e obedecer .Nossa receptividade à Palavra “descortinará a verdade na justa proporção do entendimento dos homens”. Só entenderemos as verdades profundas do Reino de Deus mediante nossa receptividade. Jesus falou em “mistérios do reino”, indicando que nem todos conheceriam esses mistérios, mas aqueles para os quais fossem revelados. A uns o entendimento é menor e mais lento; a outros, é mais amplo e claro, tal como a palavra declara: “trinta por um, sessenta por um e cem por um”. Na igreja, os crentes são distintos membros do Corpo de Cristo (1 Co 12.12,27) e, naturalmente, cada membro deve cumprir o seu papel dentro do Corpo. Por isso, podemos entender que cada pessoa produzirá “a boa semente” na medida da sua capacidade de frutificar. Não há espaço para ciúmes ou invejas, desde que cada um produza à proporção de seu, entendimento dos “mistérios da Palavra de Deus”.
CONCLUSÃO
Aprendemos com esta parábola do semeador que existem três tipos de solos que representam obstáculos para germinar, crescer e desenvolver. Em termos de desenvolvimento cristão, no primeiro solo o cristão não se desenvolve; no segundo, a semente é frustrada quanto à germinação; no terceiro, encontra um pouco de terra, mas é sufocada pelos espinhos; e no quarto, ela encontra terra capaz de germiná-la e fazê-la crescer e frutificar.
Fonte: Parábola de Jesus - Advertências para os dias de hoje - Elienai Cabral
O capítulo 13 de Mateus registrou sete parábolas de Cristo proferidas nas cercanias de Cafarnaum, junto ao mar da Galiléia. Geralmente, Jesus subia na popa de algum barquinho; outras vezes, em terra, colocava-se em algum ponto mais alto, tendo diante de si a planície de Genesaré, e então ministrava ao povo que afluía para ouvi-lo. Forma de comunicação típica do povo do Oriente Médio, em especial na Palestina, o Mestre usava muitas figuras de linguagem para transmitir seus ensinos. Porém, o método mais utilizado foi a linguagem por parábolas.
Jesus foi especialista em usar linguagem figurada. Por esse método de comunicação, Ele conseguia ilustrar as verdades espirituais e morais que desejava ensinar. Para cada parábola, Cristo tinha uma lição especial. E na Parábola do Semeador deixou-nos uma das mais extraordinárias lições sobre os tipos distintos de corações (solos, terrenos), os quais recebem a semeadura.
O versículo 3 diz que Jesus “falou-lhe de muitas coisas por parábolas”. O termo parábola vem da língua grega, e significa, “colocar coisas lado a lado, para que se perceba as semelhanças”, ou pode ser definido como “uma comparação ilustrativa na forma de narrativa”. Jesus, portanto, contava suas parábolas a partir de fatos da vida cotidiana. Nesta parábola, Cristo se volta para a vida agrícola da Palestina a fim de ilustrar a receptividade do Reino de Deus no coração das pessoas.
O SEMEADOR
Antes de qualquer interpretação especulativa e secundária devemos considerar o sentido original do ensino que Jesus queria transmitir àquele povo. Visto que Ele estava contrastando os inimigos do Reino com os verdadeiros discípulos, conforme está retratado no capítulo 12, Mateus organiza seus registros de forma especial e conecta com o capítulo 13, no qual Jesus ensina por parábolas (Mt 13.1-3).
O que aprendemos e interpretamos inicialmente nesta parábola? O contexto da parábola indica o próprio Cristo como “o semeador”. No texto está escrito que: “o semeador saiu. a semear” (v. 3). Por quê? Ao analisar as circunstâncias anteriores no capítulo 12, vemos que Jesus havia se deparado com muita oposição e dureza de coração daqueles ouvintes. Sua mensagem não havia sido bem aceita, especialmente pelos escribas e fariseus que sempre buscavam algo para acusá-lo. Muitas pessoas foram até Ele, e já era o fim da tarde quando Cristo entrou num pequeno barco e dali passou a falar à multidão desejosa (por meio de parábolas) pelos seus ensinos. O ponto de partida da interpretação acerca de quem era o semeador tem um caráter particular, porque indica subjetivamente o próprio Cristo como “o semeador”. Todavia, essa característica particular da interpretação não impede que se dê um sentido genérico aos cristãos como “semeadores”. Não acrescenta nem fere os princípios hermenêuticos que regem a interpretação dessa parábola.
Nesta parábola Jesus teve como objetivo principal mostrar a diferença dos corações quanto à recepção da Palavra de Deus. Era o próprio Cristo revelando a rejeição ao seu ministério por parte dos judeus. Na parábola seguinte, a do Joio e do Trigo (Mt 13.36-43), Jesus se identifica (v.37) como aquele que “semeia a boa semente”. Antes dEle, outros haviam atuado como semeadores da Palavra, especialmente no Antigo Testamento. Porém, foi Jesus, que a si mesmo se referiu como o “Filho do Homem”, para distinguir-se dos demais em singularidade, quem podia e sabia como semear em quaisquer terrenos. A expressão “Filho do Homem” revelava, de modo especial, a humanidade de Jesus, como ser gerado no ventre de uma mulher, sendo, porém, sua geração operada pelo Espírito Santo. Ele é o “semeador” que veio para fazer diferença dos demais “semeadores” (Jo1.11,12).
O Espírito Santo também é um semeador da boa semente. Ele é o que inspira os semeadores ao serviço da semeadura e quem rega a semente lançada. Cristo declarou acerca do Espírito e o seu trabalho na vida do pecador: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (Jo 3.8). Entendemos que essa passagem implica, metaforicamente, numa ação do Espírito semeando a Palavra de Deus. Não significa que o Espírito faça o nosso papel de “semeadores”, ou seja, evangelizadores, mas é Ele quem toca o nosso espírito e somos despertados para espalhar a semente. Como Cristo ascendeu ao Pai, Ele ainda ministra através do Espírito Santo seu Paracleto, e este ministra através dos crentes, nos quais opera pelo seu Espírito (Jo 14.26).
Os cristãos autênticos são os semeadores na dispensação da graça. A missão evangelizadora dos discípulos de Cristo é identificada em dois textos dos Evangelhos (Mt 28.19,20 e Mc 16.20). A missão de Cristo foi a de um semeador e Ele a passou aos seus discípulos, os quais semeiam em toda a terra desde então. O que Jesus começou a ensinar, seus discípulos deram continuidade (At 1.1). Na história inicial da igreja, surgiram outros grandes semeadores, entre os quais Paulo, que se declarava representante de Cristo como semeador, e dizia que: “visto que buscais, uma prova de Cristo que fala em mim, o qual não é fraco para convosco; antes, é poderoso entre vós” (2 Co 13.3). Paulo considerava seu ministério como uma semeadura de coisas espirituais (1 Co 9.11). Ao dar testemunho de sua conversão, o apóstolo usa a metáfora do vaso para ilustrar sua utilidade na expansão do nome de Jesus (At 9.15). Paulo, portanto, tornou-se um autêntico semeador da “boa semente” do evangelho de Cristo.
Todo crente em Jesus é um semeador da sua Palavra e, indubitavelmente, encontrará os mais variados tipos de solos para receber a boa semente. Fomos salvos para servir e semear a boa semente e devemos servir com amor e espírito sacrificial (SI 126.6).
Na ótica de Cristo não há uma mera preocupação com expansão e quantidade. Não era apenas a proporção da quantidade de sementes que lançamos sobre a terra, de qualquer maneira, sem critério. Para Jesus, não deveria haver inibição quanto ao ato de semear a boa semente, porque o que interessava mesmo era que a semente fosse semeada, a tempo e fora de tempo, em qualquer solo que estivesse disponível para se lançar a semente. Não se trata de um ato de semear aleatoriamente, mas um ato de confiança no poder da semente para encontrar alguma terra capaz de recebê-la e romper com as dificuldades de sua frutificação. Por outro lado, a falta de critério para a semeadura refere-se ao trabalho cuidadoso do semeador. Tudo o que o semeador tem de fazer é semear. Fazer que cresça a semente é algo que vai além de sua capacidade. É trabalho misterioso, sem a intervenção humana.
A SEMENTE
Os Evangelhos Sinóticos tratam, às vezes, das mesmas narrativas históricas ,porém com a visão do autor do Evangelho. Mateus, Marcos e Lucas narraram a mesma parábola e destacaram nuanças percebidas particularmente por cada um dos autores.
Mateus descreve a “semente” como “a palavra do reino” (Mt 13.19);
Lucas a descreve como “a palavra de Deus” (Lc 8.11);
Marcos, simplesmente, como “a palavra” (Mc 4.15).
Na ótica de Mateus, “a palavra do reino” referia-se à natureza e exigências do Reino messiânico desejado e esperado pelos judeus, mas incompreendido e, de certo modo, rejeitado por eles. Jesus mesmo interpretou sua parábola e destacou alguns solos nos quais as sementes lançadas não germinaram. Ele interpretou esses “terrenos” (solos) como aqueles que não “compreendem ” a sua mensagem ou como aqueles que a rejeitam (Mt 13.13).
Jesus também quis mostrar aos seus discípulos que a semeadura da “boa semente” não podia ficar restrita a um solo específico, ou seja, a um grupo étnico, no caso, os judeus. mas teria uma dimensão global, como está escrito: “Portanto ,ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). A lição básica dessa parábola é que é preciso semear toda a semente. Toda a semente refere-se, essencialmente, à plenitude da mensagem do evangelho da graça de Deus que é Jesus Cristo (At 20.24,25). O evangelho é a semente viva, poderosa, que ultrapassa qualquer elemento físico porque “é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). A Bíblia diz que esta “ semente” é “ Viva “ e “incorruptível” (1 Pe 22-25); tem poder e produz fé (Rm 1.16; 10.17); é celestial e divina (Is 55.10,11); imutável e eterna (Is 40.8); pode ser enxertada e salvar (Tg 1.18,21).
Outro aspecto importante que se percebe é que no campo das similitudes tanto o semeador quanto a semente significam o mesmo elemento, que é “a palavra de Deus”. Ora, a Bíblia é a Palavra de Deus tanto quanto Cristo é a Palavra divina. Se a Bíblia é a Palavra viva de Deus, portanto, está cheia de Cristo, que é o Verbo de Deus enviado para salvar o mundo (Jo 1.1). Jesus é o logos de Deus, “o Verbo divino que estava com Deus... se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória” (Jo 1.14). Ele mesmo é a semente. A Palavra escrita dá testemunho de que veio como a Palavra viva (Jo 5.39). Os que recebem “a semente” (a Palavra, Cristo), recebem a vida, porque têm vida em seu nome (Jo 20.30,31). Portanto, a semente que semeamos na terra dos corações humanos não só é a “semente de Cristo”, como também é o próprio Cristo. A semente do Reino dos céus é Ele mesmo, o Rei.
A TERRENO PARA O PLANTIO (M t 13.4-8)
Jesus apresentou sua parábola com muita criatividade, pois destacou quatro tipos distintos de terrenos nos quais a semente podia ser semeada. Figurativamente, o terreno onde cai a semente é o coração das pessoas e a receptividade à semente se apresenta de maneiras diversas. O que aprendemos nesta parábola é que o coração humano é como um terreno que pode receber uma semente e produzir fruto, como também poderá desenvolver dureza e rejeição a qualquer tipo de semente. No plano espiritual, o terreno do coração das pessoas é também espiritual, todavia pode desenvolver disposições favoráveis ou contrárias à recepção das coisas espirituais. Por causa da natureza pecaminosa e rebelde adquirida pelo homem, a disposição do seu coração tornou-se rebelde e endurecida. O que Jesus nos mostra na Parábola do Semeador é que a semente é lançada em quatro tipos de terrenos, mas nem todos serão receptivos à "boa semente”.
O terreno “ao pé do caminho” (w . 4,19)
Naquela época, Jesus procurou conduzir a mente dos seus ouvintes aos caminhos feitos por entre os campos, como podemos exemplificar com o texto de Mateus 12.1, que diz: “Naquele tempo, passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas e a comer”. Em suas viagens, Jesus passava por muitos lugares, nas montanhas, nos desertos, às margens do mar da Galileia, junto aos rios e, especialmente, nos caminhos poeirentos entre as plantações, de trigo, cevada, aveia e outros grãos. O povo israelita aproveitava todo o espaço de terra cultivável, porque era pouco para cultivá-lo. Da experiência vivida por aquelas terras, Ele sabia tirar proveito para ensinar verdades profundas com ilustrações da vida cotidiana. Por isso. Cristo tirava lições da vida pesqueira, da agricultura e até da pecuária.
Nesta parábola, em especial, suas andanças pelas terras agricultáveis lhe deram, uma, visão dos vários tipos de terras que podem receber sementes e frutificarem ou não. Na sua percepção, Ele notou, um tipo de terreno que não era acessível à semente: era a terra “ao pé do caminho”. As sementes lançadas objetivamente ou as que caíam naquela terra batida “por acaso” não penetravam a terra,, então os pássaros as comiam, porque estavam expostas sobre aquela terra dura ao pé do caminho.
Que classe de ouvintes é comparada a esse tipo de terreno? Segundo o próprio Cristo definiu no versículo 19, é aquela classe de pessoas que ouve a Palavra de Deus e não a entende, nem se esforça para entendê-la. É a classe de ouvintes-terra-dura. Na realidade, nos parece que são pessoas displicentes com as coisas de Deus e acham que não precisam se preocupar com isso. O terreno “ao pé do caminho” é batido e pisado pelos transeuntes da vida. E, portanto, terreno duro, impenetrável e inacessível. São muitas as influências exteriores que alcançam o coração humano e influenciam sua vida.
As “aves” que vêm e comem as sementes expostas naquela terra dura representam o quê? Jesus mesmo dá a resposta, quando diz: “Ouvindo alguém a palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho” (Mt 13.19). O Mestre interpreta essas aves como sendo “o maligno”. E quem é o tal? Em toda a Bíblia a palavra “maligno” refere-se ao Diabo e aos demônios sob seu domínio, Segundo o dicionário Aurélio, “maligno” deriva do latim e significa “ser propenso para o mal, ser maléfico, mau, nocivo, pernicioso, danoso”. Esses elementos identificam a pessoa do Diabo. Em Marcos 4.15, o próprio jesus denuncia Satanás como o ladrão da semente da Palavra de Deus para que o pecador não a receba (Jo 10.1,10). As aves do céu que arrebatam a semente lançada no coração precisam ser enxotadas.
As “aves do céu” podem representar os agentes espirituais da maldade que são acionados para impedirem o progresso do “reino de Deus na terra” (Ef 6.10-13). Esses demônios atuam de várias maneiras, com as mais diferentes características para enganar e seduzir os incautos. Essas “aves” podem representar homens ou mulheres usados por Satanás para pisarem a terra do coração das pessoas, influenciando suas mentes com artifícios intelectuais e ateístas, ou com idolatria, para lhes fechar e endurecer o coração.
O ouvinte representado pelo terreno ao pé do caminho é, na verdade, o de coração fechado. E uma classe de pessoas que recebem a semente com o ouvido, mas não permitem descer ao coração. A semente fica exposta na flor da terra, na camada exterior, e não entra para o interior. Lamentavelmente, temos esse tipo de crentes no seio da igreja que, a despeito de participarem de atividades sociais e religiosas, são pessoas sem percepção espiritual. Nada do que acontece no terreno espiritual as sensibiliza porque são desprovidas de uma experiência interior profunda. A semente não pode penetrar nem germinar, e então fica exposta para que “as aves do céu”, que representam os agentes do mal, a arrebatem. A Palavra não surte efeito.
O terreno cheio de “pedregais” (w . 5,6,20,21)
Esse é o tipo de ouvinte que recebe inicialmente bem a Palavra de Deus, mas tem pouca duração, porque onde há pedregulhos o solo é movediço e não permite criar raízes. Na realidade, esse tipo é aquele que facilmente se emociona com o que ouve, porém os obstáculos da vida impedem que a Palavra germine no seu coração. É o tipo de pessoa que chora quando ouve a Palavra, faz confissões de necessidade, mas não consegue se desvencilhar das pedras de sua vida pessoal. A semente é recebida, contudo não cria raízes. Essas pessoas recebem a semente na camada de cima da terra, isto é, na camada emocional do coração, todavia não deixam penetrar a terra. São pessoas entusiastas que se comovem com facilidade e gostam de ouvir a mensagem do evangelho. No entanto, são pessoas superficiais, cuja fé é temporal e frágil, incapazes de superar dificuldades.
As pedras neste terreno podem representar problemas de ordem moral. vícios, maus hábitos de caráter e pecados recorrentes. Nota-se uma diferença na forma de receber a semente nos dois primeiros tipos de terrenos (ou solos). O terreno “ao pé do caminho” é o endurecido, fechado, compacto, que não dá espaço para mais nada. São as pessoas que não entendem a Palavra. Porém, o segundo tipo de terreno é cheio de pedras. Esse terreno é o coração daqueles que, imediatamente, entendem a Palavra, mas de modo superficial. São pessoas que têm dificuldades em administrar seus sentimentos e emoções, por isso, são volúveis e medrosas. Estão sempre resvalando em alguma dificuldade que não sabem resolver. Muitos cristãos vivem na superficialidade espiritual, pois imaginam que por se emocionarem num culto com uma mensagem ou um cântico não precisam de mais nada, por isso não se esforçam para tirar as pedras. De suas vidas. Eles recebem a semente naquele momento (v. 20) e ela até chega a brotar de imediato (v. 4), mas não desenvolve suas raízes. E típico do “cristão-pedregulho”. que está sempre buscando novidades e não se firma na fé. A hipocrisia acaba sendo uma característica desse tipo de crente, sempre propenso a grandes emoções, manifestando-as com frequência nos cultos da igreja. Ao calor de um culto de adoração de louvor, ele manifesta fervor e faz demonstrações de profissão de fé, mas passando aquele momento, volta a ser o mesmo cristão inseguro de sempre, facilmente “levado por ventos de doutrina e vãs filosofias”. Ainda que deseje frutificar, ele não consegue, porque não possui raízes profundas em si mesmo. São pessoas de convicções duvidosas, inseguras e frágeis. Não suportam tribulações e provas, e com facilidade tropeçam e caem.
O terreno cheio de “espinhos” (w . 7,22)
Diz o texto literalmente: “E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na”. Na língua grega, a palavra “espinho” é akantha, que se refere a “planta espinhosa”, típica das terras do Oriente Médio. Por exemplo, a coroa de espinhos que os romanos fizeram para Jesus era, de fato, uma “coroa de akanthon” (Mt 27.29). Esse tipo de planta espinhosa se espalha e se dimensiona sobre a terra de tal forma, que outras plantas não subsistem naquele terreno. Geralmente, esse tipo de solo é constituído de rochedos elevados cobertos de pouca terra. Sobre ele é fácil encontrar essa planta de akanthon (de espinhos) e lançar sementes frutíferas. Às vezes, uma ponta de terra que entra pelo mar e é cercada de águas por todos os lados. Naquela ponta de terra rochosa crescia muita planta de espinhos. O autor da Carta aos Hebreus escreveu o seguinte: “Porque a terra que embebe a chuva que muitas vezes cai sobre ela e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos é reprovada e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada” (Hb 6.7,8). Entende-se, portanto, que esse tipo de terreno torna inútil o trabalho do semeador. É interessante notar que a semente lançada ali encontrou possibilidade de germinar, mas logo foi sufocada pelos espinhos.
A semelhança dos problemas típicos do terreno pedregoso, esse terceiro também é cheio de obstáculos e estorvos. Jesus quis de fato dar um destaque especial a esse terreno porque esses espinhos sufocaram a semente (v. 22).
Que tipos de espinhos podem sufocar a “boa semente”? O texto de Mateus 13.22 apresenta dois tipos de espinhos e Lucas 8.14, três.
Mateus indica “os cuidados deste mundo” e “a sedução das riquezas”, e Lucas considera três: “cuidados, riquezas e deleites da vida”. Todos esses espinhos estão, na verdade, na mesma dimensão.
Na primeira expressão — “cuidados deste mundo” — , Mateus coloca em destaque duas palavras: “cuidados” e “mundo”. A primeira delas fala de preocupações secundárias que acabam dominando a mente e o coração das pessoas, sem deixar espaço para a prioridade maior que é o “reino de Deus”. Essas preocupações sufocam a floração e a frutificação da Palavra de Deus, que é a fonte de toda a vida e de toda fecundidade. Muitos cristãos não frutificam na vida cristã porque vivem sufocados pelas preocupações da vida. Não têm tempo para as coisas de Deus.
A segunda palavra significa um sistema espiritual invisível que oferece às criaturas toda sorte de coisas que roubam o espaço da relação e comunhão com Deus.
A segunda expressão — “a sedução das riquezas” — refere-se à possessão de riquezas que têm sufocado a vida espiritual de muitos irmãos que não têm tempo, para a oração, meditação e comunhão com Deus. A participação nas atividades da igreja torna-se nula porque “a sedução das riquezas” toma o primeiro lugar em suas vidas. Paulo exortou sobre o perigo que correm os “que querem ficar ricos” (1 Tm 6.9).
A terceira expressão — “os deleites da vida” — encontra- se em Lucas, como já mencionado anteriormente. Sem dúvida, os deleites propiciados pela prosperidade material induzem as pessoas à arrogância e à presunção. A busca desmedida por prosperidade material facilita o caminho das tentações e, inevitavelmente, o lugar da Palavra de Deus é sufocado no coração dessas pessoas. Nos tempos modernos, quando a equivocada teologia da prosperidade é pregada e ensinada como descoberta de se ficar rico, a verdadeira teologia é abandonada. A prosperidade material deveria ser um modo de servir melhor a Deus e não para produzir sentimentos presunçosos no coração daqueles que se imaginam mais abençoados que os outros.
O terreno da “boa terra” (w . 8,23)
A quarta classe destacada por Jesus é o que chamaria de ouvintes-boa-terra porque são aqueles que ouvem e compreendem a Palavra de Deus e dão frutos. A “boa terra” recebe a semente porque é macia, profunda, sem pedras e limpa. É a terra fértil e fofa que recebe a semente e é propícia à sua germinação e desenvolvimento. Pelo menos três características, são manifestadas nesse tipo.de terreno.
Primeiro, as pessoas ouvem e entendem a Palavra. Geralmente, tais pessoas são sensíveis às coisas espirituais. São desejosas de conhecer e aprender porque suas raízes são profundas. Segundo as pessoas tornam-se frutíferas. Essa atividade frutífera é demonstrada por uma dinâmica interior da semente plantada e pela qualidade da terra. Jesus destaca essa dinâmica quando diz:“... e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta” (Mt 13.8).
Quando a Palavra (a semente) penetra fundo a terra do coração, ela produz bons frutos, que é o resultado das convicções firmes no poder da Palavra (Jo 15.8'). Em Terceiro lugar, as pessoas tornam-se frutíferas independentemente da quantidade ou proporção. Não importa quem produz mais ou menos. O que importa é que produzamos o suficiente para alcançar muitas pessoas (SI 1.3). Porém, há um detalhe que indica que certos grãos rendem mais que outros. Isto não significa qualquer privilégio propiciado ou discriminativo. No mundo em que vivemos, algumas pessoas produzem mais que as outras, e no Reino de Deus é a mesma coisa. O importante é que todos produzam, independentemente da quantidade. A proporção é equivalente à capacidade individual de cada “grão” (semente) produzir ou não.
Os estudiosos têm procurado entender o texto de Mateus 13.8, que destaca as proporções de produtividade das sementes semeadas. O famoso teólogo Fausset interpreta esse texto da seguinte forma: “trinta por um” designa o nível menor de frutificação; “sessenta por um”, o nível intermediário de frutificação; “cem por um”, o mais elevado nível. Um outro teólogo comentou esse texto da seguinte maneira: “Assim como os níveis dos ouvintes sem fruto eram três, também é tríplice a abundância de frutos. Aqueles que tinham, foi-lhes dado”. A semente plantada em nossos corações germinará e frutificará mediante a nossa disposição para produzir. Todavia, a lição maior desta parábola não é simplesmente frutificar, o que está relacionado com a disposição para querer aprender e entender a Palavra de Deus. É o entendimento intelectual e espiritual da Palavra que produzirá algum fruto. Essa parábola tem a ver com a nossa capacidade de ouvir, entender e obedecer .Nossa receptividade à Palavra “descortinará a verdade na justa proporção do entendimento dos homens”. Só entenderemos as verdades profundas do Reino de Deus mediante nossa receptividade. Jesus falou em “mistérios do reino”, indicando que nem todos conheceriam esses mistérios, mas aqueles para os quais fossem revelados. A uns o entendimento é menor e mais lento; a outros, é mais amplo e claro, tal como a palavra declara: “trinta por um, sessenta por um e cem por um”. Na igreja, os crentes são distintos membros do Corpo de Cristo (1 Co 12.12,27) e, naturalmente, cada membro deve cumprir o seu papel dentro do Corpo. Por isso, podemos entender que cada pessoa produzirá “a boa semente” na medida da sua capacidade de frutificar. Não há espaço para ciúmes ou invejas, desde que cada um produza à proporção de seu, entendimento dos “mistérios da Palavra de Deus”.
CONCLUSÃO
Aprendemos com esta parábola do semeador que existem três tipos de solos que representam obstáculos para germinar, crescer e desenvolver. Em termos de desenvolvimento cristão, no primeiro solo o cristão não se desenvolve; no segundo, a semente é frustrada quanto à germinação; no terceiro, encontra um pouco de terra, mas é sufocada pelos espinhos; e no quarto, ela encontra terra capaz de germiná-la e fazê-la crescer e frutificar.
Fonte: Parábola de Jesus - Advertências para os dias de hoje - Elienai Cabral
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