“Escondi a tua palavra no meu coração,
para eu não pecar contra ti” Sl 119.11
“Nós, pentecostais, nunca vimos o abismo
que separa o nosso mundo do mundo do texto em sentido geral. Combinar nossos
horizontes com o do texto ocorre naturalmente, sem muita reflexão, em grande
parte porque o nosso mundo e o do texto são bastante semelhantes. Tendo em
vista que os teólogos e acadêmicos ocidentais dos últimos dois séculos
empregaram grandes esforços para saber como interpretar os textos bíblicos que
falam da atividade milagrosa de Deus, os pentecostais não foram afligidos com
esse tipo de mal-estar. Enquanto Rudolph Bultmann desenvolveu sua
demitologização ao Novo Testamento, os pentecostais silenciosamente oravam
pelos enfermos e expulsavam demônios. Enquanto os teólogos evangélicos,
seguindo os passos de B. B. Warfield, procuravam explicar por que devemos
aceitar a realidade dos milagres registrados no Novo Testamento, mas, ao mesmo
tempo, não esperar que ocorram hoje, os pentecostais estavam testemunhando que
Jesus operava ‘prodígios e sinais’ contemporâneos quando estabeleceu a igreja.
Não, a hermenêutica da maioria dos
crentes pentecostais não é exclusivamente complexa. Não está cheia de questões
sobre a confiabilidade histórica ou repleta de cosmovisões ultrapassadas. Não é
excessiva mente reflexiva sobre os sistemas teológicos, a distância cultural ou
as estratégias literárias” (MENZIES, Robert. Pentecostes: Essa
História é a Nossa História. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2016, pp.21,22).
Existem vários métodos de interpretação
das Sagradas Escrituras, porém não podemos nos esquecer de que precisamos
compreender o texto sagrado corretamente e praticá-lo (Tg 1.22). Muitos veem o
livro de Atos, e algumas partes da Bíblia, apenas como uma narrativa histórica
com acontecimentos que fizeram parte somente de uma época da história da
Igreja, como por exemplo, o batismo com o Espírito Santo. A falta de
conhecimento leva as pessoas a rejeitarem e a falarem mal daquilo que não
conhecem com profundidade. Que a aula de hoje venha contribuir para que seus
alunos tenham uma visão correta a respeito do livro de Atos e da forma como o
interpretamos. Pois, o Espírito Santo não é um mito, uma força, um vento. Ele é
a Terceira Pessoa da Trindade que foi enviado a este mundo com uma missão
específica: convencer o homem do pecado, da justiça, do juízo e edificar os
crentes e a Igreja do Senhor mediante a concessão de dons espirituais.
Ler a Bíblia de forma correta é
importante não apenas para que entendamos perfeitamente a sua mensagem, mas
também para que a pratiquemos.
Texto Bíblico - Atos 2.1-13
INTRODUÇÃO
Um dos maiores desafios dos grupos
cristãos evangélicos tem sido a leitura da Bíblia e a sua correta
interpretação. A forma como vão expor seus ensinos e principalmente aplicá-los,
depende da maneira como leem e interpretam as Sagradas Escrituras. Por isso, há
regras que norteiam a interpretação da Bíblia, dirigindo o leitor não apenas ao
perfeito entendimento do texto bíblico, mas acima de tudo, motivando-o à
aplicação correta. Se lermos o texto sagrado e o interpretamos de maneira
imprópria, a aplicação também será imprópria. E de que forma os pentecostais
leem a Palavra de Deus? Sua interpretação acerca dos textos de Atos, sobre a
vinda do Espírito Santo e o falar em línguas, é correta? Será que os dons
espirituais seriam para os nossos dias? As respostas a essas perguntas passam
pelo processo de leitura e interpretação corretas da Palavra de Deus.
1. Ler corretamente para entender
corretamente.
Um dos segredos para uma vida cristã sadia é o correto
entendimento do texto sagrado. Se pensarmos que a Bíblia foi produzida em um
contexto diferente do nosso, devemos então acatar princípios que nos ajudem a
entendê-la. Para isso, a Teologia elaborou um método que direciona de forma
acertada como um cristão deve ler a Bíblia. E por qual motivo isso foi feito?
Para que todo cristão, em sua leitura, leve em conta os princípios que lhe
permitirão aplicar a leitura bíblica às suas vidas. O desafio de ser um
praticante da Palavra de Deus passa, portanto, pela interpretação correta. Não
temos dúvida de que certos textos têm uma aplicabilidade imediata, pois não
necessita de muitas explicações para a sua compreensão, já que a mensagem traz
elementos que são conhecidos de praticamente todas as pessoas, como por
exemplo, os Dez Mandamentos: “Não adulterarás”; “Não furtarás”; “Não dirás
falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.14-16). Outros textos, como o que
se refere a Melquisedeque em comparação ao Senhor Jesus, “rei de justiça e
depois também rei de Salém, que é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia,
não tendo princípio de dias nem fim de vida” (Hb 72.3), precisam de uma
explicação, pois corremos o risco de entendermos que Melquisedeque surgiu do
nada, que não teve pai ou mãe. Na verdade, a genealogia de Melquisedeque não é
apresentada no texto sagrado, mas ele, como qualquer ser humano, tinha pai e
mãe.
O entendimento correto de um texto passa
pela sua leitura correta. Tais princípios não têm por objetivo cercear a
leitura da Palavra de Deus, e sim fazer com que essa leitura se enquadre dentro
do objetivo que o escritor tinha quando foi inspirado a materializar a
revelação de Deus de forma escrita.
2. Ler corretamente para ensinar e
aplicar.
Um dos propósitos da leitura correta das Escrituras é o ensino
correto dela. Se uma leitura e interpretação do texto sacro forem dirigidas por
premissas equivocadas, tais premissas acarretarão um ensino equivocado da Palavra
de Deus. Por sua vez, um ensino equivocado traz práticas equivocadas e danosas
para a Igreja de Cristo. Não é à toa que, ao longo do texto sagrado, Deus se
encarrega de usar seus servos para que exortem o seu povo a que pratiquem obras
corretas e vivam uma existência que, efetivamente, agrada a Deus. Cremos que
quando Deus inspirou os escritores a redigirem o texto sagrado, Ele o fez para
que a sua vontade fosse praticada (2Tm 3.16,17).
3. O respeito para com o texto sagrado.
Deus,
ao inspirar seus servos a que escrevessem sua Palavra, o fez em um contexto
diferente do nosso. A Bíblia não foi escrita em nenhuma versão em português do
século XXI, no Brasil. Foi escrita em pelo menos três línguas diferentes: o
hebraico, o grego e algumas porções em aramaico. Homens em posições sociais
diferentes, lugares diferentes e em tempos diferentes compuseram o texto que
temos hoje em mãos, e para que haja uma correta interpretação desses textos é
preciso que respeitemos essas observações. O cristão cuidadoso vai ler o texto
sagrado estudando o contexto em que a Escritura foi produzida.
1. Privilegiando o texto primeiramente
na sua literalidade.
Crentes pentecostais valorizam a literalidade do
texto. Se Jesus disse que em seu nome expulsaríamos demônios, pentecostais não
discutem se é possível ou não a libertação de pessoas possessas por espíritos
imundos em nossos dias. Simplesmente oram e, crendo nas palavras de Jesus,
expulsam demônios. Se Jesus disse que em seu nome seus discípulos falariam em
novas línguas, pentecostais entendem que tal evento seria cumprido por Deus (Mc
16.14-20).
É evidente que pentecostais não atribuem
literalidade a um texto que não deve ser entendido literalmente. Há textos cujo
sentido é figurado, como no caso em que Jesus disse que Ele era a porta, o
caminho, o pão do céu. Entendemos que o Senhor se valeu de elementos conhecidos
do seu tempo para comunicar verdades por meio de comparações, e que esses
elementos não são sempre literais.
O que não se pode é acreditar que. no
processo de interpretação da Bíblia, podemos mudar as regras conforme a nossa
conveniência.
2. Respeitando o contexto histórico e os
gêneros literários.
A Palavra de Deus teve sua escrita encerrada há pouco
menos de dois mil anos. Portanto, há um hiato de tempo entre nós e os
acontecimentos descritos na Bíblia que deve ser observado na leitura e
interpretação do texto, pois não se pode esquecer que o tempo, os costumes, a
forma como viviam os homens e mulheres daquela época eram diferentes dos
nossos.
Na Bíblia há textos históricos que registram acontecimentos dentro e
fora de Israel, para que fossem conhecidos pelas gerações seguintes (Dt
6.20,21).
Há, na Bíblia, poesia descrita com sensibilidade por pessoas que
registraram suas emoções com alegria, tristeza, desapontamento e contentamento,
mas também confiança em Deus (Sl 42.10,11).
Há textos proféticos nos quais Deus
usa seus servos para declarar o que ocorrerá no futuro e advertir seu próprio
povo a que viva uma vida justa o honre ao Senhor com uma adoração genuína e
respeite seus irmãos (Mq 6.8).
A Bíblia traz cartas dos apóstolos a pessoas e a
igrejas, tendo em vista que os leitores, que agora professavam uma nova fé,
precisavam ser instruídos sobre como poderiam viver neste mundo. Esses detalhes
precisam ser respeitados no momento da leitura da Bíblia, ou faremos
interpretações equivocadas da revelação divina.
3. Entendendo que a Bíblia é a Palavra
de Deus.
Crentes pentecostais consideram a Bíblia como a Palavra de Deus.
Isso implica reconhecer igualmente que a chamada revelação escriturística se
completou com o encerramento do Cânon, e que qualquer outra revelação trazida
por meio intelectual ou por dons espirituais precisa se curvar à revelação
inspirada por Deus em sua Palavra. Cremos que Deus, para a edificação da
Igreja, concede dons espirituais que podem trazer, eventualmente, novas
diretrizes a grupos ou pessoas, mas nenhuma revelação trazida em nossos dias,
seja por profecia, seja pela palavra do conhecimento, pode ser entendida como
sendo da parte de Deus se estiver contrária ao que o Senhor já declarou em sua
Palavra.
1. A ação do Espírito Santo na Igreja.
O
livro de Atos recebe esse nome por ser o registro dos feitos dos apóstolos após
a ascensão de Jesus, mas acima de tudo, é o registro dos atos do Espírito Santo
na Igreja e por meio dela. Lucas não apenas se preocupa em registrar o
crescimento da Igreja, mas também a forma com que Deus agia para que a mensagem
do Evangelho transformasse pessoas e fizesse crescera Igreja (At 2.47b).
2. A interpretação de Pedro.
Por
ocasião da descida do Espírito Santo no cenáculo, com o sinal de falar outras
línguas que transmitiam as grandezas de Deus, o apóstolo Pedro não hesitou em
atribuir o fato à profecia de Joel, de que o Espírito de Deus seria derramado
em toda a carne. É curioso o fato de que haja crentes em nossos dias que não
veem problema na forma como Pedro aplicou a passagem de Joel ao que havia acontecido
no Dia de Pentecostes, mas rejeitam que esse derramamento do Espírito de Deus é
para os nossos dias. Se examinarmos bem as Escrituras, veremos que tanto Jesus
quanto os discípulos conheciam a Palavra e a interpretavam de forma correta.
3. Atos é descritivo ou prescritivo?
Essa
é uma questão que precisa ser entendida, a fim de que olhemos o livro de Atos
como mais do que um livro de história. Quando dizemos que o livro de Atos é
meramente uma descrição do que se passou nos primeiros 35 anos da Igreja,
queremos dizer que a sua narrativa serve somente de registro histórico, e que
não tem a intenção de indicar que os eventos iniciados pelo Espírito Santo
devem se repetir em nossos dias. De acordo com essa possibilidade de
interpretação, as línguas, as curas, as operações de milagres, revelações e
outras ocorrências não deveriam ser correntes na Igreja de nossos dias, pois o
livro de Atos tem caráter meramente descritivo. Mas se o livro de Atos tiver o
caráter descritivo e prescritivo, então podemos crer que as experiências
relatadas por Lucas podem se repetir em nossos dias e o Espírito de Deus é o
responsável por milagres, curas e manifestação dos dons operados tanto na
Igreja quanto no ministério pessoal.
CONCLUSÃO
Ler e interpretar corretamente a Palavra
de Deus é um requisito necessário para que todo cristão cresça na vida
espiritual e pessoal. Pentecostais leem as Sagradas Escrituras com zelo e
esclarecimento, de maneira que busquem sempre a interpretação correta do texto
sagrado. Esse cuidado se dá pela certeza de que a correta interpretação do
texto gerará a correta aplicação, e esta redundará na vivência debaixo da
vontade e da bênção de Deus.
Fonte: Lições Bíblicas Jovens - 4º Trimestre de 2018 - Título: O vento sopra onde quer – O ensino bíblico do Espírito Santo e sua operação na vida da Igreja – Comentarista: Alexandre Coelho
Fonte: Lições Bíblicas Jovens - 4º Trimestre de 2018 - Título: O vento sopra onde quer – O ensino bíblico do Espírito Santo e sua operação na vida da Igreja – Comentarista: Alexandre Coelho
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