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domingo, 18 de novembro de 2018

Perdoamos porque fomos perdoados

“Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas” Mt 18.35

Perdoamos porque fomos perdoados

Há uma ilustração muito correta em relação à vida de quem não perdoa. É semelhante ao condenado, na época do império romano, que numa forma de cumprir a pena capital, tinha preso ao seu corpo um cadáver. Ali, juntamente com o cadáver, o condenado apodrecia ainda em vida. A imagem é forte, mas o efeito sobre quem não perdoa é o mesmo. Essa pessoa acorda de manhã, toma café, almoça, faz o lanche da tarde, a ceia e dorme com o “cadáver” do algoz preso à mente e ao coração. Entretanto, quando ocorre o perdão essa pessoa se liberta do “cadáver” de seu algoz e é livre para sempre. Para mostrar a beleza do perdão que a lição desta semana está assim estruturada: (1) Interpretando a Parábola do Credor Incompreensível; (2) Em Cristo, Deus pagou nossas dívidas; (3) Uma vez perdoados, agora perdoamos.

A ideia básica da presente parábola é mostrar o perdão de Deus e a consciência de que todos os homens devem perdoar uns aos outros. Ora, por que perdoar? Porque fomos perdoados por Deus. A conclusão é simples: se Deus nos tratasse conforme tratamos o outro que nos ofendeu, estaríamos todos perdidos. Mas Ele “nos vivificou estando nós ainda mortos em delitos e pecados”. Quão maravilhoso foi o amor de Deus pelo ser humano!

Nossa dívida era impagável. Mas Cristo a pagou por nós. Logo, a ética do Reino de Deus é pautada pela virtude de tratarmos uns aos outros sob a mesma régua que Cristo nos tratou. Quando merecíamos a condenação, Ele nos absolveu.

Perdoar é uma virtude do céu. Não é humana. Dar mais uma chance ao ser humano é a prova de que o Reino de Deus está operando em nós. Não dizemos que gerar perdão é fácil, pois se o fosse nosso Senhor não gastaria tempo ensinado essa virtude aos seus discípulos, mas perdoar é celestial. É atingir, sem dúvida, o céu aqui na Terra. Quem perdoa não pensa com categoria humana, não se deixa levar segundo os sentimentos humanos, mas segundo as virtudes do Reino de Deus. E só pode fazer isso quem está imerso no Espírito, nasceu para uma nova vida e é uma nova criação de Deus.

Vivemos tempos em que essa virtude nunca foi tão necessária. Precisamos lembrar aos nossos alunos que, hoje, seremos perdoados por Deus na medida em que perdoamos os nossos ofensores. Como diz mais uma vez a oração do Pai Nosso, “perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos os nossos devedores”. Podemos orar assim quando estamos a sós com Deus?

Assim como Deus nos perdoa graciosamente, precisamos perdoar aqueles que nos ofendem.

Leitura Bíblica - Mateus 18.21-35

O perdão, além de ser uma necessidade e uma atitude cristã, é igualmente um bálsamo para os envolvidos em algum litígio, mas, sobretudo para quem perdoa. Ensinado pelo Senhor Jesus Cristo, atualmente, até mesmo a psicologia e a psiquiatria reconhecem os benefícios do ato de perdoar. Em sua classe provavelmente haverá pessoas em uma situação em que há necessidade do perdão, seja precisando ou devendo perdoar. Quem sabe até mesmo você esteja enfrentando um problema nesse aspecto, seja para perdoar ou para pedir perdão a alguém. Aproveite o momento da aula para promover esse clima de autoavaliação, levando todos a refletir sobre a importância de perdoar, pois, afinal também fomos perdoados.

INTRODUÇÃO

Essa parábola é uma daquelas que trata do relacionamento entre os discípulos de Cristo, ou seja, como estes devem se comportar no âmbito do Reino. Apesar de nossas Bíblias a intitularem de a “parábola do credor incompassivo”, o que ela ensina, de fato, é a forma de lidar com a ofensa e com o perdão. Ela mostra a graça e, ao mesmo tempo, a responsabilidade. Se, por um lado, Deus nos perdoa por intermédio de sua infinita graça, por outro, temos a responsabilidade de perdoar aqueles que nos ofendem. Há quem julgue ser esta uma das parábolas menos complexas entre as que foram pronunciadas por Cristo. Ela acaba sendo contada por Jesus por causa de uma pergunta de Pedro a respeito de quantas vezes devemos perdoar nosso irmão, e termina dizendo como nosso Pai celestial fará conosco, ou seja, uma vez que fomos perdoados, devemos da mesma forma perdoar todos aqueles que nos ofendem.


I. INTERPRETANDO A PARÁBOLA DO CREDOR INCOMPREENSIVO

1. A nova vida no Reino de Deus.

O capítulo 18 de Mateus traz os ensinos de Jesus sobre a conduta dos seus discípulos como membros da nova comunidade trazida à existência por intermédio do recebimento de sua mensagem, os discípulos do Reino de Deus. O Reino possui valores essencialmente diferentes daqueles que caracterizam as instituições terrenas e as organizações desse mundo. Lembre-se de que nesse reino os humildes são os verdadeiramente grandes (Mt 18.1-4). No Reino de Deus, o “inferior” e mais “apagado” súdito leal ao seu Rei possui valor imensurável. A suprema ofensa na comunidade do Reino é quando os mais fortes e dominadores tornam a caminhada de fé dos irmãos mais fracos e mais sensíveis, difícil (Mt 18.6,7). De igual modo, mostrar desprezo pelos irmãos em Cristo é algo inaceitável (18.10). Com o objetivo de solidificar ainda mais o ensino desse Reino, Jesus fala sobre o perdão, e Pedro, admirado, faz a pergunta e o Senhor então conta a parábola (vv.15-35). Ao longo da história da igreja, os intérpretes não alegorizaram tanto esta parábola quanto o fizeram com as outras. A mensagem que a parábola quer transmitir é unicamente o perdão de Deus e a obrigatoriedade que os homens têm em perdoar em função de Deus já tê-los perdoado. Para finalizar, ela adverte a respeito do juízo divino sobre aqueles que se negam a fazê-lo.

2. Perdão ilimitado.

Pedro parece ter se incomodado a respeito do que Jesus havia ensinado acerca do perdão no âmbito do Reino (18.15-20). A pergunta do apóstolo parece simples, mas traz um pano de fundo judaico. Pedro quer saber quantas vezes deve perdoar o irmão ofensor. Talvez tenha se sentido generoso ao sugerir: “Até sete?” (v.21). Na tradição rabínica, não se exigia que alguém perdoasse mais do que três vezes. A resposta do Mestre certamente perturbou a Pedro. Porém, é preciso lembrar-se de que Jesus está se valendo de uma hipérbole, ou seja, não devemos entender tal “número” num sentido matemático preciso. Jesus ensina a perdoar quantas vezes forem necessárias, mas isso também deve ser feito de coração, isto é, devemos perdoar com liberalidade e sinceridade.

3. Uma dívida impagável.

Os servos de um rei eram oficiais de alta posição a serviço do imperador. Alguns deles, muitas vezes, em determinadas ocasiões emprestavam grandes somas de dinheiro do tesouro imperial. Nesta parábola, a quantia mencionada por Jesus é, mais uma vez, deliberadamente dada com exagero. É uma hipérbole que visa tornar mais nítido o contraste com a segunda dívida — “cem dinheiros”. É difícil achar um equivalente no sistema monetário moderno, mas o Comentário Bíblico Beacon compara um talento com cerca de “mil dólares americanos”, sendo que “dez mil talentos” (v.24), segundo o mesmo comentário, equivalem ao valor de “dez milhões de dólares”. Trata-se de uma dívida impagável. O que Cristo quer ensinar é a completa falta de esperança de pagarmos o incomensurável débito que geramos por causa dos nossos pecados, até que eles fossem perdoados gratuitamente por Deus, por intermédio da morte do Filho de Deus na cruz do Calvário (Cl 4.13,14).

4. A recusa em perdoar.

Ao voltar-se para o segundo quadro da parábola, Jesus diz que um homem, conservo com aquele cujo débito era impagável, devia “cem dinheiros” ao servo cuja dívida exorbitante junto ao rei fora perdoada (v.27). “Cem dinheiros” ou “cem denários” era uma moeda romana. Mais uma vez o Comentário Bíblico Beacon faz uma atualização dizendo que o valor equivalia a cerca de “vinte dólares americanos”, ou seja, “uma soma insignificante comparada àquela que o oficial da corte devia ao rei”. Contudo, aquele que teve sua dívida perdoada agora resolve ser absolutamente incompreensivo. Recusa-se a dar um prazo para que o homem pudesse quitar a dívida e ainda mandou que o seu servo fosse lançado na prisão (vv.28-30). Os demais servos, ao sentirem-se revoltados pela atitude injusta do credor incompreensivo, levaram o assunto até o conhecimento do rei (v.31). O credor acaba então recebendo o castigo que merece (vv.32-34). Jesus termina com a advertência de que Deus fará o mesmo quando não perdoarmos cada um de nossos irmãos que nos ofendem (v.35).

SUBSÍDIO EXEGÉTICO
“A chamada de Jesus ao perdão imediato é a ocasião para esta parábola. Mateus une fortemente as duas passagens com as palavras ‘por isso’ (dia touto, tradução literal). Jesus começa dando um exemplo de perdão extravagante. O fato de um servo (provavelmente ministro da corte) dever dez mil talentos é incrível; Jesus exagera a soma astronômica para causar efeito. Um talento era alta denominação de dinheiro, equivalente de seis a dez dinheiros ou denários (um denário era o salário mínimo de um operário pelo trabalho de um dia). Em termos do dinheiro de hoje, seria uma dívida na casa dos bilhões de dólares. O servo nunca viveria o suficiente para acumular ou fraudar tal quantia. É situação tão desesperadora, que ele e sua família terão de ser vendidos como escravos (v.25), mas até isso apenas faria cócegas na importância devida. Responder como o homem pagaria está além da função da parábola” (SHELTON, James B. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal. 1ª Edição. RJ; CPAD, 2003, p.108).

II. EM CRISTO, DEUS PAGOU AS NOSSAS DÍVIDAS

1. Nossa dívida impagável.

A Palavra de Deus deixa claro que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23) e, do mesmo modo, ela ensina que todos somos pecadores (Rm 3.23). É bom lembrarmos que até mesmo nós, os que servimos a Cristo, outrora éramos mortos em delitos e pecados (Ef 2.1). É justamente por causa de nossos delitos e pecados que contraímos uma dívida impagável. Assim como aquele servo que devia dez mil talentos, nós não poderíamos pagar nossa dívida para com Deus. Essa dívida exigia um sacrifício de sangue, pois sem derramamento de sangue não há remissão de pecados (Hb 9.22). A única forma de pagarmos nossa dívida seria com o derramamento de sangue e, isso, exigiria a nossa própria vida. Portanto, nossa dívida para com Deus é impagável.

2. Deus pagou as nossas dívidas.

O próprio Deus, que poderia ser o nosso credor eterno, providenciou uma forma para que pudéssemos “pagar” a nossa dívida. Ele enviou seu Filho na plenitude dos tempos (Gl 4.4), para que todo aquele que confessar o Nome do unigênito Filho de Deus não pereça, não morra, ou seja, não tenha de receber a justa retribuição pela imensa dívida do pecado (Gl 4.5). Ao morrer em nosso lugar na cruz do calvário, Cristo verteu o sangue necessário para a remissão de nossos pecados. Ali na cruz “havendo riscado a cédula que era contra nós”, Deus em Cristo pagou as nossas dívidas.

3. Nada pode nos condenar.

Porque Deus, em Cristo, pagou as nossas dívidas, estamos livres da condenação do pecado. É a Bíblia que nos assegura que “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” (Rm 8.1). No versículo seguinte, Paulo explica que, em Cristo Jesus, o Espírito de vida, “me livrou da lei do pecado e da morte”. Assim, porque a misericórdia é uma marca do ensino e do ministério do Senhor Jesus, podemos dizer que agora somos livres da condenação por tal grande misericórdia de Deus (Lm 3.22,23).


III. UMA VEZ PERDOADOS, AGORA PERDOAMOS

1. Não endureça o coração.

Se a misericórdia é uma marca do ministério de Cristo, deve ser também uma marca de seus seguidores. Por isso, no Sermão do Monte, a misericórdia é apontada como uma das características dos discípulos do Reino (Mt 5.7). Assim, não podemos endurecer o coração para com aqueles que nos devem, uma vez que Jesus jamais agiu dessa maneira. Antes, devemos tomar cuidado, pois a ênfase no juízo será proporcional à ênfase na misericórdia (Tg 2.13).

2. Devemos agir com misericórdia.

O Reino de Deus não pode estar presente na vida da Igreja quando o mal não é combatido (Ef 5.11). A parábola, precedida pela pergunta de Pedro, ressalta a importância do exercício do perdão. Se Deus nos perdoou quando ainda éramos pecadores (Rm 5.8), não temos motivo algum para deixar de perdoar aqueles que nos ofendem. A misericórdia deve ser uma constante em nossas vidas. Devemos agir com todos de forma misericordiosa, fazendo com que isso predomine em nosso caráter como novas criaturas (2Co 5.17).

3. Devemos dar o presente que recebemos.

Sabemos que todos os autênticos discípulos de Cristo receberam abundante perdão, graça e infinita misericórdia. E isso é um dom de Deus (Ef 2.4-8). É um presente do Pai para nós, que merecíamos a morte. Da mesma forma que recebemos tudo isso como presente de Deus, devemos presentearas pessoas com misericórdia e perdão (1Jo 3.16).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Jesus de Nazaré, argumenta Hannah Arendt, foi ‘o descobridor do papel do perdão no reino dos assuntos humanos’. Pode ser muito afirmar que Jesus descobriu o papel do perdão social, visto que os profetas e sábios antes dEle também estavam cientes deste fenômeno, mas Ele claramente transformou o seu significado e significação de um modo que causou um efeito profundo na história humana. ‘Se examinarmos os livros do Novo Testamento em ordem aproximadamente cronológica, mais uma vez identificaremos uma trajetória que nos leva a pensar no perdão de um modo que transcende as metáforas puramente legais ou financeiras. Marcos, o mais antigo dos Evangelhos, claramente liga a chegada de Jesus com a previsão dos profetas hebreus referente à promessa de perdão e à vinda do Messias. Diferente das introduções mais longas dos outros Evangelhos, Marcos cita os profetas e em seguida declara que João Batista ‘apareceu’ e proclamou um batismo de arrependimento para (ou em voltado para) o perdão dos pecados (Mc 1.4)” (SANDAGE, Steve J.; SHULTS, F. Leron. Faces do Perdão. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2011, pp.137,138).


O valor de um talento
“Um ‘talento’ é uma medida de peso em ouro, prata ou cobre. Ele variava, mas oscilava entre 27 e 41 Kg. Dez mil talentos não seriam menos do que 270 toneladas de metal. Dependendo do tipo de metal utilizado, um talento era equivalente a cerca de 6.000 denários e, à base de um denário por dia (cf. Mt 20.2), um trabalhador precisaria de 164.000 anos para quitar a dívida!”. Compreendendo todas as Parábolas de Jesus, CPAD, p.112.

CONCLUSÃO

A parábola que estudamos, nesta lição, evita qualquer abuso ou presunção da graça que recebemos de Deus. Alguns, às vezes, querem apresentar um tipo de “graça” que não precisa ser levada muito a sério. Contudo, a Bíblia ensina a respeito de uma graça que é transformadora. Se você foi transformado por essa graça, conseguirá perdoar assim como foi e é perdoado por Deus, em Cristo Jesus.

Fonte:
Lições Bíblicas 4º Trim.2018 - As Parábolas de Jesus - As verdades e princípios divinos para uma vida abundante - Comentarista: Wagner Tadeu dos Santos Gaby

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