Os Pães da proposição
Como o candelabro tinha uma simbologia diretamente aplicada ao Israel de Deus do Antigo Testamento, “os Pães da Proposição” tem uma simbologia aplicada mais tarde diretamente ao nosso Senhor. Sim, o nosso Senhor é o Pão da Vida descido dos céu para saciar o pecador faminto. Só Cristo pode saciar plenamente o ser humano que vive em busca de um significado para vida.
Os Pães da Proposição
No Antigo Testamento a simbologia dos Pães da Proposição refletia a presença providencial de Deus para o seu povo. Uma presença que substituía qualquer meio material para trazer-lhe alguma solução, pois, assim, o povo de Israel aprenderia que “nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4). Sim, os pães da proposição mostravam que a presença de Deus no meio do seu povo era suficiente, providencial e definitiva.
A Palavra de Deus, o Pão da vida
“E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram, para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem”, é o que diz a Palavra de Deus (Dt 8.3). Mais do que o pão material, o pão espiritual é que sustentaria o povo no deserto. O pão espiritual é a Lei de Deus. Ora, não adiantava o povo de Israel alimentar-se bem da comida material, mas não comer o pão espiritual, isto é, guardar a Lei do Senhor e amá-la de todo coração. Sem o pão espiritual, a nação morreria.
O problema mais grave é quando o ser humano confia somente em seu braço material, na suficiência do dinheiro, ou na beleza dos bens. É quando a visão cega, o coração esfria e a alma morre sem a presença do Altíssimo. Portanto, a verdadeira vida está na Palavra de Deus! O sustento diário está na Palavra de Deus! O sustento específico está na Palavra de Deus!
Jesus Cristo, o Pão que desceu do céu
Toda a beleza da Palavra de Deus, o provimento da Lei do Senhor e a essência do Verbo que vem do Criador estão plenamente revelados em Cristo Jesus, o Pão Vivo que desceu do céu. É o pão da vida que foi partido por nós, para nos trazer salvação e vida eterna (Lc 22.14-23). Jesus Cristo é a síntese de toda providência divina para dar sentido à alma do ser humano e prover-lhe salvação e vida eterna.
Quando o homem “come” desse pão, ele sacia a alma e a fome espiritual para sempre. E compreende definitivamente que não só de pão o ser humano vive, mas de toda Palavra de Deus.
A Palavra de Deus é o alimento que nos sustenta a alma, o coração e o próprio corpo; sem ela, a vida é impossível.
Leitura Bíblica em classe - Levítico 24.5-9
Antes de iniciar este capítulo, fui à internet para ver alguns quadros que tivessem como motivo o pão, o alimento por excelência. E, ali, entre gravuras de todos os tempos e lugares, reparei que o pão combina com todas as mesas e harmoniza-se com todas as iguarias. Quer numa cozinha ocidental, quer numa oriental, faz-se ele presente. Aqui, tem um formato cilíndrico; ali, uma forma cúbica; mais além, uma silhueta abaulada como os gostosos pães italianos.
Nas Sagradas Escrituras, o pão é apresentado não apenas como alimento, mas também como liturgia e comunhão. No Tabernáculo Santo, servia para honrar e enaltecer o Senhor. Já na Igreja Cristã, é utilizado como símbolo do corpo do Filho de Deus, que, no Calvário, deixou-se partir vicariamente por mim e por você, querido leitor.
Estudaremos, neste capítulo, os pães da proposição. Conhecidos ainda como os pães da apresentação, encerram eles, quando dispostos no Lugar Sagrado, uma teologia lindamente remidora; soteriologia eterna. Depois, veremos a sua tipologia em relação a Jesus Cristo, que, num pronunciamento carregado de significados redentores, declarou-se como o Pão que desceu do Céu.
UMA BREVE HISTÓRIA DO PÃO
Nas linhas a seguir, esboçaremos rapidamente a história do pão que,conforme já dissemos, é o mais universal dos alimentos. Nos mais diversos formatos e nos mais variados sabores, é encontrado em todas as sociedades. Feito de trigo, de cevada ou de milho, o pão orna a mesa do rico e não deixa de embelezar a mesa do pobre. Comecemos por estudar essa palavra tão abençoada.
1. A origem da palavra “pão”.
A palavra “pão”, em português, origina-se do substantivo latino panis que, por seu turno, provém de um termo antiquíssimo: pa, que significa nutrição. Para os romanos, acostumados ao amanho do trigo, o pão é aquilo que nutre o homem. Acredito que, desse conceito, ninguém discorda. Hoje mesmo, antes de assentar-me a escrever, precisei alimentar-me com uma gostosa fatia de pão integral. A partir daí, ganhei forças e disposição para dar sequência a este trabalho. Senhor, ajuda-me.
2. A origem do pão.
A história tem o Egito como a primeira padaria do mundo. Ali, às margens do Nilo, onde a fertilidade já era proverbial há cinco mil anos, os trigais espalhavam-se do Alto ao Baixo Egito. E, muito cedo, o egípcio veio a descobrir que o grão do trigo, se esfarinhado, levedado e levado ao forno, transforma-se num alimento nutritivo e delicioso.
No Egito, havia mais de trinta variedades de pães. Ovais, cônicos ou triangulares, eram tidos como a iguaria predileta dos deuses. Conta-se que o Faraó Ramsés III (1194 – 1163 a.C.) teria ofertado aos ídolos mais de duzentos mil pães.
Os padeiros tornaram-se tão requisitados no Egito, que não demoraram a organizar suas guildas e aquilo que, modernamente, chamamos de sindicato. Eram orgulhos de seu ofício; exigentes ao extremo. Às vezes, insuportáveis. Não foi sem motivo que o Faraó, nos dias de José, filho de Jacó, mandou executar o seu padeiro-mor. Antes de avançarmos, neste tópico, ressalvamos que há uma leve controvérsia quanto à origem do pão. Para alguns historiadores, este alimento teria surgido não no vale do Nilo, mas no vale entre os rios Tigre e Eufrates. Mas, se perguntarmos a um chinês acerca da proveniência do pão, é bem provável que ele nos responda que este não proveio nem do Egito, nem da Mesopotâmia, mas apareceu no vale do rio Huang He. Não obstante as controvérsias acadêmicas, o certo é que o pão aí está, em nossas mesas, todos os dias. Obrigado, Senhor.
3. O pão em Israel.
Antes mesmo de os israelitas descerem ao Egito, precedidos por José e liderados por Jacó, o pão já fazia parte da dieta hebreia. A primeira referência que aparece, na Bíblia, acerca do pão é feita pelo próprio Deus ao disciplinar Adão: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.19, ARA). Até aquele momento, o homem não havia precisado amanhar a terra para arrancar dela o seu sustento; vivia da coleta exuberante do Éden. No entanto, a partir do juízo divino, teria ele de trabalhar arduamente, a fim de prover o seu pão diário.
Teria Deus se referido indiretamente ao trigo ao mencionar o pão? Vejamos o significado dessa palavra no idioma original do Antigo Testamento. A palavra hebraica lechem significa, além de pão, alimento, refeição, comida, mantimento e, também, pão sagrado ou da proposição.
Quer direta, quer indiretamente, o Senhor alertava Adão de que, a partir de agora, teria ele de processar arduamente o seu sustento diário. E, nessa proposição, temos bem presente a palavra de Paulo aos irmãos de Tessalônica. Aos desocupados daquela congregação, afirmou energicamente o apóstolo: “Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2 Ts 3.10, ARA).
Sem trabalho não há pão; a agricultura é a base da riqueza das nações.
Acostumados a uma dieta rica e variada, os hebreus, já no final de sua estadia no Egito (cativeiro escancarado), tiveram de adaptar-se a um cardápio pobre e ralo; subsistência amarga. Nas panelas que lhes dava Faraó, havia carne e peixe; pão não havia. É o que inferimos deste lamento proferido numa das apostasias de Israel no Sinai: “Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos” (Nm 11.5).
Por que o rei do Egito não lhes dava pão? Alimento destinado à comunhão social egípcia e à liturgia dos templos faraônicos, o pão jamais poderia, no imaginário egípcio, ser destinado a uma sociedade abominável e servil como a hebreia. Então, que o trigo do Nilo fosse trazido a Rá-Atum, a Hathor e a Osíris. Quanto aos filhos de Israel, que se contentassem com o refugo da mesa de seus amos.
De acordo com nossos padrões nutricionais, a dieta descrita no murmúrio hebreu parece rica. Mas, se numa mesa israelita faltasse o pão, nenhuma refeição estaria completa.
Libertos do cativeiro, os israelitas puderam retornar à sua dieta. Como não havia trigo para alimentar toda a multidão que atravessara o mar Vermelho, os levitas houveram por bem reservar o trigo, que ainda tinham e que de alguma maneira produziam, ao uso litúrgico. Para que o povo não viesse a desnutrir-se, proveu-lhes o Senhor o maná; pão dos anjos comungado aos homens.
4. O pão na Grécia.
O trigo começou a ser processado como pão, na Grécia, quando as várias famílias helenas, chegadas do Leste, por volta do século XII a.C, instalaram-se naquelas paragens, que, ainda hoje, são acariciadas pelos ventos elísios. Para aquela gente de terra pobre e mente rica, os cereais eram considerados um dom dos deuses. Ou, mais propriamente, de uma deusa que, embora gentil e prestativa, era malcomportada e vingativa. Filha de Cronos e de Reia, Deméter saiu pelo mundo, na companhia de Dionísio, a ensinar os homens a plantar e a colher. Por isso, reverenciavam-na como a divindade responsável pela agricultura. Em Roma, ela receberia outro nome: Ceres; daí a palavra cereal. Por que os egípcios, gregos e romanos atribuíam o seu sustento a deuses nulos e inúteis, e não ao Todo-Poderoso? Que eles não ignoravam a existência de Deus, todos o sabemos. Pelo menos os gregos, conforme a narrativa lucana, haviam consagrado um altar ao Deus Desconhecido. Mas, tendo eles os moradores de Heliópolis (morada dos deuses egípcios) e do monte Olimpo (albergue das divindades gregas) como mais acessíveis, pois eram estes tão dissolutos e imorais quanto aqueles, ignoravam os benefícios que, diariamente, recebiam do Senhor.
Em seu discurso em Listra, o apóstolo Paulo, depois de ser confundido com o deus Mercúrio, deixou bem patente aos moradores daquela antiga cidade da Licaônia, que a subsistência de todos os seres humanos depende unicamente do Deus Único e Verdadeiro, e não dos ídolos que, a bem da verdade, não passam de coisas bizarras e grotescas:
Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles; o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria. (At 14.15,16, ARA)
Dizendo isto, relata ainda Lucas, “foi ainda com dificuldade que impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios”. Que provação para Barnabé e Paulo. Como tinham suficiente maturidade, não se deixaram enredar pelo marketing do Diabo. Em seu discurso, o apóstolo elaborou, rápida e profundamente, o que podemos chamar de teologia do pão.
II. A TEOLOGIA DO PÃO: A DOUTRINA QUE NUTRE
Talvez, você, querido leitor, esteja dizendo que o autor destas linhas vê teologia em todas as coisas. Você não está errado. Na verdade, vejo não apenas teologia em tudo, mas em tudo vejo o próprio Deus. Por esse motivo, teologizo sempre. Nesse verbo intransitivo e, às vezes, tão mal conjugado, diviso a solução para todos os problemas humanos. Não agiam assim os profetas e apóstolos? Então, que reflitamos sobre a teologia do pão.
1. Terceiro dia; a semente do pão.
No livro de Gênesis, observo que o reino vegetal teve início no terceiro dia da criação. Narra o autor sagrado:
Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez. À porção seca chamou Deus Terra e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus que isso era bom. E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez. A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom. Houve tarde e manhã, o terceiro dia. (Gn 1.9-13, ARA)
Lavrador de excelência, o Senhor da vinha preparou o terreno, amanhou a terra e, só então, lançou a sementeira, abundante e pródiga, sobre a terra. Entre as plantas que não demorariam a brotar, estava o trigo. Daquela sementinha, agora inumada, brotaria uma planta que os homens cientificamente alcunharam, alguns milênios depois, de Triticum Aestivum.
Acredito que, dentre todos os cereais, o trigo é o mais belo de todos. Como descrever seu caule ereto, suas folhas planas, suas espigas densas e suas cariopses intumescidas e gentilmente tenras? Ante um trigal, tem-se a impressão de estar à beira de um campo polvilhado de ouro.
Dessa beleza toda, porém, sai o grão que, triturado e moído, alimentará milhões de pessoas todos os dias. Se Deus fez o trigo, como não o agradecer pela subsistência?
2. Ações de graças pelo pão.
Na Oração Dominical, o Senhor Jesus colocou uma petição nos lábios de seus discípulos, que jamais deveria abandonar-nos a boca. Em menos de dez palavras, aprendemos a garantir a nossa subsistência até que, da terra dos viventes, sejamos tirados: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11). Aqui, nessa oração tão singela e despretensiosa, despojada de ativismos sociais e reivindicações políticas, acha-se o equilíbrio e o segredo à paz mundial.
Se os governantes todos, ao invés de terçarem armas, dirigissem clamores e rogos a Deus, implorando-lhe pelo sustento de seus povos, não haveria necessidade de conflitos ou guerras. Todos os confrontos haveriam de ser substituídos por orações, preces e lágrimas. Quanto aos apetrechos bélicos, seriam transformados em implementos agrícolas, conforme profetiza Isaías ao antever o reinado de Jesus Cristo, no Milênio:
“Ele julgará entre os povos e corrigirá muitas nações; estas converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra” (Is 2.4, ARA).
Mas, para que isso ocorra, é urgente que todos nos voltemos aos exemplos de petição e gratidão deixados pelo Filho de Deus, durante a sua missão na Terra de Israel. Se no início de seu ministério, Ele ensinou os discípulos a implorar ao Pai pela manutenção diária, no encerramento de seu ofício terreno, levou-os a aprender a beleza do agradecimento.
Na celebração da última Páscoa, e já na comemoração da primeira Santa Ceia, deixou-nos o maior exemplo de gratidão, conforme registra Paulo. Embora não haja presenciado a instituição da segunda ordenança, o apóstolo considerou as palavras do Filho de Deus mais do que um sacramento; era uma rememoração profética, cujo cumprimento ansiosamente aguardamos:
“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (1 Co 11.23,24, ARA).
Do que já estudamos, concluímos: na teologia do pão, há três grandes proposições: petição, ações de graças e liturgia. Quem diariamente nos sustenta é Deus; a Ele, nossas petições. Se Ele é o nosso sustento, apresentemos-lhe, em cada cotidiano, reconhecimentos e gratidões. Então, o que já vislumbramos? Uma liturgia em torno do pão nosso de cada dia.
3. A liturgia do pão.
A primeira ação litúrgica envolvendo o pão deu-se no encontro de Abraão com Melquisedeque. Em Salém, como já vimos, o rei da então Cidade Santa trouxe ao patriarca hebreu pão e vinho. E, ali, num momento em que convergiam o Antigo e o Novo Testamento, ambos celebraram, perspectivamente, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo (Gn 14.18-20).
Abraão participaria ainda de outra refeição profética e memorial. Agora, com o próprio Deus. Ao ver o Senhor, teofanicamente manifestado, o patriarca dispôs-se de imediato a preparar-lhe uma refeição que, generosa e farta, aprofundaria a comunhão entre ambos. Disse-lhe Abraão, agradecendo-o já por todas as promissões:
“Senhor meu, se acho mercê em tua presença, rogo-te que não passes do teu servo; traga-se um pouco de água, lavai os pés e repousai debaixo desta árvore; trarei um bocado de pão; refazei as vossas forças, visto que chegastes até vosso servo; depois, seguireis avante” (Gn 18.35, ARA).
Dessa forma, o patriarca consagrou ao Senhor, naquele dia já tão memorável, e sob os carvalhais de Manre, o primeiro pão da apresentação. As árvores, servindo-lhe de Tabernáculo, e a terra na qual pisava, erigindo-se-lhe como mesa, tinha Abraão um santuário perfeito para adorar a Deus. Aquele pão, assado ao borralho, fez-se presença e santa proposição naquele instante; prenúncio da adoração levítica.
III. OS PÃES DA APRESENTAÇÃO
Para que os pães da proposição fossem introduzidos no Tabernáculo, Deus ordenou o fabrico de uma mesa especial. Quanto aos pães, deveriam estes ser preparados de acordo com uma receita bastante específica.
1. A mesa dos pães.
A mesa que receberia os pães da proposição, feita de madeira de acácia, tinha essas medidas: dois côvados de cumprimento (90 centímetros), um côvado de largura (45 centímetros) e sua altura, um côvado e meio (70 centímetros) (Êx 25.23-30). A mesa, toda revestida de ouro fino, recebeu adornos da altura de quatro dedos, mui apropriados para conter os pães sagrados. Suas argolas serviam para transportá-la. A madeira de acácia, por ser medicinal, evitava fungos e parasitas que poderiam contaminar os pães sagrados.
2. Os pães da proposição.
Os pães da proposição eram preparados todos os sábados pelos coatitas (1 Cr 9:32). Em sua composição, usava-se a flor da farinha de trigo (Lv 24.5). Ou seja, a parte mais fina e nobre desse produto. Depois de cozido, eram postos em duas fileiras sobre a mesa, sendo entremeados por incenso (Lv 24.6,7). Doze pães, um para cada tribo de Israel.
Eis como os pães eram dispostos. O culto divino, embora repulse o formalismo, não dispensa a ordem nem a decência. Todas as coisas, tanto ontem quanto hoje, devem ser feitas para glorificar o nome de Deus. Às vezes, na tentativa de fugir ao cerimonialismo, caímos numa informalidade bizarra e afrontosa que, a seu próprio modo, não deixa de ser um cerimonialismo.
Aprendamos com os levitas como proceder no culto divino. Fugindo aos extremos, adoremos a Deus em espírito e em verdade. Até na mesa dos pães sagrados, observa-se a reverência devida ao Pai Celeste.
3. A simbologia dos pães.
Os pães da proposição simbolizavam a presença sempre providencial de Deus no meio de seu povo (Jr 32.38). Desta forma, os israelitas deveriam saber que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus (Mt 4.4). Quanto ao pão estar acompanhado de incenso, significa isso que a presença do Senhor sempre vem acompanhada pelas orações dos santos (Ap 5.8; 8.3,4).
Os pães da proposição ou da presença, representam ainda a Palavra de Deus, que, por intermédio do Evangelho, alimenta o mundo faminto (Jo 1.1).
IV. A PALAVRA DE DEUS É O PÃO DA VIDA
Para o povo de Israel, o pão é mais do que um alimento; é uma experiência cerimonial e tipológica (Gn 14. 18-20). Quer no Tabernáculo quer fora do Tabernáculo, o pão sempre simbolizou a presença de Deus entre o seu povo.
1. A Palavra de Deus é vida.
Durante a peregrinação de Israel no Sinai, os israelitas conscientizaram-se de que nem só de pão vive o homem, mas da Palavra de Deus (Dt 8.3). Durante 40 anos, Deus os sustentou com o maná, o pão que descia dos céus a cada manhã (Êx 16.31-35). A presença divina era perceptível tanto no Tabernáculo quanto no arraial. Todos sabiam que, apesar das asperezas do deserto, o Senhor jamais os abandonaria naquela árdua caminhada.
Sem a intervenção divina no cotidiano hebreu, eles jamais teriam sobrevivido às inclemências do Sinai. Os oásis, quando encontrados, não eram suficientes para saciar a sede de uma população ambulante de aproximadamente dois milhões de pessoas. Ali, longe do Egito e ainda distante de Canaã tinham de confiar, exclusivamente, na providência divina. Relata-nos a Bíblia que, apesar de uma jornada de 40 anos, foram sobrenaturalmente preservados. Os óbitos deixamo-los por conta das apostasias e desvios de uma geração que, apesar de arrancada do Egito, com mão poderosa, não pôde ou não quis, arrancar o Egito de seu coração.
2. A Palavra de Deus é o nosso sustento diário.
Além do pão, Deus proporcionava cotidianamente ao seu povo água, direção, proteção e iluminação (Êx 13,21; 15.22-27, 17.1-16). Diariamente, os israelitas eram sustentados, orientados e protegidos pelo Senhor. À semelhança de Davi, eles podiam declarar que o Senhor era o seu pastor; nada lhes faltava (Sl 23.1).
Já antes mesmo de haver completado 60 anos, deixava-me tomar por uma preocupação: “Como será o meu futuro?”. Nessas horas, porém, lembrava-me da confiança do salmista nos cuidados do Senhor. Já tomado pelas cãs, confessou que, apesar de velho, jamais viu um justo a passar necessidade, nem a sua descendência a mendigar o pão. Nessa confiança, descanso, hoje, como se tudo já estivesse resolvido; de fato, já o está. Glória a Deus.
3. A Palavra de Deus é o nosso sustento específico.
Na mesa do Tabernáculo, havia, como já vimos, doze pães distribuídos em duas fileiras, sendo um pão para tribo de Israel (Lv 24.5). Entre as fileiras de pães, o incenso (Lv 24.7). O que isso significa? Antes de tudo, que Deus alimenta o seu povo tanto coletiva, quanto individualmente. Ele conhece perfeitamente nossas necessidades (Sl 103.14; Mt 6.8). O que podemos inferir dessa lição? Deus tem uma comida personalizada para mim, para você e para cada santo em particular.
O Pai Celeste é mais do que um chefe de cozinha; é um nutricionista zeloso e consciente de nossas carências, necessidades e precisões. Por isso, administra-nos o alimento certo na hora certa. Se estamos fracos, eis-nos uma comida leve. Mas, se já fortalecidos, serve-nos uma refeição sólida como o pão que o anjo dispôs a Elias. Com a força daquela comida, o profeta caminhou quarenta dias e quarenta noites (1 Rs 19.8). Chegando a Horebe, seu ânimo ainda se renovava.
V. JESUS CRISTO, O PÃO QUE DESCEU DO CÉU
Os pães da proposição são o mais perfeito símbolo do Senhor Jesus Cristo, pois a sua missão, neste mundo, foi (e sempre será) alimentar-nos com a Palavra de Deus (Jo 1.1).
1. Jesus, o pão da vida.
O Senhor Jesus, por meio de sua palavra, revela-se como a água e o pão da vida (Jo 4.13,14; 8.32; Ap 7.17). Certa vez, Ele foi tão claro acerca de sua missão redentora, que levou alguns de seus discípulos mais chegados a escandalizarem-se com o seu discurso (Jo 6.48-60).
O Senhor Jesus, como o pão vivo, não se limitou a ficar no santuário, mas, encarnando-se, trouxe a presença do Pai Celeste a toda a humanidade (Mt 1.23; Hb 1.3).
2. Jesus, o pão de nossa comunhão com o Pai.
Jesus, como o pão vivo que desceu do céu, não precisa ser trocado todos os sábados, como os pães da proposição (Lv 24.8). Nosso Salvador, além de ser um sumo sacerdote infinitamente superior a Arão, é o pão divino; e, do próprio sábado, é Senhor (Mt 12.8; Jo 6.41; Hb 7.17-25). Aliás, Jesus Cristo é o próprio Tabernáculo de Deus. Ao encarnar-se, tornou-se semelhante a nós (Jo 1.14; Hb 9.11,12). E, com a sua morte e ressurreição, fez-nos acessível o trono da graça, no qual, hoje, entramos ousadamente (Hb 4.16).
3. Dai-lhes vós de comer. Hoje, ao proclamarmos o Evangelho, outra coisa não fazemos senão alimentar os famintos com a Palavra de Deus (Mt 28.1820; Lc 9.13). Portanto, evangelizemos e façamos missões enquanto há tempo. A fome espiritual nunca foi tão acentuada como nos dias de hoje (Am 8.11,12).
A um mundo faminto e desesperançado, ofereçamos o que, de fato, pode sustentá-lo: a Palavra de Deus. Soa-nos aos ouvidos, a ordem urgente e irresistível do Mestre: “Dai-lhes vós de comer”. Se temos o Evangelho, por que retardar a evangelização de nosso bairro? Se começarmos a falar de Jesus à nossa vizinha, em breve o nosso país experimentará um grande avivamento. Não nos esqueçamos da Obra Missionária. Regiões, como o Leste da Europa e o Oriente Médio, clamam por nossa intervenção.
CONCLUSÃO
No Antigo Testamento, apenas o sumo sacerdote e seus filhos tinham direito de comer dos pães da proposição. A única exceção foi Davi e seus homens (Mc 2.26). Por intermédio de Cristo, entretanto, temos acesso não somente aos pães da proposição como também ao lugar mais santo do Tabernáculo. E, todas as vezes que nos reunimos para celebrar a Ceia do Senhor, lembramo-nos de que Jesus é a presença eterna do Pai entre nós; o pão de nossa comunhão santa (1 Co 11.23,24).
Jesus é o pão da vida. Na simbologia de sua paixão e morte, Ele, qual grão de trigo, foi triturado e moído em consequência de nossos pecados. Aliás, a etimologia da palavra “trigo” significa exatamente isto: aquilo que se tritura. Mas, ressurreto e glorificado, nosso Amado Senhor está a alimentar-nos com a sua presença. Você já orou hoje? Já leu a Bíblia Sagrada? Então, não morra de fome. Faça uma pausa: ore, mesmo em espírito. No instante seguinte, vá aos profetas e apóstolos; medite neles.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Em Levítico 24.5-9 somos instruídos com relação à fabricação do pão, tipo de farinha, quantidade, o arranjo do pão sobre a mesa, bem como quem deve comê-lo. Os pães deveriam ser feitos de farinha fina e são símbolo de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Jo 6.35). A Palavra de Deus é o Pão da Vida para nós. A cada sábado era colocado pão fresco na Mesa da Proposição, doze pães em duas pilhas organizadas contendo seis cada. Bem-aventurados são aqueles que diariamente se alimentam da Palavra. Quando se ajuntarem no Dia do Senhor, encontrarão um novo suprimento de Pão da Vida esperando por eles. O pão que se retirava da mesa seria comido por Arão e seus filhos em um lugar santo. Tomar tempo para alimentar a alma com a Palavra Viva é essencial à nossa experiência. ‘Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti’ (Sl 119.11). Muitas vezes o salmista usa a palavra ‘Selá’ para lembrar-nos de meditar na Palavra” (SPRECHER, Alvin. Tabernáculo no Deserto: O lugar do seu encontro com Deus. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2002, pp.115,116).
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade
A Paz! Estava estudando o assunto e encontrei o blog. Eu fico na dúvida: há fontes bíblicas - ainda não encontrei - ou históricas de que o povo de Israel carregou ou se proveu de grãos ou cereais durante a jornada no deserto? Seriam as ordenanças sobre os cereais - milho, por exemplo - a ser praticada após a conquista da Terra Prometida e a prática da agricultura e cultivo da terra?
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