“Então, respondeu Jesus
e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como tu
desejas. E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã” Mt 15.28
[...] 7.24 Jesus viajou
cerca de trinta milhas até o território de Tiro, e depois de Sidom (7.31).
Essas eram duas cidades portuárias localizadas no Mar Mediterrâneo e ao norte
de Israel. Ambas praticavam um intenso comércio e eram muito ricas. Além disso,
eram duas orgulhosas e históricas cidades cananeias. Na época de Davi, Tiro
mantinha boas relações com Israel (2Sm 5.11), mas logo depois a cidade
tornou-se conhecida pela sua imoralidade. Seu rei até afirmava ser Deus (Ez
28.1ss.). Toda cidade se regozijou quando Jerusalém foi destruída em 586 a.C.,
porque sem a sua concorrência o comércio e os lucros de Tiro iriam aumentar.
Provavelmente, Jesus e seus discípulos foram a esse território dos gentios
pensando que lá seriam menos conhecidos e assim poderiam ter algum tempo de
privacidade para descansar. Foram à casa de alguém (provavelmente o lar de um
judeu que vivia nesse local) e não queriam que ninguém soubesse sobre sua
chegada. Mas nem mesmo nesse território Jesus conseguiu manter sua presença em
segredo” (Comentário do Novo Testamento. Aplicação Pessoal. Volume 1. 1ª
Edição. RJ: CPAD, 2009, pp.235,236).
Além de intercessora, a
mulher cananeia era também sábia, pois respondeu o Mestre corretamente e assim
recebeu a bênção que necessitava.
O quanto estamos
dispostos a reconsiderar uma decisão e rever uma posição? Pode parecer algo sem
importância, mas se refletirmos com calma, veremos que não é tão simples.
Geralmente ficamos tranquilos quando tudo está do “nosso jeito” e as coisas
estão ao nosso favor. Mas, e quando somos contrariados ou as coisas não saem
necessariamente como gostamos? Geralmente nos revoltamos e, exasperados, não
raras vezes, falamos até daquilo que não sabemos, pois não apreciamos ser
contrariados.
Acostumados com a ideia
de que se tudo está indo bem é porque Deus está conosco, mas se algo não der
certo significa que saímos da vontade dEle, podemos errar muito. Nem sempre a
realidade funciona assim. Devemos ser suficientemente confiantes para crer que
o Senhor da história tem o melhor para as nossas vidas, ainda que os contornos
não sejam os que nós somos habituados ou conhecemos.
Texto Bíblico - Marcos
7.24-30
INTRODUÇÃO
A narrativa da presente
lição encerra, tanto no material de Marcos quanto no texto paralelo, grandes
ensinamentos (Mt 15.21-28). Contudo, o destaque neste momento inicial fica por
conta do fato de a narrativa colocar em relevo a pessoa de uma mulher. Mais precisamente
de duas, pois a mulher viera pedir por sua filha. Como anteriormente já foi
frisado, o conhecimento dos costumes sociais do Antigo Oriente indica que a
forma como Jesus tratava a mulher, naquele momento histórico, estava muito à
frente de seu tempo.
1. Jesus entra em
território pagão.
É exatamente isto que o texto quer destacar — a presença
de Jesus, ou sua investida, em terras pagãs (v.24a). Apesar de o território de
Tiro, na Fenícia, ser uma região prototípica na Bíblia, sobretudo no Antigo
Testamento e, vale a pena pontuar, no aspecto negativo (Is 23.1-12; Jr 25.22;
27.1-11; Ez 26.1-21; Jl 3.4-8; Am 1.9,10), não é efetivamente a questão
geográfica que interessa a Marcos, mas sim o aspecto demográfico, ou seja, a
proximidade do Senhor com os gentios. Mesmo o texto não afirmando que Jesus
tenha penetrado na terra de Tiro, não deixa de ser sugestivo que Ele tenha ao
menos passado pela região.
2. Jesus queria
“esconder-se”, mas não foi possível.
A intenção do Mestre em entrar em uma
casa para “esconder-se” (v.24b), não significa que Ele tenha agido de má-fé ou
mesmo sido negligente, antes indica que o Senhor, juntamente com o colégio
apostólico, buscava fazer uma pausa necessária em uma casa que, muito provavelmente,
pertencia a um judeu conhecido deles. Contudo, mesmo com toda a sua discrição e
estando fora da área em que atuava ministerialmente, não pôde manter-se
afastado do cumprimento de sua missão.
3. Uma mulher procura
Jesus.
O evangelista revela que a possibilidade de o Mestre passar
incólume, e no anonimato, não foi possível “porque uma mulher cuja filha tinha
um espírito imundo, ouvindo falar dele, foi e lançou-se aos seus pés” (v.25). A
fama de Jesus havia extrapolado a Judeia e a Galileia (Mt 4.24; Jo 12.20-22).
Isto era um fato. Não obstante, considerando o aspecto puramente histórico e a
cultura da época, a situação dessa pessoa que procurara o Senhor em nada lhe
era favorável, pois se tratava de uma mulher que, pela forma com que se
colocara diante do Mestre, estava em flagrante desespero.
1. A religião da mulher
e sua naturalidade.
Devido ao domínio grego que outrora havia prevalecido
na região, Marcos informa que a mulher era “grega”, isto é, uma legítima gentia
nos costumes incluindo a religião que não era o judaísmo, e siro-fenícia de
nação, ou seja, aqui sim o aspecto de sua naturalidade (v.26). Tal informação
vem a calhar com os propósitos e os destinatários do Evangelho de Marcos que,
como tradicionalmente tem sido defendido, são os romanos, isto é, cristãos de
origem pagã. A narrativa neste caso seria, dentro do contexto do que
anteriormente havia sido discutido (Mc 7.1-23), a demonstração concreta de que
realmente não havia diferença entre judeu e gentio, pois não é o ritual que
define a pessoa e sim o coração. Dessa forma, os ouvintes e leitores de Marcos
deveriam ficar em paz, pois eram tão alvo do amor divino quanto os judeus.
2. Um pedido
desesperado.
A despeito de a cultura grega antiga ser conhecida não apenas
por sua mitologia, mas também por causa de sua racionalidade e lógica (1Co
1.22-25), essa mulher mostrava-se desesperada diante do fato de que sua filha
estava dominada pelo demônio. De certa forma, o texto paralelo parece sugerir
que juntamente com a possessão havia também enfermidade (Mt 15.28c). Portanto,
não é de admirar que esta mulher estivesse extremamente aflita. Ela roga ao
Senhor que expulse o espírito maligno de sua filha (v.26). Tal súplica indica
que tudo que ela ouvira falar acerca do Mestre fora suficiente para
produzir-lhe a confiança de que Ele poderia libertar sua filha.
3. A curiosa resposta
do Senhor.
Jesus responde de forma, no mínimo curiosa, à interpelação da
mulher: “Deixa primeiro saciar os filhos, porque não convém tomar o pão dos
filhos e lançá-lo aos cachorrinhos” (v.27). Os intérpretes são unânimes a
respeito do fato de que “filhos” trata-se de uma alusão aos judeus, enquanto
que “cachorrinhos” refere-se aos gentios. Eles, todavia, se dividem quanto ao
significado do texto. Há os que acreditam ser uma resposta dura, marcada pela
distinção que o judeu faz entre ele e as demais pessoas, tratando muitas vezes
os gentios como “cães”, enquanto outros defendem a ideia de que se trata de um
“dito espirituoso” que pedia uma resposta igualmente “engenhosa”.
Independentemente de qual delas é a correta, o fato é que o Mestre, no texto de
Marcos, fala de precedência e não de exclusão. Ele deve atender primeiramente
os judeus e posteriormente os demais. Contudo, como pode ser visto no prólogo
do quarto Evangelho, foi justamente entre os gentios que sua obra acabou sendo
mais proeminente (Jo 1.11-13).
1. Uma surpreendente resposta.
Seja
qual for a interpretação que se dê à resposta de Jesus, dura ou espirituosa, a
verdade é que o clímax da passagem está na reação da mulher. De forma
surpreendente ela respondeu a Jesus: “Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos
comem, debaixo da mesa, as migalhas dos filhos” (v.28). A sábia resposta da
mulher demonstrou que ela não apenas entendeu o que o Mestre disse, mas que,
além disso, aceitou as posições apresentadas! De fato a resposta da mulher traz
à mente uma cena bastante corriqueira: Uma grande mesa em que uma família
banqueteia e, no entorno, cães de estimação, ou não, se deliciam com os restos
que caem ou que são lançados. Digno de menção também é a expressão grega Kyrios(Senhor)
que ela utiliza para dirigir-se a Jesus. Tal destaque é merecido porque está é
a única ocorrência da expressão, como forma de confissão, em todo o Evangelho
de Marcos. E ela não vem de um judeu, mas de uma gentia, uma mulher pagã que
desde o momento que viu Jesus reconheceu seu senhorio, pois “lançou-se aos seus
pés” (v.25).
2. O elogio do Senhor e
a concessão do milagre.
Se a resposta é surpreendente, não menos
inesperado nessa narrativa é o fato de que é a siro-fenícia que dá o tom do
assunto e acaba fazendo toda a diferença. Na verdade, ela decide o desfecho
final, pois o Mestre, no texto paralelo, por exemplo, a elogia (Mt 15.28b), e
aqui no texto de Marcos, Ele observa: “Por essa palavra, vai; o demônio já saiu
de tua filha” (v.29). Ambas as narrativas não deixam margem alguma para dúvida,
foi a resposta da mulher quem decidiu o final feliz desse episódio em que o
Senhor parece colocar à prova a fé dessa mãe.
3. A confirmação do
milagre.
Chega a ser intrigante a confiança dessa estrangeira. Tal como o
oficial do rei (Lc 7.1-10), ela não solicita que Jesus vá até a sua casa, mas
apenas pede que o Senhor expulse o demônio de sua filha. Ela crê que, à
distância, Jesus tem tanto poder que pode realizar esse milagre. De fato,
Marcos encerra essa narrativa com fortes tons comprobatórios dizendo que “indo
ela para sua casa, achou a filha deitada sobre a cama, pois o demônio já tinha
saído” (v.30). Os comentaristas concordam em dizer que as expressões utilizadas
indicam uma libertação total, ou seja, o espírito imundo não mais achou lugar
e, por isso, não retornaria.
CONCLUSÃO
Uma das grandes lições
deste episódio é que Jesus, ao aproximar-se da região gentílica, de certa forma
permitiu-se ser interpelado, como de fato o foi, por alguém que não pertencia à
nação de Israel. Tal atitude antecipa a abertura do Evangelho, a mensagem de
salvação e o caminho de Deus aos que não tinham nenhuma esperança, isto é, a
nós que, parafraseando Pedro, em outro tempo, não éramos povo, mas, agora,
somos povo de Deus; que não tínhamos alcançado misericórdia, mas, agora,
alcançamos misericórdia (1Pe 2.10).
Fonte: Lições Bíblicas Jovens - 3º Trimestre de 2018 - Título: Milagres de Jesus — A fé realizando o impossível - César Moisés Carvalho
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