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domingo, 2 de setembro de 2018

Ofertas pacificas para um Deus de paz

“Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” Hb 13.15

Ofertas pacíficas para um Deus de paz

O objetivo das ofertas pacíficas no livro de Levítico era fazer com que o fiel apresentasse voluntariamente um ato de gratidão a Deus, aprofundando assim, a comunhão dele com o Criador. De maneira coletiva, esse ato significava a ratificação da comunhão da nação de Israel com Deus.

Rastreando algumas práticas atuais

Hoje, conhecemos comumente a expressão “culto de ação de graças” ou “fazer votos ao Senhor”. Esses atos têm como raiz bíblica a apresentação das ofertas pacíficas. Uns dos tipos dessas ofertas eram o de fazer um voto voluntário ou apresentar um ato de ação de graças.

Atos voluntários como esses, agradam a Deus. A ideia é expressar gratidão, alegria por muitos benefícios feitos pelo Criador. É a oportunidade de viver devocionalmente o aprofundamento de nossa fé em Cristo. Foi isso que aconteceu com Jacó, quando fez um voto ao Senhor na ocasião que fugia de seu irmão Esaú; com Ana, quando em meio a angústia fez um voto ao Senhor; nas expressões sinceras e belas de Davi em adoração a Deus e muitas bênçãos de livramentos de inimigos. Todas essas pessoas que se colocaram em compromisso com Deus tiveram seus anseios atendidos e, assim, uma experiência de fé que aprofundou a comunhão deles com o Criador.

Compromissos e experiências com Deus

Quem já teve a experiência de fazer votos ao Senhor e cumpri-los sabe que resposta de Deus para nós marca a nossa vida para sempre. Não há nada mais sublime e vivificador que as nossas experiências diretas com Deus. Seja por meio de um milagre via a cura de enfermidades, livramentos físicos; ou por meio de pequenas intervenções em fatos corriqueiros, enfim, viver tais experiências fortalece a nossa fé, faz com que tenhamos mais gratidão e demonstra o quanto nosso Deus é pessoal para nós.

O crente oferece sacrifícios pacíficos a Deus quando pratica e semeia a paz do Senhor Jesus Cristo no poder do Espírito Santo.

Leitura Bíblica - Levítico 7.11-21

Nesta lição, veremos que, das cinco ofertas prescritas no livro de Levítico, a mais excelente em voluntariedade era a pacífica, pois tinha como objetivo aprofundar a comunhão entre Israel e Deus. Ao aproximar-se do Senhor, com tal oferta, o crente do Antigo Testamento manifestava-lhe, em palavras e gestos, que o seu único almejo era agradecê-lo por todos os benefícios recebidos (Sl 103.1,2).

"Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios." Salmos 103:1,2


Veremos, neste capítulo, por que a graça e a paz, tidas como virtudes teologais, são imprescindíveis à vida cristã. Nas epístolas paulinas, vêm mencionadas conjuntamente: são irmãs gêmeas, inseparáveis. Se nos voltarmos às ofertas pacíficas do livro de Levítico, constataremos que elas constituíam o cerne da alma do ofertante. Por essa razão, os princípios coinológicos, ou seja, de comunhão, que acompanhavam tais sacrifícios, têm de ser aplicados com urgência escatológica ao mundo evangélico atual.

Embalada por tralhas, refugos e modismos, como a teologia da prosperidade e a confissão positiva, boa parte dos crentes, hoje, é mais doutrinada a pedir do que a agradecer.

Em suas orações, quer públicas, quer privadas, os tais crentes não demonstram a mínima referência a Deus. Tratam-no como se Ele não passasse de um lacaio ou de um mero garoto de recados. Já não veem Deus como Deus. Enxergam-no como o mordomo que, nas mansões e palacetes, inibe-se à espera do próximo capricho de um crente mundano e compromissado com as obras infrutuosas das trevas.

Nesse mundo estranho e bizarro, desprezam-se as ofertas de paz e os sacrifícios de louvor. Tais formas de adoração, tão comuns à Igreja Primitiva, rareiam-se hoje. Aliás, por que agradecer se é mais lucrativo exigir e determinar? Mas a Palavra de Deus exorta-nos à gratidão e ao reconhecimento. Ao bom e santo Senhor, deveríamos agradecer até mesmo pelas lutas e vicissitudes; sem estas, jamais teríamos qualquer experiência pessoal com Jesus Cristo.

A fim de compreendermos as ofertas de paz prescritas no Levítico, deternos-emos, inicialmente, em duas ciências teológicas que nem sempre são lembradas: a irenologia e a carislogia. Nesta era, de completa inversão de valores, até mesmo na Igreja de Cristo, é urgente um retorno à paz e à graça do Senhor Jesus.

I. IRENOLOGIA, UM ESTUDO URGENTE

Quando ainda jovem, li um livro, escrito por um general francês, acerca da ciência da guerra. Já nas páginas iniciais, descobri que o estudo das artes bélicas recebe um nome quase eufônico: polemologia. Acredito que tal nomenclatura aplica-se também aos confrontos ideológicos e doutrinários. Mas, ao por-me a escrever o presente capítulo, veio-me à mente uma pergunta: “Existe alguma ciência dedicada à pesquisa científica da paz?”. Pesquisei. E vim a descobrir duas páginas que tratam do assunto, uma em latim e outra em espanhol. A esse saber, um tanto peregrino, dá-se o nome de irenologia.

1. Irenologia, a definição de uma ciência ainda desconhecida.

A palavra irenologia é composta por dois vocábulos gregos: eirene, paz, e logos, estudo. Portanto, a irenologia é o estudo sistemático da paz conforme a concebem as diversas culturas, sociedades, religiões e saberes. Trata-se de uma disciplina acadêmica, que tem por objetivo investigar as condições, o ambiente e os envolvidos no esforço comum para se estabelecer, manter e promover a paz quer entre nações, quer entre grupos sociais ou mesmo entre indivíduos.

Os estudos irenológicos andam, paradoxalmente, de mãos dadas com os polemológicos. No estouro de um conflito, armado ou não, a primeira coisa a ser buscada é a paz. Nesse esforço, até mesmo um armistício é motivo de festejos e comemorações. Etimologicamente, o termo “armistício”, oriundo do latim armistitium, significa “cessação das armas”. Nessas ocasiões, como resultado dos movimentos diplomáticos, os lados envolvidos sentam-se a negociar uma paz definitiva; às vezes, nem provisoriamente se logra obtê-la. Naquele momento, os adversários igualam-se à mesa de negociações; todos querem acabar com o conflito; pelo menos é o que se espera.

Todavia, nem sempre a ausência de um conflito armado pode ser qualificada como paz. Há de fato ausência de guerra, mas não há presença de paz efetiva. Foi o que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. A União Soviética e os Estados Unidos, polarizando o mundo, viveram uma guerra fria de quatro décadas. Se nos voltarmos à Bíblia, porém, descobriremos que a paz é possível até mesmo em meio aos embates mais violentos.

2. Paz, uma definição sempre possível e esperada.

Tenho para mim que a paz é caracterizada por uma serenidade íntima inexplicável. Foi o que Paulo escreveu aos irmãos de Filipos sempre às voltas com os inimigos da cruz:

“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4.7, ARA).

Como explicar semelhante paz que amaina até o sol mais abrasador ou a tempestade mais bravia.

Em hebraico, a palavra paz vai além de um mero enfoque filosófico. O termo shalom, além de paz, evoca augúrios de saúde, prosperidade e autocontrole. Quando um judeu pergunta ao seu companheiro: “Como vai você?”. Em hebraico: Ma shlomha? Na verdade, indaga-lhe, antes de tudo: “Como vai a sua paz?”. Hoje, infelizmente, o poético e doce vocábulo foi reduzido a um trivial “oi” ou a um mero “olá”. É o que se observa no cotidiano israelense.

No grego, a palavra eirene, traduzida adequadamente para a língua portuguesa como paz, tem uma origem interessante, apesar da mitologia que a cerca.

Irene era filha de Zeus e de Têmis. Juntamente com suas irmãs Eunomia e Dice, achava-se responsável pelo bom andamento das coisas. Enfim, a boa e solícita Irene tinha por tarefa zelar pelas afeições cósmicas. Se ela viesse a falhar, Céus e Terra perderiam toda a harmonia, melodia e ritmo; a música universal seria impossível.

Quando nos voltamos à Bíblia Sagrada, constatamos que a verdadeira paz vai além dos mitos e transcende as academias mais lógicas. Em Isaías, descobrimos que a paz tem como príncipe o Filho de Deus. O profeta, ao alinhar os principais títulos de Jesus Cristo, poeticamente anuncia:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6, ARA).

Se a paz tem como príncipe o Senhor Jesus, como podemos defini-la? Antes de tudo, ela não é uma simples e expectada ausência de conflitos; ela é possível até mesmo em meio aos entreveros mais indescritíveis. Alguém, certa vez, pintou-a como um pássaro a cantar em plena tempestade. Enquanto tudo ruía à sua volta, a avezinha teimosamente canora trinava uma bela melodia ao Criador. Se na paz, não temos paz, como nos comportaremos num conflito? Foi o que o Senhor indagou ao seu profeta:

“Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que farás na floresta do Jordão?” (Jr 12.5, ARA).

Às vezes, surpreendo-me na mesma condição de Jeremias. Embora tudo à minha volta rescenda à paz, acho-me em guerra comigo mesmo. Mas, como superar os conflitos que nos assolam a interioridade? A resposta é simples e teologicamente comezinha: encher-se do Espírito Santo, o promotor da paz por excelência.

3. Jesus é o Príncipe da Paz.

Sim, o Senhor Jesus é o Príncipe da Paz. Que nobiliarquia pode ostentar semelhante título? Nenhum monarca terreno, ainda que traga a alcunha de pacífico, reúne as condições necessárias para efetivar a paz no coração humano. Uma paz, aliás, que só foi possível no Calvário, conforme escreve Paulo:

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.1,2, ARA).

Nessa passagem, observamos que a verdadeira paz é o resultado de um processo redentor que, tendo início antes da fundação do mundo, culminou na morte, ressurreição e glorificação de Jesus Cristo. Por intermédio de seu sacrifício vicário, Ele reconciliou-nos com Deus, tornando-nos propícios à sua justiça. No exato instante em que o aceitamos como Salvador e Senhor, justificou-nos Ele perante o Justíssimo Deus. E, desde então, passamos a ser vistos, pelo Juiz de toda a Terra, como se jamais tivéssemos cometido qualquer delito, transgressão ou pecado. O encerramento desse processo judicial, junto à corte celeste, trouxe-nos uma paz que o mundo não pode conhecer.

É por essa razão, primordial e essencialmente soteriológica, que o Senhor Jesus foi honrado com a elevada nobiliarquia de Príncipe da Paz. Não podemos atribuir-lhe semelhante título apenas em virtude das profecias que o mostram a pacificar as nações no Milênio. Ele é assim chamado, porquanto infunde, nos corações mais tormentosos e revoltos, a paz que excede todo o entendimento.

No ato de nossa conversão, recebemos a paz como resultado do processo de justificação perante o trono de Deus. Todavia, para mantermos a qualidade e a excelência dessa mesma paz, é imperativo cultivá-la, não como um mero adorno processual, mas como fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Se o fizermos, não teremos dificuldade alguma em oferecer a Deus o que o autor sagrado chama de sacrifícios de louvor. Era assim que o adorador do Antigo Testamento apresentava-se ante Jeová para apresentar-lhe ofertas e dons pacíficos. Nesse ato litúrgico, ele sabia que estava sendo contemplado pela graça divina que, tanto naquele tempo quanto agora, deve acompanhar todas as nossas devoções.

II. CARISLOGIA, UM ESTUDO GRACIOSO

Nos meus primeiros estudos teológicos, deliciei-me ao descobrir que a definição de graça era favor imerecido. A partir daquele dia, sempre que me era facultada a oportunidade de pregar, gostava de evocar aquela lição que, conquanto simples, é tão elevada e eficaz. Decorridas quatro décadas, ainda me delicio com o estudo da graça de Deus. Hoje, porém, constato que as implicações teológicas dessa virtude teologal são mais profundas do que eu supunha naquela época já distante e bela.

1. A graça não é uma deusa; é um dom de Deus.

Não sei por que Homero e Hesíodo apraziam-se em ornar a árvore genealógica do imoral Zeus com as mais elevadas virtudes morais. A graça, por exemplo, era tida em tão alta conta que, no Olimpo, aparecia como trigêmea. Sempre juntas, as três irmãs, talvez as filhas mais queridas de Zeus, eram as divindades responsáveis pelos banquetes, encontros, concórdias e riquezas.

Vistas assim, as Graças do Olimpo em nada diferiam das socialites que estrelam nas revistas, jornais e televisões. Sua reputação, segundo Homero, era nada recomendável; faziam parte da comitiva de Afrodite, a deusa da libido, cuja alcovitice era bem conhecida nas paragens olímpicas e nos recônditos gregos.

Nas Sagradas Escrituras, a graça jamais foi uma deusa. Quer no Antigo, quer em o Novo Testamento, ela aparece aqui, entre os apóstolos; ali, junto aos profetas e justos. E, mais além, ressurge com os peregrinos que subiam a adorar em Jerusalém. A graça é mais do que um atributo divino. Entre as perfeições, bondades e grandezas do Senhor, evidencia-se como a qualidade que lhe expressa o amor, até mesmo nos momentos de castigo, disciplina e provação. A graça não é uma deusa; é a mais sublime expressão do Deus amoroso e bom.

2. Graça, a virtude teológica por excelência.

Na língua hebraica, há uma palavra usada para sublimar a graça divina: chesed. Seus significados emprestariam beleza ao cântico mais simples e à poesia mais singela: bondade, favor, amorosa benignidade. À semelhança de sua congênere grega, pode ser resumida numa única expressão: obséquio imerecido. Trata-se de algo que recebemos sem o merecermos.

Em grego, a palavra “graça” provém do vocábulo kharis; sua etimologia lembra alegria e contentamento. O seu real significado, porém, vai além da semiologia clássica. Nessa lexicografia, ajuntemos estes piedosos sinônimos: bondade, amor incondicional, dom gratuito, generosidade e, também, favor inesperado.

O substantivo “carislogia” é formado por dois vocábulos gregos: kharis: graça; e logia, estudo. Esse termo, que não é um simples neologismo, significa etimologicamente “estudo da graça”. Por ser a maior expressão do amor de Deus, a graça merece um estudo mais atento e próprio.

De meus estudos bíblicos, sou levado a inferir que a graça é a síntese das três virtudes cardeais que recebemos no ato da conversão: fé, amor e esperança. Aliás, a graça salvadora nos é manifestada antes mesmo de conhecermos a Jesus. Mas é somente por meio da fé salvadora que começamos a experimentá-la interiormente. Quanto mais amamos a Deus e ao próximo, mais a graça, agora multiforme em seus feitos redentores, faz-se presente em nossa vida. Nessa militância por Jesus Cristo, ela é a esperança do arrebatamento; constrange-nos a ir além de nossos próprios limites.

Se, por acaso, vermo-nos cansados e já por esmorecer, ouviremos do Senhor aquele lenitivo que levou Paulo ao Terceiro Céu: “A minha graça te basta” (2 Co 12.9). Nessa declaração de Cristo, todas as nossas carências e necessidades, quer espirituais, quer emocionais, ou até mesmo físicas, são plenamente supridas; em glória são supridas (Fp 4.19). No enunciado ao apóstolo dos gentios, Jesus deixava-lhe bem claro que, em sua graça, temos as virtudes e provisões de que precisamos para alcançar a Jerusalém Celeste.

Quando o crente hebreu, por conseguinte, apresentava ao Senhor um sacrifício pacífico manifestava ali, diante do altar, por intermédio de gestos e ações dramáticas, a graça que lhe ia na alma. O ofertório era apenas a exteriorização daquilo que lhe inundava o coração: os favores imerecidos de Deus. E, se tantos favores recebia, por que não agradar a Deus com uma oferta de paz? Tal princípio não deve perder-se nas páginas do Levítico; tem de ser posto em prática em nosso atribulado dia a dia.

3. Graça e paz, a comunidade dos sacrifícios de louvores.

Em suas epístolas, Paulo saudava as igrejas com uma fórmula que, embora provinda do grego e do hebraico, expressava a plenitude do Evangelho: graça e paz (Rm 1.7; 1 Co 1.3; Ef. 1.2). Ao dirigir-se aos santos com uma expressão tão profunda e significativa, o apóstolo conscientizava-os de que eles se constituíam na comunidade de sacrifícios de louvores e paz por excelência: obra da graça. Mesmo sem a beleza da liturgia e do cerimonialismo levíticos, não deixavam eles de expressar toda a formosura da vida cristã.

O que é um sacrifício de louvor? Atentemos às palavras do autor da Epístola aos Hebreus:

Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15, ARA).

Nessa exortação, distinguimos a diferença entre o sacrifício de louvor do Antigo e o do Novo Testamento. O primeiro era gestual e dramático; o segundo é oral e marcado por amorosas proposições. Aquele dependia de um altar; este tem como altar o próprio adorador que, soteriologicamente, é o templo do Espírito Santo. Na Antiga Aliança, o crente dependia de um lugar específico para oferecer a sua oferenda ao Senhor. Já em a Nova Aliança, o discípulo de Jesus é instado a demonstrar o seu culto racional em todos os tempos e lugares; ele é o altar e o santuário.

O sacrifício de louvor manifesta-se por meio do fruto dos lábios. Louvando a Deus em todo o tempo, não nos desboquemos em murmurações, impropérios e palavras de calão. Em todo o tempo, demonstremos nossa gratidão ao Senhor. Até mesmo nas instâncias mais insuportáveis, curvemo-nos, qual Jó resignado, a adorar aquEle que faz com que todas as coisas concorram para o bem dos que o amam.

Mais adiante, voltaremos a falar da Igreja de Cristo como a sociedade de sacrifício de louvores. Agora, faremos uma pausa para ver como os hebreus apresentavam suas oferendas pacíficas a Jeová.

III. A EXCELÊNCIA DA OFERTA PACÍFICA

Os dois sacrifícios mais antigos da História Sagrada são o holocausto e a oferta pacífica. Ambas as oferendas eram tidas, às vezes, como um único sacrifício.

1. Oferta pacífica.

A voluntariedade da oferta pacífica fica bem evidente no livro de Levítico (Lv 7.12). A oferenda, para ser caracterizada como tal, deveria ser acompanhada de ações de graças; nenhuma petição era admitida. Naquele momento, o crente hebreu tinha como único desejo adorar e agradecer ao Senhor por todas as bênçãos, galardões e livramentos. Nos Salmos, as ofertas pacíficas manifestam-se em louvores ao Senhor por todas as suas benignidades (Sl 106,1). Leia atentamente os Salmos 118 e 136.

Nas Escrituras do Novo Testamento, somos instados a oferecer a Deus contínuas ações de graças (1Ts 5.18). Dessa forma, jamais perderemos a comunhão quer com Deus, quer com a Igreja de Cristo (Cl 3.15).

2. Tipos de ofertas pacíficas.

As ofertas pacíficas compreendiam três modalidades ou fases: ações de graças, voto e oferenda movida diante do altar.

a) Ações de graças. A fim de agradecer ao Senhor por um favor recebido, o crente hebreu oferecia-lhe bolos e coscorões ázimos amassados com azeite. Os bolos, feitos da flor de farinha, tinham de ser fritos (Lv 7.12-15). A carne, que acompanhava o sacrifício pacífico, devia ser consumida no mesmo dia (Lv 7.15).
Os produtos trazidos a Deus eram acompanhados de louvores (Hb 13.15). Tanto ontem quanto hoje, somos instados a louvar e a enaltecer continuamente o Senhor.

b) Voto. Nos momentos de angústia, os filhos de Israel faziam votos ao Senhor, prometendo-lhe ofertas pacíficas (Gn 28.20; 1 Sm 1.11). Nesse caso específico, o sacrifício poderia ser comido tanto no mesmo dia quanto no dia seguinte (Lv 7.15,16). No terceiro dia, nada dele podia ser ingerido. O voto, por ser uma ação voluntária, requeria igualmente uma atitude voluntária. Que o ofertante participasse das ofertas com alegria e regozijo.

c) Oferta movida. Na última etapa, o adorador entregava a oferta pacífica ao sacerdote que, seguindo o manual levítico, aspergia o sangue do sacrifício sobre o altar. Em seguida, queimava a gordura do animal (Lv 7.30). O peito era entregue a Arão e a seus filhos. Num último ato, o sacerdote movia a parte mais excelente da oferenda perante o altar: o peito e a coxa (Lv 7.31-35).

Objetivos das ofertas pacíficas.
Como já dissemos, eram dois os objetivos da oferta pacífica: aprofundar a comunhão entre Deus e o crente, e levar o ofertante a reconhecer que tudo quanto temos vem do Senhor, porque dEle é a terra e a sua plenitude (Sl 24.1).

IV. A OFERTA PACÍFICA NA HISTÓRIA SAGRADA

Neste tópico, veremos três exemplos de pessoas que fizeram voto ao Senhor, e foram plenamente atendidas: Jacó, Ana e Davi.

1. Jacó, filho de Isaque. Quando fugia de Esaú, seu irmão, Jacó fez um comovente voto ao Senhor. Depois de ter visto o céu aberto e os santos anjos subirem e descerem sobre uma escada que ligava a Terra ao Céu, prometeu ao Deus de seus pais: “Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR será o meu Deus” (Gn 28.20,21). A partir daí, o patriarca tornou-se um fiel e zeloso adorador (Gn 35.1-3).

Fazer votos ao Senhor não constitui pecado algum. Lembro-me de que, certa vez, minha mãe fez um voto a Deus em favor de meu irmãozinho, que se achava gravemente enfermo. Segundo os médicos, a broncopneumonia acabaria por matar o Eliseu; um bebê frágil, já moribundo. Mas, para a nossa surpresa, Jesus interveio eficazmente, trazendo-o de volta à casa.

Não podemos fazer do voto, porém, um aríete contra a vontade divina. Quer Deus nos atenda, quer não, Deus continua a ser Deus. Além disso, o voto não pode contemplar o costumeiro e o ordinário de nossas obrigações junto ao Reino de Deus; antes, deve compreender o incomum e o extraordinário. Num voto, não há por que incluir o dízimo, por que este já é uma parte obrigatória da mordomia cristã. Prometamos-lhe, então, uma generosa oferta missionária.

2. Ana, mãe de Samuel. Afligida por sua rival, por não dar filhos a Elcana, seu marido, a desolada Ana fez este voto ao Senhor: “Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” (1 Sm 1.11, ARA). Após haver desmamado a Samuel, entregou-o ao Senhor, cumprindo a ordenança quanto ao sacrifício pacífico (1 Sm 1.24-28).

O altruísmo de Ana caracteriza admiravelmente o sacrifício pacífico. Ela, que ainda não tinha filhos, rogava um ao Senhor, para, em seguida, santificá-lo ao serviço divino. Pode haver maior sacrifício que este? Em sua atitude, observamos uma forte convicção messiânico-soteriológica. Sem o saber, consagrava o seu primogênito à redenção de Israel. E, de acordo com a História Sagrada, o profeta Samuel impulsionou a libertação dos israelitas; julgou-os e ungiu-lhes os dois primeiros monarcas.

3. Davi, rei de Israel. Pelo que observamos nos Salmos, Davi foi o homem que, em todo o Israel, mais sacrifícios pacíficos apresentou ao Senhor (Sl 22.25; 56.12; 61.5,8). Aliás, os seus cânticos já são, em si mesmos, um sacrifício de louvor e paz ao Deus de Abraão.

Na biografia de Davi, encontramos não um rei, em primeiro plano, mas um homem apaixonado pelo Senhor. Tem-se a impressão de que ele andava de sacrifício em sacrifício e de voto em voto. Eis porque, ao pecar duplamente contra Deus, centuplicadamente viu-se no pó e na cinza. Para o homem segundo o coração de Jeová, mais valia um sacrifício de louvor do que mil pelo pecado.

V. A OFERTA PACÍFICA NA VIDA DIÁRIA

De que modo apresentaremos, hoje, nossos sacrifícios pacíficos ao Senhor? Há três maneiras: consagrando-nos; perseverando nos sacrifícios de louvores e adorando a Deus em todo o tempo.

1. Consagração incondicional. O melhor sacrifício que um crente pode oferecer ao Senhor é apresentar a si mesmo a Deus (Rm 12.1). Neste momento, nossa oferenda é, além de pacífica, amorosa e plena de serviços. A partir daí, começamos a experimentar as excelências da vontade divina. Paulo considerava-se uma libação ao Senhor Jesus (2 Tm 4.6).

Num momento tão difícil e escatológico quanto este, entreguemo-nos sem reservas a Cristo. Que homens e mulheres, moços e moças e meninos e meninas, desprezando os encantos do presente século, deleitem-se em servi-lo. Já é momento de nos depositarmos no altar divino; sacrifício pacífico.

2. Sacrifícios de louvores. Oferecemos um sacrifício de louvor a Deus, quando lhe cumprimos plenamente a vontade (Hb 13.15). Mas, para que a plenifiquemos em nosso dia a dia, é imprescindível apresentarmo-nos diante dEle com um espírito humilde e quebrantado (Sl 51.17). Ao nos conformarmos à sua vontade, entregamos-lhe a mais excelente das oferendas: nosso amor incondicional e provado.

Veja o Senhor Jesus. Até mesmo às vésperas de sua paixão louvou ao Pai; cantou um hino. Conquanto não lhe saibamos a letra, a melodia está em nossa alma. Isso é sacrifício de louvor; adorar a Deus ante o algoz.

3. Adoração contínua. Paulo e Silas, quando presos, cantavam e adoravam a Deus, ofertando-lhe um sacrifício que, além de pacífico, era profundamente redentor (At 16.25-31). Por isso, o apóstolo recomenda-nos a louvar continuamente a Deus (Ef 5.19; Cl 2.16).

Nesse momento, vejo-me a constrangido a perguntar-me: “Como está o meu louvor?”. Canto na bonança ou na tempestade também canto? Ajuda-me Senhor.

CONCLUSÃO

Adoramos a Deus com ofertas pacíficas, quando nos apresentamos diante dEle com o propósito de render-lhe graças por todas as bênçãos recebidas. Com tal atitude, honramos ao Senhor com um culto racional, agradável e vivo.

Neste capítulo, vimos que, das cinco ofertas prescritas no livro de Levítico, a mais excelente em voluntariedade era a pacífica, pois tinha como objetivo aprofundar a comunhão de Israel com o seu Deus. Ao aproximar-se de Jeová, com tal oferta, o crente do Antigo Testamento manifestava-lhe, em palavras e gestos, que o seu único almejo era agradecê-lo por todos os benefícios recebidos (Sl 103.1,2).

Que preciosa lição para os dias de hoje. Como agradecer ao Senhor Jesus Cristo por todos os benefícios que, diariamente, dEle recebemos?

Fonte:
Livro de Apoio – Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Claudionor de Andrade
Lições Bíblicas 3º Trim.2018 - Adoração, Santidade e Serviço - Os princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico - Comentarista: Claudionor de Andrade
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