“E perguntou-lhes: É
lícito no sábado fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou matar? E eles
calaram-se” Mc 3.4
Quantas vezes já não
nos sentimos tristes por sermos ignorados. É horrível a sensação de ser
“invisível” — entrar e sair de um ambiente sem sequer ser cumprimentado. No
entanto, será que não reproduzimos essa postura, mesmo sem perceber, e nos
fechamos em nossos círculos de amizade, ignorando completamente as pessoas que
não fazem parte do nosso grupo? Não é incomum acabarmos reproduzindo algo de
que fomos vítimas em algum momento da vida. Quando isto se dá de forma
inconsciente, tudo bem. No entanto, é urgente investigar se o comportamento
reproduzido não ocorre como uma forma de “vingar-se” do que aconteceu no
passado. O desejo de vingança é contrário ao que apregoa o Evangelho, portanto,
é preciso libertar-se de tal sentimento. Que possamos ser verdadeiros
integradores de pessoas invisíveis, promovendo sua inclusão nos locais onde o
Senhor permitir que estejamos.
A cura do homem que
tinha uma mão atrofiada foi uma restauração que contemplou não apenas o aspecto
físico, mas também a dimensão social e emocional.
Texto Bíblico - Marcos
3.1-6
INTRODUÇÃO
A lição de hoje fecha
um ciclo de cinco episódios relatado por Marcos que envolvem controvérsias
entre Jesus e os líderes religiosos, escribas e fariseus, de seu tempo (Mc
2.1-3.6). Tais controvérsias se davam pelo fato de que o Mestre não seguia a
agenda religiosa e legalista deles. A primeira destas controvérsias foi
abordada na lição anterior. As outras três dizem respeito ao fato de Jesus
chamar um coletor de impostos para compor seu colégio apostólico e, por conseguinte,
sentar-se na casa deste com muitos “publicanos e pecadores” (Mc 2.13-17); a não
prática do jejum pelos discípulos do Senhor (Mc 2.18-22); e a quarta diz
respeito ao ato de os seguidores do Mestre colherem espigas, e as comerem, em
pleno sábado (Mc 2.23-28). Finalmente, a quinta controvérsia será estudada na
presente lição.
1. A frequência do
Senhor nas sinagogas.
Marcos, como os outros evangelistas, informa, uma
vez mais, que Jesus foi a uma sinagoga (v.1). Na verdade, esta é a terceira
vez, ainda no início de seu Evangelho, que Marcos diz que o Senhor esteve em
uma sinagoga (Mc 1.21,29,39). Como centros de ensinamento da Lei, oração
pública e onde a participação leiga era possível, a sinagoga tornou-se um dos locais
preferidos por Jesus para proferir grandes ensinamentos (Mt 4.23; Lc 4.15-36).
2. Jesus destaca a
presença de um homem “invisível”.
A observação do texto de que “estava ali
um homem que tinha uma das mãos mirrada” (v.1), não é sem razão. Paradoxalmente,
o homem que deveria passar completamente despercebido torna-se o centro da
sinagoga naquele sábado e, consequentemente, da passagem bíblica.
3. Os fariseus
acompanham os passos de Jesus.
No plano literário do texto de Marcos, é
possível ver claramente o deslocamento dos adversários religiosos espreitando o
Senhor e sondando-o a fim de julgar seus ensinamentos e atitudes (Mc
2.6,7,16,18,24). O versículo dois informa que, novamente, eles estavam ali
observando se o Senhor curaria o homem no sábado, para o “acusarem”. O curioso
é que enquanto muitos não confessavam acreditar no Mestre como Messias, ou
Cristo, com medo de serem expulsos da sinagoga (Jo 9.22; 12.42,43), Jesus
sequer se importava em desafiar os pretensos ensinadores de Israel (Mt 15.14).
Ponto Importante
O testemunho tem um
custo para todos os que creem.
1. Jesus reintegra à
sinagoga o homem dantes “invisível”.
Como local de ensinamento da Lei,
textos como o de Levítico 21.17-24, por exemplo, certamente era conhecido na
sinagoga. Portanto, sem dúvida alguma, este homem vivia à margem da sociedade e
a sinagoga não era uma exceção. No entanto, ao ordenar que ele se “levante” e,
não apenas isso, mas também venha para o centro do recinto (v.3), Jesus faz com
que este homem seja novamente visto pelas pessoas. Ao levantar-se sua presença
foi notada por todos. Ao vir para o centro da sinagoga, o Mestre então o
reintegra ao local.
2. Perguntas sem
respostas.
Diversamente das controvérsias anteriores quando quem indaga o
Senhor são os adversários religiosos — escribas e fariseus — (Mc 2.7,16,18,24),
nesta ocasião é o Mestre quem os questiona, inquirindo-os acerca do que deveria
ser feito (v.4). Eles, porém, ficaram calados, pois até mesmo nisto havia
divergência entre si, pois alguns rabinos concordavam que, no sábado, um médico
cuidasse de alguém que estivesse correndo algum risco, enquanto outros achavam
que tal ação era errada.
3. Um dia santo requer
que se pratique coisas boas nele.
Não obstante o homem não estar sob
nenhum risco, as perguntas de Jesus colocam a questão em um patamar que
transcende tal discussão. Seu motivo para agir não é a emergência, ou o sufoco,
mas o amor. Sendo o sábado um dia santo, certamente as poucas ações que podem
ser realizadas nele devem ser boas. Tal discussão pode ser vista no texto
paralelo (Mt 12.11,12). Se um animal, neste caso tido como um bem material, sem
titubear era salvo no sábado, quanto mais uma pessoa cuja deficiência física
necessitava de uma intervenção!
Ponto Importante
Ao curar o homem em
pleno sábado, Jesus demonstra que a restituição de uma vida é mais importante
que a observância de regras religiosas.
1. A indignação e a
tristeza do Mestre.
O silêncio dos fariseus, isto é, sua omissão diante da
dor daquele homem outrora “invisível” provoca, inicialmente, a indignação do
Mestre (v.5a). O emudecimento tem um motivo muito claro, ou seja, eles não
podem responder “não”, pois isso seria um absurdo, mas também não podem
concordar com o Senhor, pois tal posição lhes seria constrangedora. Assim, tais
motivações injustificáveis, e com certeza conhecidas por Jesus, provocam
indignação no Mestre, mas ao mesmo tempo leva o Senhor a ter pena da “dureza”
do coração deles, posto que deve ser muito difícil existir de forma tão
desumana, sem sensibilizar-se com a dor das pessoas. É interessante notar que o
evangelista pontua de forma bastante explícita os sentimentos do Senhor,
evidenciando sua humanidade.
2. A cura física e
emocional.
Falando da mesma narrativa, Lucas informa claramente que a mão
atrofiada era a direita (6.6). Como se sabe, a mão destra era de suma
importância na cultura judaica (Mc 16.19; Cl 3.1; 1Pe 3.22). Por isso, quando o
Senhor, depois de mandar que ficasse em pé e viesse para o meio, também ordena
ao homem que estenda a mão (v.5b), Ele não apenas lhe dá visibilidade e
restituição social na sinagoga, mas também lhe proporciona, além da cura
física, cura emocional, pois a mão que antes não podia ser mostrada nem
estendida para cumprimentar alguém, agora está completamente sã. Na verdade, a
cura emocional iniciou-se antes da física, pois a mão que certamente ficava
escondida sob a roupa, desde o momento em que Jesus ordenou-lhe que fosse
mostrada, quebrou uma grande barreira (v.5).
3. A “união” para fazer
o mal.
Do emudecimento e paralisação, após constatar o milagre, os
fariseus saíram imediatamente da sinagoga e “tomaram logo conselho com os
herodianos” (v.6). Os herodianos eram um grupo político-partidário simpatizante
de Herodes Antipas, que lutavam para que este governasse a Judeia (à época
governada por Pilatos). Apesar de o foco de interesse de ambos os grupos ser
completamente distinto, eles ocasionalmente poderiam unir-se havia um interesse
comum (Mc 12.13). Neste caso, uma vez que Jesus era alguém cuja popularidade
poderia converter-se em uma ameaça política pior que a de Pilatos para os
interesses dos herodianos, os fariseus então os procuraram formando uma coalizão
para “ver como o matariam” (v.6).
Ponto Importante
Quando uma doença
física vem acompanhada de trauma, a cura precisa ser bem mais profunda.
CONCLUSÃO
A grande ironia desta
narrativa é que quando Jesus questiona os fariseus acerca de se fazer bem ou
mal no sábado, Ele também acrescenta uma segunda pergunta: “Salvar a vida ou
matar?” (v.4). A princípio tal indagação parece despropositada ou, no mínimo,
fora de contexto. Porém, no versículo seis o evangelista revela que a questão
faz todo o sentido. Os fariseus que ignoraram o Senhor ter curado o homem da
mão atrofiada no sábado, não hesitaram em formar conselho com os herodianos
para ver como poderiam matar Jesus. Havia uma indisposição para fazer o bem,
mas uma grande disponibilidade para executar o mal.
SUBSÍDIO I
“Jesus cura a mão de um
homem no sábado / 3.1-6. Esse episódio completa uma série de cinco
comparações crescentes entre Jesus e os líderes religiosos. Em conjunto, elas
fazem um resumo dos pontos de atrito que levaram à rejeição de Jesus. Os fariseus
tinham estado observando os atos de Jesus num sábado, esperando que Ele pudesse
fazer alguma coisa que lhes permitisse condená-lo. Jesus frustrou seus planos
envolvendo os fariseus na decisão de curar um homem. A reputação de Jesus de
ser capaz de curar (mesmo no sábado, veja 1.21-26) já era conhecida, mas será
que Ele ousaria curar no sábado, debaixo dos olhos dos fariseus? De acordo com
a lei de Deus era proibido trabalhar no sétimo dia da semana (Êx 31.14-17),
portanto os líderes religiosos não permitiam que fosse realizada qualquer cura
nesse dia, a não ser que a vida da pessoa estivesse em perigo. A cura,
afirmavam eles, representava a prática da medicina e a pessoa não podia exercer
sua profissão num sábado.
3.3 Jesus não
evitou uma confrontação com seus adversários, pois precisava estabelecer o
importante ponto de que não estava disposto a ficar preso às opressivas leis
dos fariseus e que, sendo Deus, iria realizar um ato de caridade e curar mesmo
num sábado. Portanto, mandou que o homem com a mão mirrada viesse ao centro da
multidão para que todos pudessem ver sua deficiência. Os fariseus não deixariam
escapar qualquer coisa que Jesus fizesse” (Comentário do Novo Testamento.Aplicação
Pessoal. Volume 1. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2009, pp.200,201).
3.4 Para Jesus
não importava que a vida desse homem não estivesse ameaçada pelas condições da
sua mão e nem o fato de poder esperar até o dia seguinte para praticar a cura
legalmente. Se Jesus tivesse esperado até o dia seguinte, estaria se submetendo
à autoridade dos fariseus e mostrando que suas regras mesquinhas eram iguais à
lei de Deus. Deus é Deus de pessoas, não de regras. Portanto, Jesus fez uma
pergunta retórica: ‘É lícito no sábado fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou
matar?’. Mas os fariseus não lhe responderam, pois a resposta iria privá-los da
acusação que queriam lançar sobre Jesus. Suas próprias leis permitiam que o
povo fizesse o bem e salvasse vidas no sábado — o fazendeiro que podia resgatar
sua única ovelha de um poço num sábado sabia disso (veja Mt 12.11,12). Era,
então, um absurdo proibir que uma pessoa fizesse o bem para outra num sábado.
3.5 Os líderes
religiosos, os guardiães da fé judaica, os mestres do povo — aqueles homens de
coração duro estavam tão moral e espiritualmente cegos e empedernidos que não
conseguiam ver quem Jesus realmente era, nem reconhecer as necessidades de um
homem e se rejubilar com a sua cura” (Comentário do Novo Testamento. Aplicação
Pessoal. Volume 1. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2009, p.201).
Fonte: Lições Bíblicas Jovens - 3º Trimestre de 2018 - Título: Milagres de Jesus — A fé realizando o impossível - César Moisés Carvalho
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